Sexta-feira, 07.02.14

Sou um nostálgico. Vivo preso no tempo. Cresci nos anos oitenta. Acho que isso tem grande dose de culpa. A era em que brincar ao futebol significava passar horas na rua. Jogar com peças de legos montadas para fingir equipamentos reais. Ou com os jogadores de Subbuteo, muitos sem cabeça. As consolas eram protótipos do que são hoje, os jogos de gestão desportiva um enigma e o futebol, esse, era outro. Daqui a uns meses vou ter o prazer de rever nostalgicamente as minhas velhas conhecidas Colômbia e Bélgica num Mundial outra vez. Tenho saudades desses tempos. E de todas as outras equipas dessa era que ficaram pelo caminho.

Um dos meus sonhos é ter uma réplica perfeita do equipamento da Dinamarca de 86. Ou da Holanda de 88. (quem os tiver, o email de contacto está abaixo à esquerda)!

Sim, sou assim de estranho. Mas já me contentava com aquela camisola colorida da Colômbia de Asprilla ou da Jugoslávia de Stoijkovic. Sei adivinhar o ano de um jogo só pelo equipamento das respectivas selecções. Vivi a era das três tiras nos ombros da Adidas. Dos desenhos da Nike na camisola do Mundial dos Estados Unidos ou das tiras finas tão popularizadas nos anos oitenta por escoceses, franceses e dinamarqueses. Tenho saudades de ver a Preud´Home fazer defesas impossíveis a Hassler ou de imaginar como um desdentado Jimmy Leighton era capaz de defender sobre a linha um tiro de cabeça de Tore Andre Flo. Durante essa geração o futebol europeu consagrou grandes equipas. A maioria dos adeptos sabem quais são, não é preciso que me repita. Mas houve uma série de actores secundários igualmente brilhantes que me roubaram o coração. É como no cinema, onde tantas vezes prefiro apreciar aquele actor de low profile no fundo do plano em vez de perder-me no grande plano ao protagonista. Essas eram as equipas que me tocavam na alma. Talvez porque, nesses dias, Portugal fosse um desses secundários. Não vivi, de forma consciente, o Mundial de 1986 e por isso tive de esperar até já estar no ciclo para ver a selecção das Quinas jogar uma competição internacional. Quando Portugal disputou o seu primeiro Mundial depois de Saltillo estava a dois meses de entrar na universidade. Toda a adolescência tinha passado a pensar que a selecção que então equipava - que saudades - de vermelho e verde, seria sempre um jogador de segunda numa mesa de especialistas em bluff.

 

Esses eram os dias em que a Europa tinha menos países. Menos estados independentes significava equipas mais fortes e místicas.

Lembro-me da devoção especial que sentia pela Jugoslávia e como rapidamente a emergente Croácia me conquistou o coração. Por razões clubísticas sempre torci pela Eslovénia e pela Sérvia. Mas tudo me levava sempre àquela equipa que mereceu melhor sorte no Itália 90, com a orgulhosa estrela vermelha sobre o centro do equipamento. O mesmo podia dizer da União Soviética e o icónico CCCP. O que me custou aprender a dizer Rússia e a pensar na lógica de existir uma Ucrânia em jogos oficiais quando todas as estrelas soviéticas, de vermelho e branco, eram do Dynamo de Kiev. E que dizer da última época dourada do futebol nórdico. Da Suécia de Dahlin, Anderson, Thern, Brolin e de um adolescente rastafari chamado Henrik Larsson. Ou da reinventada Dinamarca, sempre e quando Michael Laudrup estivesse em campo (as horas que passei a treinar "aquele" passe). Para não esquecer-me, evidentemente, da histórica Noruega que chegou ao topo do ranking FIFA com um estilo de jogo importado directamente da segunda divisão inglesa com os seus gigantes nas duas áreas a impor a sua lei. Nesses tempos, quando Portugal tinha de defrontar este tipo de equipas, não havia Ronaldo que nos salvasse. Era drama assegurado.

Mas o que realmente me produz nostalgia é o desaparecimento progressivo de verdadeiras selecções históricas. Daquelas que durante mais de meio século definiram o que era o futebol europeu. Tenho saudades de um Escócia vs Áustria muito antes de ter sabido que esse foi o duelo estético e ideológico que definiu o modelo de jogo que mais me apaixona. Tenho uma tremenda nostalgia quando vejo as camisolas da Hungria cruzaram-se com as da Bélgica, pensando nesses jogos perdidos no tempo em que os Nealazi e os Scifo se cruzavam com naturalidade. Com o passar dos anos, a Europa reinventou-se e nasceram novas potências como Portugal e várias selecções desapareceram do mapa. Raramente vemos equipas do leste europeu que não estejam suportadas por magnatas do petróleo ou do gás, ou clubes nórdicos e britânicos da velha guarda. Isso provocou a decadência de selecções que na era pré-Bosman estavam sempre lá. Eram os dias em que a França, Itália, Espanha ou a Inglaterra podiam falhar um Mundial ou um Europeu e ninguém punha as mãos na cabeça. No seu lugar havia sempre alguém disposto a aproveitar a ocasião como a Bulgária de 94 ou a Dinamarca de 92.

 

Vai ser muito difícil que a situação mude. A ampliação dos Europeus a vinte e quatro equipas - uma decisão que discordo por completo - poderá permitir um último hurrah a algumas destas selecções. Mas a magia nunca será a mesma. O guarda-redes escocês terá uma dentição perfeita. Os belgas terão afros mas nenhum barbudo. Os carecas búlgaros terão tatuagens no crânio e os avançados noruegueses serão imigrantes perfeitamente integrados na sociedade nórdica e não guerreiros vikings de outros tempos. Tenho saudades desse futebol porque sei que passe o que passar, nunca mais vai voltar. E tenho saudades do Escócia vs Áustria porque quando me sentava a ver estes jogos só tinha de me preocupar por fazer o trabalho de casa no carro, a caminho da escola, sem que se dessem conta.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 16:23 | link do post | comentar | ver comentários (11)

Quarta-feira, 11.12.13

Ás vezes o futebol pode ser aborrecido. Não sei quem tem a culpa. Se a Lei Bosman, se a hiper-mercantilização do beautiful game, se os próprios adeptos ou se a culpa é minha. A maioria dos jogos das grandes equipas tornaram-se meros trâmites. Quem marca mais, quando entra o primeiro, quem bate mais recordes. Tudo aquilo que o futebol nunca foi. Felizmente, todos os anos, há projectos desportivos que nos permitem sonhar com um futuro melhor. Equipas que procuram uma via alternativa para fazer-se notar. E que conseguem a sua recompensa.

 

Não sabemos como os campeonatos vão terminar em Maio.

O mais provável é que o cenário repetido dos mesmos protagonistas nos mesmos lugares seja a tónica. Não é dificil hoje adivinhar campeões e vice-campeões, qualificados Champions e remetidos para a Liga Europa. Os orçamentos, a aglomeração de estrelas, o imenso vazio que se criou entre o topo e a classe média fazem isso por nós. Há ligas mais aborrecidas que outras, ligas mais previsiveis que outras. Mas em todas elas há sempre alguém que quer romper com a monotonia. Em Dezembro parecem um projecto de sonho. A maioria delas, em Maio, está onde muitos imaginariam que estaria. O peso do dinheiro acaba quase sempre a falar mais alto. Quase sempre.

Por esta altura, o ano passado, só se falava da espectacular versão de futebol total do Swansea galês em terras inglesas. A luta entre os dois grandes de Manchester e o Chelsea importava muito pouco. O Arsenal, o Liverpool, o Tottenham e o Everton, os seus habituais escudeiros, continuavam na sua versão recente. Mas o Swansea era o flavour of the season. A equipa acabou por conquistar um título - a League Cup, contra um rival de uma divisão inferior e assim marcar o passaporte para a Europa - mas terminou a temporada lá bem no meio da tabela. Melhor sorte teve a Real Sociedad, o seu equivalente espanhol. Os txurri-urdins conseguiram mesmo o impensável, um lugar na Champions League com uma equipa montada à base de trocos e cantera. Hoje estão a pagar o preço da ambição mas o projecto mantém-se de pé. Ainda bem. Um pouco por toda a Europa vivemos essa relação de amor quase juvenil com Paços de Ferreira, Estoril, Eintracht Frankfurt ou Zulte Waregem. Poucos duraram até ao fim. Mas estiveram lá, a acompanhar o modesto e neutral adepto nesta sua eterna luta contra a previsibilidade. Este ano, inevitavelmente, o cenário repete-se. Só mudam os protagonistas.

 

Villareal. Southampton. Lille. Hellas Verona.

