Quinta-feira, 15.05.14

Qualquer final decidida por grandes penalidades é um drama difícil de engolir para qualquer adepto. Ao final de cento e vinte minutos se nada separa duas equipas, o título torna-se secundário. Já se sofreu que chegue. O problema, para os adeptos encarnados, é que o sofrimento dura há mais de meio século de história.

 

O Benfica perdeu a final da Europa League pelo segundo ano consecutivo. Da mesma forma que a sua caminhada europeia nas andanças da UEFA – antes esteve o triunfo na mais caricata edição da curta história da Taça Latina – arrancou com dois títulos seguidos. A história é circular, como diría Marx. O pior foi o resto. São já oito finais perdidas, desde Londres em 1963 até Turim em 2014. Pelo caminho ficou Milão, Londres (cidade maldita), Bruxelas/Lisboa, Estugarda, Viena e Amesterdão. Cidades míticas do Velho Continente que testemunharam a tristeza das Águias. Mas ao contrario do que o folclore, a desinformada imprensa e alguns “experts” gostam de defender, não há maldição que justifique esta tortura. Em primeiro lugar, como os mais atentos sabem – basta ler – Guttman só se referia à Taça dos Campeões Europeus. O húngaro também disse que nenhum clube português ganharia um titulo europeu em cem anos. Dois anos depois dessa frase o Sporting ganhou a Taça das Taças. Já nem vale a pena lembrar os quatro títulos europeus do FC Porto. Esqueçam a maldição!

 

O que passou ontem ao Benfica em Itália foi a falta de ambição e o peso das baixas sensíveis na organização do ataque. Sem o melhor jogador do campeonato – Enzo Perez – ou as alternativas oferecidas regularmente ora por Markovic, ora por Salvio, o Benfica entrou coxo em campo. Quando Suljemani, que no pouco tempo que esteve em campo fez mais do que Gaitán em todo o jogo, teve de sair, rendido a uma lesão no ombro, Jesus viu-se perante um dilema. O Sevilla estava mais organizado, mais consciente da exigência da noite. Emery, treinador assobiado recorrentemente em Valência (depois dele o clube entrou numa espiral depressiva, há que lembrar) preferiu um esquema conservador desde o principio. Carriço e Mbia no miolo, apoiados por Rakitic, cercaram o meio-campo encarnado. Vitolo e Reyes tapavam as subidas dos laterais e Bacca, sacrificado aos monstros que foram durante todo o jogo Garay e Luisão, era peça fora do tabuleiro. Ao 4-4-2 em losango montado por Jesus faltava-lhe organização e inspiração. André Gomes foi um fantasma, o esforço de Amorim não foi acompanhado e Rodrigo e Gaitan  não entusiasmaram. A entrada de André Almeida e a subida no terreno de Maxi Pereira lançou a mensagem decisiva. Jesus estava mais preocupado em não perder a final do que em ganhá-la. Procurou o prolongamento, procurou os penalties. Sentiu que não tinha força em campo para vencer. Enganou-se. O Benfica, mesmo em inferioridade de talento titular, era superior ao Sevilla. Faltou-lhe a tracção dianteira de tantas outras noites e o acerto no disparo. Criou as melhores oportunidades – Bacca também teve o seu momento, montado com régua e esquadro pelo genial croata – e driblou os medos. Do banco a mensagem de ataque chegou tarde e sob a forma de erro táctico. Cardozo entrou mas não foi a âncora que se esperava, demasiado atirado para o lado direito onde foi menos eficaz. Cavaleiro chegou para o sopro final quando já não havia pernas para o acompanhar. O Sevilla tinha passado pelo mesmo almanaque de duvidas existenciais. Não perder para depois pensar em ganhar. Foi mais honesto a principio, adaptou-se melhor e sobreviveu ao golpe de autoridade que o Benfica tentou dar no fim da cada parte. Mentalmente mais soltos, foram uma equipa que sabia ao que vinha. Não havia existencialismos que derrotar. Só Oblak, o guarda-redes tranquilo que Beto não pôde ser. Para alegria dos andaluzes o português esteve à altura nos cento e vinte minutos. Depois, a glória.

 

O prolongamento foi um deserto de ideias, de forças e de ambição. Desde o Arsenal vs Galatasaray de 2000 que nenhum jogo da competição tinha chegado até ao fim sem golos. Aconteceu em Turim porque ninguém pareceu, verdadeiramente, querer marcar. Sem três penalties para marcar (dois para os lisboetas, um para os sevilhanos), sem grandes ocasiões e com duas linhas defensivas entretidas em competir no torneio de quem menos erra, o oásis de um golo revelou-se tão imaginário como as lagoas nos desertos. Para os penalties seguia o jogo como ambos os treinadores pareciam querer. O Benfica contaba em limpar o espirito de Estugarda num flamante guarda-redes e na vontade de vergar a história. Mas os andaluzes tinham Beto, provavelmente um dos melhores do mundo na sua posição quando se trata de parar grandes penalidades. O rapaz que em Alcochete era o Beto II, que no Dragão se manteve à sombra de Helton, deu a alegria do ano aos dois adeptos dos rivais das Águias com uma aula de como bem parar penalties. Saltou para a frente como os mais espertos fazem, adivinhou os disparos denunciados de Cardozo e Rodrigo e fez história. Com ele na baliza o Sevilla conquistou o seu terceiro troféu europeu, todos conquistados numa década histórica. Já ultrapassaram o Benfica no total histórico e igualaram Juventus, Inter e Liverpool como máximos vencedores de uma prova que já podia bem ter apelido espanhol. Com os dois triunfos do Atlético de Madrid e as finais perdidas por Espanyol e Athletic Bilbao, os últimos oito anos têm sido quase um monopólio “hispânico” na prova que metade da Europa ignora habitualmente.

 

Ao Benfica a derrota magoa mais pela longa lista de fracassos do que, propriamente, pela ausência de um titulo para levantar. Num ano memorável a nível interno, o triunfo de Turim era a cereja no topo de um bolo que ainda assim sabe bem. O clube da Águia pode conquistar o pleno de provas nacionais – tem de vencer a Taça e a Supertaça, em Agosto – e está na pole-position do futebol português com autoridade e por pleno direito. Para os folclóricos há ainda jornais a vender e a tertúlias a encher com velhos relatos de maldições caducas. Para os adeptos, uma dor difícil de engolir mas que não deve afastar a visão periférica do fundamental, um trabalho bem feito. No final de contas, em Turim, houve mais tácticas que espectáculo, mais drama que emoção e um parêntesis numa história com próximos capítulos inevitáveis. O Benfica, que foi melhor em campo, teve o pior dos treinadores e o menos afortunado dos guarda-redes. Não há maldição que justifique algo que pertence exclusivamente ao reino dos mortais.



