Quarta-feira, 11.12.13

Ás vezes o futebol pode ser aborrecido. Não sei quem tem a culpa. Se a Lei Bosman, se a hiper-mercantilização do beautiful game, se os próprios adeptos ou se a culpa é minha. A maioria dos jogos das grandes equipas tornaram-se meros trâmites. Quem marca mais, quando entra o primeiro, quem bate mais recordes. Tudo aquilo que o futebol nunca foi. Felizmente, todos os anos, há projectos desportivos que nos permitem sonhar com um futuro melhor. Equipas que procuram uma via alternativa para fazer-se notar. E que conseguem a sua recompensa.

 

Não sabemos como os campeonatos vão terminar em Maio.

O mais provável é que o cenário repetido dos mesmos protagonistas nos mesmos lugares seja a tónica. Não é dificil hoje adivinhar campeões e vice-campeões, qualificados Champions e remetidos para a Liga Europa. Os orçamentos, a aglomeração de estrelas, o imenso vazio que se criou entre o topo e a classe média fazem isso por nós. Há ligas mais aborrecidas que outras, ligas mais previsiveis que outras. Mas em todas elas há sempre alguém que quer romper com a monotonia. Em Dezembro parecem um projecto de sonho. A maioria delas, em Maio, está onde muitos imaginariam que estaria. O peso do dinheiro acaba quase sempre a falar mais alto. Quase sempre.

Por esta altura, o ano passado, só se falava da espectacular versão de futebol total do Swansea galês em terras inglesas. A luta entre os dois grandes de Manchester e o Chelsea importava muito pouco. O Arsenal, o Liverpool, o Tottenham e o Everton, os seus habituais escudeiros, continuavam na sua versão recente. Mas o Swansea era o flavour of the season. A equipa acabou por conquistar um título - a League Cup, contra um rival de uma divisão inferior e assim marcar o passaporte para a Europa - mas terminou a temporada lá bem no meio da tabela. Melhor sorte teve a Real Sociedad, o seu equivalente espanhol. Os txurri-urdins conseguiram mesmo o impensável, um lugar na Champions League com uma equipa montada à base de trocos e cantera. Hoje estão a pagar o preço da ambição mas o projecto mantém-se de pé. Ainda bem. Um pouco por toda a Europa vivemos essa relação de amor quase juvenil com Paços de Ferreira, Estoril, Eintracht Frankfurt ou Zulte Waregem. Poucos duraram até ao fim. Mas estiveram lá, a acompanhar o modesto e neutral adepto nesta sua eterna luta contra a previsibilidade. Este ano, inevitavelmente, o cenário repete-se. Só mudam os protagonistas.

 

Villareal. Southampton. Lille. Hellas Verona.

Quatro clubes com a sua história, os seus feitos - mais recentes ou não - e ideias desportivas que se assemelham mais ao que o adepto de futebol aprecia. São clubes sem grandes ambições históricas. Entre eles só o Verona e o Lille foram campeões nacionais. Os gialloblu no mágico ano de 1985 e o Lille há quatro temporadas em França, antes da chegada dos milhões dos sheiks qataris e dos russos de férias. Os Saints viveram a sua idade de ouro nos anos 70 e com o mítico Le Tissier tornaram-se numa equipa ideal para os românticos do futebol inglês seguirem. Hoje já não jogam no histórico The Dell e até abdicaram das suas tiras verticais por um equipamento mais neutral. E claro, o Submarino Amarelo, uma equipa que esteve a um penalty de chegar à final da Champions League na sua primeira participação e que representa tudo o que de bom ainda há no futebol espanhol, a começar pela sustentabilidade sem ajudas externas e passivos imensos.

Curiosamente, desta lista, duas equipas são recém-promovidas (Villareal e Verona) e duas vêm de épocas decepcionantes nos seus respectivos campeonatos. E, da noite para o dia, hoje são tudo aquilo que queremos para o nosso clube imaginário. Contrataram bons treinadores, organizaram um plano financeiro sustentável sem gastos loucos e sem comprometer o futuro. Pescaram no mercado óptimos jogadores a preço de custo, sem comissões exageradas pelo caminho. Montaram onzes sem estrelas mas com futebolistas comprometidos e abriram espaço no banco de suplentes a jovens promessas da sua formação. Em ligas onde mandam os milhões, pagam a tempo e horas e fazem-no sem para isso ter de abdicar em ser competitivos. Utilizam modelos de jogo ofensivos, fazem da bola a sua principal arma e são conscientes das suas limitações. Muitos sabem que a posição onde estão hoje acabará sendo ocupada por um gigante quando as contas apertarem. E sobreviverão a isso. O Villareal está no quinto lugar da liga espanhola e tem passado toda a primeira volta em lugares Champions. Com um grande treinador ao leme - Marcelino - e um melhor presidente no palco, a equipa tem jovens promessas (Perez, Pina, Mario), jogadores consagrados (Cani, Bruno) e reconvertidos do esquecimento (Giovanni dos Santos, Kalu Uche, Asenjo). E os pés no chão.

O Verona também já andou pelos lugares Champions e agora fecha a apertada luta pela Europa League. No mitico Bentegodi os golos do eterno Toni e as assistências do jovem Iturbe têm feito as delicias dos que cresceram com Elkjaer Larson e Briegel nos anos 80. Em França o Lille está, surpreendentemente, a ganhar o sprint a Lyon, Marseille e Monaco na perseguição ao PSG com um Vincent Eneyema estelar e uma medular deliciosa. E claro, os Saints de Pochetinno representam o que ainda há de bom na Premier. Excelentes movimentações no mercado, um treinador ambicioso, um público entregado e de repente a equipa da costa sul inglesa aparece nos lugares de topo da classificação. Duas derrotas dolorosas contra Arsenal e Chelsea servirão para colocar água na fervura, mas com alguns dos clubes milionários erráticos, em Southampton sabem que se há um ano para surpreender, é este.

 

Claro que todos sabemos como acaba o filme. Mas o futebol precisa, cada vez mais, destes projectos. Destas equipas. Deste sopro de ar fresco. Precisa sentir-se vivo nos meses em que os clubes milionários olham para tudo e para todos com desdém, preparando-se para meter o acelerador em Março, quando os títulos começam a aparecer ao virar da esquina. É aí que as diferenças dos orçamentos se fazem realmente notar. Ate lá estes projectos, estes adeptos podem sonhar. E nós com eles. Para bem do nosso jogo!



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Terça-feira, 30.07.13

A chegada dos milhões qataris ao Paris Saint-Germain revolucionou o futebol francês. Este ano o campeão parisino vai ter concorrência de peso. Os milhões chegam da Rússia. No fundo o eixo que move o mercado de futebol dos últimos anos. Não é novidade. O futebol em França sempre foi um negócio de industriais, empresários e ambiciosos homens de negócios. A única diferença é que estes senhores vêm de fora e não são forjados na estirpe gaulesa dos Tapie, Bez, Lagardére e companhia.

 

Quando o PSG nasceu, todos tinham claro que era apenas uma manobra de marketing.

Paris não tinha um clube de futebol importante. O Racing FC e o FC Paris estavam nas divisões secundárias e não havia forma de os tirar de lá. O jogo era um fenómeno regional, sempre o tinha sido. Mas agora Paris, consciente da afirmação internacional definitiva da invenção inglesa, queria ter a sua parte de protagonismo. Assim nasceu, em 1973, o PSG e depois de quinze anos de resultados irregulares, apareceu o gigante Canal+ para salvar o emblema de um destino similar ao do seu vizinho. O Racing tinha-se tornado em Racing Matra porque os milhões de Lagardére assim o quiseram. Durou pouco a aventura, mas deixou um aviso. Um aviso bem real, ainda hoje.

