Terça-feira, 18.06.13

Enquanto os veteranos espalham classe e uma mobilidade que alguns pensavam perdida na memória, os mais jovens demonstram que estão preparados para dar o salto. Não existe na história do futebol uma sucessão de gerações com tanta qualidade em todos os processos do jogo. Nas posições nucleares, o aparecimento a cada nova geração de um jogador de nível máximo é o sinal mais evidente que a hegemonia da Espanha, para lá dos títulos que possa ou não ganhar, não tem fim à vista.

É fácil fazer as contas para perceber que a dupla campeã da Europa e actual campeã Mundial é, por direito próprio, a máxima favorita das próximas competições internacionais. Se alguns dos seus protagonistas principais já falam em reformar-se, eventualmente depois do Mundial do Brasil, os adeptos espanhóis sentem-se tranquilo. Basta olhar para baixo, para os mais novos, para os que vêm a seguir. Duplos campeões da Europa de sub-21, campeões da Europa de sub-19 e flamantes candidatos a vencer o próximo Mundial da categoria sub-20, ninguém questiona o presente de Espanha. Nem o seu futuro.

Essa forma de hegemonia eterna não é fruto do acaso. Há duas décadas os clubes despertaram. O impacto dos Jogos Olimpicos de 1992 foi imenso na mentalidade espanhola. Ao crescimento económico seguiu-se um crescimento emocional de um povo marcado por décadas de ditadura e uma transição desenhada para agradar a gregos e troianos. Durante essa etapa, o futebol espanhol era o dos clubes, o da luta Real Madrid e Barcelona, mas também o dos símbolos regionais. A selecção era uma amálgama de identidades sem ideias próprias que procurava imitar o que estivesse na moda, fosse a dureza alemã ou o cinismo argentino. Eram os dias da Fúria, uma equipa com alma mas sem talento, com garra mas sem ideias. A tal que chegava a cada competição com o rótulo de eventual surpresa para acabar, inevitavelmente, por falhar nos momentos decisivos. Nos momentos onde é preciso ter uma ideia de jogo a que ser fiel.

O futebol espanhol aprendeu a lição. Desde a federação começou a trabalhar-se no futebol de base. Os clubes foram incentivados a seguir pelo mesmo caminho. Uns fizeram-no com mais afinco que outros. O Barcelona e o Athletic Bilbao foram excelentes exemplos de aproveitamento da formação enquanto que os clubes de Madrid preferiram outra abordagem. O tempo demonstraria quem tinha razão. Mas não foi só no treino e formação de jovens jogadores que se desenhou o futuro dourado do futebol espanhol. A nível nacional, de forma quase transversal, adaptou-se um modelo de jogo similar, um estilo de posse comum, de cultura pelo respeito do adversário e pelo conhecimento táctico das matrizes do jogo. Mais do que formar jogadores, em Espanha formaram-se jovens adultos, com capacidade mental para superar qualquer adversidade. Uma capacidade que faltou a tantos dos protagonistas da etapa da fúria e que nos momentos de maior pressão fez a diferença. O clique ganhador, a assunção de sentir-se superiores na sua forma de jogar, passos fundamentais para transformar o sucesso da base no triunfo da cúpula pirâmide.

 

Xavi-Fabregas-Thiago.

Iniesta-Mata-Isco.

Busquets-Martinez-Illarramendi.

A sala de máquinas do futebol espanhol é a melhor do mundo no presente. Mas também já a é no futuro imediato e no futuro mais distante. Não existe, a nível internacional, um tridente de jogadores da mesma geração tão capazes de assumir o controlo de um jogo e de pautar o seu ritmo como sucede com três gerações consecutivas de heróis espanhóis. A titularidade da selecção principal de Del Bosque é intocável. São os jogadores que Guardiola reinventou dentro do modelo desenhado entre Cruyff e Aragonés. Mas quando faltarem, os espanhóis sabem que há dois futebolistas por posição preparados para assumir o seu lugar sem que se note minimamente a diferença. Em qualquer selecção do Mundo actual, Thiago-Illarrramendi-Isco seriam titulares. Fosse o Brasil, Itália, Inglaterra, Holanda, Argentina ou Portugal. E no entanto, são apenas a terceira escolha em Espanha porque o génio de Mata, de Fabregas e de Javi Martinez os antecede, por idade, apenas e só. Não há melhor forma de coroar o sucesso de uma ideia do que sentir que está garantido o seu futuro. No caso da Espanha, a próxima década está entregue a futebolistas desenhados para ganhar, mas ganhar à sua maneira.

A selecção de sub-21 joga ao mesmo jogo que a equipa principal, mas fá-lo melhor. Com mais fome, com mais verticalidade, com mais apetite pelo golo. Eles são o que os principais eram em 2008, quando Aragonés acabou o seu projecto de forma única. Pelo meio, uma série de futebolistas que cresceram com essa fome de afirmarem-se internacionalmente e que se encontram entalados entre duas equipas de sonho. Nove jogadores para três posições que, no fundo, são apenas um curto exemplo da extensão da hegemonia espanhola.

Para cada Sérgio Ramos há um Iñigo Martinez. Para cada Arbeloa há um Carvajal ou Montoya. E um Moreno, um Koke, um Muniain ou Rodrigo. E todos esses trabalhadores talentosos como Nacho, Bartra, Herrera, De Marcos, Camacho, Aguirretxe, Parejo, Michu e os génios precoces de Canales, Jesé, Deulofeu ou Oliver. São tantos os nomes individuais que o problema é eleger. Mas aqui, apesar de tudo, não é a individualidade que faz a diferença. É o facto de todos eles pensarem, agirem e jogarem debaixo de uma ideia comum. O ritmo na equipa principal pode ter baixado, a frieza e o cinismo que foram imagem de marca de Del Bosque quando esteve inicialmente no Real Madrid fez-se sentir na África do Sul e na Polónia e na Ucrânia. Mas a qualidade dos jogadores e o valor desse espírito determinado e ofensivo permite pensar que é praticamente impossível não contar com a Espanha com máximo favorito para os próximos cinco grandes torneios internacionais.

 

Poucas selecções sub-21 jogaram na história como esta versão da selecção espanhola. Capaz, muito provavelmente, de vencer a maioria dos jogos disputados contra selecção principais do planeta futebol. Uma qualidade tal que permite, por momentos, esquecer que a sua antecessora, também campeã europeia, era quase tão boa. E que as suas rivais são a base habitual de projectos desportivos de larga projecção como acontece com Alemanha, Itália ou Holanda. Enquanto em Portugal se descobre, a duras penas, a consequência de abandonar-se o projecto de formação que esteve por base no sucesso dos anos noventa, Espanha demonstra uma vez mais saber qual é o caminho. O do sucesso. Para o qual tem a chave. Uma chave que parece ser de cópia única.



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Segunda-feira, 17.06.13

Xabi Alonso é um notável jogador. Mas foi preciso lesionar-se para que Vicente del Bosque tivesse encontrado a coragem de fazer o mais difícil. Voltar à origem. A exibição memorável da selecção espanhola contra o Uruguai fez o relógio voltar atrás no tempo, aos dias apaixonantes de Luis Aragonés e uma equipa que encantava pela sua capacidade de fazer da posse de bola uma arma de ataque. Pelo seu talento em recuperar a bola tão bem como a movia por um terreno de jogo onde mandava a criatividade e o espírito ofensivo. Um Mundial e um Europeu ganhos sem convencer depois, a Espanha volta a ser ela mesma. E essa é a melhor notícia!

 

Em 2008 o futebol despertou para o fenómeno tiki-taka.

Ainda não tinha chegado Guardiola e o seu projecto de renascimento da filosofia de rondo, pressão asfixiante e precisão ofensiva. A Europa de clubes ainda vivia sob o signo da Premier League, do seu modelo físico, de transições rápidas, de jogo vertical e apoiado e da sua dificuldade em fazer da posse de bola uma arma para defender e atacar porque a sua resistência física estava preparada para esse modelo. E chegou o Europeu. O modelo que a Espanha tinha ensaiado nos meses anteriores funcionou. Era a mesma ideia defendida por Aragonés desde 2004, o mesmo que entusiasmou na fase de grupos do Mundial de 2006 mas que não aguentou com a matreirice de Zidane, desejoso de uma despedida à altura. Aragonés sobreviveu a uma profunda guerra no balneário da selecção. Colocou todo o seu prestigio, que era muito, para vencer o braço de ferro com o que ele considerava como um sério problema. Raul, Michel Salgado e companhia foram afastados da selecção. Começava uma nova era.

Aragonés desenhou uma Espanha de raiz.