Quatro clubes com a sua história, os seus feitos - mais recentes ou não - e ideias desportivas que se assemelham mais ao que o adepto de futebol aprecia. São clubes sem grandes ambições históricas. Entre eles só o Verona e o Lille foram campeões nacionais. Os gialloblu no mágico ano de 1985 e o Lille há quatro temporadas em França, antes da chegada dos milhões dos sheiks qataris e dos russos de férias. Os Saints viveram a sua idade de ouro nos anos 70 e com o mítico Le Tissier tornaram-se numa equipa ideal para os românticos do futebol inglês seguirem. Hoje já não jogam no histórico The Dell e até abdicaram das suas tiras verticais por um equipamento mais neutral. E claro, o Submarino Amarelo, uma equipa que esteve a um penalty de chegar à final da Champions League na sua primeira participação e que representa tudo o que de bom ainda há no futebol espanhol, a começar pela sustentabilidade sem ajudas externas e passivos imensos.

Curiosamente, desta lista, duas equipas são recém-promovidas (Villareal e Verona) e duas vêm de épocas decepcionantes nos seus respectivos campeonatos. E, da noite para o dia, hoje são tudo aquilo que queremos para o nosso clube imaginário. Contrataram bons treinadores, organizaram um plano financeiro sustentável sem gastos loucos e sem comprometer o futuro. Pescaram no mercado óptimos jogadores a preço de custo, sem comissões exageradas pelo caminho. Montaram onzes sem estrelas mas com futebolistas comprometidos e abriram espaço no banco de suplentes a jovens promessas da sua formação. Em ligas onde mandam os milhões, pagam a tempo e horas e fazem-no sem para isso ter de abdicar em ser competitivos. Utilizam modelos de jogo ofensivos, fazem da bola a sua principal arma e são conscientes das suas limitações. Muitos sabem que a posição onde estão hoje acabará sendo ocupada por um gigante quando as contas apertarem. E sobreviverão a isso. O Villareal está no quinto lugar da liga espanhola e tem passado toda a primeira volta em lugares Champions. Com um grande treinador ao leme - Marcelino - e um melhor presidente no palco, a equipa tem jovens promessas (Perez, Pina, Mario), jogadores consagrados (Cani, Bruno) e reconvertidos do esquecimento (Giovanni dos Santos, Kalu Uche, Asenjo). E os pés no chão.

O Verona também já andou pelos lugares Champions e agora fecha a apertada luta pela Europa League. No mitico Bentegodi os golos do eterno Toni e as assistências do jovem Iturbe têm feito as delicias dos que cresceram com Elkjaer Larson e Briegel nos anos 80. Em França o Lille está, surpreendentemente, a ganhar o sprint a Lyon, Marseille e Monaco na perseguição ao PSG com um Vincent Eneyema estelar e uma medular deliciosa. E claro, os Saints de Pochetinno representam o que ainda há de bom na Premier. Excelentes movimentações no mercado, um treinador ambicioso, um público entregado e de repente a equipa da costa sul inglesa aparece nos lugares de topo da classificação. Duas derrotas dolorosas contra Arsenal e Chelsea servirão para colocar água na fervura, mas com alguns dos clubes milionários erráticos, em Southampton sabem que se há um ano para surpreender, é este.

 

Claro que todos sabemos como acaba o filme. Mas o futebol precisa, cada vez mais, destes projectos. Destas equipas. Deste sopro de ar fresco. Precisa sentir-se vivo nos meses em que os clubes milionários olham para tudo e para todos com desdém, preparando-se para meter o acelerador em Março, quando os títulos começam a aparecer ao virar da esquina. É aí que as diferenças dos orçamentos se fazem realmente notar. Ate lá estes projectos, estes adeptos podem sonhar. E nós com eles. Para bem do nosso jogo!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 12:40 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Quarta-feira, 30.10.13

Quem me conhece sabe perfeitamente que não sou um "Ronaldieber", ou lá como se chamam agora os groupies adolescentes. Também não acredito na defesa absoluta de quem quer que seja pela nacionalidade, cor ou credo. Se Blatter tivesse ridicularizado Messi como um "enano hormonado", como lhe chamam por Madrid, teria dito exactamente o mesmo. A FIFA existe apenas e só porque o futebol é um fenómeno global que ultrapassa todo o tipo de fronteiras. É a verdadeira globalização. E deve-o aos seus grandes jogadores por cima de tudo e de todos. E Ronaldo é um desses jogadores e merece o respeito de quem vive, indirectamente, à sua custa!

Hoje cumpre 53 anos Diego Armando Maradona.

El Pibe é provavelmente um dos melhores jogadores de todos os tempos. Vê-lo jogar é o mais próximo que um adepto de futebol pode estar de um orgasmo artístico. Vi Maradona fazer o possível e o impossível milhões de vezes. Desafiava a gravidade, desafiava tudo e desafiava todos. Foi o último grande símbolo do "potrerismo" puro e mágico da escola sul-americana. E foi também um drogado, um putanheiro e um fraudulento fiscal. Começou a consumir cocaína em Barcelona, em Nápoles passou a ser acompanhado por uma corte das mulheres ao serviço dos capos da máfia local e deve, ainda hoje, milhões de euros ao estado italiano. E no entanto, hoje, 30 de Outubro, só nos conseguimos lembrar da "mano" e do "barrillete cósmico". Porque Maradona, o jogador, é muito mais do que Maradona, o homem.

Johan Cruyff cumpriu há dois dias quarenta anos da sua estreia como futebolista do Barcelona.

Foi, talvez, o momento mais marcante da história moderna do futebol europeu. Significou a transição definitiva da escola danubiana do centro da Europa para Barcelona. Está na base do Dream Team e do Pep Team, da cultura de futebol de posse que a muitos nos tem fascinado. Cruyff é, para mim, o melhor jogador europeu de sempre. Se é que algo assim se pode dizer. É também um dos homens mais inteligentes alguma vez associados a este jogo, dentro e fora do campo. No relvado não parava de se mexer, de falar, de dar ordens, de movimentar-se e movimentar os outros. E com um gesto, uma finta de corpo, tal como Diego, desafiava a gravidade e fazia as estrelas sonhar. Cruyff é também um homem obcecado com o dinheiro, um sovina de primeira, um populista capaz de baptizar o filho como Jordi aos seis meses de chegar a Barcelona e, sobretudo, um menino-mimado que abandonou o clube que cuidou da sua família desde que ficou órfão no dia em que os seus colegas não lhe votaram como capitão. Na rua seria conhecido como o mimado dono da bola. No mundo do futebol é um génio superlativo. Para mim, pessoalmente, irrepetível.

 

É muito perigoso julgar os jogadores pelo que são fora do campo.

Best era alcoólico e mulherengo. Cantona agredia pessoas quando insultado e saiu chateado de quase todos os clubes por onde passou. Zidane fervia em pouca água como poucos. Garrincha era a versão brasileira de Best mas com um neurónio menos. Meazza tinha simpatias fascistas. Di Stefano era um autêntico ditador moderno dentro e fora do balneário do Real Madrid. Pelé era um fraudulento oportunista e um demagogo que vive há décadas daquilo que representou. A lista é infindável.

Cristiano Ronaldo - como nenhum dos outros nomes citados - é propriamente um exemplo. Pelo menos para mim.

Mas como jogador é irrelevante o que gaste em cabeleireiros. O que gaste em carros desportivos. Com quem dorme à noite, onde passa as férias, de que cor é o bronzeado, de que tamanho são os brincos que leva e quão ridículos são os gestos que faz nas celebrações (ainda que o "calma, calma" tenha sido genial, confesso). Ronaldo é tudo isso como homem. Não como jogador. Como futebolista é um dos melhores da história, seguramente um dos melhores das últimas décadas. É capaz de coisas abrumadoras que a esmagadora maioria dos jogadores nem sonhando poderia repetir. É um jogador totalmente diferente de Messi ou Ronaldinho, por exemplo, mas isso não invalida que em campo seja imenso, que os seus números possam ser impossíveis de bater num futuro próximo e que quando está em campo o rival tenha de se benzer um par de vezes extra para o travar. Ronaldo é um dos maiores futebolistas do Mundo e a FIFA - a organização que deve velar "for the good of the game" devia ter-lhe o mesmo respeito que tem a qualquer outro. Nem menos, nem mais.

O que Sepp Blatter fez - e atenção, o suíço fez coisas muito mais graves e, lamentavelmente, menos mediáticas - é um insulto ao futebol não a Ronaldo. O mesmo seria válido se tivesse dito que preferia o português a Messi porque este é um fraudulento fiscal, vomita recorrentemente no relvado e fala de uma forma que ninguém entende. Messi é um génio (cada um poderá escolher de quem gosta mais) e como futebolista há poucos tão bons. Um deles é Ronaldo. Blatter como amante do jogo - como eu, como vocês - pode ter o seu favorito. Naturalmente. Como presidente da FIFA não o pode ter, muito menos utilizando elementos externos ao jogo como balança de decisão.