A salvação do PSG pelo Canal+ significou, sobretudo, que o clube tinha dinheiro, muito dinheiro para investir. E fê-lo bem, montando uma equipa de excelência que não só venceu um título nacional, um título europeu (a Taça das Taças) como esteve na base da equipa que acabou com a estadia de Cruyff em Barcelona. Aquele PSG, de Weah, Raí, Leonardo, Djorkaeff e companhia, era uma formação destinada a maiores glórias. Mas como o Canal+ se fartou do brinquedo, o dinheiro deixou de chegar e os jogadores foram saindo. Poucos meses depois nada restava dessas noites de glória no Parc des Princes e o maior emblema parisino entrou numa década de silêncio e sofrimento. Algo parecido ao que lhe acontecerá no dia em que os sheiks qatarís mudem de objectivo. Esse é o destino financeiro dos clubes da Ligue 1.

Foi assim com o escândalo de Bez no Bordeaux e de Tapie no Marseille. Foi assim com o fim do investimento dos industriais locais no Stade Reims (na década de 60), no Sochaux (da marca Peugeot, nos anos 70) e no Saint-Etienne (na década de oitenta). O próprio AS Monaco, sustentado durante anos e anos pelos milhões do Principado, sofreu na pele a ausência de uma política desportiva e económica coerente e de finalista da Champions League (apenas o quarto clube francês em lográ-lo) passou a clube de segunda divisão.

 

Em França o jogo sempre foi olhado com suspeita.

Não tem o glamour do ténis, do ciclismo e dos desportos motorizados. É uma invenção inglesa, mas menos interessante que o rugby para alguns. Só a partir da II Guerra Mundial se confirmou a popularidade do jogo no hexágono e, mesmo assim, em espaços geográficos muito concretos. No Midi, pela forte ligação aos portos italianos e espanhóis. Na Gasconha e Bretanha, pelo mesmo motivo, com os ingleses. E no norte, zonas vizinhas a Bélgica e Alemanha. Tudo o resto era um imenso oásis. Só quando um homem rico aparecia, no coração de França, se podiam desenvolver projectos ambiciosos mas de curta duração. Foi assim em Saint-Etienne, Sochaux e, mais recentemente, em Lyon. Onde todos sabem que, quando Jean-Michel Aulas abandonar o cargo, o destino será cinzento. Como a história tem sabido demonstrar.

Talvez por isso o jogo se tenha, desde cedo, tornado num brinquedo de ricos e ambiciosos. Os adeptos não sofrem emocionalmente tanto com estes vais e vens como noutros países, a sensação de pertença cultural é distinta. As imposições severas do governo gaulês impedem a Ligue 1 de atingir niveis de rendimento que compitam com a Europa. É um torneio fechado, rotativo, desenhado para consumo próprio. Só muito de vez em quando, ao reunirem-se condições extraordinárias, algum clube francês demonstra o seu potencial contra rivais europeus com orçamentos muito superiores, planteis com mais opções, mais bem pagas e consagradas.

A chegada dos emigrantes do império reforçou a multiculturalidade do jogo, abriu as portas à renovação de uma política de formação que tem sido a base do sucesso financeiro desse projecto. Mas também parte do seu calcanhar de Aquiles. Em Rennes, Lille ou Toulouse há poucas condições para ombrear com as fortunas do país, especialmente quando os seus melhores jogadores partem e como substitutos chegam jovens adolescentes. Clubes históricos como o Nantes, Lens, Metz ou Auxerre já sofreram na pele as subidas e descidas de divisão pelo mesmo motivo. Sem dinheiro não há sustentabilidade, por muita história que um emblema carregue. Por isso quando chega um sheik qatarí ou um russo milionários, os adeptos recebem-nos de braços abertos. Estão dispostos a vender a moralidade do jogo pela subsistência, essencialmente porque sabem que se não forem eles os clubes beneficiados por esses milhões, serão os seus mais directos rivais. O dinheiro que chegou a Paris pode acabar de um momento para o outro mas, de momento, os adeptos desfrutam de uma nova era de prosperidade, a fazer lembrar meados dos anos noventa. O mesmo sucede agora com os monegascos. A presença de Moutinho, Abidal, Falcao, James Rodriguez e Ricardo Carvalho traz prestigio ao clube e uma base de sucesso que pode ou não aguentar os humores do dono do clube. São projectos de tão curta duração - no tempo e espaço - que não é difícil imaginar que daqui a três anos dificilmente os mesmos jogadores (e Cavani, e Pastore, e Lucas Moura, e Zlatan Ibrahimovic, e Marco Verrati) continuem nos seus clubes actuais.

 

A França do futebol é uma dimensão própria dentro do concerto europeu. Há preocupações dentro das estruturas governamentais e federativas e um desinteresse quase generalizado nos adeptos. No campeonato mais equilibrado da história do futebol europeu - salvo pela longa hegemonia recente de um Lyon, numa época sem investidores nos clubes rivais para lhe fazer sombra - as empresas e os milionários duram pouco na sua relação com os emblemas, o tempo de coleccionar um ou dois títulos antes de se fartarem. Em Paris e no Principado vão querer aproveitar essa corrida a contra-relógio. Em Marselha, Bordeaux, Rennes, Lille e Lyon esperam que os milionários se fartem para voltar a sentirem-se importantes. E no meio de tudo isto, só mesmo em França um clube pequeno como o Montpelier pode sonhar em repetir o logro de ser campeão contra as armas financeiras de uns e o poder da estrutura desportiva de outros. Num campeonato de novos-ricos essa é a maior atracção possível.


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Sábado, 21.07.12

O PSG segue o mesmo caminho que o Manchester City. É o espelho onde se quer ver reflectido. Aos citizens foram precisos quatro anos de sérias inversões para quebrar uma barreira história. O PSG que acelarar os prazos. Depois da derrota mais surpreendente, no sprint final da Ligue 1 do ano passado, o titulo nacional é o objectivo mínimo do clube para esta temporada. Com as novas incorporações a Europa é tudo aquilo que interessa.

 

Zlatan Ibrahimovic é a última estrela da companhia. 

A sua chegada a Paris supõe o consagrar de uma politica de contratações que precisava de um jogador mediático para coroar o seu processo de consolidação internacional. Da mesma forma que as chegadas de Balotelli, Silva e Tevez deram ao Manchester City o pedigree necessário, o projecto pari movia-se na consciência de preencher o seu papel de líder com um jogador que nasceu para ser protagonista. Ibrahimovic era o único no mercado que cumpria esses requisitos. O sueco não traz só glamour e classe ao conjunto da capital gaulesa. Sobretudo traz uma imagem que vender e um bandeira para ondear nos mercados onde o clube se quer mover a partir de agora.

O PSG podia ter adoptado por diversos caminhos no seu sprint rumo ao sucesso imediato, um sucesso pago a peso de ouro. Ancelotti e Leonardo não se contentaram só com comprar muito e depressa. Queriam contratar jogadores contrastados e eficazes. Foi assim com Nené, Gameiro, Menez e Sirigu na época passado e este ano com Lavezzi, Thiago Silva e Ibra. Atletas que terão seguramente dificuldades em associar-se num principio num onze com demasiados nomes próprios mas que acabarão por marcar a diferença, particularmente numa liga como a francesa.

100 milhões de euros gastos mas quase sempre na mesma direcção. Apesar da perda de protagonismo da Serie A, a dupla forjada no AC Milan fez de Itália o seu campo preferencial de recrutamento. Marco Verrati, a grande promessa do meio-campo transalpino, foi a última das sete contratações que chegaram da liga italiana nos últimos dois anos para o clube parisiense.