Um 4-5-1 (ou 4-3-3, como se queira ver), em que a associação no meio-campo de quatro jogadores imensamente talentosos era compensada defensivamente com o trabalho imenso de um só médio recuperador. O compromisso era conseguido porque todos os restantes elementos da equipa sabiam que, sem bola, deveriam realizar uma pressão constante para fechar espaços, morder os rivais e recuperar o esférico. Com a bola podiam descansar, sim, mas sobretudo atacar. Procurar aproveitar as falhas na movimentação do rival, surpreendido pela perda de bola tão rápida, para criar perigo. Jogar com os olhos postos na baliza contrária. Um modelo vertical, mas apoiado na capacidade de circulação horizontal de uma geração de futebolistas maravilhosos. Um modelo que sabia que tinha pontos fracos mas que os transformava em fortaleza quando tinha a bola nos pés. Dessa forma, Aragonés conseguiu juntar numa mesma equipa a Villa, Xavi, Iniesta, Torres, Cazorla ou Fabregas com Senna como elemento mais recuado. As aparições de Xabi Alonso, David Silva e De la Red confirmavam a excelência de uma geração que merecia acabar com uma série de 44 anos sem títulos. Com Aragonés o título chegou porque Espanha foi uma equipa ofensiva, uma equipa autoritária, uma equipa que sabia defender no campo do rival e fazer da posse de bola uma ferramenta para encontrar o atalho mais rápido para o golo. Essa foi a melhor versão da história do futebol espanhol. A selecção que deixou saudades.

 

Aragonés tinha queimado o seu prestigio na sua luta interna com a influência de Raúl e do grupo de adeptos do Real Madrid.

Na federação, Fernando Hierro, tinha encontrado já o seu substituto antes do torneio sequer ter dado o pontapé de saída. Com a vitória da selecção, houve um momento de embaraço. Finalmente, Del Bosque entrou para comandar uma nau ganhadora. Tinha o duro objectivo de estar à altura do que parecia ser um feito histórico. Mas o trabalho de casa estava feito. Por Aragonés, que tinha deixado um balneário exemplar e uma rotina de jogo reconhecida internacionalmente e admirada. E pelos clubes, que apostando na prata da casa lhe deixaram à disposição uma geração memorável. Particularmente beneficiou-se do génio de Guardiola, que levou a ideia de Aragonés a outro plano, com a ajuda de um tal Messi. O técnico catalão lançou, do nada, as figuras de Busquets e Pedro, futebolistas que Del Bosque rapidamente introduziu no seu modelo. Mas a sua selecção era diferente. O 4-5-1 (ou 4-3-3, sem alas) transformou-se num 4-2-3-1. Alonso, habitual suplente com Aragonés, tornou-se em titular indiscutível ao lado de Busquets, o sucessor de Senna. Essa transformação forçou o treinador a retirar um dos muitos criativos que tinham espalhado magia na Áustria. Xavi e Iniesta eram figuras nucleares, Torres e Villa os goleadores e Pedro um joker precioso.

Inicialmente Del Bosque transformou a Villa em extremo e em Pedro no seu suplente preferencial. Depois abdicou de Torres, colocou Villa no centro e definitivamente entregou a titularidade ao canário. Até que a lesão do asturiano e a má forma do madrilenho lhe permitiu provar a fórmula do falso nove, com Cesc Fabregas ou David Silva no eixo do ataque. Essas mudanças não eram só de cromos.

Geniais, todos, eram jogadores com uma visão de jogo diferente da que tinha Aragonés. Espanha horizontalizou-se. Passou a usar a bola para defender mais do que para atacar. Longos períodos de trocas de bola em posições cómodas permitiam a aproximação da linha defensiva ao ataque, defender mais longe da baliza de Casillas e a incorporação dos laterais ao ataque. Mas também ralentizavam o jogo, davam ao rival a possibilidade de defender ocupando os espaços, procurando a sua oportunidade. Foi assim que a Suíça venceu o primeiro jogo do Mundial que a Espanha ganhou com a pior média de golos marcados da história. Apenas um por jogo na fase a eliminar, sofrendo em todos os jogos por criar perigo real e suportando com sorte e mérito as raras oportunidades dos contrários. As de Ronaldo, Cardozo, Ozil e Robben. Era um modelo mais pragmático, mais italiano, menos ofensivo e estilizado que o de 2008. Mas a vitória escondeu o debate e a renovação de alguns jogadores deu a sensação de um futuro brilhante. Dois anos depois, na Polónia, a equipa abdicou definitivamente do avançado, voltou a oferecer uma versão que até aos próprios espanhóis começava a aborrecer e depois de mais uma série de jogos sem entusiasmar, encontraram-se na final com uma Itália quase infantil a quem deram um impressionante correctivo. A mensagem estava clara. Quando Espanha queria dar uma velocidade mais ao seu jogo, era imbatível. Mas raramente se dava a esse trabalho.

 

No duelo com o Uruguai, o de abertura da Confederações, Del Bosque não tinha Alonso.

Podia ter substituido o basco por Javi Martinez, autor de uma época memorável na mesma posição em Munique. Não o fez. Decidiu aceitar que a sua versão de quatro anos poderia ser mais fácil de controlar, por previsível, por monótona e por horizontal, por uma equipa habituada a defender, esperar e jogar nas costas do rival. O seleccionador espanhol lançou então Fabregas, mas na posição em que jogava com Aragonés, escorado ao lado esquerdo do ataque, mas não como extremo, em sucessivas trocas de posição com Iniesta, abrindo o carril a Jordi Alba. Para fixar os centrais uruguaios e empurrá-los para a sua área, voltou a optar por um avançado puro, Roberto Soldado, mantendo Pedro como falso extremo direito, um jogador especializado em diagonais e remates impossíveis. Atrás, Xavi mantinha a batuta do jogo, com mais jogadores a moverem-se à sua volta e, portanto, mais linhas de passe possíveis e um maior dinamismo ofensivo. Busquets, como Senna, tinha mais do que capacidade para controlar o aspecto defensivo do jogo, apoiado muito de perto por uma linha defensiva alta.

Com essa aposta, esse 4-5-1 tão ofensivo, Espanha voltou a deslumbrar. O seu jogo ofensivo voltou a ser vertical, rápido, incisivo e com a baliza como alvo preferencial. A posse de bola, imensamente superior à do rival, tinha encontrado um sentido pragmático e não apenas o de uma arma física de descanso, à espera que a marcação defensiva do rival cometesse o habitual erro para o golo da praxe. Era, de certa forma, o voltar às origens. Alguns dos nomes próprios tinham mudado mas a essência era definitivamente a mesma. E muito distante do paradigma habitual de Del Bosque. Um modelo que pode voltar a ser colocado de lado quando Alonso esteja em condições de jogar. Ou, e isso seria uma grande notícia, um modelo recuperado para atacar o segundo título mundial consecutivo, transformando a Espanha na terceira selecção da história capaz de manter o troféu em casa. Uma Espanha com o formato de Del Bosque já seria, inevitavelmente, a máxima candidata ao troféu. Com o desenho original de Aragonés o seu favoritismo é ainda maior. E os adeptos que perdeu durante anos com a sua viragem mais conservadores, voltarão de braços abertos. Porque este foi o formato que permitiu um dia pensar que havia realmente algum paralelismo com a mítica camisola amarela do Brasil sob o céu silencioso do México.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 00:22 | link do post | comentar | ver comentários (3)

Quarta-feira, 13.07.11

Pode um clube prender um jogador como se fosse um centro de detenção? Em Itália sim. E Federico Marchetti sabe-o bem, muito bem. Um ano de calvário que chega ao fim. Um ano perdido numa carreira absolutamente promissora. Em Roma o guardião que a Itália aprendeu a ver como sucessor do mítico Buffon vai voltar a sentir-se futebolista. Mas nunca esquecerá a sua prisão na Sardenha. A prisão de um futebolista que ninguém quis denunciar.

Quando Buffon não aguentou mais com as dores nas costas que se arrastavam à semanas, Marcello Lippi mandou chamar o seu suplente.

Marchetti, Federico Marchetti, entrou em campo com a determinação dos grandes jogadores. De um jogador que conhecia bem a sombra de gigante que o esperava no momento em que Buffon deixasse o posto que lhe pertencia por direito próprio há quase uma década. Talvez não imaginasse que fosse tão cedo mas na sua vida as coisas nunca correram como previsto. A Itália realizou o seu pior Mundial de sempre mas a culpa não foi do guardião de 27 anos. Tinha-se estreado um ano antes com a Azzurra e depois só tinha disputado um total de cinco jogos. Era carne para canhão. Mas portou-se como um guerreiro. Saiu da África do Sul com a cabeça erguida e a cotação em alta. Não imaginava o pesadelo que o esperava.

Quando voltou de férias Marchetti deu uma entrevista que lhe ia mudar a vida. Depois de declarar que pretendia abandonar o Cagliari para juntar-se a um clube com outros objectivos (tinha a Sampdoria na cabeça), o guardião tornou-se persona non grata.

No primeiro amigável da temporada foi assobiado e acossado pelos adeptos locais. O presidente, o sempre polémico Massimo Cellino, anunciou que deixaria sair o jogador em público mas secretamente rejeitou toda e cada uma das propostas. Marchetti passou de estrela do Mundial a terceiro guardião atrás de Agazzi e Pellizoli, veteranos do clube. Treinou sozinho, ficou fora de todas as convocatórias e viu mesmo o técnico, Roberto Donadoni, convocar guardiões dos juniores na ausência de algum dos seus dois colegas da primeira equipa. Até 31 de Agosto forçou de todas as forças sair do clube com quem tinha assinado no ano anterior depois de chegar do AlbinoLeffe. Não conseguiu. A partir desse momento decidiu-se a enfrentar o clube na justiça. Demorou oito meses mas ganhou a batalha. Agora, em Roma, é um jogador livre.

