Terça-feira, 29.04.14

Em 1984 os adeptos eufóricos do Benfica celebravam o Bicampeonato. Não sabiam que seria a última nas trinta edições seguintes de liga. Foi o apogeu de uma geração mágica, da mística de um clube único no panorama desportivo português. Três décadas depois os adeptos encarnados voltam a sentir-se importantes graças a um ano que tem tudo para entrar no Panteão da sua história. Mas realmente existe um processo revolucionário em curso?

 

Foi o momento que marcou uma geração. Que ainda não o sabia.

O bicampeonato conseguido pela máquina mágica de futebol montada por Sven Goren-Erikson em 1984 foi o canto do cisne de uma hegemonia que durou mais de duas décadas. Essa equipa estava feita para conquistar as estrelas. Tinham-se cumprido dez anos de Abril e nesse período o SL Benfica sobrevivera. A uma revolução que lhe retirou a sua maior fonte de talentos, substituída paulatinamente por estrangeiros de bom nível. Ao renascimento do FC Porto, depois de um sono de quase meio século, sob a liderança de José Maria Pedroto. O Benfica lutou e manteve-se de pé. Não ganhou tanto nessa década como na anterior mas manteve-se a mais prolifera formação do futebol nacional. A época da mística, das noites europeias no velho e sempre lotado Estádio da Luz, a presença em campo de alguns dos melhores jogadores da vida do clube ajudava a pensar em algo mais. Trinta anos depois os mesmos adeptos que celebravam eufóricos uma nova vitória sobre Pedroto, sobre o ousado Pinto da Costa e sobre o rival Sporting, voltam a invadir as ruas para cantar um título. Mas o mundo, o seu mundo, mudou. Os mesmos adeptos que estavam nessas tardes de glória de 1984 colocaram um ano antes as mãos na cabeça três vezes em sinal de incredulidade. Com eles os seus filhos e, em alguns casos, os netos. Em 2013 o Benfica caiu em quinze dias por um golo em três frentes. Ia ganhar tudo, estava escrito. Não ganhou nada. Foi um golpe duro de engolir. Sobretudo para quem começava a perder a memoria daquelas tardes de 83/84. As tardes em que o Benfica passeava a sua superioridade sem rival à altura.

Durante os trinta anos que medeiam o segundo titulo de Erikson e o segundo conquistado por Jorge Jesus, o Benfica venceu pouco. Muito pouco. A primeira década após o Bi do sueco foi dura, mas leal. Houve festejos a norte e a sul. O Sporting saiu de cena, ninguém ocupou o seu lugar e o futebol português entrou de novo num regime bipolar. A cada dois títulos azuis, um titulo encarnado. O FC Porto venceu a Taça dos Campeões Europeus e perdeu uma meia-final. O Benfica chegou a duas finais, não ganhou nenhuma. A Luz ainda era um forte, as Antas um pesadelo, as ligas disputadas taco a taco e a qualidade individual abundava em ambos os bandos. Foi talvez a mais intensa década do nosso futebol. E no fim, o Benfica perdeu a capacidade de lutar. Em 1994 foi campeão. Era apenas a quarta vez numa década. Foi a última em doze anos. 2006 e 2010 foram um oásis de adeptos sedentos. Pelo caminho o Porto engoliu a história com títulos e mais títulos, o Sporting renasceu para morrer outra vez da mesma doença de sempre e até o Boavista teve direito a celebrar. No meio deste panorama aos adeptos encarnados começavam-lhe a faltar espaços no quarto do sofrimento para mais desgostos. A memoria ia-se e com ela esses dias pintados de vermelho.

 

Jorge Jesus marcou o inicio de um novo ciclo.

Campeão na sua primeira época, é o treinador mais longevo da história do clube. São cinco anos à frente das águias. Não há memoria de uma relação assim nos registos modernos de um clube cruel com os seus. Sobreviveu à humilhação do ano de glória de André Villas-Boas. Esteve por duas vezes perto da glória e das duas vezes caiu, de joelhos, no suspiro final, contra triplos impossíveis de imaginar. O FC Porto, destroçado de tanto ganhar (e de tão mal saber gerir a vitória), ganhou uma segunda vida graças aos erros de Jesus. Mas contra as leis da lógica, o polémico treinador ficou. A perseverança foi paga quando a SAD do FC Porto decidiu que os milagres caídos do céu nos dois anos anteriores eram desígnio divino de que até um macaco podia ser campeão de azul e branco. Crer em premonições divinas habitualmente corre mal. Esta correu pior. A péssima época dos dragões destapou todos os erros que os títulos esconderam nos últimos anos, o de um clube tão podre por dentro como o Partido Comunista soviético nos dias pré-Perestroika. O Brejnev azul e branco enganou-se e tirou um peso de cima do Benfica. A época dos encarnados não foi melhor que a dos últimos anos. A equipa marcou menos golos, teve os mesmos registos de vitórias e empates. Mas desta vez não tropeçou com uma pedra imaginária nem teve diante um papão assustador e bafejado pela sorte. O Benfica seguiu o seu curso normal enquanto o rival caiu no poço. Foi suficiente para o campeonato e um bálsamo de auto-estima nos duelos directos. Nunca o Benfica foi tão superior em tantas frentes ao eterno rival. Nunca desde esse 83/84 se palpava que havia realmente um degrau de diferença entre ambos clubes. E que era o Benfica que estava por cima. Este ano essa sensação é inequívoca. O trabalho bem feito – pelo meio houve muitos, muitos erros, tanto da estrutura encarnada como de Jesus, mas o bipolarismo português permitiu que passassem incólumes – teve a sua recompensa e hoje é difícil pensar que há alguma equipa em Portugal perto, sequer, do nível apresentado pelo Benfica. A Europa League pode ser a cereja no topo do bolo mas as Águias não precisam de Turim para saber que estão no caminho certo.

 

Naturalmente que há muito por fazer. O Benfica, como o FC Porto, domina o campeonato português porque a diferença de orçamentos é tal que não há espaço para grandes surpresas. Por muito boa vontade do Sporting, quem gasta cinco vezes mais tem de triunfar de forma proporcional. E por isso as Águias têm perdido tão poucos jogos nestes anos. O mesmo teria passado com o FC Porto (esteve tres temporadas com uma derrota no CV) se não fosse por este ano que, além de atípico, é espelho perfeito de como a margem de manobra é curta entre um clube e outro. Mas na Champions League as equipas portuguesas continuam a falhar. A Europa League é consolo para adeptos mas é um premio de segunda divisão europeia que pouco abona a favor de clubes que não eliminam Olympiakos ou Zenits em duelo directo. O Benfica conseguiu reequilibrar progressivamente a balança por ter sido paciente, por ter investido em jogadores de ataque numa liga onde não precisa de defender e por ter sabido esperar o tropeção do rival. Estão em melhor ocasião do que nunca para repetir 83/84, sem atingir a mesma brilhantês futebolistica. Em 2010 o FC Porto respondeu com armas que já não tem, jogadores de topo, treinador ambicioso e dinheiro para gastar (e não vender). Cinco anos depois a base encarnada tem tudo para ser suficiente. A história espera que o circulo se feche e que trinta anos depois o Bicampeonato seja uma realidade. Há muitas gerações cruzadas à espera desse momento.



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Terça-feira, 01.04.14

Anfield Road não celebra um título de liga desde o ocaso dos anos oitenta. O Calderón está à quinze anos à espera de voltar a Neptuno. Roma e Sporting, flamantes equipas nos princípios do milénio, voltam a sentir-se protagonistas. 2014 pode transformar-se num dos anos mais transcendentes do futebol europeu recente. Enquanto o dinheiro continua a sufragar títulos e transferências milionárias, permanece vivo um espaço emocional para a boa gestão desportiva demonstrar que é uma alternativa real ao mundo dos novos-ricos.

 

O mais provável é que Maio se despeça com os campeões do costume.

Manchester City, Barcelona, Juventus e SL Benfica repetirão títulos recentes. Tèem sido, inevitavelmente, figuras de proa das suas respectivas ligas. São os clubes que mais investem, os que melhor souberam contornar os obstáculos. Serão campeões justos e previsíveis. Mas este ano terão também sobrevivido a uma dura pugna com inusuais suspeitos. Com clubes que, sem as mesmas armas financeiras e argumentos desportivos, encontraram um atalho fundamental para permanecer vivos. A memorável temporada de Reds, Colchoneros, Giallorossos e Leões é a prova de que se pode vencer no mundo do futebol com meia dúzia de tostões e cabeça. Sobretudo, cabeça. A época desastrosa de FC Porto, Real Madrid, Manchester United e AC Milan, os mais lógicos rivais aos mais que possíveis ganhadores do ano, foi reflexo de uma soma de péssimas decisões desportivas. O dinheiro estava lá. Todos eles gastaram e gastaram muito. Mas não gastaram bem. Sobretudo, entregaram as rendas da equipa a homens que não estiveram a altura do desafio. Ao contrario das grandes surpresas do ano que devem o seu sucesso inesperado mais aos seus hábeis treinadores do que, propriamente, ao trabalho dos seus dirigentes. Nos bancos de suplentes o papel do treinador é habitualmente relativizado em prole das estrelas dos relvados. Mas uma constelação de grandes nomes nem sempre faz uma equipa. E muito raramente uma equipa funciona sem um grande treinador. Brendan Rodgers, Diego Simeone, Rudy Garcia e Leonardo Jardim foram, destacadamente, os melhores generais das suas respectivas ligas. Podem ganhar ou perder no final da batalha. Mas isso será um detalhe. Será culpa do abismo financeiro que existe entre os seus clubes e os rivais. Estarem a lutar em Abril por algo que os seus adeptos nem sonhariam, já é mais do que uma vitoria moral.