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Terça-feira, 29.04.14

Em 1984 os adeptos eufóricos do Benfica celebravam o Bicampeonato. Não sabiam que seria a última nas trinta edições seguintes de liga. Foi o apogeu de uma geração mágica, da mística de um clube único no panorama desportivo português. Três décadas depois os adeptos encarnados voltam a sentir-se importantes graças a um ano que tem tudo para entrar no Panteão da sua história. Mas realmente existe um processo revolucionário em curso?

 

Foi o momento que marcou uma geração. Que ainda não o sabia.

O bicampeonato conseguido pela máquina mágica de futebol montada por Sven Goren-Erikson em 1984 foi o canto do cisne de uma hegemonia que durou mais de duas décadas. Essa equipa estava feita para conquistar as estrelas. Tinham-se cumprido dez anos de Abril e nesse período o SL Benfica sobrevivera. A uma revolução que lhe retirou a sua maior fonte de talentos, substituída paulatinamente por estrangeiros de bom nível. Ao renascimento do FC Porto, depois de um sono de quase meio século, sob a liderança de José Maria Pedroto. O Benfica lutou e manteve-se de pé. Não ganhou tanto nessa década como na anterior mas manteve-se a mais prolifera formação do futebol nacional. A época da mística, das noites europeias no velho e sempre lotado Estádio da Luz, a presença em campo de alguns dos melhores jogadores da vida do clube ajudava a pensar em algo mais. Trinta anos depois os mesmos adeptos que celebravam eufóricos uma nova vitória sobre Pedroto, sobre o ousado Pinto da Costa e sobre o rival Sporting, voltam a invadir as ruas para cantar um título. Mas o mundo, o seu mundo, mudou. Os mesmos adeptos que estavam nessas tardes de glória de 1984 colocaram um ano antes as mãos na cabeça três vezes em sinal de incredulidade. Com eles os seus filhos e, em alguns casos, os netos. Em 2013 o Benfica caiu em quinze dias por um golo em três frentes. Ia ganhar tudo, estava escrito. Não ganhou nada. Foi um golpe duro de engolir. Sobretudo para quem começava a perder a memoria daquelas tardes de 83/84. As tardes em que o Benfica passeava a sua superioridade sem rival à altura.

Durante os trinta anos que medeiam o segundo titulo de Erikson e o segundo conquistado por Jorge Jesus, o Benfica venceu pouco. Muito pouco. A primeira década após o Bi do sueco foi dura, mas leal. Houve festejos a norte e a sul. O Sporting saiu de cena, ninguém ocupou o seu lugar e o futebol português entrou de novo num regime bipolar. A cada dois títulos azuis, um titulo encarnado. O FC Porto venceu a Taça dos Campeões Europeus e perdeu uma meia-final. O Benfica chegou a duas finais, não ganhou nenhuma. A Luz ainda era um forte, as Antas um pesadelo, as ligas disputadas taco a taco e a qualidade individual abundava em ambos os bandos. Foi talvez a mais intensa década do nosso futebol. E no fim, o Benfica perdeu a capacidade de lutar. Em 1994 foi campeão. Era apenas a quarta vez numa década. Foi a última em doze anos. 2006 e 2010 foram um oásis de adeptos sedentos. Pelo caminho o Porto engoliu a história com títulos e mais títulos, o Sporting renasceu para morrer outra vez da mesma doença de sempre e até o Boavista teve direito a celebrar. No meio deste panorama aos adeptos encarnados começavam-lhe a faltar espaços no quarto do sofrimento para mais desgostos. A memoria ia-se e com ela esses dias pintados de vermelho.

 

Jorge Jesus marcou o inicio de um novo ciclo.

Campeão na sua primeira época, é o treinador mais longevo da história do clube. São cinco anos à frente das águias. Não há memoria de uma relação assim nos registos modernos de um clube cruel com os seus. Sobreviveu à humilhação do ano de glória de André Villas-Boas. Esteve por duas vezes perto da glória e das duas vezes caiu, de joelhos, no suspiro final, contra triplos impossíveis de imaginar. O FC Porto, destroçado de tanto ganhar (e de tão mal saber gerir a vitória), ganhou uma segunda vida graças aos erros de Jesus. Mas contra as leis da lógica, o polémico treinador ficou. A perseverança foi paga quando a SAD do FC Porto decidiu que os milagres caídos do céu nos dois anos anteriores eram desígnio divino de que até um macaco podia ser campeão de azul e branco. Crer em premonições divinas habitualmente corre mal. Esta correu pior. A péssima época dos dragões destapou todos os erros que os títulos esconderam nos últimos anos, o de um clube tão podre por dentro como o Partido Comunista soviético nos dias pré-Perestroika. O Brejnev azul e branco enganou-se e tirou um peso de cima do Benfica. A época dos encarnados não foi melhor que a dos últimos anos. A equipa marcou menos golos, teve os mesmos registos de vitórias e empates. Mas desta vez não tropeçou com uma pedra imaginária nem teve diante um papão assustador e bafejado pela sorte. O Benfica seguiu o seu curso normal enquanto o rival caiu no poço. Foi suficiente para o campeonato e um bálsamo de auto-estima nos duelos directos. Nunca o Benfica foi tão superior em tantas frentes ao eterno rival. Nunca desde esse 83/84 se palpava que havia realmente um degrau de diferença entre ambos clubes. E que era o Benfica que estava por cima. Este ano essa sensação é inequívoca. O trabalho bem feito – pelo meio houve muitos, muitos erros, tanto da estrutura encarnada como de Jesus, mas o bipolarismo português permitiu que passassem incólumes – teve a sua recompensa e hoje é difícil pensar que há alguma equipa em Portugal perto, sequer, do nível apresentado pelo Benfica. A Europa League pode ser a cereja no topo do bolo mas as Águias não precisam de Turim para saber que estão no caminho certo.