 

Marchetti está habituado a cenários complexos.

Começou a carreira no Torino e depois de uns anos entre empréstimos exigiu que o clube o deixasse sair. Os granota não facilitaram a saída mas entretanto o clube faliu, foi despromovido e o guardião teve direito à carta de liberdade. Assinou pelo AlbinoLeffe, equipa da Serie B, e no segundo ano ao serviço da equipa venceu em 2007 o prémio ao melhor guarda-redes da segunda divisão italiana. As exibições chamaram a atenção do Cagliari que o lançou para a ribalta levando mesmo Buffon a elege-lo como seu sucessor natural. Depois de dois anos ao mais alto nível na Sardenha, chegou o sonho do Mundial. E o posterior pesadelo prisional a que foi sujeito.

O guardião sobreviveu em 2005 a um terrível acidente de automóvel. Viajava com três amigos e dois deles faleceram no acto tal foi a brutalidade do choque. Marchetti esteve entre a vida e a morte. Recuperou e aqueles que imaginavam que a sua carreira desportiva estava acabada dificilmente imaginavam que cinco anos depois ele seria o guardião de moda da Serie A. Depois do sofrimento e da luta contra a morte, Marchetti encarou o duelo com o Cagliari como uma questão pessoal. Denunciou o clube por mobbing laboral (como fizera Pandev com a Lazio há dois anos) e depois de julgamentos e recursos conseguiu uma choruda indemnização. O clube foi igualmente forçado a facilitar a transferência para a AS Lazio, clube que acaba de perder o internacional uruguaio Muslera. Depois de um ano parado muitos estão curiosos para ver até que ponto Marchetti se encontra em forma. No ano em que esteve fora do activo surgiram outras promessas das redes italianas do jovem Emiliano Viviano do Bologna a Salvatore Sirigu do Palermo sem esquecer Antonio Mirante do Parma.

 

A luta para a sucessão de Buffon aperta-se ainda mais num país com enorme tradição de guarda-redes de máximo talento. No entanto Marchetti terá um prazer especial caso volte a vestir a camisola da Azzurra. Pela segunda vez encontrou-se com um drama pessoal fortíssimo e pela segunda vez venceu. Certamente que a confiança com que entre em campo a partir de Agosto será difícil de igualar por qualquer comum mortal...

 



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Segunda-feira, 11.07.11

Hoje cumpre-se um ano. Um ano do dominio imperial. O futebol espanhol vive a sua era mais dourada e como os célebres lanceiros de Tercios de Carlos V e Filipe II, são a inveja do Mundo. Em três anos Espanha soube onde tinha de tocar para revolucionar o futebol mundial. Uma supremacia incontestável de um modelo de jogo que faz escola e recolhe admiração em todo o Mundo. Um Império dominante, autoritário e sem fim à vista. Hoje faz um ano em que Espanha acreditou definitivamente em si mesma. Um ano sem maldições que quebrar. Um ano de glória.

Foi sofrido. Desnecessariamente sofrido. Injustamente sofrido.

O jogo violento dos holandeses deveria ter acabado antes, com o primeiro vermelho a De Jong ainda o árbitro não tinha apitado para o intervalo. Mas Howard Webb contemporizou e os holandeses abusaram. Fisicamente deram cabo dos espanhóis. Mentalmente nunca os conseguiram vergar. Casillas foi o salvador de sempre, com dois desvios providenciais. O mesmo que parou o penalty com o Paraguai, que defendeu o remate de Ozil com a Alemanha. Ele queria subir àquele palco com um sorriso desconhecido. Iniesta fez-lhe o jeito naquele seu estilo simplório e profundamente humano. Marcou o golo que fez 48 milhões de espanhóis chorarem de alegria (e muitos estrangeiros aplaudirem de admiração). Nessa noite Madrid esteve silenciosa. Na manhã seguinte nem um sinal de euforia, apenas a sensação de alivio. A sensação de quem não tem de olhar para os outros de cabeça baixa. Desde há um ano que Espanha é campeã do Mundo de futebol. E essa estrela, que jornais portam orgulhosos na capa, nunca ninguém lhes poderá tirar. Essa é a grande conquista histórica, a grande licção. O Império adormecido acordou e não tem nenhuma intenção de voltar a dormir. O Império espanhol onde o sol nunca se punha transformou-se no Império espanhol futebolistico. O dominio clubistico de Barcelona, o poderio mediático do Real Madrid, as vitórias europeias de Sevilla e Atlético de Madrid, a admiração à volta do modelo do Villareal, o triunfo das selecções de formação. E esse titulo Mundial.

Em três anos Espanha soube o que era sentir-se grande. De verdade. Emulou um feito só logrado previamente pela RF Alemanha. Em 2008 Luis Aragonés pegou numa equipa em que ninguém acreditava. De tal forma que o técnico estava despedido à partida. Pegou nesses bajitos e disse-lhes que a bola era dele e com a bola o que eles faziam mais ninguém era capaz de fazer. Fê-los, como disse Xavi Hernandez vezes sem conta, acreditar neles próprios. Quando a bola começou a rolar, Espanha acreditou. "Podemos" ouvia-se em todo o lado. E puderam mesmo.

Ao triunfo da geração de Aragonés, esse tiki-taka ofensivo, com um jogo pensado no miolo - onde só Senna tinha ordens para manter a casa limpa - e com um jogo sem extremos e muita troca de bola no miolo, seguiu-se a geração de Del Bosque. O histórico técnico do Real Madrid (a sua saída é ainda hoje uma das páginas mais negras da história do clube merengue) herdou o trabalho de Aragonés e aproveitou-se do trabalho de Guardiola. Recrutou Pedro, Busquets e Pique para uma equipa já de si de primeiro nivel. Soube ser o gestor de balneário que Espanha precisava. Ajustou tacticamente a equipa, deu-lhe equilibrio no miolo com as entradas de Busquets e Alonso por Senna e entregou a Xavi e Iniesta a batuta. Chegou sob forte pressão à África do Sul e com a derrota com a Suiça perdeu margem de manobra. Foi honesto com todos. "Agora temos de ganhar todos os jogos". E ganharam, até à final. Todos. E acabaram com a maldição espanhola.

 

O titulo mundial espanhol é incontestável e espelha bem a autoridade com que os ibéricos dominam o panorama internacional.

Mas é apenas o elemento mais mediático de uma realidade muito mais profunda e esclarecedora. Espanha está a viver agora o fruto de um fortissimo investimento realizado a partir dos anos 90. O sucesso das Olimpiadas de Barcelona trouxe um ar de modernidade a um país ainda atado aos tradicionalismos regionais e traumas dictactoriais. A fortissima aposta no turismo e no desporto abriram a Espanha ao mundo e o mundo a Espanha. Os jogadores encontraram centros de formação de primeiro nivel (com La Masia e Lezama à cabeça), os clubes viveram uma bonança finaceira única e o conceito de selecção comum começou a ganhar força face à disputa de poder clubistico que se vivia eternamente no balneário. Espanha apostou fortemente na educação dos atletas (e esse dominio é visivel em todos os desportos onde entra) e na sua mentalização para uma nova realidade. O grande triunfo espanhol é mental, de atitude. Acabou-se a "furia", acabou-se o muro das lamentações. Esta geração, a dos Xavi, Casillas e companhia, foi educada para vencer. E para vencer jogando bem, sendo fiel à sua identidade.

Foi um processo longo (um processo que Portugal também começou e depois desaproveitou) e trouxe alguns dissabores. Mas quando a ideia amadureceu, quando os primeiros filhos da nova Espanha chegaram à idade mental e fisica ideal, Espanha estava destinada a quebrar a malapata. Em 2008 a maldição dos Quartos, a maldição dos penaltys e a maldição de Itália chegaram num só jogo. Com frieza Espanha superou o desafio. Desde essa noite o país já sabia que seria campeão da Europa. Dois anos depois, na África do Sul, a derrota no jogo inaugural doeu mas permitiu aos jogadores (e a del Bosque) mostrar que o desnorte porque se guiou o desporto espanhol tinha desaparecido. Espanha tornou-se uma equipa mais pragmática, mais italianizada, sem perder o seu ideário táctico e foi superando equipas que se limitavam a defender e esperar, esperar e esperar...sem perder a paciência foi resolvendo os jogos, nos últimos minutos, aqueles onde as pernas falham mas a cabeça tem de estar desperta. O Império faz-se de soldados corajosos e generais astutos. Espanha juntou os ingredientes e transformou-se numa equipa praticamente invencivel.

Mas essa realidade, esse processo de crescimento, deixa antecipar uma hegemonia longa e autoritária. Não que Espanha vença todas as provas ad infinitum (que a este ritmo é possível). Mas que tenha criado os mecanismos para manter-se na elite competitiva mundial. O triunfo espantoso da Rojita, a selecção de sub21 com um superlativo Thiago secundado por um leque de jogadores que teriam lugar na maioria das selecções do Mundo, seguido dos sucessos recentes das selecções mais jovens, deixam antever que o processo de maturação segue por um bom caminho. Quando se vá Casillas haverá De Gea. Quando digam adeus Puyol e Capdevilla, há Botia e Monreal. Quando Xavi se reforme, está aí Thiago. E Martinez, Herrera, Muniain, Adrian, Mata, Deulofeu, Rafinha, Sergi Robert, Sarabia, Femenia, Iago, Montoya, Morata e quantos mais saiam dessa máquina de produção espantosa em que se tornou o futebol espanhol.

