Sexta-feira, 30.08.13

Depois de todos terem já assumido que o Mundial 2022 foi comprado pelos potentados do Golfo, a pandilha de Joseph Blatter, Michel Platini e companhia querem agora dar a volta ao prometido e transformar o primeiro mundial no Médio Oriente num torneio disputado no Inverno, rompendo com 90 anos de história. Uma decisão desastrosa que, a cumprir-se, é a estocada definitiva a tudo aquilo que o futebol representa às mãos da mesma elite corporativo que minou a sociedade ocidental noutros sectores, sempre por um preço.

 

Eu sei que os meus amigos sul-americanos sempre se queixam - e com a sua dose de razão - que para eles o Mundial é um evento invernal.

Interrompe o seu calendário desportivo, despoja as suas equipas de jogadores enquanto os torneios prosseguem o seu ritmo. Para eles, ao contrário do espectador europeu, asiático e norte-americano, o Mundial não é sinónimo de sol, bom tempo, praia, dias largos e perfume de Verão. Da mesma forma que o nosso Carnaval é frio e chuvoso, os seus Mundiais são o prelúdio do duro Inverno. Será assim em 2014 para todos, um torneio no Inverno do hemisfério sul.

No entanto, a tradição ainda é (ou devia ser) o que era e os Campeonatos do Mundo são torneios do mês de Junho, do final da época europeia, do Verão do hemisfério norte, onde tudo se começou a idealizar e a cozer. Foi assim durante noventa largos anos e com a presença massiva dos internacionais dos restantes continentes nas ligas europeias, mais sentido faz ainda. Aliás, são os sul-americanos que começam a debater a possibilidade de se unirem ao calendário europeu e não o oposto. Agora o que a FIFA - e a sua tropa, que inclui a UEFA de Platini, delfim de Blatter desde os anos 90 - nos quer vender é a obrigatoriedade de disputar um Mundial no Inverno no hemisfério norte. Ao contrário da proposta que ganhou (comprou?) a votação, a de um torneio realizado em Junho de 2022 nesse grande país que é o Qatar.

Uma jogada corporativa para estilhaçar ainda mais a natureza do beautiful game.

 

A equação é fácil.

O Mundial é vendido ao melhor postor sob um pressuposto inviável. Já o era na altura da votação e os que deram o seu voto favorável - como Platini - pareceram não ter problemas. De repente lembram-se que a temperatura em Junho no Médio Oriente é imprópria para passear o cão, já para não falar em desportos de alta competição. Falam-se em estádios que se auto-refrigeram, campos fechados, etc, mostrando uma vez mais o total desrespeito que o adepto que se desloca é habitualmente tratado por estas organizações que têm como máxima "For the good of the game".

Até que alguém sugere, e porque não no Inverno? E todos começam a dizer que sim, que é melhor, que faz sentido, que não há problema nenhum, é só ajustar esta data aqui, esta ali, e zás. O dinheiro mantém-se nos seus bolsos, o calor desaparece e todos contentes. Todos?

A FIFA - que já tem preparado um calendário catastrófico para o Mundial 2014, com deslocações gigantescas por todo o Brasil que vão destroçar as ambições dos mais apaixonados dos adeptos - diz que só precisa de cinco semanas para reajustar os calendários europeus. Mente. Como sempre.

O Mundial é um torneio que dura, exactamente, um mês (quatro semanas).

As selecções concentram-se quinze dias antes da prova (duas semanas) para prepararem-se para a competição, adaptar-se às condições climatéricas, etc. Quando o torneio acaba, devido ao seu grau de exigência, os jogadores necessitam de descanso, como mínimo uma semana e meia, antes de se voltarem a incorporar. Os vencedores também têm direito a celebrar, a que há que juntar a esse prazo mais meia semana, como mínimo. No total estamos a falar de oito semanas. Dois meses. Dois meses em que o Mundo para para a FIFA cobrar o seu envelope dourado. Quando isso sucede, em Junho, a época acabou. Os jogadores saem do torneio para férias, os não-convocados já estão a desfrutar do seu período de descanso e tudo faz sentido. Agora imagem que no dia 30 de Outubro a época, que começou dois meses antes, para. E que só recomeça a 1 de Janeiro. Durante esses dois meses disputam-se habitualmente 4 rondas europeias, 10 jornadas das principais ligas, eliminatórias de taças, o Mundial de Clubes. E tudo isso seria adiado por causa de um favor?