 

Das quatro equipas que deram cor a temporada europeia, parece mais evidente que Sporting e Roma estão descartados da corrida pelo titulo. No entanto, os seus casos sao os mais impressionantes. No caso dos romanos, a equipa deu um salto de gigante na hierarquia do Calcio. O investimento norte-americano foi ponderado e o clube continua a depender, talvez em excesso, do peso emocional de Francesco Totti, o eterno rei de Roma. Mas á volta do seu herói das arenas, Garcia montou uma equipa jovem, barata e ambiciosa que durante largas jornadas apresentou o melhor futebol do Calcio. Depois de um arranque para os livros de história, a equipa da Loba perdeu o gás e não aguentou a concorrência com uma Juventus que tem um dos melhores meio-campos do Mundo, com Pogba e Vidal como escudeiros de Pirlo. O titulo Bianconeri ja se adivinhava, a oposição romano foi a grande surpresa especialmente com o pedigree dos clubes lombardos e o grande investimento realizado pelo Napoli. Sem tanto dinheiro, sem tantos nomes sonantes, Garcia soube dar a batuta da equipa a quem podia fazer a diferença. E reduziu em campo diferenças abissais fora dele. Leonardo Jardim fez o mesmo. 

O Sporting dos últimos anos foi sempre um pálido reflexo da herança orgulhosa do Leão. Depois de dois títulos em três anos e de uma geração promissora, desmantelada cedo demais, o hara-kiri institucional do clube lisboeta foi assustador. Para muitos a recuperação seria lenta. O sucesso desportivo de 2014 apanhou todos de surpresa inclusive o flamante novo presidente do clube. Sem gastar praticamente nada no defeso, com uma equipa de jovens promessas e segundas filas, o Sporting tem sido o único clube a dar batalha ao Benfica de Jesus, o mesmo que sobreviveu a um annus horribilis para encontrar-se com uma temporada mais plácida do que podia pensar á partida. Eliminados pelos Águias depois de um memorável duelo na Taça de Portugal, os Leões mantiveram-se de pé na luta pelo titulo de liga até ao fim, algo que não acontecia há cinco longos anos. Jardim, de longe o melhor treinador do campeonato, encontrou em William Carvalho e Freddy Montero os seus melhores aliados. O Sporting pode, pela primeira vez em doze anos, acabar a época à frente do FC Porto. Com um orçamento muito inferior, mas com um treinador muito melhor. Os Dragões deitaram por terra o Tetra no dia em que trocaram o pouco espectacular mas fiável Vitor Pereira por Paulo Fonseca. O maior erro de gestão desportiva de um Pinto da Costa cada vez mais ausente e de uma “estrutura” que falhou num momento delicado no processo de escolha e de substituição (tardia) do principal (mas não único) calcanhar de Aquiles do FC Porto 2013/14. O titulo nunca foi real, a temporada do Benfica foi mais tranquila mas o que o coloca no mapa o genuíno fracasso dos azuis da Invicta é a sua incapacidade de ultrapassar uma equipa leonina que foge determinado para um pote de mais de 10 milhões de euros que serão fundamentais para salvar o clube. Contra todas as expectativas.

 

Do outro lado da barricada, o das equipas que sonham até ao fim, estão Atletico de Madrid e Liverpool. 

Os colchoneros, desde que Simeone aterrou no Manzanares, têm recuperado o sabor das vitorias.

Á Liga Europa de 2012, sucedeu-se a Copa del Rey de 2013 em casa do histórico rival, esse que nao batiam à quase quinze anos. Podia ser sonho de curta duração. Mas não foi. O arranque do Atleti na liga foi convincente, vencendo no Bernabeu e empatando em casa com o Barcelona. A caminho do sprint final, os madrilenhos lideram a classificação. Contra o Real dos 100 milhões gastos em Bale, o Real de Ronaldo, Benzema, Modric. E contra o Barcelona dos 100 milhões (e continuem a contar) de Neymar, o Barcelona de Messi, Iniesta e Xavi. Com um orçamento infimo, um plantel de gladiadores e um treinador com alma de potrero, o Calderon sonha. O Atletico está na luta pela Champions League – pela primeira vez desde 1997 – e pelo titulo de liga que não celebra, precisamente, desde essa etapa. Quando Simeone ainda capitaneava em campo o que agora ordena do banco. Não haveria campeão mais justo numa liga de milhões atirados ao lixo do que uma equipa que com negócios oportunos, jogadores da cantera e o símbolo do “Ardaturanismo” bate o pé aos grandes e devolve a ilusão dos días do SuperDepor, do Valencia campeão e da equipa do Doblete.

Em Inglaterra, o Liverpool vive um estado distinto de euforia. Dominadores absolutos do futebol ingles durante tres décadas, os Reds vivem vinte e quatro anos de desespero. Nenhum titulo de liga, dois títulos continentais e muitos sonhos desfeitos pelo caminho. A Kop espera ansiosamente pelo momento em que o Youll Never Walk Alone volte a ser entoado ao som de “We are the Champions”. Mas ao contrario dos espanhóis, o sucesso parece ter caído do céu. Depois de uma época passada sofrível, não muito diferente das anteriores, os homens de Rodgers voltam a ser protagonistas. Devem-no aos golos de Suarez, ao espírito guerreiro de Sturridge, à aparição de Sterling e ao talento de Coutinho. Devem-no à liderança de Gerrard. E a gestão de Rodgers. Aplicando os conceitos defendidos pela filosofía Moneyball, os gestores do Liverpool encontraram o caminho do arco-iris de forma surpreendente, quase como por acaso. Lideram a Premier League em Abril pela primeira vez em duas décadas. E só dependem de si para serem campeões. Nos duelos directos com os milionários de Londres e Manchester vão dar forma ao sonho. Podem ainda acabar fora dos postos Champions. Mas Anfield já so pensa no futuro que lhe relembra o passado. Nesses dias de glória perdidos no tempo em que o rio Mersey adormecia embriagado de euforia. No primeiro ano sem Ferguson no activo – com um Manchester United em autodestruição, um Arsenal eternamente inconstante e um Chelsea em reconstrução -  os Reds podem voltar a ser campeões. O mundo torce por eles.

 

No final os vencedores podem continuar a ser os de sempre e tudo o que se viveu em meses de competição acabar numa mera anedota sem repercussões futuras. Mas a gestão desportiva brilhante destes quatro clubes aponta um caminho que cada vez mais equipas vão ter de seguir para reduzir o fosso das grandes fortunas que assaltaram o futebol e abriram caminho a uma nova hegemonia reduzida a petro-dolares, rublos e velhos nobres com créditos ilimitados na banca. Os que acreditam num futebol diferente vão sempre tomar partido nesta luta. A vitoria de um, nem que seja, será celebrado seguramente em casa dos outros. Todos sabem que não lhes resta mais do que continuar a lutar.



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Quinta-feira, 27.02.14

Pinto da Costa é um homem desorientado. O fracasso não é um conceito a que esteja habituado. Depois de mais de trinta anos, o presidente do FC Porto fez dos títulos e do reconhecimento global o seu cartão de visita. Mas o seu egotismo também tem as suas consequências. Para os adeptos dos Dragões a mais recente chama-se Paulo Fonseca. O presidente do clube tricampeão nacional criou um pequeno monstro e agora não sabe o que fazer com ele. Porque todos sabem que a origem de uma época de desnorte recai na mais temerária de todas as suas decisões.

Sempre incisivo com a imprensa, o mito Pinto da Costa forjou-se (também) com tiradas inesquecíveis para os jornalistas sedentos de sangue. Testemunhei em pessoa, trabalhando, como o presidente do FC Porto consegue ser criativo, perspicaz e incisivo com a imprensa. Mas no final do jogo com o Estoril, e a sua subsequente presença à porta do parking interior do estádio do Dragão, esse Pinto da Costa foi substituído por um ogre desorientado e ultrapassado pelas circunstâncias. Era a primeira derrota para o campeonato em casa dos Dragões em cinco anos. Mais um dos muitos recordes negativos estabelecidos esta temporada. Interrogado pelos jornalistas sobre o futuro do treinador, um dos inevitáveis responsáveis pela situação, ao presidente azul-e-branco faltou-lhe o jogo de cintura dos seus tempos áureos. Foi agressivo, mal-educado e ditatorial. Normalmente os grandes homens quando começam a ver o poder (ou a razão) a escapar-se-lhe das mãos transformam-se em algo parecido. E momentos como este são raros na carreira de Pinto da Costa.

