Terça-feira, 29.04.14

Em 1984 os adeptos eufóricos do Benfica celebravam o Bicampeonato. Não sabiam que seria a última nas trinta edições seguintes de liga. Foi o apogeu de uma geração mágica, da mística de um clube único no panorama desportivo português. Três décadas depois os adeptos encarnados voltam a sentir-se importantes graças a um ano que tem tudo para entrar no Panteão da sua história. Mas realmente existe um processo revolucionário em curso?

 

Foi o momento que marcou uma geração. Que ainda não o sabia.

O bicampeonato conseguido pela máquina mágica de futebol montada por Sven Goren-Erikson em 1984 foi o canto do cisne de uma hegemonia que durou mais de duas décadas. Essa equipa estava feita para conquistar as estrelas. Tinham-se cumprido dez anos de Abril e nesse período o SL Benfica sobrevivera. A uma revolução que lhe retirou a sua maior fonte de talentos, substituída paulatinamente por estrangeiros de bom nível. Ao renascimento do FC Porto, depois de um sono de quase meio século, sob a liderança de José Maria Pedroto. O Benfica lutou e manteve-se de pé. Não ganhou tanto nessa década como na anterior mas manteve-se a mais prolifera formação do futebol nacional. A época da mística, das noites europeias no velho e sempre lotado Estádio da Luz, a presença em campo de alguns dos melhores jogadores da vida do clube ajudava a pensar em algo mais. Trinta anos depois os mesmos adeptos que celebravam eufóricos uma nova vitória sobre Pedroto, sobre o ousado Pinto da Costa e sobre o rival Sporting, voltam a invadir as ruas para cantar um título. Mas o mundo, o seu mundo, mudou. Os mesmos adeptos que estavam nessas tardes de glória de 1984 colocaram um ano antes as mãos na cabeça três vezes em sinal de incredulidade. Com eles os seus filhos e, em alguns casos, os netos. Em 2013 o Benfica caiu em quinze dias por um golo em três frentes. Ia ganhar tudo, estava escrito. Não ganhou nada. Foi um golpe duro de engolir. Sobretudo para quem começava a perder a memoria daquelas tardes de 83/84. As tardes em que o Benfica passeava a sua superioridade sem rival à altura.

Durante os trinta anos que medeiam o segundo titulo de Erikson e o segundo conquistado por Jorge Jesus, o Benfica venceu pouco. Muito pouco. A primeira década após o Bi do sueco foi dura, mas leal. Houve festejos a norte e a sul. O Sporting saiu de cena, ninguém ocupou o seu lugar e o futebol português entrou de novo num regime bipolar. A cada dois títulos azuis, um titulo encarnado. O FC Porto venceu a Taça dos Campeões Europeus e perdeu uma meia-final. O Benfica chegou a duas finais, não ganhou nenhuma. A Luz ainda era um forte, as Antas um pesadelo, as ligas disputadas taco a taco e a qualidade individual abundava em ambos os bandos. Foi talvez a mais intensa década do nosso futebol. E no fim, o Benfica perdeu a capacidade de lutar. Em 1994 foi campeão. Era apenas a quarta vez numa década. Foi a última em doze anos. 2006 e 2010 foram um oásis de adeptos sedentos. Pelo caminho o Porto engoliu a história com títulos e mais títulos, o Sporting renasceu para morrer outra vez da mesma doença de sempre e até o Boavista teve direito a celebrar. No meio deste panorama aos adeptos encarnados começavam-lhe a faltar espaços no quarto do sofrimento para mais desgostos. A memoria ia-se e com ela esses dias pintados de vermelho.

 

Jorge Jesus marcou o inicio de um novo ciclo.

Campeão na sua primeira época, é o treinador mais longevo da história do clube. São cinco anos à frente das águias. Não há memoria de uma relação assim nos registos modernos de um clube cruel com os seus. Sobreviveu à humilhação do ano de glória de André Villas-Boas. Esteve por duas vezes perto da glória e das duas vezes caiu, de joelhos, no suspiro final, contra triplos impossíveis de imaginar. O FC Porto, destroçado de tanto ganhar (e de tão mal saber gerir a vitória), ganhou uma segunda vida graças aos erros de Jesus. Mas contra as leis da lógica, o polémico treinador ficou. A perseverança foi paga quando a SAD do FC Porto decidiu que os milagres caídos do céu nos dois anos anteriores eram desígnio divino de que até um macaco podia ser campeão de azul e branco. Crer em premonições divinas habitualmente corre mal. Esta correu pior. A péssima época dos dragões destapou todos os erros que os títulos esconderam nos últimos anos, o de um clube tão podre por dentro como o Partido Comunista soviético nos dias pré-Perestroika. O Brejnev azul e branco enganou-se e tirou um peso de cima do Benfica. A época dos encarnados não foi melhor que a dos últimos anos. A equipa marcou menos golos, teve os mesmos registos de vitórias e empates. Mas desta vez não tropeçou com uma pedra imaginária nem teve diante um papão assustador e bafejado pela sorte. O Benfica seguiu o seu curso normal enquanto o rival caiu no poço. Foi suficiente para o campeonato e um bálsamo de auto-estima nos duelos directos. Nunca o Benfica foi tão superior em tantas frentes ao eterno rival. Nunca desde esse 83/84 se palpava que havia realmente um degrau de diferença entre ambos clubes. E que era o Benfica que estava por cima. Este ano essa sensação é inequívoca. O trabalho bem feito – pelo meio houve muitos, muitos erros, tanto da estrutura encarnada como de Jesus, mas o bipolarismo português permitiu que passassem incólumes – teve a sua recompensa e hoje é difícil pensar que há alguma equipa em Portugal perto, sequer, do nível apresentado pelo Benfica. A Europa League pode ser a cereja no topo do bolo mas as Águias não precisam de Turim para saber que estão no caminho certo.

 

Naturalmente que há muito por fazer. O Benfica, como o FC Porto, domina o campeonato português porque a diferença de orçamentos é tal que não há espaço para grandes surpresas. Por muito boa vontade do Sporting, quem gasta cinco vezes mais tem de triunfar de forma proporcional. E por isso as Águias têm perdido tão poucos jogos nestes anos. O mesmo teria passado com o FC Porto (esteve tres temporadas com uma derrota no CV) se não fosse por este ano que, além de atípico, é espelho perfeito de como a margem de manobra é curta entre um clube e outro. Mas na Champions League as equipas portuguesas continuam a falhar. A Europa League é consolo para adeptos mas é um premio de segunda divisão europeia que pouco abona a favor de clubes que não eliminam Olympiakos ou Zenits em duelo directo. O Benfica conseguiu reequilibrar progressivamente a balança por ter sido paciente, por ter investido em jogadores de ataque numa liga onde não precisa de defender e por ter sabido esperar o tropeção do rival. Estão em melhor ocasião do que nunca para repetir 83/84, sem atingir a mesma brilhantês futebolistica. Em 2010 o FC Porto respondeu com armas que já não tem, jogadores de topo, treinador ambicioso e dinheiro para gastar (e não vender). Cinco anos depois a base encarnada tem tudo para ser suficiente. A história espera que o circulo se feche e que trinta anos depois o Bicampeonato seja uma realidade. Há muitas gerações cruzadas à espera desse momento.



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Quinta-feira, 27.02.14

Pinto da Costa é um homem desorientado. O fracasso não é um conceito a que esteja habituado. Depois de mais de trinta anos, o presidente do FC Porto fez dos títulos e do reconhecimento global o seu cartão de visita. Mas o seu egotismo também tem as suas consequências. Para os adeptos dos Dragões a mais recente chama-se Paulo Fonseca. O presidente do clube tricampeão nacional criou um pequeno monstro e agora não sabe o que fazer com ele. Porque todos sabem que a origem de uma época de desnorte recai na mais temerária de todas as suas decisões.

Sempre incisivo com a imprensa, o mito Pinto da Costa forjou-se (também) com tiradas inesquecíveis para os jornalistas sedentos de sangue. Testemunhei em pessoa, trabalhando, como o presidente do FC Porto consegue ser criativo, perspicaz e incisivo com a imprensa. Mas no final do jogo com o Estoril, e a sua subsequente presença à porta do parking interior do estádio do Dragão, esse Pinto da Costa foi substituído por um ogre desorientado e ultrapassado pelas circunstâncias. Era a primeira derrota para o campeonato em casa dos Dragões em cinco anos. Mais um dos muitos recordes negativos estabelecidos esta temporada. Interrogado pelos jornalistas sobre o futuro do treinador, um dos inevitáveis responsáveis pela situação, ao presidente azul-e-branco faltou-lhe o jogo de cintura dos seus tempos áureos. Foi agressivo, mal-educado e ditatorial. Normalmente os grandes homens quando começam a ver o poder (ou a razão) a escapar-se-lhe das mãos transformam-se em algo parecido. E momentos como este são raros na carreira de Pinto da Costa.

