Segunda-feira, 20.02.12

As lágrimas de Angelo Palombo no final do último jogo da Sampdoria da passada temporada foram um dos momentos icónicos do ano desportivo. Meio ano depois o capitão da Samp deixou o clube que jurou defender até ao fim e voltou à ribalta. É a ultima oportunidade para um dos melhores médios italianos da última década, o último comboio rumo ao estrelato que nunca encontrou no mitico Luigi Ferraris.

 

Viajou à África do Sul e sofreu na pele a paupérrima imagem deixada pela Azurra no Mundial de 2010. Podia ter sido o seu torneio, mas não havia condições para que um jogador italiano tivesse sucesso numa espiral assumidamente destructiva. O annus horribilis que se seguiu em Genova pareceu dictar sentença sobre o destino de Palombo.

Em 2002 a jovem promessa que a Fiorentina tinha contratado em idade de juvenil foi vendido por uma módica quantia a uma Sampdoria que militava então na Serie B. O destino quis que uma década depois fosse nessa divisão que Palombo se despedisse do seu clube do coração. Durante  esse imenso periodo de tempo foi a alma mater de um projecto de altos e baixos que quase logrou o céu, leia-se Champions League, e acabou por cair nas trevas inesperadamente depois de um péssima acto de gestão desportiva do presidente, Ricardo Del Ara, ao dispensar Antonio Cassano quando o clube ainda não militava nos postos de despromoção. Palombo transformou-se no tipico médio italiano de baixo perfil mediáticomas profundamente influencial na manobra de jogo da equipa. Os anos transformaram-no num inteligente box-to-box, poderoso remate, excelente controlo de bola e acima de tudo, um espirito de liderança inimitável. Cresceu ao lado de Volpi no coração do Luigi Ferraris e ganhou o carinho dos adeptos e o respeito de cada corpo técnico que chegava e partia. 

 

Em 2005 ajudou a Samp a chegar às provas europeias pela primeira vez numa década, capitaneando o conjunto numa impecável temporada na Serie A. Começou a ser convocado por Roberto Donadoni para a Squadra Azurra e foi elemento integrante da equipa que se apurou para o Euro 2008 e o Mundial de 2010, mas sem conseguir establecer-se como titular ao lado de Gennaro Gattuso e Andrea Pirlo, elementos nucleares da então campeã do Mundo.

Durante vários anos foi tentado pelos grandes de Milão, mas manteve-se fiel ao projecto da Samp, sendo recompensado em 2008 com a braçadeira de capitão, titulo que manteve durante quatro anos. Ao lado de Andrea Poli, em 2010, realizou a sua melhor temporada, um ano de pura épica que entrou para a história do clube. Aos 29 anos parecia que, finalmente, o destino lhe ia proporcionar um bilhete dourado para os grandes palcos da Europa. Os seus golos e assistências de última hora foram os catalizadores de uma parceria letal com o duo de ataque Cassano-Pazzini no 4-3-3 desenhado por Del Neri. Um ano e meio depois de realizar a melhor época desde o titulo de 1991 nenhum dos três continua em Genova. Palombo manteve-se ao leme do navio durante o inicio desta temporada, mas no último dia de Janeiro chegou uma oferta irrecusável do Inter, um empréstimo de meio ano com opção de compra. Uma última oportunidade de brilhar.

 

Palombo representa o perfil exacto e certeiro do jogador low profile que contraria a tese de que o Calcio é um ninho de jogadores sem classe e técnica. O actual médio neruazurri viveu a última década a reinvindicar o perfil do tuttocampista, capaz de defender e atacar como o melhor defesa e o melhor atacante, nunca desistindo de uma bola, nunca resistindo ao mais intenso cansaço. O Luigi Ferraris sente-se hoje mais orfão que nunca.  Jogadores como Palombo podem vender poucas camisolas mas cosem muitas almas!


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Quinta-feira, 16.02.12

O Real Madrid deve toda a sua fama a um só jogo. O primeiro grande épico europeu visto maioritariamente por quem tinha televisor na Europa Ocidental à época. Sessenta anos depois, mais do que nunca, a mitologia futebolistica é definida inexoravelmente pelo poder da televisão e da curta memória que há se transformou no espelho desta sociedade.

 

Messi é o melhor jogador da história.

Pudera! Cada lance seu é visto em primeiro, segundo, terceiro plano, em movimento, em 3D, a cores e alta definição. Desliguemos agora o modo irónico antes que pensem que falamos a sério. O génio do argentino é único, mas o seu papel na história do jogo deve muito ao poder das novas tecnologias, da era dos twitters, facebooks, HDs e 3Ds.

A televisão, sempre a televisão, define os padrões de qualidade e superioridade de uns sobre os outros. A mitologia moderna não se baseia na palavra escrita ou perdida no tempo. É escrava da imagem. Messi é escravo da sua própria imagem da mesma forma que o Real Madrid ainda sobrevive no inconsciente humano pela força inequivoca das suas camisolas brancas brilhantes naquela tarde em Glasgow. A televisão provocou um antes e depois na sociedade ocidental e o futebol como espelho perfeito do mundo em mutação viu-se inevitavelmente presa à mesma realidade. A memória deixou de fazer sentido se não for acompanhada de um clip de video subido ao You Tube. Hoje não há ninguém que escreva sobre futebol que não se limite a repetir a mesma ladainha que foi vendida com imagens coladas à lapela. Pelé, Maradona, Cruyff e Di Stefano, o quarteto imenso. Real Madrid, Ajax, Liverpool, Milan, Manchester United e Barcelona, as seis equipas mais emblemáticas nos últimos 60 anos. Consequências directas da popularização do espectro televisivo. A memória deixou de ser algo valorizável. Quem a tinha e quem presenciou outros tempos foi morrendo e o seu testemunho recolhido por uma infinita minoria, ostracizada por aqueles que se agarram à imagem como um jesuita à cruz. Os mitos do passado não televisado deixaram de existir, a história foi despromovida à condição de anedoctário e os heróis a cores suplantaram os a preto e branco da mesma forma que os Messi a 3D parecem mais que os Maradona de planos únicos de camara.