Desde que assumiu a presidência do clube, em 1982, apenas por cinco vezes se viu perante esta situação. Nada mal. As duas primeiras soube resolve-las bem. Foram apostas arriscadas e pessoais que saíram mal. Tanto Quinito como o regresso de um sempre contestado Ivic não caíram bem com os adeptos e os jogadores. Duraram pouco. Para o lugar do primeiro, Pinto da Costa conseguiu resgatar Artur Jorge da sua primeira aventura por Paris. A equipa falhou o título nesse ano (apesar de estar só a um ponto da liderança no momento da troca) mas foi campeã no ano seguinte. Quatro anos depois, quando o bicampeão brasileiro Carlos Alberto Silva voltou ao Brasil, o líder dos dragões decidiu recuperar Ivic. O técnico jugoslavo esteve pouco tempo no cargo apesar de uma histórica vitória em Bremen (com uma equipa a jogar com cinco defesas). Bobby Robson, despedido pouco antes por Sousa Cintra enquanto liderava o campeonato, também não conquistou o título mas lançou as bases do Pentacampeonato. Foram dois erros graves sem grandes consequências pelo acerto e o timing na tomada de decisão presidencial. Mas também induziram o líder do FC Porto a crer na sua própria infalibilidade. E a política de riscos foi aumentando e com ela o desnorte.

 

O ponto critico no eterno mandato de Pinto da Costa aconteceu na era pós-Mourinho.

O próprio treinador sadino tinha sido uma correção de um erro inicial (previsível) chamado Octávio Machado. Mas quando o campeão europeu (e de tudo) partiu para Londres, ao presidente do FC Porto não se lhe ocorreu melhor ideia que contratar um italiano sem prestigio, experiência e flexibilidade para o cargo. O disparate Del Neri não sobreviveu à pré-época e o seu sucessor, Victor Fernandez (uma velha paixão) também não aguentou para lá do Natal. Numa espiral autodestrutiva o terceiro acto foi ainda pior. José Couceiro piorou os registos do seu antecessor e os dragões perderam o tricampeonato exclusivamente por culpa próprio. O mesmo é dizer, por consequência da megalomania de Pinto da Costa. Desde então o modelo manteve-se com um parêntesis - Jesualdo Ferreira - mais consequência das circunstâncias (o bater da porta de Co Adriaanse com a época a começar, do que por vontade própria. Tanto o holandês como, mais tarde, Villas-Boas, Vitor Pereira e Paulo Fonseca seguiram o mesmo padrão de treinadores quase desconhecidos, sem experiência e fáceis de controlar por uma direcção cada vez mais preocupada com realidades paralelas do jogo do que, propriamente, com uma filosofia de sucesso a médio prazo. O clube aumentou exponencialmente a sua faceta de emblema vendedor, reduziu ao mínimo os ciclos de treinadores e jogadores, sempre á procura do próximo negócio milionário. O sucesso desportivo deixou de ser a consequência de um bom trabalho feito para ser o oxigénio necessário para manter a escalada de gastos nesta corrida ao El Dorado. Ferido de morte pelas escutas do caso Apito Dourado, Pinto da Costa foi perdendo o fulgor de outrora, retirando-se estrategicamente para a sombra, delegando cada vez mais poder na tribo aduladora que o rodeava e se preparava para colher os despojos. O que antes era uma forte direcção pessoal escondeu-se atrás do manto sagrado da SAD e dos negócios e homens que circulavam à sua volta. Mas para manter essa espiral de contratações, valorizações e vendas era necessário manter a linha de treinadores que pedem pouco e agradecem muito porque, na prática, sabem que sem o clube não são ninguém. Com o dinheiro investido e a qualidade individual ao longo dos anos, um FC Porto liderado por um treinador de prestigio poderia ter ido muito mais longe de onde foi. Mas nas mãos de jovens turcos com vontade de agradar, o desnorte tornou-se inevitável. E o maior desnorte possível chegou com Paulo Fonseca. Em quatro anos o antigo jogador do clube (por um par de jogos, para os mais esquecidos) passou da III Divisão para a Champions League. Rapidamente deu para perceber que era mais uma aposta de risco que saía mal. Corrigido a tempo, corria o risco de tornar-se numa anedota. Mas a Pinto da Costa faltou-lhe a sagacidade e força de outros momentos. Talvez "queimado" pelos seus erros anteriores, preferiu esperar. E à medida que o cenário ia piorando, o divórcio com os adeptos e jogadores confirmando-se, a inactividade do presidente parecia cada vez mais evidente. Paulo Fonseca poderá sair antes da época mas será sempre demasiado tarde. E se o erro na sua escolha podia ser o erro de qualquer um, mantê-lo no cargo durante oito longos meses vai contra todos os instintos de liderança de um presidente sem igual na história do futebol português.

 

Para os adeptos do FC Porto a situação de Paulo Fonseca é nova. Não pela evidente incapacidade do treinador em lidar com a situação e com o cargo. Não é o primeiro nem será o último treinador promissor a falhar o salto a um grande. Acontece em todos os lados. A situação é mais grave porque evidencia a evidente perda de liderança (e de qualidades de liderança) do homem em quem os adeptos sentiam que podiam confiar em todas as circunstâncias. E um sinal, evidente se fazia falta, que todos são finitos e que o futuro do FC Porto pós-Pinto da Costa tem tudo para ser similar ao que sofreu o Benfica e o Sporting no final das suas respectivas épocas douradas. Não será um final abrupto (ambos clubes tiveram quase uma década no topo, partilhando o sucesso com o seu sucessor, antes de cair) mas o ciclo histórico de quase três décadas que Pedroto idealizou e Pinto da Costa concretizou já esteve mais longe. O Império Romano caiu muito depois do seu fim efectivo. Paulo Fonseca, sem o saber, pode ser a primeira pedra num caminho de obstáculos para o futuro. O próximo defeso - e a soma de decisões do presidente dos dragões a vários níveis - poderá ser o mais importante da história moderna do clube que dominou como nenhum outro a história do futebol português.

 

 



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Quinta-feira, 07.11.13

O futebol é um desporto de mitos. De falsas lendas. De ilusões. Da sensação de sabedoria eterna. Nos escritórios do estádio do Dragão, ecoam seguramente algumas dessas ideias sempre que aparece Paulo Fonseca em grande plano. O treinador do FC Porto herdou uma equipa ordenada, organizada e ganhadora. Transformou-a num puzzle do qual nem ele sabe a solução. O seu plano vive em pleno caos.

Há uma velha lenda nos meandros do futebol português que diz qualquer coisa como que Pinto da Costa nunca se engana.

É lenda. A realidade é bastante diferente. Especialmente no que diz respeito à eleição de treinadores. Durante trinta anos há tempo suficiente para se falhar e acertar em partes iguais. A ditadura do tempo, podíamos dizer. Se o FC Porto é gerido da cúpula presidencial, a verdadeira cadeira de sonho, então é fácil entender que os treinadores são, para o clube, funcionários como outros quaisqueres. Com maior exposição mediática claro. É evidente que sempre que essa máxima ficou por cumprir e no banco das Antas e do Dragão se sentaram grandes treinadores, o papel da figura papal e presidencial ficou relegada para um discreto segundo plano. Foi assim com Artur Jorge, o herdeiro eleito por José Maria Pedroto. Foi assim com José Mourinho, o self-made man do futebol mundial. E com André Villas-Boas, o filho pródigo. Tudo escolhas certeiras de Pinto da Costa, tudo protagonistas inesperados na sua gesta.

Mas o presidente azul e branco gosta de que o protagonismo fique reservado para outros e prefere treinadores de low profile. O seu longevo mandato, ad aeternum, assim o confirma. Perfil compartido por figuras que vão de Jesualdo Ferreira a Fernando Santos, de Vitor Pereira a Carlos Alberto Silva, de Tomislav Ivic a Bobby Robson. Cada vez que apostou noutro modelo de treinador - Del Neri, Octávio Machado, Co Adriaanse - teve problemas sérios. Homens de pouco reclamar e muito cumprir. Homens que pedem poucos recursos e aceitam o que lhes dão. Essa é a verdadeira vara de medir dentro da SAD azul-e-branca quando se elege treinador.

Não existe - nem existiu nunca - a vontade de trazer os melhores. Nem um modelo concreto de treinadores dentro de uma escola táctica (apesar do 4-3-3 ser quase santo e senha desde meados dos anos noventa). Ou técnicos focados num mercado em concreto, no desenvolvimento de jovens, etc... Não. No FC Porto os treinadores entram pela porta pequena e saem pela grande, com títulos que em muito devem à estrutura. Saem sem fazer barulho, agradecendo a oportunidade como se de um favor se tratasse. E o ciclo continua a renovar-se. Até que alguma coisa corre mal.

 

Essa coisa pode perfeitamente chamar-se Paulo Fonseca.

Também se podia chamar Quinito. Os dois têm muitos em comum. A começar por um escasso historial como treinadores profissionais. Por terem sido elogiados pela imprensa com as suas gestas nos clubes mais modestos que treinavam. E porque Pinto da Costa olhou para ambos e julgou ver neles o próximo Artur Jorge/André Villas-Boas. Moldado pela sua sombra, claro. O resultado de Quinito está à vista. Um poeta do futebol com uma carreira sem muito que contar. Paulo Fonseca ainda tem tempo de emendar a mão. É até perfeitamente possível que, como tantos antecessores seus, quando deixe o FC Porto o faça com títulos debaixo do braço. O que seguramente nunca fará é com a sensação de que chegará a algo melhor. Porque como tantos outros, isso será impossível. A estrutura é irrepetível noutros cenários, espaços onde a fragilidade dos treinadores ficam a nu. Como sucedeu com António Oliveira, com Fernando Santos, Jesualdo Ferreira e poderá eventualmente passar com Vitor Pereira. A lista é grande.