Desde que assumiu a presidência do clube, em 1982, apenas por cinco vezes se viu perante esta situação. Nada mal. As duas primeiras soube resolve-las bem. Foram apostas arriscadas e pessoais que saíram mal. Tanto Quinito como o regresso de um sempre contestado Ivic não caíram bem com os adeptos e os jogadores. Duraram pouco. Para o lugar do primeiro, Pinto da Costa conseguiu resgatar Artur Jorge da sua primeira aventura por Paris. A equipa falhou o título nesse ano (apesar de estar só a um ponto da liderança no momento da troca) mas foi campeã no ano seguinte. Quatro anos depois, quando o bicampeão brasileiro Carlos Alberto Silva voltou ao Brasil, o líder dos dragões decidiu recuperar Ivic. O técnico jugoslavo esteve pouco tempo no cargo apesar de uma histórica vitória em Bremen (com uma equipa a jogar com cinco defesas). Bobby Robson, despedido pouco antes por Sousa Cintra enquanto liderava o campeonato, também não conquistou o título mas lançou as bases do Pentacampeonato. Foram dois erros graves sem grandes consequências pelo acerto e o timing na tomada de decisão presidencial. Mas também induziram o líder do FC Porto a crer na sua própria infalibilidade. E a política de riscos foi aumentando e com ela o desnorte.

 

O ponto critico no eterno mandato de Pinto da Costa aconteceu na era pós-Mourinho.

O próprio treinador sadino tinha sido uma correção de um erro inicial (previsível) chamado Octávio Machado. Mas quando o campeão europeu (e de tudo) partiu para Londres, ao presidente do FC Porto não se lhe ocorreu melhor ideia que contratar um italiano sem prestigio, experiência e flexibilidade para o cargo. O disparate Del Neri não sobreviveu à pré-época e o seu sucessor, Victor Fernandez (uma velha paixão) também não aguentou para lá do Natal. Numa espiral autodestrutiva o terceiro acto foi ainda pior. José Couceiro piorou os registos do seu antecessor e os dragões perderam o tricampeonato exclusivamente por culpa próprio. O mesmo é dizer, por consequência da megalomania de Pinto da Costa. Desde então o modelo manteve-se com um parêntesis - Jesualdo Ferreira - mais consequência das circunstâncias (o bater da porta de Co Adriaanse com a época a começar, do que por vontade própria. Tanto o holandês como, mais tarde, Villas-Boas, Vitor Pereira e Paulo Fonseca seguiram o mesmo padrão de treinadores quase desconhecidos, sem experiência e fáceis de controlar por uma direcção cada vez mais preocupada com realidades paralelas do jogo do que, propriamente, com uma filosofia de sucesso a médio prazo. O clube aumentou exponencialmente a sua faceta de emblema vendedor, reduziu ao mínimo os ciclos de treinadores e jogadores, sempre á procura do próximo negócio milionário. O sucesso desportivo deixou de ser a consequência de um bom trabalho feito para ser o oxigénio necessário para manter a escalada de gastos nesta corrida ao El Dorado. Ferido de morte pelas escutas do caso Apito Dourado, Pinto da Costa foi perdendo o fulgor de outrora, retirando-se estrategicamente para a sombra, delegando cada vez mais poder na tribo aduladora que o rodeava e se preparava para colher os despojos. O que antes era uma forte direcção pessoal escondeu-se atrás do manto sagrado da SAD e dos negócios e homens que circulavam à sua volta. Mas para manter essa espiral de contratações, valorizações e vendas era necessário manter a linha de treinadores que pedem pouco e agradecem muito porque, na prática, sabem que sem o clube não são ninguém. Com o dinheiro investido e a qualidade individual ao longo dos anos, um FC Porto liderado por um treinador de prestigio poderia ter ido muito mais longe de onde foi. Mas nas mãos de jovens turcos com vontade de agradar, o desnorte tornou-se inevitável. E o maior desnorte possível chegou com Paulo Fonseca. Em quatro anos o antigo jogador do clube (por um par de jogos, para os mais esquecidos) passou da III Divisão para a Champions League. Rapidamente deu para perceber que era mais uma aposta de risco que saía mal. Corrigido a tempo, corria o risco de tornar-se numa anedota. Mas a Pinto da Costa faltou-lhe a sagacidade e força de outros momentos. Talvez "queimado" pelos seus erros anteriores, preferiu esperar. E à medida que o cenário ia piorando, o divórcio com os adeptos e jogadores confirmando-se, a inactividade do presidente parecia cada vez mais evidente. Paulo Fonseca poderá sair antes da época mas será sempre demasiado tarde. E se o erro na sua escolha podia ser o erro de qualquer um, mantê-lo no cargo durante oito longos meses vai contra todos os instintos de liderança de um presidente sem igual na história do futebol português.

 

Para os adeptos do FC Porto a situação de Paulo Fonseca é nova. Não pela evidente incapacidade do treinador em lidar com a situação e com o cargo. Não é o primeiro nem será o último treinador promissor a falhar o salto a um grande. Acontece em todos os lados. A situação é mais grave porque evidencia a evidente perda de liderança (e de qualidades de liderança) do homem em quem os adeptos sentiam que podiam confiar em todas as circunstâncias. E um sinal, evidente se fazia falta, que todos são finitos e que o futuro do FC Porto pós-Pinto da Costa tem tudo para ser similar ao que sofreu o Benfica e o Sporting no final das suas respectivas épocas douradas. Não será um final abrupto (ambos clubes tiveram quase uma década no topo, partilhando o sucesso com o seu sucessor, antes de cair) mas o ciclo histórico de quase três décadas que Pedroto idealizou e Pinto da Costa concretizou já esteve mais longe. O Império Romano caiu muito depois do seu fim efectivo. Paulo Fonseca, sem o saber, pode ser a primeira pedra num caminho de obstáculos para o futuro. O próximo defeso - e a soma de decisões do presidente dos dragões a vários níveis - poderá ser o mais importante da história moderna do clube que dominou como nenhum outro a história do futebol português.

 

 



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Quarta-feira, 08.01.14

A data de fundação do FC Porto sempre foi alvo de debate. O clube existiu em várias reencarnações. Mas apesar de um historial único, a verdadeira invenção do FC Porto moderno aconteceu depois de um aceso debate na pastelaria Petúlia que levou Pinto da Costa a proclamar a sua mítica frase de "largos dias têm cem anos...". O regresso de José Maria Pedroto às Antas foi também o início de um novo clube que rompia com os erros históricos do passado e lançava as bases para o que hoje é a potência dominadora por excelência do futebol português.

Se Eusébio foi o principal embaixador do futebol português nos relvados, no banco de suplentes sentou-se durante duas décadas o seu equivalente entre os técnicos. Portugal é um país historicamente capaz de produzir excelentes treinadores de futebol, desde os dias de Cândido de Oliveira até à consagração mediática de José Mourinho. Nenhum foi, no entanto, tão influente como José Maria Pedroto.

O popular Zé do Boné não se limitou a ser um inovador. Reinventou também um clube e com ele uma cultura futebolista que se prolongou no tempo graças ao trabalho do seu braço-direito emocional, Jorge Nuno Pinto da Costa. Juntos forjaram uma dupla histórica onde ao dinamismo do dirigente se juntava a inteligência e acidez do treinador. Pedroto foi tudo enquanto esteve vivo. Jogador de excelência, um dos mais completos da sua geração. Técnico altamente preparado, o primeiro em Portugal a formar-se no estrangeiro com diploma de excelência. Ideólogo e presidente "de facto", a partir do momento em que regressou às Antas debaixo do olhar corroído de Américo de Sá e de uma cultura futebolística habituada a considerar os azuis-e-brancos como actores secundários.

Pedroto revolucionou um clube preso ao amadorismo de outros tempos. Por um lado espicaçou a moral dos adeptos portistas com declarações públicas violentas contra o poder instituído do centralismo, os "roubos de Igreja" e a preferência política pelos clubes da capital. Uma ideia que defendeu sempre, mesmo enquanto jogador, a partir do momento em que assinou não pelo FC Porto mas sim pelo Belenenses. Ao vivo testemunhou com o circuito político do futebol português se concentrava entre os grandes da capital e não esqueceu a lição. Mas Pedroto não teria triunfado se a sua mensagem fosse apenas de conflito. De portas para dentro trabalhou para mudar a mentalidade pequena de um clube que não vencia um título nacional há quase duas décadas e que antes, no seu tempo de jogador, tinha estado quase igual período de tempo sem triunfar. A mentalidade pequena, provinciana, o medo de atravessar a ponte rumo a sul para jogar longe dos adeptos teria de ser alterada para uma forte cultura de clube inspirada no modelo que Shankly tinha aplicado em Liverpool. As Antas tornou-se um fortim com Pedroto mas foi a melhoria de prestações fora de casa que permitiram a uma equipa nas horas baixas, ultrapassada pelo seu rival local, voltar ao topo da classificação.

 

O técnico começou a sua carreira a principio dos anos 60.