 

Alfredo Di Stefano, génio que chegou ao final da sua carreira quando a televisão estava apenas a dar os primeiros passos, entrou nesse top 4 quase como por gesto de condescendência.

Nenhum jovem de menos de 40 o cita sem ser por pura imitação snob e pretenciosa e nem mesmo Messi ou Maradona, seus conterrâneos, o têm como referência. Nessa tarde ele manobrou à vontade, como sempre, o jogo colectivo do Real Madrid. Marcou um hat-trick (Puskas marcou um poker) e entrou nesse imaginário televisado por pouco. Quem o viu jogar diz dele maravilhas que nem as imagens seriam suficientes para ilustrar vários clips de best of, desses que fizeram das corridas de Ronaldo, das roletas de Zidane, dos bailados de van Basten ou os remates de Cristiano Ronaldo, imagens de marca internacionais. O hispano-argentino, pouco dado a falsas modéstias, no entanto sempre defendeu que ele nunca foi tão bom como Pedernera e Labruna, os mentores de La Maquina, da qual restam poucas imagens em video. Outros sobreviventes de eras pretéritas falaram da aura de grandeza de Sindelaar, Meazza, Friedenreich, Piola, Finney e Hidegkuti como génio tão brilhantes como os Cruyff, Baggio, Romários, Keegans e van Basten que se seguiram. Mas sem video ninguém acredita que o génio fosse algo real quando os relatos radiofónicos ainda eram a excepção, e não a regra. O futebol homérico, inspirado em descrições e metáforas mitológicas, para a maioria dos espectadores e analistas actuais é puro folclore. Não conta, não existe, não faz sentido.

 

Esses são os mesmos que vivem sem entender que o impacto do Brasil de 70 deve-se tanto ao génio dos seus jogadores como ao facto da camisola amarela estridente ter sido vista, pela primeira vez, em televisores a cores, debaixo do calor asfixiante do meio-dia mexicano. Os mesmos que exaltam o presente e votam no “flavour of the month” por cima de nomes ilustres que nunca viram ou quiseram ver. Os que reduzem a mitologia futebolistica ao poder da televisão e esquecem-se de que o jogo já era centenário quando os aparelhos começaram a invadir os lares da Europa. Acreditar que o génio, a arte, o talento só existem porque passou na televisão é tão néscio como pensar que qualquer tempo pretérito é melhor que o actual. Entre esses dois mundos, essas duas filosofias, encontraremos certamente a virtude. O problema é que muito poucos se dão realmente ao trabalho de a procurar.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 15:25 | link do post | comentar | ver comentários (10)

Sexta-feira, 11.03.11

Poucas equipas jogam tão bem na Ligue 1 como o modesto Sochaux. Uma verdadeira revolução dos pequenos e jovens liderada pelo ritmo frenético e criativo de Marvin Martin, o anti-diva do futebol gaulês. Numa época em que a França procura rapidamente limpar as feridas do corte geracional com a sua idade dourada, muitos acreditam que é Martin o porta-estandarte de uma nova vaga de jogadores que ainda sobem ao relvado pelo prazer de jogar.

 

 

 

Não deixa de ser um miudo de 22 anos. E relembra-o constantemente. Joga a consola, compra roupa nas lojas mais acessiveis e usa orgulhosamente nas costas o número 14, o mesmo do seu "arrondisement", o bairro social onde cresceu em Paris. É um filho da capital que, como tantos outros, teve de ir buscar a sua sorte na provincia. Apesar da sua profunda paixão pelo PSG - era um adepto fervoroso que não perdia um jogo - hoje a sua equipa joga mais a sul e pode mesmo roubar aos parisinos um posto na Europe League da próxima época. E graças aos seus momentos de magia.

Marvin Martin é diferente. Ao contrário de Samir Nasri ou Yohan Gourcouff, os ungidos herdeiros de Zidane que ainda não deram o salto definitivo, nunca quis viver sobre o estrelato de grandeza. É ambicioso como poucos mas sabe que a sua carreira seguirá as etapas naturais que o próprio Zizou ou o alemão Ozil, com quem tanto lhe comparam ultimamemte, foram queimando. Prestes a ser convocado pela primeira vez por um Laurent Blanc que já reconheceu que vê nele algo "distinto", Martin continua a ser o miudo de bairro que desfruta tanto do jogo como quando corria as ruas do seu bairro com a bola colada aos pés. Em Sochaux, terra da Peugeot que criou e patrocina ainda hoje o clube local, é uma estrela. Mas para o resto da França ainda é um relativo desconhecido. Um pais onde as equipas da provincia ainda criam pouco impacto na comunicação social e que se divorciou da selecção depois do triste espectáculo que viveu na África do Sul. É dificil imaginar Martin no papel do rebelde Anelka.

 

No miolo do terreno de jogo sente-se em casa. Pauta o ritmo de jogo, acelera, desmarca, finaliza.

É um jogador completo a quem só o fisico parece travar para dar o salto para outro nivel. Os olheiros dos grandes clubes da Europa nunca o tiveram debaixo do radar. Fizeram mal. Com o técnico Francis Gillot tornou-se num must see do futebol europeu. Em Sochaux, onde chegou em 2002 com apenas 14 anos, cresceu. Juntamente com o franco-argelino Ryad Boudebouz, Sloan Privat e Geoffrey Tulasne tornou-se no menino dos olhos do clube da cidade. As saídas de Jeremy Menez e Mevult Erdinç, dois amigos com quem partilhou horas de jogos de consola, e do veterano Stephane Dalmat fizeram com que o técnico lhe entregasse batuta da equipa. A aposta funcionou. O Sochaux, que na época passada esteve perto de ser despromovido, é agora o quinto classificado da Ligue 1, colocado nos postos europeus e a poucos pontos da Champions League. É também a equipa que melhor futebol pratica, se nos esquecermos por um momento do Lille de Rudy Garcia. E isso não é um mero acaso.