 

Naturalmente que há muito por fazer. O Benfica, como o FC Porto, domina o campeonato português porque a diferença de orçamentos é tal que não há espaço para grandes surpresas. Por muito boa vontade do Sporting, quem gasta cinco vezes mais tem de triunfar de forma proporcional. E por isso as Águias têm perdido tão poucos jogos nestes anos. O mesmo teria passado com o FC Porto (esteve tres temporadas com uma derrota no CV) se não fosse por este ano que, além de atípico, é espelho perfeito de como a margem de manobra é curta entre um clube e outro. Mas na Champions League as equipas portuguesas continuam a falhar. A Europa League é consolo para adeptos mas é um premio de segunda divisão europeia que pouco abona a favor de clubes que não eliminam Olympiakos ou Zenits em duelo directo. O Benfica conseguiu reequilibrar progressivamente a balança por ter sido paciente, por ter investido em jogadores de ataque numa liga onde não precisa de defender e por ter sabido esperar o tropeção do rival. Estão em melhor ocasião do que nunca para repetir 83/84, sem atingir a mesma brilhantês futebolistica. Em 2010 o FC Porto respondeu com armas que já não tem, jogadores de topo, treinador ambicioso e dinheiro para gastar (e não vender). Cinco anos depois a base encarnada tem tudo para ser suficiente. A história espera que o circulo se feche e que trinta anos depois o Bicampeonato seja uma realidade. Há muitas gerações cruzadas à espera desse momento.



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Sexta-feira, 20.08.10

A ronda europeia deste inicio de época, a que só escapou o SL Benfica, voltou a demonstrar, pela enésima vez, que o futebol português é incapaz de lidar com a maturidade e tranquilidade necessárias as grandes competições. Duas vitórias bem diferentes e duas derrotas inexplicáveis que reforçam o mau papel europeu a que as equipas lusas nos têm habituado...desde sempre.

Um país com a história de Portugal que soma apenas cinco competições europeias ganhas em quase 150 provas (a dividir entre Champions League, UEFA e a extinta Taça das Taças) é, claramente, um país com um grave problema competitivo.

Mas o problema nem está até nas finais ganhas e perdidas (uma o FC Porto e Sporting, seis o Benfica), mas sim na prestação habitual das equipas fora do quadro dos grandes. Se Portugal caiu a pique nos últimos anos no celebre ranking da UEFA, essa situação deveu-se essencialmente ao imenso desiquilibrio entre as equipas que se classificavam para as provas europeias e as que realmente tinham estofo para as disputar. Clubes de pequena dimensão como Estrela da Amadora, Salgueiros, Farense, União de Leiria, Beira-Mar ou Paços de Ferreira tiveram direito a brevíssimas passagens pelo circulo europeu, sem deixar a sua marca. O seu futebol pequeno, lento, complexado e sem qualquer pingo de ambição até podia ser a excepção na regra de uma liga com estrutura hábil o suficiente para oferecer, anualmente, um conjunto de equipas com estofo para medir-se com os seus principais rivais na Europa. Leque de países que, no caso português, é composto por Holanda, Roménia, Ucrânia e Rússia. Sem obrigatoriedade de bater-se de igual para as grandes potências económicas e desportivas das cinco principais ligas (apesar do mérito do FC Porto em tê-lo feito, de forma sucessiva, nos últimos anos), é nesses duelos entre iguais que se mede o verdadeiro pulso do futebol luso. Um duelo em que saímos, claramente a perder.

 

O rescaldo da noite de ontem, deixa ainda outra imagem preocupante.

Já não existe apenas a dificuldade eterna em bater-se de igual com os seus rivais directos. É o de cair, sem margem para injustiças, com equipas de ligas e condições claramente inferiores. A derrota em Alvalade do Sporting não surpreende. O clube leonino vive uma verdadeira crise de identidade (mudança técnica, mudança de politica desportiva, longa ausência de titulos) e depois do sofrimento exagerado contra o onze dinamarquês do Nordjsland, chegou a confirmação de que os ares do norte não se dão bem aos de Paulo Sérgio. O Brondby, o clube mais titulado da Dinamarca, fez do que quis uma formação que, até à época passada, se tinha exibido regularmente na Champions League. Desiquilibrou uma eliminatória que só aqueles que acreditam que os nomes ainda ganham rondas estava a favor dos verde-e-brancos.

Os clubes portugueses continuam a viver mais do passado do que do presente. O Sporting, que foi a última equipa portuguesa presente numa final europeia (perdida no seu estádio, em 2005, face ao CSKA Moscow) nunca teve expressão europeia, se exceptuarmos a vitória na Taça das Taças em 1966 e a brilhante época na Taça UEFA de 1990. A sua crónica falta de capacidade de lidar com rivais mais determinados e aplicados foi o espelho do que se viveu na passada noite.

Espelho diametralmente oposto ao FC Porto, um clube habituado a fazer da atitude competitiva, um oásis no futebol português, a sua grande arma. A transformação do FC Porto como grande dominador do futebol luso a partir de 1976 é, acima de tudo, uma transformação na imagem de equipa sem ambição num conjunto com uma fortissima atitude competitiva. De tal forma que os azuis e brancos rapidamente se transformaram numa referência europeia. Duas Champions League, uma Taça UEFA, duas Intercontinentais, uma Supertaça Europeia e uma final da Taça das Taças perdida depois, o FC Porto é hoje em dia, provavelmente, o único clube português capaz de ganhar um jogo na Europa com base, apenas, no seu faro competitivo. Viu-se ontem, frente ao Genk, que nunca foi inferior como se poderia prever, mas que não teve o estofo e a calma de um clube que detinha, até este ano, o recorde de participações na prova rainha europeia, onde se doutorou anualmente como presença assidua na segunda ronda. O clube da Invicta jogou mal e ganhou bem. Como se exige neste tipo de eliminatórias.

 

Se Sporting e Porto são a cara e a cruz do problema de atitude das equipas portuguesas lá fora (a campanha do Benfica foi, no ano passado, a excepção a um passado recente de desastres sucessivos que deixam lá na memória as finais perdidas de 1988 e 1990 na Champions League), o mesmo se passa com Braga e Maritimo.

