Segunda-feira, 15.10.12

A notícia de que o Liverpool não vai fazer as malas para Stanley Park é uma alegria profunda para todos aqueles que cresceram com certos nomes na cabeça que julgavam ser eterno. Anfield Road faz parte da mitologia do futebol. Poucos espaços fisicos têm a sua importância histórica e o seu ascendente moral. Que se perpetue no tempo, ainda que sob outra forma, permite continuar a sonhar com tempos pretéritos, outros universos futebolísticos. 

 

É inegável que o sucesso desportivo do Liverpool, ou melhor, a sua brutal ausências nas últimas décadas, provoca nos mais jovens certa indiferença quando Anfield Road surge na conversa. Não é um estádio que receba finais europeias, jogos internacionais épicos e sirva de inspiração para videojogos. Mesmo as tardes de Anfield, antigamente motivo suficiente para passar 90 minutos de suspense, têm-se perdido com a profunda mediania futebolistica que os Reds vivem desde 1990, salvo momentos muito pontuais e, infelizmente, passageiros. 

Mas Anfield Road é um dos muitos sinónimos que pode ter o futebol na sua essência mais pura. Desde a imagem da Kop, aos gritos em coro de You´ll Never Walk Alone, sem esquecer as suas portas e a estatua que comemora o seu grande ideólogo, Bill Shankly, o estádio do Liverpool evoca tudo o que futebol britânico teve de inesquecível durante largas décadas e que se perdeu entre estádios-hipermercados e os milhões investidos por cidadãos estrangeiros desejosos de comer uma fatia da tarta deliciosa que é o futebol inglês.

Se o Liverpool há largos anos está em mãos estrangeiras, não é menos certo que foi o único clube que resistiu realmente a essa abordagem comercial dos homens dos milhões. Manchester City e Arsenal construíram novas estádios, Old Trafford tornou-se num recinto de elites, com os preços descontrolados dos bilhetes, e mesmo Stanford Bridge e White Hart Lane têm-se tornado em problemas que os donos dos respectivos clubes procuram fintar com novos estádios que ainda não sairam do papel. 

Durante algum tempo pensava-se que o destino de Anfield seria o mesmo. Havia já destino futuro para os jogos em casa do Liverpool, em Stanley Park, e esboços para a nova casa Red. No entanto os adeptos do clube podem estar descansados. A directiva do Liverpool, a mesma que quer aplicar ao futebol inglês não a lógica dos petrodolares mas os ensinamentos do guru estatístico que inspirou o livro Moneyball, voltou atrás na ideia original e anunciou que preferem trabalhar numa remodelação sustentada do estádio, ampliando em 20 mil lugares a sua capacidade para o colocar mais perto da dimensão dos clubes rivais.

 

Anfield cresceu, como qualquer estádio inglês, de uma forma precária e descontrolada. Nos anos 50, com o clube a oscilar entre a First e a Second Division, sobreviveu ao aumento do número de assistentes com poucas reformas e nenhum plano de futuro. Foi esse o estádio que Shankly encontrou e foi esse o estádio que ajudou a fazer famoso, transformando as vozes beatlenianas da Kop num 12º jogador como não havia em nenhuma outra bancada mítica do futebol inglês. Mas aos sucessos desportivos dos anos 70 e 80 nunca seguiram as melhores que exigia um recinto sagrado destas dimensões, físicas e emocionais. Só os desastres, onde o clube esteve envolvido de forma indirecta, longe de sua casa, que levaram à elaboração do Taylor Report despertaram os directivos do clube. Já era um pouco tarde. À medida que o estádio dava um salto em frente, tornando-se numa das sedes do Euro 96, o clube perdia lugares na elite do futebol que chegou a dominar de uma forma histórica, até ao momento. Quando melhor esteve Anfield, falhou-lhe a sua equipa. E os adeptos, sem virar as costas, entenderam que o clube vivia numa realidade bem distinta da dos seus rivais directos. Em títulos e em condições para competir com as receitas que o renovado Old Traford ou o novo Emirates podiam oferecer a Manchester United e Arsenal.

Desde então a ideia de construir um novo estádio rondou a mente dos adeptos e directivos. Anfield era um pedaço de história mas era precisamente preso nessa história que o Liverpool existia, sem pensar como dar um salto em frente e recuperar duas décadas perdidas. Um novo estádio significava, a médio prazo, rendimentos que lhes iriam permitir reduzir o diferencial de gastos dos grandes senhores do dinheiro do futebol britânico e isso seria o primeiro passo para ambicionar de novo pelos títulos e pelos milhões da Champions League, prova onde o clube não participa desde 2010. Mas a abordagem sustentada da Fenway Sports Group defende que não é o dinheiro investido que faz a diferença mas sim onde se investe. E talvez por isso a ideia de abdicar de um dos seus baluartes institucionais, sob peso de uma divida que, como no caso gunners, demoraria uma década a abater, sem garantias de poder apresentar um nível competitivo real a curto prazo, tenha pesado mais na decisão final do que seria de supor. Anfield será ampliado, de forma progressiva, como foi Old Trafford nos anos 90, até atingir os 60 mil lugares, tornando-se no terceiro maior estádio de clubes do país. Um primeiro passo para voltar a outros tempos.

 

A noticia para os adeptos do Liverpool é um verdadeiro alivio. Num ano em que o peso emocional do passado faz mais sentido do que nunca, o clube sabe que há uma linha cada vez mais ténue que liga o Liverpool dos anos gloriosos das décadas de 70 e 80 ao clube actual. Anfield é um desses elos de ligação, únicos, e a sua preservação é também um dos passos fundamentais para acreditar que, no futuro, os Reds possam voltar a ser uma das forças dominantes do futebol de um país que passou anos e anos a olhar para eles como o melhor exemplo de mitos vivos do beautiful game.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 19:49 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Quarta-feira, 07.03.12

Entre a noite de consagração da França multicultural e o coro de assobios que a imensa maioria argelina votou à Marselha, o Stade de France vive numa eterna incógnita existencial. Construido numa zona desprezada pelos parisinos, transformado em icone da França do século XXI, nunca um estádio de futebol replicou de forma tão concisa a encruzilhada de uma nação.