A maioria dos presentes no Mundial celebra o Natal. Estarão dispostos a passar esse período encerrados num hotel num país muçulmano? E os adeptos, poderiam viajar nesse período do ano durante quinze dias para um país que é tudo menos amigo dos estrangeiros que não cheguem em jets privados ou carros desportivos? A temporada acabaria com uma final da Champions League a meados de Julho? O desgaste físico dos jogadores de elite - que podia provocar uma lesão grave, capaz de destruir uma carreira - permitir-lhes-á estarem presentes nos momentos decisivos da temporada?

Ao adepto estão a destruir-lhe o jogo. Pequenos mas importantes detalhes como este apenas o confirma. O Mundial no Inverno significa mais do que um ano perdido para o futebol no continente europeu (e que afecta os restantes continentes pela massiva presença de jogadores africanos, americanos e asiáticos nas ligas europeias). Condicionará as épocas anteriores e posteriores, a carreira dos jogadores, as ilusões dos adeptos. Tudo por um punhado de dólares. A tradição ainda vale muito. O que cada vez vale menos é a moral de quem organiza o jogo.

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 16:41 | link do post | comentar | ver comentários (6)

Sábado, 14.05.11

Não é a primeira vez. Nem sequer é surpreendente. Mas os rumores que indicam a forte possibilidade da Football Association inglesa abandonar a FIFA são reais. E voltam a colocar no ponto de mira a máxima instituição do futebol mundial.

 

Lord Triesman abriu a guerra e está determinado a acabar com ela.

O lider da candidatura inglesa ao Mundial 2018 voltou à carga com novas acusações de corrupção nas mais altas esferas da FIFA. Há um ano foi forçado a demitir por dizer o mesmo. Mas então os ingleses ainda sonhavam com contrariar as fracas expectativas que havia à volta da sua candidatura. Até ao último momento pensaram que a FIFA ia, por uma vez, jogar limpo. O resultado é sobejamento conhecido e aqueles que tentaram calar figuras polémicas como Triesman começaram a olhar para as suas declarações com outros olhos. Hoje, está à vista de todos, FA e FIFA vivem de relações cortadas. E uma ruptura é bem possível. Com consequências imprevisiveis.

A Federação Inglesa pode ser, legitimamente, acusada de despeito. Se tivessem vencido a candidatura ao Mundial talvez as ferozes criticas sobre a corrupção à volta de Blatter se tivessem esfumado entre o champagne e charutos de vitória. Pode ser. Mas também é certo que os ingleses há muito que são a mais irritante sombra do senhor FIFA. As criticas arrancaram, precisamente, quando os ingleses perderam a oportunidade de organizar o Mundial de 2006 no que seria uma data simbólica, 40 anos depois da única vez que albergaram o torneio. Então a proposta inglesa era a mais sólida mas Blatter preferiu a Alemanha. Depois, para garantir os votos do resto do Mundo, anunciou a rotação de continentes, o que adiou para 2018 o sonho inglês. Depois da alta valoração da candidatura o próprio Blatter ajudou nos bastidores a minar a candidatura britânica. E alguns dos seus homens de maior confiança, como Jack Warner e Ricardo Teixeira, tornaram-se nos alvos da ira de Triesman e companhia.

 

A 1 de Junho o máximo organismo do universo futebol reelege presidente.

Sob o fantasma da corrupção, um fantasma do qual a FIFA nunca se conseguiu livrar desde que João Havelange chegou à cadeira presidencial. Blatter, um dos seus homens de confiança, é também um oportunista, cinico e com um passado repleto de sombras. O seu apoio a Mundiais em África, Médio Oriente e Rússia têm pouco a ver com o seu papel como presidente da FIFA e mais como o seu misterioso lado de homem de negócios. A falência da ISL, que geria o patrimonia multimédia da FIFA, e os contratos milionários com Adidas e Visa (numa guerra suja com a empresa Mastercard) levantaram mais do que suspeitas sobre a legalidade de ambos negócios. Blatter, naturalmente, não trabalha só. Os membros das comissões mais próximas da presidência são também reconhecidos nombre no mundo da corrupção desportiva, verdadeiros caciques como Teixeira, Grondona, Warner, Villar, Leoz, Makudi, entre outros. E todos eles tiveram papeis chave na definição da FIFA actual. Mas o suiço está nervoso e tem motivos para isso. Publicou no jornal italiano Gazetta dello Sport uma carta pública em que defende, palavra por palavra, que sem ele o futebol morrerá. Ou eu, ou o dilúvio. A espada contra a parede.