Os bracarenses são os herdeiros de Vitória de Setubal e Boavista, as únicas duas formações portuguesas fora do núcleo dos três grandes que conseguiram transmitir uma atitude competitiva e ganhadora no espaço europeu. Os sadinos na década de 60 e 70, graças ao trabalho cirúrgico de José Maria Pedroto e Fernando Vaz, e os axadrezados no principio dos 90 e uma década depois, foram equipas com verdadeira projecção europeia graças aos projectos bem estruturados e ambiciosos que os apoiavam. Os do Bessa, que despontaram na Europa nos dias de Manuel José, confirmaram a sua afirmação como "Quarto Grande" nas suas notáveis campanhas na Champions League e nas meias-finais da Taça UEFA de 2003 sob o comando de Jaime Pacheco. Eram formações descomplexadas, concentradas e com uma atitude bem distinta da esmagadora maioria dos onzes lusos que, ao atravessar a fronteira, começavam já a perder. A vitória categórica do Braga de Domingos frente ao Sevilla, depois da vitória sobre o Celtic, coloca os "Guerreiros do Minho" nessa tradição, sem esquecer a brilhante campanha da equipa então orientada por Jorge Jesus. No entanto, mesmo um projecto destas caracteristicas é capaz de tropeçar duas vezes na mesma pedra. As rápidas e sucessivas eliminações europeias nas últimas épocas, tal como se viveu na passada época, é o sinal claro de que há ainda muito a fazer.

Já o Maritimo representa o verdadeiro espirito do futebol luso lá fora. Uma equipa com recente tradição europeia, apesar da perda de protagonismo para o rival directo, o Nacional da Madeira, incapaz de levantar cabeça e bater com o pé. Se o BATE Borisov é uma equipa dominante no seu pais, a verdade é que lhe faltam argumentos para lutar no espaço europeu. A todos os niveis é uma formação inferior ao conjunto maritimista. No entanto, essas diferenças desaparecem, invariavelmente, no terreno de jogo. Como aconteceu com Nacional, Vitória de Guimarães, Belenenses e outras formações, as equipas de segunda linha da liga lusa caem invariavelmente nas primeiras rondas europeias. Não pelo peso dos rivais (não houve, desta vez, um Valencia, Leeds ou Roma no sorteio para ninguém), mas pela sua própria incapacidade de competir para lá do rectângulo ibérico onde o jogo pára constantemente, onde os árbitros não têm critérios, onde os treinadores são medrosos e onde o público não exige, simplesmente critica. O futebol português já não se disputa em campos pelados, mas o treino, os dispositivos tácticos, o trabalho de formação e a mentalidade pequena de técnicos e jogadores, muitos deles estrangeiros de terceira linha, falam por si. Os resultados nunca mentem.

A subida portuguesa no ranking nos anos 90 deveu-se, sabe-se, quase em exclusivo ao sucesso europeu do FC Porto.

Por cada vitória dos azuis e brancos, durante largas épocas, iam caindo as restantes equipas (que chegaram a ser até seis). Quando os azuis e brancos baixavam de forma, não havia ninguém para tomar o seu lugar. Portugal perdeu prestigio, posições e equipas na Europa (principalmente no caso da Champions League, onde chegou a haver duas com classificação directa e uma terceira no play-off). Nos últimos dois anos houve uma ligeira recuperação, fruto do regresso do FC Porto, mas também das boas épocas de Braga e Benfica nos últimos dois anos e na perda inevitável de pontos pelos países que ultrapassam a liga lusa, incapazes, também eles, de lidar com tantos onzes no futebol europeu. O resultado desta primeira ronda não é definitivo, mas quase. Portugal corre o risco de seguir o resto da época europeia com apenas três equipas. Muito pouco. Mas desnecessariamente justo. Porque enquanto não houver uma nova postura e atitude por parte das equipas portuguesas quando saem do seu pequeno Mundo, mais vale mesmo seguir apenas com quem tem argumentos reais para competir. É a lei da sobrevivência.    



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Quinta-feira, 22.04.10

Quando ninguém dava nada pelo histórico conjunto de Craven Cottage o Fulham irrompe na Europa como a grande sensação do ano. Uma campanha histórica que deve muito ao técnico veterano, o imprevisível Roy Hogdson, mas também ao seu dianteiro estelar. Depois de anos debaixo do radar, Bobby finalmente conseguiu explodir. Bobby quem?

 

Zamora, Bobby Zamora.

Poderia ser a carta de apresentação do único dianteiro inglês que poderia presumir este ano de estar em tão boa forma como o intratável Wayne Rooney. E no entanto ninguém dava nada por ele no arranque da temporada. Alguns continuam sem dar. O próprio Fabio Capello, técnico teimoso como poucos, não tem previsto levá-lo à África do Sul. Onde merece estar. Mais do que Peter Crouch, mais do que Jermaine Defoe, mais do que Emile Heskey, muito mais do que Owen ou Aghbonlahor. Este ano é de Bobby Zamora. Aos 29 anos, finalmente.

O dianteiro de origem tobaguenha formado no modesto Bristol Rovers demorou a encontrar o seu lugar na Premier League. Começou bem cedo a dar nas vistas West Ham Utd depois de três anos no Brighton and Albion Hove e um teste no Tottenham que não correu nada bem. Em 2004 o clube de White Hart Lane aceitou trocá-lo por Jermaine Defoe, uma das estrelas emergentes de Upton Park, que não estava disposto a jogar no Championship. Rapidamente Zamora encontrou o seu sitio no clube do seu coração e assumiu-se como titular desde o principio. A equipa subiu de novo à Premier na sua primeira época e no ano seguinte voltou a uma final da FA Cup. Em total Zamora actuou em 80 jogos e apontou 30 golos nessas duas temporadas. Aos 25 confirmava-se como um bom avançado. Mas parecia faltar algo mais.

 

Em 2008 Zamora trocou o West Ham pelo histórico Fulham.

Uma mudança acertada por muito que, a principio, os adeptos tivessem contestado a sua contratação. O seu primeiro ano foi para esquecer. Três golos, exibições pouco consistentes e uma série de pequenas lesões tornaram-no persona non grata para a exigente massa adepta de Craven Cottage. De tal forma que o clube esteve perto de o vender ao Hull. Mas o jogador rejeitou a proposta do modesto conjunto do norte. E aplicou-se a fundo na nova temporada. Roy Hogdson, técnico veterano, montou a nova época do conjunto londrino com cuidado. O apuramento para a Europa tinha-se revelado, noutros casos, prejudiciais para o sucesso de uma equipa. No caso do Fulham foi precisamente o contrário. A equipa resolveu cedo os seus confrontos europeus e conseguiu assim manter o nível na Premier, trepando tranquilamente para a primeira metade da tabela de onde nunca chegou a sair. E assim, tranquilamente, a equipa começou a mostrar o seu melhor futebol. E Bobby Zamora os seus mais belos golos. Os tentos mais determinantes chegaram na inesquecível campanha europeia. Eliminou o Shaktar Donetsk e foi peça chave no melhor jogo da década do clube, a vitória por 4-1 frente à Juventus, abrindo o marcador e deixando Fabio Cannavaro fora de combate. No duelo contra os alemães do Wolfsburg, máximo favorito, voltou a provar os seus dotes goleadores. E agora, com Hamburgo a dois jogos de distância, tudo pode acontecer. Hoje começa a corrida contra o tempo. E contra a história.