 

O seu aspecto imperial faz relembrar a megalomania napoleónica.

A sua arquitectura ousada transforma-o numa especie de Versailles futebolistica. Tal como o palácio construido por Luis XIV, o governo central decidiu escolher a periferia para erguer a obra que não só deveria albergar os grandes eventos nacionais. O seu objectivo final era, sobretudo, marcar uma nova era na concepção nacional de um país com uma profunda dificuldade em entender-se como nação.

Depois de anos de disputa, discussões e polémicas, a decisão final foi tomada e a construção do estádio arrancou no bairro de Sain Dennis, um dos muitos banlieus a norte de Paris onde se reproduz a mesma dinâmica social pós-industrial que tanto desprezo provoca no coração da capital. Um bairro de emigrantes, sobretudo norte-africanos, um bairro ostracizado historicamente pelo governo de Paris de repente passava a ser o centro das atenções do projecto nacional mais importante da V República. Um contrassenso digno do puzzle moral e emocional da própria França. À medida que o estádio ia nascendo muitos suspeitavam que o divórcio entre os franceses autóctones e o estádio espelharia o divórcio que existe entre a sociedade e as suas minorias. Os habitantes de Saint Dennis não queriam ser invadidos pelo betão do império desfeito e os nomes da velha guarda consideravam um erro instalar um monumento épico no meio dos indesejados da nação.

Durante os três anos que tardou a construção de um estádio de 80 mil lugares, algo nunca visto num país onde o futebol é olhado com o desprezo dos intelectuais da esquerda e dos mais tradicionais que continuavam a ver o jogo como uma invasão social inglesa, a polémica prosseguiu. Paralelamente também a equipa francesa entrava numa profunda mutação social com a inclusão, pela primeira vez na história, de multiplos representantes da França moderna.

Aime Jacquet juntou a Barthez, Deschamps, Petit e Blanc filhos do império perdido, desde caribenhos como Henry e Thuram, a africanos como Desailly, Vieira e Makelelé sem esquecer os imigrantes norte-africanos (Zidane), arménios (Djorkaeff, Boghossian), portugueses (Pires) e argentinos (Trezeguet). Dessa miscelânea nasceu a equipa mais plural da história do futebol. Quando se anunciou que o recinto da final finalmente seria conhecido como Stade de France muitos pensaram de que França estavam os promotores a falar.

 

Claro que na noite de 12 de Julho de 1998 ninguém se importou muito.

Os maus augurios foram desaparecendo à medida que o torneio se transformou numa verdadeira celebração da integração. Os sucessos da equipa foram o maior motor de integração da história do país. A França conservadora saiu para a rua para celebrar com a França radical, os nacionalistas desfraldaram a tricolor, os emigrantes aplaudiram de pé a Marseillese, todos encontraram algo com que se identificar. A consagração no Stade de France significou a reconciliação das duas Franças e surgiu como um bom prenuncio para o futuro especialmente quando mais de dois milhões de franceses, de todos os credos, cores e origens, encheram os Champs Elyseé na maior manifestação popular desde a libertação.

Como sempre o doce sabor da vitória esconde o lado mais escuro da alma. Quando a selecção francesa começou a sua dolorosa desintegração, quando o rumor de um balneário dividido em clãs étnicos se transformou em realidade, o Stade de France viveu o outro lado da moeda, o lado escuro da sua lua. Um duelo comemorativo entre França e Argélia colocou frente a frente duas nações fortemente marcadas por uma guerra impiedosa que significou o fim da IV República, o advento do gaulismo e um dos maiores cortes sociais na história de ambos os paises. À volta do estádio a imensa maioria de emigrantes argelinos juntou-se para apupar o autocarro que trazia os jogadores franceses e aplaudir a equipa argelina.

Quando ambas subiram ao terreno de jogo as bandeiras tricolores brilhavam pela sua ausência. Depois começaram os assobios. Um long e intimidativo assobio que afogou o espectro sonoro da Marseillese. Minutos depois a invasão, as lágrimas, o choque. Imagems que cancelavam tudo o logrado anteriormente e que significava, de facto, que as politicas sociais do governo gaulês tinham desperdiçado o capital de confiança ganho com o Mundial. Meses depois os mesmos jovens tomavam os banlieus com cocktails molotov, primeiro em Paris e depois em todo o país. Le Pen bateu as sondagens e seguiu para a segunda ronda das presidenciais, a França entrou em choque quando a esquerda aceitou apoiar Chirac e o divórcio definitivo entre o modelo multiracial e a França conservadora tornou-se inevitável. Desde então, jogar no Stade de France deixou de ser uma vantagem para transformar-se numa realidade confrangedora. As bandeiras tricolores desapareceram e aumentaram os assobios ao primeiro sinal de desânimo. O público multi-étnico desapareceu e deu forma a bancadas compostas essencialmente por gauleses autóctones. Os suburbios do estádio divorciaram-se do seu ex-libris e a sua monumentalidade tornou-se mais fria e cinzenta do que nunca.

 

Se o Mundial de 1998 e o Stade de France significaram o triunfo da integração europeia, a última década da selecção gaulesa transformou o seu recinto oficial num micro-cosmos de um desalento transversalmente nacional. Apesar da selecção ser cada vez mais representativa da multiculturalidade, a França de Chirac e Sarkozy seguiu o caminho oposto ao desenhado a 12 de Julho. A obra máxima da nova França ficou de pé como simbolo do calor humano passado e da frieza humana presente. Transformou-se num gigantesco pavilhão a céu aberto, perdeu a condição de simbolo nacional e para os que passam por ele todos os dias continua com lembrança de um país que podia ter sido, mas realmente nunca o foi. O estádio de uma França que existe no nome e não na alma... que é quem dá cor ao verde do tapete.