Formou-se no estrangeiro - o primeiro treinador luso em consegui-lo - e com a selecção portuguesa de juniores alcançou um título internacional que hoje seria o equivalente do Mundial sub-20. De aí passou para a Académica e o Leixões antes de finalmente chegar ao banco principal nas Antas. Foi a maior lição da sua vida. Numa época em que Benfica e Sporting dominavam a liga - com vitórias europeias à mistura - Pedroto montou uma equipa capaz de lutar pelo título pela primeira vez em quase uma década. Mas um tiro no pé do próprio clube, reflexo da gestão quase amadora de alguns dirigentes e do comportamento pouco profissional de vários jogadores, colocaram-no em posição de ruptura com o clube. Num feito quase sem precedentes uma quente Assembleia Geral levou a direcção a expulsar Pedroto de sócio e a proibir a sua entrada nas instalações do clube. Foi um golpe quase mortal na sua ambição de devolver os dragões aquela que ele confiava ser a sua posição natural.

Sem Pedroto o clube da Invicta foi de mal em pior enquanto o Zé do Boné se tornava célebre nas suas passagens por Setúbal e pelo Boavista, equipas modestas com que venceu Taças de Portugal e colocou a lutar pelo título. Foi o primeiro treinador a aplicar os conceitos básicos do 4-4-2, a cultura do futebol de posse, a troca posicional de extremos e laterais para jogar com a perna trocada. Criou uma cultura de balneário impar, um corporativismo quase britânico, e exigiu apenas aos seus jogadores que encarassem cada jogo como se fosse o último. Pelo meio foi também seleccionador nacional, conseguindo um histórico empate em Wembley contra a Inglaterra. No Porto alguns viam o seu sucesso com inveja mas Pinto da Costa, sagaz, começou a fazer os possíveis e impossíveis para o devolver ao seu posto natural. Em 1975 uma nova Assembleia Geral finalmente levantou a suspensão ao sócio e um ano depois Pedroto era treinador da equipa principal do clube apesar das suspeitas de um desesperado Américo de Sá. Condição, só uma: Pinto da Costa seria o seu braço-direito, o director desportivo na área do futebol.

Com Pedroto ao leme os títulos regressaram. Um bicampeonato entre 1977 e 1979. E com eles uma nova cultura de clube. Jogadores formados em casa como Fernando Gomes, António Oliveira ou Rodolfo foram associados a jovens promessas de zonas circundantes (Jaime Pacheco, António Sousa) e a homens da confiança do técnico das suas passagens pelo Bonfim e pelo Bessa (Octávio, Duda e Freitas). Os mesmos princípios que tinham sido a base da sua carreira foram aplicados nas Antas com maior sucesso e a cultura de clube saltou do relvado para os escritórios do estádio. O choque era inevitável e o Verão Quente atrasou em quase uma década a afirmação definitiva dos azuis-e-brancos. Pinto da Costa continuou a luta política e Pedroto exilou-se em Guimarães, com Artur Jorge ao seu lado, esperando o momento certo para voltar. Em 1982 o antigo director desportivo tornou-se presidente graças ao apelo de Pedroto aos sócios e adeptos do clube e o Zé do Boné voltou para a sua terceira e última etapa no clube que durou até à sua morte, a 8 de Janeiro de 1985.

 

Pedroto mudou para sempre a história do futebol em Portugal. Transformou um clube de mentalidade provinciana na máxima potência do futebol português. Inculcou nos jogadores, mas também nos dirigentes e nos adeptos a crença de que não existia nenhum rival superior se eles assim quisessem. Paralelamente minou sempre que pode o centralismo crónico do futebol em Portugal com declarações e posturas que se enquadravam perfeitamente no espírito de um país em estado ainda revolucionário. À sua morte poucos podiam imaginar no que o FC Porto se iria tornar. Poucos sim, mas Pedroto seria seguramente um deles. Com os seus discípulos - o dirigente, Pinto da Costa, e o treinador, Artur Jorge - o FC Porto não só recuperou o título nacional como iniciou a sua saga europeia. Vinte e nove anos depois a história permanece igual ao sonho de um homem que na década de 70 inventou um clube moderno do nada.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 13:08 | link do post | comentar | ver comentários (6)

Quarta-feira, 04.12.13

O caso Ghilas nem é novo, nem é mais ou menos grave do que se tem vivido em Portugal. É apenas o sintoma mais claro que a situação não mudou uma só virgula. Portugal continua a ser pasto de corrupção, negócios paralelos, administrações mais interessadas no lucro pessoal que no sucesso colectivo. Um circo controlado por uma oligarquia de poder que arrancou a alma do jogo em Portugal.

 

Ghilas é um avançado muito interessante.

Chegou sem fazer ruído ao modesto Moreirense. Durante dois anos apresentou-se como uma alternativa real aos dianteiros mais populares da liga. Marcava, dava a marcava e fazia trinta por uma linha para evitar o inevitável. Não o conseguiu. O Moreirense acabou despromovido e o argelino, internacional pelo seu país, condenado a continuar a sua carreira no futebol secundário ou noutras paragens. Em Moreira de Cónegos marcou 15 golos em 45 jogos, uma média de 1 golo por cada 3 jogos, nada absolutamente brilhante. Mas o seu nome estava na lista de várias direcções desportivas. Quando chegaram à pequena localidade nortenha, esbarraram com uma cláusula de 3 milhões de euros que o clube não estava disposto a baixar. Curioso. Afinal, o orçamento anual da equipa axadrezada ronda esse valor, o clube ia ser despromovido e precisava de dinheiro como de pão para a boca. Nestes casos negoceia-se, regateia-se. Nunca se paga a cláusula. Nem em Portugal nem em nenhum outro país do Mundo. Mas de certa forma os dirigentes do Moreirense fizeram-se fortes e bateram o pé. Tinham um ás na manga. E que ás.

No Verão apareceu em cena o FC Porto.

A equipa azul-e-branca, com novo treinador e nova filosofia, queria uma alternativa ao colombiano Jackson Martinez. Tinham passado dois anos sem ter um avançado suplente de nível (nem Kléber nem Liedson o foram) e face à tranquila evolução do paraguaio Mauro Caballero e do português André Silva, era preciso ter um nome com alguns créditos firmados para render o "cafetero" e, talvez, preparar a sua sucessão. A escolha parecia perfeita, os adeptos aplaudiram, o negócio concretizou-se. Mas não se falaram em números e todos assumiram que o preço do jogador tinha andado à volta dos valores da sua cláusula. Provavelmente o mastodonte dragão tinha feito os dirigentes do pequeno Moreirense entrar em razão. Estavam tão enganados.

O Relatório de Contas oficial do clube, divulgado esta semana, conta uma história bem diferente. O FC Porto não rebaixou as pretensões do clube nortenho. Ultrapassou-as. Em lugar dos 3 milhões de euros, decidiu pagar 3,8 milhões. Um valor que, como aparece detalhado, nem sequer inclui as famosas comissões e direitos de imagem - esses aparecem num apartado à parte que ronda os 2 milhões, misturados com o negócio de Quintero. O mais grave, talvez, foi que esses 3,8 milhões - que já de por si ultrapassam largamente o máximo legal que o clube teria de pagar - são apenas por metade do passe do franco-argelino. 50% de Ghilas vale 4 milhões de euros. O avançado do modesto Moreirense é o avançado mais caro de todos os tempos do futebol em Portugal num clube fora dos três grandes. Vale 8 milhões de euros. Um valor que empalidece os de Éder, Lima, Hugo Almeida e que se aproxima mais aos de Jackson e Cardozo. Espantoso!

 

Este é o retrato do futebol português.

Parece mais do que evidente - basta ver como está o clube nortenho - que o Moreirense não recebeu 3,8 milhões por Ghilas.

O dinheiro pode nem sequer ter sido movido. Entre agentes, dirigentes e fundos desportivos montou-se nos últimos anos uma teia de negócios onde os números publicados raramente se aproximam dos que estão sobre a mesa. Muito desse dinheiro move-se por debaixo da mesma. Outro, pura e simplesmente, permanece no sitio para maquilhar contas. Os clubes devem-se uns aos outros, os agentes e fundos alimentam o jogo de especulação e os adeptos limitam-se a baixar a cabeça em resignação. No Porto, trinta anos de sucesso desportivo de Pinto da Costa serviu para amordaçar a consciência de muitos adeptos e sócios do clube perante situações como esta. Ghilas nem é o primeiro caso nem será seguramente o último. Faz parte de uma linhagem de negócios tão mal explicados que surpreende como é que há tão pouca gente a colocar o dedo na ferida. Em Lisboa, o cenário não é diferente.

O Benfica tem-se especializado em imitar a gestão do FC Porto nesse sentido e a sua associação com um fundo especial tem ajudado a maquilhar contas com compras e vendas fantásticas, jogadores que aparecem e desaparecem dos quadros do clube conforme dá jeito e compras que se transformam em empréstimos para acabar em dispensas sem que os adeptos encarnados entendam como é que todos os anos o plantel muda, o dinheiro é gasto e a falência técnica ainda não é uma realidade.

Ghilas ou Roberto, nomes próprios para casos concretos mas generalizáveis. Movem-se cifras impossíveis para a realidade social do futebol português. E por jogadores cujo valor em campo está a anos-luz dessa etiqueta que clubes e agentes decidiram colar. Aos adeptos vende-se a obrigatoriedade de ceder moralidade face aos tempos modernos para sobreviver. Mas sobreviver onde?