É indubitável que Bobby Zamora é um dos nomes próprios da época, talvez o rosto mais visivel de um colectivo de primeiro nível que surpreendeu o continente com o seu jogo ofensivo e certeiro. Fabio Capello tem um dilema. O avançado que chegou a capitanear a selecção inglesa de sub-21 nunca esteve na sua lista de avançados para acompanhar o intocável Rooney. Mas agora chega a sua hora. A notória baixa de forma de alguns habituais do seleccionador podem abrir-lhe as portas do Mundial. É a sua última oportunidade. É a sua merecida oportunidade!

 



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Sexta-feira, 09.04.10

A goleada sofrida em Anfield Road marcou o ponto final do regresso à elite europeia do SL Benfica. Uma derrota que se deve à base elementar do futebol de contra-golpe do Liverpool e a uma série de erros de palmatória de um treinador que se tem destacado pela sua sagacidade táctica. Diante da mitica Kop o Benfica caiu por culpa própria. E o desgaste fisico revelou-se o menor dos seus problemas.

No jogo da Luz, com 60 mil adeptos a empurrar a equipa, o Benfica tomou a rédea do jogo no final da primeira parte e não mais a largou. Venceu bem, mas deixou demasiadas pontas soltas para uma segunda mão num estádio sagrado e onde a equipa da casa se transforma. Subestimou o efeito Anfield e pagou caro. Jorge Jesus, um técnico a fazer uma época notável, é mais conhecido pela sua inteligência táctica do que pelo seu fair-play, mas ontem soube reconhecer que a sua equipa não teve pedalada para o jogo do Liverpool. Mas só se enganou num pequeno detalhe. Não foi a questão fisica - nem muito menos o jogo de reviravolta na Figueira da Foz - que ditou a eliminação do onze encarnado. Antes uma série de erros inesperados por parte de um técnico hábil e que nos habituou a mostrar que tem os trabalhos de casa sempre bem feitos. Num jogo onde se pedia paciência, espirito de sacrificio e inteligência táctica o Benfica mostrou-se ansioso, precipitado e sem aquela estaleca que define as equipas que conseguem singrar na Europa. Foi inocente na forma como se deixou levar pelo esquema táctico de Rafa Benitez. Foi melhor equipa na primeira parte. Empurrou muitas vezes o Liverpool para o seu rectângulo. Mas nunca soube deixar o rival KO. Nem o conseguiu derrotar por pontos. Os socos desferidos foram muitos. Mas inocentes. E cada golpe do conjunto inglês revelou-se fatal. Poucos rins para tanta ambição.

 

Se David Luiz tinha sido, unanimemente, um dos melhores jogadores no jogo da primeira mão, marcando implacavelmente Fernando Torres, então não se entende a mudança táctica do técnico encarnado. Deslocar a sua melhor torre para a esquerda foi desiquilibrar uma defesa que se tem mostrado senhorial. Do lado direito a entrada de Ruben Amorim também deixou a equipa coxa nas movimentações ofensivas. Pagou-o bem caro. Amorim viu-se constantemente ultrapassado pelos rivais e nunca soube dar o apoio necessário ao meio-campo. Luiz teve responsabilidades directas no terceiro golo, num erro de posicionamento que é mais culpa do seu desnorte táctico do que da sua incapacidade para lidar com o goleador espanhol que, ontem sim, provou ser um avançado de excepção. Da mesma forma que apostar em Julio César num jogo de este nível revelou-se fatal. Quim, mais experiente, teria sido o homem para o posto, independentemente de esta ser "a prova" do brasileiro. A sua inocência no golo inaugural e o nervosismo posterior não ajudou a controlar uma equipa que, emocionalmente, se foi esvaziando.

O golo inaugural de Dirk Kuyt  rompeu com a tónica inicial do encontro. Jesus pensou que um golo madrugadorpoderia desiquilibrar o esquema de Benitez. Lembrou-se do desafio da véspera em Old Trafford. Mas era precisamente o ataque continuado do Benfica que o espanhol queria. Colocou uma linha defensiva sólida - com o grego Kyrgiakos - e baixa, abrindo espaços nas alas. E esperou. O inocente Benfica, a quem convinha mais um jogo na linha do meio-campo com ataques estudados ao detalhe, engoliu a isca. E foi para cima do rival descurando a retaguarda. E sem qualquer eficácia. Nem nos lances de bola parada, nem no acosso às redes de Reina. Ao sofrer o polémico golo inaugural a equipa não parou para pensar. E continuou a achar que tinha o controlo do jogo, quando o que realmente se passava é que deixava espaços perigosos para o contra-ataque do "Pool". Não estranha portanto que assim tivessem nascido os restantes três golos ingleses. Lucas Leiva, antes do intervalo, concluiu um lance desenhado ao milimetro. E, na segunda parte, Torres fez o resto. Com a calma que sempre faltou ao ataque encarnado (em 180 minutos só soube marcar de bola parada) onde Aimar desapareceu, Cardozo - apesar do golo - voltou a ser perdulário e em que não houve vislumbre de Di Maria. O jovem argentino é um peso pluma de imenso potencial. Mas ontem, com a Premier inteira a estudá-lo com atenção, o pupulio de Jesus falhou no exame. Redondamente.