 

Inevitavelmente, esta polémica apenas joga a favor de Cristiano Ronaldo. Conseguiu colher simpatia global, unir muitos portugueses a sua polémica figura (continuo sem entender a obrigatoriedade nacional de estar sempre com alguém que é do mesmo país mas também não entendo o oposto, a critica gratuita e invejosa tão habitual dos países do sul da Europa) e reforçar a ideia de que muitos dos prémios do génio argentino dos anos anteriores possam ter sido condicionados. Pelo menos o critério mudou, isso temos todos claro, caso contrário Wesley Sneijder e Andrés Iniesta (e não Ronaldo) também já teriam vencido o tal Ballon D´Or. O que a FIFA acabou de fazer é um verdadeiro insulto ao jogo e não haverá forma de emendar o erro. Ronaldo deveria - ainda que não o vá fazer - renunciar publicamente aos prémios FIFA dando um sinal de maturidade e despreocupação. O seu ego seguramente que não lhe permitirá. E da próxima vez que alguém se lembrar da dança de Blatter e dos seus comentários, lembrem-lhes que tipo de pessoas eram "El Pibe" ou o grande Johan fora dos relvados. Talvez aí o gel no cabelo e o brinco dourado pareça ainda mais inofensivo do que já é. O futuro, esse, é quem tratará de julgar o verdadeiro papel de Cristiano Ronaldo no constelamento das estrelas do futebol.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 12:06 | link do post | comentar | ver comentários (23)

Sábado, 26.10.13

O futebol, como a vida, faz-se de decisões. No caso dos grandes jogos são os pequenos detalhes que, habitualmente, se revelam decisivos. Depois de um ano com um registo quase imaculado, mesmo no período mais negro da era Mourinho, o Real Madrid de Carlo Ancelotti comportou-se como uma equipa que não conhecia em absoluto a forma correcta de ultrapassar um rival que é cada vez mais uma sombra da imensa equipa que já foi. O suicídio táctico de Carlo Ancelotti, um misto de medo e submissão ao poder presidencial do clube, deu um balão de oxigénio a um Barça decadente mas sempre perigoso.

Bale parecia perdido. Não, Bale estava perdido.

Independentemente da sua questionada condição física, o galês não encontrava uma só combinação colectiva. Olhava com ar surpreendido para tudo e todos. A alta competição é assim e a diferença entre ser a estrela do Tottenham e ver-se como protagonista de um Barça-Madrid é grande. Cada bola que acabava nos seus pés perdia-se para sempre. Nem a sua velocidade ou capacidade física se fizeram notar. As ajudas defensivas do Barcelona anularam todo o seu potencial. A sua incapacidade de combinar com os colegas fez o resto. Tinha Bale condições para ser titular? Naturalmente a resposta é não. E porque jogou?

Fácil. Custou quase 100 milhões de euros, não estava oficialmente lesionado. Se não tivesse jogado muita gente importante se chatearia a sério. E Ancelotti não é treinador de incomodar os seus ricos chefes. Nunca foi.

Para colocar a Bale em campo, Ancelotti aceitou perder o jogo. Perder a herança de um modelo questionado por muitos mas que foi capaz de anular o Barcelona durante mais de um ano com autoridade. O Real Madrid de Mourinho, à medida que ia caindo em picado, mostrava-se, paradoxalmente, mais sagaz nos duelos com o eterno rival. Ganhou a liga no Camp Nou em 2012, venceu a Supertaça em Agosto e eliminou os blaugrana da Copa del Rey com autoridade. Pelo caminho voltou a vencer em casa para a liga e a empatar em Camp Nou. Como?

Aprendendo com os erros e explorando as falhas, cada vez mais evidentes, de um modelo já distante da herança inicial do guardiolismo. Mascherano e Piqué, uma dupla propensa ao erro, pressão alta no meio-campo explorando a dificuldade física de Xavi e Iniesta aguentarem noventa minutos de asfixia do rival e claro, um esquema de ajudas colectivas capazes de travar o génio de Messi. Ancelotti abdicou de todas essas lições. O Barcelona agradeceu.

Com Mascherano e Piqué em péssima forma, Carlo abdicou de jogar com um avançado que os segurasse e de-se espaço ao jogador mais em forma da sua equipa, Cristiano Ronaldo. Com Iniesta discutido e em más condições físicas, colocou Sérgio Ramos como médio defensivo e deu ao manchego todo o espaço do mundo. Com Messi e Neymar abertos nas alas, apostou em laterais ofensivos que foram incapazes de morder por medo a deixar espaços atrás. O seu 4-3-3 foi uma amalgama de jogadores perdidos em campo. Ronaldo não tinha posição. Bale perdia-a constantemente. Di Maria corria, corria e limitava-se a correr e embora Modric tentasse impor critério, não tinha ninguém com quem combinar porque Khedira é Khedira, Ramos é Ramos e os laterais raramente subiam com confiança. Um ano de herança destroçada por uma decisão que Ancelotti não teve a coragem de tomar.

 

Ao contrário do Real Madrid, o mérito do Barça é saber que tem uma ideia e que se se afasta dela sofre em demasia.

Martino, um argentino pragmático, percebeu que contra uma equipa a quem lhe custa ter a bola nos pés a melhor opção é guarda-la e esperar. Colocou Fabregas para forjar um losango com Xavi, Busquets e Iniesta e dar total mobilidade ofensiva para Neymar e Messi nas diagonais. O argentino não apareceu, como não tem aparecido. O brasileiro fez uma excelente primeira hora de jogo e foi decisivo em quebrar a hermética defesa rival, demasiado preocupada com o empalidecido Messi. O seu golo abriu o jogo e confirmou a ideia de Martino. Para o italiano colocar mais defesas e abdicar da sua essência - o ostracismo de Isco é evidente, a falta de confiança em Benzema, Jessé e Morata recorrente - não lhe valeu de nada contra uma equipa que troca a bola como poucas. A velocidade de outros tempos foi-se, mas a classe ficou. Iniesta sentiu-se cómodo, Neymar cumpriu o papel que já foi de Pedro ou Villa e o resultado foi o de quase sempre.

Com um golo de vantagem o Barcelona fez o que nunca tinha feito, nem com Guardiola nem com Tito. Recuou. Cedeu a iniciativa, deu um passo atrás e procurou gerir o resultado. Perdeu uma ocasião de morte de ferir um rival que não sabia a que jogava. O Real Madrid, em vez de a aproveitar, continuou a bater com a cabeça na parede. Só as entradas de Illarramendi, Benzema e Jesé devolveram ao clube merengue a sua essência. E foi nessa meia-hora que o jogo esteve, realmente, igualado. Os blaugrana deixaram de criar perigo e passaram a ver como Valdés, o poste e uma mão involuntária de Adriano impediam a igualdade.

A vinte minutos do fim Cristiano Ronaldo foi derrubado na grande área. Penalty claro e evidente por marcar. Na primeira parte Pepe tinha cometido também falta sobre Fabregas na área contrária. Os erros tiveram o mesmo denominador, um árbitro incapaz de controlar bem o jogo. A partir desse momento o Real Madrid desligou emocionalmente e Alexis Sanchez, recém-entrado, com o descaro de um novato, aproveitou o erro de Diego Lopez e a passividade de Varane para marcar um golo digno da noite. Jesé, depois de uma corrida fabulosa de Ronaldo, reduziu no último minuto. Pela primeira vez em cinco anos um Clássico com três golos e nenhum da dupla Ronaldo-Messi. Até nisso este duelo foi atípico. Se o argentino foi empurrado para a ala pela decisão do seu treinador e continua a sofrer problemas físicos, Ronaldo viu o seu técnico abdicar da sua máxima forma em prole de um desenho táctico inconsequente. Merecia mais.

 

A vitória do Barcelona dá três pontos aos lideres da prova mas mantém as duvidas no seu jogo, cada vez mais distante da matriz elogiada universalmente. No entanto um plantel que se permite ter a jogadores como Pedro e Alexis no banco tem sempre condições para resolver problemas mais agudos. No caso do rival a situação é radicalmente diferente. Ancelotti tinha os jogadores que queria (abdicou de Ozil, não exigiu um avançado top, resignou-se ao negócio de Florentino com Bale) mas mesmo assim criou um esquema incapaz de os aproveitar. E pagou o preço. A liga está mais dificil - em Espanha cada vez se perdem menos pontos - e a jogar assim, nem merengues nem blaugranas afastam-se perigosamente da elite europeia. Em Munique os campeões em titulo sorriem. Hoje em dia continuam sem ter rival à sua altura!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 19:42 | link do post | comentar | ver comentários (18)

Segunda-feira, 17.06.13

Xabi Alonso é um notável jogador. Mas foi preciso lesionar-se para que Vicente del Bosque tivesse encontrado a coragem de fazer o mais difícil. Voltar à origem. A exibição memorável da selecção espanhola contra o Uruguai fez o relógio voltar atrás no tempo, aos dias apaixonantes de Luis Aragonés e uma equipa que encantava pela sua capacidade de fazer da posse de bola uma arma de ataque. Pelo seu talento em recuperar a bola tão bem como a movia por um terreno de jogo onde mandava a criatividade e o espírito ofensivo. Um Mundial e um Europeu ganhos sem convencer depois, a Espanha volta a ser ela mesma. E essa é a melhor notícia!