Nos últimos anos têm sido várias as vozes que sancionam o uso de fundos e de agentes como a única ferramenta que Portugal tem para se manter competitivo na Europa do futebol. Seguramente que essa noção de competitividade é discutível. Afinal as exibições desta temporada (e da do ano passado) na Champions League dão sinal de tudo menos de competitividade. Clubes de ligas periféricas como a Bélgica, Grécia, Áustria, Chipre ou Escócia têm sido capazes de vencer ou roubar pontos aos dois grandes portugueses. Na Europa League a situação é exactamente a mesma. Portanto, seja para o que for, o uso recorrente de fundos para inflacionar transferências, salários e comissões não é o que o futebol português precisa para ser competitivo. Porque o modelo não está a funcionar. Qual é a alternativa se os resultados já são maus suficientes assim?

Para clubes com passivos na ordem dos 200 ou 400 milhões de euros, gastar todos os anos entre 30 a 40 milhões em jogadores é algo incomportável e impossível de entender. A não ser que os dirigentes dos clubes não se preocupem com o futuro e consigam encontrar algo de rentabilidade no momento. Muitos deles podem até estar associados, indirectamente, aos mesmos agentes que movem jogadores a valores que não se praticam em mais nenhuma liga europeia a não ser por clubes que são detidos por grandes fortunas. Herrera, Reyes, Quintero, Ghilas, Markovic, Djuricic, Fejsa e Lisandro só podiam ter sido pagos pelos valores que são pagos em Portugal. Analisando jogadores do mesmo perfil noutras ligas - financeiramente mais fortes, sociedades mais desenvolvidas - e ninguém encontra essa soma de quase 60 milhões de euros em oito jogadores quase adolescentes sem nada demonstrado.

Claro que há outro caminho. Mas os comentadores, dirigentes e alguns opinion-makers colocados pelos clubes em espaços de reflexão dirão que não. Que o futebol português precisa destes fundos, destes agentes e destes jogadores se quer seguir no caminho certo. Fazem lembrar as empresas que nos dizem que sem um GPS não podemos conduzir, esquecendo-se de que o prazer da condução muitas vezes está em seguir pela estrada fora sem ter um "grilo falante" a dizer-nos o que fazer. Esse grilo afastou o futebol português da sua essência e entregou-o a uma meia dúzia de personagens que tem sido responsável directa pela sua decadência e que enquanto se encontrar em situações de poder perpetuará as suas acções. O dinheiro gasto (mal) nestes e noutros negócios (e o que desaparece, sobretudo) poderia ter abatido passivos, reforçado a formação, servido para baixar o preço de entradas para levar adeptos ao estádio ou para pagar museus sem recorrer a financiamentos de empresas estrangeiras. Poderia ter sido utilizado em reduzir o custo do merchandising, para criar iniciativas de conexão com a sociedade local ou para reforçar a massa salarial dos melhores jogadores para evitar a sua venda. Mas sem venda não há comissões. Sem preços de entradas altas os adeptos nos estádios poderiam ser mais humildes e mais exigentes do que os que encaram hoje o futebol como uma ópera a céu aberto. E poderiam começar a fazer-se mais perguntas para as quais as respostas são como as salsichas. O FC Porto gastou 30 milhões em quatro jogadores que não ofereceram nada à equipa mas deram muito a quem a gere. O Benfica e a sua armada sérvia (e algum sul-americano que chega e parte sem dizer olá) está na mesma situação. Começa a ser hora que as rivalidades desportivas entre adeptos sejam postas de parte e que alguém pare o jogo e comece a indagar e a fazer as perguntas que alguns têm medo de ouvir!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 11:21 | link do post | comentar | ver comentários (6)

Quinta-feira, 07.11.13

O futebol é um desporto de mitos. De falsas lendas. De ilusões. Da sensação de sabedoria eterna. Nos escritórios do estádio do Dragão, ecoam seguramente algumas dessas ideias sempre que aparece Paulo Fonseca em grande plano. O treinador do FC Porto herdou uma equipa ordenada, organizada e ganhadora. Transformou-a num puzzle do qual nem ele sabe a solução. O seu plano vive em pleno caos.

Há uma velha lenda nos meandros do futebol português que diz qualquer coisa como que Pinto da Costa nunca se engana.

É lenda. A realidade é bastante diferente. Especialmente no que diz respeito à eleição de treinadores. Durante trinta anos há tempo suficiente para se falhar e acertar em partes iguais. A ditadura do tempo, podíamos dizer. Se o FC Porto é gerido da cúpula presidencial, a verdadeira cadeira de sonho, então é fácil entender que os treinadores são, para o clube, funcionários como outros quaisqueres. Com maior exposição mediática claro. É evidente que sempre que essa máxima ficou por cumprir e no banco das Antas e do Dragão se sentaram grandes treinadores, o papel da figura papal e presidencial ficou relegada para um discreto segundo plano. Foi assim com Artur Jorge, o herdeiro eleito por José Maria Pedroto. Foi assim com José Mourinho, o self-made man do futebol mundial. E com André Villas-Boas, o filho pródigo. Tudo escolhas certeiras de Pinto da Costa, tudo protagonistas inesperados na sua gesta.

Mas o presidente azul e branco gosta de que o protagonismo fique reservado para outros e prefere treinadores de low profile. O seu longevo mandato, ad aeternum, assim o confirma. Perfil compartido por figuras que vão de Jesualdo Ferreira a Fernando Santos, de Vitor Pereira a Carlos Alberto Silva, de Tomislav Ivic a Bobby Robson. Cada vez que apostou noutro modelo de treinador - Del Neri, Octávio Machado, Co Adriaanse - teve problemas sérios. Homens de pouco reclamar e muito cumprir. Homens que pedem poucos recursos e aceitam o que lhes dão. Essa é a verdadeira vara de medir dentro da SAD azul-e-branca quando se elege treinador.

Não existe - nem existiu nunca - a vontade de trazer os melhores. Nem um modelo concreto de treinadores dentro de uma escola táctica (apesar do 4-3-3 ser quase santo e senha desde meados dos anos noventa). Ou técnicos focados num mercado em concreto, no desenvolvimento de jovens, etc... Não. No FC Porto os treinadores entram pela porta pequena e saem pela grande, com títulos que em muito devem à estrutura. Saem sem fazer barulho, agradecendo a oportunidade como se de um favor se tratasse. E o ciclo continua a renovar-se. Até que alguma coisa corre mal.

 

Essa coisa pode perfeitamente chamar-se Paulo Fonseca.

Também se podia chamar Quinito. Os dois têm muitos em comum. A começar por um escasso historial como treinadores profissionais. Por terem sido elogiados pela imprensa com as suas gestas nos clubes mais modestos que treinavam. E porque Pinto da Costa olhou para ambos e julgou ver neles o próximo Artur Jorge/André Villas-Boas. Moldado pela sua sombra, claro. O resultado de Quinito está à vista. Um poeta do futebol com uma carreira sem muito que contar. Paulo Fonseca ainda tem tempo de emendar a mão. É até perfeitamente possível que, como tantos antecessores seus, quando deixe o FC Porto o faça com títulos debaixo do braço. O que seguramente nunca fará é com a sensação de que chegará a algo melhor. Porque como tantos outros, isso será impossível. A estrutura é irrepetível noutros cenários, espaços onde a fragilidade dos treinadores ficam a nu. Como sucedeu com António Oliveira, com Fernando Santos, Jesualdo Ferreira e poderá eventualmente passar com Vitor Pereira. A lista é grande.

Paulo Fonseca é a definição perfeita do caos.

Em cinco meses destroçou uma herança de três anos, que começou a ser forjada na raiva pós-túnel, no ano em que a direcção do clube apostou todas as fichas num rookie chamado André Villas-Boas ao mesmo tempo que reforçou da melhor forma possível um plantel já de si repleto de excelentes jogadores com João Moutinho. Foi o principio de um triénio memorável que inclui três títulos consecutivos de liga, uma só derrota na competição nacional, um título europeu e um modelo de jogo sólido. Um 4-3-3 com uma organização defensiva perfeita, transições ágeis e um leque de jogadores top. Tudo isso agora é parte de uma memória distante. Paulo Fonseca é o responsável dessa metamorfose kafkiana. Hoje o FC Porto não sabe se é homem ou se é mosca. Já não há réstias do 4-3-3, perdido entre um 4-2-3-1 que desaproveita um dos melhores médios recuperadores do mundo e um 4-1-3-1-1 sem qualquer sensação de equilíbrio. A defesa, outrora a grande arma do projecto AVB/VP é uma anedota com jogadores que nos últimos dois anos chamaram a atenção dos grandes da Europa perdidos num sistema que os deixa deslocados faces a qualquer rival. E claro, não há jogadores top porque a política comercial da SAD decidiu abdicar de duas jóias da coroa sem garantir a habitual transição, consequência de uma oferta irrecusável de mais um novo rico e de um deficit tremenda causado por uma péssima gestão a médio prazo. Mesmo assim a Paulo Fonseca entregou-se uma equipa à qual não se retirou nenhum jogador de última hora, com opções para quase todos os sectores de campo. E no entanto o caos reina. Um treinador apático (com um prazer sádico por lançar jogadores a cinco minutos do fim), uma descompensação nas suas eleições na pré-época (os extremos Iturbe e Kelvin foram deixados de lado) e um onze tipo que roça a mediania e onde cabem Licá e Josué, que a priori pareciam apenas opções de recurso. Com esse cenário desolador o FC Porto tem sido vulgarizado na Europa e perdeu o seu encanto no campeonato nacional. Lidera mais por defeito do que por virtude (o campeonato do seu rival directo tem sido tão mau, tal como a sua performance europeia), dando sinais de uma insegurança desconhecida até este ano. E em nenhum momento o timoneiro parece dar sinais de inverter o rumo. Pelo contrário, o seu discurso transborda uma arrogância inaudita para quem, até agora, representa tudo aquilo que está errado com um clube habituado a vencer sem demasiado esforço.