O ritmo de Martin é fundamental para que o jogo de passe e toque dos jovens amarelos funcione. Martin começou a marcar e a assistir como nunca este ano e a sua parceria com a dupla de atacantes, os também jovens Ideye Brown e Modibo Maiga, funcionou. O Sochaux não é só uma das equipas mais jovens do torneio. É também das mais eficazes. 

É expectável que a estância do jovem em Sochaux não dure muito. A chamada de Blanc à selecção confirmará a sua consagração nacional e isso, hoje em dia, significa que os falcões europeus estarão de olhos bem abertos. O exemplo de Ozil, resgatado ao Werder Bremen por apenas 17 milhões de euros pelo Real Madrid está bem vivo. E com o mercado em sérios problemas, é previsivel que jogadores jovens e baratos como Martin sejam verdadeiras pérolas preciosas. Além do mais, o estilo de jogo de toque popularizado pelo Barcelona, e onde Xavi brilha por cima dos demais, fez os clubes voltarem a interessar-se por um tipo de jogador que, segundo o próprio médio catalão, parecia estar em vias de extinção.

 

 

 

A verdade é que Marvin Martin tem todas as condições para triunfar. Não tem pressão, tem talento e faz parte de uma raça de jogadores rara e altamente cobiçada. O seu sucesso actual em Sochaux é apenas o primeiro capitulo de uma história que no final poderá perfeitamente tornar-se num fabuloso destino para o filho mais ilustre do banlieu 14.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 15:40 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Quarta-feira, 16.02.11

Milão é uma cidade cinzenta iluminada no Inverno pelo branco do cume dos Alpes e pela cor que os mais ousados estilistas pintam na sombra da sua célebre passarela. É uma cidade sem rasgo e com uma história de conflictos suficientes para explorar em largas sessões de psicanálise. Acima de tudo é, hoje em dia, uma cidade desencontrada. Como Gattuso. Como o AC Milan. Como o próprio Calcio.

 

 

 

Joe Jordan foi um dos primeiros jogadores britânicos a dar o salto à liga italiana. Nunca foi uma estrela,mas deixou uma grata recordação como profissional dedicado numa época em que a cidade de Milão estava longe de ser o centro do futebol italiano. Gennaro Gattuso é um simbolo do futebol italiano que poucos admiram e muitos não querem ver. A popular Frikipedia diz que o médio de 33 anos joga na posição de "assassino centro". Ontem, num jogo feio, sujo e violento, "Gattu" pareceu lembrar-se mais das suas origens, a agreste Calabria no sul de Itália, do que no prestigio internacional de um clube que pode ostentar mais titulos do que nenhum outro clube no Mundo, salvo o Real Madrid.

Mas este AC Milan há muitos anos que deixou de ser o clube de Rivera, Baresi, Maldini ou van Basten e passou a ser o clube de Gennaro Gattuso.

Uma realidade que tem vindo a ganhar força à medida que passam os anos e o clube perde as suas referências. Hoje dificilmente encontrarão algum jogador do plantel do clube milanês que se lembre de ver Jordan jogar como rossonero. E isso que foi algo que sucedeu há sensivelmente três décadas. A memória perde-se num clube entregue a si mesmo e sem um rumo certo.

Talvez a culpa nem seja de Gattuso, jogador que ontem, em pleno duelo europeu (ele que tem duas Champions League, 1 Mundial, 1 Intercontinental e uma Serie A, a única do clube na última década) contra o Tottenham Hotspurs, simplesmente foi igual a si mesmo. Foi o AC Milan que mudou. E drasticamente. Há 20 anos ocupava o lugar hoje exclusivo do Barcelona: a grande referência mundial. Em 2011 é apenas o lider de uma liga que não vence há sete anos e uma equipa de segunda linha europeia que, segundo a maioria dos analistas, teve a sorte do seu lado nas três finais europeias que disputou na última década (venceu duas).

 

Não é coincidência que o mesmo dia em que Gattuso perdeu a cabeça (outra vez), Silvio Berlusconi tenha visto a sua prender-se ao cadafalso (outra vez). O primeiro-ministro italiano é, ainda, a máxima referência do AC Milan. Foi ele que resgatou o clube das sombras, em meados dos anos 80, e foi ele que financiou o renascimento de um clube que tinha caído em segundo plano desportivo após a era dourada de Nereo Rocco. Mas à medida que a politica se tornou no palco central da vida de Berlusconi, o AC Milan foi perdendo gás e classe.

O homem que deu a Sacchi e Capello alguns dos melhores jogadores da história do futebol europeu, há muito que se esqueceu do clube, entregando-o ao seu braço direito, o servil Galliani, uma especie de Gattuso dos escritórios. Gente sem memória, sem classe e sem saber estar que tornaram os rossonero num bicho raro no futebol europeu deste século. O AC Milan até ganha (menos do que imaginamos) mas já não sabe como. Perdeu a estrutura que tinha e tentou prolongar até idades incompreensiveis a carreira dos seus últimos simbolos. Mesmo a chegada de Allegri, um técnico novo e com novas ideias sobre o jogo, perdeu força à medida que as incorporações foram dando ao clube a forma de um grupo instável, sem preparação e sem classe. Cassano, outro troublemaker profissional do Calcio, alia-se a Robinho e Ibrahimovic, jogadores pouco conhecidos pela sua graciosidade, num tridente ofensivo futebolisticamente atractivo mas institucionalmente desastroso. A carta branca dada a Gattuso e Ambrosini (particularmente quando não está, como ontem, Pirlo) faz o resto. O jogo com o Tottenham só foi mais um num longo historial de bocejos desportivos. Mesmo sendo lider da Serie A, ninguém reconhece esta equipa como uma potência futebolistica. E ninguém a respeita. Como a Gattuso. Como a Berlusconi. Como ao Calcio.

