Enquanto os veteranos espalham classe e uma mobilidade que alguns pensavam perdida na memória, os mais jovens demonstram que estão preparados para dar o salto. Não existe na história do futebol uma sucessão de gerações com tanta qualidade em todos os processos do jogo. Nas posições nucleares, o aparecimento a cada nova geração de um jogador de nível máximo é o sinal mais evidente que a hegemonia da Espanha, para lá dos títulos que possa ou não ganhar, não tem fim à vista.
É fácil fazer as contas para perceber que a dupla campeã da Europa e actual campeã Mundial é, por direito próprio, a máxima favorita das próximas competições internacionais. Se alguns dos seus protagonistas principais já falam em reformar-se, eventualmente depois do Mundial do Brasil, os adeptos espanhóis sentem-se tranquilo. Basta olhar para baixo, para os mais novos, para os que vêm a seguir. Duplos campeões da Europa de sub-21, campeões da Europa de sub-19 e flamantes candidatos a vencer o próximo Mundial da categoria sub-20, ninguém questiona o presente de Espanha. Nem o seu futuro.
Essa forma de hegemonia eterna não é fruto do acaso. Há duas décadas os clubes despertaram. O impacto dos Jogos Olimpicos de 1992 foi imenso na mentalidade espanhola. Ao crescimento económico seguiu-se um crescimento emocional de um povo marcado por décadas de ditadura e uma transição desenhada para agradar a gregos e troianos. Durante essa etapa, o futebol espanhol era o dos clubes, o da luta Real Madrid e Barcelona, mas também o dos símbolos regionais. A selecção era uma amálgama de identidades sem ideias próprias que procurava imitar o que estivesse na moda, fosse a dureza alemã ou o cinismo argentino. Eram os dias da Fúria, uma equipa com alma mas sem talento, com garra mas sem ideias. A tal que chegava a cada competição com o rótulo de eventual surpresa para acabar, inevitavelmente, por falhar nos momentos decisivos. Nos momentos onde é preciso ter uma ideia de jogo a que ser fiel.
O futebol espanhol aprendeu a lição. Desde a federação começou a trabalhar-se no futebol de base. Os clubes foram incentivados a seguir pelo mesmo caminho. Uns fizeram-no com mais afinco que outros. O Barcelona e o Athletic Bilbao foram excelentes exemplos de aproveitamento da formação enquanto que os clubes de Madrid preferiram outra abordagem. O tempo demonstraria quem tinha razão. Mas não foi só no treino e formação de jovens jogadores que se desenhou o futuro dourado do futebol espanhol. A nível nacional, de forma quase transversal, adaptou-se um modelo de jogo similar, um estilo de posse comum, de cultura pelo respeito do adversário e pelo conhecimento táctico das matrizes do jogo. Mais do que formar jogadores, em Espanha formaram-se jovens adultos, com capacidade mental para superar qualquer adversidade. Uma capacidade que faltou a tantos dos protagonistas da etapa da fúria e que nos momentos de maior pressão fez a diferença. O clique ganhador, a assunção de sentir-se superiores na sua forma de jogar, passos fundamentais para transformar o sucesso da base no triunfo da cúpula pirâmide.
Xavi-Fabregas-Thiago.
Iniesta-Mata-Isco.
Busquets-Martinez-Illarramendi.
A sala de máquinas do futebol espanhol é a melhor do mundo no presente. Mas também já a é no futuro imediato e no futuro mais distante. Não existe, a nível internacional, um tridente de jogadores da mesma geração tão capazes de assumir o controlo de um jogo e de pautar o seu ritmo como sucede com três gerações consecutivas de heróis espanhóis. A titularidade da selecção principal de Del Bosque é intocável. São os jogadores que Guardiola reinventou dentro do modelo desenhado entre Cruyff e Aragonés. Mas quando faltarem, os espanhóis sabem que há dois futebolistas por posição preparados para assumir o seu lugar sem que se note minimamente a diferença. Em qualquer selecção do Mundo actual, Thiago-Illarrramendi-Isco seriam titulares. Fosse o Brasil, Itália, Inglaterra, Holanda, Argentina ou Portugal. E no entanto, são apenas a terceira escolha em Espanha porque o génio de Mata, de Fabregas e de Javi Martinez os antecede, por idade, apenas e só. Não há melhor forma de coroar o sucesso de uma ideia do que sentir que está garantido o seu futuro. No caso da Espanha, a próxima década está entregue a futebolistas desenhados para ganhar, mas ganhar à sua maneira.
A selecção de sub-21 joga ao mesmo jogo que a equipa principal, mas fá-lo melhor. Com mais fome, com mais verticalidade, com mais apetite pelo golo. Eles são o que os principais eram em 2008, quando Aragonés acabou o seu projecto de forma única. Pelo meio, uma série de futebolistas que cresceram com essa fome de afirmarem-se internacionalmente e que se encontram entalados entre duas equipas de sonho. Nove jogadores para três posições que, no fundo, são apenas um curto exemplo da extensão da hegemonia espanhola.
Para cada Sérgio Ramos há um Iñigo Martinez. Para cada Arbeloa há um Carvajal ou Montoya. E um Moreno, um Koke, um Muniain ou Rodrigo. E todos esses trabalhadores talentosos como Nacho, Bartra, Herrera, De Marcos, Camacho, Aguirretxe, Parejo, Michu e os génios precoces de Canales, Jesé, Deulofeu ou Oliver. São tantos os nomes individuais que o problema é eleger. Mas aqui, apesar de tudo, não é a individualidade que faz a diferença. É o facto de todos eles pensarem, agirem e jogarem debaixo de uma ideia comum. O ritmo na equipa principal pode ter baixado, a frieza e o cinismo que foram imagem de marca de Del Bosque quando esteve inicialmente no Real Madrid fez-se sentir na África do Sul e na Polónia e na Ucrânia. Mas a qualidade dos jogadores e o valor desse espírito determinado e ofensivo permite pensar que é praticamente impossível não contar com a Espanha com máximo favorito para os próximos cinco grandes torneios internacionais.
Poucas selecções sub-21 jogaram na história como esta versão da selecção espanhola. Capaz, muito provavelmente, de vencer a maioria dos jogos disputados contra selecção principais do planeta futebol. Uma qualidade tal que permite, por momentos, esquecer que a sua antecessora, também campeã europeia, era quase tão boa. E que as suas rivais são a base habitual de projectos desportivos de larga projecção como acontece com Alemanha, Itália ou Holanda. Enquanto em Portugal se descobre, a duras penas, a consequência de abandonar-se o projecto de formação que esteve por base no sucesso dos anos noventa, Espanha demonstra uma vez mais saber qual é o caminho. O do sucesso. Para o qual tem a chave. Uma chave que parece ser de cópia única.
Xabi Alonso é um notável jogador. Mas foi preciso lesionar-se para que Vicente del Bosque tivesse encontrado a coragem de fazer o mais difícil. Voltar à origem. A exibição memorável da selecção espanhola contra o Uruguai fez o relógio voltar atrás no tempo, aos dias apaixonantes de Luis Aragonés e uma equipa que encantava pela sua capacidade de fazer da posse de bola uma arma de ataque. Pelo seu talento em recuperar a bola tão bem como a movia por um terreno de jogo onde mandava a criatividade e o espírito ofensivo. Um Mundial e um Europeu ganhos sem convencer depois, a Espanha volta a ser ela mesma. E essa é a melhor notícia!
Em 2008 o futebol despertou para o fenómeno tiki-taka.