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Sábado, 28.05.11

Seria difícil que a UEFA tivesse escolhido um estádio tão apropriado para um duelo entre Manchester United e Barcelona. Se os clubes tivessem de eleger um recinto, seguramente que teria sido este. Contém mais do que retalhos importantes da história do beautiful game. Foi também o gérmen dos grandes sucessos da história de ambos clubes e surge agora renovado para o corolário de duas eras inesquecíveis para blaugranas e red devils.

 

Longe vão os dias do cavalo Willy e do público irrequieto que mal deixava espaço para os jogadores respirarem.

O segundo maior estádio da Europa (só superado pelo Camp Nou), conta com 90 mil lugares e lembranças de dias pretéritos inesquecíveis. Já não conta com o imenso espaço entre relvado e bancadas, muito anti-inglês. Nem com as históricas Twin Towers, bandeiras ao vento. Mas mesmo assim é um cenário impressionante, profundamente modernista e de proporções épicas. O imenso arco que rodeia o terreno de jogo funciona como trademark de um recinto reinaugurado em 2007 depois de quatro anos de obras, problemas de financiamento e dúvidas existenciais para um povo extremamente agarrado às suas tradições.

O velho Wembley recebeu alguns dos jogos mais impactantes da história do futebol. Desde a polémica final do Mundial de 1966 à vitória histórica da Hungria sobre a Inglaterra, a primeira em solo britânico, passando por várias finais europeias (a consagração do AC Milan de Rivera, do Manchester de Charlton, do Ajax de Cruyff, do Liverpool de Keegan e do Barcelona de Cruyff, agora no banco) que definiram eras do jogo. Isto claro sem esquecer as históricas finais da FA Cup, durante décadas o evento mais glamoroso do futebol internacional. Mais do que esses momentos singulares, Wembley era o mito de uma era passada. "Estádio do Império", como começou a ser conhecido, era o último reduto da mentalidade imperialista britânica, da grandeza da velha Londres que tanto se rendia para o futebol como para outros desportos e, mais simbolicamente ainda, para concertos e espectáculos que dariam a volta ao mundo na era da televisão. Foi o primeiro estádio de futebol transformado em pavilhão multi-usos quando as instalações ainda nem sequer permitiam sonhar com essa realidade na velha Europa.

 

Mas acima de tudo Wembley é parte da história da Champions League e das vidas de Manchester United e Barcelona.

Os ingleses jogam em casa e não é apenas um eufemismo patriótico. No velho estádio londrino viveram alguns dos seus momentos mais emblemáticos que ajudaram a definir as duas eras históricas do clube. Nos anos 60, quando Matt Busby se predispôs a recriar o seu projecto malogrado no acidente de Munique, o estádio tornou-se um simbolo do renascimento dos Bubsy Babes. Foi perante 120 mil pessoas que a equipa capitaneada por Charlton, com Kidd, Best, Stepney, Foulkes e Stiles, venceu por 4-1 o Benfica de Eusébio. Um jogo trepidante que podia ter acabado com a vitória encarnada, não fosse o falhanço de Eusébio nos minutos finais. Depois do 1-1 do tempo regulamentar, chegou a goleada histórica que deu a primeira Taça dos Campeões a um clube inglês. Seria o último troféu ganho pelo clube em muito tempo. Em 1990, já com Alex Ferguson no banco de Old Trafford há cinco temporadas, a expectativa dos adeptos era muita. Uma derrota e talvez hoje o escocês não fosse um mito vivo. Mas a equipa liderada por Robson ganhou por 1-0 o replay a final da FA Cup contra o Crystal Palace, depois do primeiro jogo ter terminado num agónico 3-3. Depois chegou a era de glória, a Taça das Taças no ano seguinte (contra o Barcelona de Cruyff, precisamente) e mais três FA Cups (4-0 contra o Chelsea em 1994, 1-0 contra o Liverpool em 1996 e 2-0 frente ao Newcastle em 1999). O estádio do império tinha-se tornado no talismã do inefável escocês.

A história de amor do Barcelona com o recinto é mais sucinta mas não menos especial. O clube blaugrana nunca tinha jogado no estádio londrino quando chegou em Maio de 1992 para defrontar a Sampdoria italiana. Era o culminar do Dream Team de Cruyff, que vinha de se sagrar bicampeão espanhol dias antes, depois da inesperada derrota do Real Madrid em Tenerife. A equipa actuou com o laranja catalão (e holandês) e deu-se bem. Sofreu a bom sofrer e só um livre directo de Ronald Koeman a sete minutos do fim decidiu a contenda. Acabava uma malapata de 40 anos dos blaugranas em finais europeias e começava o ciclo de titulos que seguira a ampliar-se em finais disputadas em grandes capitais europeias, Paris e Roma.

 

Para ambas as equipas voltar a Londres é, portanto, voltar onde tudo começou. O estádio pode ser novo (Ferguson sabe o que é ganhar aqui graças aos Charity Shields conquistados em 2007, 2008 e 2010) mas a magia é a mesma de sempre. Londres inspirará fundo e viverá mais uma noite histórica de futebol. As duas equipas mais em forma da última década olham-se olhos nos olhos e sentem o peso dos seus antepassados a empurrá-los para a frente. Passe o que passe, pelo menos uma das equipas continuará a sentir o mítico Wembley como a sua segunda casa.



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Quarta-feira, 18.05.11

Michel Platini instaurou um novo modelo de distribuição de finais europeias e Dublin foi uma das primeiras cidades satélite beneficiadas pela politica da UEFA de levar os grandes eventos a estádios de elite fora do circulo habitual de anfiteatros escolhidos. A capital irlandesa tem pouquíssima tradição futebolística e isso nota-se no ambiente. No relvado do Aviva Stadium estão as memórias passadas do mitico Lansdowne Road e os versos soltos perdidos de uma harpa que se ouve lá ao longe...