Paulo Fonseca é a definição perfeita do caos.

Em cinco meses destroçou uma herança de três anos, que começou a ser forjada na raiva pós-túnel, no ano em que a direcção do clube apostou todas as fichas num rookie chamado André Villas-Boas ao mesmo tempo que reforçou da melhor forma possível um plantel já de si repleto de excelentes jogadores com João Moutinho. Foi o principio de um triénio memorável que inclui três títulos consecutivos de liga, uma só derrota na competição nacional, um título europeu e um modelo de jogo sólido. Um 4-3-3 com uma organização defensiva perfeita, transições ágeis e um leque de jogadores top. Tudo isso agora é parte de uma memória distante. Paulo Fonseca é o responsável dessa metamorfose kafkiana. Hoje o FC Porto não sabe se é homem ou se é mosca. Já não há réstias do 4-3-3, perdido entre um 4-2-3-1 que desaproveita um dos melhores médios recuperadores do mundo e um 4-1-3-1-1 sem qualquer sensação de equilíbrio. A defesa, outrora a grande arma do projecto AVB/VP é uma anedota com jogadores que nos últimos dois anos chamaram a atenção dos grandes da Europa perdidos num sistema que os deixa deslocados faces a qualquer rival. E claro, não há jogadores top porque a política comercial da SAD decidiu abdicar de duas jóias da coroa sem garantir a habitual transição, consequência de uma oferta irrecusável de mais um novo rico e de um deficit tremenda causado por uma péssima gestão a médio prazo. Mesmo assim a Paulo Fonseca entregou-se uma equipa à qual não se retirou nenhum jogador de última hora, com opções para quase todos os sectores de campo. E no entanto o caos reina. Um treinador apático (com um prazer sádico por lançar jogadores a cinco minutos do fim), uma descompensação nas suas eleições na pré-época (os extremos Iturbe e Kelvin foram deixados de lado) e um onze tipo que roça a mediania e onde cabem Licá e Josué, que a priori pareciam apenas opções de recurso. Com esse cenário desolador o FC Porto tem sido vulgarizado na Europa e perdeu o seu encanto no campeonato nacional. Lidera mais por defeito do que por virtude (o campeonato do seu rival directo tem sido tão mau, tal como a sua performance europeia), dando sinais de uma insegurança desconhecida até este ano. E em nenhum momento o timoneiro parece dar sinais de inverter o rumo. Pelo contrário, o seu discurso transborda uma arrogância inaudita para quem, até agora, representa tudo aquilo que está errado com um clube habituado a vencer sem demasiado esforço.

 

Paulo Fonseca acabará o ano como treinador do FC Porto.

É uma aposta arriscada da SAD e esta irá até ao fim com o treinador. Mesmo a mais do que provável eliminação precoce na Europa não será suficiente para substituir o treinador, da mesma forma que não foi com Vitor Pereira, um treinador que teve de lidar então com um balneário em revolta, que não recebia a tempo e horas e com vários jogadores que viviam a sensação de promessas por cumprir. Sendo Jorge Jesus o treinador hara-kiri habitual, o Sporting um projecto em desenvolvimento e o Braga uma sombra do que ambicionou ser, Paulo Fonseca pode ser campeão português em Maio. Seria, provavelmente, um dos piores treinadores em ostentar o título. Algo possível apenas num clube como o FC Porto. Mas ao contrário de Artur Jorge, Mourinho e Villas-Boas, verdadeiros génios dos bancos, nunca será um produto exportável para brilhar lá fora. É, como o plantel do FC Porto, para consumo interno. Está de acordo com a mentalidade e falta de ambição da linha que procura suceder a Pinto da Costa dentro do clube, mais preocupada com os negócios que com o prestigio internacional, mais interessada na compra e venda do que na glória europeia. Para essa linha, Paulo Fonseca é um treinador suficiente. Para os que aspiram a algo mais, os que pensam que a conjugação de uma secretaria-técnica de topo com um treinador de talento e com anos para trabalhar poderia ser fascinante, é apenas mais um reflexo do caos emocional em que vive o Dragão.

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 21:55 | link do post | comentar | ver comentários (16)

Sábado, 10.08.13

O Benfica contratou Fariña. O Benfica emprestou Fariña. Pelo meio não houve jogos oficiais, não houve o reflexo das entusiasmantes capas dos jornais a promover a nova estrela sul-americana. O dinheiro move-se, os jogadores movem-se, a suspeita permanece. Não é caso único. Portugal passou a ser um país "ponte express" para a movimentação de dinheiro, agentes, futebolistas e fantasmas do mundo do moderno.

 

No Racing de Avellaneda chamavam-lhe estrela, "pibe de oro" e outras pérolas que tais.

Na nomenclatura do jogo argentino, não surpreende. É um país apaixonante, mas habituado à cultura do exagero. Entre Maradona e Messi todos eram os "novos Maradonas" até que apareceu Leo. Uma história contada muitas vezes cansa, e esse discurso cansava. Agora, imaginamos, falaremos dos novos Messis a cada dois por três. Iturbe já o era. Fariña sonhava em sê-lo. A imprensa português, como sempre tão entusiasmada como o mais básico dos adeptos com vulgaridades, fez eco das palavras, dos sonhos e das aspirações. Provavelmente nem o viram jogar. Provavelmente nem sabiam quem era. Mas vendia jornais. E Fariña lá veio, um negócio maravilhoso, espantoso, incomensurável. O novo "Di Maria" talvez. E agora, num avião a caminho de Doha, esse potentado futebolístico, Fariña pergunta-se a si mesmo qual é o futuro. Longe da sua terra, longe da Europa, o sonho de ser o novo (preencher com o nome que quiser) começa a esfumar-se. E os jornais, calados.

É assim que se fazem cada vez mais negócios em Portugal.

O Benfica transformou-se num entreposto de jogadores. Muitos nem chegam sequer a vestir de encarnado em jogos oficiais. Compra-se à discrição. Não há problema com o dinheiro. Em muitos dos casos, ele nem se move. Roberto afinal, era mesmo de quem este tempo todo?

Como Fariña houve outros casos. E continuará a haver. Desde que Jorge Jesus chegou ao Benfica o clube já comprou mais de 50 jogadores.

Leu bem. Mais de 50 jogadores. Em cinco pré-épocas, Jesus - e a direcção do Benfica, já que são unha com carne, até ver - trouxe uma média de 11 jogadores por ano.

Entre esse lote estão os casos paradigmáticos de Patric, Felipe Menezes, Kardec, Schaffer, Éder Luis, Carole, Wass, Hugo Vieira, Michel ou Luisinho. Jogadores com tão poucos minutos (oficiais e em amigáveis), que muitos se perguntam genuinamente se realmente alguém sabia algo deles antes de avançar para o negócio da aquisição. Como Fariña. A maior parte desses jogadores entrou numa espiral de empréstimos que se prolonga até ao fim do contrato (saindo a custo zero) ou com uma venda para maquilhar contas por valores irrisórios. Fariña, seguramente, será mais um desses nomes no amanhã. Dois milhões e uns trocos depois, que talvez o Benfica nunca pagou. Mas pelos quais deu a cara, o símbolo e a história. Entregue aos interesses de fundos de inversão e empresários, o clube tem muito que explicar nos seus negócios com os espanhóis do Granada e do Atlético de Madrid e nas suas operações sul-americanas. Mas, hoje em dia, os adeptos exigem pouco e a situação continua, Verão após Verão, exactamente igual. Resta saber, até Setembro, quantos vão acompanhar a promessa argentina no mesmo destino.

 

O clube encarnado não tem o exclusivo deste tipo de operações.

O Rio Ave tem sido gerido, desde há mais de um ano, por um fundo de empresários apoiado na figura de Jorge Mendes que permite a circulação de jogadores sem a movimentação de dinheiro. Fabinho, emprestado ao Real Madrid, foi agora desviado para o AS Monaco, dois clubes onde o empresário tem interesses. O Rio Ave empresta um jogador que, no fundo, nem é seu. O ridículo absoluto.

Em troca recebe anualmente jogadores descartados, para rodar, e sobrevive. Não cresce. Sobrevive. Que é a nova palavra de ordem no futebol. Não é caso único. A gestão da Traffic no Estoril, mais limpa e transparente, fala a mesma linguagem e move-se nos mesmos campos. Em Espanha há clubes envolvidos nesses esquemas, desde os célebres Atlético Madrid, Deportivo e Zaragoza aos emergentes Granada, Hércules e Rayo. O mesmo sucede em vários clubes da Europa de Leste, da Turquia e no complexo mundo do Calcio. É a novilingua dos relvados.

O caso do Benfica é assumidamente preocupante porque o clube dá a aparência de não precisar destes esquemas. Tem um património sólido, uma divida que pode abater com as suas mais valias reais (e o potencial de algumas vendas, associados aos ingressos da Champions League) e legitimas aspirações a vencer, pelo menos, três competições esta temporada. Não é o Estoril e o Rio Ave. Mas comporta-se como eles.

Se o problema do Sporting é o excesso de erros acumulados de gestões prévias e o FC Porto a sua excessiva dependência do mercado sul-americano (e de alguns fundos e bancos que por lá se movem), o Benfica ultrapassa as fronteiras do lógico com negócios que sujam por completo a imagem do clube.