 

Paulo Fonseca acabará o ano como treinador do FC Porto.

É uma aposta arriscada da SAD e esta irá até ao fim com o treinador. Mesmo a mais do que provável eliminação precoce na Europa não será suficiente para substituir o treinador, da mesma forma que não foi com Vitor Pereira, um treinador que teve de lidar então com um balneário em revolta, que não recebia a tempo e horas e com vários jogadores que viviam a sensação de promessas por cumprir. Sendo Jorge Jesus o treinador hara-kiri habitual, o Sporting um projecto em desenvolvimento e o Braga uma sombra do que ambicionou ser, Paulo Fonseca pode ser campeão português em Maio. Seria, provavelmente, um dos piores treinadores em ostentar o título. Algo possível apenas num clube como o FC Porto. Mas ao contrário de Artur Jorge, Mourinho e Villas-Boas, verdadeiros génios dos bancos, nunca será um produto exportável para brilhar lá fora. É, como o plantel do FC Porto, para consumo interno. Está de acordo com a mentalidade e falta de ambição da linha que procura suceder a Pinto da Costa dentro do clube, mais preocupada com os negócios que com o prestigio internacional, mais interessada na compra e venda do que na glória europeia. Para essa linha, Paulo Fonseca é um treinador suficiente. Para os que aspiram a algo mais, os que pensam que a conjugação de uma secretaria-técnica de topo com um treinador de talento e com anos para trabalhar poderia ser fascinante, é apenas mais um reflexo do caos emocional em que vive o Dragão.

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 21:55 | link do post | comentar | ver comentários (16)

Quinta-feira, 03.10.13

O futebol português tem, muitas vezes, nos próprios portugueses, o seu pior inimigo. Este ano havia duas equipas lusas no pote 1 da Champions League. O Benfica vinha de uma final perdida da Liga Europa e muitos, como sempre, tentaram vender esses feitos como uma subida do futebol português no escalão internacional. Não era. A Champions League, prova que coloca cada macaco no seu galho, deixou claro que Portugal ainda pertence a uma segunda divisão europeia quando o árbitro apito para o início do jogo e a demagogia fica no balneário.

 

É dificil ver pessoas surpreendidas com as merecidas derrotas de FC Porto e SL Benfica.

Muito dificil. A maior parte dessas análises saem de seres que vivem em nuvens, talvez esmagados pelo poder mediático dos órgãos de comunicação que teimam em difundir mensagens longe da crua realidade. Ter o presidente de um clube a prometer aos adeptos que a sua equipa vai lutar para ser campeã europeia só porque a final é no seu estádio devia ser motivo de destituição imediata. Nem o Benfica tem o melhor plantel dos últimos 30 anos (uma afirmação que é uma total falta de respeito a grandes, grandes equipas do Benfica) nem organizar uma final dá direito moral a pensar que se pode ganhar. Que o digam ao Bayern Munchen ou à Roma, por exemplo, finalistas vencidos em casa. E esses foram os que lá chegaram.

O futebol português não está em condições de ganhar uma Champions League na próxima década salvo que um cataclismo mundial elimine de golpe a dez ou vinte equipas do seu caminho. É a crua realidade e vale tanto para os encarnados como para os azuis-e-brancos.

O FC Porto perdeu bem para um Atlético de Madrid muito parecido ao FCP de Mourinho. Tinha sofrido para vencer o modesto FK Austria (outrora glória europeia) e terá agora de disputar com o Zenit o apuramento. Se for eliminado não vem mal ao mundo. São duas realidades competitivas incomparáveis. Os dragões têm o pedigree e a experiência europeia (o clube, não o plantel). O Zenit tem o dinheiro. E nesta prova da UEFA o dinheiro conta muito. E mais se se sabe o que fazer com ele. Gastar milhões em jogadores para a equipa B não parece ser a melhor alternativa para encontrar um atalho para o sucesso.

 

Pode o campeão português, uma liga mais previsível que a sueca, onde só duas equipas têm argumentos lógicos e realistas para lutar pelo título (por muito bom que tenha sido o arranque de Sporting e Braga, bom e necessário), ombrear com o líder da liga espanhola. Com uma equipa formatada para ganhar a todo o custo, capaz de fazer soar como poucas ao notável Barça, de vencer duas vezes em poucos meses o Real Madrid em casa (depois de 13 anos de derrotas consecutivas)?

Logicamente, não.

Mas para os adeptos, embriagados de populismo, a vitória era uma obrigação, o sonho europeu uma realidade. São os mesmos que acreditavam no ano pós-AVB que o FC Porto era a terceira melhor equipa da Europa, como se a Europa League fosse medidor de algo. E os que pensavam que o Málaga, só porque não tinha pedigree, era fácil e manobrável, como se provou. O FC Porto, e os seus adeptos, têm-se esquecido que competem numa liga medíocre, com equipas medíocres e um ritmo de jogo que vai do lento ao parado. Não há exigência, não há estimulo e isso passa factura nos jogos a sério. Nos jogos europeus. Aí um jogador que vale para a liga deixa rapidamente de valer e vai-se abaixo. Aí as falhas de marcação que na liga não resultam em nada, transformam-se em golo. O FC Porto até jogou melhor que o Atlético em grande parte do seu jogo mas não sabia a que jogava. Não soube nem matar nem soube defender a vantagem e acabou presa de uma formação que mede bem os seus tempos, o seu desgaste e sabe aproveitar cada ocasião para ferir de morte o rival. O Atlético é um dos outsiders para esta Champions porque vem formatado de dois anos de máxima exigência, encurtando distância para o binómio Barça-Madrid e porque tem um plantel de jogadores de muitos kms nas pernas, veteranos de mil batalhas. O FC Porto é uma equipa verde, feita para exportação, sem liderança salvo a de Lucho que dura uma hora. A essa equipa não se pode pedir mais que tentar vencer um duelo desigual com o Zenit, a equipa que pode comprar num só dia os melhores jogadores dos dois grandes portugueses, sem pestanejar. É uma equipa irregular, com problemas defensivos sérios mas a quem os adeptos azuis e brancos deviam olhar com o respeito que, muitas vezes, parecem ter perdido. Tanto sucesso às vezes tolda as vistas e faz-nos perder perspectiva e humildade. Aos portugueses mais do que a nenhum outro povo, talvez porque estamos pouco habituados a sensações positivas.

Com o Benfica a situação é ainda mais grave, sobretudo porque o seu pedigree europeu é uma lenda antiga que a gestão JJ não conseguiu nunca transformar em realidade. A final da Liga Europa foi uma ilusão de competitividade para os adeptos, esquecendo-se de que o Braga também já foi finalista vencido e não foi por isso que se tornou, da noite para o dia, um player importante nos palcos europeus. O seu grupo é mais acessível (Anderlecht e Olympiakos são, claramente, de um nivel similar) mas como é possível pensar-se em ir a Paris vencer com este plantel, com esta desorganização mental do treinador e este balneário destruido uma formação que pode deixar no banco a Lucas Moura, Javier Pastore e não jogar com Thiago Silva? A uma equipa que não perdeu um só jogo com o Barcelona na época passada e que pode gastar numa hora o que o Benfica não pode (ou melhor, não deve) gastar num ano? Uma vez mais a perspectiva dos adeptos perde-se no meio da propaganda e depois os correctivos em campo parecem mais duros do que são na realidade.

O futebol português tem sido, historicamente, um overachiever nos palcos europeus. Somos o sexto país com mais troféus europeus, apenas atrás dos Big Four e da Holanda (sobretudo graças ao trabalho do Ajax) e à frente de França ou Rússia (mesmo na versão soviética). Isso diz muito de nós e na da nossa capacidade de superação. Mas tudo tem as suas limitações. Os rankings da UEFA enganam porque não reflectem a realidade do momento em que as equipas sobem ao relvado. O Dortmund, uma das melhores equipas europeias e vice-campeão em título, pertencia ao pote 3 do sorteio. O facto de FC Porto e SL Benfica terem sido cabeças de série não adianta nada se as suas equipas e os seus treinadores estão longe, muito longe, de ser parte da elite. Na ausência do poderio financeiro, do talento individual e da destreza táctica, os adeptos apenas podem acreditar em ilusões que dificilmente se tornarão em realidade. A Champions League é para projectos completos e complexos. Não para demagogos e sonhadores!