 

Apesar do relativo sucesso recente do futebol irlandês, que atingiu o seu pico entre 1988 e 2002, se há um país das ilhas britânicas onde o beautiful game continua a perder, claramente, para o rugby, é a Irlanda. Nenhum clube irlandês de futebol tem, sequer, a mínima tradição na competição. Ao contrário da Escócia, com um papel fundamental na definição do jogo, ou até mesmo o Pais de Gales, sempre pronto a recorrer ao velho estilo britânico em pleno século XXI, os irlandeses preferem o estoicismo do desporto que durante tantos anos partilhou tudo, menos o nome, com o futebol. Não é por acaso, aliás, que o clube com mais adeptos na ilha seja...o Celtic de Glasgow, primeiro conjunto derrotado pelo Braga na sua campanha deste ano. E clube derrotado, igualmente, pelo FC Porto na sua primeira final da Taça UEFA. Ironias do destino.

Talvez por isso não se viva um ambiente puramente futebolístico à volta do duelo derradeiro do torneio. Michel Platini, na sua guerra aos colossos do jogo, está determinado em levar as grandes finais europeias a países periféricos e sem grande tradição neste tipo de eventos. Foi assim com a Turquia, por exemplo, e volta a sê-lo com os irlandeses, país que nunca teve um clube numa eliminatória dos oitavos de final de qualquer prova europeia. No entanto o Aviva Stadium, construído por cima das cinzas do mítico Lansdowne Road, é um estádio de elite, cinco estrelas, construído para o competitivo mundo do rugby. Mas com o certificado de qualidade da UEFA. Aliás, a final disputa-se no terreno do Wanderers FC muito por culpa do estádio do Wembley. Tudo porque o rival do Aviva na disputa pela final da Europe League era o londrino Emirates Stadium. Quando a UEFA decidiu que o estádio de maior nomeada do futebol internacional, reconstruído de raiz, acolhesse a sua primeira final europeia, o recinto do Arsenal ficou automaticamente excluído por estar igualmente na capital inglesa. Sem rival, Dublin ficou com a festa.

 

52 mil lugares, um design inovador e distribuído de forma desigual – o que pode supor alguns problemas logísticos curiosos – o Aviva Stadium é detido pela federação de rugby irlandesa que compartilha o recinto com a selecção de futebol do país. Um modesto clube, o Wanderers, joga ocasionalmente os seus jogos mais significativos no estádio, mas são os duelos dos clubes mais importantes de rugby do país – bem como os confrontos do torneio das VI Nações – que dão colorido às bancadas. Com apenas um ano de vida, é um recinto sem história e magia particular, sem lembranças que envolvem os adeptos na mística do momento. Filho da politica de renovação de estádios, transformados em centros comerciais desportivos, com naming garantido para os próximos dez anos, é um estádio que não permite evocar o passado. Só a imagem da linha de comboio próximo transforma a memória e devolve, nem que por momentos, à vida, o primeiro grande ícone desportivo do desporto irlandês. Em Lansdowne Road os irlandeses viveram as suas noites mais intensas, mais apaixonantes e mais imprevisíveis.

Mais de 100 anos de duelos contra os rivais ingleses escondem muitas histórias, desde a marcha solidária de um grupo de jogadores do clube de rugby local com o exército dos Aliados durante a 1 Guerra Mundial às celebrações durante um Irlanda-Inglaterra transformadas em batalha campal dias depois do anuncio do desarmamento do IRA. Pequenos retalhos que definem a memória de um tapete tão verde com as terras da árida Irlanda e que os adeptos portugueses poderão relembrar na tensão dos momentos decisivos da primeira final da Europe League da nova década.

 

Em Dublin acabará por escrever-se, a ouro, mais uma página histórica do futebol português. Um estádio que relembra outras noites, as noites em que a selecção portuguesa superava os seus fantasmas e transformava-se numa potência europeia por direito próprio. Seja o Braga, seja o FC Porto, a festa será portuguesa, com certeza. Mas não faltará uma harpa, uma Guinness e um delírio de Samuel Beckett perdido no ar, perdido entre a eterna melancolia da bola que está prestes a entrar e que se suspende, no ar, até ao fim dos dias...



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 13:00 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Quinta-feira, 27.01.11

Numa quente noite de Maio de 2002 os adeptos indefectíveis do Feyenoord Rotterdam cumpriram um sonho antigo. Voltaram a festejar um titulo europeu e logo no seu reduto de sempre. O De Kuip tinha acabado de cumprir 65 anos e engalanou-se para a festa local. Um dos momentos altos de um dos mais belos e históricos santuários do futebol europeu.

Como tantas outras catedrais desportivas, o nome oficial do reduto é o mesmo que o clube que ali disputa, quinzenalmente, cada encontro como se fosse o último. É por isso que ninguém conhece o Feyenoord Stadion, mas todos já ouviram falar do mitico De Kuip...ou melhor, da mitica "Banheira" (é essa a tradução literal da expressão holandesa). Um dos estádios arquitectonicamente mais belos do Velho Continente, o reduto sagrado do clube holandês comemora este ano 72 anos. Ao seu lado já estão a preparar o terreno para erguer o seu sucessor, que terá o inevitável nome de De Nieuwe Kuip. Antes que o tempo o apague e não fiquem apenas mais do que belas recordações, prestamos a devida homenagem a um relvado que já viu o melhor do futebol disputado na Europa ao longo das últimas décadas.