 

Em 2008 o futebol despertou para o fenómeno tiki-taka.

Ainda não tinha chegado Guardiola e o seu projecto de renascimento da filosofia de rondo, pressão asfixiante e precisão ofensiva. A Europa de clubes ainda vivia sob o signo da Premier League, do seu modelo físico, de transições rápidas, de jogo vertical e apoiado e da sua dificuldade em fazer da posse de bola uma arma para defender e atacar porque a sua resistência física estava preparada para esse modelo. E chegou o Europeu. O modelo que a Espanha tinha ensaiado nos meses anteriores funcionou. Era a mesma ideia defendida por Aragonés desde 2004, o mesmo que entusiasmou na fase de grupos do Mundial de 2006 mas que não aguentou com a matreirice de Zidane, desejoso de uma despedida à altura. Aragonés sobreviveu a uma profunda guerra no balneário da selecção. Colocou todo o seu prestigio, que era muito, para vencer o braço de ferro com o que ele considerava como um sério problema. Raul, Michel Salgado e companhia foram afastados da selecção. Começava uma nova era.

Aragonés desenhou uma Espanha de raiz.

Um 4-5-1 (ou 4-3-3, como se queira ver), em que a associação no meio-campo de quatro jogadores imensamente talentosos era compensada defensivamente com o trabalho imenso de um só médio recuperador. O compromisso era conseguido porque todos os restantes elementos da equipa sabiam que, sem bola, deveriam realizar uma pressão constante para fechar espaços, morder os rivais e recuperar o esférico. Com a bola podiam descansar, sim, mas sobretudo atacar. Procurar aproveitar as falhas na movimentação do rival, surpreendido pela perda de bola tão rápida, para criar perigo. Jogar com os olhos postos na baliza contrária. Um modelo vertical, mas apoiado na capacidade de circulação horizontal de uma geração de futebolistas maravilhosos. Um modelo que sabia que tinha pontos fracos mas que os transformava em fortaleza quando tinha a bola nos pés. Dessa forma, Aragonés conseguiu juntar numa mesma equipa a Villa, Xavi, Iniesta, Torres, Cazorla ou Fabregas com Senna como elemento mais recuado. As aparições de Xabi Alonso, David Silva e De la Red confirmavam a excelência de uma geração que merecia acabar com uma série de 44 anos sem títulos. Com Aragonés o título chegou porque Espanha foi uma equipa ofensiva, uma equipa autoritária, uma equipa que sabia defender no campo do rival e fazer da posse de bola uma ferramenta para encontrar o atalho mais rápido para o golo. Essa foi a melhor versão da história do futebol espanhol. A selecção que deixou saudades.

 

Aragonés tinha queimado o seu prestigio na sua luta interna com a influência de Raúl e do grupo de adeptos do Real Madrid.

Na federação, Fernando Hierro, tinha encontrado já o seu substituto antes do torneio sequer ter dado o pontapé de saída. Com a vitória da selecção, houve um momento de embaraço. Finalmente, Del Bosque entrou para comandar uma nau ganhadora. Tinha o duro objectivo de estar à altura do que parecia ser um feito histórico. Mas o trabalho de casa estava feito. Por Aragonés, que tinha deixado um balneário exemplar e uma rotina de jogo reconhecida internacionalmente e admirada. E pelos clubes, que apostando na prata da casa lhe deixaram à disposição uma geração memorável. Particularmente beneficiou-se do génio de Guardiola, que levou a ideia de Aragonés a outro plano, com a ajuda de um tal Messi. O técnico catalão lançou, do nada, as figuras de Busquets e Pedro, futebolistas que Del Bosque rapidamente introduziu no seu modelo. Mas a sua selecção era diferente. O 4-5-1 (ou 4-3-3, sem alas) transformou-se num 4-2-3-1. Alonso, habitual suplente com Aragonés, tornou-se em titular indiscutível ao lado de Busquets, o sucessor de Senna. Essa transformação forçou o treinador a retirar um dos muitos criativos que tinham espalhado magia na Áustria. Xavi e Iniesta eram figuras nucleares, Torres e Villa os goleadores e Pedro um joker precioso.

Inicialmente Del Bosque transformou a Villa em extremo e em Pedro no seu suplente preferencial. Depois abdicou de Torres, colocou Villa no centro e definitivamente entregou a titularidade ao canário. Até que a lesão do asturiano e a má forma do madrilenho lhe permitiu provar a fórmula do falso nove, com Cesc Fabregas ou David Silva no eixo do ataque. Essas mudanças não eram só de cromos.

Geniais, todos, eram jogadores com uma visão de jogo diferente da que tinha Aragonés. Espanha horizontalizou-se. Passou a usar a bola para defender mais do que para atacar. Longos períodos de trocas de bola em posições cómodas permitiam a aproximação da linha defensiva ao ataque, defender mais longe da baliza de Casillas e a incorporação dos laterais ao ataque. Mas também ralentizavam o jogo, davam ao rival a possibilidade de defender ocupando os espaços, procurando a sua oportunidade. Foi assim que a Suíça venceu o primeiro jogo do Mundial que a Espanha ganhou com a pior média de golos marcados da história. Apenas um por jogo na fase a eliminar, sofrendo em todos os jogos por criar perigo real e suportando com sorte e mérito as raras oportunidades dos contrários. As de Ronaldo, Cardozo, Ozil e Robben. Era um modelo mais pragmático, mais italiano, menos ofensivo e estilizado que o de 2008. Mas a vitória escondeu o debate e a renovação de alguns jogadores deu a sensação de um futuro brilhante. Dois anos depois, na Polónia, a equipa abdicou definitivamente do avançado, voltou a oferecer uma versão que até aos próprios espanhóis começava a aborrecer e depois de mais uma série de jogos sem entusiasmar, encontraram-se na final com uma Itália quase infantil a quem deram um impressionante correctivo. A mensagem estava clara. Quando Espanha queria dar uma velocidade mais ao seu jogo, era imbatível. Mas raramente se dava a esse trabalho.

 

No duelo com o Uruguai, o de abertura da Confederações, Del Bosque não tinha Alonso.

Podia ter substituido o basco por Javi Martinez, autor de uma época memorável na mesma posição em Munique. Não o fez. Decidiu aceitar que a sua versão de quatro anos poderia ser mais fácil de controlar, por previsível, por monótona e por horizontal, por uma equipa habituada a defender, esperar e jogar nas costas do rival. O seleccionador espanhol lançou então Fabregas, mas na posição em que jogava com Aragonés, escorado ao lado esquerdo do ataque, mas não como extremo, em sucessivas trocas de posição com Iniesta, abrindo o carril a Jordi Alba. Para fixar os centrais uruguaios e empurrá-los para a sua área, voltou a optar por um avançado puro, Roberto Soldado, mantendo Pedro como falso extremo direito, um jogador especializado em diagonais e remates impossíveis. Atrás, Xavi mantinha a batuta do jogo, com mais jogadores a moverem-se à sua volta e, portanto, mais linhas de passe possíveis e um maior dinamismo ofensivo. Busquets, como Senna, tinha mais do que capacidade para controlar o aspecto defensivo do jogo, apoiado muito de perto por uma linha defensiva alta.

Com essa aposta, esse 4-5-1 tão ofensivo, Espanha voltou a deslumbrar. O seu jogo ofensivo voltou a ser vertical, rápido, incisivo e com a baliza como alvo preferencial. A posse de bola, imensamente superior à do rival, tinha encontrado um sentido pragmático e não apenas o de uma arma física de descanso, à espera que a marcação defensiva do rival cometesse o habitual erro para o golo da praxe. Era, de certa forma, o voltar às origens. Alguns dos nomes próprios tinham mudado mas a essência era definitivamente a mesma. E muito distante do paradigma habitual de Del Bosque. Um modelo que pode voltar a ser colocado de lado quando Alonso esteja em condições de jogar. Ou, e isso seria uma grande notícia, um modelo recuperado para atacar o segundo título mundial consecutivo, transformando a Espanha na terceira selecção da história capaz de manter o troféu em casa. Uma Espanha com o formato de Del Bosque já seria, inevitavelmente, a máxima candidata ao troféu. Com o desenho original de Aragonés o seu favoritismo é ainda maior. E os adeptos que perdeu durante anos com a sua viragem mais conservadores, voltarão de braços abertos. Porque este foi o formato que permitiu um dia pensar que havia realmente algum paralelismo com a mítica camisola amarela do Brasil sob o céu silencioso do México.