Apesar de vergado por um resultado pesado para as duas mãos, a campanha europeia do Benfica tem de ser vista pelo lado positivo de um clube que há mais de 20 anos que não alcança a meia-final de uma prova europeia. Na última década três clubes portugueses (FC Porto por duas vezes, Sporting e Boavista) estiveram em meias-finais europeias. O Benfica continua a tropeçar na barreira dos Quartos de Final, tal como sucedeu em 2006. Mas neste projecto ainda na sua primeira fase de construção notaram-se aspectos positivos que podem indicar uma mudança de ciclo. O titulo da Liga, objectivo principal e praticamente logrado, não esconde no entanto que há uma diferença substancial entre o dominio de uma liga doméstica e uma destreza competitiva para singrar na Europa. Como demonstrou o modesto Fulham londrino, não é preciso uma equipa ter um grande plantel ou um bom desempenho doméstico. É sim necessário ter rins para reagir diante das adversidades. E saber adaptar-se a cada jogo. Os ingleses deram a volta a uma derrota por 3-1 em Turim, frente à toda poderosa Juventus. E derrotaram o campeão alemão, Wolfsburg. Tudo isso sem um plantel caro e estrelas ao serviço de um técnico, também ele como Jesus, de low profile. É nestes pequenos grandes exemplos de competitividade máxima que o Benfica, que continua a reprovar na cadeira Europa, se tem de apoiar para ir crescendo, passo a passo.

Para a próxima época a Champions League será um desafio bem distinto. Resta saber se a derrota tática do professor Jesus face ao mais experiente Rafa Benitez serve de aviso. No meio de tubarões, são poucos os que sabem sobreviver. Basta ver que este mesmo Liverpool não mostrou ter pedigree para aguentar o ritmo dos campeões. Mas mostrou ter esse plus que continua a faltar à maioria das equipas portuguesas quando saem do rectângulo. E particularmente quando viajam à "pérfida Albion". 



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Segunda-feira, 22.03.10

Para os adeptos que preferem os títulos, ontem foi a noite da semana encarnada. A segunda Taça da Liga consecutiva, desta feita sem polémica à mistura, e a confirmação da superioridade no terreno de jogo face ao eterno rival. No entanto, foi na Quinta-Feira em Marselha que o Benfica mostrou o seu melhor rosto. A equipa de Jorge Jesus galopa para um final de época com um autoritarismo que não se via desde a primeira etapa de Sven-Goren Eriksson. No entanto, ainda falta muito ao novo conjunto encarnado para encontrar o mesmo significado de superioridade que o sueco trouxe pela última vez à Luz.

Foi em 1983-1984.

Nessa longinqua época - cumprem-se 26 anos este Maio - que o Benfica exibiu pela última vez a sua total hegemonia no futebol português. Desde então os conjuntos encarnados conquistaram mais cinco títulos (face a dois do Sporting, um do Boavista e...18 do FC Porto) mas nenhum deles foi um claro exercício de superioridade sobre os rivais como se viu nessa época. A equipa que até tinha perdido uma final da Taça UEFA no primeiro ano de Eriksson, o sueco tranquilo, sumava nesse Verão a sua segunda liga consecutiva. O treinador partia pouco depois para Roma, onde tomaria as rendas do conjunto da capital. Voltaria, anos depois, para voltar a ser campeão. Mas sem esse perfume e dinamica que exibiam nesse onze a ala esquerda de Alvaro e Chalana, o miolo com Shéu e Carlos Manuel e um ataque onde pontificavam Diamantino e Nené. O que destacava nessa equipa era a atitude. O que mudou na Luz da desastrosa época passada a este ano? Precisamente, a atitude.

 

Jorge Jesus não é um génio da táctica como José Mourinho.

E no entanto o seu Benfica apresenta números muito similares aos do técnico sadino na sua etapa praticamente invicta no FC Porto. Tanto a nível de performance, como de eficácia goleadora, este Benfica assemelha-se muito a esse imparável conjunto azul e branco que vergou Portugal e a Europa a seu belo prazer. O conjunto de Mourinho tinha emulado a supremacia de Eriksson, com a eficácia europeia que o técnico sueco nunca logrou transmitir. E apesar dos adeptos encarnados estarem entusiasmados com a previsivel vitória na Liga - a primeira em cinco anos - face a um Braga que vai mostrando, inevitavelmente, as suas crescentes debilidades, é a dimensão europeia deste Benfica que se faz notar. Vencer a Taça da Liga contra um FC Porto descrente em si mesmo, cansado e sem ideias, é um mérito pouco louvável por muito que a estatistica o conte. Ganhar uma Liga onde a arbitragem e as decisões de bastidores tiveram um forte peso, também tem o seu contra.

Mas na Europe League o Benfica está só. Sem ajudas e sem rivais débeis mentalmente, o conjunto encarnado tem exibido o seu melhor rosto. Foi dominador na fase de grupos como poucas vezes se viu a um conjunto português. Derrotou sem apelo nem agravo um Hertha de Berlim em queda livre mas que mostrou no primeiro jogo toda a frieza do futebol alemão. E frente ao ressurgente Olympique Marseille - que acaba de lamber as feridas derrotando o todo poderoso Lyon - mostrou a sua nova atitude. O eterno fatalismo luso na Europa é de longe conhecido. O Sporting voltou a sofrer dessa malapata. Mas na Luz o golo de empate do Marselha, bem perto do fim, longe de desanimar, motivou. Uma equipa capaz de dar a volta a essa situação contrária, mostra um espirito competitivo que sempre escasseia no abandonado rectângulo. Que o faço em terreno hostil, a vinte minutos do fim, marcando dois golos depois de estar a perder, demonstra algo mais.

É impensável prever a próxima eliminatória europeia.

O Liverpool é um colosso europeu mas que se comporta como um pigmeu de há vários anos para cá. O mandato de Rafael Benitez salda-se, até hoje, pela Champions League ganha de forma épica em 2005. Precisamente o seu ano de estreia. Desde então a equipa tem-se pautado pela mediocridade doméstica (onde nunca passou do quarto posto) e algum brilharete europeu. Aos Reds falta, precisamente, essa atitude ganhadora que a equipa de Jesus ostenta. O técnico da Amadora terá mil e um defeitos, mas é um general na verdadeira acepção do termo. Em terras gaulesas montou uma equipa ofensiva e nunca desistiu, mesmo sabendo que a prova não é um objectivo prioritário. A superioridade moral do segundo tempo foi abrumadora. O triunfo inevitável. No duelo frente ao histórico rival, outra vez a atitude levou a melhor sobre a apatia. Colocando um guarda-redes titular que nunca tinha disputado um só minuto na prova deu o sinal. E mesmo reservando quatro titulares, Jesus mostrou que tem todo o seu exército a remar no mesmo sentido. A verdade é que há várias épocas que o Benfica tem investido forte no mercado. Sem resultados. Faltava um elemento catalisador, um dinamo capaz de unir um plantel habitualmente desfeito, e convence-los a trabalhar em conjunto. Esse é o principal mérito do técnico. Os seus onze jogam sempre numa dinamica ascendente, verticalmente e sem receio. Os nomes não suplantam o papel atribuidos aos postos. Assim se explica a superior exibição de Airton no estádio do Algarve ou de Carlos Martins no Velodrome. Suplentes habituais que apresentam predicados de titulares.