 

O estádio foi fundado em Maio de 1937. Inspirado pelo presidente de então do Feyennord, Leen van Zandvliet, o reduto nasceu de um projecto ambicioso de reconversão urbanistica da própria Roterdão. O clube queria algo grande e impactante e para tal contratou os dois melhores arquitectos holandeses da época, Johannes Brinkman e Leenerdt van der Vlugt, responsáveis então pela requalificação do maior porto europeu. Inspirados no Highbury Park - outro monumento já desaparecido - os arquitectos exploraram pela primeira vez a utilização de vários aneis sobrepostos. Um modelo que serviria de inspiração posterior para os estádios do Camp Nou, da Luz ou Santiago Bernabeu nos anos 50. Utilizando chapa e vidro os desenhadores construiram o projecto em tempo recorde e no dia da inauguração apresentavam à cidade um reduto capaz de acolher 64 mil pessoas. Depois do jogo inaugural da equipa da casa, a "Banheira" recebeu também um Holanda-Bélgica, derby intenso, e tornou-se a partir de então na casa oficial da selecção holandesa.

 

Com o crescimento da cidade e do clube no futebol holandês chegaram as grandes noites de futebol. Consumado como o grande holandês do pós-II Guerra Mundial, o conjunto vermelho e negro tornou-se rapidamente numa potência europeia. Nos anos 50 decaíu de forma mas com Ernst Happel no comando do onze local dominou por completo os anos 60, marcando presença regular nas últimas etapas da recém-criada Taça dos Campeões. Depois de várias tentativas o Feyenoord chegou à final da Taça dos Campeões em 1970. Pelo caminho ficou uma épica vitória por 2-0 diante do AC Milan na "Banheira", a primeira grande noite europeia do estádio. Curiosamente foi no reduto milanês que se disputaria a final. A praticar a primeira versão holandesa de Futebol Total, o conjunto de Roterdão bateu o Celtic Glasgow por 2-0 e sagrou-se pela única vez campeão europeu. Foi o culminar numa era dourada que imortalizou o já trintão estádio que receberia a partir daí várias finais europeias. Enquanto que o clube ganharia a Taça UEFA em 1973 para depois entrar num progressivo declineo, que coincidiu com a ascensão de Ajax e PSV, a fama do De Kuip foi aumentando.

Em 2000, já com sessenta e três anos e muitas obras de melhoria pelo meio, o estádio recebeu a final do Europeu de futebol. Uma decisão com profundo significado já que todos esperavam que o encontro decisivo fosse na Arena de Amesterdam, mais funcional e localizado na cidade número um do país das tulipas. Um orgulhoso triunfo para os locais que serviu para amenizar a dor de não ver a sua equipa subir ao mais alto do pódio. Até que chegou aquela mitica final. O Feyenoord há muito que estava afastado da elite europeia e não era favorito. O Borussia de Dortmund parecia ter tudo para vencer mas a magia do De Kuip fez o resto. Com 55 mil espectadores fanáticos nas bancadas a dupla Pierre von Hoijdkoonk e John Dahl Tomasson destroçaram a defesa alemã. A vitória por 3-2 significou o recuperar do nome do santuário apesar de que as celebrações foram ensombradas pela morte de Pym Fortyun, politico holandês e conhecido adepto do clube.

 

A partir dessa noite o De Kuip pareceu cair no esquecimento. A equipa baixou o seu nivel competitivo e foi então que se começou a falar em Roterdão na necessidade de criar um novo - e mais funcional - recinto desportivo. A decisão foi tomada pouco depois e está previsto que o novo estádio seja inagurado em 2015. Até lá cada segundo é pouco para desfrutar de um lugar repleto de magia e que é a quintessência do beautiful game...


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publicado por Miguel Lourenço Pereira às 11:33 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Quarta-feira, 12.01.11

poucos estádios com tanto simbolismo e força interior que tenham sobrevivo à era da modernização do futebol moderno. Muitos deles desapareceram, outros estão em via de o fazer. E outros foram de tal forma alterados que perderam grande parte da sua essência. Cada pedra derrubada é um soco surdo na alma do beautiful game. Ontem o futebol ficou mais pobre. O Ali Semi Yen fechou as portas, de vez. O dinheiro ganhou. O Inferno turco é mais uma miragem do passado.

 

 

 

Se os adeptos turcos são internacionalmente reconhecidos pelo seu fanatismo - que chega a extremos impensáveis no resto do velho continente - há dentro da classificação dos fãs turcos dois niveis: os adeptos do Galatasaray...e todos os outros.

O clube do povo, o clube mais popular e europeizado da cidade que faz a ponte entre Ásia e Europa, domina todos os rankings possiveis e imaginários de fanatismo, superando mesmo os rivais locais do Bessiktas e Fenerbache, dois clubes exemplares na sua devoção ao jogo. Dentro dessa matéria prima que faz do adepto do "Gala" uma figura à parte está, esteve e acabará sempre por estar, a sombra do estádio mitico que define, também ele, o futebol turco.

Há quem se lembre das históricas vitórias contra Manchester United e Leeds United, em épocas distintas e contra duas massas adeptas igualmente fanáticas, para testemunhar o poder do Ali Semi Yen na dinamica desportiva que rodeia o clube vermelho e amarelo de Istambul. A vitória do Galatasaray em 1994 contra o Man Utd de Cantona e companhia lançou, definitivamente, o clube turco para a elite europeia. Já nos anos 80 o Galatasaray tinha ameaçado (incluindo uma meia-final da Taça dos Campeões perdida com o Steaua Bucaresti) mas a década de 90 revelou ser a sua era dourada. Seis anos depois, de novo contra exércitos da velha Britania, o poder do Ali Semi voltou a ser determinante na eliminatória contra o Leeds United na Taça UEFA de 2001. Os turcos venceram e rumaram à final - derrotando outro conjunto inglês, o Arsenal - mas o titulo ficou manchado igualmente pelas cenas de violência entre ingleses e turcos que terminaram com a morte de um adepto dos Whites. A fama de estádio violento ficou, mas há muito mais por detrás das históricas bancadas que ontem se despediram definitivamente da história do futebol europeu.