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Segunda-feira, 08.04.13

Dezoito clubes. Quantos deles com a corda ao pescoço? Quantos deles com salários em atraso? Quantos deles com dividas incomportáveis? Quantos deles com bancadas vazias nos jogos em casa? Quantos deles com meio autocarro de apoio nos jogos fora? Quantos deles com jogadores estrangeiros de terceiro nível e um sistema de formação abandonado? Dezoito clubes. A solução que encontraram para resolver uma injustiça desportiva e um erro de legal. Mas nada que possa resolver os problemas estruturais do futebol português.

O Boavista tem as portas escancaradas para voltar á elite do futebol português.

Ironicamente, ou talvez não, no fim-de-semana que se seguiu à aprovação pela Liga de Clubes da repesca dos axadrezados, a equipa perdeu o seu duelo com o Desportivo de Chaves. Um duelo na II Divisão B, uma divisão onde o clube do Bessa nunca venceu neste seu hiato pelo futebol das divisões secundárias. Diz muito do estado actual da vida do quinto grande, do quinto campeão do futebol em Portugal. Sem a ratificação da Federação Portuguesa de Futebol e com os créditos financeiros de inscrição por pagar, ainda não é certo que o futebol português volte a contar com todos os seus campeões na sua primeira divisão. Mas o cenário nunca esteve tão perto de suceder desde que a equipa do Porto foi utilizada como bode-espiatório de um dos maiores escândalos consumados do futebol luso.

Depois de muito barulho à volta do Apito Dourado, não houve forma de provar, nos tribunais, o que as escutas posteriormente divulgadas deixaram claro à opinião pública. Para os mais precavidos, o que tinha sido divulgado nesse longo e penoso processo estava longe de ser uma novidade e como escutas posteriores comprovaram, algo exclusivo dos clubes imputados. Como o futebol português está, como sempre esteve, corrupto até à medula, a sensação de polémica soava a falso e como tal, também a suspeita de que um clube do prestigio do FC Porto podia ser realmente penalizado. Se o fizessem, tarde ou cedo, os restantes campeões seguiriam o mesmo caminho, a fruta e o café com leite eram coisa de muitos. O Boavista, no entanto, mal gerido desde que João Loureiro tomou as rendas da herança de Valentim Loureiro, foi a presa ideal para quem queria sangue. Um clube campeão com polémica, um clube onde o dinheiro entrava e desaparecia a uma velocidade assustadora, um clube com uma base de apoiantes relativamente pequena para poder gerir o mesmo tipo de revolta social que implicaria punir outro clube. O Boavista pagou o preço de estar no sitio errado à hora errada. E daí o descalabro.

O clube podia ter sido despromovido e voltado dois anos depois à elite se tivesse sido gerido com correcção. Mas não foi. A queda no precipício deixou a nu todos os problemas reais do clube que nada tinham a ver com a polémica do Apito Dourado, por muito que dirigentes e adeptos tenham tido razão quando se queixaram de tratamento especial para outras instituições. O Boavista caiu injustamente mas não se soube levantar, e afundou-se mais, por culpa exclusivamente sua.

 

E no entanto, a justiça assim o exige.

Depois de quase cinco anos sem o demonstrar em campo, o Boavista poderá voltar a saborear as grandes noites de futebol num dos mais belos estádios do futebol português. A aprovação de uma liga a 18 - num ano em que regressa também o Belenenses à elite - devolve o futebol português para o mesmo cenário onde estava quando o Apito Dourado surgiu nas capas dos jornais.

São dezoito equipas demasiadas para um país como Portugal, com uma liga onde a esmagadora maioria dos seus clubes são incapazes de cumprir com os mais básicos compromissos exigidos a uma instituição desportiva. Nos últimos anos vimos problemas para pagar salários em clubes ao nível de FC Porto, Sporting e Benfica. Nos últimos anos entre avisos de greve, a clubes que desapareceram do mapa e emblemas despromovidos por falhar os seus compromissos, o futebol português transformou-se numa jangada onde se morre de sede e de fome.

O caso da União Leiria na época passada foi o culminar de uma realidade que já se sentia em vésperas do Euro 2004. O desaparecimento de clubes como Salgueiros, Farense, Estrela da Amadora era algo sintomático do estado real do futebol português. As horas de agonia de históricos como o Belenenses, Vitória de Setúbal, Académica e Vitória de Guimarães tocaram o próprio esqueleto de base do desporto lusitano. A Liga Sagres transformou-se numa competição onde na mesma jornada competiam entre si jogadores que levavam meses sem cobrar o seu salário. Uma competição onde a dependência dos empréstimos e favores de fundos e empresários eram fundamentais para sobreviver. Quando as conexões extra-desportivas acabavam, os clubes tremiam, e caíam.

Os pequenos emblemas que subiam da II Liga cheios de esperança voltavam rapidamente para o ponto de partida sem nada que ganhar. Passou com Trofense, Leixões ou Feirense, apenas para citar os casos mais pontuais. Enquanto projectos como o Paços de Ferreira encontraram coerência na sua gestão desportiva e clubes como o Rio Ave se entregaram à benção de patronos poderosos, os restantes limitam-se a sobreviver. São dezasseis. Faz sentido juntar mais dois ao mesmo cenário?

Pode o futebol português ganhar algo com uma liga a dezoito?

Estarão os estádios mais cheios? Os contratos televisivos valerão mais? Haverá mais jogadores jovens portugueses de futuro nesses projectos? A competição será mais emotiva? Os clubes grandes deixaram de passar temporadas inteiras sem perder um só jogo? Será que duas equipas a mais vão significar tanto para a liga lusitana? Ou será, pelo contrário, que serão duas novas bocas para alimentar, dois novos estádios vazios, dois novos planteis repletos de jogadores sem nível e sem dinheiro nos bolsos?

 

Um país como Portugal - que vive, pensa e respira a pensar apenas no trio de clubes grandes que compõe o 99% do coração dos adeptos e o interesse dos media - poderia ter uma liga de oito equipas que ninguém realmente se importaria. Essa é a crua realidade. Essa hegemonia asfixiante dos grandes já matou o futebol do interior, já matou o futebol dos pequenos clubes das grandes cidades e já matou a formação do futebol português. Se uma liga a dezoito fosse a resposta para essa ditadura, então venha ela. Mas não o será. Como não o é uma liga a dezasseis, a catorze ou sequer a doze. O futebol português tem um problema muito mais sério e grave para resolver que o número de equipas da sua liga principal. Enquanto esse problema não for resolvido o resto é apenas folclore. Nada mais do que folclore.



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Segunda-feira, 11.03.13

Em 1980 um desconhecido realizador espanhol estreava a sua primeira longa-metragem. Pepi, Luci e Bom y Otras Chicas del Montón, abria a larga e espantosa carreira cinematográfica de Pedro Almodovar. Este ano o realizador manchego volta ao activo com um regresso às comédias que o fizeram célebre mundialmente na década de 80. Nos relvados, três treinadores, "del montón", desafiam as convenções e demonstram que o futebol é também um palco de teatro onde a improvisação e a arte muitas vezes superam o hermetismo habitual entre os convencionais maestros do jogo.

Eram adolescentes. Sonhavam talvez com a glória com uma bola nos pés ou talvez com roubar um beijo à estrela feminina do momento, Bo Derek, a mulher 10. Mas nenhum deles imaginaria, seguramente, que 33 anos depois fossem protagonistas de uma crónica que os unisse no tempo e no espaço a um obscuro filme cómico estreado nesse ano.

Pepe Mel tinha 17 anos, Paco Jemez 10 e Philippe Montanier 16 e é provável que nenhum deles tenha sequer visto o filme. Não foi, propriamente, um sucesso de bilheteira numa Espanha ainda em profundo estado de "transição". Mas sem o saber, Almodovar já falava deles. Pepi, Luci e Bom são três raparigas comuns, correntes, normais, nem bonitas nem feias, nem altas nem baixas, nem magras nem gordas. Mas são imaginativas, intrépidas e criativas, capazes de desafiar o convencionalismo de uma era de profundas mudanças sociais. Não tinham a atenção dos homens como as elegantes e sensuais mulheres do seu tempo mas eram capazes de ir mais longe do que qualquer outra para inverter essa realidade quase crónica. E com isso demonstravam ser, sobretudo, personagens de recursos infinitos para lograr os seus objectivos. O mesmo se passa nos bancos da liga espanhola.

Numa liga orfã do génio de Guardiola, cansada das poses ditatoriais de Mourinho, dificilmente apaixonada pelo hermetismo de Simeone ou pelos vai e vens de Tito Vilanova e Jordi Roura, há um vazio de génios e figuras que permite ao espectador, quase sempre focado nesse duelo mediático Mou-Pep, olhar para o lado e ver que, afinal, também há imensa qualidade, imenso talento e imensa criatividade nos treinadores "comuns".