 

O futebol vive de ciclos cada vez mais reduzidos.

O dominio absoluto é algo ao alcance de muito poucos. Muitas vezes aqui dissemos que o Tetra azul e branco estava desfazado da realidade, que existia mais devido à falta de participação dos rivais do que aos méritos da armada de Jesualdo. Basta ver que equipas que facilmente deslumbram como o Madrid dos Galácticos, o Barcelona de Rikjaard, o Chelsea de Mourinho, o Arsenal de Wenger ou o AC Milan de Ancelloti, dificilmente conseguiram conquistar mais de dois titulos consecutivos. Depois, a natural evolução do jogo, trata de baralhar e dar de novo. Talvez por isso se perceba que esse ciclos bi-anuais se adequem melhor ao futuro do futebol português. No próximo ano será provável que o Benfica se depare com um FC Porto renascido e um Sporting mais estável. Haverá mais atenção à Europa, pela necessidade de entrada de milhões nas arcas encarnadas, e certamente o defeso verá sair uma ou outra jóia. Talvez por isso este sucesso soe, antes de ter acontecido, já a efémero. No entanto a atitude é algo que pode durar bem mais do que um ano. Caberá a Jorge Jesus moldar a sua equipa na próxima época da mesma forma em que preparou esta.

Hoje o SL Benfica é, inquestionavelmente, a melhor equipa de futebol em Portugal. E uma das equipas em melhor forma em toda a Europa. Com dois troféus ainda em disputa, tudo pode realmente suceder. Mas antes de lançar os foguetes dos triunfos de este ano, o Benfica tem de pensar já no amanhã. A fome de titulos já não será a mesma na próxima época e as expectativas serão naturalmente distintas. Chegar ao topo é muitas vezes fácil. Permancer de forma categórica é algo ao alcance de muito poucos. Talvez por isso em quase 30 anos que nenhum conjunto encarnado tenha emulado o feito de Eriksson naquele Verão quente. Esse desafio será bem mais dificil do que a gesta de uma noite de glória.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:43 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Sexta-feira, 23.10.09

Qualquer semelhança entre este Benfica e qualquer outra versão de outros temporadas é, definitivamente, pura coincidência. Exibição e resultados históricos, murro na mesa e delírio nas bancadas. A águia regressou às épicas noites europeias e massacrou o Everton. Às portas do seu primeiro grande teste de fogo interno.

A hora (18h00) não convidava muito a enchentes. Mas o público lá respondeu, mais uma vez, mostrando que está em total sintonia com este equipa. Cerca de 45 mil pessoas para testemunhar mais uma jornada europeia. E a equipa não os defraudou. A história do clube encarnado está marcada por grande noites europeias. As goleadas da era de Eusébio, os golos decisivos de Nené e Águas, a vitória diante do Arsenal, o empate em Leverkusen ou a eliminação do Liverpool em pleno Anfield. Mas há muitos anos que os encarnados não viviam uma noite assim. O rival nem convidava a grandes optimismos. Não é a versão perfeitamente oleada da época passada mas era lider de grupo e um dos mais sólidos conjuntos da Premier. Orientada por um dos mais capazes técnicos britânicos, o Everton vinha para ganhar. Saiu humilhado como nunca na sua longa história. 5-0 é um resultado que, a esta altura do campeonato, é cada vez mais improvável. Mas quando Jesus solta o seu circo ofensivo, torna-se inevitável.

 

Se as debilidades defensivas das águias ficaram a nú na derrota em Atenas - com uma versão muito soft do AEK - a eficácia ofensiva do Benfica ficou comprovada definitivamente diante dos toffees. Os ingleses não contavam com alguns titulares mas apresentavam quase toda a sua artilharia pesada no ataque. O Benfica mostrou o seu melhor rosto. Julio César voltou às redes com Luisão e David Luiz à frente. Pela direita Amorim, pela esquerda Peixoto. A partir daí a orquestra pura e dura. Javi Garcia a pautar o jogo e Ramires a dar velocidade às transições. A conexão sul-americana tratou do resto. Di Maria rasgava pela esquerda, Aimar deslocava-se para o eixo central e Saviola e Cardozo entendiam-se às mil maravilhas. O Everton nem tinha tempo de reagir ao primeiro golpe. Aos 14 minutos El Conejo - mais eficaz na Europa do que na Liga - abriu a contagem com total oportunismo. Jesus pedia mais acutilância mas os ingleses iam aguentando a carga e esboçando, aqui e ali, uma timida reacção. Pouco, muito pouco. Ao intervalo o técnico voltou a provar que é um motivador nato. E lançou as bestas selvagens. Bastaram 15 minutos para fazer história. Cardozo (por duas vezes) e Luisão, ampliaram o marcadora para uns inesperados 4-0. Sem que Moyes tivesse tempo de ajustar as peças. Um vendaval ofensivo que terminou a sete minutos do fim, com Saviola a bisar. O público delirava e lembrava-se de dias que os mais novos nem conhecem e que os mais velhos se cansaram de lembrar depois de anos de tanta mediocridade. Ontem a águia avisou a Europa que estava de volta.

Ao contrário do FC Porto diante do Apoel, os encarnados encaram o jogo com um despeito insultante. Procuram constantemente as linhas ofensivas e não se cansam até ver a bola dentro das redes. Uma acutilância que traz os seus frutos e transforma o ataque encarnado num dos mais concretizadores de toda a Europa. O mérito é todo de Jesus que soube espalhar bem as peças no terreno e sacar delas a máxima produtividade. Javi Garcia, um médio ofensivo de combate, também ajuda na criação. Aimar, um jogador a quem o fisico atraiçoou vezes demais, deambula como um gigante. E a dupla Saviola-Cardozo tem a mesma eficácia da longinqua época gloriosa de Águas e Magnusson. A vitória - aliada à derrota do AEK diante do BATE - lançou os encarnados para a liderança do grupo. O apuramento não está garantido mas bem encaminhado. A equipa mostra-se atrevida e aguenta o ritmo de estar, pela primeira vez em largos anos, activa em três frentes. E mais do que isso, a sintonia criada com os adeptos é superior àquela que conseguiu na época do último titulo nacional. À indiferença dos adeptos no Dragão e ao desespero dos sócios de Alvalade, na Luz respira-se uma tremenda vontade de vencer a jogar bem. Algo raro em Portugal.