Enquanto o FC Porto compra jogadores utilizando fundos e relações amigáveis com empresários para depois rentabilizá-los por milhões, o Benfica junta a esse modelo de gestão (que começou a aplicar com sucesso há três anos) um historial de erros de casting que não podem ser inocentes. Dos doze jogadores ao ano que chegam à Luz, metade desaparece cedo do mapa. E ninguém estranha.

 

Pizzi, chamado a ser um jogador de ponta do futebol português, "custou" (é dificil pensar que alguém pagou alguma coisa) 6 milhões de euros, por metade do passe. Que é do Benfica. Mas os seus adeptos vão ter de o ver de "azul e branco". Fariña, esse mito sul-americano, também é das "águias". E ninguém o vai ver porque os jogos dos Emirados Árabes Unidos não se podem seguir, nem via streaming. Entre os dois o clube gastou mais do que a esmagadora maioria dos clubes portugueses em todo o defeso. Nenhum fica no plantel. O entreposto segue aberto. São os negócios à portuguesa!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:22 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Segunda-feira, 20.05.13

Em 2005 o Sporting sonhava com o terceiro título nacional em cinco anos e com a consagração europeia em casa, depois de quatro longas décadas fora de uma final. Perdeu tudo. O título no derby da Luz e a final em Alvalade, contra o CSKA Moscovo. Alguns adeptos tinham feito a festa antes. Arrependeram-se. Oito anos depois o seu eterno rival sofreu o mesmo destino. Celebrar antes do tempo foi uma factura demasiado cara para a moral dos adeptos encarnados, condenados agora a limpar uma época que prometia ser memorável com uma Taça de Portugal. Alheio a tudo isto, o FC Porto sagrou-se tricampeão. É o sétimo título em oito anos. O nono em onze. Nada de novo para os lados do Dragão.

 

As brilhantes épocas do Estoril e Paços de Ferreira, dois clubes bem geridos desde dentro, sem megalomanias nem espirito kamikaze, foram as notas mais brilhantes de uma época cinzenta. De uma época que confirma, de uma vez por todas, a bipolaridade e o abismo que pauta o ritmo do futebol profissional em Portugal. Pela segunda vez em três anos o FC Porto foi campeão nacional sem perder qualquer jogo. Uma derrota em sessenta jogos, contra o Gil Vicente, são números que não encontram paralelo nem na Escócia, nem na Suíça, nem na Áustria, nem no Azerbeijão.

Não se trata, propriamente, de um FC Porto vintage, de uma formação capaz de conquistar a Europa como o faz com o país, tal como sucedeu em 2003 e 2004. É uma equipa moldada para consumo interno e que funciona como um relógio, particularmente quando defronta rivais que repetem o mesmo padrão de jogo semana atrás semana. Nos duelos directos, os que realmente decidem o título, o FC Porto foi fiel a si mesmo, ao seu modelo e à sua filosofia. O Benfica não. Por isso o título dormiu no norte de Portugal.

A equipa encarnada pode atrair com o seu jogo vertical e assumidamente ofensivo. Não é um projecto desportivo tacticamente exigente para os jogadores. O critério de saída da bola é sempre o mesmo, o jogo largo pelas alas e a acumulação de homens à volta da baliza fazem o resto. Jesus não sabe mais, como se tem visto na Champions League, mas o que sabe também basta para a Liga Sagres. Sobretudo porque os rivais não atacam e, portanto, não deixam a nú as fragilidades defensivas da sua ideia e de um plantel construído para ter apenas tracção à frente e onde não há criação pura - Aimar e Carlos Martins foram substituídos por Enzo Perez e Gaitán - só o faro de golo. O técnico encarnado contou com a melhor dupla de ataque do futebol português em largos anos, o eficaz Cardozo com o ágil Lima. Mas nem isso chegou. Na hora da verdade, só jogou um a titular. O modelo inverteu-se e, encostados à sua área durante mais tempo do que é habitual, os erros acumularam-se. No jogo da Luz e nos instantes finais do Dragão. Momentos que decidiram a época.

 

Ao futebol português continua a fazer muita falta alternativas sólidas.

O Sporting voltou a ser igual a si mesmo. Começou o ano de uma forma lamentável e acabou a recuperar o fôlego. Pelo caminho treinadores, jogadores e dirigentes continuaram a jogar com a emoção dos adeptos e o sétimo lugar, pior classificação de sempre, é um castigo justo mas pesado para um emblema fundamental para a competitividade da liga. Há jogadores suficientes para mudar a situação, resta saber se a nova equipa técnica e se uma directiva com um longo defeso pela frente estão à altura das expectativas de um ano sem provas europeias. O Braga, que até agora se tinha beneficiado desta implosão leonina, fez pouco melhor. Perdeu contra um rival muito inferior em tudo o particular assalto à Champions League, um verdadeiro fracasso desportivo por quem tarda em impor-se como alternativa credível. Uma vez mais José Peseiro voltou a demonstrar a incapacidade de lidar com a pressão dos desafios mais exigentes e a reinvenção dos Guerreiros do Minho tornar-se-á numa obrigação para António Salvador, até agora cómodo presidente no papel de triunfador surpresa.

Guimarães, Maritimo, Nacional e Académica realizaram épocas medianas, desportivamente pouco apelativas, com demasiados altos e baixos para terem encontrado uma posição mais alta na tabela classificativa. Aos primeiros os problemas financeiros obrigaram Rui Vitória a sacar da cartola uma geração de belas promessas. Os restantes nem isso ofereceram aos seus adeptos. Foi um ano cinzento, em contraste com a brilhante temporada de Rio Ave, Estoril e Paços. Os primeiros, com a bênção de Jorge Mendes, ganharam o sprint ao Sporting e ficaram a um ponto das provas europeias. Um lugar que pertenceu, com todo o mérito, ao Estoril, ainda há bem pouco tempo na segunda divisão, reflexo de que há uma forma comercialmente sustentável de fazer as coisas bem e ter resultados desportivos que acompanham. Uma lição que o Paços aprendeu há algum tempo. Na Mata Real existe tempo e paciência para os treinadores e faro com os jogadores. Sem um jogo espectacular, a solvência e a crença dos pacenses fez a diferença. Será muito dificil superar a concorrência no play-off da Champions League mas o clube merece pelo menos ouvir durante 180 minutos o hino da elite europeia.

Gil Vicente e Vitória de Setúbal voltaram a repetir o mesmo padrão de épocas recentes, muito sofrimento e uma salvação in extremis, algo que os adeptos do Olhanense, um clube financeiramente em sérios riscos de desaparecer, devem celebrar como um título. Poucos acreditavam na sua salvação, algo que seguramente o Moreirense merecia, particularmente pela aparição de Ghilas, uma das figuras individuais mais sonantes na liga de Jackson, Lima, Cardozo, André Martins, van Wolfswinkel, Josué, Tiago Rodrigues, Carlos Eduardo, Moutinho, Fernando ou Matic. O Beira-Mar, desde cedo, deu sinais de que o destino estava escrito. Há muito que tem de mudar em Aveiro para que o projecto futebolístico de um clube que não sabe muito bem a quem pertence tenha sucesso.

O triunfo do FC Porto foi o triunfo da normalidade. Os empates inesperados, com penaltys falhados na hora decisiva, contra Olhanense e Marítimo, adiaram a celebração de um título que pareceu ameaçado pela euforia encarnada. O tropeção das águias contra o Estoril ajustou quase as contas de falhos menores, mas suficientes para decidir para onde ia o troféu. Em 2010 o Benfica, em vésperas de celebrar o título, não conseguiu fazer a festa no Dragão. No ano seguinte os azuis-e-brancos deixaram a Luz às escuras e desde então recuperaram sempre de uma desvantagem pontual no campeonato para vencer o título depois de atropelar o rival nos duelos directos. É sobretudo aí que tem estado o calcanhar de Aquiles dos encarnados, um problema de mentalidade e de capacidade de jogar com a pressão, algo a que três décadas de sucesso constante tem deixado o FC Porto imune. Vitor Pereira, o treinador mais criticado, igualou o número de ligas dos maiores treinadores da história de Portugal, Cândido de Oliveira, José Maria Pedroto e José Mourinho. Tem uma mais do que Villas-Boas e Jesus e nos últimos trinta anos só segue atrás de Artur Jorge e Jesualdo Ferreira. A sua equipa tem um modelo definido, é lenta nas transições ofensivas e conta, sobretudo, com um plantel muito mal preparado pela SAD. Mas mesmo assim suficiente para conquistar o terceiro Tri da era Pinto da Costa. As anteriores sequências (95-99, 06-09) não se ficaram por aí. Para 2013/14 o FC Porto parte com o escudo de campeão no peito e o favoritismo nas casas de apostas. É a normalidade no futebol português.



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Sábado, 11.05.13

O futebol sabe ser cruel quando necessário. Depois de uma abordagem medrosa e cuidada durante noventa minutos, Jorge Jesus postrou-se no relvado do Dragão, incapaz de reagir ao mágico disparo de Kelvin. Um remate que rompeu com toda a dinâmica de um jogo sempre prevísivel, de parte a parte, e abriu a possibilidade ao FC Porto de se sagrar uma vez mais campeão nacional.