Ainda não tinha chegado Guardiola e o seu projecto de renascimento da filosofia de rondo, pressão asfixiante e precisão ofensiva. A Europa de clubes ainda vivia sob o signo da Premier League, do seu modelo físico, de transições rápidas, de jogo vertical e apoiado e da sua dificuldade em fazer da posse de bola uma arma para defender e atacar porque a sua resistência física estava preparada para esse modelo. E chegou o Europeu. O modelo que a Espanha tinha ensaiado nos meses anteriores funcionou. Era a mesma ideia defendida por Aragonés desde 2004, o mesmo que entusiasmou na fase de grupos do Mundial de 2006 mas que não aguentou com a matreirice de Zidane, desejoso de uma despedida à altura. Aragonés sobreviveu a uma profunda guerra no balneário da selecção. Colocou todo o seu prestigio, que era muito, para vencer o braço de ferro com o que ele considerava como um sério problema. Raul, Michel Salgado e companhia foram afastados da selecção. Começava uma nova era.
Aragonés desenhou uma Espanha de raiz.
Um 4-5-1 (ou 4-3-3, como se queira ver), em que a associação no meio-campo de quatro jogadores imensamente talentosos era compensada defensivamente com o trabalho imenso de um só médio recuperador. O compromisso era conseguido porque todos os restantes elementos da equipa sabiam que, sem bola, deveriam realizar uma pressão constante para fechar espaços, morder os rivais e recuperar o esférico. Com a bola podiam descansar, sim, mas sobretudo atacar. Procurar aproveitar as falhas na movimentação do rival, surpreendido pela perda de bola tão rápida, para criar perigo. Jogar com os olhos postos na baliza contrária. Um modelo vertical, mas apoiado na capacidade de circulação horizontal de uma geração de futebolistas maravilhosos. Um modelo que sabia que tinha pontos fracos mas que os transformava em fortaleza quando tinha a bola nos pés. Dessa forma, Aragonés conseguiu juntar numa mesma equipa a Villa, Xavi, Iniesta, Torres, Cazorla ou Fabregas com Senna como elemento mais recuado. As aparições de Xabi Alonso, David Silva e De la Red confirmavam a excelência de uma geração que merecia acabar com uma série de 44 anos sem títulos. Com Aragonés o título chegou porque Espanha foi uma equipa ofensiva, uma equipa autoritária, uma equipa que sabia defender no campo do rival e fazer da posse de bola uma ferramenta para encontrar o atalho mais rápido para o golo. Essa foi a melhor versão da história do futebol espanhol. A selecção que deixou saudades.
Aragonés tinha queimado o seu prestigio na sua luta interna com a influência de Raúl e do grupo de adeptos do Real Madrid.
Na federação, Fernando Hierro, tinha encontrado já o seu substituto antes do torneio sequer ter dado o pontapé de saída. Com a vitória da selecção, houve um momento de embaraço. Finalmente, Del Bosque entrou para comandar uma nau ganhadora. Tinha o duro objectivo de estar à altura do que parecia ser um feito histórico. Mas o trabalho de casa estava feito. Por Aragonés, que tinha deixado um balneário exemplar e uma rotina de jogo reconhecida internacionalmente e admirada. E pelos clubes, que apostando na prata da casa lhe deixaram à disposição uma geração memorável. Particularmente beneficiou-se do génio de Guardiola, que levou a ideia de Aragonés a outro plano, com a ajuda de um tal Messi. O técnico catalão lançou, do nada, as figuras de Busquets e Pedro, futebolistas que Del Bosque rapidamente introduziu no seu modelo. Mas a sua selecção era diferente. O 4-5-1 (ou 4-3-3, sem alas) transformou-se num 4-2-3-1. Alonso, habitual suplente com Aragonés, tornou-se em titular indiscutível ao lado de Busquets, o sucessor de Senna. Essa transformação forçou o treinador a retirar um dos muitos criativos que tinham espalhado magia na Áustria. Xavi e Iniesta eram figuras nucleares, Torres e Villa os goleadores e Pedro um joker precioso.
Inicialmente Del Bosque transformou a Villa em extremo e em Pedro no seu suplente preferencial. Depois abdicou de Torres, colocou Villa no centro e definitivamente entregou a titularidade ao canário. Até que a lesão do asturiano e a má forma do madrilenho lhe permitiu provar a fórmula do falso nove, com Cesc Fabregas ou David Silva no eixo do ataque. Essas mudanças não eram só de cromos.
Geniais, todos, eram jogadores com uma visão de jogo diferente da que tinha Aragonés. Espanha horizontalizou-se. Passou a usar a bola para defender mais do que para atacar. Longos períodos de trocas de bola em posições cómodas permitiam a aproximação da linha defensiva ao ataque, defender mais longe da baliza de Casillas e a incorporação dos laterais ao ataque. Mas também ralentizavam o jogo, davam ao rival a possibilidade de defender ocupando os espaços, procurando a sua oportunidade. Foi assim que a Suíça venceu o primeiro jogo do Mundial que a Espanha ganhou com a pior média de golos marcados da história. Apenas um por jogo na fase a eliminar, sofrendo em todos os jogos por criar perigo real e suportando com sorte e mérito as raras oportunidades dos contrários. As de Ronaldo, Cardozo, Ozil e Robben. Era um modelo mais pragmático, mais italiano, menos ofensivo e estilizado que o de 2008. Mas a vitória escondeu o debate e a renovação de alguns jogadores deu a sensação de um futuro brilhante. Dois anos depois, na Polónia, a equipa abdicou definitivamente do avançado, voltou a oferecer uma versão que até aos próprios espanhóis começava a aborrecer e depois de mais uma série de jogos sem entusiasmar, encontraram-se na final com uma Itália quase infantil a quem deram um impressionante correctivo. A mensagem estava clara. Quando Espanha queria dar uma velocidade mais ao seu jogo, era imbatível. Mas raramente se dava a esse trabalho.
No duelo com o Uruguai, o de abertura da Confederações, Del Bosque não tinha Alonso.
Podia ter substituido o basco por Javi Martinez, autor de uma época memorável na mesma posição em Munique. Não o fez. Decidiu aceitar que a sua versão de quatro anos poderia ser mais fácil de controlar, por previsível, por monótona e por horizontal, por uma equipa habituada a defender, esperar e jogar nas costas do rival. O seleccionador espanhol lançou então Fabregas, mas na posição em que jogava com Aragonés, escorado ao lado esquerdo do ataque, mas não como extremo, em sucessivas trocas de posição com Iniesta, abrindo o carril a Jordi Alba. Para fixar os centrais uruguaios e empurrá-los para a sua área, voltou a optar por um avançado puro, Roberto Soldado, mantendo Pedro como falso extremo direito, um jogador especializado em diagonais e remates impossíveis. Atrás, Xavi mantinha a batuta do jogo, com mais jogadores a moverem-se à sua volta e, portanto, mais linhas de passe possíveis e um maior dinamismo ofensivo. Busquets, como Senna, tinha mais do que capacidade para controlar o aspecto defensivo do jogo, apoiado muito de perto por uma linha defensiva alta.
Com essa aposta, esse 4-5-1 tão ofensivo, Espanha voltou a deslumbrar. O seu jogo ofensivo voltou a ser vertical, rápido, incisivo e com a baliza como alvo preferencial. A posse de bola, imensamente superior à do rival, tinha encontrado um sentido pragmático e não apenas o de uma arma física de descanso, à espera que a marcação defensiva do rival cometesse o habitual erro para o golo da praxe. Era, de certa forma, o voltar às origens. Alguns dos nomes próprios tinham mudado mas a essência era definitivamente a mesma. E muito distante do paradigma habitual de Del Bosque. Um modelo que pode voltar a ser colocado de lado quando Alonso esteja em condições de jogar. Ou, e isso seria uma grande notícia, um modelo recuperado para atacar o segundo título mundial consecutivo, transformando a Espanha na terceira selecção da história capaz de manter o troféu em casa. Uma Espanha com o formato de Del Bosque já seria, inevitavelmente, a máxima candidata ao troféu. Com o desenho original de Aragonés o seu favoritismo é ainda maior. E os adeptos que perdeu durante anos com a sua viragem mais conservadores, voltarão de braços abertos. Porque este foi o formato que permitiu um dia pensar que havia realmente algum paralelismo com a mítica camisola amarela do Brasil sob o céu silencioso do México.