Não é provável que a candidatura de Bin Hamman, outro dos imperadores da corrupção desportiva, esta no mundo asiático onde a sua influência nefasta é sobejamente conhecida e descrita em várias obras, saia ganhadora. Mas já serviu para antecipar o que a FIFA viverá nos próximos anos. Criticas internas, mais polémicas, verdades embaraçosas e um duelo continental em 2015, quando Platini, previsivelmente, defronte Teixeira ou Bin Hamman, representantes dos votos latinos e asiáticos. No meio de tudo isto a Football Association olha para o panorama e percebe a sua impotência. A sua influência foi diminuindo com o tempo e hoje, literalmente, a FA vive numa ilha, isolada da UEFA, da FIFA e das restantes instituições. Os ingleses sentem-se postos de parte, a pagar o preço do sucesso de um modelo que a FIFA e a UEFA nunca olharam com bons olhos: a Premier League.

Talvez por isso comece a ganhar força nos corredores da sede da FA uma cisão a emular o que levou a Inglaterra a afastar-se da FIFA nos anos 20, na altura por culpa do profissionalismo que começava a ser uma realidade indisfarçavel nas ilhas. Os ingleses mostram um certo hastio com a FIFA – e não só com a figura de Blatter – e encaram a atribuição do Mundial à Rússia, depois de todos os pedidos pessoais dos votantes aos membros da candidatura, como uma ostensiva provocação. E não deixam de ter razão. A sua presença na FIFA não trouxe nada de positivo a um país que sempre se regiu com as suas próprias regras e que não conseguiu, sequer, capitalizar em Mundiais o pouco que o liga à máxima organização futebolistica.

 

 

Imaginar a FIFA sem a FA não é uma utopia e seria um golpe de credibilidade sério para uma instituição que vive constantemente sobre o fio da navalha. Poderia ser uma primeira e importante brecha na maquilhagem que Blatter continuamente retoca e que no fundo é a perfeita fachada para uma organização onde o futebol, como jogo e fenómeno social, conta cada vez menos. Se em tantas coisas os ingleses revelaram-se pioneiros nisto do jogo que ainda clamam como seu, talvez nenhuma outra tenha tanta repercursão como desafiar a FIFA, olhos nos olhos, e colocar em causa aquilo que todos os outros reconhecem mas são incapazes de contrariar.  



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 11:25 | link do post | comentar | ver comentários (6)

Quinta-feira, 02.12.10

A FIFA olha para o espelho e vê-se reflectida em dourado. Uma tentação imensa que os membros do orgão que gere o futebol mundial foi incapaz de resistir. O dinheiro determinou a eleição dos Mundiais de 2018 e 2022 como nunca antes na história desportiva da competição. Se a ida a África significou um passo arriscado e o regresso ao Brasil o pagar de uma velha divida, agora Blatter manda a mensagem: It´s the money stupids!

 

 

 

Se antes os europeus - inventores e maiores adeptos do jogo - estavam acostumados a viver um Mundial nas suas terras de oito em oito anos agora poderão passar 24 anos antes que a prova volte aos relvados do Velho Continente. Demasiado tempo, sentença de morte na história de uma competição que passou a ser eleita por critérios totalmente anti-desportivos, seguindo a tradição do organismo presidido pelo suiço Blatter.

Depois do Alemanha 2006 talvez tenhamos de esperar a 2030 para ver a bola rolar no coração europeu. As escolhas da Rússia e Qatar como organizadores dos próximos Mundiais após a tortuosa viagem ao Brasil (que vive a sua particular guerra civil em vésperas de Mundial, Olimpiadas e Copa América) atiram o futebol de novo para leste, numa linha orientada pelo sol. Pelo rei sol, o peso do ouro que chega em formato russo e qatari em força.