 

Na época passada Jesus chegou ao final da temporada com cinco pontos de vantagem sobre o seu rival, Vitor Pereira. Perdeu a liga.

A um jogo do fim, a situação pode repetir-se. Foram quatro, não cinco, os pontos perdidos. O desfecho poderá ser o mesmo. O FC Porto tem de bater o Paços de Ferreira num campo onde só o Benfica ganhou. Um campo que vai celebrar o histórico apuramento para a Champions League. Uma das mais merecidas e brilhantes notícias do ano. Os encarnados recebem o Moreirense - que precisa de pontuar para sobreviver - depois de uma exigente final na próxima quarta-feira, contra o Chelsea.

A crueldade do momento sacou o mais espantoso que gera o futebol.

Jesus sentia ter o jogo controlado. Chegou ao estádio do Dragão consciente de que um ponto praticamente resolvia a questão e durante noventa minutos pensou apenas nesse ponto. O golo madrugador de Lima - como resultado de um lance longo ensaido, ao estilo de Rory Delap - reforçou a sua crença de que esse empate bastaria. Talvez porque suspeitasse que o FC Porto seria um rival previsivel. Porque inicialmente foi. Com um estádio cheio - mas que não foi uma caldeira humana - a pressão estava do lado dos dragões. Os homens da casa suportaram o peso inicial, tomaram a iniciativa do jogo e nunca a perderam. Mas esse controlo, como quase sempre ocorre desde que Vitor Pereira é treinador principal, nunca se transforma num domínio asfixiante na área do rival. A posse de bola à Barcelona - muito maior que o rival, muito mais inconsequente - garantia que o jogo se jogava numa só direcção. Mas a partir de aí, muitas dificuldades em encontrar espaços. O Benfica não quis arriscar, não quis ir atrás de um momento histórico. As diferenças entre Jorge Jesus e André Villas-Boas ficaram, uma vez mais, evidentes. O segundo, quando pôde rematar o título em casa do rival - com uma margem bastante superior - arriscou tudo e ganhou. Jesus mostrou-se medroso e não sentiu nos seus jogadores confiança suficiente para impor a sua vontade ao rival. Pagou o preço. A sua imagem, de joelhos, define não só a temporada, não só a sua carreira como treinador mas talvez toda a política desportiva do SL Benfica. No momento em que podiam ter dado uma estocada mortal ao seu histórico rival, devolvendo a graça de vencer o título no seu relvado, imperou o medo. E o dragão sentiu o cheiro a sangue. E aproveitou.

 

Vitor Pereira tem o pior plantel dos últimos anos de FC Porto.

Fez milagres durante o ano. Várias posições carecem de alternativas lógicas. Algumas delas, cruciais. Danilo voltou a desiludir, como em todo o ano. Mas Miguel Lopes já não está. Jackson foi bem anulado por um triângulo formado por Luisão, Garay e Matic. Não havia ninguém à sua volta para partilhar as despesas do golo. No banco, também não. Liedson entrou para assistir Kelvin, mas nunca para criar perigo na área. Varela, inepto como quase sempre, complicou um lance que acabou em golo de forma inesperada. Pouco mais fez. James Rodriguez falhou o golo do ano. Estava em posição irregular. Também não teve arte e engenho de fazer a diferença e os auiz aguentavam-se com a força e cabeça do seu trio do miolo. Quando Fernando, imenso, sai lesionado, falta alguém que imponha a mesma atitude de liderança no miolo. Mesmo assim, com um plantel inferior ao rival, o técnico espinhense manobrou o jogo. Tomou a iniciativa, adaptou-se às circunstâncias e lançou as únicas armas que dispunha. Funcionou.

O seu FC Porto é uma equipa trabalhada, uma equipa que sabe cuidar a bola e manejar os tempos. Mas não tem essa acutilância na área. Não tem esse killer-instinct. E por isso sofreu com equipas habituadas a fechar-se na sua área esperar. Por isso sofreu contra o Benfica. Nesses momentos de falta de espaços, a inspiração individual é uma das poucas armas que sobram. Kelvin apareceu para repor a justiça na competição. É um dos míudos da equipa B que foram tendo minutos porque não há jogadores mais experientes num plantel mal preparado. Resolveu contra o Braga, resolveu contra o Benfica. O título tem o seu selo, o selo de uma geração de jogadores forçada a aparecer demasiado cedo como protagonista por culpa desses erros da SAD. Mas também da coragem de um treinador de lhes dar a oportunidade.

Jesus lançou Roderick, Pereira lançou Kelvin. O título resumiu-se nessas decisões. A igualdade em campo não era uma igualdade de valor real. Num campeonato como o português, um dos mais fracos da Europa, é normal que equipas cujo o orçamento multiplica por muitos os euros em relação aos seus rivais, o normal é que este cenário se repita e sejam os duelos directos a decidir. O dinheiro marca a diferença entre Porto e Benfica e os outros. Mas é a cultura de vencer e o arrojo que pauta o abismo emocional que ainda existe entre os dois clubes. Em vinte anos, por cada 5 títulos do FC Porto, o SL Benfica vence apenas 1. Não há sinais de que a situação se altere no futuro imediato a avaliar pela postura de ambos os emblemas no jogo que ia decidir o título de campeão.

Na Mata Real o FC Porto vai encontrar uma equipa organizada, alegre e ofensiva, precisamente o estilo de rival que melhor encaixa no modelo azul e branco. Será também uma equipa em festa, uma equipa que quer coroar a maior época da sua história com uma exibição memorável. Pode claudicar. Mas mesmo perdendo o título, ficou claro que nos duelos directos ainda é superior ao seu rival, mesmo partindo de trás. Ao Benfica resta-lhe sonhar com voltar a levantar, 51 anos depois, um troféu europeu. Se isso falhar, o jogo com o Moreirense será de vida ou de morte. Para ambas as equipas. Falta ainda o Jamor. Onde está o Guimarães. Onde se pode salvar a época. Onde se pode partilhar entre os dois emblemas mais fortes da conjuntura actual do futebol português as honras da época. Ou talvez não. O sonho de uma tripla pode esfumar-se em quinze dias. O sonho do tricampeonato pode acabar em noventa minutos. O futebol é cruel e o apito final, e isto não é metafóra, vai ser mais uma vez o juiz da temporada.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 23:03 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Domingo, 21.04.13

O futuro do futebol português passa por modelos de gestão exemplares, capazes de entender as suas limitações e de planear o futuro dia a dia sabendo que esse modelo poderá ser a diferença entre a falência e o sucesso desportivo. Enquanto os grandes clubes portugueses, cada qual à sua forma, procuram sobreviver a passivos asfixiantes, em Paços de Ferreira e Belém, dois projectos desportivos ensinam os restantes dirigentes portugueses a olhar para o futuro com a consciência de que nem tudo é negro.

 

A quatro jogos do final da época, o Paços de Ferreira tem assegurado um posto europeu. Um posto que pode valer muitos milhões de euros se a vantagem pontual com o Sporting de Braga se mantiver até ao último suspiro do campeonato. Na segunda divisão, um dos clubes históricos do futebol português, assegurou a promoção depois de vários anos afastado da elite com oito jogos por disputar. Uma das maiores margens da história para validar um projecto desportivo desenhado para vencer e consagrado com um mais do que honroso posto nas meias-finais da Taça de Portugal para o clube do Restelo.

São dois clubes que encontraram num modelo de gestão racional e com os pés na terra a base do seu sucesso. Passe o que passar, a aposta parece ser o futuro que os restantes clubes em Portugal terão de seguir. Enquanto FC Porto e SL Benfica, com passivos gigantescos, compram o sucesso e dividem entre si a disputa pelo título nacional sem jogos perdidos, aos restantes emblemas pouco sobra senão sobreviver da melhor forma. O Sporting vive uma profunda reestruturação - emocional e financeira - enquanto o Braga consolida-se como um projecto ambicioso mas que não consegue dar o salto que falta para fazer-se definitivamente grande. Todos os outros começam o ano com medo ao inferno da despromoção e, quase sempre, acabam-no sentindo que vivem num universo circular onde tudo é igual. De vez em quando algum qualifica-se para as provas europeias, de vez em quando algum faz um brilharete. E pouco ou nada mais.

O que parece evidente é que a esmagadora maioria desses clubes avança temporada atrás de temporada sem um modelo desportivo de futuro. Procuraram, apenas, sobreviver. Muitos através de empréstimos e da amizade selectiva de algum dos "grandes". Outros confiando no sucesso do trabalho de prospecção de jogadores desconhecidos ou da sua boa relação com agentes para forjar uma equipa que, entre Janeiro e Junho, se desmantela por si só. A maioria passa a temporada com problemas, salários por pagar, bancadas vazias, treinadores que vão e vêm ao mínimo sinal de desespero. O destino parece repetir-se até que algum dia uma época má pode fazer pagar o preço dessa gestão sem futuro. Na Mata Real e no Restelo, gesta-se essa ideia para o depois de amanhã.

 

O Paços de Ferreira não é só o clube sensação desta temporada. É um clube que surpreende quem o procura conhecer melhor.