Existem quatro correntes distintas sobre a forma como deve ser desenhada a estrutura de uma selecção nacional. Quatro visões, algumas delas bastantes distanciadas, que contam com as suas virtudes e riscos. São pontos de vista que necessitam também de adaptar-se à realidade local de cada projecto e ás inevitáveis crises geracionais que afectam todas as nações do mundo do futebol. O caso português já viveu em vários desses extremos. Agora continua a subsistir, com Paulo Bento, o mais recente dos modelos, o familiar.
Do grupo fechado de Scolari à liderança dividida no Euro 84. Da equipa forjada com base em dois clubes, em 66, à geração dos melhores que navegavam pelo futebol europeu. A história do futebol português é rica nas variantes de como se desenhou o espírito do chamado Clube Portugal. Já foi coisa de dez jogadores de dois clubes só, para potenciar os laços rotineiros e a influência clubística. Já se jogou ao ritmo de interesses pessoais, procurando colocar os melhores em cada momento. Já se confiou nos melhores jogadores, independentemente do seu estado de forma, simplesmente porque eram muito bons. E agora Portugal revisita o conceito de núcleo fechado, de família, inaugurado por Scolari em 2003.
O caso português não é singular. Todos os países de topo do futebol mundial passaram, com os seus mais e os seus menos, por todos estes modelos ao longo da sua história. Em Espanha vive-se actualmente o apogeu da ideia que em Portugal existiu com a Geração Dourada. Os melhores jogam, sempre, independentemente de como estão ou de se há novos futebolistas no horizonte. Mas em Espanha também já se bailou ao som dos interesses dos clubes, também já se tentou criar uma família fechada, com Clemente na década de noventa e houve uma época em que, pura e simplesmente, jogavam os que estavam em melhor forma.
Para um seleccionador - e até o nome tem truque, porque seleccionar e treinar não é mesmo e até aos anos oitenta muitas selecções tinham dois profissionais para dois postos distintos - é complicado eleger o modelo a seguir.
Se convocar sempre os jogadores que estão em melhor forma - algo que muitos defendem - corre-se o risco de não ter nunca um núcleo estável porque a forma é, como já se sabe, volátil. No entanto, ter sempre os jogadores na melhor condição física e psicológica pode garantir que a equipa que sobe ao campo está motivada e preparada para todos os desafios. Montar um combinado nacional à volta dos maiores talentos individuais, também gera um problema. Podem ser os melhores, os que mais aportam e melhor entendem o jogo mas, muitas vezes, não estão nas melhores condições e surge o fantasma de jogar por estatuto. O modelo aproxima-se mais ao de um clube, com um núcleo fechado de estrelas e suplentes de luxo, ignorando muitas vezes a principal vantagem de uma selecção: poder ir mais além nas escolhas. Também há os que preferem montar um esquema baseado no sucesso individual de um ou dois clubes, trazer o máximo número de jogadores desses emblemas e complementar a convocatória com talentos individuais. Ganha-se em estabilidade e rotinas, algo que falta no curto espaço de tempo de preparação para os jogos internacionais, mas perde-se em novidade e inovação. Por fim há o modelo mais recente, o de criar um grupo fechado, com jogadores bons e medianos, conscientes todos do seu lugar, onde a competitividade existe mas parte de bases estabelecidas. Onde o treinador é técnico, pai e sargento. Onde os interesses de um grupo se sobrepõem aos individuais mas onde a porta está quase sempre fechada ao resto do mundo. Esse é o modelo português da última década.
Nos anos 60 a selecção das Quinas era formada por jogadores do Benfica e do Sporting, com a ocasional incorporação de futebolistas do Belenenses, FC Porto e Setúbal. De aí passou-se ao período pós-25 de Abril, onde cada clube queria controlar a selecção e para agradar a gregos e troianos convocavam-se individualidades e não se pensava no grupo. Com os meninos de ouro forjou-se um grupo de vinte jogadores que, passasse o que passasse, tinham lugar garantido. Foi esse o cenário que entrou em colapso em 2002, no Mundial do Japão e da Coreia do Sul, quando parte do balneário estalou com o favoritismo atribuído por Oliveira a Baía sobre Ricardo, ao lesionado Figo e a um questionadíssimo Pauleta. Quando chegou Scolari, esse era o monstro que tinha de domar, para triunfar no Europeu.
O brasileiro fez a sua limpeza. Manteve ao seu lado o núcleo duro da selecção dos anos noventa (Figo, Fernando Couto, Rui Costa, Paulo Sousa) mas afastou os mais polémicos Baía, Jorge Costa e o suspenso João Vieira Pinto das suas equações. Com os mais indomáveis Sérgio Conceição e Abel Xavier teve os seus problemas. Para compensar, começou a chamar regularmente jogadores de low profile que fizessem o core da sua família. Chegaram os mais novos (Jorge Andrade, Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira, Miguel, Ricardo Quaresma e Cristiano Ronaldo) e os que traziam experiência, como Costinha, Nuno Valente, Maniche. A esses juntou obreiros prontos a obedecer a qualquer ordem mas sem projeção internacional como foram Luis Loureiro e companhia. E chegou Deco, o jogador que quebrou não só o tabu dos naturalizados mas também a ideia de que os jogadores da Geração de Ouro actuavam por decreto. Rui Costa foi a sua vitima colateral.
Scolari criou um núcleo fechado mas aproveitou-se, como Otto Gloria, do trabalho de dois clubes, a juventude das promessas do Sporting e a solidez dos jogadores do FC Porto de Mourinho. Foi essa a sua base durante o seu mandato. Mas sem renovação, sem espaço para a novidade, o grupo estagnou, envelheceu e quando o brasileiro disse adeus, deixou uma equipa sem líder, decadente e com um hábito de trabalho mais similar ao de um exército do que a uma selecção nacional. Queiroz tentou lutar contra esse mundo, abriu a convocatória a outros jogadores, mais jovens, mais promissores, capazes de trazer algo novo, mas nunca conseguiu controlar um balneário saudosista do modelo Scolari, particularmente porque interessava ao homem que representava a maioria dos seus jogadores-chave, Jorge Mendes.
Para isso chegou Paulo Bento. Um treinador razoável, que noutro cenário nunca seria seleccionador e que foi um dos jogadores que sofreu com a nova ordem de Scolari. Mas a quem o papel de sargento assentava bem. Bento herdou uma pool de jogadores muito pior do que a que tinha o brasileiro. Desde o Mundial da Alemanha que a aposta na formação tinha desaparecido, que não havia jogadores para substituir quem tinha partido. Um buraco etário imenso que continua à espera que a geração que actualmente tem entre 17 e 22 anos possa substituir.
Consciente da situação, o seleccionador optou por voltar aos principios mais básicos do scolarismo.