Duas propostas que no papel perdiam directamente com qualquer outra, particularmente porque em nenhum dos casos há fisicamente infra-estruturas preparadas para albergar a competição. No caso do Qatar, organizar um Mundial de Futebol com 12 estádios num raio de 100 kms é um profundo espelho de como o jogo em si passou a ser o de menos para quem o dirige. A isso poderiam acrescentar-se as temperaturas assassinas (40 graus à sombra num mês de Julho) e a dificuldade de um país tão insignificante no mapa conseguir receber tantos visitantes durante um curto periodo de tempo. No caso russo a sua vastidão era já de si um problema. É certo que o maior país do Mundo e potencia reconhecida futebolisticamente nunca tinha organizado o evento, e isso sempre joga a seu favor. Nesse aspecto a escolha russa espelha uma decisão justa não tivesse sido tomada pelas razões erradas. Num país controlado pelas máfias, sem estádios e infra-estruturas capacitados para organizar um Mundial, há demasiadas interrogações para justificar uma supremacia perante três outras candidaturas com o trabalho de casa já feito e que estavam prontas para organizar a prova...já.

 

O dinheiro do gás e petróleo fez a diferença. Em ambos os casos a necessidade de construir tudo de raiz significa contratos milionários com empresas afins à FIFA. Significa o marketing de mercados por explorar, o mundo árabe e o leste europeu já entrado no coração asiático. Significa a parceria com governos de mão de ferro, capazes de ceder por um mês à FIFA o controlo do país sem a inconveniência bem europeia de fazer perguntas indesejadas. As emissões do programa Panorama britânico deixaram a nu não só a corrupção que existe no processo de votação, mas também o poder do dinheiro na hora de escolher. A China, por certo, já anunciou a sua candidatura para 2026 e não seria de estranhar que a FIFA já tenha algo apalavrado com o gigante mundial, também inédito na organização destes eventos. Para a FIFA o palco europeu já não é relevante - para isso estará o Europeu da UEFA pensarão, que também ruma a leste pela primeira vez - e o que importa é optar por projectos que possam oferecer o máximo número de dividendos. Os adeptos, as condições dos participantes, a ligação do país organizador com o jogo deixaram de ser valores tidos em conta. O processo que começou em 1994 com a viagem aos Estados Unidos culmina agora numa decisão que Sepp Blatter acabará por marcar o final do seu mandato, em que se distingue pela sua particular perseguição ao futebol britânico.

Depois de ser o grande valedor da candidatura germânica de 2006, agora o suiço voltou a ser um elemento chave na derrota daquela que era, provavelmente, a candidatura melhor preparada. Os inconvenientes britânicos, com uma imprensa que age de forma questionável mas que expõe o que poucos conseguem ver, ficarão uma vez mais sem Mundial, eles que organizaram o torneio pela única vez em 1966. Cabe pensar se a prova alguma vez voltará ao país que fundou o beautiful game e onde se disputa a liga mais apreciada do Mundo, razões de sobra para optar por virar para o passado e consagrar a essência do jogo uma vez mais. O facto da melhor proposta ter sido a primeira eliminada (ultrapassada pela própria mini-candidatura da Bélgica e Holanda) diz muito sobre o distanciamente progressivo entre um país que sempre existiu à parte da FIFA (da qual saiu durante vários anos em forma de protesto) e que nela continua a despertar um antagonismo gritante. Os milhões russos - que nem precisaram do lobbying de Putin para vencer - fizeram a diferença também com a candidatura ibérica, mal preparada e mal vendida desde o principio. A habitual arrogância espanhola (onde jogou um papel decisivo a relação de Angel Villar com os seus colegas e amigos da direcção da FIFA, julgando que isso bastava para vencer...talvez, há vinte anos fosse suficiente), ao apresentar mais estádios, mais cidades, mais hoteis, mais tudo do que ninguém. Sem perceber que o que a FIFA busca hoje em dia é o menos e não o mais, o que dá margem de manobra para a construção, para o negócio, para o lucro. E potências como Espanha e Inglaterra estão longe dessa realidade, ao contrário de uma Alemanha, França ou Itália (os últimos estados europeus a receber o torneio) que aproveitaram o Mundial para regenerar o seu próprio futebol.