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Sábado, 10.08.13

O Benfica contratou Fariña. O Benfica emprestou Fariña. Pelo meio não houve jogos oficiais, não houve o reflexo das entusiasmantes capas dos jornais a promover a nova estrela sul-americana. O dinheiro move-se, os jogadores movem-se, a suspeita permanece. Não é caso único. Portugal passou a ser um país "ponte express" para a movimentação de dinheiro, agentes, futebolistas e fantasmas do mundo do moderno.

 

No Racing de Avellaneda chamavam-lhe estrela, "pibe de oro" e outras pérolas que tais.

Na nomenclatura do jogo argentino, não surpreende. É um país apaixonante, mas habituado à cultura do exagero. Entre Maradona e Messi todos eram os "novos Maradonas" até que apareceu Leo. Uma história contada muitas vezes cansa, e esse discurso cansava. Agora, imaginamos, falaremos dos novos Messis a cada dois por três. Iturbe já o era. Fariña sonhava em sê-lo. A imprensa português, como sempre tão entusiasmada como o mais básico dos adeptos com vulgaridades, fez eco das palavras, dos sonhos e das aspirações. Provavelmente nem o viram jogar. Provavelmente nem sabiam quem era. Mas vendia jornais. E Fariña lá veio, um negócio maravilhoso, espantoso, incomensurável. O novo "Di Maria" talvez. E agora, num avião a caminho de Doha, esse potentado futebolístico, Fariña pergunta-se a si mesmo qual é o futuro. Longe da sua terra, longe da Europa, o sonho de ser o novo (preencher com o nome que quiser) começa a esfumar-se. E os jornais, calados.

É assim que se fazem cada vez mais negócios em Portugal.

O Benfica transformou-se num entreposto de jogadores. Muitos nem chegam sequer a vestir de encarnado em jogos oficiais. Compra-se à discrição. Não há problema com o dinheiro. Em muitos dos casos, ele nem se move. Roberto afinal, era mesmo de quem este tempo todo?

Como Fariña houve outros casos. E continuará a haver. Desde que Jorge Jesus chegou ao Benfica o clube já comprou mais de 50 jogadores.

Leu bem. Mais de 50 jogadores. Em cinco pré-épocas, Jesus - e a direcção do Benfica, já que são unha com carne, até ver - trouxe uma média de 11 jogadores por ano.

Entre esse lote estão os casos paradigmáticos de Patric, Felipe Menezes, Kardec, Schaffer, Éder Luis, Carole, Wass, Hugo Vieira, Michel ou Luisinho. Jogadores com tão poucos minutos (oficiais e em amigáveis), que muitos se perguntam genuinamente se realmente alguém sabia algo deles antes de avançar para o negócio da aquisição. Como Fariña. A maior parte desses jogadores entrou numa espiral de empréstimos que se prolonga até ao fim do contrato (saindo a custo zero) ou com uma venda para maquilhar contas por valores irrisórios. Fariña, seguramente, será mais um desses nomes no amanhã. Dois milhões e uns trocos depois, que talvez o Benfica nunca pagou. Mas pelos quais deu a cara, o símbolo e a história. Entregue aos interesses de fundos de inversão e empresários, o clube tem muito que explicar nos seus negócios com os espanhóis do Granada e do Atlético de Madrid e nas suas operações sul-americanas. Mas, hoje em dia, os adeptos exigem pouco e a situação continua, Verão após Verão, exactamente igual. Resta saber, até Setembro, quantos vão acompanhar a promessa argentina no mesmo destino.

 

O clube encarnado não tem o exclusivo deste tipo de operações.

O Rio Ave tem sido gerido, desde há mais de um ano, por um fundo de empresários apoiado na figura de Jorge Mendes que permite a circulação de jogadores sem a movimentação de dinheiro. Fabinho, emprestado ao Real Madrid, foi agora desviado para o AS Monaco, dois clubes onde o empresário tem interesses. O Rio Ave empresta um jogador que, no fundo, nem é seu. O ridículo absoluto.

Em troca recebe anualmente jogadores descartados, para rodar, e sobrevive. Não cresce. Sobrevive. Que é a nova palavra de ordem no futebol. Não é caso único. A gestão da Traffic no Estoril, mais limpa e transparente, fala a mesma linguagem e move-se nos mesmos campos. Em Espanha há clubes envolvidos nesses esquemas, desde os célebres Atlético Madrid, Deportivo e Zaragoza aos emergentes Granada, Hércules e Rayo. O mesmo sucede em vários clubes da Europa de Leste, da Turquia e no complexo mundo do Calcio. É a novilingua dos relvados.

O caso do Benfica é assumidamente preocupante porque o clube dá a aparência de não precisar destes esquemas. Tem um património sólido, uma divida que pode abater com as suas mais valias reais (e o potencial de algumas vendas, associados aos ingressos da Champions League) e legitimas aspirações a vencer, pelo menos, três competições esta temporada. Não é o Estoril e o Rio Ave. Mas comporta-se como eles.

Se o problema do Sporting é o excesso de erros acumulados de gestões prévias e o FC Porto a sua excessiva dependência do mercado sul-americano (e de alguns fundos e bancos que por lá se movem), o Benfica ultrapassa as fronteiras do lógico com negócios que sujam por completo a imagem do clube.

Enquanto o FC Porto compra jogadores utilizando fundos e relações amigáveis com empresários para depois rentabilizá-los por milhões, o Benfica junta a esse modelo de gestão (que começou a aplicar com sucesso há três anos) um historial de erros de casting que não podem ser inocentes. Dos doze jogadores ao ano que chegam à Luz, metade desaparece cedo do mapa. E ninguém estranha.

 

Pizzi, chamado a ser um jogador de ponta do futebol português, "custou" (é dificil pensar que alguém pagou alguma coisa) 6 milhões de euros, por metade do passe. Que é do Benfica. Mas os seus adeptos vão ter de o ver de "azul e branco". Fariña, esse mito sul-americano, também é das "águias". E ninguém o vai ver porque os jogos dos Emirados Árabes Unidos não se podem seguir, nem via streaming. Entre os dois o clube gastou mais do que a esmagadora maioria dos clubes portugueses em todo o defeso. Nenhum fica no plantel. O entreposto segue aberto. São os negócios à portuguesa!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:22 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Segunda-feira, 20.05.13

Em 2005 o Sporting sonhava com o terceiro título nacional em cinco anos e com a consagração europeia em casa, depois de quatro longas décadas fora de uma final. Perdeu tudo. O título no derby da Luz e a final em Alvalade, contra o CSKA Moscovo. Alguns adeptos tinham feito a festa antes. Arrependeram-se. Oito anos depois o seu eterno rival sofreu o mesmo destino. Celebrar antes do tempo foi uma factura demasiado cara para a moral dos adeptos encarnados, condenados agora a limpar uma época que prometia ser memorável com uma Taça de Portugal. Alheio a tudo isto, o FC Porto sagrou-se tricampeão. É o sétimo título em oito anos. O nono em onze. Nada de novo para os lados do Dragão.

 

As brilhantes épocas do Estoril e Paços de Ferreira, dois clubes bem geridos desde dentro, sem megalomanias nem espirito kamikaze, foram as notas mais brilhantes de uma época cinzenta. De uma época que confirma, de uma vez por todas, a bipolaridade e o abismo que pauta o ritmo do futebol profissional em Portugal. Pela segunda vez em três anos o FC Porto foi campeão nacional sem perder qualquer jogo. Uma derrota em sessenta jogos, contra o Gil Vicente, são números que não encontram paralelo nem na Escócia, nem na Suíça, nem na Áustria, nem no Azerbeijão.

Não se trata, propriamente, de um FC Porto vintage, de uma formação capaz de conquistar a Europa como o faz com o país, tal como sucedeu em 2003 e 2004. É uma equipa moldada para consumo interno e que funciona como um relógio, particularmente quando defronta rivais que repetem o mesmo padrão de jogo semana atrás semana. Nos duelos directos, os que realmente decidem o título, o FC Porto foi fiel a si mesmo, ao seu modelo e à sua filosofia. O Benfica não. Por isso o título dormiu no norte de Portugal.

A equipa encarnada pode atrair com o seu jogo vertical e assumidamente ofensivo. Não é um projecto desportivo tacticamente exigente para os jogadores. O critério de saída da bola é sempre o mesmo, o jogo largo pelas alas e a acumulação de homens à volta da baliza fazem o resto. Jesus não sabe mais, como se tem visto na Champions League, mas o que sabe também basta para a Liga Sagres. Sobretudo porque os rivais não atacam e, portanto, não deixam a nú as fragilidades defensivas da sua ideia e de um plantel construído para ter apenas tracção à frente e onde não há criação pura - Aimar e Carlos Martins foram substituídos por Enzo Perez e Gaitán - só o faro de golo. O técnico encarnado contou com a melhor dupla de ataque do futebol português em largos anos, o eficaz Cardozo com o ágil Lima. Mas nem isso chegou. Na hora da verdade, só jogou um a titular. O modelo inverteu-se e, encostados à sua área durante mais tempo do que é habitual, os erros acumularam-se. No jogo da Luz e nos instantes finais do Dragão. Momentos que decidiram a época.