 

O Galatasaray venceu por 3-1 no último jogo "em casa". E até começou a perder. Mas poucos realmente estavam preocupados com o resultado. Era o simbolismo que contava.

O histórico recinto encheu-se pela última vez para um longo e triste adeus de 90 minutos. O novo estádio - tal como sucede com Bessiktas e Fenerbache - significa uma forte aposta dos grandes clubes turcos na renovação das principais infra-estruturas do país com vista a uma maior rentabilidade desportiva. E a hipotética organização de um grande evento europeu, para lá da final da Champions League albergada pelo renovado Ataturk em 2005. Para aumentar a capacidade (o histórico Sami Yen só contava com 20 mil lugares) e os rendimentos, o clube escolheu um local na periferia que pouco tem a ver com a imagem de clube cêntrico e cosmopolita que acompanhou o Galatasaray durante toda a sua história. Um amigável contra o Ajax (outro clube que apostou forte a principios dos anos 90 nessa mutação) no próximo sábado abre as portas ao futebol do recém-criado Türk Telekom Arena. E assim terminarão as longas filas para entrar, o ambiente frenético nas horas prévias, os espectadores com os filhos ao colo que muitas vezes aumentavam em milhares as almas presentes durante o jogo e, acima de tudo, o ambiente infernal que durava do primeiro ao último segundo e que tantas vezes salvou o clube da derrota e o empolgou para uma vitória improvável.

Desportivamente o clube agora orientado por George Hagi não vive os seus melhores dias, à sombra dos rivais locais e da irrupção do modesto Bursaspor. Mudar de casa significa um investimento significativo que a direcção quer aproveitar para relançar a única equipa turca que até hoje conta com uma competição europeia nas suas vitrines. Já lá vai uma longa década. Poucos se importam que o estádio tenha sido inaugurado com uma tragédia incluida. Era o centro nevrálgico do futebol turco. Até agora. Será mais um shopping, mais um templo consumista onde ninguém se lembrará dos últimos golos de Arda Turan, Kazim-Kazim Richars e Çervit. E de todos os outros gritos ecoados no passado.

 

 

 

Os adeptos puderam levar uma recordação em forma de cadeira com uma inscrição simbólica. Mas são as memórias que farão com que o recinto permaneça forçosamente na história do futebol mundial. Como em tantos outros casos em que o progresso e o aspecto comercial levaram avante à memória desportiva, o adeus é inevitável. A memória, inesquecível.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:35 | link do post | comentar

Sábado, 14.08.10

Com o esperado regresso do Newcastle United à Premier League os adeptos poderão voltar a ver com regularidade o imponente St. James´ Park. O estádio mais importante do norte de Inglaterra, é um verdadeiro farol desportivo que surge orgulhoso com a planicie de York a um lado e a vista da muralha de Adriano do outro. Um santuário britânico por excelência.

O Newcastle Utd nem é um dos mais antigos clubes ingleses. 

O clube que hoje domina a localidade mais importante do norte inglês é resultado da fusão de dois pequenos clubes locais, em 1892. Quando nasceu o clube, já existia o St. James´ Park. Mas a história de amor entre ambos forjou-se ao longo de mais de 100 anos de tal forma que hoje um e outro são, naturalmente, indissociáveis.

O quarto maior recinto desportivo em Inglaterra (apenas superado por Wembley, Old Trafford, Emirates e o Millenium), o estádio dos Magpies tem uma longa tradição desportiva e ainda hoje é visto como a jóia da coroa do norte inglês. Foi construido em 1880 como um pequeno recinto desportivo para os conjuntos locais num território comunitário, rodeado de parques e casas dos novos senhores ricos da cidade, bem junto do limite da cidade. A construção das primeiras bancadas levou a vários protestos dos locais, que acreditavam que o recinto manchava a imagem distinta da zona no espectro urbano de Newcastle. Mas o progresso desportivo falou mais alto e o nascimento da Gallowgate End, o celebre topo norte. Vinte anos depois, já com a equipa establecida na First Division, a capacidade do estádio foi ampliada para 60 mil lugares com o nascimento de mais duas bancadas, incluindo a Millburn Stand, local onde, desde então, se juntaram os adeptos mais fanáticos dos Toons. Ao seu lado foi construida uma piscina para os filhos dos adeptos passarem as horas em dias de jogos. O estádio começava a ganhar vida própria.

 

Durante a primeira metade do século o St James` Park emergiu como um dos mais importantes e bem construidos estádios de futebol em Inglaterra. Recebia jogos de rugby com regularidade e em 1930 o estádio foi coberto pelo engenhoso arquitecto Archibald Leitch, responsável pela construção de Craven Cottage, Old Trafford, Anfield Road ou Hampden Park. A evolução do recinto estagnou no pós-guerra e isso acabou por levar a FA a vetar o estádio para a lista do Mundial de 1966. Uma decisão que motivou várias disputas entre o clube e o mayor local. Foi mesmo equacionado abandonar St. Jame´s por um novo e multifuncional estádio conjunto com o eterno rival e vizinho Sunderland. A ideia foi abandonada em 1971 quando se começou a trabalhar na renovação do recinto. À medida que o histórico clube nortenho perdia importância dentro do espectro competitivo, mas complicada era a própria renovação do campo. Os topos foram demolidos, especialmente depois do estádio ter sido vetado em questões de segurança pelo relatório Taylor, e a chegada ao clube de John Hall, um milionário local que adquiriu o clube, significou uma lufada de ar fresco para o recinto dos Magpies. À medida que a equipa recuperava a sua importância desportiva, durante o primeiro mandato de Kevin Keegan, o estádio era totalmente renovado e aumentado até chegar a uma capacidade de 53 mil lugares. Suficientes para acertar contas com a história e receber três jogos do Euro 96. Mesmo assim a direcção do clube ponderou construir, pouco tempo depois, um estádio totalmente novo a 1 kms de distância. O projecto foi abandonado e desde então o recinto tornou-se num exemplo de renovação progressiva, algo que nem a súbita descida de divisão dos Magpies alterou.