 

Da mesma forma que o Manchester City começou a sua campanha de aquisição de jogadores com atletas de perfil médio mas atraidos por excelentes propostas salariais, o PSG sabe que não tem ainda o estatuto internacional para trazer os melhores jogadores disponíveis. A previsão do clube está em criar um núcleo base e ir substituindo progressivamente os jogadores contratados agora por estrelas num futuro imediato. 

A ambição do clube é evidente e está muito para lá da Ligue 1. O sonho, tal como do City, é vencer a Champions League mas o (mau) exemplo dos ingleses na passada época levanta vários alertas.

A derrota frente ao modestíssimo Montpellier foi seguramente uma lição difícil de aprender mas extremamente valiosa para os homens da capital. Ninguém espera outro cenário que não seja a vitória do conjunto da capital na próxima edição da Ligue 1. Nem que seja porque Ibrahimovic, se em algo se especializou, foi sagrar-se campeão nacional em todos os clubes onde esteve. Palavra de sueco.

Mas a Champions League hoje tornou-se no alvo de todos os investidores árabes que chegam ao futebol com vontade de triunfar de forma imediata. Face ao nível intocável dos dois grandes espanhóis e a solidez financeira do Bayern Munchen e dos clubes de magnatas de outros países (Chelsea, Arsenal, United), a ambição pode às vezes com a própria realidade.

O facto de nenhuma equipa desde o Olympique Marseille de 1993 ter vencido o torneio é o espelho de uma realidade competitiva com a qual o futebol gaulês não lida bem. A presença na final do AS Monaco em 2004 e do Olympique Lyon nas meias-finais de 2010 foram casos singulares que se deveram mais aos caprichos dos sorteios do que necessariamente a uma tendência que veio para ficar. O PSG, que mais do que representar França representará os petrodolares que deram nova vida a um clube que há anos estava em sarilhos financeiros sérios, quer inverter essa realidade mas para isso precisa mais do que jogadores e técnicos de top. A mentalidade neste tipo de torneios acaba por ser, tantas e tantas vezes, mais importante que os nomes do plantel.

Ninguém duvida que nos próximos anos, se o investimento continuar a este ritmo, possa apresentar uma equipa capaz de tutear os maiores nomes do Velho Continente. Essa é a realidade do peso financeiro que já dictou que o Manchester City vencesse a Premier League depois de 44 anos de fome de títulos. Mas a progressão, por muito que pese a um Zlatan Ibrahimovic, ansioso de levantar o único troféu que lhe falta, tardará e de ser rei da Gália, os parisienses terão de suar muito para proclamarem-se senhores da Europa. 


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Quarta-feira, 30.05.12

O perfume do futebol francês é composto por uma fragrância especial que só se gera em momentos como este. Um clube modesto como o Montpellier vence uma longa maratona a formações que gastam o que não têm para levar para casa o ambicionado troféu. Algo inimaginável em ligas mais fortes como Inglaterra, Itália e Espanha e extremamente difíceis em campeonatos bipolares como o português. Em França, é a regra. Salvo a ditadura do Marseille de Tapie e do Lyon de Aulas, o futebol francês engrandece-se a cada ano que surge um novo Montpeliler. Um titulo que não só eleva às alturas um pequeno clube mas que define a filosofia desportiva de todo um país.

 

Lille, Bordeaux, Nantes, Lens, Monaco, Auxerre.

Nos últimos 20 anos do futebol gaulês todos estes modestos clubes sagraram-se campeões nacionais. Salvo o PSG, sempre apoiado por investidores que gostariam de ter um clube de prestigio na capital gaulesa, e o dinheiro que moldou o Marseille e Lyon modernos, a liga de França está aberta a todos, sempre e quando o projecto tenha cabeça, tronco e membros.

René Girard, veterano de muitas batalhas no terreno de jogo, soube coordenar esse projecto de forma singular. Uma equipa jovem, barata, com muitos jogadores comprados a clubes de divisões inferiores a preço de saldo, o seu Montpellier é um verdadeiro caso de sucesso. Há dois anos já tinha mostrado que era um projecto de futuro. Na altura saiu Tino Costa, o líder espiritual da equipa, e depois de um ano de natural perda de rendimento, o clube voltou à mó de cima, entregue aos golos de Olivier Giroud e à magia pura de Yonnes Belhanda, os dois nomes próprios do titulo alcançado, curiosamente, contra outro clube pequeno que já foi campeão e que agora se junta a Lens, Nantes e Monaco na segunda divisão. Em França o difícil não é vencer um titulo, é saber manter-se fiel a si mesmo.

Ao Montpellier depara-se esse desafio porque quando o dinheiro falar mais alto e os seus grandes nomes saírem, será complicado equilibrar os objectivos dos adeptos com o realismo económico que já causou tantas baixas no passado. Ao contrário do seu rival nesta corrida, o PSG, não há dinheiro para loucuras e seguramente que o próximo ano será quase impossível revalidar o titulo. Nem o Lille, com um futebol mais vistoso e sem ter perdido algumas das suas pérolas, conseguiu manter esse ritmo que desde os sete títulos consecutivos do Lyon nenhum clube soube emular. Manter o troféu em casa.

O PSG acabou por ser o grande derrotado. Nem Ancelloti, nem os milhões injectados no clube por um consórcio árabe com interesses na capital gaulesa serviu para recuperar um titulo que foi ganho pela última vez em 1994. As chegadas de Sirigu, Menez, Pastore, Gameiro e companhia foram insuficientes, apesar do bom futebol praticado os parisinos claudicaram demasiadas vezes e nunca souberam aproveitar as escorregadelas do rival. Regressar à Champions League pode ser o primeiro passo da metamorfose definitiva de uma equipa que irá gastar ainda mais no próximo verão e que, seguramente, é o grande candidato ao titulo do próximo ano.

 

Desilusões absolutas, Marseille e Lyon seguem a linha descendente, o outro lado do elevador onde sobem os parisinos.

Apesar do dinheiro disponível, a equipa lionesa foi incapaz de qualificar-se pela primeira vez numa década para a Champions League, prova onde teve uma prestação cinzenta, caindo nos Oitavos de Final diante do APOEL. Lisandro, Gomis e companhia foram inconsequentes durante a grande parte da temporada e Remy Garde, o jovem técnico promovido por Aulas, terá muita dificuldade em convencer um presidente tão habituado a ganhar que o seu projecto é de longo prazo, explorando a formação local que ele ajudou a desenhar. Em Marselha o lugar de Deschamps está também em causa depois de terminar a temporada num desolador 10º posto.

 

Lille, campeão em titulo, e um renascido Girondins Bordeaux tiveram provas tranquilas e positivas, apesar do falhanço dos homens de Rudi Garcia em manter a coroa e a quase inevitável despedida de Eden Hazard do clube nortenho. As grandes sensações da prova acabaram mesmo por ser o histórico Saint-Ettiene, sexto na classificação geral, e o modesto Evian FC, promovido esta época e capaz de realizar um campeonato surpreendente que nunca o manteve demasiado longe dos lugares europeus.

Do outro lado do espelho, se as despromoções de Ajaccio e Dijon eram previsiveis, custa ver outro histórico como o Auxerre cair no poço da Ligue 2, seguindo o exemplo negativo de outros campeões recentes.