 

Ao futebol português continua a fazer muita falta alternativas sólidas.

O Sporting voltou a ser igual a si mesmo. Começou o ano de uma forma lamentável e acabou a recuperar o fôlego. Pelo caminho treinadores, jogadores e dirigentes continuaram a jogar com a emoção dos adeptos e o sétimo lugar, pior classificação de sempre, é um castigo justo mas pesado para um emblema fundamental para a competitividade da liga. Há jogadores suficientes para mudar a situação, resta saber se a nova equipa técnica e se uma directiva com um longo defeso pela frente estão à altura das expectativas de um ano sem provas europeias. O Braga, que até agora se tinha beneficiado desta implosão leonina, fez pouco melhor. Perdeu contra um rival muito inferior em tudo o particular assalto à Champions League, um verdadeiro fracasso desportivo por quem tarda em impor-se como alternativa credível. Uma vez mais José Peseiro voltou a demonstrar a incapacidade de lidar com a pressão dos desafios mais exigentes e a reinvenção dos Guerreiros do Minho tornar-se-á numa obrigação para António Salvador, até agora cómodo presidente no papel de triunfador surpresa.

Guimarães, Maritimo, Nacional e Académica realizaram épocas medianas, desportivamente pouco apelativas, com demasiados altos e baixos para terem encontrado uma posição mais alta na tabela classificativa. Aos primeiros os problemas financeiros obrigaram Rui Vitória a sacar da cartola uma geração de belas promessas. Os restantes nem isso ofereceram aos seus adeptos. Foi um ano cinzento, em contraste com a brilhante temporada de Rio Ave, Estoril e Paços. Os primeiros, com a bênção de Jorge Mendes, ganharam o sprint ao Sporting e ficaram a um ponto das provas europeias. Um lugar que pertenceu, com todo o mérito, ao Estoril, ainda há bem pouco tempo na segunda divisão, reflexo de que há uma forma comercialmente sustentável de fazer as coisas bem e ter resultados desportivos que acompanham. Uma lição que o Paços aprendeu há algum tempo. Na Mata Real existe tempo e paciência para os treinadores e faro com os jogadores. Sem um jogo espectacular, a solvência e a crença dos pacenses fez a diferença. Será muito dificil superar a concorrência no play-off da Champions League mas o clube merece pelo menos ouvir durante 180 minutos o hino da elite europeia.

Gil Vicente e Vitória de Setúbal voltaram a repetir o mesmo padrão de épocas recentes, muito sofrimento e uma salvação in extremis, algo que os adeptos do Olhanense, um clube financeiramente em sérios riscos de desaparecer, devem celebrar como um título. Poucos acreditavam na sua salvação, algo que seguramente o Moreirense merecia, particularmente pela aparição de Ghilas, uma das figuras individuais mais sonantes na liga de Jackson, Lima, Cardozo, André Martins, van Wolfswinkel, Josué, Tiago Rodrigues, Carlos Eduardo, Moutinho, Fernando ou Matic. O Beira-Mar, desde cedo, deu sinais de que o destino estava escrito. Há muito que tem de mudar em Aveiro para que o projecto futebolístico de um clube que não sabe muito bem a quem pertence tenha sucesso.

O triunfo do FC Porto foi o triunfo da normalidade. Os empates inesperados, com penaltys falhados na hora decisiva, contra Olhanense e Marítimo, adiaram a celebração de um título que pareceu ameaçado pela euforia encarnada. O tropeção das águias contra o Estoril ajustou quase as contas de falhos menores, mas suficientes para decidir para onde ia o troféu. Em 2010 o Benfica, em vésperas de celebrar o título, não conseguiu fazer a festa no Dragão. No ano seguinte os azuis-e-brancos deixaram a Luz às escuras e desde então recuperaram sempre de uma desvantagem pontual no campeonato para vencer o título depois de atropelar o rival nos duelos directos. É sobretudo aí que tem estado o calcanhar de Aquiles dos encarnados, um problema de mentalidade e de capacidade de jogar com a pressão, algo a que três décadas de sucesso constante tem deixado o FC Porto imune. Vitor Pereira, o treinador mais criticado, igualou o número de ligas dos maiores treinadores da história de Portugal, Cândido de Oliveira, José Maria Pedroto e José Mourinho. Tem uma mais do que Villas-Boas e Jesus e nos últimos trinta anos só segue atrás de Artur Jorge e Jesualdo Ferreira. A sua equipa tem um modelo definido, é lenta nas transições ofensivas e conta, sobretudo, com um plantel muito mal preparado pela SAD. Mas mesmo assim suficiente para conquistar o terceiro Tri da era Pinto da Costa. As anteriores sequências (95-99, 06-09) não se ficaram por aí. Para 2013/14 o FC Porto parte com o escudo de campeão no peito e o favoritismo nas casas de apostas. É a normalidade no futebol português.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:01 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Sábado, 11.05.13

O futebol sabe ser cruel quando necessário. Depois de uma abordagem medrosa e cuidada durante noventa minutos, Jorge Jesus postrou-se no relvado do Dragão, incapaz de reagir ao mágico disparo de Kelvin. Um remate que rompeu com toda a dinâmica de um jogo sempre prevísivel, de parte a parte, e abriu a possibilidade ao FC Porto de se sagrar uma vez mais campeão nacional.

 

Na época passada Jesus chegou ao final da temporada com cinco pontos de vantagem sobre o seu rival, Vitor Pereira. Perdeu a liga.

A um jogo do fim, a situação pode repetir-se. Foram quatro, não cinco, os pontos perdidos. O desfecho poderá ser o mesmo. O FC Porto tem de bater o Paços de Ferreira num campo onde só o Benfica ganhou. Um campo que vai celebrar o histórico apuramento para a Champions League. Uma das mais merecidas e brilhantes notícias do ano. Os encarnados recebem o Moreirense - que precisa de pontuar para sobreviver - depois de uma exigente final na próxima quarta-feira, contra o Chelsea.

A crueldade do momento sacou o mais espantoso que gera o futebol.

Jesus sentia ter o jogo controlado. Chegou ao estádio do Dragão consciente de que um ponto praticamente resolvia a questão e durante noventa minutos pensou apenas nesse ponto. O golo madrugador de Lima - como resultado de um lance longo ensaido, ao estilo de Rory Delap - reforçou a sua crença de que esse empate bastaria. Talvez porque suspeitasse que o FC Porto seria um rival previsivel. Porque inicialmente foi. Com um estádio cheio - mas que não foi uma caldeira humana - a pressão estava do lado dos dragões. Os homens da casa suportaram o peso inicial, tomaram a iniciativa do jogo e nunca a perderam. Mas esse controlo, como quase sempre ocorre desde que Vitor Pereira é treinador principal, nunca se transforma num domínio asfixiante na área do rival. A posse de bola à Barcelona - muito maior que o rival, muito mais inconsequente - garantia que o jogo se jogava numa só direcção. Mas a partir de aí, muitas dificuldades em encontrar espaços. O Benfica não quis arriscar, não quis ir atrás de um momento histórico. As diferenças entre Jorge Jesus e André Villas-Boas ficaram, uma vez mais, evidentes. O segundo, quando pôde rematar o título em casa do rival - com uma margem bastante superior - arriscou tudo e ganhou. Jesus mostrou-se medroso e não sentiu nos seus jogadores confiança suficiente para impor a sua vontade ao rival. Pagou o preço. A sua imagem, de joelhos, define não só a temporada, não só a sua carreira como treinador mas talvez toda a política desportiva do SL Benfica. No momento em que podiam ter dado uma estocada mortal ao seu histórico rival, devolvendo a graça de vencer o título no seu relvado, imperou o medo. E o dragão sentiu o cheiro a sangue. E aproveitou.

 

Vitor Pereira tem o pior plantel dos últimos anos de FC Porto.

Fez milagres durante o ano. Várias posições carecem de alternativas lógicas. Algumas delas, cruciais. Danilo voltou a desiludir, como em todo o ano. Mas Miguel Lopes já não está. Jackson foi bem anulado por um triângulo formado por Luisão, Garay e Matic. Não havia ninguém à sua volta para partilhar as despesas do golo. No banco, também não. Liedson entrou para assistir Kelvin, mas nunca para criar perigo na área. Varela, inepto como quase sempre, complicou um lance que acabou em golo de forma inesperada. Pouco mais fez. James Rodriguez falhou o golo do ano. Estava em posição irregular. Também não teve arte e engenho de fazer a diferença e os auiz aguentavam-se com a força e cabeça do seu trio do miolo. Quando Fernando, imenso, sai lesionado, falta alguém que imponha a mesma atitude de liderança no miolo. Mesmo assim, com um plantel inferior ao rival, o técnico espinhense manobrou o jogo. Tomou a iniciativa, adaptou-se às circunstâncias e lançou as únicas armas que dispunha. Funcionou.