Este fim de semana, com o arranque da Premier, a bola voltará a rodar num dos seus palcos mais fascinantes. Já utilizado em séries, filmes (a saga Goal) e estádio talismã da selecção inglesa (nunca perdeu sempre que jogou em Newcastle), o St. James´Park continua a ser um verdadeiro farol arquitectónico no tranquilo norte inglês. E um espelho perfeito da evolução de um dos mais antigos santuários do beautiful game.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 08:56 | link do post | comentar

Sábado, 22.05.10

A escolha foi feita à medida do ressuscitado projecto merengue de Florentino Perez. Mas o clube das "9 Copas" ficou pelo caminho na etapa de sempre e agora servirá de anfitrião de uma final que nem o mais arriscado dos analistas seria capaz de prever há oito meses atrás. Um palco de luxo para uma final com suspense até ao fim.

No ano em que UEFA decide estrear o formato de finais europeias ao sábado, o jogo do ano muda-se para Madrid.

Aproveitando o solarengo clima da capital espanhola, a escolha não é inocente. Contrariamente ao mau tempo que se viveu em Hamburgo, há semana e meia, só se espera calor e luz em Madrid. A Puerta de Alcála recebe o desfile de comitivas que deambularão entre os paseos tipicos de Madrid, do eterno verdejante Prado até à urbana e imponente Castellana. E se nem por acaso a Gran Via madrileña está de festa, o facto é que Madrid consegue ter o condão de agradar a gregos e troianos. No culminar desse dia, recheado de eventos e festivais com o futebol como tónica única, há o Santiago Bernabeu.

O antigo estádio Chamartin, eregido pelo visionário presidente numa altura em que aquela zona norte de Madrid era um imenso baldio, ganhou o nome do homem que definiu a história do futebol europeu a meados dos anos 50. E foi crescendo. Com os anos aumentou de tamanho e de estrelas UEFA. Hoje é um estádio de nota máxima sem um ponto negativo em contra. Repleto de simbolismo, a verdade é que o Bernabeu só viu três finais europeias no seu longo historial. Números muito por debaixo de outros grandes palcos europeus. Desde o triunfo do Nottingham em 1980 que o palco espera consagrar um novo ás. Um ás que pode ser bem familiar.

 

Com 80 mil lugares o estádio Santiago Bernabeu é um dos maiores recintos desportivos europeus.

Foi inaugurado em 1947, num jogo entre os locais e o Belenenses, depois de várias polémicas à volta do local ideal para assentar os cimentos que seriam a base da grandeza de um clube quase anónimo até aos ano 40 e que explodiu verdadeiramente na década seguinte graças à politica de contratações do seu longevo presidente, Santiago Bernabeu.

Depois da sua primeira etapa de vida, onde o estádio chegou a ter uma capacidade de 75 mil lugares (dos quais 25 mil eram sentados mas apenas 7 mil estavam por debaixo de uma cobertura), os triunfos em Espanha e na Europa do clube levaram a direcção a ponderar um reestruturamento que permitiu ampliar para 120 mil, os lugares disponiveis. Foi a época da mudança de nome - para agradar ao próprio Bernabeu - da instalação de luz artificial e dos titulos. Muitos titulos. O problema foi que o estádio literalmente estagnou. Durante vinte anos não recebeu nenhuma obra de melhoramento e foi perdendo prestigio face a outros grandes recintos europeus. A entrega à Espanha do Mundial de 1982 foi o pretexto para limpar a casa. O recinto acudiu a final já com um novo rosto, com a capacidade reduzida a 90 mil. Isso, sim, pela primeira vez se cubriu dois terços do estádio. A última mudança foi em 1992, quando a UEFA obrigou os clubes a eliminar qualquer lugar sem acento sentado. As obras demoraram e significaram uma profunda revolução que fez baixar a 75 mil lugares a capacidade do recinto. Só quinze anos depois a UEFA concedeu as 5 estrelas necessárias para receber grandes desafios. Como prémio prometeu uma final europeia de prestigio. Aí está ela.

Num relvado onde desfilaram alguns dos nomes fulcrais da história do futebol europeu, a história pode ajustar contas com um dos seus mais imponentes recintos. Num estádio que já viu dezenas de campeões europeus, chega a hora de ver a consagração final. De um antigo rival ou de um futuro amigo? As noites em Madrid são quentes e longas. E 90 minutos no Bernabeu também!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 04:47 | link do post | comentar

Sexta-feira, 19.02.10

Não é o mais belo dos estádios apesar dessa escolha ser absolutamente pessoal. Mas depois do final do velho Wembley é o mais emblemático estádio do futebol britânico. Um santuário de ferro e aço que se transformou num palco único. Hoje o Old Trafford cumpre 100 anos. Um século de um sonho sem fim...

 

Um século de vida é muito para um estádio mas este Old Trafford já não tem qualquer traço de semelhança com o mitico recinto que se tornou num dos maiores de Inglaterra logo no seu primeiro ano de vida. A última remeniscência está no banco de suplentes. Na bancada, o lugar onde se senta Ferguson encontra-se encrustado na antiga porta para os balneários. Tudo o resto é novo. Como a vida do próprio clube. Um clube que é, hoje em dia, o maior do Mundo, mas que até 1952 não tinha ganho uma grande competição.