O futebol italiano viveu nos últimos anos momentos de glória, da vitória ao Mundial da Alemanha aos triunfos europeus dos dois clubes de Milão num espaço de quatro anos. E no entanto os estádio continuam vazios, os melhores jogadores continuam longe da "Bota", as arbitragens continuam sobre suspeita e a qualidade de jogo vai diminuindo à medida que os trequartistas e os fantasistas dão lugar ao músculo e à força. AC Milan, Napoli, AS Lazio e Inter - o quarteto da frente da liga - jogam todos de uma forma agressiva, dura até, e sem grande espaço para a criatividade. Vitórias in extremis, dois ou três talentos individuais escudados por exércitos pretorianos, é essa a dura realidade de um campeonato que vive tão de cabeça perdida como o capitão do AC Milan. Gattuso é o que é e o que sempre foi e como ele a história conta pelas centenas os bons jogadores que souberam ser, acima de tudo, destruidores. Mas não é Berlusconi, sabe reconhecer erros e pedir perdão. E também sabe, certamente, que a imagem que dá é a imagem que dá o seu clube e o seu país no mundo do futebol.

 

 

 

Um Tottenham esforçado, dinamico e veloz representa o que de melhor tem o futebol inglês. Um Milan desinspirado, violento e oportunista espelha tudo o que de mau se encontra no Calcio. A mão de Gattuso no pescoço de Jordan é a mão de Berlusconi no pescoço do povo italiano. E é a mão do Calcio no pescoço dos adeptos. Sem controlo, desorientados, sem saber como reagir, todos perdem a cabeça, soltam a mãos e mergulham nas páginas mais deprimentes da história de um país que não se pode compreender sem uma bola nos pés.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 11:07 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Quarta-feira, 17.02.10

Em Portugal o marketing ainda é um conceito bastante abstracto. A nivel desportivo mais ainda. Por muito que os clubes se preparem para entrar no universo do naming e que tenham passado os últimos anos a renomear bancadas, filas e lugares com nomes de empresas, nunca nenhum deles captou realmente o sinal dos tempos. E quando há um bom trabalho desenvolvido ele, simplesmente, cai no mais puro desconhecimento colectivo. Assim estamos.

O cartaz criado pelo FC Porto para o encontro de hoje frente ao Arsenal, a contar para a Champions League, é um dos mais engenhosos trabalhos de marketing visual alguma vez feitos em Portugal. Num país onde os clubes ainda funcionam no espirito localista dos anos 70 e 80, é raro encontrar projectos com visão. Dar nome de bancadas, centros de estágio ou estádios a empresas não é marketing. É simplesmente perder a identidade desportiva. O futebol é um fenomeno social da máxima importância. Ao contrário de outros desportos onde os clubes se fazem chamar pelos nomes das empresas que os apoiam, no futebol é o nome do clube que tem força. E é sobre ele que se deve trabalhar. Aproxima-lo à comunidade, mais do que ao simples e reduzido grupo de sócios, por muito que alguém reclame no rectângulo ter o clube com mais sócios do Mundo. Entre pagantes e não pagantes, vivos e mortos, está claro.

Ora no resto da Europa há já quem trabalhe bem essa faceta do marketing desportivo. E não é preciso serem grandes instituições com u orçamento significativo. Um bom trabalho é habitualmente um trabalho barato mas certeiro. No ano em que chegou, pela primeira vez, à final da Taça do Rei, o Getafe criou uma das mais engenhosas campanhas de marketing desportivo. Pequeno clube dos suburbios de Madrid, sem historial algum, o clube conseguiu conquistar a opinião pública espanhola. Como? Com anuncios televisivos emitidos nos canais nacionais (nos seis canais espanhois e nos vários canais de cada autonomia) criaram uma autêntica "maré azul". De tal forma que no dia da final, até o próprio monarca, parecia ter dificuldade em assumir a sua imparcialidade. Perderam, mas hoje poucos se lembram com quem.

Outros projectos desportivos têm lidado bem com o marketing desportivo para captar, por exemplo, novos adeptos. O anuncio televisivo é eficaz. Chega a toda a população e não a um circulo já de si contaminado pela mensagem. Há quem prefira as novas tecnologias e desenvolva sites funcionais e interactivos. Os sites dos clubes portugueses continuam muitos furos abaixos dos rivais europeus. E dentro de alguns casos, nem chegam mesmo a poder considerar-se um verdadeiro site para o adepto mas sim uma mera página institucional. Em Portugal as vistas continuam curtas e ninguém se dá realmente ao trabalho de ir mais além. O merchandising desportivo continua a basear-se no cachecol e equipamento, tal como era há 20 anos atrás. Com meio mundo há procura de novos meios para conquistar públicos, o adepto português que visite a loja oficial do seu clube - se é que a tem - encontrará pouco. Muito pouco. Não há edições em DVD de grandes jogos ou campanhas. Nem livros patrocinados pelo próprio clube. Merchandising para ambos os sexos e com elementos que pouco têm a ver com o jogo. Mas muito com o clube. Não, em Portugal isso pura e simplesmente não existe. A idade da pedra do marketing desportivo continua a marcar a ordem do dia, por muito que se alarde superioridades numericas que o Mundo sabe serem mentira.

 

No meio deste oásis de que todos os clubes padecem - uns, mais do que outros - é raro encontrar um exemplo do que deveria acontecer. Com a habitual atenuante de que deveria ter sido divulgado de outra forma. O único representante português na prova máxima do futebol europeu disputa contra o Arsenal a passagem à próxima fase. O único clube a vencer a prova nos últimos 45 anos. E o impacto mediático do evento é nulo. Absolutamente nulo. Tanto a nivel institucional como a nivel mediático. E o próprio clube, fechado no seu pequeno mundo, parece não estar talhado para dar esse passo. Apesar disso, de toda essa limitação psicológica, a equipa de comunicação do FC Porto engenhou criar um poster espantoso relativamente à eliminatória com os "gunners" que até os próprios adeptos do Arsenal, bem mais atentos que os lusos, elogiam com a sapiência de quem está habituado a estas iniciativas. No entanto quantos adeptos portugueses o viram? Quantos adeptos portistas o viram? Chegou como a informação, de que forma foi desenvolvida? Houve uma campanha televisiva generalista? O clube patrocina algum orgão de comunicação oficial divulgado a todos e não apenas ao seu microcosmos? Como é que em Inglaterra se deram conta e em Portugal a informação, pura e simplesmente, passa ao lado? Isso, continua a ser Portugal.