 

 

 

Feitas as contas os horários dos próximos Campeonatos do Mundo estarão feitos para o público do Mundo, sem contar com os europeus. As deslocações serão tão complicadas como as da África do Sul (que recebeu menos 400 mil pessoas que a Alemanha em Junho passado), as condições contrárias ao que se espera de um evento de esta magnitude e a segurança será, como no último torneio, uma preocupação constante até 2026. A FIFA voltou a mostrar que tem uma linha própria de pensamento que não se imuta perante candidaturas bem planeadas (Inglaterra),ou emocionais (Ibéria). No final o que conta sempre é o mesmo. Já diziam os Pink Floyd e não se enganaram. Money! Mas alguém ainda tinha dúvidas?



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 15:49 | link do post | comentar | ver comentários (5)

Terça-feira, 20.10.09

Apresentada na sede da FIFA a candidatura conjunta de Portugal e Espanha à organização do Mundial de 2018 ou 2022, começa a ficar a nu a frágil posição portuguesa num negócio que só interessa aos espanhóis. 40% dos custos e apenas três, máximo quatro recintos, num certame que cumpre a ambição de Espanha de voltar a albergar uma grande prova internacional. No final Portugal fica com o habitual ar de idiota!

 

Há cinco anos atrás o Euro 2004 conseguiu unir o país à volta de um grande evento desportivo. À parte do mês da prova - onde os portugueses sentiram, pela primeira vez em largos anos, orgulho do seu país - a verdade é que os efeitos do Euro não foram totalmente benéficos. Os chamados grandes enceteram a construção de novos recintos, mas esses eram planos prévios à organização do torneio e realizar-se-iam com ou sem este. Tal como a reformulação do Bessa, D. Afonso Henriques e Municipal de Coimbra. E se exceptuarmos o estádio de Braga, a jóia arquitectónica da coroa, todos os restantes investimentos tornaram-se rapidamente em pesadelos logisticos e financeiros. A ponto que se estude hoje a sua (polémica) destruição. Os gastos do orçamento previsto foram largamente ultrapassados, as contrapartidas financeiras infimas e a balança pendeu para o lado negativo. E como desportivamente o titulo até voou para Atenas, pior cenário ainda.

 

Surgiu então a ideia de utilizar as infra-estruturas e partir para uma nova aventura.

Os tempos de crise não o aconselhavam e depois de descartada uma candidatura olimpica de Lisboa chegou a ideia de um Mundial de Futebol. Só que a exigência da FIFA é superior à da UEFA tal como o leque de rivais. Para o Europeu tinha-se batido a toda poderosa Espanha e a candidatura conjunta de Áustria e Hungria. Para o Mundial haveria projectos vindos dos quatro cantos do Mundo. Mais, a FIFA tem padrões de exigência a nivel de capacidade de recintos superiores ao minimo de 30 000 da UEFA - que foi utilizada em cinco dos recintos. E para as grandes jornadas de fecho e abertura um estádio com capacidade por cima dos 70 mil lugares. Nada assim existe nas fronteiras lusas pelo que a ideia parecia ridicula já à partida. Mas eis que entra Espanha e complica as contas.

 

Desde o Mundial de 1982 - um sucesso desportivo e um desastre logistico - que os espanhois não organizam uma grande prova de selecções. Viram a Alemanha receber um Euro e um Mundial, passando o mesmo com a França e quase com a Itália (falta o previsivel Euro de 2016). Superados por Portugal quando já davam por certo a organização do Euro 2004, em Espanha rapidamente começou uma fortíssima campanha para a organização de um novo Mundial. Só que a candidatura a sós parecia frágil se avançassem outras potências europeias. E como a Inglaterra (que não tem um Mundial desde 1966) e a Rússia (nunca organizou uma grande prova futebolistica) anunciaram cedo o seu interesse em suceder ao Brasil, as contas começavam a sair mal a Angel Villar, Jaime Lissavetsky e todo o exército da federação espanhola. E no entanto, eis que se fez luz. Os votos portugueses - conseguidos através dos "Palops", especialmente a influência brasileira - seriam ideais para garantir uma maioria diante da Commonwealth inglesa ou a esfera de influência russa em África. E nasceu a candidatura ibérica, a súbtil "união de dois povos".