 

Depois de vencer Europeu e Mundial, o sonho agora é prolongar o ritmo de triunfos e alcançar uma hegemonia histórica. Nunca nenhum país conseguiu vencer três provas consecutivas desse calibre. E no próximo Campeonato da Europa o favoritismo espanhol é inquestionável. A equipa contará com os seus melhores jogadores na máxima forma, na idade perfeita. E como demonstrou o sucesso recente dos sub21, com um fundo de armário notável. O império espanhol ameaça prolongar-se pela eternidade. Sempre que a bola continua a fluir com naturalidade, os jogadores deixem de lado os egos de estrelas e o pastor de homens que é Del Bosque saiba manter a nau na direcção certa é impossível apostar contra esta equipa. Espanha vence, convence e ensina a cada jogo que disputa. Oferece variáveis de jogo, explora realidades opostas, encontra caminhos invisiveis e consagra-se com a humildade dos campeões. Como sucedeu com a França de virar de século e como a Alemanha dos anos 70 ninguém questiona uma superioridade tão evidente porque ver jogar Espanha é entender as multiplas realidades do futebol. Em 2012 não há maldições a quebrar. Há um império por eternizar. E de impérios os espanhóis entendem algumas coisas.



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Terça-feira, 29.03.11

Quem conhece a natureza do futebol espanhol desde as suas raízes sabe bem que o jogo popularizado pela brilhante Roja nos últimos três anos é a antítese da alma hispânica. Espanha conseguiu os títulos e a glória que sempre buscou a partir do momento em que deixou de ser ela mesma e passou a emular, passo a passo, a mentalidade de jogo holandesa. No futebol não há nada novo a inventar e comparar a evolução da equipa que deu forma ao Futebol Total com a selecção do país vizinho é como olhar para o reflexo num espelho. A Roja podia ter sido Orange e ninguém teria dado por isso...talvez só mesmo os espanhóis!

 

 

 

Rondo, rondo, rondo.

Quem ouve Xavi Hernandez, o maestro da selecção espanhola e o mais completo futebolista dos últimos anos, é forçado a guardar esta palavra espanhola no seu vocabulário. O equivalente ao nosso "meinho", esse exercício quase infantil, mudou por completo o rosto do futebol espanhol. Começou na Catalunha - como sucedeu nos anos 20 com a primeira versão grande versão da Roja, algo que a história centralista procurou esquecer - e hoje é o santo e senha do país. E o motivo de admiração do mundo. Mas o rondo de Xavi é tudo menos espanhol. Aliás, o rondo de Xavi é a antítese do futebol espanhol. É profundamente metódico, organizado, criativo e veloz, características difíceis de encontrar na mentalidade desportiva de um país que olha para um desafio como vê uma tourada, à procura do lado esteta e da vitória triunfal em ombros alheios. Esse mítico rondo que definiu um modelo de criativos que hoje compõe a estrutura base da campeã da Europa e do Mundo chegou tarde a Espanha. Chegou com Johan Cruyff. O mago feiticeiro da Holanda dos anos 70 foi também o responsável directo pelo renascimento do futebol de toque, de ataque, romântico, paralelamente em duas realidades. Quando arrancou a sua carreira como técnico, no seu amado Ajax, lançou os princípios que iriam definir o renascimento do futebol holandês e que durou até ao inicio desta década. Responsável primeiro das gerações que encantaram o mundo de 1988 a 1998, Cruyff voltou a mostrar aos holandeses o que faz deles especiais. Essa paixão pelo toque curto, pelo passe lateral, pela basculação sem perdas de bola. Esse gosto pela velocidade da bola (e não do homem) tornou-o também o pai fundador do Barcelona moderno. Até 1988 o clube catalão viva mais da fama de vitima do franquismo do que dos seus (poucos) títulos. Com Cruyff tudo mudou. O rondo chegou aos treinos, as equipas de formação de La Masia passaram a seguir os mesmos ensinamentos aplicados às estrelas do Dream Team e a pequena La Masia passou a formar, desde a sua origem, as peças do futuro. Essa mentalidade, desenvolvida por Rinus Michels nos anos 60, marcou um antes e um depois na história do futebol moderno. Mas em Espanha ninguém lhe ligou muito, nem quando o técnico pregou aos peixes de Barcelona em 1972. Enquanto a Holanda deslumbrava com o seu futebol mágico, com laterais ofensivos, falsos pontas-de-lanças, extremos bem abertos mas incisivos e médios criativos, em Espanha ainda se apostava na fúria. E não era, como muitos dizem, um exclusivo do duro futebol basco. O Real Madrid dos "yé-yés" ou dos "Garcia", as equipas que sucederam à constelação de estrelas de Di Stefano e companhia também preferia "hecharle huevos" a pensar o jogo. E do Barcelona, mesmo com génios tácticos como Michels ou Menotti, era mais fácil esperar jogos frenéticos e desorganizados do que um futebol estético. O futebol espanhol sempre foi um futebol de raça mais do que de talento. De tal forma que hoje em dia - e até Xavi  (com as excepções de Suarez, Butrageño e Guardiola) - todos os grandes nomes do país passam por ser figuras raçudas mais do que jogadores talentosos: Quini, Raul, Santillana, Gordillo, Camacho, Michel, Rexach, Hierro, Luis Enrique, Martin Vasquez, Peiró, Aragonés... 

 

A grande transformação cruyffiana marcou um antes e um depois na história do futebol espanhol.

Quando o Barcelona deixou de ser o Barcelona para passar a ser a versão holandesa do clube catalão tudo mudou. Cruyff impôs as suas normas e os seus métodos e apesar dos altos e baixos na sua polémica gestão a ideia germinou. O futebol espanhol vivia um significativo atraso comparativo com outras nações europeias (e pouco condizente com o estatuto da sua liga, sempre mais depressa apoiada em figuras estrangeiras do que em valor local) e começou a trabalhar na recuperação. A cantera, antes um conceito mais económico do que técnico, passou a fazer sentido. Particularmente em zonas onde o nacionalismo valora, profundamente, o produto local. Athletic Bilbao e Barcelona deram um passo à frente. A lei Bosman fez com que os clubes de Madrid dessem um passo atrás. Curioso é pensar que são dois técnicos formados e criados na capital que melhor souberam entender os ensinamentos do holandês. Aragonés e Del Bosque não são grandes treinadores no sentido táctico ou mediático do termo. As suas carreiras são longas e cheias de altos e baixos. Mas a forma como o primeiro interpretou os ventos de mudança e o segundo soube controlar a transição geracional é louvável. Porque estavam a lutar contra o que eles próprios defenderam durante a sua etapa como atletas e primórdios como jogador.

Ver jogar as equipas de Aragonés (principalmente Atlético Madrid e Barcelona) e Del Bosque (no Real Madrid) e encontrar traços de similaridades com esta Espanha é tempo perdido. Não os há. Essas equipas eram assumidamente espanholas na sua paixão pela fúria, pelo ataque continuado e pela desorganização táctica no sector defensivo. Mas em 2007 Aragonés entendeu que o 4-4-2 espanhol, que tantos fracassos acumulara, tinha perdido definitivamente a validez como ideia. E olhou para trás. Provavelmente para os jogos de Cruyff, não como técnico, mas como jogador. Se há alguma equipa que alguma vez se tenha parecido àquela Holanda é esta Espanha. Talvez os interpretes estejam uns furos abaixo individualmente (Villa não é Cruyff, Iniesta não é Resenbrink, Ramos não é Surbieer, Capdevilla não é Krool, Xabi Alonso não é Rep, Puyol não é Haan e Busquets não é Neskeens). Mas o sentido colectivo está lá. As transições coordenadas, a troca de bola fluida e constante, em movimentos laterais que permitem procurar espaços e desgastar, ao mesmo tempo, o rival e, sobretudo, a fluidez ofensiva entre o quinteto de meio-campo e o dianteiro, permitem-nos traçar essas similaridades. Espanha pensa o jogo como uma equipa holandesa. Não só "aquela" mas todas as que se seguiram. Se a Espanha jogasse de laranja e cada jogador da meseta castelhana tivesse um van como prefixo ninguém se estranharia. Talvez por isso catalogar o sucesso da Espanha como sucesso da ideia de futebol espanhol é, não só abusivo, como um erro. Não há nada de novo nos jogos da Roja que não tivesse sido posto em prática há 40 anos. Há melhoramentos (principalmente na faceta defensiva) e coisas a melhorar (esta Espanha continua a dominar pouco os extremos, algo de que Aragonés abdicou totalmente com um quinteto de "bajitos" - Silva, Cesc, Xavi, Iniesta, Cazorla - e que Del Bosque procura timidamente recuperar com Pedro) mas a filosofia de jogo é similar. Mais até do que a do próprio Barcelona que soube inculcar as próprias características autóctones ao jogo de Cruyff e os ensinamentos que Guardiola recebeu de Capello e Sacchi na sua estadia transalpina. Esse seu Barça é talvez ainda mais Total que a equipa capitaneada pelo seu mentor. 