O FC Porto luta taco a taco com o Arsenal. Contra os gunners os azuis e brancos querem marchar rumo aos Quartos de Final, onde cairam na época transacta. Num ano desportivo pobre a nivel interno a Europa continua a ser onde os portistas melhor exibem a sua mensagem mediática. É curioso que um clube desprezado entre portas seja altamente respeitado no estrangeiro. E que a sua própria estratégia de comunicação seja mais depressa aplaudida nos foruns dos adeptos do futuro rival do que na própria comunicação social interna. Mais do que o habitual fair-play inglês, o que aqui está em causa é o triste pântano mediático português. O campeão nacional até se pode apurar, destroçando os canhões. Mas acabará sempre por se tornar noticia de rodapé.



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Quinta-feira, 21.01.10

O futebol é um desporto de semi-deuses mas nunca nenhum deles mostrou ser omnipresente. Até que chegou Soren Lerby. Na mágica Danish Dynamite que maravilhou o futebol da década de 80 havia vários génios. O inconstante e cerebral Laudrup, o velocista Simmonsen e o eterno fumador Elkjaer Larsen. Mas nunca nenhum dos três logrou o feito histórico do mitico Soren Lerby. No mesmo dia Lerby provou ser omnipresente.

 

Os registos do mundo do futebol estão repletos de episódios curiosos, daqueles que passam ao lado dos mais distraidos. Na vida de Lerby há vários episódios assim. O médio dinamarquês foi um verdadeiro enfant-terrible numa era onde aos jogadores ainda era permitido muito pouco. Membro estelar de uma geração histórica do futebol dinamarquês - e europeu - Lerby era especial.

No caracter, no estilo de jogo e na determinação. Foram essas as principais caracteristicas que o celebrizaram no campo. E fora dele. Lerby nunca virava as costas a um desafio e tinha um espirito competitivo inimitável. Passou a adolescência a jogar em pequenos clubes amadores dinamarqueses numa era onde o profissionalismo ainda era quase uma ilusão. Quando Allan Simonsen começou a ganhar fama internacional as equipas europeias voltaram-se para o mercado nórdico. Numa das viagens dos seus olheiros, o Ajax descubriu o jovem e recrutou-o com apenas 17 anos para a sua equipa principal. O médio actuou pelo conjunto ajaccied durante oito largas épocas onde venceu cinco títulos e foi eleito capitão de equipa, antes de se mudar para o poderoso Bayern Munchen. Foi em 1983 e rapidamente se tornou pedra basilar do conjunto bávaro. Por essa altura já era o peso e medida do meio-campo da Danish Dynamite de Sepp Piotnek. E foi a sentir-se dividido entre dois compromissos inadiáveis com o seu clube e selecção que Lerby fez história.

 

O feito que o faz ser recordado ainda hoje teve lugar num chuvoso 13 de Novembro de 1985.

O futebol europeu não tinha ainda a mesma estructura organizativa de hoje e era muito comum haver jogos de distintas competições no mesmo dia. Isso implicava um problema para as equipas e jogadores que eram forçados a escolher entre manter-se fiel à sua selecção ou seguir com o clube que lhes pagava o salário. A maioria assinava acordos entre a federação e clube. Lerby não o fez. O seu caracter impedia-o de optar. Nesse dia Lerby tinha dois compromissos e estava determinado a não faltar a nenhum deles. E portanto, logrou o impossível. Tornou-se omnipresente.

Às 12h00 da manhã apresentou-se com os seus restantes colegas no relvado de Dublin. A Dinamarca visitava a Irlanda e o jogo era decisivo para confirmar o apuramento dinamarquês para o Mundial, pela primeira vez na sua história. Lerby juntou-se aos seus colegas e tomou parte na histórica vitória por 1-4. Com o terceiro golo dinamarquês, dez minutos depois do intervalo, o médio pediu a substituição. Foi ao minuto 58. Sem tomar banho saiu imediatamente do estádio com um motorista privado que o levou ao aeroporto da cidade onde o esperava um jacto privado fretado pelo Bayern Munchen. O avião levou-o até Bochum onde o clube bávaro disputava uma eliminatória da Taça da Alemanha. Depois de aterrar o avião o jogador rumou ao estádio. Chegou aos 35 minutos de jogo decorridos. Ao intervalo foi lançado para o relvado e ajudou o Bayern a empatar, depois de ter começado a perder. Tinha acabado de fazer história. O primeiro futebolista a actuar, no mesmo dia, por duas equipas diferentes, em países diferentes e competições diferentes. Omnipresente.

 

A carreira de Soren Lerby foi mágica. Depois da era bávara, o médio viajou até França onde actuou pelo AS Monaco. Atraido pelo estilo de vida de playboy da capital monegasca o médio passou apenas uma temporada na Ligue 1 antes de voltar à Holanda onde assinou pelo PSV. Esteve na final da Taça dos Campeões Europeus que os holandeses bateram o SL Benfica antes de se retirar com o ouro europeu ao pescoço. Atrás de si deixou um registo notável de 67 internacionalizações, um Mundial, dois Europeus e 1 Taça dos Campeões, para além das vitórias nas ligas holandesas e alemãs. Mas com o passar do tempo os titulos foram caindo no esquecimento. Mas que um dia Lerby tenha desafiado o tempo e espaço, isso é uma recordação que não tem preço.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 02:43 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Quarta-feira, 13.01.10

É um verdadeiro globetrotter do futebol português. Aos 28 anos prepara-se para dar inicio a novo ciclo. Em seis anos marcou presença nas principais ligas europeias, sempre em clubes de topo. Mas nunca deu verdadeiramente o salto para o patamar que prometia quando ainda deambulava pelo meio-campo do Braga. Terá ainda um final feliz a história de Tiago?