Dentro da área metropolitana do Grande Porto - até à bem pouco tempo a mais representada do futebol nacional - os "castores" sempre foram vistos como um bicho raro. A Capital do Móvel fica a meia hora da Invicta, sente-se mais cómoda com o circulo industrial do vale do Ave - o mesmo que nos anos 80 e 90 teve um papel tão importante no futebol português - e convive numa área demográfica dinâmica mas sem grandes referências futebolísticas que não a sombra do FC Porto.

E mesmo assim, sem uma grande legião de adeptos, sem um grande apoio local, o Paços mantém-se vivo entre a elite do futebol português de uma forma superlativa. Começou por fazer-se notar como um clube com bom olho para jovens e ambiciosos treinadores, amantes do futebol de ataque e da aposta em jogadores desconhecidos. Progressivamente, o clube começou a incorporar antigos elementos da equipa no seu gabinete técnico. Nenhum funcionou tão bem como Carlos Carneiro, um dos seus mais emblemáticos dianteiros. Com ele ao leme, desenhou-se o futuro do clube, descobrindo no futebol das divisões secundárias e entre os descartes inesperados do FC Porto, jogadores com potencial suficiente para forjar um bom colectivo. Sob as mãos de Paulo Fonseca, esse colectivo superou-se a si mesmo. E agora está perto de entrar no play-off da Champions League. Mesmo que não o consiga - tem três jogos para gerir a sua vantagem face ao Braga - a presença nas provas europeias já é um logro a que clubes com um orçamento muito superior como o Marítimo, Nacional ou Sporting ainda não podem dar como garantida. Inevitavelmente o Paços sabe que muitos dos seus jogadores e eventualmente, o seu técnico, não estão no próximo ano. Conscientes dessa realidade, já estão a preparar o depois de amanhã. Sabem que não se podem deixar enganar pelo perfume do sucesso. Os adeptos não vão aumentar - demograficamente a zona vive um ciclo estável e a situação financeira do país não permite sonhar com um boom de novos sócios e seguidores - as condições que existem actualmente adequam-se à sua realidade e qualquer dinheiro que entre nos cofres do clube deve ser para o manter longe do fantasma da falência. Pagar os salários a tempo e horas, cumprir com os seus compromissos, poder eencontrar os próximos titulares da equipa são a base de trabalho de um projecto que quer continuar a crescer com os pés na terra. Demonstrando assim aos seus rivais em campo como se pode jogar sem perverter as regras, como o acumular de dívidas eternamente perdoadas pelo fisco, mantendo os salários em dia (Olhanense, Gil Vicente), sobrevivendo sem dinheiros públicos (Nacional, Marítimo) ou sem o apoio directo de um empresário (Rio Ave).

 

O caso do Belenenses é diferente na forma mas não na essência.

O clube do Restelo é um dos cinco grandes oficiais do futebol em Portugal, uma equipa campeã nacional num país onde só duas edições escaparam ao apetite dos três grandes. Mas desde os anos 60 que essa grandeza se tornou uma memória perdida no tempo que só algumas temporadas pontuais - finais dos anos 80, meados da década de 90 - puderam resgatar fotos antigas. Claro que sobreviver como terceiro clube de uma cidade com duas entidades de projecção nacional é praticamente impossível como Boavista e Salgueiros entenderam, também, no Porto com a sombra quase ditatorial do FC Porto.

A péssima gestão financeira do Belenenses levou o clube a roçar várias vezes a despromoção. Por duas vezes o clube salvou-se administrativamente de descer, mas à terceira foi de vez. E durou o calvário. Sem dinheiro, sem ideias, sem ambição, parecia que o "Belém" estava destinado a seguir os exemplos de outros históricos do futebol em Portugal, perdidos nas divisões secundárias para nunca mais voltar. Até que aterrou no Restelo uma nova directiva, coordenada por Rui Pedro Soares e presidida por António Soares, com uma visão de futuro consciente das limitações do presente. O histórico clube lisboeta começou a apostar convictamente na sua formação mas também em jogadores descartados por diversos motivos por clubes da primeira divisão. Vitimas da "brasileirização" excessiva da elite do futebol nacional, esses jogadores encontraram no Restelo um novo lar e sob a liderança do antigo central do Marítimo, o holandês Mitchell van der Gaag, transformaram-se no esqueleto moral de um clube onde a ambição de voltar a ser alguém no panorama nacional conduzia o processo. Essa "aportuguesação" da equipa revelou-se uma ideia de sucesso. Os jogadores são mais baratos, estão mais implicados com o projecto e mantêm a sua projecção futura, mantendo-se debaixo do radar dos clubes grandes. A qualidade de alguns desses futebolistas - e são dezanove num plantel de vinte e cinco futebolistas - como Fredy, Filipe Ferreira, André Teixeira, Tiago Silva ou Rafael Veloso permite pensar que o projecto tem a solidez necessária para subsistir entre os clubes da primeira divisão. Com uma base sólida de adeptos, infra-estruturas de bom nível e um plantel jovem e ambicioso, parece evidente que o Belenenses tem todas as condições para optar por um lugar na primeira metade da tabela no próxima ano.

 

Com o Vitória de Guimarães - forçado também pelas circunstâncias a adoptar uma postura similiar - e com o Estoril, outro clube redesenhado à base do pensamento de gestão empresarial que há alguns anos faz escola noutras ligas europeias - o Belenenses é uma das principais bandeiras dos que acreditam que o futebol português pode encontrar a luz ao fundo do túnel. O sucesso do Paços de Ferreira, tudo menos obra do acaso, junta a cultura de clube modesto mas empreendedor a emblemas habituados a mover-se entre eixos demográficos e perfis de gestão com mais glamour. Por um lado ou por outro, são estes os projectos que potenciam actualmente o rejuvenescimento do futebol português, a sua vertente mais nacional e a resposta a uma política de endividamento e descontrolo que ainda tem em emblemas como o Vitória de Setúbal, outro histórico, um dos seus mais tristes representantes.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 21:02 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Segunda-feira, 08.04.13

Dezoito clubes. Quantos deles com a corda ao pescoço? Quantos deles com salários em atraso? Quantos deles com dividas incomportáveis? Quantos deles com bancadas vazias nos jogos em casa? Quantos deles com meio autocarro de apoio nos jogos fora? Quantos deles com jogadores estrangeiros de terceiro nível e um sistema de formação abandonado? Dezoito clubes. A solução que encontraram para resolver uma injustiça desportiva e um erro de legal. Mas nada que possa resolver os problemas estruturais do futebol português.

O Boavista tem as portas escancaradas para voltar á elite do futebol português.

Ironicamente, ou talvez não, no fim-de-semana que se seguiu à aprovação pela Liga de Clubes da repesca dos axadrezados, a equipa perdeu o seu duelo com o Desportivo de Chaves. Um duelo na II Divisão B, uma divisão onde o clube do Bessa nunca venceu neste seu hiato pelo futebol das divisões secundárias. Diz muito do estado actual da vida do quinto grande, do quinto campeão do futebol em Portugal. Sem a ratificação da Federação Portuguesa de Futebol e com os créditos financeiros de inscrição por pagar, ainda não é certo que o futebol português volte a contar com todos os seus campeões na sua primeira divisão. Mas o cenário nunca esteve tão perto de suceder desde que a equipa do Porto foi utilizada como bode-espiatório de um dos maiores escândalos consumados do futebol luso.

Depois de muito barulho à volta do Apito Dourado, não houve forma de provar, nos tribunais, o que as escutas posteriormente divulgadas deixaram claro à opinião pública. Para os mais precavidos, o que tinha sido divulgado nesse longo e penoso processo estava longe de ser uma novidade e como escutas posteriores comprovaram, algo exclusivo dos clubes imputados. Como o futebol português está, como sempre esteve, corrupto até à medula, a sensação de polémica soava a falso e como tal, também a suspeita de que um clube do prestigio do FC Porto podia ser realmente penalizado. Se o fizessem, tarde ou cedo, os restantes campeões seguiriam o mesmo caminho, a fruta e o café com leite eram coisa de muitos. O Boavista, no entanto, mal gerido desde que João Loureiro tomou as rendas da herança de Valentim Loureiro, foi a presa ideal para quem queria sangue. Um clube campeão com polémica, um clube onde o dinheiro entrava e desaparecia a uma velocidade assustadora, um clube com uma base de apoiantes relativamente pequena para poder gerir o mesmo tipo de revolta social que implicaria punir outro clube. O Boavista pagou o preço de estar no sitio errado à hora errada. E daí o descalabro.

O clube podia ter sido despromovido e voltado dois anos depois à elite se tivesse sido gerido com correcção. Mas não foi. A queda no precipício deixou a nu todos os problemas reais do clube que nada tinham a ver com a polémica do Apito Dourado, por muito que dirigentes e adeptos tenham tido razão quando se queixaram de tratamento especial para outras instituições. O Boavista caiu injustamente mas não se soube levantar, e afundou-se mais, por culpa exclusivamente sua.

 

E no entanto, a justiça assim o exige.

Depois de quase cinco anos sem o demonstrar em campo, o Boavista poderá voltar a saborear as grandes noites de futebol num dos mais belos estádios do futebol português. A aprovação de uma liga a 18 - num ano em que regressa também o Belenenses à elite - devolve o futebol português para o mesmo cenário onde estava quando o Apito Dourado surgiu nas capas dos jornais.