Independentemente da qualidade individual, formou um grupo fechado de vinte jogadores. Boa ou má forma, houvesse ou não melhores jogadores fora do núcleo, esses eram os seus espartanos. Deu o protagonismo mediático à sua estrela individual e rodeou o onze base de suplentes sacados da carteira de Mendes. Muitos deles sem nível para uma selecção, ainda assim decadente, mas que cumpriam os serviços mínimos que se lhes eram exigidos. Isso explica que os Micael, Oliveira, Amorim, Sereno, Zé Castro, Almeida, Eduardo e companhia sejam convocados com regularidade. Os problemas começaram a surgir quando até as opções para o onze se foram reduzindo. Sem jogadores de nível para posições chave como os centrais, médio defensivo, criador de jogo e ataque, o modelo tornou-se obsoleto. Mas nem assim Bento mudou o seu rumo. Manteve-se fiel a um esquema táctico para o qual não tem jogadores e preferiu chamar mais legionários para as posições deficitárias, brutalizando a equipa e tornando-a mais amorfa. Boa para torneios curtos mas um problema sério durante uma temporada onde se exige mais do corpo aos jogadores de topo para estarem frescos nos jogos importantes.
Só nos últimos encontros Bento foi forçado a confrontar-se com a realidade. O seu grupo tinha falhas importantes e escassez de meios. Depois do Euro 2012 começou a aparecer - finalmente - outro perfil de futebolistas. São jogadores que terão de aceitar as regras da família mas que sabem que não têm muita concorrência para o lugar. O descarte de Quaresma, Tiago, Manuel Fernandes, Rolando e Ricardo Carvalho abriu ainda mais as feridas na defesa e no meio-campo. Sereno, Zé Castro, Ricardo Costa, Ruben Micael, Carlos Martins e Varela não são, claramente, a solução. Mas são os homens de confiança. E por isso aparecem em cada lista. O aparecimento progressivo de futebolistas como Vieirinha, Luis Neto, Pizzi ou André Martins é um sinal positivo para o futuro imediato. Pode não ser suficiente para chegar ao Brasil com um plantel coerente e afastado desse espirito autoritário que tão bem caracteriza Bento, um homem que tacticamente é mais um problema que uma solução, mas indica que o futuro tem opções que não podem ser filtradas por não pertencerem a determinado grupo ou agente. Atrás deles vêm os André Almeida, André Gomes, André Santos, Tiago Ilori, Wilson Eduardo, Bruma, Castro, Ricardo, João Mário das selecções jovens mas também outros eternos descartados como Bruno Gama, Paulo Machado, Eliseu, Duda, Antunes ou Vaz Tê, jogadores que podem oferecer mais do que os que vão regularmente à selecção sem pertencer a esse mundo fechado.
Com pouco mais de 50 jogadores de nível aceitável por onde escolher - consequência de uma péssima gestão federativa e dos clubes com o qual Scolari pactuou e da qual Paulo Bento não tem culpa imediata - é normal que as opções para os jogos decisivos de qualificação para o Mundial sejam reduzidas. Partindo do principio que, salvo lesão, os nomes fortes estarão presentes, quer tenham condições físicas e psicológicas para os duelos ou não, as vagas diminuem. É fácil perceber que nem há um modelo de clube suficientemente forte para sustentar a selecção, nem uma geração de ouro que permita esquecer a ideia de que não é necessário ter demasiadas opções para resolver os problemas. Bento tem como alternativa forjar uma selecção no Outono com os que estejam realmente bem ou manter-se fiel ao seu espírito de grupo. O ideal seria criar um compromisso entre ambas mas isso exige diplomacia, liderança e saber adaptar o sistema táctico aos recursos disponíveis, algo de que o seleccionador nacional ainda não demonstrou capacidade para ser capaz de realizar.
Um possível Portugal 23 para o Outono baseado apenas na qualidade individual, na aportação colectiva e no espírito colectivo (sem ter em conta, naturalmente, lesões e um estado de forma deficiente).
Guarda-Redes - Rui Patricio, Beto
Defesas Laterais - João Pereira, Silvio, Fábio Coentrão
Defesas Centrias - Pepe, Luis Neto, Bruno Alves, Tiago Ilori
Médio Defensivo - Custódio, Miguel Veloso, André Almeida
Médios Interiores - João Moutinho, André Martins, Paulo Machado, Bruno Gama
Extremos - Cristiano Ronaldo, Nani, Vierinha, Bruma
Avançados - Hélder Postiga, Pizzi, Edér
Alternativas (Raul Meireles, André Santos, Danny, Ricardo, Ruben Amorim, André Gomes, Antunes, Mika, Duda, Eliseu, Josué)
Carlos Alberto Parreira, campeão Mundial em 1994, tinha adiantado que o futebol acabaria mais tarde ou mais cedo com a figura do ponta-de-lança como fez com a do extremo puro, do número 10 clássico e com o líbero. Anos depois Luciano Spaletti e Alex Ferguson foram os primeiros a tentar implementar o 4-6-0 e Josep Guardiola levou a experiência ao extremo ao jogar num 3-7-0 na final do Mundial de Clubes frente ao Santos. O triunfo espanhol neste Europeu - o seu terceiro seguido em provas internacionais - e o fraco rendimento da maiores dos avançados que viajaram até à Polónia e Ucrânida deixa a pergunta no ar: está o ponta-de-lança perto da extinção?
Nos últimos anos os melhores marcadores do mundo (com diferença absimal para a concorrência) têm sido falsos avançados.
Entre eles somam uma média de quase 150 golos num só ano desportivo, uma barbaridade de números que nem os melhores avançados da história poderiam sonhar. Mas Lionel Messi e Cristiano Ronaldo não são pontas-de-lança. E chamá-los avançados também não é propriamente correcto. Eles são o espelho da nova ordem futebolistica, onde a posição do velho 9 começa a desaparecer.
Se o futebol espanhol colocou de moda em 2008 o tiki-taka, fê-lo com um avançado centro móvel (Fernando Torres) e um outro avançado habitualmente descaído nas bandas (David Villa). Um modelo longe da ortodoxia táctica mas que não era único no mundo. Desde que mudou o século, a maioria dos clubes começaram a preocupar-se cada vez mais com o meio-campo e menos com as duas áreas. Os jogos tornaram-se mais fisicos, mais cansativos, mais pressionantes e era preciso reforçar a zona medular. Sem ousar reduzir o número de efectivos atrás (depois das experiências do 3-5-2 dos anos 80), preferiram ir à frente e abdicar de um homem.
A figura da dupla de avançados começou a desaparecer progressivamente dos alinhamentos. Se o Brasil venceu o Mundial de 94 com dois avançados móveis (Bebeto e Romário) a França de 1998 ganhou-o com um dianteiro (Guivarch) que não entra sequer no top 20 da história do futebol gaulês. Em 2000 os franceses chegam com uma dupla de avançados para uma nova geração, mais atlética e fisica (Trezeguet/Henry) e dois anos depois o Brasil recupera a ideia da defesa a três mas lança definitivamente a moda do dianteiro solitário. Grécia, 2004, Itália 2006, Espanha 2008, 2010 e 2012...nunca mais uma selecção com dois avançados venceu um grande torneio de selecções e o mesmo sucedeu a nível de clubes. Mas em 2006, além de ter apostado numa táctica com Totti como avançado, Luciano Spaletti pediu em vários jogos que o seu número 10 se movesse para o meio-campo criando uma superioridade no miolo imbatível.