A neve em Madrid congelou o Vicente Calderon.

No meio do manto branco que cobre a capital espanhola chega Tiago. Depois de um negócio surreal, como só o Atlético é capaz - o jogador assinou, voltou a Turim para disputar o derby e acabou por ser apenas apresentado ontem pelo temporal que cancelou a sua viagem inicial na segunda-feira - finalmente o português aterrou no estádio madrileño. Um estádio habituado a grandes jogadores e com uma profunda relação com o futebol português. Desde os dias de Lourenço. Hoje o atleta, que continua ligado à Vechia Signora, procura uma nova oportunidade. Porque à quinta liga distinta que prova continua a ideia de que Tiago pode sempre dar algo mais. Será aqui?

Em Braga deslumbrou com o seu estilo de jogo elegante. Certeiro no passe, atrevido no remate, foi uma das grandes revelações do inicio da década. A Luz foi o patamar seguinte e aí confirmou o que se suspeitava. Mais do que potencial, ali havia um toque de classe distinto que fazia de Tiago um médio com um futuro de excepção. Se fosse na direcção certa.

 

A forma como liderou um Benfica destroçado por constantes hara-kiris trouxe-lhe a maturidade que em Braga não tinha ainda provado. Na cidade dos Arcebispos era a jovem promessa. Em Lisboa tinha de ser um lider à força. Conseguiu-o de tal forma que José Mourinho, recém-chegado a Londres, não hesitou em convocá-lo para o seu projecto ganhador com o Chelsea. Muitos se surpreenderam com a escolha do técnico. Em lugar de Maniche, que conhecia bem melhor desde os dias da Luz, o técnico preferiu o jovem bracarense. A principio parecia que Tiago destoava naquela equipa repleta de estrelas e operários puros. Makelele e Lampard dominavam o meio-campo e fechavam-lhe as portas à titularidade. Teve de sofrer. No banco. Na bancada. Em casa. Parecia ver o tempo passar e as oportunidades a escaparem-se-lhe das mãos. Foi paciente e acabou recompensado. Começou a jogar. A cumprir as missões delineadas no caderninho do Special One. E fez-se notar. Mas o mundo das estrelas de Londres nunca o entendeu verdadeiramente e depois de dois anos preferiram o musculo de Essien à classe de Tiago. A viagem de troca acabou por ser a lufada de ar fresco que o médio necessitava. Em Lyon foi feliz. Foi um pêndulo. Foi o sócio perfeito do brasileiro Juninho. E voltou a um meio mais de acordo consigo. Pequeno, modesto mas repleto de ambições. Em França Tiago foi verdadeiramente Tiago.

Sem espaço na selecção - e quando o tinha nunca o aproveitava verdadeiramente - e com o Lyon a precisar de fazer dinheiro pensou que viajar a Turim e afirmar-se no meio campo da Juventus. Seria o salto mediático que faltava numa carreira ascendente. A principio parecia que as coisas corriam bem. Mas o futebol pensado e repleto de preciosismo de Tiago não parecia quadrar com a escola mais musculada do Dell Alpi onde Zanetti, Poulsen, Camoranesi, Sissoko eram mais apreciados. E do campo passou ao banco. À bancada. A ter de ter paciência uma vez mais. Aos 28 anos. Pensou que não. Pensou que era a oportunidade ideal de sair bem. Sem dar um passo atrás. Surgiu o Atlético de Madrid. Um clube desesperado, sem identidade e que vive num mundo surreal. Mas onde encontra um velho amigo. E um estilo de jogo que mais se adequa ao seu. Tem seis meses para convencer uma afficion triste e desperada. Tem todas as condições para o lograr. E dar finalmente aquela imagem prometida há largos anos de um jogador que tinha o mesmo perfume de jogo de Rui Costa e a insolência de João Vieira Pinto

Com o 5 às costas Tiago quer ser um dos nomes próprios desta La Liga. Quer voltar a ser um dos nomes próprios do futebol português. Durante meia década foi mais promessa do que realidade. Agora o tempo escapa-se-lhe das mãos. É hora de reencontrar-se consigo mesmo! 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:18 | link do post | comentar

Sábado, 09.01.10

Hoje em dia qualquer treinador gosta de ter como pivot defensivo um jogador com caracteristicas particular: deve ser alto, possanto, rápido, bom a sair com a bola nos pés e possante. A juntar isso, preferencialmente, de origem africana. Um contexto hoje banal em qualquer liga europeia. Mas houve uma época em que a situação era bem distinta. Até que apareceu no Arsenal Patrick Vieira. O marechal está de regresso à Premier!

Há um antes e um depois na concepção táctica do médio defensivo com Patrick Vieira.

É provavelmente um dos jogadores mais completos das últimas décadas, um médio de encher o campo com a precisão dos seus movimentos. Possante como poucos, elegante de forma súbtil, Vieira foi o fiel da balança da equipa que redefiniu o jogo bonito a finais dos anos 90. Arsene Wenger percebeu rapidamente que o então jovem médio francês era o elemento ideal para equilibrar a sua balança. Levou-o para Higbury Park - com outro francês de enorme classe, Emanuel Petit - e montou um meio-campo que faria história. Antes de Vieira os médios-defensivos eram habitualmente jogadores baixos e entroncados. Viviam do choque, do golpe e poucos sabiam sair a jogar com a bola. Eram elementos fisicos, operários em equipas de charme. Com Vieira passaram a ser refinados, inteligentes e óptimos leitores de jogo. Com o Arsenal e a França de finais dos anos 90 o médio-defensivo tornou-se no primeiro pensador de jogo ofensivo. Distinto da escola do 4 do Barcelona - onde pontificava então Guardiola - o médio francês era o perfeito aliado do corpo e mente. A sua origem africana - nasceu no Senegal - dava-lhe a força e resistência perfeitas para o lugar. A sua classe definia-o como um jogador desiquilibrante a qualquer momento do jogo.