 

 

 

Jogador do Ano

Yohnes Belhanda

 

O franco-marroquino foi a alma e o corpo da épica campanha do Montpellier. Com a bola nos pés respirou o cuidado jogo táctico montado por Girard e fez rodar à volta o carrosel de um colectivo sem estrelas mas com um indice de trabalho irrepetivel. Como Hazard em Lille ou Gourcouff em Bordeaux, o jovem que preferiu ser internacional com o país dos seus pais, Marrocos, é o porta-estandarte de um modelo de clube campeão que só encontramos com regularidade numa liga tão competitiva como a gaulesa. Os seus 12 golos e as mais de 17 assistências foram o ponto de partida para uma época irrepetível que já o colocou, definitivamente, no escaparate do futebol internacional.

 

Revelação do Ano

Blaise Matuidi

 

Quando aterrou em Paris como sucessor a longo prazo do "polvo" Makelelé, a jovem promessa que tinha despontado no Saint-Ettiene, talvez não imaginasse que o seu impacto fosse tão imediato. Mas a grande época do clube parisino tem muito a ver com a capacidade do possante médio defensivo de equilibrar um conjunto com uma fortissima ala dianteira (Nené, Gameiro, Pastore, Menez) e com uma defesa tremendamente eficaz. No miolo Matuidi fez para Ancelotti o mesmo papel que este entregou a Gattuso no seu Milan com um sucesso espantoso, dele é seguramente o futuro dos "Bleus".

 

 

Onze do Ano

 

Desconhecido no futebol gaulês até há dois anos, esta foi a época de confirmção de Geoffrey Jourden, guarda-redes do campeão Montpellier que, com Ruffier e Carrasco, demonstra que Laurent Blanc tem por onde escolher para acompanhar a Lloris e Mandanda nas aventuras dos Bleus.

 

Época excelente do lateral Mapou Mbiwa (Montpellier) no lado direito e de Faouzi Ghoulam (Saint Ettiene) pela esquerda. No miolo do eixo defensivo os eleitos são Nicolas Nkolou, imenso apesar da época cinzenta do Marseille e Frank Beria, do Lille. 

 

Belhanda e Hazard partilham o trabalho criativo do meio-campo deste onze ideal da Ligue 1, dois jogadores jovens de excelência com épocas memoráveis. Acompanham-nos o incansável Yann Mvilla, lider do Stade-Rennais.


Olivier Giroud, o avançado de moda do futebol gaulês, lidera o trio de ataque, bem acompanhado pelos golos de Nené (PSG) e Pierre Aubameyeng, jovem dianteiro gabonês do Saint-Ettiene.

 

Treinador do Ano

René Girard

 

Apesar da Ligue 1 ter um importante historial de vencedores surpreendentes, de equipas de pequeno orçamento que conseguem vencer a maratona da regularidade, tem sido cada vez mais dificil contrariar o imenso investimento financeiro que Lyon, PSG e Marseille têm feito na última década. O triunfo do Montpellier tem pouco a ver com a vitória de Bordeaux e Lille, dois históricos com um técnico e um plantel de luxo, e mais com o trabalho de fundo da formação e hábil pesquisa de mercado dos directivos dos homens do Le Herault. E claro, com a liderança absoluta de René Girard, antiga estrela da França dos anos 80 que encontrou a forma ideal para coordenar uma formação jovem, talentosa e com um espirito de luta épico que aguentou, até ao suspiro final, o acosso do milionário PSG.



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Segunda-feira, 21.05.12

A partir de hoje e até ao próximo dia 1 de Junho o Em Jogo dedica a sua programação em exclusiva à análise das seis principais ligas do futebol europeu.

 

Um pequeno resumo, eleição do Melhor Jogador, Treinador, Onze e Revelação do Ano e as imagens que marcaram a temporada 2011/12 em Inglaterra, Espanha, Alemanha, França, Itália e Portugal.

 

Bem vindos, ao Em Jogo!

 




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Quinta-feira, 15.03.12

Se há uma nação com uma relação quase freudiana com o golo é a francesa. Num país que sempre olhou com desconfiança para o “jogo dos ingleses”, a devoção pela bola muitas vezes deixa para um infinito segundo plano a importância do golo. But foi sempre uma palavra capaz de gerar a desconfiança de muitos e provocar a glória de poucos. A caminho de uma nova década os dianteiros gauleses continuam a ser a infantaria do exército, longe do estatuto dos marechais a cavalo.

 

O “Hexágono” é, sem dúvida, um país de contrastes. Lille e Montepelier são dois paises debaixo da mesma bandeira. Just Fontaine e Guivarch, dois avançados que passaram por um Mundial com sensações opostas. No final a memória colectiva ficou com o nome do dianteiro de origem magrebina na cabeça. Mas o campeão do Mundo foi Guivarch. Sem marcar um só “but”.

De Fontaine a Guivarch a história do futebol gaulês parece caminhar paralela, mais do que em companhia, com o complexo universo do golo. Em França sempre foi complexo encontrar jogadores que tenham especial relação com a baliza contrária e na esmagadora maioria das vezes quanto mais proliferos eram mais desprezo coleccionavam do público critico. De certa forma o adepto francês sempre se rendeu mais facilmente ao trabalho de um médio, fosse de criação (Platini, Cantona, Zidane, Giresse...) como de destrução (Fernandez, Tigana, Deschamps, Vieira), do que ao do goleador. Batteaux, o mentor do Reims dos anos 50, queixava-se de que os adeptos criticavam em demasia o espirito livre de Kopa e a passividade goleadora de Fontaine. E tinha razão, mas a tendência vinha de antes e prosseguiria nas décadas seguintes. Durante os anos 70 nunca esse afastamento se tornou tão evidente. À medida que o futebol gaulês entrava numa profunda depressão de resultados (12 anos sem marcar presença num Mundial ou Europeu), o público foi-se abraçando a fenómenos mais nacionais como o ciclismo e o ténis. A desconfiança das elites intelectuais, tanto de direita com de esquerda, sempre levantou multiplas suspeitas por um jogo demasiado saxónico. Ate ao periodo entre-guerras o jogo ainda era desconhecido por uma grande parte da população e esse fascinio pelo “But” demorou a entrar na psique gaulesa.

 

Just Fontaine tinha sido o expoente máximo da paixão pelo golo mas a sua origem emigrante (magrebino como Ben Barek) permitia-lhe afastar-se desta relação complexa com o golo. Durante largas décadas, e à medida que o futebol francês ia progressando rapidamente (como o Saint-Etienne e a selecção da década de 80 evidenciava) continuava a faltar ao país uma estirpe de goleadores puros e determinantes. A liga gaulesa, nunca goleadora, nunca prolifera em Botas de Ouro, sobrevivia com golos emprestados de fora, sobretudo o esquadrão argentino (Onnis e Bianchi) que nos anos 70 e 80 invadiu o país. A mágica selecção de Platini bateu o recorde de golos marcados num Europeu, mas foi o “petit Napoleon”, desde a posição de trequartista, quem marcou a esmagadora maioria. Nem Didier Six nem Dominique Rocheteau entusiasmavam o mais céptico.

A chegada de Jean-Pierre Papin, dois anos depois, pareceu anunciar uma nova tendência. Mas a popularidade de JPP sempre foi mais uma questão de atitude dentro e fora do campo do que uma questão de golos. O seu Ballon D´Or em 1991 uma questão de ego nacional mais do que um reencontro com a paixão pelo golo. E os anos 90 não foram diferentes dos 80. Cantona, Ginola, Djorkaeef e Zidane nunca foram goleadores natos e Loko, Pedros e Guivarch apresentavam soluções tão pouco convincentes que muitos se perguntam como não se lembrou Jacquet de antecipar em dez anos a evolução táctica de Prandelli e optar por um 4-6-0 em lugar do 4-3-2-1. Depois da recusa de Cantona em voltar a vestir a camisola dos Bleus, os gauleses quebraram o velho axioma que dizia que não se pode ganhar um Mundial sem um guarda-redes e um goleador de primeiro nível.