Mel, Jemez e Montanier lideram o sprint pela Europa, misturados com os milhões de Málaga e Valencia, do projecto sólido do Atlético de Madrid e batendo o pé aos multimilionários do futebol europeu. Lutam os três por um lugar na Champions League, uma competição que, à partida, podia estar para eles como um concurso de misses para Pepi, Luci e Bom. Mas que lhes fica como uma luva.

 

Pepe Mel é o mais veterano nestas lides.

Foi o responsável pelo renascimento do Rayo Vallecano, desde as entranhas do futebol secundário espanhol. Falhou a promoção com a equipa depois de um ano memorável na segunda divisão mas deixou tudo preparado para o seu sucessor - o espantoso Sandoval - completar o trabalho. Partiu para a sua Sevilla, para pegar num Bétis igualmente em horas baixas. Desenhou a régua e esquadro uma equipa que faz do futebol ofensivo, de toque, o seu santo e senha. Escritor, novelista consagrado, Mel sabe trabalhar com a bola como com as palavras, sem medos. Encontrou em Beñat a batuta, em Castro o golo, em Adrian a segurança defensiva e à volta criou um espírito colectivo impressionante para um clube dado sempre a tendências autodestrutivas. Neste Bétis não há estrelas, não há vedetas nem há margem de erro para arriscar sem a certeza do sucesso. A urgência de um clube falido pela gestão criminal de Ruiz de Lopera, deu passo a um clube renascido e determinado a criar uma marca de identidade no futebol espanhol. O prémio de um lugar europeu é apenas o reflexo simbólico e mediático de algo muito mais profundo e meritório.

Algo similar experienciou Philippe Montanier, um francês olhado como suspeita, como todos os franceses, desde o dia que chegou a San Sebastian com a promessa de um futebol rendilhado e ganhador. Demorou mais tempo do que muitos podiam esperar e teve a sorte de contar com uma directiva capaz de ver a longo prazo. A Real Sociedad perdeu o duelo mediático com o Athletic Bilbao há muito tempo e abandonou a política exclusivista de jogadores bascos mas não a sua identidade. Apostou muito na formação e começou agora a colher os primeiros rebentos de uma nova e brilhante geração, a de Aguirretxe, Illarramendi, Iñigo Martinez ou Ruben Pardo a que se juntaram os talentos de Vela e Griezzman. O líder da armada, único sobrevivente da brilhante equipa que há uma década desafiou o Real Madrid pelo título de liga (a de Xabi Alonso, Nihat e Kovacevic), é também o reflexo de como o futebol espanhol decidiu finalmente olhar para dentro e apaixonar-se pelas suas virtudes em vez de deixar-se cair nos seus defeitos. Xabi Prieto é um dos nomes do ano no futebol espanhol, recuperado tardiamente como o foi Valeron na Corunha ou agora Joaquin em Málaga, jogadores que explodiram antes do tempo em que a imprensa começou a valorizar o "tiki-taka" dos Xavi e Iniesta. Montanier teve todos contra si, teve o carácter de aguentar os piores momentos ao leme do clube, o sofrimento, para emergir com uma equipa construída com pés e cabeça, com vocação ofensiva, com capacidade de misturar a velocidade individual de Griezmman e Vela com o critério de Prieto e Pardo, uma equipa completa da cabeça aos pés.

Sem um nome histórico, como são os já campeões Bétis e Real Sociedad, sem um passado como treinador significante, talvez o trabalho de Paco Jemez tenha ainda mais mérito porque não há clube mais "del montón", do que o Rayo Vallecano. Desastrosamente gerido pela família Ruiz-Mateos, penosamente presidido por um sucessor que entende pouco de futebol e menos de finanças, que o Rayo ainda esteja de pé não deixa de ser um desses milagres do futebol. Que dispute um lugar na Champions League é algo quase sobrenatural. Jemez sucedeu a dois homens que deixaram parte do trabalho feito, Mel e Sandoval, mas imprimiu o seu toque definitivo ao clube, apostando num 3-4-3 ousado, convencido de que para um clube pequeno que sabe que acabará por sofrer golos, a arma secreta tem de ser sempre procurar marcar mais do que o rival. Sem Diego Costa e Michu, os dois goleadores do ano transacto, o técnico encontrou em Piti e Leo Baptistão os seus novos aríetes, confiou no regresso do mítico Tamudo e na qualidade de Lass para fazer a diferença e preparou-se para sofrer. A onze jogos do fim, o Rayo está praticamente salvado. No ano passado precisou de um golo milagroso nos descontos do último jogo do ano. Sonhar com a Europa não é impossível, nem sequer se falamos da Champions League. Seria a prova do que o futebol é algo mais do que uma simples utopia.

 

Não são estrelas, a maior parte da Europa do futebol nem os conhece. Os rostos são figura estranha, os gestos desconhecidos mas o trabalho desenvolvido é algo que não pode passar desapercebido. Não são os únicos. Em Espanha há ainda Juan Ignacio Martinez. Em Portugal o jovem Paulo Fonseca começa a fazer-se notar. Em Inglaterra já ninguém olha de lado quando ouve Roberto Martinez e em Itália Vicenzo Montella já é um futurível dos grandes clubes. São treinadores comuns, em equipas mais ou menos comuns, que fazem da necessidade, engenho, e das fraquezas forças. São eles o pão e sal do futebol. Enquanto as câmaras se divertem a descobrir quantos rabiscos tem o livro de notas de Mourinho ou Guardiola, eles seguram nos ombros a estrutura base do beautiful game.



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Segunda-feira, 03.12.12

Chega ao fim o ciclo de Mourinho no Real Madrid. A partir de agora o treinador português contará os dias para o final do seu mandato como um miudo conta os dias que faltam para acabar o ano lectivo. Com ansiedade. O sadino poderia ter feito da sua estadia na capital espanhola um êxito a todos os níveis, algo sem precedentes na memória de um clube que vive de e para a história. Em vez disso sai como o destruidor de uma herança única e como o mais directo responsável do seu próprio fim, dentro e fora do campo.

 

Não é preciso a imprensa espanhola avançar com o divórcio entre Florentino Perez e José Mourinho para saber-se que esta história tinha um final previsível. Nem que seja pelo próprio historial de técnico e presidente, dois homens que lidam muito mal com relações duradouras num universo onde tudo muda talvez demasiado depressa. Fizeram um esforço, mais a figura presidencial do que o técnico, para coabitar por um objectivo comum. Quando o individual se sobrepôs ao colectivo, o divórcio tornou-se tristemente inevitável.

Mourinho sai de Madrid da pior forma possível. Sai como um huno, como o destruidor de uma imagem que a imprensa espanhola reverenciou durante a sua carreira em Inglaterra e em Itália, tratando-o como ele gosta de ser tratado, o eleito. A imagem de um grupo de adeptos entregados, de um plantel que soube por de parte as suas diferenças para remar em conjunto. Tudo isso o português teve nas mãos. Tudo isso deitou a perder. Por culpa própria.

Na historial do Real Madrid a figura do treinador nunca existiu. Ninguém se lembra dos nomes dos técnicos que venceram as seis primeiras Taças dos Campeões Europeus (Villalonga e Muñoz) mas todos sabem a equipa titular de memória. Figuras como Benhaker, Capello, Heynckhes, Del Bosque ou Schuster foram tratados abaixo de cão por dirigentes, imprensa e adeptos mesmo quando os triunfos surgiam. Em troca, os jogadores eram reverenciados e idolatrados, nos momentos altos e baixos. Mourinho mudou isso. Foi o único homem que se tornou protagonista na história clube não desde o palco, não desde o relvado, mas no banco.

Centrou à sua volta o organigrama do clube, despediu e contratou quem quis, transformou o presidente num holograma vazio e oco, e auto-proclamou-se Deus e Senhor, o único capaz de derrotar o infiel, o demónio. O homem que ocupava os pesadelos dos adeptos merengues, um tal Guardiola.

Nessa cruzada santa, o maniqueísmo tornou-se fundamental. O contra mim ou por mim tornou-se santo e senha. Saíram Valdano, saíram ajudantes, saíram médicos, saíram cozinheiros. Os adeptos, fartos da hegemonia do eterno rival, entregaram-se de coração e perdoaram tudo. A goleada por 5-0 no Camp Nou, a primeira liga perdida antes do tempo, as duas semi-finais da Champions League (entre erros arbitrais, azar e um péssimo planeamento táctico) em troca de um mísero espólio. Uma Supertaça, uma Copa del Rey e uma Liga.

Contra a maior equipa de sempre, diziam, era muito, era inaudito. Uma equipa com um orçamento inferior, uma equipa que nos doze confrontos directos só perdeu duas vezes. Uma equipa que a história aprendera a amar pelo futebol, mais que pelo extra. Mas os titulos avalavam a sua gestão. Mourinho foi perdendo tudo o que ganhou porque nunca soube comportar-se como um cavalheiro do futebol. Foi um rufia, um hooligan. As conferências de imprensa, um insulto constante a quem não o apoiava, utilizando o exemplo da vergonhosa imprensa catalã. Para ele o jornalismo militante devia ser obrigatório, mas só vale quando a seu favor. Contra os rivais faltou repetidas vezes, desde treinadores de pequeno perfil mas grande coração como Manuel Preciado a rivais directos. E o dedo no olho foi o culminar da sua atitude de rufia de bairro, espelho de uma gestão autodestrutiva na essência. Ao menos se no campo o futebol falasse mais alto...