 

Olhando claramente para os números é fácil ver que a Espanha, só, consegue organizar um Mundial de futebol sem problemas.

A candidatura ibérica existe apenas por dois motivos: necessidade de votos e de partilhar gastos. A apresentação da malfadada candidatura na Suiça espelha bem o plano espanhol que a federação portuguesa vê com bons olhos e com a habitual pequenês que caracteriza este país. Aproveitar os recursos existentes, publicitar o nome do país e atrair ainda mais turistas. Contas simples nas mentes pequenas de Madail, Dias e companhia. Esquecem aqui o principal. A figura de idiotas que os portugueses farão caso a candidatura ibérica, essa união tão bela de duas nações tão intimamente unidas, siga em frente.

A FIFA já alertou contra o problema de candidaturas conjuntas ao largo do último ano. Não as pode rejeitar mas não é a aposta ideal. E não o é por questões logisticas e de identidade. Modelo adoptado já por uma vez, e com má experiência, a candidatura conjunta tem sido mais recorrente na Europa. E nos três casos conhecidos até hoje sempre se verificou uma ideia base: 50% dos gastos. 50% dos jogos. 50% do protagonsimo. Só Portugal está disposto a fazer história e abdicar dessa percentagem apenas e só para rentabilizar três estádios (fala-se num quarto, altamente improvável no Algarve) que se rentabilizam a si mesmo porque são os únicos que existiriam se o Euro 2004 não tivesse seguido em frente. Ao estádio do Algarve - zona sudoeste da Peninsula, Espanha pode responder com Huelva, Cádiz e um segundo recinto em Sevilla. Ao estádio de Braga, no Noroeste, há a opção Coruña. Ambas são, claramente, mais rentáveis!

 

Os espanhóis preparam-se para apresentar entre 9 a 13 estádios. Num projecto que varia entre os 12 - minimo - ou 16 recintos no dossier final. E ficarão várias cidades do país vizinho de fora com capacidade logistica, hoteleira e desportiva para fazer parte da organização. Por outro lado Portugal apresenta duas cidades, três estádios e nada mais. Nem jogo de abertura, nem jogo de encerramento, nem grandes encontros. Meia dúzia de encontros sem grande mediatismo. E prometem arcar com 40% dos gastos da organização. Falha-me a matemática. A Madail não, estranhamente. Portugal não tem, claramente, estofo para organizar um Mundial a sós. E não o deve fazer nunca com outro país - inevitavelmente Espanha - por perder em toda a linha. É contra-producente. É inútil. E um péssimo investimento. Em 2022, por exemplo, os estádios construídos para o Euro 2004 terão 20 anos aproximadamente. Uma idade já significativa com todas as alterações a que seriam obrigados. Enquanto isso há vários projectos actuais e para a próxima década de construção de novos estádios em Espanha (Madrid, Bilbao, Valencia, Sevilla, Barcelona, Malaga). São gastos já suportados pelos clubes e municipios, previstos e que não dependem desta organização. Tal como o aspecto logistico e hoteleiro, onde o país vizinho supera de longe os objectivos minimos. De tal forma que os gastos pela parte espanhola serão inferiores aos que teve Portugal em 2004. Só isso já indica o quão beneficiada sai a ideia do país vizinho.

 

Estou completamente contra esta candidatura idiota. Não tenho nada contra o lado espanhol da questão. Aliás, acredito que Espanha pode - e merece - organizar perfeitamente um Mundial de Futebol a sós. O que não posso aceitar é a idiotez dos governantes e dirigentes desportivos nacionais, sempre preparados para vender o nome de Portugal em troca de uns tostões mais no bolso. Uma candidatura que não traz nenhum beneficio a médio e longo prazo não tem sequer que existir. Mas como Portugal é Portugal, os Mundiais, aeroportos e TGV`s continuam a ser os grandes designios nacionais. E nós continuamos a ser os idiotas da Europa. 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:41 | link do post | comentar | ver comentários (3)

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