O estádio nasceu a 19 de Fevereiro de 1910. Tinha 8 mil lugares sentados e 80 mil lugares em total. Mais quatro mil que hoje em dia. Foi imediatamente catalogado como o mais imponente recinto britânico e resultou do trabalho incansável de Archibald Leitch, que anos antes tinha desenhado o Hampden Park, Ibrox Park, Stanford Bridge e o Anfield Road. O recinto custou ao clube 60 mil libras e rapidamente se tornou num ex-libris do clube e da cidade. Recebeu uma final da FA Cup anos antes de nascer o Wembley e tornou-se no estádio com maior assistência média durante os anos 20, época em que, curiosamente, o Manchester United não venceu um único titulo. O recinto continuou a sua história até chegar a II Guerra Mundial. Os bombardeios sucessivos de cidades industriais chave atingiram Manchester e toda a cintura à volta. O mitico Old Trafford não aguentou o peso das bombas nazis e foi desfeito em mil pedaços. Foram precisos cinco anos para se reconstruir todo o recinto que seria re-inaugurado em 1950.

 

O estádio foi reconstruido de forma a parecer-se o máximo possível com o seu antecessor mais os tempos mudavam e o futebol inglês crescia a olhos vistos com o pós-guerra. Em 1952 a chegada de Sir Matt Busby mudou a vida do clube e a base do próprio recinto que rapidamente ganhou o carinhoso titulo de Theater of Dreams, o Teatro dos Sonhos. Enquanto a equipa ia conquistando os seus primeiros grandes titulos o estádio ia ganhando nova vida. Várias obras foram adaptando o recinto aos tempos modernos o que provocou que se reduzisse a capacidade para 40 mil lugares. Era pouco, muito pouco para uma equipa que vivia a sua idade de ouro. A primeira. 

A crise desportiva do Manchester United dos anos 70 e 80 terminou com a chegada de outro escocês, Alex Ferguson. O técnico foi uma das figuras-chave na remodelação do Old Trafford até ganhar a forma que tem hoje. Desde 1986 até 2002 o estádio foi totalmente transformado. Ganhou novos aneis, uma cobertura de aço e ferro imponente e transformou-se no estádio mais cómodo e bem executado da Premier League. Com o novo rosto de um recinto que se tornava no icone do futebol britânico chegou uma nova vaga de sucessos desportivos dos Red Devils. Parecia que a cada etapa de melhoramente no seu estádio o Manchester United se fazia acompanhar com uma mão cheia de trofeus.

 

Hoje o estádio Old Trafford cumpre um século. Pode não ter nada a ver com o projecto original. É bom que assim seja. Que o seu crescimento e adaptação aos tempos modernos tenha sido bem sucedida. No entanto a atmosfera única de um recinto que fala quando o jogo está em silência continua a ser a mesma de há cinquenta ou cem anos. O Teatro dos Sonhos continua a sê-lo. Hoje, mais do que nunca. O estádio está acompanhado por um belo museu, as estátutas de Busby e do seu trio de ases e do mitico relógio a lembrar o desastre de Munique. Cercado pelo cinzentismo urbano da capital do norte de Inglaterra, o Old Trafford é a história viva de um jogo que ainda não encontrou melhor casa que o silencio ruidoso de um relvado britânico.  

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 16:18 | link do post | comentar

Terça-feira, 02.02.10

Maradona sonhava à noite que estava só no relvado de um La Bombonera vazio. E isso aterrorizava-o. Normal. Imaginar aquele que é provavelmente o maior santuário futebolistico da América Latina vazio é algo angustiante. Porque poucos estádios têm uma alma tão grande como a mitica "cancha" buenairense.

O nome do estádio mitico do futebol argentino é bem distinto daquele porque se conhece em qualquer canto do Mundo. Aquelas bancadas a cair sobre o relvado. As grades, inevitáveis para controlar uma multidão que ultrapassa muitas vezes o limite do entusiasmo. As redes brancas e sempre repleta de confetis que voam ao largo de 90 minutos. Traços distintivos de um santuário único que tem direito a cemitério próprio para os mais indefectiveis apaixonados de um edificio que é mais do que uma catedral. É o próprio Eden.

E no entanto se falamos do estádio Alberto J. Armando ninguém o consegue localizar no tempo e espaço. Mudemos o apelido e tudo muda. Coisas da vida. A imagem transporta-nos para essas noites loucas dos derbys de la Plata. Esses duelos encarniçados entre o River Plate e o Boca Juniores. Passam imagens de todos os grandes da história xeneize. E o porto de La Boca agita-se a cada movimento nas bancadas. Um tremor de terra que dá cor e luz à capital argentina.

 

O estádio conhecido por La Bombonera foi construido em 1940. Só que os terrenos já pertenciam ao Boca Juniores desde 1918. Foram precisas mais de duas décadas para erguer o terreno. O Bairro de La Boca invadiu o recinto para o seu primeiro desafio mas só em 1953 se completaram todas as obras do recinto que permitiram chegar a uma capacidade de 70 mil adeptos. Com o passar dos anos as questões de segurança obrigaram o recinto a ver reduzida a sua capacidade para 58 mil espectadores. Era a época de ouro do conjunto buenarense e os adeptos fervilhavam de emoção. Para a história ficaram as exibições miticas de Maradona, a tristeza local quando o estádio ficou de fora dos elegidos para o Mundial de 78, os protestos dos adeptos com as sucessivas vendas das grandes estrelas para a Europa e as várias Libertadores celebradas no relvado pelos herois do bairro mais pobre e miserável de Buenos Aires. Pedaços de história que sempre tiveram como denominador comum um recinto que foi sempre mais do que um estádio, um relvado com vida própria capaz de extender os seus tentáculos pelo coração da terra.

O contorno mitico do estádio deveu-se também às poucas derrotas sofridas em casa pelo Boca Juniores face aos seus maiores rivais. De tal forma que só há cinco equipas que se podem vangloriar de terem aí vencido um campeonato, para desespero dos adeptos xeneizes. Hoje o La Bombonera prepara-se para uma nova expansão porque, apesar das melhoras, o estádio ainda detém algumas lacunas graves. Só que nenhum dirigente se atreve a propor construir um novo recinto. Matar La Bombonera era matar a alma do povo argentino. E os edificios destroem-se. As almas não!

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:01 | link do post | comentar

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