 

 

 

Não podia ser mais irónico que a consagração da Espanha holandesa tenha surgido frente a uma Holanda que renegou, desde o primeiro dia, tudo o que faz parte da sua bíblia futebolística. O killer-instinct que faltou à Holanda nos Mundiais anteriores (e em três deles foi a melhor equipa do torneio) tornou-se excessivo com a formação que viajou até à África do Sul. Essa falta de classe deixa, se cabe, ainda mais a nu a aproximação mental e estética dos espanhóis à mentalidade neerlandesa. Os nomes são profundamente espanhóis, os físicos não enganam, mas o jogo que Iniesta lança no tapete verde não se vê na planície manchega de Fuentalbilla mas sim na verdejante Volendam muitos quilómetros a norte. O passe de Xavi não existe na tradição futebolística de Terrasa, mas há muito que faz parte do abecedário dos parques infantis de Amesterdam. A Espanha dos moinhos de D. Quixote transformou-se na Espanha dos moinhos de vento holandeses. Os adeptos sabem, lá no fundo, que esta equipa é tão estrangeira como qualquer outra. Mas acabar com uma fome de títulos de meia século não tem preço, mesmo que o que há que pagar seja a própria identidade futebolística de um país. Esta Espanha é temível e sê-lo-á na próxima década porque, precisamente, há muito que deixou de ser Espanha e passou a ser a ideia concreta de um pensamento abstracto cor-de-laranja.



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Quarta-feira, 14.07.10

ninguém se lembra de Tshabalala. É assim, a bola deixa de rolar e as memórias tornam-se selectivas. Cada um terá o seu Mundial na cabeça, desde o golo de Lampard que não entrou ao disparo fulminante de Iniesta. Horas depois da África do Sul ter dito adeus às últimas equipas já todos têm a cabeça em 2014. O Brasil espera e desespera, o Mundo sincroniza os relógios. O tempo vale bem mais do que parece...

É a inevitável despedida, a vida não dá nunca outra opção.

Não é um adeus doloroso, não foi para tanto. O Mundial de 2010 chegou ao fim, a ressaca da festa em Madrid, Amesterdam, Montevideo, Berlim e onde quer que estejam aqueles que vibraram com o espectáculo, também. Com o fantasma da nova época a ganhar forma, as contas para o próximo Europeu ou Copa América a ocuparem a mente de Federações e seleccionadores, durante uns dias ninguém pensará em Mundiais. O próximo, o de 2014, sob a vista maravilhosa do Pão de Açucar, parece a anos-luz de distância. Como o tempo voa. Há quatro anos Thomas Muller estava com os amigos na Fanzone de Munique a seguir o Mundial da Alemanha. Quatro anos depois foi uma das estrelas máximas do torneio. A vida é assim, repleta das mesmas surpresas que sempre nos reserva a FIFA com os seus jogos de bastidores, as suas politicas desportivas e, acima de tudo, o seu mutismo. A máxima organização futebolistica fez mais um bom negócio. Durante um mês teve o Mundo em suspenso, teve um lucro aproximado de 200 milhões de euros e a garantia de que aqueles que rogaram pragas e feitiços terão de esperar. Para eles o Mundial foi um sucesso. Financeiro, está claro. O resto sempre pareceu importar menos. Ora a Jabulani, ora as equipas de arbitragem desastradas (e até foram os europeus a ficarem pior na fotografia, antes que se fale nos árbitros do Terceiro Mundo), ora a incapacidade de oferecer um espectáculo visual interessante. A FIFA deixou o futebol de parte e desfrutou. Do som das vuvuzuelas, do desespero dos africanos com a mão de Luis Suarez - que tantos quiseram cruficiar da mesma forma que antes quiseram divinizar outra mão proíbida - ou da violência da tropa holandesa na final contra a merecida campeã.

 

Se a Espanha venceu o Mundial, e quem vence é sempre merecedor da glória, foi porque transformou totalmente a sua forma de estar.

La Roja sempre enviou equipas fortíssimas para as grandes competições, resultado directo de ter uma das melhores ligas e um dos mais sofisticados programas de formação do futebol mundial. Mas mentalmente eram equipas débeis. Até agora. A fúria deu lugar ao "tiki-taka" cansativo, para os rivais, pausado e cerebral. A equipa ganhou fortaleza na mente para aguentar as cargas dos rivais sem que as pernas tremessem. E para rematar os jogos no momento decisivo. Todas as vitórias da campeã foram logradas perto do fim. Quando os outros estavam cansados, distraídos, fartos de ver a bola circular de um lado para o outro, aparentemente sem sentido. Mas a frescura mental espanhola durou sempre 90, 120 minutos. O que fosse necessário. Tinham uma missão a cumprir. Não olharam a meios. Abdicaram de um médio criativo pela organização defensiva e fizeram de Sérgio Ramos um quinto médio. Não sofreram nenhum golo na fase a eliminar. Abdicaram do jogo vertical com extremos (Navas foi utilizado pouco, Pedro foi um revulsivo fundamental, mas doseado, Mata nunca contou) e horizontalizaram a bola. Até à exaustão. Até ao triunfo final. Perderam o glamour de 2008, dos cinco bajitos, ganharam a eficácia dos grandes campeões. Por isso, por terem uma geração espantosa e uma atitude irrepreensível, venceram. Não se lhes podia pedir mais.

E no entanto, fosse o Mundial um concurso de beleza, de estética, de paixão, e o titulo tinha mudado facilmente de mãos, tal foi a forma entusiasmante como a Alemanha sofreu uma metamorfose kafkiana. Se Low foi o grande responsável pela derrota no jogo decisivo, também é verdade que foi o arquitecto daquela que foi, talvez, a melhor equipa a pisar um palco mundial desde a França de 1998. Uma equipa refrescante, hábil no contra-golpe, jovem, disciplinada e letal. Humilhar duas equipas, sobrevalorizadas é certo, como a Inglaterra e Argentina, não está ao alcance de qualquer um. Ozil, Muller, Khedira, Neuer, Boateng, Kiesling, Marin, Kroos e Schweinsteiger sabem que têm tempo. A sua hora ainda não tinha chegado, mas ninguém duvida que aqui há matéria prima para dominar o futebol europeu da próxima década.

Num Mundial onde as individualidades desapareceram à minima sombra, de onde só Messi pode gabar-se de ter tido momentos futebolisticos de qualidade, entre as estrelas dos anuncios e campanhas publicitárias, os anónimos e subvalorizados, foram as verdadeiras estrelas. De Fórlan a Honda, de Vera a Lugano, de Salcido a Coentrão, jogadores sem pedigree de vedetas mas com o estofo de futebolistas que faltou às expedições francesa, inglesa ou italiana, por exemplo.

Um Mundial que também foi dos técnicos, sem no entanto ter sido uma prova de revoluções tácticas significativas. Tabarez era o técnico que menos recebia (menos só mesmo o fantasma da Coreia do Norte) e o que mais conseguiu, recuperando o prestigio histórico de uma selecção que os mais novos desconhecem por absoluto. Vicente del Bosque soube fazer, como Roger Lemerre em 2000, uma transição tranquila e eficaz como sucessor de um polémico mas visionário técnico. E "el loco" Bielsa provou que morrer agarrado aos seus ideais não deixa de ser uma morte triste e dolorosa. Maradona e Dunga também souberam o que isso é, voltando para casa pela porta pequena, mais o brasileiro do que o argentino, e deixando antever as grandes dúvidas que assaltam a próxima edição da Copa América. Torneio que parecia que ia dominar um Mundial que acabou por coroar o futebol europeu. Pela primeira vez desde o pós-guerra, duas finais consecutivas só com representantes do Velho Continente. Por muito pobre que tenha sido o jogo da maioria das equipas, a elite provou que está aí, no topo.

Talvez Tshabalala nunca mais seja recordado. Iniesta, esse, à muito que está imortalizado. Dois golos que abrem e fecham um prova que teve poucos grandes momentos de êxtase. Um torneio sui generis como poucos, hibrido e sem direito próprio a entrar na galeria dos inesquecíveis. Mas não deixou de ser um Mundial e, como são sempre insuficientes, eternizar-se-á na memória de quem o viveu e na mente de quem sonhará no futuro com as cores do arco-iris sul-africano sob o olhar atento de um menino espanhol a dançar o waka-waka ao ritmo do movimento de corpo de Xavi Hernandéz.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:55 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Terça-feira, 13.07.10

Nem Ronaldo, nem Maradona, nem o seu homónimo Gerd Muller lograram o feito de vencer a Bota de Ouro de um Mundial de Futebol com apenas 20 anos. O jogador que há um ano actuava na equipa B do Bayern Munchen é a mais excitante revelação do futebol internacional dos últimos anos. Um jogador chave na estratégia da bela Alemanha que deixa as melhores recordações desta prova sem sal. O futuro é todo dele. O presente também.

Imaginemos que Miroslav Klose, com 32 anos, ficou a apenas um golo de igualar o recorde histórico do brasileiro Ronaldo como o maior goleador da história dos Mundiais. E que o dianteiro do Bayern Munchen tem os mesmos golos que outro Muller, o histórico torpedo da Mannschaftt de 70 e 74. São 14 golos. O recorde está em 15. O jovem Thomas tem já 5. E toda a vida pela frente.