 

Futebolisticamente o que tem sido a equipa de José Mourinho em dois anos e meio de gestão desportiva?

Mourinho fez-se notar em Leiria e no FC Porto com equipas ofensivas, atrevidas, um 4-3-3 ousado, rápido, directo e com o pressing como principal arma. Em Londres mutou para um 4-4-2 mais conservador que logo se transformou entre 4-2-3-1 e 4-3-2-1 na sua passagem por Itália. Quando chegou a Espanha, havia muito pouco do técnico original e muito do cinismo do homem que vergou Itália. Incapaz de dar minutos a todos os homens do ataque com medo a perder o equilíbrio defensivo, condenou Benzema e Higuian a uma guerra fratricida. Fez de Xabi Alonso o pau para toda a obra, destroçando-o fisicamente. Não abdicou nunca de um médio mais defensivo, mais fisico, obrigando a uma rotação excessiva entre dois postos do ataque porque Cristiano Ronaldo, já se sabe, jogava todo e qualquer minuto disponível.

Entregou-se a Jorge Mendes e permitiu que este triplicasse o número de jogadores que tinha no balneário, triplicando assim a sua influência. Permitiu a formação de clãs entre jogadores para aumentar a competitividade, tudo à base do confronto, do desgaste, do ódio disfarçado. Desafiou os homens da casa a vergarem-se ao seu domínio e quando estes preferiram a amizade dos colegas de selecção do outro bando, nunca mais lhes perdoou a traição. 

Em campo a equipa perdia-se sem um fio de jogo, apostando sobretudo na brutalidade do seu arsenal ofensivo e na eficácia goleadora crescente de Cristiano Ronaldo, que sob o seu comando bateu o seu próprio recorde de golos em dois anos. Mas não conseguiu criar uma escola de jogo, não conseguiu definir padrões de comportamento para além dos rápidos contra-golpes e do jogo directo de Pepe e Alonso pelo ar para as costas dos rivais onde a máxima qualidade dos avançados fazia a diferença. Nos duelos europeus e contra o eterno rival recuava linhas, predominava o trabalho defensivo e até hoje ficamos sem ver um só desses jogos épicos que definem a história de uma equipa.

A saída de Guardiola, em parte provocada pelo desgaste mental que suponha a guerra do gato e do rato com Mourinho fora dos relvados, mudou tudo. Acabou a cruzada santa, a vitória parecia ser sua por desistência do contrário. Aí Mourinho decidiu o seu futuro, longe de Madrid.

As condições que tinha permitiam-lhe tornar-se no Manager do clube para a próxima década, o Ferguson da Casa Blanca.

Mas o seu egocentrismo, o seu espírito auto-destructivo foi mais forte. Criou guerras com tudo e com todos. Como fraco abusou da sua força contra os mais débeis e calou-se contra os mais fortes. Minou o trabalho da formação - algo que na sua carreira nunca está nas suas prioridades - acusou a imprensa, um sector de adeptos e a própria directiva. Publicamente dividiu o balneário com o seu apoio directo a Cristiano Ronaldo na luta pelo Ballon D´Or e pelo segundo ano consecutivo o dinheiro investido não resultou em nada beneficioso para o jogo da equipa. No campo o futebol nunca esteve presente e os resultados, desta vez, deixaram de o acompanhar. Teve um arranque de época similar ao da sua quarta época com o Chelsea. Mas a indemnização de despedimento é bem maior e o sonho da Décima ainda acalenta os corações de muitos adeptos e directivos. Com ela, Mourinho poderá ainda tentar sair como um herói, sem ela acabará da pior forma um mandato curto e aos anais da história insignificante.

 

José Mourinho é um dos grandes treinadores da história e tem um curriculum imaculado. Mas também tem um grave problema de personalidade, um culto do ego que relembra em muito Helenio Herrera. O fim de ambos tem semelhanças evidentes. O desgaste do balneário, o titubear da relação com os outrora apóstolos da imprensa, público e directiva e a ausência de resultados. O seu arqui-rival, de ontem, de hoje e de sempre, saiu num ano de derrotas mas com uma aura de vencedor. Mourinho pode acabar o seu mandato em Madrid com títulos, principalmente nas competições a eliminar, mas deixará sempre atrás de si uma sombra de perdedor, de um homem que se perdeu a si mesmo e consigo a possibilidade de transformar o Real Madrid num clube diferente, longe da gaiola de prima-donas em que sempre viveu.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:30 | link do post | comentar | ver comentários (47)

Segunda-feira, 15.10.12

A notícia de que o Liverpool não vai fazer as malas para Stanley Park é uma alegria profunda para todos aqueles que cresceram com certos nomes na cabeça que julgavam ser eterno. Anfield Road faz parte da mitologia do futebol. Poucos espaços fisicos têm a sua importância histórica e o seu ascendente moral. Que se perpetue no tempo, ainda que sob outra forma, permite continuar a sonhar com tempos pretéritos, outros universos futebolísticos. 

 

É inegável que o sucesso desportivo do Liverpool, ou melhor, a sua brutal ausências nas últimas décadas, provoca nos mais jovens certa indiferença quando Anfield Road surge na conversa. Não é um estádio que receba finais europeias, jogos internacionais épicos e sirva de inspiração para videojogos. Mesmo as tardes de Anfield, antigamente motivo suficiente para passar 90 minutos de suspense, têm-se perdido com a profunda mediania futebolistica que os Reds vivem desde 1990, salvo momentos muito pontuais e, infelizmente, passageiros. 

Mas Anfield Road é um dos muitos sinónimos que pode ter o futebol na sua essência mais pura. Desde a imagem da Kop, aos gritos em coro de You´ll Never Walk Alone, sem esquecer as suas portas e a estatua que comemora o seu grande ideólogo, Bill Shankly, o estádio do Liverpool evoca tudo o que futebol britânico teve de inesquecível durante largas décadas e que se perdeu entre estádios-hipermercados e os milhões investidos por cidadãos estrangeiros desejosos de comer uma fatia da tarta deliciosa que é o futebol inglês.

Se o Liverpool há largos anos está em mãos estrangeiras, não é menos certo que foi o único clube que resistiu realmente a essa abordagem comercial dos homens dos milhões. Manchester City e Arsenal construíram novas estádios, Old Trafford tornou-se num recinto de elites, com os preços descontrolados dos bilhetes, e mesmo Stanford Bridge e White Hart Lane têm-se tornado em problemas que os donos dos respectivos clubes procuram fintar com novos estádios que ainda não sairam do papel. 

Durante algum tempo pensava-se que o destino de Anfield seria o mesmo. Havia já destino futuro para os jogos em casa do Liverpool, em Stanley Park, e esboços para a nova casa Red. No entanto os adeptos do clube podem estar descansados. A directiva do Liverpool, a mesma que quer aplicar ao futebol inglês não a lógica dos petrodolares mas os ensinamentos do guru estatístico que inspirou o livro Moneyball, voltou atrás na ideia original e anunciou que preferem trabalhar numa remodelação sustentada do estádio, ampliando em 20 mil lugares a sua capacidade para o colocar mais perto da dimensão dos clubes rivais.

 

Anfield cresceu, como qualquer estádio inglês, de uma forma precária e descontrolada. Nos anos 50, com o clube a oscilar entre a First e a Second Division, sobreviveu ao aumento do número de assistentes com poucas reformas e nenhum plano de futuro. Foi esse o estádio que Shankly encontrou e foi esse o estádio que ajudou a fazer famoso, transformando as vozes beatlenianas da Kop num 12º jogador como não havia em nenhuma outra bancada mítica do futebol inglês. Mas aos sucessos desportivos dos anos 70 e 80 nunca seguiram as melhores que exigia um recinto sagrado destas dimensões, físicas e emocionais. Só os desastres, onde o clube esteve envolvido de forma indirecta, longe de sua casa, que levaram à elaboração do Taylor Report despertaram os directivos do clube. Já era um pouco tarde. À medida que o estádio dava um salto em frente, tornando-se numa das sedes do Euro 96, o clube perdia lugares na elite do futebol que chegou a dominar de uma forma histórica, até ao momento. Quando melhor esteve Anfield, falhou-lhe a sua equipa. E os adeptos, sem virar as costas, entenderam que o clube vivia numa realidade bem distinta da dos seus rivais directos. Em títulos e em condições para competir com as receitas que o renovado Old Traford ou o novo Emirates podiam oferecer a Manchester United e Arsenal.