Se Barthez não era propriamente um guarda-redes de nivel, que dizer de Stephen Guivarch. O avançado do Auxerre não só não marcou em nenhum dos jogos como deixou a pálida, mas certeira imagem do que realmente é o ponta-de-lança made in France. Uma imagem que não mudou muito até hoje. Nem Anelka, nem Trezeguet, nem Benzema se revelaram pontas-de-lança goleadores, antes jogadores móveis, colectivos e dificeis de posicionar. Henry, provavelmente o mais subvalorizado jogador francês, com Wenger tornou-se no protótipo do futebolista total, dez anos antes de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, e foge também destas contas. E depois o fantasma passou a pairar sobre cada nova promessa, fosse o possante Gomis, o promissor Gignac e agora a dupla Gameiro-Giroud. Nenhum deles apresenta nomes tão entusiasmantes que permitam pensar que Fontaine tem, realmente, um sucessor. Nenhum deles dá a sensação de ser o jogador com força moral e emocional suficiente para mudar esta estranha relação do francês, seja adepto seja jogador, com o fantasma do golo.

 

A caminho da Ucrânia o trabalho de Laurent Blanc tem-se concentrado, sobretudo, em explorar novas vertentes de jogo, de organização defensiva e controlo da bola. O golo, como sempre, ficou relegado para um segundo (perigoso) plano. Em 2006 os gauleses marcaram nove golos, seis a partir da fase de grupos. Dois anos depois, no Europeu de 2008 marcaram um. Em 2010, na África do Sul, também. A escassez é evidente e já não há médios capazes de esconder a fraca prestação dos dianteiros. Benzema será o dianteiro titular mas ele, como se viu em Madrid, gosta de deambular e associar-se e a companhia (Nasri, Ribery, Menez) não é propriamente especialista na arte do golo. Giroud e Gameiro podem ter a sua oportunidade. Serão mais necessários do que nunca. Nem que seja para dar outra vida à soporifero explicação do but!  



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:26 | link do post | comentar

Quarta-feira, 07.03.12

Entre a noite de consagração da França multicultural e o coro de assobios que a imensa maioria argelina votou à Marselha, o Stade de France vive numa eterna incógnita existencial. Construido numa zona desprezada pelos parisinos, transformado em icone da França do século XXI, nunca um estádio de futebol replicou de forma tão concisa a encruzilhada de uma nação.

 

O seu aspecto imperial faz relembrar a megalomania napoleónica.

A sua arquitectura ousada transforma-o numa especie de Versailles futebolistica. Tal como o palácio construido por Luis XIV, o governo central decidiu escolher a periferia para erguer a obra que não só deveria albergar os grandes eventos nacionais. O seu objectivo final era, sobretudo, marcar uma nova era na concepção nacional de um país com uma profunda dificuldade em entender-se como nação.

Depois de anos de disputa, discussões e polémicas, a decisão final foi tomada e a construção do estádio arrancou no bairro de Sain Dennis, um dos muitos banlieus a norte de Paris onde se reproduz a mesma dinâmica social pós-industrial que tanto desprezo provoca no coração da capital. Um bairro de emigrantes, sobretudo norte-africanos, um bairro ostracizado historicamente pelo governo de Paris de repente passava a ser o centro das atenções do projecto nacional mais importante da V República. Um contrassenso digno do puzzle moral e emocional da própria França. À medida que o estádio ia nascendo muitos suspeitavam que o divórcio entre os franceses autóctones e o estádio espelharia o divórcio que existe entre a sociedade e as suas minorias. Os habitantes de Saint Dennis não queriam ser invadidos pelo betão do império desfeito e os nomes da velha guarda consideravam um erro instalar um monumento épico no meio dos indesejados da nação.

Durante os três anos que tardou a construção de um estádio de 80 mil lugares, algo nunca visto num país onde o futebol é olhado com o desprezo dos intelectuais da esquerda e dos mais tradicionais que continuavam a ver o jogo como uma invasão social inglesa, a polémica prosseguiu. Paralelamente também a equipa francesa entrava numa profunda mutação social com a inclusão, pela primeira vez na história, de multiplos representantes da França moderna.

Aime Jacquet juntou a Barthez, Deschamps, Petit e Blanc filhos do império perdido, desde caribenhos como Henry e Thuram, a africanos como Desailly, Vieira e Makelelé sem esquecer os imigrantes norte-africanos (Zidane), arménios (Djorkaeff, Boghossian), portugueses (Pires) e argentinos (Trezeguet). Dessa miscelânea nasceu a equipa mais plural da história do futebol. Quando se anunciou que o recinto da final finalmente seria conhecido como Stade de France muitos pensaram de que França estavam os promotores a falar.

 

Claro que na noite de 12 de Julho de 1998 ninguém se importou muito.

Os maus augurios foram desaparecendo à medida que o torneio se transformou numa verdadeira celebração da integração. Os sucessos da equipa foram o maior motor de integração da história do país. A França conservadora saiu para a rua para celebrar com a França radical, os nacionalistas desfraldaram a tricolor, os emigrantes aplaudiram de pé a Marseillese, todos encontraram algo com que se identificar. A consagração no Stade de France significou a reconciliação das duas Franças e surgiu como um bom prenuncio para o futuro especialmente quando mais de dois milhões de franceses, de todos os credos, cores e origens, encheram os Champs Elyseé na maior manifestação popular desde a libertação.

Como sempre o doce sabor da vitória esconde o lado mais escuro da alma. Quando a selecção francesa começou a sua dolorosa desintegração, quando o rumor de um balneário dividido em clãs étnicos se transformou em realidade, o Stade de France viveu o outro lado da moeda, o lado escuro da sua lua. Um duelo comemorativo entre França e Argélia colocou frente a frente duas nações fortemente marcadas por uma guerra impiedosa que significou o fim da IV República, o advento do gaulismo e um dos maiores cortes sociais na história de ambos os paises. À volta do estádio a imensa maioria de emigrantes argelinos juntou-se para apupar o autocarro que trazia os jogadores franceses e aplaudir a equipa argelina.

Quando ambas subiram ao terreno de jogo as bandeiras tricolores brilhavam pela sua ausência. Depois começaram os assobios. Um long e intimidativo assobio que afogou o espectro sonoro da Marseillese. Minutos depois a invasão, as lágrimas, o choque. Imagems que cancelavam tudo o logrado anteriormente e que significava, de facto, que as politicas sociais do governo gaulês tinham desperdiçado o capital de confiança ganho com o Mundial. Meses depois os mesmos jovens tomavam os banlieus com cocktails molotov, primeiro em Paris e depois em todo o país. Le Pen bateu as sondagens e seguiu para a segunda ronda das presidenciais, a França entrou em choque quando a esquerda aceitou apoiar Chirac e o divórcio definitivo entre o modelo multiracial e a França conservadora tornou-se inevitável. Desde então, jogar no Stade de France deixou de ser uma vantagem para transformar-se numa realidade confrangedora. As bandeiras tricolores desapareceram e aumentaram os assobios ao primeiro sinal de desânimo. O público multi-étnico desapareceu e deu forma a bancadas compostas essencialmente por gauleses autóctones. Os suburbios do estádio divorciaram-se do seu ex-libris e a sua monumentalidade tornou-se mais fria e cinzenta do que nunca.