Durante 10 anos Patrick Vieira viu nascerem sucessivos clones do seu estilo de jogo.

O sucesso do Arsenal de Wenger - onde o médio combinava na perfeição com Petit, Pires, Ljunberg, Bergkamp e Henry - levou a que quase todos os treinadores começassem a procurar imitar o seu modelo de jogo. Encontrar médios fortes fisicamente e de bom toque de bola passou a ser a prioridade em cada defeso. Mourinho encontrou Costinha no FC Porto, o ganês Essien e o nigeriano Obi Mikel no Chelsea e Muntari no Inter. O Barcelona conta com a dupla Keita-Touré. O Real Madrid viveu largos anos à sombra do trabalho de Makelelé. Em França qualquer equipa começou a trabalhar no mercado africano os Diarra, Haruna, Mensah e afins e até mesmo a Itália dos médios-defensivos clássicos não deixou de procurar as suas alternativas e recebeu de bom grado os "gigantes africanos" que seguiam a escola do mestre senegalês. O método Vieira era uma forma refinada de aliar a constante exigência do futebol de alta competição contemporâneo. A passagem da maioria das equipas a um 4-3-3 com um pivot-defensivo (que mais tarde gerou o 4-2-3-1 hoje tão a uso) pedia um jogador que fosse uma âncora defensiva mas que também desse a possibilidade à equipa de começar a jogar rapidamente desde o seu bloco defensivo. Médios excessivamente fisicos da onda de Roy Keane ou Mauro Silva perdiam essa lucidez. Médios excessivamente técnicos como Sammer, Mathaus, Guardiola e companhia eram demasiado ligeiros para arcar defensivamente com o duro jogo do ataque rival. Vieira tinha tudo o que era necessário. E a sua explosão foi revolucionária.

 

Depois de ter arrancado ao lado de Zidane - com que formou uma dupla histórica na equipa dos Bleus de 1996 a 2006 - no Cannes, o médio passou pelo AC Milan antes de ser repescado por Wenger para o seu novo projecto em Londres. Aí esteve sete anos e deixou uma profunda marca no estilo de jogo ofensivo da equipa londrina. Apesar de indisciplinado, Vieira era respeitado por tudo e todos e a sua saída, para a Juventus em 2005 foi um duro golpe às pretensões europeias de Wenger, como este viria a admitir. Desde então o francês procura um sucessor ao médio, de Diaby a Denilson, passando por Flamini e Fabregas, numa primeira fase mais recuado no campo. Sem o mesmo efeito.

Vieira foi feliz em Itália. Dominou a seu belo prazer o meio-campo da Juventus e permitiu a Del Piero, Nedved, Ibrahimovic e Trezeguet a mesma liberdade que dava aos companheiros do Arsenal. Com a descida de divisão do clube de Turim seguiu o sueco e mudou-se para o Inter, onde entrou em colisão com Mourinho. Curiosamente o português é um dos maiores apreciadores do seu estilo de jogo. Mas é pragmático. O Vieira de hoje em nada se assemelha ao jogador que há dez anos deixou a Europa boquiaberta. E deixou-o partir

Por isso Patrick Vieira volta à Premier League.

O Manchester City, novo rei dos milhões, acredita que o francês ainda tem qualidade para equilibrar o meio-campo dos citizens. Uma aposta pessoal de Mancini, o seu primeiro técnico em Milão. Apesar do conjunto de Manchester contar com um meio campo sólido (Johnson, De Jong, Weiss, Barry), o técnico vê o médio francês como a chave para encontrar o equilibrio perfeito. A expectativa é imensa. A recordação de Vieira é forte e em ano de Mundial o médio quer ter a sua última oportunidade. Consiga-a ou não, Patrick Vieira é parte da história viva do jogo, uma lembrança inesquecível de três equipas chave para compreender a evolução futebolistica dos últimos 15 anos. Um homem nascido para ganhar!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 19:36 | link do post | comentar

Quinta-feira, 20.08.09

Samuel E´too

 

Mal amado na Catalunha, onde se tornou num dos maiores jogadores e goleadores do Barcelona, o avançado camaronês foi praticamente despejado por Pep Guardiola, depois de no ano passado ter respondido com (muitos e decisivos) golos à tentativa do técnico de o dispensar. Chega ao S. Siro para render Ibrahimovic e dele se espera muito em Milão. Jogador de raça e explosão, pode ser a arma ideal para melhorar a eficácia ofensiva do onze de José Mourinho. A sua participação na CAN no inicio do próximo ano será também um dos grandes desafios do ano para o campeão italiano.

 

Diego

 

A grande contratação do defeso italiano. Se o Calcio perde Kaká e Zlatan a verdade é que ganha em Diego um novo referente. O médio brasileiro é um dos jogadores mais apaixonantes do momento e depois da experiência falhada em Portugal tornou-se no craque principal da Bundesliga onde madureceu e muito. Chega agora para tomar a batuta de Nedved como maestro da Vechia Signora e dele se espera muito para ressuscitar o conjunto de Turim e devolve-lo aos titulos que escapam há vários anos do Dell Alpi.

 

Alexandre Pato

 

A saída de Kaká força o seu compatriota a crescer mais depressa que o previsto. O jovem avançado brasileiro teve pouco tempo para amadurecer o seu jogo e agora os adeptos vão exigir-lhes golos e espectáculo. Face ao fraco papel de Ronaldinho e ao envelhecimento acentuado do plantel, o jovem dianteiro tem de ser o novo porta-estandarte de um clube à deriva e à procura de reinventar-se uma vez mais.

 

Antonio Cassano

 

O mais polémico jogador do futebol italiano é um curioso caso de genialidade adormecida. Depois da má passagem pelo Real Madrid  Cassano reinventou-se na Sampdoria. Na época transacta foi um dos jogadores do campeonato e apesar da fraca performance do clube genovês sempre esteve em alta. O seu caracter conflictivo e a famosa falta de professionalismo podem tê-lo impedido de dar de novo o salto a um grande, após a sua explosão no Bari que o levou primeiro a Roma e depois a Madrid, mas um segundo ano ao mais alto nível podem ser o melhor remédio para voltar a colocá-lo na ribalta. 