Nasceu assim o 4-6-0, com o jogo vertical de De Rossi e Perrota pelo miolo, e de Mancini e Riise pelos flancos, a surpreender uma defesa sem referência de marcação. Um ano depois foi Ferguson a fazer o mesmo. Rooney recuava até ao meio abrindo espaço para que Ronaldo, Giggs, Scholes e Park/Carrick, surgissem em zona de finalização. Não eram sistemas rotinários, não eram o sistema base mas começava a intuir-se que a figura do ponta-de-lança perdia protagonismo. O futebol tinha deixado de produzir dianteiros goleadores com regularidade e depois de uma geração na década de 90 cheia de figuras impares (de van Basten a Jardel), a nova década produzia sobretudo goleadores esporádicos (Toni, Klose, Adriano, Pauleta, Wiltord, Crespo...), incapazes de adaptar-se aos processos colectivos que começavam a ser a principal preocupação dos técnicos. Preocupações defensivas, posicionamento da linha de meio-campo, coberturas dos jogadores da frente através de manobras de pressão alta e, sobretudo, o jogo de costas para a baliza como falso pivot para que a segunda linha, reforçada com três ou quatro unidades, fizesse a diferença.
Guardiola foi o primeiro treinador a abdicar de forma sistemática do ponta-de-lança.
No Real Madrid vs Barcelona de 2009 experimentou pela primeira vez a velocidade de Henry e Etoo nos flancos e a mobilidade constante de Leo Messi pelo meio. O resultado, um histórico 2-6 que não só confirmou o génio de um técnico e uma equipa como marcou a tendência do futuro. Etoo partiu, Bojan nunca foi alternativa e a experiência de Ibrahimovic, como pivot ofensivo, não funcionou porque o sueco e Messi entravam em demasiado conflito no terreno de jogo. Contando com o argentino nas filas, Guardiola repensou a estratégia e apostou de forma definitiva pelo 4-6-0. Mas ao contrário desta Espanha, a sua aposta era assumidamente vertical. Do sexteto de meio-campo - à frente de um médio recuperador - juntavam-se dois interiores, um falso nove e dois extremos bem abertos nas alas, habitualmente avançados de raiz como Villa ou Pedro. Com esse modelo não só o Barcelona recuperou o titulo europeu perdido como Messi, como falso nove, superou os seus registos goleadores. Apesar de em teoria o sistema ser similar a um 4-3-3, na realidade a fusão entre a linha medular e ofensiva no terreno de jogo era evidente passando, muitas vezes, a um 3-7-0 com as incorporações de Dani Alves.
O modelo de Guardiola começou a ser timidamente copiado mas só a selecção espanhola seguiu a prática até às últimas consequências, com a substancial diferença de abdicar de dois falsos avançados como extremos por dois interiores mais, habitualmente Silva e Alonso, que se juntavam ao trio do Barcelona. No lugar de Messi mantinha-se Villa até que uma lesão o levou a deixar o posto a Fabregas. Na prática o desenho era mesmo, apesar da circulação de bola ser mais horizontal que vertical, mas voltava a notar-se a ausência de um ponta-de-lança de raiz. A mobilidade absoluta era a chave de ambos os desenhos.
Não que a Hungria de 53, o Brasil de 70 e a Holanda de 74 não tivessem feito algo similar. Em ambos os casos a mobilidade era a chave. No modelo húngaro o falso nove era Hidgekuti e Puskas e Kocksis os avançados móveis nesse falso WM. No caso brasileiro, Mario Zagallo deu a Pelé, Jairzinho, Tostão e Rivelino total liberdade para mudar de posição ao longo do jogo. E a Holanda de Michels inspirou-se no modelo do Ajax para garantir que os laterais apareciam tanto na área de finalização como o trio de ataque. Guardiola - e del Bosque - adoptaram esse conceito sacrificando precisamente o jogador que nesse sistema era o elo mais fraco: Hidgekuti não era dianteiro e jogava no lugar de Kubala; Pelé nunca foi um verdadeiro 9 na acepção do termo e Cruyff gostava de sentir-se omnipresente no terreno de jogo. O modelo centro-europeu sempre gostou de transmitir a ideia de que o futebol é um carrosel em constante movimento e que, quanto mais estática seja uma posição, mais dispensável é no esquema colectivo. Neste caso o dianteiro deixou de ser uma arma preferencial para prender os movimentos dos centrais, desgastar rivais e procurar cada oportunidade de golo para ser um elemento mais do processo criativo, um jogador mais a gerar - antes de que a finalizar - os lances de golo.
Uma postura que exige não só uma conjuntura favorável de jogadores criativos (que o Barcelona reforçou com Fabregas e Sanchez, como se viu na vitória esmagadora, em 3-7-0, contra o Santos) mas também uma disciplina táctica dificil de manejar. Não é coincidência que só os países e clubes que seguem a corrente centro-europeia - que priveligia precisamente esse aspecto criativo antes que o fisico - que foram capazes até agora de o aplicar com relativo sucesso.
Gary Liniker, icónico ponta-de-lança inglês, escreveu na sua conta de Twitter na final do passado domingo que o ponta-de-lança estava perto do fim. Será seguramente um exagero, de momento pelo menos. Não só porque a esmagadora maioria das equipas não segue o modelo centro-europeu, ou por um influência cultural ou por incapacidade, mas também porque em todos os restantes sistemas tácticos a figura do avançado continua a ser nuclear. Seja a escola sul-americana, inglesa, nórdica, do leste europeu ou africana a figura do dianteiro tem ainda um prestigio substancial para acreditar que o seu final é inevitável. Se é certo que a evolução táctica acabou com o extremo clássico (como Matthews ou Garrincha) e com o libero (como foi Beckenbauer), também não é menos certo que o golo continua a ser o elemento diferencial num jogo de futebol e nem todas as equipas podem aspirar a ter jogadores com a mesma qualidade e caracteristicas que Lionel Messi, Cristiano Ronaldo, Wayne Rooney, Francisco Totti ou Francesc Fabregas. O avançado perderá impacto social, especialmente porque deixará de ser a figura nuclear nas grandes equipas (os casos de Higuain em Madrid, de Dzeko e Berbatov em Manchester, de Ibrahimovic em Barcelona são exemplos disso mesmo) mas não desaparecerá. Entre os dianteiros mais móveis e fisicos estará certamente o modelo seguido no futuro, o mesmo modelo que a escola brasileira começou a desenhar com Romário e Ronaldo e que agora é a base de inspiração para Benzema, Balotelli, Villa, Neymar ou Aguero, jogadores capazes de misturar num só as caracteristicas de pontas-de-lança, extremos e números 10.
Há poucos desportistas feitos deste material tão humano e cristalino. Desportistas que não competem para humilhar, para superar records ou para gabar-se de isto ou aquilo. Desportistas que leva bem à letra a ideia que está por detrás de tudo isto que se chamam competir, saber ganhar e perder, sobretudo, saber ganhar. Iker Casillas é uma ave rara num mundo cada vez mais marcado pela cobiça. Apanhado pelas câmaras televisivas, o seu gesto não surpreende quem o conhece mas deixa claro que há mais do que tácticas e sorte por detrás das recentes vitórias do futebol espanhol. Há, sobretudo, um humanismo desportista que deixaria orgulho o próprio Pierre de Coubertin.
Gestos de fair play no futebol contam-se pelas mãos.
Não falo apenas de deitar a bola fora quando um jogador está lesionado porque isso, além de hoje ser quase obrigatório, é fácil e está ao alcance de qualquer um. A grandeza mede-se por outros actos, outros gestos, outros momentos. Há episódios perdidos no tempo, dos aplausos de Eusébio a Lev Yashin à atitude de Paolo di Canio num mitico jogo com a camisola do West Ham United ao peito. Sempre os houve porque sempre houve desportistas humanos no jogo. Mas eles têm-se tornado aves raras, desconhecidos num bosque onde a cor das chuteiras e os penteados para chamar a atenção, onde a cobiça pessoal e o insulto fácil se tornaram no básico da linguagem futebolistica.