 

Se o Mundial de 1998 e o Stade de France significaram o triunfo da integração europeia, a última década da selecção gaulesa transformou o seu recinto oficial num micro-cosmos de um desalento transversalmente nacional. Apesar da selecção ser cada vez mais representativa da multiculturalidade, a França de Chirac e Sarkozy seguiu o caminho oposto ao desenhado a 12 de Julho. A obra máxima da nova França ficou de pé como simbolo do calor humano passado e da frieza humana presente. Transformou-se num gigantesco pavilhão a céu aberto, perdeu a condição de simbolo nacional e para os que passam por ele todos os dias continua com lembrança de um país que podia ter sido, mas realmente nunca o foi. O estádio de uma França que existe no nome e não na alma... que é quem dá cor ao verde do tapete.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 16:48 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Terça-feira, 24.01.12

Poucas siglas no futebol são tão facilmente reconhecíveis como o mítico trio de letras que fez de Jean Pierre Papin um dos jogadores mais amados do futebol europeu a final dos anos 80. O eterno goleador de Boulogne-sur-Mer não só desafiou a razão ao vencer um Ballon D´Or como transformou-se num ícone para um futebol gaulês rodeado de pontos de interrogação. O seu faro para o golo marcou profundamente a sua carreira mas foi o seu estilo simples e honesto que lhe permitiu distanciar-se dos enfant terribles que França teimava em produzir com insuspeita assiduidade.

Em 1986 a revista Onze realiza uma reportagem sobre um flamante dianteiro que surgia surpreendentemente na lista de Michel Hidalgo para o Mundial do México. O jogador aparecia vestido como um camponês, com boina e casaco à altura do majestoso cajado, e um ar que lhe permitia confundir-se com qualquer outro filho da província do hexágono. Longe do glamour de hoje ou do ar rebelde da maioria dos seus contemporâneos, essa imagem de JPP eternizou-o ao longo da carreira. O mais humilde dos guerreiros gauleses tornou-se também num dos mais bem sucedidos futebolistas da sua geração.

Papin viajou ao México junto a Platini, Giresse, Genghini, Tigana e companhia. E marcou, como só ele sabia, o golo da vitória frente ao Canadá e um dos tentos que confirmaram o terceiro posto da França no torneio. Seria o seu primeiro Mundial. E o último também. Com o ocaso azteca a selecção gaulesa entrou numa espiral destructiva que a afastou de dois Mundiais consecutivos. O futebol internacional perdeu assim um dos seus grandes nomes nas grandes noites. A Papin restou-lhe o seu icónico papel na história dos clubes que melhor representou, os belgas do Brugge e os gauleses do Olympique Marseille. No final desse Mundial o jogador que o futebol francês tinha olhado com suspeita depois de dois anos brilhantes ao serviço do modesto Valenciennes, voltou a casa. O ano na Bélgica, com a camisola do Brugge, tinha convencido tudo e todos. 20 golos em 31 jogos foram suficientes para que Hidalgo o visse como um potencial dianteiro para uma selecção com um fortíssimo meio-campo mas sem alma de golo nos últimos metros. Apesar de ter apontado apenas dois golos no torneio a sua performance foi suficiente para convencer o polémico Bernard Tapie que ele era o homem certo para o seu ambicioso projecto em Marselha. Começou uma história de amor que durou meia década.

 

Durante esses seis anos a conexão entre JPP e o público marselhês tornou-se na base da sua popularidade.

Os números eram incapazes de mentir e a veia goleadora de Papin, ponta-de-lança da velha escola, raposa de área, consagrou-o como um dos melhores dianteiros do Velho Continente. Em 215 jogos pelos azuis apontou 135 golos, contribuiu para a conquista de um Tetracampeonato entre 1888 e 1992 e ajudou o onze gaulês a chegar à sua primeira final europeia.

Papin viveu a era mais dourada mas também conflictiva da história do clube. Inicialmente o objectivo de Tapie era aproveitar para a sua equipa a parceria que tão bons resultados parecia dar ao serviço dos Bleus de Michel Platini. Ao lado de Eric Cantona o goleador sentia-se cómodo e com o apoio directo de Chris Wadle e Abedi Pelé, a máquina goleadora marselhesa era verdadeiramente inalcançável. Mas os problemas de Tapie com Cantona - emprestado dois anos consecutivos a Bordeaux e Montpellier - e as suspeitas de doping e jogos comprados (como se provou na polémica OM-VA) ensombraram a magnifica carreira do dianteiro que venceu por cinco anos consecutivos o prémio de Melhor Goleador da Ligue 1. Se em Marselha a sua parceria com Cantona se desfez, ao serviço dos Bleus foi o jogo combinado de ambos que permitiu a Michel Platini lograr um apuramento histórico para o Euro 92 (depois de falhadas as classificações para o Mundial de Itália e o Euro da Alemanha) com oito vitórias em oito jogos e Pappin como máximo marcador da ronda de apuramento. Mas na Suécia, apesar dos seus dois golos (os únicos dos Bleus) a França desiludiu num grupo que parecia feito à sua medida. Depois do empate com Inglaterra e Suécia, a derrota com a surpreendente Dinamarca condenou os gauleses a uma eliminação precoce que só ia anunciar a depressão maior de ser eliminada em casa, pela Bulgária, na corrida ao Mundial dos Estados Unidos. Por essa altura JPP já era um ícone global, o primeiro francês desde Platini a lograr convencer os jornalistas da France Football a atribuírem-lhe o prémio Ballon D´Or.

Resultado de uma época memorável, o triunfo foi polémico porque ficou claro que a divisão de votos entre os jogadores do Estrela Vermelha - Dejan Savicevic e Darko Pancev - facilitou a vitória de um homem que mostrou o seu lado mais cinzento nessa mítica final de Bari. Depois de várias tentativas - incluida a da meia-final do ano prévio com a mão de Vata a eliminar os gauleses - o Marseille de Tapie finalmente logrou o apuramento para a final. Cantona estava castigado pelo clube, Papin foi deixado só na frente de ataque e o jogo entre os excitantes jugoslavos e os habitualmente ofensivos franceses transformou-se na mais aborrecida final da história. Os penaltis decidiram o titulo e a sorte (e o carácter) deu o triunfo aos encarnados.

Foi o canto do cisne para JPP que disputaria mais uma época triunfal em Marselha antes de rumar a Milão onde outro megalómano empreendedor, Berlusconi, já tinha pensado nele para o futuro do seu AC Milan, orfão do génio de Ruud Gullit e preso pelas lesões de Marco van Basten. O presidente pagou 10 milhões, o recorde à época, pelo Ballon D´Or mas o investimento nunca esteve à altura das expectativas.

Em Milão Papin deixou de ser o protagonista a que estava habituado. Começou a viver entre o relvado e o banco com perigosa assiduidade já que o seu técnico, Fabio Capello, entendia que era um jogador que não ajudava o colectivo nos aspectos defensivos da mesma forma que Massaro ou Simone. Papin terminou o ano com 13 golos (a sua pior média em oito anos) tantos como van Basten que passou mais de metade da época (lesão que acabaria com a sua carreira definitivamente). O opúsculo chegou na final de Munique. O "seu" Olympique Marseille seria o rival do AC Milan e para cúmulo da sua desgraça os franceses venceram - com um golo de Boli, de cabeça - e JPP não saiu do banco. Mais tarde o titulo foi retirado aos franceses mais isso não apagou a dor do dianteiro que ficou ainda mais um ano ao serviço dos italianos (cada vez mais como figura secundária com apenas três golos) antes de partir para Munique onde marcou três golos em dois anos ao serviço do Bayern (marcados pelas lesões) e Bordeaux, um clube que marcou o seu regresso a França que se eternizaria nos oito anos seguintes por clubes de segundo nível como Guingamp, Saint-Perroise ou Cap-Ferrat.