Matematicamente é de esperar que, se as lesões e as improbabilidades da história não entrassem nesta equação, que o genial extremo direito alemão tenha cumprido o seu primeiro de quatro Mundiais. Uma meta acessível para qualquer jogador hoje em dia, o que permitira a Muller marcar presença na prova de 2022 com a mesma idade que o seu parceiro de agora, Klose. Essa realidade ficcionada deixa água na boca. Poderá ser este o homem capaz de fazer história e romper a hegemonia de um brasileiro no meio de tantos alemães?

Antes da prova muitos pensavam que o jovem avançado que Louis van Gaal soube convertir em extremo não teria lugar no onze titular de Joachin Low. Nem Diego Armando Maradona o conhecia. O jovem tinha começado o ano na equipa de reservas, depois de se estrear por breves minutos na época transacta com a equipa principal. Mas face à revolução ofensiva do holandês no ataque do conjunto bávaro, Muller teve direito a passar de figurante a actor principal. E agarrou o papel com as duas mãos. O Óscar tornou-se inevitável. Determinante na época quase perfeita do Bayern Munchen, o extremo ficou com o amargo de boca na noite quente de Madrid, a 22 de Junho. Jurou voltar. Certamente que o fará.

 

Na África do Sul foi a figura mais apaixonante do torneio.

Apesar de ser Bastian Schweinsteiger o pendulo do jogo de rápida transições aplicado por Jogi Low, o verdadeiro dinamo e alma do ataque teutónico foi sempre Muller. A inconstância de Ozil, um diamante bruto ainda a precisar de um retoque, e a irregularidade da velha dupla Podolski-Klose, tornava a surpresa na arma secreta necessária para abrir os buracos mais complicados.

A rapidez de Muller destroçou a defesa da Austrália. Nesse jogo o dianteiro marcou o seu primeiro golo, um exercicio perfeito de classe e oportunismo. Estava dado o mote para uma prova quase perfeita. Frente à Sérvia lutou, como todos, e olhou impávido para o erro de Podolski no lance do penalty. Contra ao Gana fartou-se de lutar para abrir espaços como o que deu a Ozil o golo do apuramento. Depois, surgiu a sua melhor versão. Com dois golos destruiu por completo a armada inglesa. Sentido de oportunismo, rapidez e fome de glória. Elementos determinantes para a forma como dobrou a defesa argentina, antecipando-se a tudo e todos por o primeiro golo e rematando de forma gloriosa a tarde com um passe deitado no chão, no meio da defesa che, dando-se a conhecer a Maradona e companhia.

Nesse jogo chegou o cartão amarelo, o seu segundo na prova. Injusto, inoportuno, inesperado. Privou-o do duelo decisivo contra a Espanha. Sem ele a Alemanha foi uma máquina perra, previsivel e sem chama. Percebeu-se qual era o elemento diferenciador. Uma vez mais. Sem jogar no encontro mais importante, Muller teve direito a uma segunda oportunidade, daquelas que o futebol é parco em oferecer. No duelo contra o Uruguai foi rápido, foi determinado. E marcou. O golo que lhe permitia sonhar com a história. Se era inevitável a sua consagração como Melhor Jogador Jovem, faltava que a conjugação de resultados o permitisse subir a outro patamar. E assim foi. Nem Villa nem Sneijder marcaram. Os minutos decorriam no Soccer City. Quando o jogo terminou, os espanhóis festejaram. E Muller também. Afinal, a Bota de Ouro, esse prémio que todos os avançados veteranos almejam, tinha parado nos pés do mais jovem e inexperiente dos candidatos. Daquele que sempre acreditou.

Thomas Muller é um jogador completo mas com uma imensa margem de progressão. Num mês causou mais impacto que estrelas de outras galáxias, como Cristiano Ronaldo ou Leo Messi, que já vão no seu segundo Mundial sem deixar uma retrato tão impactante e apaixonante como o teutónico. Os próximos anos serão fuclrais na afirmação desportiva do mais jovem goleador de um Mundial de Futebol desde os dias de Pelé. Numa palavra, inimaginável. 


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publicado por Miguel Lourenço Pereira às 12:46 | link do post | comentar

Segunda-feira, 12.07.10

O rei que ninguém esperava subiu ao palco para ser coroado como o melhor. O mais improvável entre os candidatos reais ao ceptro. Do lado de lá do mar de la Plata há outro Diego capaz de levar um povo à loucura. De pegar num país às costas e carregá-lo rumo à história. Diego Fórlan foi eleito pela FIFA como o Melhor Jogador do Mundial de 2010. É dificil contrariar a votação. Este Diego também é mágico...

Quando se estreou em 2002 num Mundial de Futebol, o jovem avançado Diego Fórlan apontou um golo memorável.

Estava longe de imaginar que teria de esperar oito anos para repetir a dose. A longa ausência do Uruguai da elite do futebol remonta há quarenta anos. Falhou o apuramento para o Mundial de 2006 quando o avançado, então ao serviço do Villareal depois de um periodo menos bem sucedido no Manchester United, estava na máxima forma. Tinha ganho a Bota de Ouro, chegado com o pequeno clube valenciano às meias-finais da Champions League. Mas não teve outro remédio do que ver o Mundial desde casa. Longe do relvado.

Desta vez não houve desencontros. Noutro ano mágico, com vitória na Taça UEFA - e golo decisivo incluido na final - ao serviço de outro clube espanhol, desta feita o Atlético de Madrid, o dianteiro charrua, conhecido pela afficion colchonera simplesmente como o "uruguayo", voltou a um palco global. Na África do Sul deu cartas do primeiro ao último dia. O seu nome foi uma figura omnipresente na prova, ofuscando todos os outros jogadores do seu continente. Nem Kaká, nem Maicon, nem Julio César, nem Robinho, nem Messi, nem Aguero, nem Tevez, nem Barrios...ninguém da América do Sul esteve ao mais alto nível na prova sul-africana. Ninguém, excepto Fórlan. O herói do povo de um país com 3 milhões de habitantes e uma história de amor com o futebol dificil de explicar.

 

Se no primeiro dia de prova Forlan não conseguiu bater Hugo Lloris, a verdade é que desde aí só falhou por duas vezez o seu encontro com as redes.

Apontou um total de 5 golos, tendo entrado directamente na lista dos melhores marcadores do torneio, perdendo a Bota de Ouro para o jovem Thomas Muller por uma mera questão de minutos. Destroçou a África do Sul, com dois golos chave, foi um quebra-cabeças para a defesa mexicana e contra a Coreia do Sul não marcou mas foi chave na parceria com o seu jovem sucessor, Luis Suarez. No duelo épico contra o Gana, Fórlan remou sozinho contra um continente. Marcou, como só ele sabe, de uma forma sublime, o golo do empate do Uruguai. E na marcação das grandes penalidades não tremeu. Cumpriu com o seu designio. Tremeu ao ver "el Loco" Abreu picar a bola e festejou o regresso dos sul-americanos a uma meia-final. Desde os dias do seu pai, um dos jogadores mais influentes da equipa uruguaia dos anos 60 e 70, que nenhuma formação celeste tinha tido a oportunidade de jogar uma semi-final. Nesse duelo com a Holanda mecânica voltou a dar a cara. Marcou quando os holandeses já festejavam e só uma lesão, inoportuna como todas, o atirou demasiado cedo para o banco, deixando-o a sofrer quando o golo de Maxi Pereira devolveu a esperança a um povo que não acreditava que a sua equipa podia ir tão longe. Com este Diego, tudo é possível. Até fazer tremer a toda poderosa Alemanha. Com mais um golo seu. O quinto do torneio, o seu sexto - e provavelmente último - num Mundial FIFA. A história de amor do charrúa com o golo continuará este ano, previsivelmente, uma vez mais nos relvados espanhóis. Mas com um apetecido embrulho. Nem Sneijder (segundo), nem Villa (terceiro), nem os alemães Schweinsteiger e Muller, ou o ganês Gyan. Nenhum foi capaz de roubar a Fórlan o único prémio que ele não esperava ganhar. Talvez por isso, pela sua alegria contagiante, tenha sido ele o que mais o mereceu.

Com 31 anos Diego Fórlan é um mito do futebol sul-americano, entrando para a galeria das figuras inesquecíveis do futebol uruguaio, orfão de um nome impactante desde os dias de Enzo Francescoli. Mas nem ele, o homem que ensinou Zidane a jogar, conseguiu criar uma empatia com o golo, e com o público, como o dianteiro de Montevideo. Só os mais velhos se lembrarão dos Ghiggia, Schiaffino ou Varelas do passado. Os mais novos nunca esquecerão o cabelo louro ao vento de um dianteiro que levou a festa para um pequeno país, esmagado entre dois gigantes, mas com um coração de ouro e uma coragem de ferro. Como ele. 


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publicado por Miguel Lourenço Pereira às 18:01 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Depois de décadas de desilusões, Espanha acertou contas com a história. Mais importante, saldou as dúvidas que tinha consigo mesma. Num jogo pobre, como a maioria dos encontros do Mundial, os espanhóis fizeram prevalecer a sua mentalidade colectiva sobre a incapacidade dos holandeses de contrariar o seu modelo de jogo. Um titulo mundial pertence a quem o merece. Espanha fez por merecê-lo, principalmente porque obrigou os rivais a abdicarem da sua identidade. Foi a chave de uma campanha histórica que coroa uma das mais espantosas gerações da história do futebol.