Hoje os grandes idolos de massas são bem distintos aos de há largas décadas atrás. Impera o modelo mediático juvenil, uma etapa da vida onde os conceitos humanos ainda não estão assumidos porque, na maioria das vezes, é preciso viver para entender a vida e miudos de 13 ou 18 anos sabem pouco de desporto e de existir. Para essa esmagadora maioria a fome de recordes, em prejuizo tantas vezes do colectivo, é o importante e eles querem ser Ronaldo, e querem ser Neymar e querem ser Messi, jogadores que tentam disfarçar com agências de comunicação por detrás (um melhor que outro) mas que estão nisto para alcançar a glória pessoal como Aquiles liderava os seus Mirmidões para subir ao Olimpo dos heróis. Para esses nomes, os herdeiros de Pelé e Maradona, o futebol é um duelo contra a história e tudo o que se mete pelo seu caminho é ultrapassável. São os individuos num jogo de massas, são os heróis de papel de barro, aqueles que levaram o cinismo e o pragmatismo onde antes havia um aperto de mão e uma palmada nas costas.
Gritos racistas, insultos, desprezo pelos rivais, tudo isso se vive hoje nos relvados com alarmente naturalidade. Num espaço rectângular onde Iker Casillas deve sentir mais só do que muitos se imaginam.
O guarda-redes espanhol é o rosto da nova Espanha.
Se é certo que a selecção espanhola chegava muitas vezes aos torneios internacionais com o papel de favorita ou surpresa, muito desse discurso vinha de dentro, da própria geração de jogadores - que não desportistas - que se esqueciam que para ganhar era preciso algo mais que talento e sorte. Faltava-lhes a humanidade, a mesma que ajudou o Brasil a ser o que é, a mesma que explica os eternos conflitos na selecção holandesa ou portuguesa, selecções onde o eu sempre falou mais alto que o nós. Espanha aprendeu a falar em "nosotros" depois de muito tempo desse asfixiante "yo" e fê-lo com uma geração que nasceu depois da complexa Transicion e que cresceu no meio de um país em mutação politica, económica e social. Sobretudo, moral.
A atitude dos jogadores espanhóis de hoje (e isso é alastrável a outras modalidades) está na base do seu sucesso. Não só a vontade de ganhar sempre, mas sobretudo a forma como procuram a vitória. A humanidade que se sente nesse grupo, desde 2008, é provavelmente um motivo de orgulho maior do que os titulos coleccionados ano após ano. Jogadores como Xabi Alonso, Andrés Iniesta, Fernando Torres, David Villa, Juan Mata, Charles Puyol e, sobretudo, Iker Casillas, são esse espelho reflexo de uma equipa que entende o futebol como um desporto genuino e que procura transmitir na idade adulta a mesma paixão e ilusão que encontramos no olhar de um miudo que chuta a primeira coisa que vê a rolar num pátio ou praça do Mundo. Casillas tem sido o capitão e lider espiritual deste projecto. Mais do que ser o melhor guarda-redes do Mundo, um titulo que divide com Gianluigi Buffon desde há anos sem fim, é sobretudo um capitão moral, sempre com uma palavra de elogio para o rival, sempre com um alerta efusivo para os colegas e sempre com um olho na glória e outro no respeito. Um jogador que não se esquece de aplaudir os adeptos que fazem milhares de quilometros, o jogador que quebra o protocolo para beijar a mulher que ama num momento de genuina naturalidade, um jogador que se nega a entrar em guerras alheias para por em questão amizades antes.
As imagens televisivas falam por si. Onde outros jogadores, outros galardoados com o Ballon D´Or, procurariam os últimos minutos de uma final, já de por si histórica, para marcar, marcar e marcar e assim aumentar a sua lenda pessoal, o seu prestigio, o seu cachet, o seu lugar no Olimpo, um jogador, mais do que isso, um lider, aproximou-se do árbitro quase irritado com o tempo de desconto anunciado e pede respeito. Respeito não para ele mas para o rival. Para uma selecção extraordinária que perdia por 4-0 e continuava aí, com dez homens, de cabeça levantada. Respeito para um país que sempre foi a sua besta negra, até 2008, e que nunca tinham vencido. Respeito para o mundo do futebol, para os milhões de italianos que seguiam o jogo pela televisão, para o seu rival Buffon, para todos nós. Casillas pedia humanidade para esse mundo futebolistico entregue ao pensamento mercenário dos grandes guerreiros e fracos homens.
O gesto do capitão espanhol define-o como futebolista, como desportista e como Homem. Define o conceito de fair play num grande palco como há larguissimos anos não se via. Define a imagem do lider geracional de um projecto que ainda tem anos pela frente. Relembra o gesto de Puyol na celebração de Dani Alves e Thiago Alcântara na goleada em Vallecas. Relembra o sorriso timido de Iniesta quando o comparam com Zidane, o gesto sério de Alonso quando falam dele como maestro do Real Madrid ou a cara de Mata quando agradece a assistência de golo ao homem que defendeu durante todo o ano das criticas e que nesse momento da posteridade se lembrou que vale mais um amigo que um golo num jogo de futebol. Relembra porque é que esta selecção espanhola vale o vale, mais do que questões futebolisticas, e relembra porque é que prémios como o FIFA Ballon D´Or cada vez valem menos. Porque, chegados a Dezembro, ninguém se vai lembrar do gesto de San Iker e a maioria continuará dividida entre a luta asfixiante de golos entre Messi e Ronaldo, entre os penteados, as chuteiras, as celebrações, os gritos de "eu" num desporto que, como Casillas não nos deixa esquecer, ainda é coisa de todos "nós"...
Iker Casillas
Voltou a ser decisivo. As suas defesas determinaram as vitórias espanholas jogo após jogo. Contra Itália, contra a Croácia, contra França e na final, enquanto os italianos estavam com onze, foi determinante e confirmou o seu estatuto de guarda-redes de lenda. Todos os titulos de clubes e selecção, é o guarda-redes mais premiado da história e um dos mais justos e sérios candidatos ao próximo Ballon D´Or.
Alvaro Arbeloa
Criticado como poucos, eficaz como nunca. O lateral direito do Real Madrid foi um muro de pedra a defender, segurou Ribery, Ronaldo e Balotelli com uma tranquilidade assustadora. A atacar não contribuiu tanto como o seu colega de flanco, mas foi um dos homens chave na defesa menos batida da história dos Europeus.
Pepe e Matts Hummels
Foram as almas defensivas das suas respectivas selecções. Apesar de nenhum deles ter logrado chegar à final do torneio, as suas exibições foram regularmente as melhores dos seus onzes. Pepe reafirmou-se como o melhor central do Mundo, imperial a defender, autoritário a comandar as linhas e implacável (mas limpo) nos cortes. Hummells demonstrou todo o potencial que muitos viam quando apenas era jogador do Bayern Munchen. Nenhum defesa sabe sair a jogar com a bola nos pés como ele, capaz de associar-se sempre com o meio-campo e causar desiquilibrios. Tem capacidade para transformar-se no defesa que falta ao futebol alemão desde Franz Beckenbauer.
Jordi Alba
A revelação do torneio. Extremo transformado em lateral, foi um punhal apontado às defesas rivais, viu o seu torneio consagrado com um golo na final e um novo contrato com o Barcelona, precisamente o clube que o dispensou quando juvenil. Ofereceu ao jogo espanhol a verticalidade e eficácia que faltou à esmagadora maioria dos seus colegas.