 

Francesco Totti

 

Da velha guarda heroica dos dias dourados é o único que continua igual a si próprio. Com o adeus de Maldini e Nedved e a transformação de Del Piero, o capitão da AS Roma é o verdadeiro simbolo italiano da Serie A. Parte para mais uma época com a braçadeira e o coração devotos aos gialorrosso e este ano sabe que a sua Roma tem argumentos de peso para se intrometer na luta pelo titulo. É uma das equipas a ter mais em conta e depois de falhar o apuramento para a Champions League promete este ano voltar em grande. Com o seu rei bem à frente das tropas, está claro.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:42 | link do post | comentar

Sábado, 01.08.09

Andar desengonçado, pose de vedeta. António Luis Alves Ribeiro Oliveira é um desses casos onde a publicidade (ou falta dela) impediu transformar um grande jogador numa lenda. Um dia José Maria Pedroto, o técnico que melhor soube sacar o seu rendimento, não teve problemas em dizer que, na sua posição, Oliveira era o melhor jogador do Mundo. E então talvez fosse mesmo...

 

Em Setembro de 1970 o FC Porto vivia mais uma das suas constantes guerras civis que levaram o clube a viver um hiato de 19 anos onde só se conquistou uma Taça de Portugal. A equipa tinha acabado de terminar a época em 9 lugar e os azuis e brancos estavam destroçados. Das camadas jovens, onde brilhava há já quatro anos, surgia para treinar com os seniores, um rapaz franzino, de Penafiel, cabelo comprido e ar de estrela. Escolhido a dedo pelo técnico brasileiro Paulo Amaral, a verdade é que ninguém lhe deu muito crédito mas ali estava a lenda do futebol portista dos anos 70 e um dos máximos jogadores a alinhar com a camisola azul e branca. António Oliveira era o seu nome e rapidamente fê-lo notar. O seu estilo de jogo entrava em contradição com a confusão portista de então. Oliveira organiza na sua mente cada lance de ataque, cada movimentação. Uma visão espantosa permitia-lhe antecipar cada lance e o seu faro de golo tornavam-no num perigo constante para o adversário. As bolas paradas, onde era especialista, resumiam perfeitamente o perfume do seu futebol: simples, prático e genial.

 

Durante nove anos Oliveira foi o lider azul e branco. Partilhou com Cubillas, esse mago peruano, o meio campo portista mas foi a chegada de José Maria Pedroto que o levou para o estrelato. Em 1977 o técnico de Lamego voltou a casa depois de ter estado banido por quase uma década. Com Jorge Nuno Pinto da Costa como director desportivo, Pedroto montou uma equipa campeão do primeiro ao último elemento. Acabou com os "andrades" e deu forma aos "dragões". Acabou-se o medo a atravessar a ponte D. Maria e o que antes era uma equipa atabalhoada tornou-se num exemplo de organização táctica. Ao lado de Octávio, Rodolfo, Murça e Fernando Gomes, o genial Oliveira tomou a batuta da orquestra e levou o clube para o seu primeiro titulo em dez anos, uma Taça de Portugal. Na época seguinte, a da consagração absoluta do FC Porto de Pedroto, o médio ofensivo alinhou em todos os jogos e apontou 19 golos, lutando até ao fim da prova pela Bota de Prata. Na temporada seguinte os milhões de pesetas que o Bétis pôs na mesa desviaram-no para a Andalucia fazendo de Oliveira a contratação estrela do defeso espanhol. Mas em Sevilla o seu futebol murchou e o próprio Oliveira acabou por pagar do próprio bolso para voltar ao  FC Porto onde chegou a tempo de celebrar nova vitória no campeonato. Em 188 jogos, apontou 69 golos. Números que espelham a importânica de um jogador que então era dos mais desiquilibrantes do futebol europeu, como diria mais tarde Di Stefano, técnico de um AEK Athens humilhado numa eliminatória da Taça dos Campeões pelo clube de Pedroto.

 

O seu regresso ás Antas foi, no entanto, de curta duração. Os problemas internos que obrigaram à demissão de Pedroto e Pinto da Costa levaram-no, num acto de fidelidade com os dois mentores, a deixar o clube assinando pelo Penafiel, onde assumiu o cargo de jogador-treinador. No clube da sua terra Natal, Oliveira continuou a fazer a diferença e acabou mesmo por cometer a "traição" de assinar em 1982 pelo rival azul e branco, o Sporting. Em Alvalade formou com Manuel Fernandes e Jordão uma tripla ofensiva de sonho que garantiu o último titulo leonino durante um periodo de...17 longos anos.

 

No final da sua etapa no Sporting, onde também assumiu o posto de jogador e treinador, Oliveira abandonou ainda a selecção, onde tinha sido o principal referente durante mais de uma década. Ainda passou pelo Maritimo antes de trocar o relvado pelo banco de suplentes. Aí teve uma série de experiências mal sucedidas (Vitória, Gil Vicente, Braga) até ser nomeado seleccionador nacional. Foi ele que lançou as bases da "Geração de Ouro" na equipa A, ao levar Portugal ao Euro 96. No final da prova voltou ao clube de sempre, desta feita como técnico, conquistando por duas vezes o campeonato, naquela que foi reconhecidamente a melhor formação azul e branca da década. A fatidica campanhã de Portugal no Mundial de 2002 atirou-o para fora dos bancos e depois de uma etapa como presidente do Penafiel, aquele que Pedroto baptizou como um dos melhores jogadores de todos os tempos e o melhor nascido em Portugal continental, retirou-se.

 

A polémica imagem como técnico apagou o passado brilhante como executante e hoje são poucos os que se lembram dos titulos, dos golos, dos jogos...dos momentos em que Oliveira parava a bola e todos ficavam em suspenso para seguir o seu próximo truque de magia.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 16:02 | link do post | comentar | ver comentários (1)

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