O drama envolto no remate cruzado de Andrés Iniesta atirou para a borda da loucura a 48 milhões de espanhóis.

Pela primeira vez, e depois de tantos, mas tantos tropeções, La Roja fintou o destino aziago e marcou o golo da sua vida. Como durante todo o Mundial, um golo bastou. Um golo nos últimos minutos do prolongamento. Um golo depois de muitas dúvidas e sofrimento. Assim foi a evolução de uma equipa que começou o Mundial a perder e que nunca ganhou de forma convincente. O Mundial não é ganho necessariamente pelo melhor. É ganho que por quem o merece. Espanha mereceu-o mesmo sem nunca ter sido a equipa espectacular dos últimos anos. Perdeu em eficácia e espectáculo o que ganhou em fortaleza mental e capacidade de sofrimento. Uma equipa que vale por todos. Uma equipa onde cada jogador é fulcral. Na noite de ontem, uma vez mais, honras repartidas. O génio de Casillas salvou a equipa. A raça de Iniesta, rematou a história. Pelo meio fica a impressão de que este é um dos mais completos plantéis campeões do Mundo de sempre. Dos 23 convocados, só três (Albiol, Valdés e Reina) não jogaram. E todos os outros foram peças nucleares na estratégia de Del Bosque. Ontem Torres e Fabregas, suplentes, armaram o golo de Iniesta. Um banco determinante foi sempre fulcral para o sucesso desta equipa. Ontem, no Soccer City, não foi diferente.

Espanha jogou igual a si mesma. Com a bola nos pés, adormecendo o jogo do rival, que rapidamente abdicou da sua estratégia para seguir o caminho oposto da Alemanha. Se o bom futebol dos germânicos se transformou num jogo medroso, o bom futebol dos holandeses deu passo ao jogo duro, violento até, que já tinham apresentado em 2006 contra Portugal. Se a arbitragem de Howard Webb mediu o fracasso da FIFA nesse apartado durante toda a prova, a falta de classe da Holanda, determinou o desenrolar do encontro. A Laranja Mecânica preocupou-se sempre mais com o não deixar jogar, esperando um rasgo de génio de Arjen Robben. Por duas vezes o extremo esteve perto de entrar na história. Acabou por sofrer o mesmo amargo destinod e Cruyff ou Resenbrink. Embatar contra o muro da derrota.

 

Num jogo pobre, sem a chispa mundialista que tanto falta fez durante o último mês, a Espanha aguentou fileiras. E venceu bem.

A vitória desta selecção é justa, nem que seja pelo facto de consagrar a maior geração da história do desporto espanhol. Este colectivo mereceu o triunfo. Mudaram a mentalidade do jogador espanhol, mudaram o modelo de jogo da equipa e mudaram também o olhar que o mundo tem deles. As genuínas lágrimas de Iker Casillas, o santo de serviço, ou a dedicatória sentida de Iniesta, são espelho do espantoso ambiente que rodeia o relvado. A melhor geração da história espanhola culmina assim dois anos históricos, sumando ao Europeu o triunfo no Mundial. Algo que antes só as melhores gerações da Alemanha (72 e 74) e França (98 e 2000) tinham logrado.

O triunfo termina também com uma divida antiga. A Espanha era a única grande potência que ainda não tinha a estrelinha de campeã na lapela. Holanda, Rússia ou Portugal não podem ambicionar estar no mesmo patamar de um país com uma das ligas mais poderosas do Mundo, com uma população de quase 50 milhões e uma indústria desportiva preparada até ao mais minimo detalhe. Se os árbitros, o azar ou a incompetência dos jogadores tinham ditado sentença em edições anteriores, desta feita tudo o que podia correr bem, correu melhor. Del Bosque demonstrou que o trabalho de Aragonés acentou mais na escolha do colectivo do que no génio táctico. Foi um pastor de homens, não um general. E soube desaparecer quando percebeu que o palco tinha de ser de quem o realmente merecia. Se há técnicos que sabem que são os artifices do triunfo, também os há que têm consciência de que são apenas uns afortunados. Vicente del Bosque conhece bem o grupo a que pertence. A noite de ontem, com mais posse de bola, mais remates, mais ocasiões e mais sofrimento, foi toda da equipa espanhola. O triunfo acabou por se tornar apenas numa mera formalidade, que não deixou de vir sem sofrimento. Espanha teve as ajudas arbitrais que todos os campeões precisam. Teve a dose de sorte certa nos momentos certos. Teve os nervos de aço para superar os momentos em que eram suplantados pelos rivais. E força mental para decidir todos os jogos pela minima. Nunca saiu do intervalo a ganhar, mas também nunca entrou a perder. Sofreu dois golos em toda a prova, um recorde. Marcou apenas quatro na fase a eliminar. O suficiente. Pouco para a história, muito para uma equipa esfomeada de titulos.

O Mundial 2010 fecha as portas com a vitória de um campeão anunciado. Durante três semanas o Mundo fez contas e tentou perceber como poderia esta Espanha perder. Não podia. Sofreu, fez sofrer, deslumbrou pouco, marcou menos e não ajudou a levantar o nivel da edição mais pobre em 20 anos. Mas no final sagrou-se campeã do Mundo. Para a história ficam os nomes, os frames, os gritos. A partir de amanhã o titulo já não vale nada. Mas durante hoje Espanha ganhou o direito a parar. É assim que se escreve a história do futebol.


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publicado por Miguel Lourenço Pereira às 08:36 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Sábado, 10.07.10

Não é preciso esperar pela final que consagrará um campeão inédito para encontrar o 11 ideal do Mundial 2010.

Um Campeonato do Mundo demasiado pobre, demasiado estático, sem emoção e jogos para entrar na galeria dos momentos mais altos do futebol. Mas, mesmo assim, com alguns jogadores a exibirem-se ao mais alto nível. Uma eleição complicada, com algumas exclusões naturalmente injustas. É assim tudo na vida, até no futebol!

 

 Eduardo

 

Apesar de ter saído demasiado cedo, foi o guarda-redes mais espectacular da prova. Sem patriotismo. Eduardo exibiu-se a um altissimo nível nos três jogos onde foi chamado a intervir (e também nos momentos iniciais da goleada à Coreia do Norte). Frente ao Brasil esteve particularmente acertado, revelando uma tranquilidade inesperada. No duelo final contra a Espanha saiu derrotado pelos erros defensivos dos colegas, porque até o primeiro remate de Villa soube parar. Um desperdício que nenhum grande da Europa se atreva a contratá-lo. Fica o Genoa a ganhar.

Philip Lahm

 

Imenso até ao jogo decisivo. Tal como em 2008 o lateral direito germânico revelou-se uma verdadeira máquina defensiva, até que encontrou os espanhóis. Se então ficou muito mal na fotografia, desta vez foi apenas mais um dos inofensivos germânicos. Mas até lá foi um verdadeiro regalo aos olhos. Fundamental nas transições com Muller e Schweinsteiger, o capitão germânico tornou-se num terceiro médio, provocando os desiquilibrios que destroçaram todos os rivais alemães até à fatídica meia-final.

Fábio Coentrão

 

A grande revelação da prova (para os que já conheciam Muller).

Carlos Queiroz confiou-lhe a titularidade, depois de Jorge Jesus ter operado uma verdadeira mutação táctica no jovem extremo que baixou a lateral. Se no jogo inicial foi lutador, mas contido, contra a Coreia do Norte revelou-se o elemento mais desiquilibrante do ataque luso. Face ao Brasil aguentou a dificil tarefa de marcar Maicon e Dani Alves. Mesmo contra a Espanha foi batalhador e eficaz no duelo directo com Iniesta e Sérgio Ramos. A sua transferência é mais do que merecida. É inevitável.

Gerard Piqué

 

Continua a dar provas de que é, sem dúvidas, o melhor centro do Mundo. E talvez o melhor de uma geração.

Foi essencialmente graças ao seu esforço que a equipa espanhola chegou à final como a defesa menos batida da prova. Teve culpas no golo da Suiça, no jogo inaugural, mas a partir daí não voltou a cometer um solo erro. Tragou o ataque chileno, as investidas paraguaias, o jogo de Cristiano Ronaldo e o posicionamento de Klose. Tudo sem perder a classe que o caracteriza, a forma solta como sai a jogar e é o primeiro a lançar o ataque. Completissimo, Piqué é alma e coração da defesa espanhola, um verdadeiro colosso imbatível.

Diego Lugano

 

A sua ausência no jogo da meia-final fez-se notar. Diego Lugano foi durante toda a prova um farol para o conjunto do Uruguai.

O central celeste foi cerebral na manobra defensiva de uma equipa muito segura, que passou da primeira fase sem conceder um só golo. Marcação implacável, soltura com a bola nos pés, velocidade nas transições. Tudo isso foi Lugano durante quatro jogos. No duelo contra a Coreia do Sul esteve uns furos abaixo da sua melhor forma mas ressuscitou de forma impressionante contra o Gana. Confirmou ser um digno herdeiro da velha escola de eficácia defensiva sul-americana.