Desde então a ideia de construir um novo estádio rondou a mente dos adeptos e directivos. Anfield era um pedaço de história mas era precisamente preso nessa história que o Liverpool existia, sem pensar como dar um salto em frente e recuperar duas décadas perdidas. Um novo estádio significava, a médio prazo, rendimentos que lhes iriam permitir reduzir o diferencial de gastos dos grandes senhores do dinheiro do futebol britânico e isso seria o primeiro passo para ambicionar de novo pelos títulos e pelos milhões da Champions League, prova onde o clube não participa desde 2010. Mas a abordagem sustentada da Fenway Sports Group defende que não é o dinheiro investido que faz a diferença mas sim onde se investe. E talvez por isso a ideia de abdicar de um dos seus baluartes institucionais, sob peso de uma divida que, como no caso gunners, demoraria uma década a abater, sem garantias de poder apresentar um nível competitivo real a curto prazo, tenha pesado mais na decisão final do que seria de supor. Anfield será ampliado, de forma progressiva, como foi Old Trafford nos anos 90, até atingir os 60 mil lugares, tornando-se no terceiro maior estádio de clubes do país. Um primeiro passo para voltar a outros tempos.

 

A noticia para os adeptos do Liverpool é um verdadeiro alivio. Num ano em que o peso emocional do passado faz mais sentido do que nunca, o clube sabe que há uma linha cada vez mais ténue que liga o Liverpool dos anos gloriosos das décadas de 70 e 80 ao clube actual. Anfield é um desses elos de ligação, únicos, e a sua preservação é também um dos passos fundamentais para acreditar que, no futuro, os Reds possam voltar a ser uma das forças dominantes do futebol de um país que passou anos e anos a olhar para eles como o melhor exemplo de mitos vivos do beautiful game.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 19:49 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Sábado, 07.07.12

poucos desportistas feitos deste material tão humano e cristalino. Desportistas que não competem para humilhar, para superar records ou para gabar-se de isto ou aquilo. Desportistas que leva bem à letra a ideia que está por detrás de tudo isto que se chamam competir, saber ganhar e perder, sobretudo, saber ganhar. Iker Casillas é uma ave rara num mundo cada vez mais marcado pela cobiça. Apanhado pelas câmaras televisivas, o seu gesto não surpreende quem o conhece mas deixa claro que há mais do que tácticas e sorte por detrás das recentes vitórias do futebol espanhol. Há, sobretudo, um humanismo desportista que deixaria orgulho o próprio Pierre de Coubertin.

Gestos de fair play no futebol contam-se pelas mãos. 

Não falo apenas de deitar a bola fora quando um jogador está lesionado porque isso, além de hoje ser quase obrigatório, é fácil e está ao alcance de qualquer um. A grandeza mede-se por outros actos, outros gestos, outros momentos. Há episódios perdidos no tempo, dos aplausos de Eusébio a Lev Yashin à atitude de Paolo di Canio num mitico jogo com a camisola do West Ham United ao peito. Sempre os houve porque sempre houve desportistas humanos no jogo. Mas eles têm-se tornado aves raras, desconhecidos num bosque onde a cor das chuteiras e os penteados para chamar a atenção, onde a cobiça pessoal e o insulto fácil se tornaram no básico da linguagem futebolistica.

Hoje os grandes idolos de massas são bem distintos aos de há largas décadas atrás. Impera o modelo mediático juvenil, uma etapa da vida onde os conceitos humanos ainda não estão assumidos porque, na maioria das vezes, é preciso viver para entender a vida e miudos de 13 ou 18 anos sabem pouco de desporto e de existir. Para essa esmagadora maioria a fome de recordes, em prejuizo tantas vezes do colectivo, é o importante e eles querem ser Ronaldo, e querem ser Neymar e querem ser Messi, jogadores que tentam disfarçar com agências de comunicação por detrás (um melhor que outro) mas que estão nisto para alcançar a glória pessoal como Aquiles liderava os seus Mirmidões para subir ao Olimpo dos heróis. Para esses nomes, os herdeiros de Pelé e Maradona, o futebol é um duelo contra a história e tudo o que se mete pelo seu caminho é ultrapassável. São os individuos num jogo de massas, são os heróis de papel de barro, aqueles que levaram o cinismo e o pragmatismo onde antes havia um aperto de mão e uma palmada nas costas.

Gritos racistas, insultos, desprezo pelos rivais, tudo isso se vive hoje nos relvados com alarmente naturalidade. Num espaço rectângular onde Iker Casillas deve sentir mais só do que muitos se imaginam.

 

O guarda-redes espanhol é o rosto da nova Espanha.

Se é certo que a selecção espanhola chegava muitas vezes aos torneios internacionais com o papel de favorita ou surpresa, muito desse discurso vinha de dentro, da própria geração de jogadores - que não desportistas - que se esqueciam que para ganhar era preciso algo mais que talento e sorte. Faltava-lhes a humanidade, a mesma que ajudou o Brasil a ser o que é, a mesma que explica os eternos conflitos na selecção holandesa ou portuguesa, selecções onde o eu sempre falou mais alto que o nós. Espanha aprendeu a falar em "nosotros" depois de muito tempo desse asfixiante "yo" e fê-lo com uma geração que nasceu depois da complexa Transicion e que cresceu no meio de um país em mutação politica, económica e social. Sobretudo, moral.

A atitude dos jogadores espanhóis de hoje (e isso é alastrável a outras modalidades) está na base do seu sucesso. Não só a vontade de ganhar sempre, mas sobretudo a forma como procuram a vitória. A humanidade que se sente nesse grupo, desde 2008, é provavelmente um motivo de orgulho maior do que os titulos coleccionados ano após ano. Jogadores como Xabi Alonso, Andrés Iniesta, Fernando Torres, David Villa, Juan Mata, Charles Puyol e, sobretudo, Iker Casillas, são esse espelho reflexo de uma equipa que entende o futebol como um desporto genuino e que procura transmitir na idade adulta a mesma paixão e ilusão que encontramos no olhar de um miudo que chuta a primeira coisa que vê a rolar num pátio ou praça do Mundo. Casillas tem sido o capitão e lider espiritual deste projecto. Mais do que ser o melhor guarda-redes do Mundo, um titulo que divide com Gianluigi Buffon desde há anos sem fim, é sobretudo um capitão moral, sempre com uma palavra de elogio para o rival, sempre com um alerta efusivo para os colegas e sempre com um olho na glória e outro no respeito. Um jogador que não se esquece de aplaudir os adeptos que fazem milhares de quilometros, o jogador que quebra o protocolo para beijar a mulher que ama num momento de genuina naturalidade, um jogador que se nega a entrar em guerras alheias para por em questão amizades antes.

As imagens televisivas falam por si. Onde outros jogadores, outros galardoados com o Ballon D´Or, procurariam os últimos minutos de uma final, já de por si histórica, para marcar, marcar e marcar e assim aumentar a sua lenda pessoal, o seu prestigio, o seu cachet, o seu lugar no Olimpo, um jogador, mais do que isso, um lider, aproximou-se do árbitro quase irritado com o tempo de desconto anunciado e pede respeito. Respeito não para ele mas para o rival. Para uma selecção extraordinária que perdia por 4-0 e continuava aí, com dez homens, de cabeça levantada. Respeito para um país que sempre foi a sua besta negra, até 2008, e que nunca tinham vencido. Respeito para o mundo do futebol, para os milhões de italianos que seguiam o jogo pela televisão, para o seu rival Buffon, para todos nós. Casillas pedia humanidade para esse mundo futebolistico entregue ao pensamento mercenário dos grandes guerreiros e fracos homens. 

 

O gesto do capitão espanhol define-o como futebolista, como desportista e como Homem. Define o conceito de fair play num grande palco como há larguissimos anos não se via. Define a imagem do lider geracional de um projecto que ainda tem anos pela frente. Relembra o gesto de Puyol na celebração de Dani Alves e Thiago Alcântara na goleada em Vallecas. Relembra o sorriso timido de Iniesta quando o comparam com Zidane, o gesto sério de Alonso quando falam dele como maestro do Real Madrid ou a cara de Mata quando agradece a assistência de golo ao homem que defendeu durante todo o ano das criticas e que nesse momento da posteridade se lembrou que vale mais um amigo que um golo num jogo de futebol. Relembra porque é que esta selecção espanhola vale o vale, mais do que questões futebolisticas, e relembra porque é que prémios como o FIFA Ballon D´Or cada vez valem menos. Porque, chegados a Dezembro, ninguém se vai lembrar do gesto de San Iker e a maioria continuará dividida entre a luta asfixiante de golos entre Messi e Ronaldo, entre os penteados, as chuteiras, as celebrações, os gritos de "eu" num desporto que, como Casillas não nos deixa esquecer, ainda é coisa de todos "nós"...



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:17 | link do post | comentar | ver comentários (10)

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