Andrea Pirlo
Foi o melhor jogador do torneio, aquele que mais concentrou, a titulo individual, a virtude e a classe que personificam um verdadeiro lider. Prandelli montou a equipa à sua volta e como em 2006 sentiu-se cómodo, feliz e relaxado. Jogou, desenhou e executou os lances mais belos do torneio, descifrou a defesa alemã, fintou o meio-campo inglês e mesmo contra os italianos foi sempre uma pedra no sapato. Uma segunda juventude que podia ser eterna...
João Moutinho
Um pulmão sem fim, um carro onde a gasolina nunca termina, Moutinho fez um Europeu impressionante. A sua omnipresença garantiu sempre estabilidade ao jogo defensivo português e quando teve liberdade para incorporar-se no ataque foi determinante, como prova a sua assistência para golo no duelo dos Quartos de Final. Depois de uma época discreta, mostrou o seu melhor rosto com a camisola de Portugal e reafirmou a sua classe como um dos melhores médios do futebol europeu.
Sami Khedira
Gigantesco no jogo de transições na Manschaft, Khedira foi provavelmente a grande noticia do futebol alemão neste torneio. Depois de dois anos preso aos esquemas tácticos de Mourinho voltou a ver-se o mesmo jogador que surpreendeu na África do Sul. Com mais liberdade, foi um estratega na armação de jogo dos germânicos e a isso teve de juntar o desgaste fisico que suponha render um Schweinsteiger em baixo de forma.
Andrés Iniesta
Individualmente foi o mais decisivo jogador espanhol. Com Xavi em baixo de forma, coube ao herói de Joanesburgo liderar o meio-campo espanhol, jogar e fazer jogar. O melhor, com diferença, da linha ofensiva do campeão e uma figura icónica já no universo virtual com as suas lógicas comparações com Tsubasa. Depois de ter perdido o Ballon D´Or para Leo Messi em 2010, será que é desta que Espanha tem um jogador herdeiro de Luis Suarez?
Mezut Ozil
Passeia classe como poucos jogadores e apesar de não ter ainda conseguido participar na sua primeira final com a camisola da Alemanha, não foi certamente por falta de tentativas. Entre o centro e a direita foi um constante pesadelo para as defesas rivais, assinou alguma das melhores assistências do torneio e apenas continua a faltar-lhe o golo, para ser um dos médios mais completos de sempre do futebol alemão.
Cesc Fabregas
Não foi o melhor marcador (o prémio foi para Torres num empate a cinco), mas foi decisivo para o esquema da selecção campeã. Del Bosque apostou por ele nos momentos importantes e o jogador do Barcelona nunca lhe falhou. Marcou o golo contra a Itália que impediu uma derrota precoce e voltou a marcar na goleada com a Irlanda. Frente a franceses e italianos foi decisivo em desmontar o esquema defensivo e fechou uma época onde venceu mais titulos do que em toda a sua carreira junta.
Andrea Pirlo
Foi o melhor jogador individual do torneio. Fez a Itália jogar ao seu ritmo, destroçou a selecção alemã, foi fundamental no esquema de Cesare Prandelli e só desactivando-o conseguiram os espanhóis ganhar a superioridade que necessitavam para vencer a final.
Balotelli
O Super-Mario apareceu apenas verdadeiramente uma vez no torneio. Mas foi um aparecimento estelar. Dois golos que acabaram com a resistência da Alemanha e que criaram a ilusão de que este podia ter sido o seu torneio. Não foi. Desaparecido na final, como quase todos os colegas, jurou voltar daqui a quatro anos.
Cesare Prandelli
Foi o técnico mais corajoso do Europeu, o que ousou mudar a forma centenar de jogar de uma selecção e teve o prémio da final. Não merecia a derrota, culpa de ter jogado meia hora só com 10 jogadores por um azar que nenhum técnico é capaz de explicar, e foi sem dúvida a lufada de ar fresco que o futebol italiano necessitava.
Dzagoev
Foi o herói da primeira fase para os russos mas nem a sua veia goleadora impediu uma das equipas favoritas a voltar mais cedo. Apontou três golos, assumiu o peso da responsabilidade às costas e não merecia ter sido eliminado tão cedo. Com os seus três golos fez parte da lista de goleadores do torneio. O prémio seria seu se a UEFA não tivesse alterado o regulamento para priveligiar o goleador com mais assistências em prova.
Emoção
Foi um torneio sem grande emoção. Nenhum dos jogos a eliminar resultou de uma reviravolta no marcador, a final esteve quase sempre controlada pela equipa espanhola e exceptuando os dois jogos que se decidiram em penaltys houve pouco espectáculo para a posteridade. No seguimento de 2004 e 2008, um torneio fraco em emoções.
França
Suprema decepção de uma selecção que chegou à prova com 21 jogos consecutivos sem perder às costas. O conservadorismo de Laurent Blanc ficou evidente do primeiro ao último jogo, do embate com a Inglaterra de Hodgson à rendição sem armas diante da Espanha de Del Bosque. Sem uma ideia táctica coerente e sem nunca mudar o esquema de jogo, Blanc e a sua França entraram como outsiders e sairam como decepção.
Goleadores
O torneio acabou com cinco jogadores com três golos. Muito pouco. Balotelli, Cristiano Ronaldo, Torres, Mandzukic, Dzagoev e Mario Gomez. O prémio ao melhor marcador ficou para Torres, que além de ter sido de todos o que menos minutos disputou, também realizou uma assistência para golo, o primeiro critério de desempate da UEFA (aí esteve empatado com Gomez). Liniker declarou no final do jogo da final que este Europeu pode ter enterrado definitivamente o ponta-de-lança da história do futebol.
Holanda
A grande decepção do torneio. Pela primeira vez desde 1988 os holandeses cairam na primeira fase e com três derrotas e apenas dois golos marcados a favor. A Laranja chegou como vice-campeã do Mundo ao Europeu mas o esquema táctico de Bert van Maarjwick, a solidez táctica de Dinamarca, Alemanha e Portugal e a incapacidade das estrelas holandesas de ajudar em tarefas defensivas condenaram a equipa em quem muitos apostavam como máxima favorita a vencer o torneio.
Iker Casillas
O santo levantou o seu terceiro troféu consecutivo. Foi fundamental salvando a sua equipa contra italianos, croatas e franceses. O jogo contra Portugal, ironicamente aquele que mais custou aos espanhóis, foi onde menos trabalho teve mas a forma como parou o penalty de Moutinho foi o principio da caminhada para o titulo europeu. O que falta a Casillas para ser Ballon D´Or?
Jordi Alba
A revelação individual do torneio. Já apalavrado com o Barcelona antes de arrancar a prova, Alba provou porque é que cada vez mais técnicos acreditam na filosofia de readaptar extremos a defesas laterais. O jovem que foi dispensado pelo próprio Barça quando adolescente foi um terror pela linha esquerda do flanco espanhol, unindo-se ao ataque sem problemas e isso sem cometer um só erro defensivo atrás. Assistiu o golo de Xabi Alonso no duelo contra a França, foi um pesadelo para Nani e juntamente com Coentrão é, sem dúvida, o lateral-esquerdo da prova.
Khedira
Em Madrid é questionado como poucos. Na Alemanha admiram-no como ninguém. Na selecção germânica Sami Khedira joga sem o espartilho táctico imposto por Mourinho no Real Madrid e por ele passou o melhor futebol da Alemanha no torneio. Foi directo, incisivo, extremamente ofensivo e um pulmão constante. O seu belo golo contra a Grécia confirmou o seu grande torneio e o germânico sai deste verão consolidado como um dos melhores do Mundo na sua posição.