Sebastian Schweinsteiger

 

Se a Alemanha tivesse ido à final, estariamos sem dúvida a falar do MVP do torneio.

A transformação do médio alemão é um dos fenómenos desportivos do ano. Louis van Gaal pegou no extremo veloz mas sem precisão e transformou-o num médio volante de exímia qualidade. Todo o bom jogo alemão saiu dos seus pés. A raça e a luta que sempre o caracterizaram uniram-se agora à destreza e rápida leitura de jogo. Fulcral no movimento trás para a frente da Mannschaftt, o médio assistiu e fez brilhar os colegas. Faltou-lhe o golo e o toque de mestre no jogo com a Espanha, onde, em inferioridade númerica, perdeu a luta do meio-campo. Outra vez.

Xavi Hernandez

 

Poucas palavras existem para descrever Xavi Hernandez.

Há vários anos que o seu estilo de jogo senta cátedra no futebol mundial. Um elemento que tem um acerto de 85% de todos os seus passes no Mundial (mais de 2 mil passes certos em seis jogos) e que pauta todo o jogo de uma equipa a seu belo prazer, só pode ser bom. Xavi é genial. A escola de jogo horizontal do Barcelona, que Espanha copiou em 2008 e desde então tem utilizado a gosto, é sua. Falta-lhe a coragem para marcar, essa obsessão com o último passe que destroçou a maioria das defesas na prova, desde o Chile a Portugal, passando por Paraguai e Alemanha. Aos 30 anos está no zénite da sua forma, consagrado como o mais completo jogador do futebol mundial. Porque sem Xavi esta equipa espanhola era um conjunto absolutamente vulgar. De isso não sobra nenhuma dúvida. 

Thomas Muller

 

Os mais distraidos, como Maradona, não conheciam Muller. Passaram a conhecer.

O extremo direito que Van Gaal resgatou da equipa B do Bayern Munchen para lançar ao estrelato, explodiu na Alemanha. Foi o melhor jogador jovem da prova, uma verdadeira lufada de ar fresco. Quando falhou Muller, falhou a Mannschafft. Mais claro, impossível.

Marcou quatro golos, um registo de sonho para um estreante de 20 anos, e assistiu para outros dois. Foi chave na transição ofensiva e fez com Ozil e Schweinsteiger, um trio inesquecível. O seu descaro arrasou com Inglaterra e Argentina. A sua ilusão faltou quando era mais necessária, fruto de um desses cartões amarelos que mancham um Mundial muito pobre em arbitragens. Merecia mais.

David Villa

 

É avançado mas passou o torneio descaído no flanco esquerdo. Onde se revelou letal.

David Villa é há quatro anos o avançado mais em forma do futebol espanhol. Perde em poder mediático para Fernando Torres, mas ganha em eficácia. Foi o melhor marcador do último Euro e parte amanhã para um duelo a quatro com Klose, Muller e Sneijder pelo titulo de melhor marcador da prova. Já tinha marcado por quatro vezes em 2006 e foi peça chave para as vitórias pela minima da equipa espanhola contra Portugal e Paraguai. Fundamental pelos golos e pelo trabalho fisico imenso, a nova contratação do Barcelona (que inteligentemente fechou o negócio por 40 milhões antes da prova) está em estado de graça. Um dos nomes próprios da prova.

 

Wesley Sneijder

 

O MVP do torneio. Passe o que passar.

Ver jogar Wesley Sneijder este ano é uma delicia a que poucas vezes os adeptos têm direitos. Se fosse um jogador com maior marketing (leia-se Zidane ou Xavi), o Mundo tinha perdido a cabeça com a época deliciosa do holandês. Ganhou tudo o que havia para ganhar num clube que não ganhava na Europa há 45 anos. Depois pegou aos ombros na selecção holandesa e fez o que nem Gullit ou Bergkamp lograram. De volta à final de um Mundial. Quer perca ou ganhe, esta prova será sempre a do carequinha holandês, com um disparo irreverente, um sentido de oportunidade imenso e um espirito de grupo fulcral para o modelo de jogo aplicado pela Holanda mais mecânica.

Diego Forlan

 

Quem imaginaria que o Uruguai, aquela equipa que os mais novos só conhecem dos livros de história, poderia voltar a chegar às meias-finais de um Mundial, 40 anos depois? Nem os 3 milhões de uruguaios se atreveriam a tanto. Só Fórlan acreditava. E acreditou sempre. O dianteiro do Atlético de Madrid, fulcral na vitória da Taça UEFA este ano, foi um verdadeiro diabo à solta neste Mundial. O seu remate certeiro destroçou o sonho sul-africano e a esperança ganesa. O seu jogo colectivo anulou o meio-campo francês e a intempestiva Coreia do Sul. Mesmo contra a Holanda, quando todos pensavam que a missão estava cumprida, Fórlan fez os seus sonhar. Um pouco mais. Sem o glamour de outras estrelas sul-americanas, o dianteiro foi o verdadeiro herói do continente, demonstrando que o Manchester United perdeu há seis anos um grande goleador. E que o Uruguai tem nele um seguro de vida em quem confiar.

 

Suplentes (de luxo)

 

Vincent Eneyema

 

Caiu na primeira fase, é certo, mas é impossível não ficar apaixonado pelo estilo do guardião nigeriano, capaz de tudo para evitar o golo. Sofreu dos efeitos da mitica Jabulani, teve de lidar com o Messi mais endiabrado, mas mesmo assim ultrapassar Eneyema foi um verdadeiro pesadelo para qualquer jogador que se colocasse à sua frente. Foi talvez - a par de Gyan e Ayew - o melhor africano do torneio. E joga em Israel. Impressionante.

 

Maicon

 

Foi o melhor defesa de toda a primeira fase. Um jogador imenso, acabado de chegar de uma temporada inesquecível, capaz de quebrar barreiras como sempre se apreciou na escola de laterais ofensivos brasileiros. Abriu o ferrolho contra a Coreia do Norte, foi peça nuclear frente à Costa do Marfim e funcionou sempre bem quando conectou com Dani Alves nos dois duelos seguintes. Um jogador imenso que acabou por ser o melhor do escrete canarinho em toda a prova.

 

Carlos Salcido

 

Os mexicanos ainda têm aquele golo em offside atravessado. Salcido, provavelmente, o que mais. O central transformado em lateral esquerdo do México foi um dos nomes próprios deste Mundial. Os seus temerosos remates de meia distância mereciam melhor sorte. A sua eficácia a defender garantiu que, pelo seu lado, o México esteve sempre tranquilo. Implacável a defender, aplicado a atacar, nunca falhou e raramente comprometeu.

 

Leo Messi

 

Dos astros globais que chegaram à África do Sul, é dificil não sair com uma imagem decepcionante. Apesar de não ter marcado, Messi tem pelo menos o mérito de ter sido o que melhor imagem deixou. O argentino foi transformado em número 10 por Maradona e cumpriu. Por ele passou todo o jogo da Argentina. Defensivo e ofensivo. Jogou demasiado longe da área, mas mesmo assim tentou os dribles e remates que o caracterizam. Saiu vergado por uma derrota humilhante e com a certeza de que não é tanto como a imprensa espanhola nos quer fazer crer. Mesmo assim lutou até ao fim.

 

Arjen Robben

 

Nesta selecção holandesa a estrela é Sneijder. Mas Robben é fulcral. Não jogou os dois primeiros jogos. Quando se viu recuperado da lesão, percebeu-se a sua importância. Fulcral na vitória frente aos Camarões e no duelo com a Eslováquia, o extremo do Bayern, que tal como o colega foi descartado pelo Real Madrid para arrancar para uma época de sonho, foi também fulcral nos duelos contra Brasil e Uruguai. A sua fortaleza fisica impede-o de atingir outro patamar mas a sua versatilidade e estilo de jogo é já legendária. Um jogador insubstituível.

 

Keisuke Honda

 

O salto qualitativo do futebol asiático nesta década tem sido evidente. Se a Coreia do Sul leva clara vantagem, o Japão provou que está também num patamar interessante. Keisuke Honda, máxima revelação oriental dos últimos anos, é a prova viva. Arrancou o ano num clube do meio da tabela holandês (VV Venlo), em Janeiro mudou-se para o CSKA Moscow, tendo sido chave no duelo contra o Sevilla. Chegado o Mundial, Honda pegou na batuta da equipa nipónica, confirmou categoricamente um apuramento improvável, com bom futebol incluido, e só caiu quando a defesa paraguaia o cercou por completo e o afastou dos colegas. Vai a caminho de converter-se no melhor jogador japonês da história.

 

Miroslav Klose

 

Está a um golo (falta-lhe o jogo de hoje) de igualar Ronaldo como melhor marcador de sempre da história dos Mundiais. Falhou no jogo contra a Sérvia (expulso) e falhou no jogo contra a Espanha (anulado por Pique) e a equipa germânica perdeu ambos os jogos. É essa a relação entre o dianteiro e a eficácia ofensiva da sua equipa. Hábil a mover-se entre os centrais, o avançado apontou cinco golos de belo efeito, confirmando-se como um especialista em Mundiais de futebol. A história deve-lhe o golo que lhe falta.

 


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publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:11 | link do post | comentar | ver comentários (4)

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