São dezoito equipas demasiadas para um país como Portugal, com uma liga onde a esmagadora maioria dos seus clubes são incapazes de cumprir com os mais básicos compromissos exigidos a uma instituição desportiva. Nos últimos anos vimos problemas para pagar salários em clubes ao nível de FC Porto, Sporting e Benfica. Nos últimos anos entre avisos de greve, a clubes que desapareceram do mapa e emblemas despromovidos por falhar os seus compromissos, o futebol português transformou-se numa jangada onde se morre de sede e de fome.

O caso da União Leiria na época passada foi o culminar de uma realidade que já se sentia em vésperas do Euro 2004. O desaparecimento de clubes como Salgueiros, Farense, Estrela da Amadora era algo sintomático do estado real do futebol português. As horas de agonia de históricos como o Belenenses, Vitória de Setúbal, Académica e Vitória de Guimarães tocaram o próprio esqueleto de base do desporto lusitano. A Liga Sagres transformou-se numa competição onde na mesma jornada competiam entre si jogadores que levavam meses sem cobrar o seu salário. Uma competição onde a dependência dos empréstimos e favores de fundos e empresários eram fundamentais para sobreviver. Quando as conexões extra-desportivas acabavam, os clubes tremiam, e caíam.

Os pequenos emblemas que subiam da II Liga cheios de esperança voltavam rapidamente para o ponto de partida sem nada que ganhar. Passou com Trofense, Leixões ou Feirense, apenas para citar os casos mais pontuais. Enquanto projectos como o Paços de Ferreira encontraram coerência na sua gestão desportiva e clubes como o Rio Ave se entregaram à benção de patronos poderosos, os restantes limitam-se a sobreviver. São dezasseis. Faz sentido juntar mais dois ao mesmo cenário?

Pode o futebol português ganhar algo com uma liga a dezoito?

Estarão os estádios mais cheios? Os contratos televisivos valerão mais? Haverá mais jogadores jovens portugueses de futuro nesses projectos? A competição será mais emotiva? Os clubes grandes deixaram de passar temporadas inteiras sem perder um só jogo? Será que duas equipas a mais vão significar tanto para a liga lusitana? Ou será, pelo contrário, que serão duas novas bocas para alimentar, dois novos estádios vazios, dois novos planteis repletos de jogadores sem nível e sem dinheiro nos bolsos?

 

Um país como Portugal - que vive, pensa e respira a pensar apenas no trio de clubes grandes que compõe o 99% do coração dos adeptos e o interesse dos media - poderia ter uma liga de oito equipas que ninguém realmente se importaria. Essa é a crua realidade. Essa hegemonia asfixiante dos grandes já matou o futebol do interior, já matou o futebol dos pequenos clubes das grandes cidades e já matou a formação do futebol português. Se uma liga a dezoito fosse a resposta para essa ditadura, então venha ela. Mas não o será. Como não o é uma liga a dezasseis, a catorze ou sequer a doze. O futebol português tem um problema muito mais sério e grave para resolver que o número de equipas da sua liga principal. Enquanto esse problema não for resolvido o resto é apenas folclore. Nada mais do que folclore.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 20:44 | link do post | comentar | ver comentários (8)

Terça-feira, 19.02.13

Na liga portuguesa vão, lado a lado. Nos palcos europeus, a diferença é abismal. Falta cada vez menos para que o FC Porto supere o SL Benfica em títulos de campeão português. Nos palcos europeus essa ultrapassagem já sucedeu há largos anos. Não só em títulos mas, sobretudo, em respeito nos países europeus e na tremenda diferença de jogo. Enquanto o FC Porto tem um plano, um modelo, um esquema, e é uma das melhores equipas do continente a aplicá-lo, o Benfica evoca outros tempos, outras memórias e resultados distantes da realidade.

 

A exibição repleta de autoridade do campeão português face ao quarto da liga espanhola é exemplificadora do que é hoje o futebol em Portugal.

Uma excelente equipa, apoiada num clube institucionalmente dirigido dos pés à cabeça com um modelo de gestão que marcou um antes e um depois da história do futebol português, com um esquema táctico claro, um plantel de primeiro nível, digno de aspirar ano atrás de ano em estar no top 8 dos clubes europeus. O FC Porto tratou o Málaga com a mesma superioridade com que lida com o Beira-Mar ou o Moreirense. Empurrou-os para a sua área, não lhes deixou ter a bola - e se há algo que os andaluzes fazem bem é controlar a posse e jogar a partir de aí com confiança - e engoliu literalmente as suas individualidades, sobretudo o espantoso Isco, o sucessor natural de Iniesta. Fê-lo sabendo o quanto vale, o quanto pode aspirar e com uma sensação de diferença abismal que os orçamentos, o prestigio de duas ligas vizinhas mas muito distantes, podia supor. Já foi assim com o Atlético de Madrid (nos anos em que se cruzaram na prova), com o Sevilla e com o Villareal. Foi assim com o Barcelona, no Mónaco, jogos que deixaram evidente que o melhor FC Porto trataria por tu os melhores da liga das estrelas e poderia, perfeitamente, disputar um lugar no pódio da competição. É talvez um dos maiores e mais lógicos elogios que se pode fazer à equipa azul e branca.

O futebol em Portugal fica pequeno a uma equipa que, desde 1982, só perdeu 11 de 30 títulos. Um domínio que nem o melhor Sporting, nem o superlativo Benfica foram capazes sequer de emular. É um domínio que ultrapassa gerações, que ultrapassa condicionalismos e que define a estrutura do que é hoje o futebol em Portugal, uma equipa muito superior das restantes, apesar dos esforços da imprensa por contrariar essa abordagem, que ocasionalmente perde um título (na última década foram 2 em 8) mas que a Europa aprendeu a respeitar. Uma Taça dos Campeões Europeus, uma Champions League, uma Taça UEFA e uma Europe League, uma Supertaça Europeia e duas Intercontinentais é um espólio que supera a soma de todos os outros troféus internacionais conquistados por clubes portugueses.

 

A diferença da qualidade de jogo do FC Porto para o resto dos clubes portugueses vê-se, sobretudo, nos palcos europeus.

Numa liga onde a maioria das equipas prefere esperar para ver, é dificil ver o FC Porto ceder pontos. É difícil ver a equipa ser igualada - para não dizer superada - futebolisticamente. Na Europa a vara de medir é diferente. Na última década o clube venceu três provas europeias (mais do que o Real Madrid, o Bayern Munchen, o Arsenal, o Liverpool, o Inter, a Juventus, o Borussia Dortmund, o Ajax, o Olympique Lyon, o Manchester United) e com uma autoridade insultante. Há dois anos ficou clara a diferença na Europe League, numa edição com três equipas portuguesas nas meias-finais. Este ano, a forma como os dragões carimbaram o passaporte para os Oitavos de Final contrastou enormemente com o Braga - uma época para esquecer sob o comando de um treinador que teima em demonstrar não ser o homem certo no momento certo - e sobretudo com o Benfica. A equipa encarnada foi incapaz de ser superior a um Celtic que fez do jogo directo a sua alma, sofreu inesperadamente com um Spartak de Moscovo em autocombustão (com destituição de técnico incluída) e mesmo com um Barcelona C, no Camp Nou, foi incapaz de somar os pontos que precisava para seguir em frente. Na Europe League, uma competição que se adequa mais às suas reais ambições, e frente ao Bayer Leverkusen, jogou o suficiente para ganhar mas longe de entusiasmar. Tem sido a sina da equipa.

Com ou sem Jesus, o Benfica na Europa é uma equipa de caricatura. Uma equipa sem expressão internacional, com um modelo táctico perfeitamente inadequado às realidades do futebol actual, com peças que se mudam com uma velocidade assustadora, sem consciência da importância do colectivo e que depois se mostram incapazes de reagir nos momentos certos. Não só ficou claro que este Benfica, como as anteriores versões, é incapaz de mostrar-se à altura dos melhores na Europa como o seu perfil de prestigio europeu desaparece a cada ano que passa. A memória da imensa, grande equipa de Eusébio, é algo que os adeptos benfiquistas sempre terão, e com genuíno e merecido orgulho. Mas desde então, meio século depois, nunca mais a Europa viu uma equipa benfiquista capaz de repetir, ano após ano, o seu lugar na elite. Ao contrário do FC Porto, que não só é presença regular na Champions League como tem demonstrado ser capaz de competir de igual com os melhores e ganhar troféus, o Benfica encontra na Europa o duro reflexo da sua realidade. A nível interno os dois títulos (este ano poderão ser três) em 18 anos, deixam clara a sua diferença com os dragões mas é na Europa que essa diferença se torna real.

 

Sem uma estrutura sólida, sem um futebol capaz de capturar a imaginação de adeptos neutrais, o Benfica tem muito trabalho pela frente para poder voltar a sonhar sem uma equipa respeitada nos palcos europeus. O FC Porto, por outro lado, não só está a poucos anos de consumar, matematicamente, a mudança de um ciclo que já leva três décadas, como na Europa é o único porta-estandarte do futebol português. Se a exibição frente ao Málaga não fosse suficiente, o eventual apuramento - e ainda faltam noventa minutos - para os Quartos de Final da edição 2012/13 da Champions só reforçará mais ainda a ideia de que, seja em Portugal ou na Europa, o futebol português funciona a diferentes velocidades. E só os dragões seguem na de cruzeiro.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 22:27 | link do post | comentar | ver comentários (2)

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