 

Na próxima segunda-feira vem o primeiro teste a doer. Se na Europa o clube mostrou ter nível para ir longe - especialmente se melhorar o aspecto defensivo que continua a dar uns valentes sustos - a nível doméstico o Benfica encontra o primeiro rival "a sério". O Nacional é um claro candidato aos postos europeus e viajar à Madeira é sempre um pesadelo para qualquer equipa. Se a prova for superada a candidatura encarnada ganha ainda mais força. E o que mais surpreende neste conjunto encarnado é o acreditar. E quando alguém acredita que é o melhor de forma tão clara, é díficil de travar.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:00 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Quarta-feira, 20.05.09

 

A partir do próximo ano as provas europeias voltam a dar uma volta de 180 graus. A UEFA na última década tem sido pródiga em experiências e para o ano voltamos a ver as regras do jogo alteradas. Fica a promessa que durante três anos o modelo fica sempre igual, mas que será revisto a tempo da temporada 2012/2013, talvez também pela futura regra de 6+5 que o organismo quer adoptar. 

 

A verdade é que para além dos rankings terem sido actualizados – a partir de 2010/2011, por exemplo, Portugal perde mais um clube apurado para as competições europeias – há uma lavagem de cara da Champions League e um autentico lifting na extinta Taça UEFA que se passará a designar pelo pomposo nome de Europe League. A ideia é repartir mais dinheiro por mais gente, organizar os horários televisivos e liberalizar o acesso ás grandes provas da UEFA. O resultado parece que será o mesmo, ou seja, uma Champions dominada pelo eixo anglo-espanhol e uma Liga Europa para os filhos malditos da principal prova e para os novos ricos do futebol continental.
 
Na próxima edição da Champions League passaremos a ter mais equipas grandes directamente apuradas para a fase de grupos. As três primeiras ligas do ranking (Inglaterra, Espanha e Itália) terão três equipas apuradas automaticamente, em lugar das anteriores duas. Isso significa que vagas que pertenciam a países mais modestos (como Portugal, Holanda ou Escócia) passam a ser dos terceiros classificados dos grandes campeonatos. Em troca a última fase de pré-qualificação passa a estar dividida em dois grupos distintos. Um play-off entre os quartos e terceiros classificados das principais ligas (onde entram aqui a parte de Inglaterra, Itália e Espanha as equipas de França, Alemanha e Rússia) e os segundos classificados dos países de poder médio. Casos do Sporting português, do Twente holandês, ou do rivais turco ou ucraniano. Isso permite que as dez equipas campeãs das ligas menos poderosas do futebol europeu discutam as restantes vagas e assim não correm o risco de apanhar um tubarão pelo caminho. As anteriores pré-eliminatórias continuam o mesmo formato – uma primeira apenas para os últimos clubes do ranking e uma segunda para os primeiros e segundos dos campeonatos mais pequenos e uma terceira fase onde já entram as restantes equipas, excepto os quartos dos tres primeiros paises e os terceiros de França e Alemanha. No caso português, o FC Porto mantém o apuramento directo enquanto que o Sporting entrará na terceira pré-eliminatória e em caso de apuramento seguirá para o futuro play-off dos não campeões, resultado da posição portuguesa no ranking mas que não favorece em muito as aspirações nacionais, face aos possíveis adversários.
 
A partir daí tudo igual que antes. Oito grupos de quatro, jogos de ida e volta e os dois primeiros apurados, seguindo as fases a eliminar até à final no Santiago Bernabeu. Aí entra a última novidade. Pela primeira vez a final deixa de ser a uma quarta-feira, passando ao sábado seguinte numa ideia em que a UEFA defende que seja amiga do público, já que a disponibilidade pode ser maior. Para esse fim-de-semana na capital espanhola estão agendados vários eventos que serão anunciados no Mónaco, aquando do sorteio.
 
Já a Liga Europa é uma novidade completa. Herda a estrutura da Taça UEFA mas actualiza a fase de grupos, de forma a tornar-se mais rentável. Enquanto que a Taça Intertoto mantém o mesmo modelo, as primeiras pré-eliminatórias vão congregando os apurados dos distintos países. Tal como tem acontecido, os países colocados na primeira metade do ranking entram mais tarde em prova, e os vencedores das taças apenas na última pré-eliminatória, junto com os eliminados da última fase de qualificação da prova principal da UEFA. Directamente apurados para a fase de grupos será o campeão em titulo e os dez clubes eliminados da fase de play-off da Champions League. Grupos que passam a ser de quatro equipas – e não cinco – e que de oito passam a doze. Desta forma a fase de grupos será disputada por um total de 48 equipas, com jogos a disputar ás quartas e quintas-feiras em semanas intercaladas com a Champions. No final apuram-se directamente os dois primeiros de cada grupo, a que se juntam os oito terceiros classificados da fase de grupos da Champions League, tal como acontece hoje. A partir daí regressa a fase a eliminar a dois encontros, dos 16 avos de final até à final, esta ainda disputada numa quarta-feira no Nordbank Arena em Hamburgo.
 
No que diz respeito à participação das equipas portuguesas, o ranking determina que para a edição deste ano – e por estar ainda em vigor o ranking anterior – Portugal apura quatro equipas, três pelo campeonato (SL Benfica, Nacional e SC Braga) e um pela Taça (Paços de Ferreira). Destes o Paços tem a certeza de que entrará na última pré-eliminatória, enquanto que o terceiro e quarto classificados entrarão na segunda. A equipa que terminar no quinto posto será também a primeira a entrar em competição. Relativamente à Intertoto, a prova continua a funcionar por convite, pelo que depende dos clubes apresentar a candidatura a entrar na prova.
 

 

O nascimento da Liga Europa significa uma maior centralização das provas europeias pela UEFA de Michel Platini, defensor deste sistema há vários anos. Os clubes a nível médio agradecem porque aumentarão os jogos, e com eles as receitas, que serão negociadas tal como a Champions num pack único, se bem que a valores ainda bastante inferiores. Ir à Liga Europa não enriquecerá ninguém, mas é uma ajuda em comparação com as baixíssimas verbas que a UEFA entregava por terminar a prova que hoje chega ao seu final, oficialmente com este nome.


publicado por Miguel Lourenço Pereira às 16:25 | link do post | comentar

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