O seu FC Porto é uma equipa trabalhada, uma equipa que sabe cuidar a bola e manejar os tempos. Mas não tem essa acutilância na área. Não tem esse killer-instinct. E por isso sofreu com equipas habituadas a fechar-se na sua área esperar. Por isso sofreu contra o Benfica. Nesses momentos de falta de espaços, a inspiração individual é uma das poucas armas que sobram. Kelvin apareceu para repor a justiça na competição. É um dos míudos da equipa B que foram tendo minutos porque não há jogadores mais experientes num plantel mal preparado. Resolveu contra o Braga, resolveu contra o Benfica. O título tem o seu selo, o selo de uma geração de jogadores forçada a aparecer demasiado cedo como protagonista por culpa desses erros da SAD. Mas também da coragem de um treinador de lhes dar a oportunidade.

Jesus lançou Roderick, Pereira lançou Kelvin. O título resumiu-se nessas decisões. A igualdade em campo não era uma igualdade de valor real. Num campeonato como o português, um dos mais fracos da Europa, é normal que equipas cujo o orçamento multiplica por muitos os euros em relação aos seus rivais, o normal é que este cenário se repita e sejam os duelos directos a decidir. O dinheiro marca a diferença entre Porto e Benfica e os outros. Mas é a cultura de vencer e o arrojo que pauta o abismo emocional que ainda existe entre os dois clubes. Em vinte anos, por cada 5 títulos do FC Porto, o SL Benfica vence apenas 1. Não há sinais de que a situação se altere no futuro imediato a avaliar pela postura de ambos os emblemas no jogo que ia decidir o título de campeão.

Na Mata Real o FC Porto vai encontrar uma equipa organizada, alegre e ofensiva, precisamente o estilo de rival que melhor encaixa no modelo azul e branco. Será também uma equipa em festa, uma equipa que quer coroar a maior época da sua história com uma exibição memorável. Pode claudicar. Mas mesmo perdendo o título, ficou claro que nos duelos directos ainda é superior ao seu rival, mesmo partindo de trás. Ao Benfica resta-lhe sonhar com voltar a levantar, 51 anos depois, um troféu europeu. Se isso falhar, o jogo com o Moreirense será de vida ou de morte. Para ambas as equipas. Falta ainda o Jamor. Onde está o Guimarães. Onde se pode salvar a época. Onde se pode partilhar entre os dois emblemas mais fortes da conjuntura actual do futebol português as honras da época. Ou talvez não. O sonho de uma tripla pode esfumar-se em quinze dias. O sonho do tricampeonato pode acabar em noventa minutos. O futebol é cruel e o apito final, e isto não é metafóra, vai ser mais uma vez o juiz da temporada.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 23:03 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Terça-feira, 19.02.13

Na liga portuguesa vão, lado a lado. Nos palcos europeus, a diferença é abismal. Falta cada vez menos para que o FC Porto supere o SL Benfica em títulos de campeão português. Nos palcos europeus essa ultrapassagem já sucedeu há largos anos. Não só em títulos mas, sobretudo, em respeito nos países europeus e na tremenda diferença de jogo. Enquanto o FC Porto tem um plano, um modelo, um esquema, e é uma das melhores equipas do continente a aplicá-lo, o Benfica evoca outros tempos, outras memórias e resultados distantes da realidade.

 

A exibição repleta de autoridade do campeão português face ao quarto da liga espanhola é exemplificadora do que é hoje o futebol em Portugal.

Uma excelente equipa, apoiada num clube institucionalmente dirigido dos pés à cabeça com um modelo de gestão que marcou um antes e um depois da história do futebol português, com um esquema táctico claro, um plantel de primeiro nível, digno de aspirar ano atrás de ano em estar no top 8 dos clubes europeus. O FC Porto tratou o Málaga com a mesma superioridade com que lida com o Beira-Mar ou o Moreirense. Empurrou-os para a sua área, não lhes deixou ter a bola - e se há algo que os andaluzes fazem bem é controlar a posse e jogar a partir de aí com confiança - e engoliu literalmente as suas individualidades, sobretudo o espantoso Isco, o sucessor natural de Iniesta. Fê-lo sabendo o quanto vale, o quanto pode aspirar e com uma sensação de diferença abismal que os orçamentos, o prestigio de duas ligas vizinhas mas muito distantes, podia supor. Já foi assim com o Atlético de Madrid (nos anos em que se cruzaram na prova), com o Sevilla e com o Villareal. Foi assim com o Barcelona, no Mónaco, jogos que deixaram evidente que o melhor FC Porto trataria por tu os melhores da liga das estrelas e poderia, perfeitamente, disputar um lugar no pódio da competição. É talvez um dos maiores e mais lógicos elogios que se pode fazer à equipa azul e branca.

O futebol em Portugal fica pequeno a uma equipa que, desde 1982, só perdeu 11 de 30 títulos. Um domínio que nem o melhor Sporting, nem o superlativo Benfica foram capazes sequer de emular. É um domínio que ultrapassa gerações, que ultrapassa condicionalismos e que define a estrutura do que é hoje o futebol em Portugal, uma equipa muito superior das restantes, apesar dos esforços da imprensa por contrariar essa abordagem, que ocasionalmente perde um título (na última década foram 2 em 8) mas que a Europa aprendeu a respeitar. Uma Taça dos Campeões Europeus, uma Champions League, uma Taça UEFA e uma Europe League, uma Supertaça Europeia e duas Intercontinentais é um espólio que supera a soma de todos os outros troféus internacionais conquistados por clubes portugueses.

 

A diferença da qualidade de jogo do FC Porto para o resto dos clubes portugueses vê-se, sobretudo, nos palcos europeus.

Numa liga onde a maioria das equipas prefere esperar para ver, é dificil ver o FC Porto ceder pontos. É difícil ver a equipa ser igualada - para não dizer superada - futebolisticamente. Na Europa a vara de medir é diferente. Na última década o clube venceu três provas europeias (mais do que o Real Madrid, o Bayern Munchen, o Arsenal, o Liverpool, o Inter, a Juventus, o Borussia Dortmund, o Ajax, o Olympique Lyon, o Manchester United) e com uma autoridade insultante. Há dois anos ficou clara a diferença na Europe League, numa edição com três equipas portuguesas nas meias-finais. Este ano, a forma como os dragões carimbaram o passaporte para os Oitavos de Final contrastou enormemente com o Braga - uma época para esquecer sob o comando de um treinador que teima em demonstrar não ser o homem certo no momento certo - e sobretudo com o Benfica. A equipa encarnada foi incapaz de ser superior a um Celtic que fez do jogo directo a sua alma, sofreu inesperadamente com um Spartak de Moscovo em autocombustão (com destituição de técnico incluída) e mesmo com um Barcelona C, no Camp Nou, foi incapaz de somar os pontos que precisava para seguir em frente. Na Europe League, uma competição que se adequa mais às suas reais ambições, e frente ao Bayer Leverkusen, jogou o suficiente para ganhar mas longe de entusiasmar. Tem sido a sina da equipa.

Com ou sem Jesus, o Benfica na Europa é uma equipa de caricatura. Uma equipa sem expressão internacional, com um modelo táctico perfeitamente inadequado às realidades do futebol actual, com peças que se mudam com uma velocidade assustadora, sem consciência da importância do colectivo e que depois se mostram incapazes de reagir nos momentos certos. Não só ficou claro que este Benfica, como as anteriores versões, é incapaz de mostrar-se à altura dos melhores na Europa como o seu perfil de prestigio europeu desaparece a cada ano que passa. A memória da imensa, grande equipa de Eusébio, é algo que os adeptos benfiquistas sempre terão, e com genuíno e merecido orgulho. Mas desde então, meio século depois, nunca mais a Europa viu uma equipa benfiquista capaz de repetir, ano após ano, o seu lugar na elite. Ao contrário do FC Porto, que não só é presença regular na Champions League como tem demonstrado ser capaz de competir de igual com os melhores e ganhar troféus, o Benfica encontra na Europa o duro reflexo da sua realidade. A nível interno os dois títulos (este ano poderão ser três) em 18 anos, deixam clara a sua diferença com os dragões mas é na Europa que essa diferença se torna real.

 

Sem uma estrutura sólida, sem um futebol capaz de capturar a imaginação de adeptos neutrais, o Benfica tem muito trabalho pela frente para poder voltar a sonhar sem uma equipa respeitada nos palcos europeus. O FC Porto, por outro lado, não só está a poucos anos de consumar, matematicamente, a mudança de um ciclo que já leva três décadas, como na Europa é o único porta-estandarte do futebol português. Se a exibição frente ao Málaga não fosse suficiente, o eventual apuramento - e ainda faltam noventa minutos - para os Quartos de Final da edição 2012/13 da Champions só reforçará mais ainda a ideia de que, seja em Portugal ou na Europa, o futebol português funciona a diferentes velocidades. E só os dragões seguem na de cruzeiro.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 22:27 | link do post | comentar | ver comentários (2)

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