 

Ofuscado pelo sucesso tremendo da geração que o seguiu, a de Zidane e companhia, a JPP custou-lhe dizer adeus aos relvados e mais ainda arrancar na sua nova etapa como treinador. O herói loiro de Marselha conseguiu promover o Strasbourg à Ligue 1 em 2006 mas uma revolta no balneário afastou-o do comando do projecto do clube do Sarre no ano seguinte. Curtas passagens por Lens e Chateroux não deixaram saudade e a história teve de contentar-se com a imagem, de braços no ar, cabelo ao vento, de um homem que apontou 225 golos em 420 jogos, um dos registos mais implacáveis da história de um futebol gaulês que nunca mais conheceu um avançado com tanto apetite pela baliza alheia.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 08:31 | link do post | comentar | ver comentários (8)

Quinta-feira, 28.07.11

Desde 2001 que a Bretanha não celebra um titulo mas o futebol bretão vive um dos seus mais brilhantes momentos. Três equipas na próxima edição da Ligue 1 - mais do que qualquer outra região histórica - e um antigo campeão a fazer de tudo para conquistar o titulo da Ligue 2, os bretões começam a ganhar preponderância mediática numa competição que até agora tem vivido da constante luta Norte-Sul. Os ventos do Atlântico puxam o futebol gaulês para a sua zona mais recôndita.

 

Há poucas regiões em França com um sentimento autonómico tão forte.

A Bretanha não foi a última conquista do estado central parisino mas foi uma das mais dificeis e ainda hoje os bretões gostam de relembrar que entre eles e os franceses modernos há uma distância que nunca desaparecerá verdadeiramente. Talvez quem se passeie pela costa recortada e escarpada, pelas cidades austeras e frias e sinta o vento do Atlântico com mais força do que em qualquer outra zona do país, entenda essa paixão que os bretões têm pela sua terra. Desportivamente a zona da Bretanha tem um historial mais ligado ao fenómeno do rugby francês do que, propriamente, ao futebol. No entanto o desporto-rei tem a sua quota parte de adeptos na região e esses sabem que vivem uma época muito especial para o seu futebol regional. O seu grande porta-estandarte, Nantes, cidade que partilham com a zona do Loire mas que historicamente foi a capital do reino bretão, agoniza na Ligue 2, dez anos depois de ter sido o último clube da região a sagrar-se campeão. Foi antes da ditadura do Sul (Lyon, Bordeaux e Marseille) e da resposta do Norte com a notável campanha do Lille OSC. Hoje o Nantes perdeu aquele sentimento de superioridade moral que o acompanhava sempre que desfilava pela região. Mas o clube atlântico encontrou sucessor à sua altura.

Nenhuma região gaulesa concentra tantos clubes num espaço tão reduzido como a Bretanha. A este o clube da capital, o Rennes, é o projecto desportivo mais bem sucedido na era pós-Nantes. Nunca logrou o titulo mas nos últimos anos tem marcado presenças sucessivas no topo da cabela disputando os lugares europeus sem nenhum complexo de inferioridade para os rivais do resto do país. A ocidente, quase a roçar o limite do hexágono, a pequena cidade de Brest, histórico porto gaulês que foi o simbolo militar da resistência da região contra o poder parisino e, mais tarde, nas guerras travadas por Richelieu e Luis XIV. Um pouco mais a sul, quase na desembucadora do magnifico Loire, surge o porto de Lorient. Um dos mais exitosos fenómenos desportivos gauleses dos últimos anos, o Lorient chegou à Ligue 1 para ver e vencer e rapidamente se estabeleceu como uma das grandes revelações do torneio.

 

O que une os três projectos bretões é bem mais daquilo que os separa.

Apesar do recente sucesso desportivo de Rennes e Lorient, ambos clubes são geridos de forma austera e disciplinada. O exemplo do Nantes, e da sua péssima gestão financeira, lançou o alerta e hoje não há quem pense que qualquer um dos três clubes possa seguir o mesmo caminho. Comprar barato, apostar na formação local, recrutar alguns dos mais jovens jogadores que despontam em Clairefontaine e, sobretudo, vender bem e na hora certa, tem sido a chave para a estabilidade de três clubes que representam o melhor da gestão organizada que tomou controlo nos últimos anos do futebol francês.

O sucesso do Lorient, um caso exemplar, deveu-se em grande parte à descoberta de Kevin Gameiro. O jovem avançado, de origem portuguesa, foi pescado ao Strasbourg quando o clube alsaciano caiu no poço da Ligue 2. A partir daí os seus golos valeram vitórias, pontos e muito dinheiro aos cofres do Lorient. Mas não foi caso único. Antes dele passaram pelo clube internacionais como Gignac, Cissé, Gourcouff ou Keita, hoje todos eles figuras incontestáveis do futebol internacional. Actualmente o clube conta com um leque de jovens promessas recrutadas a clubes vizinhos como Quercia, Paquet-Monnet, Koné e Coutadeur e as perspectivas para a próxima temporada são altamente positivas. Ninguém exclui que o conjunto de Christian Gourcouff, pai da estrela do Lyon, possa aspirar a algo mais do que o 11º posto conseguido na passada temporada.

O caso do Brest é ainda mais paradigmático porque o conjunto nortenho apenas disputou doze temporadas na Ligue 1 desde a sua fundação e todos esperavam que a equipa fosse a primeira despromovida na época que findou. Com um excelente trabalho táctico e um conjunto recrutado por meia dúzia de tostões, Alex Dupont conseguiu o impossível e logrou o 16º posto, dois acima da linha de água. Numa equipa sem figuras e estrelas para vender, a gestão financeira é levada ao extremo e o aproveitamento dos jogadores da casa um santo e senha que tem dado os seus frutos. Já o Rennes joga noutra liga. Frederik Antonetti sabe que os seus adeptos querem sempre algo mais e depois do 6º lugar na passada época há uma legitima ambição para atacar os lugares reservados à Champions League. Mas tudo é feito com cabeça. Com uma das melhores Academias do Mundo (de onde sairam Mvilla, Sow, Briand e companhia) o clube gasta pouco e bem em contratações e vende caro e melhor no mercado de transferências. Sem nunca ter ganho um titulo (ao contrário do Nantes que soma oito troféus da Ligue 1) ninguém duvida que o ano que vem pode correr bem melhor do que se possa esperar para o conjunto bretão.

 

Se o Midi tem sido habitualmente o eixo central do futebol gaulês, a verdade é que actualmente a costa sul tem vindo a perder a sua influência para o Norte industrial, para o Maciço Central e para a zona alsaciana. Todas estas regiões contam com três equipas na Ligue 1 mas nenhum desses fenómenos é tão surpreendente como o que acontece hoje em dia na Bretanha. Sem o poder financeiro das restantes regiões que lideram o top de representatividade, os bretões sobrevivem seguindo as mais elementares leis da gestão desportivo. Com o sonho local de recuperar a presença do Nantes entre os maiores clubes de França, o futebol na Bretanha começa a tornar-se um caso sério de sucesso no futebol francês.


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publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:45 | link do post | comentar

Segunda-feira, 06.06.11

 

Guarda Redes

Hugo Lloris

 

Apesar do Lyon ter estado, um ano mais, por debaixo das expectativas, o jovem Hugo Lloris, esteve, uma vez mais, ao seu máximo nivel. O guardião dos “Gonnes” confirmou o seu estatuto de referência dentro do Olympique e melhorou alguns dos seus defeitos por pulir, como o jogo com os pés e os cruzamentos para a área. Não foi ele, certamente, que o Lyon falhou o assalto ao ceptro.

 

Outros: Mickael Landreu foi o guardião do titulo, determinante a segurar muitos pontos para o Lille nos momentos mais apertados, numa especie de segunda juventude inesperada. Steve Mandanda continuou a exibir-se igualmente em boa forma ao serviço do Marseille mas ainda se nota que está um furo por debaixo de Lloris.

 

 

 

Defesas Laterais

Taiwo e Coulibaly

 

Dono e sonhor do corredor esquerdo do Velodrome, o nigeriano Taiwo foi um dos jogadores mais em forma durante toda a temporada. A sua transferência para o AC Milan espelha bem a forma como o lateral cresceu ao largo dos últimos anos ao serviço do conjunto da Cote D´Azur, com golos e assistências chave. Em Auxerre um dos nomes mais em forma durante o ano foi Adama Coulibaly. O jogador do Mali foi o único a salvar-se numa época deprimente de uma equipa que no ano passado sonhou até tarde com um titulo que poderia ter sido histórico.

 

Outros: Depois de brilhar ao serviço do Lorient o lateral Christophe Jallet continua a consagrar-se como um lateral de excepção ao serviço do PSG. Uma época regular e séria que lhe valeu também ser pré-convocado por Laurent Blanc. Do outro lado da defesa, Ali Cissokho voltou a ser um dos elementos mais constantes do Lyon, o mais seguro do sector defensivo e um dos poucos que se salvou de uma época cinzenta e atipica.

 

 

 

Defesas Centrais

Sakho e Varane

 

São o futuro do futebol francês e não é muito complicado imaginá-los nos próximos anos a liderar a defesa dos Bleus. Sakho confirmou este ano ao serviço do PSG todo o potencial que tinha feito dele um nome obrigatório a seguir. Entre lateral e central direito foi uma figura fixa no onze do conjunto parisino e um dos elementos mais jovens de uma equipa profundamente envelhecida. Varane despontou ao serviço do despromovido Lens mas a sua época extraordinária (onde actuou também a médio defensivo) não passará ao lado dos principais olheiros dos tubarões europeus.

 

Outros: Rodi Fanni arrancou a época ao serviço de Rennes mas em Dezembro mudou-se de armas e bagagens para Marselha onde acompanhou o argentino Gabriel Heinze no eixo da defesa. Ambos formaram uma dupla temivel reforçando a corrida – falhada – dos marselheses ao titulo. Adil Rami foi um dos elementos mais destacados da defesa do campeão Lille e aos 26 anos prepara-se para dar o salto para um grande da Europa, o Valencia espanhol.

 

 

 

Médios

Martin e Lucho

 

Se Lucho continua a ser o patrão, por excelência, do bom jogo do Marseille, o jovem Marvin Martin é, sem dúvida, a grande revelação da temporada. Ao serviço do modesto Sochaux, o médio criativo parisino demonstrou todo o seu potencial levando a equipa da fábrica Peugeot aos lugares europeus. O seu futuro está, certamente, bem longe de Sochaux. Ao seu lado neste onze um jogador insubstituivel, Lucho Gonzalez. O médio do Olympique voltou a execer de lider e general de um conjunto que faz da organização a sua melhor arma.

 

Outros: Em Lille vive um actor secundário de respeito, Yohann Cabaye. O médio é o sócio perfeito de Hazard e o fiel de balança no equilibrio defensivo dos nortenhos de Garcia. Em Rennes, o destaque foi para o trabalho criativo de Sylvan Marveaux e a tremenda solidez defensiva de Yann Mvilla. Ambos contribuiram para uma das melhores épocas do Stade Rennais e ajudaram a representar a solidez do projecto de formação do clube bretão.

 

 

 

Extremos

Gervinho e Mounier

 

A velocidade e explosão do costa-marfilense Gervinho foi uma das armas preferidas de Rudi Garcia para desatascar os jogos mais complicado. O extremo direito apontou 14 golos durante todo o torneio e foi um dos reis de assistências da competição realizando, talvez, a sua época mais completa de sempre desde que chegou ao Lille. No lado oposto a grande revelação do torneio foi Antoine Mounier. Só Martin deu mais passes para golo do que o jovem do Nice, filho das escolas de formação do Lyon. Rápido e profundamente vertical, o talento de Mounier há muito que estava detectado pelos principais scouts mas até agora nenhuma época tinha plasmado de forma tão evidente todo o seu potencial.

 

Outros: Em Sochaux mora também a rapidez e incisão de Ryan Boudebouz, hábil extremo que levantou imensa polémica quando anunciou que preferia representar a selecção da Argélia à francesa. Em Saint-Ettiene o destaque vai todo para Dimitri Payet que, depois de dois anos de muitas promessas, finalmente se converteu no extremo determinante que tanto anunciava na selecção sub-17 gaulesa. Nota final para a confirmação definitiva de Ayew, uma das surpresas do Mundial da África do Sul, que em Marselha encontrou o seu espaço para explorar o seu futebol em quinta velocidade.

 

 

 

Avançado

Hazard e Sow

 

A dupla que definiu toda a temporada na Ligue 1, uma associação que entrará para a história do torneio. Eden Hazard criou, Moussa Sow concretizou. O médio ofensivo belga e o dianteiro senegalês foram o esteio em que se montou a festa do titulo “lilleois” ao mesmo tempo que se afirmavam como as duas grandes invidiualidades da temporada. 25 golos para Sow, 15 assistências de Hazard, registos de primeiro nivel para uma dupla que vive já com a cobiça dos grandes da Europa, bem atentos à espantosa época do clube nortenho.

 

Outros: Em Marselha o Olympique continua a viver, e muito, da inspiração de um Mathieu Valbuena, que renasceu para o futebol com uma equipa bem montada à sua volta. O médio ofensivo gaulês encontrou em Ayew e Remy dois parceiros de luxo e manteve os azuis na corrida pelo titulo até ao fim. Em Lorient o luso-francês Kevin Gameiro confirmou as boas indicações deixadas na época passada voltando a marcar 22 golos, disputando até ao último dia o prémio de melhor marcador com Sow. A sua saída será um golpe duro para o modesto conjunto atlântico. Em Lyon, depois de um ano negro, as expectativas voltaram a não ser cumpridas mas não foi pelo notável trabalho do argentino Lisandro Lopez, que com os seus golos (17 em total) e assistências, manteve os “Gonnes” na rota da Champions League.

 

 

 

Treinador

Rudi Garcia

 

Desde há vários anos para cá que Rudi Garcia dava sinais de estar a preparar uma equipa em Lille disposta a desafiar os habituais senhores da Ligue 1. Durante três anos manteve-se sempre à porta dos lugares da frente, falhando o assalto por este ou aquele motivo. Mas Garcia encontrou, finalmente, a fórmula certa. Com os golos de Saw, o talento de Hazard, o trabalho cerebral de Cabaye e a segurança de Landreau e companhia, o Lille reconquistou um titulo histórico que não lograva desde os anos 50. Uma vitória surpreendente, depois do dinheiro investido por Marseille, PSG e Lyon, e que exemplifica bem o que sucede quando uma direcção mantém a confiança no seu treinador durante um largo periodo de tempo.

 

Outros: Didier Deschamps falhou a revalidação do titulo mas, mesmo assim, voltou a montar uma equipa sólida e altamente competitiva em Marseille. O ataque ao titulo durou até às jornadas finais e só então o Olympique atirou a toalha ao chão. Em Paris começam a acreditar que o PSG de Antoine Kombouaré pode voltar, mais depressa do que se imagina, à luta pelos titulos. Final da Taça e qualificação europeia cedo confirmada avalam o trabalho do técnico gaulês.

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:26 | link do post | comentar

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