Low
Quarto jogo decisivo perdido (o primeiro como adjunto, em 2006) não é um recorde que muitos técnicos queiram ter. Joachim Low tem feito um trabalho fabuloso com a selecção alemã, mudando por completo a forma de jogar e o rosto da Mannschaft. Mas o certo é que o mais longo periodo sem vencer um troféu desde o pós-guerra foi igualado por um homem que leva seis anos à frente da maior potência do continente. Os seus principais erros foram evidentes, especialmente para os italianos que destroçaram a sua equipa à base do bom futebol que sempre faltou aos alemães. Sem fluidez, confiando demasiado na sua velha guarda pretoriana (e em especial no lesionado Schweinsteiger), incapaz de arriscar e surpreender, Low foi um dos derrotados do torneio e tem agora mais uma oportunidade para mostrar que traz consigo, além do bom futebol o adn ganhador que os alemães tanto gostam.
Momento
Torres, só frente à baliza, prefere tocar para o lado. Aí está Mata, o seu amigo, o seu valedor em Londres, o homem que o apoiou no ano mais dificil da sua carreira. Foi o quarto golo dos espanholes, o que consumou uma goleada histórica, e foi também um gesto de pura amizade.
Nasri
É o rosto do futebol francês actual. Sem ideias, sem educação, sem lider, sem garra e sem coerência. Desde a retirada de Zidane e da sua legião que em França o futebol voltou quarenta anos atrás no tempo até à geração de 70. Apesar dos bons valores individuais, não há conceito de equipa, liderança e espirito de grupo. Nasri é o espelho do futebolista francês que está a destroçar o seu combinado nacional. Mandou calar a imprensa depois do golo inaugural contra a Inglaterra, desapareceu nos jogos seguintes, envolveu-se em discussões com os colegas, foi inconsequente quando entrou para bater a Espanha e saiu pela porta pequena do torneio com mais insultos pelo caminho.
Orgulho
A selecção polaca não chegou aos Quartos de Final e nem venceu um só jogo mas ao contrário dos ucranianos, apresentou um futebol do qual os seus adeptos podem estar orgulhosos. Num país cuja tradição futebolistica remonta aos anos 70, era complicado apresentar uma versão mais competitiva mas Lewandowski e companhia estiveram à altura da situação. Não seguiram em frente mas demonstraram aos polacos que têm uma selecção jovem e com futuro.
Pedro Proença
Nunca um árbitro tinha apitado no mesmo ano a final de um Europeu e de uma Champions League. Só isso prova como Proença está de moda na UEFA. o árbitro português - como todos, contestado em casa - tem sido uma das coqueluches das provas europeias dos últimos anos e depois de arbitrar três jogos no torneio foi eleito para decididar a final, um prémio para a sua carreira e também para a arbitragem lusa. Uma arbitragem bem conseguida apesar do erro no penalty não assinalado a favor dos espanhóis.
Queixas
Foi um torneio sem grandes casos arbitrais mas as queixas de croatas e ucranianos não deixam de ser fundadas. No primeiro caso, ficaram dois penaltys por marcar contra a Espanha no jogo decisivo do Grupo C, que podiam ter significado a eliminação precoce dos espanhóis. No segundo, o golo não validado a Devic voltou a levantar o debate da tecnologia no futebol, algo que a FIFA já anunciou que entrará em vigor no próximo Mundial. Todos os outros (pequenos) erros nunca influenciaram o resultado final.
República da Irlanda
As estatisticas dizem que foi a pior selecção do torneio, o pior torneio internacional da história do país. Mas também foi o país com a melhor legião de adeptos, meritóriamente recompensada pela UEFA. Os adeptos irlandeses, como sempre aliás, foram uma das melhores noticias desde Europeu, a prova de que ao futebol se pode ir com um espirito genuino de alegria.
Santos, Fernando
Em Portugal é visto com suspeita. Na Grécia é quase um semi-deus. Depois de ter tido sucesso na carreira a nivel de clubes, Fernando Santos pegou na dificil herança de Otto Rehagel e transformou a Grécia de novo numa máquina de máxima eficácia. Ninguém esperava nada do conjunto heleno e contra todos os prognósticos, a equipa chegou aos Quartos de Final da prova. Mérito para um seleccionador que soube reagir tacticamente muito bem aos erros individuais dos seus jogadores nos dois primeiros jogos e que acabou por ser um dos mais destacados treinadores em prova.
Tsubasa Iniesta
A imagem percorreu a internet à velocidade da luz. Lembrando o mitico desenho animado japonês, Andrés Iniesta viveu o torneio rodeado de rivais a quem destroçava com o olhar. Um grande torneio para o homem que já tinha feito parte da sinfonia de Aragonés e que apontou o golo decisivo na final do Mundial de 2010. Um sério (e justo) candidato ao Ballon D´Or.
Ucrânia
A selecção entrou bem no torneio e saiu pela porta pequena. O país provou que não estava à altura de receber a prova. Desde os problemas politicos que envolviam a prisão da ex-primeira-ministra Iulia Timotschenko, passando pelo movimento de contestação FEMEN que denunciav a influência das máfias de tráfico de mulheres junto do governo e acabando nas péssimas instalações e nos preços das unidades hoteleiras, os ucranianos ficaram certamente com o prazer de realizar uma prova única mas o resto da Europa não ficou agradado com a necessidade de ter de viajar até à Ucrânia para trabalhar ou apoiar a sua selecção.
Vicente del Bosque
O ex-técnico do Real Madrid foi questionado durante todo o torneio pela sua opção de não jogar com um nove fixo e pela postura defensiva da armada espanhola, mas as suas tácticas acabaram por ser determinantes, e as suas substituições fundamentais. É o primeiro treinador na história a vencer um Europeu, Mundial e Champions League.
eXtra time
Apenas dois jogos necessitaram de prolongamento durante todo o torneio, menos um que em 2008 e os mesmos que em 2004. Ambos os choques terminaram os 120 minutos sem golos e foram decididos na marca de grandes penalidades: o Inglaterra vs Itália e o Portugal vs Espanha. Ambas as equipas finalistas acumularam mais minutos nas pernas do que qualquer outra selecção em prova.
Young
Entrará para a galeria infame dos internacionais ingleses marcados por falhar um penalty numa grande competição. Depois do mitico remate de Pirlo os nervos apoderaram-se de Ashley Young, até então a realizar um torneio bastante decepcionante, e o seu remate acabou com as esperanças inglesas de chegar às meias-finais pela primeira vez desde 1996. De Wadle e Pearce a Young vão 22 anos de drama quando os 120 minutos acabam.
Wystula
A batalha do Wystula entre polacos e russos foi o único evento a lamentar durante todo o torneio. Velhas rivalidades, velhas contas a ajudar, o unico momento de violência num torneio exemplar.
Zero
O número de golos de Karim Benzema. Chegou ao torneio como um dos jogadores mais em forma do futebol europeu e saiu pela porta pequena. Terá outras oportunidades.
Não podia ser mais irónico que o titulo mais criticado e aborrecido da história do futebol espanhol tenha chegado na noite em que La Roja marcou mais golos num jogo a eliminar em quatro anos. A Itália apareceu organizada mas não soube reagir aos golos espanhóis e caiu vitima da sua própria virtude. Espanha torna-se na primeira selecção a juntar, de forma consecutiva, dois ceptros europeus e um mundial e iguala a Alemanha como a selecção com mais Euros nas vitrines. O consagrar de um ciclo que mudou o rosto do futebol.
Prandelli não queria acreditar.
Cinco minutos antes, Thiago Motta tinha sido a sua última opção. Chielinni tinha-se lesionado no inicio do jogo. Di Natale entrou para o lugar do destroçado Cassano ao intervalo. E agora Motta. Motta, o homem que tinha entrado há cinco minutos não se mexia. Ia a caminho do balneário, cabeça baixa. Com apenas dez jogadores era impossível lograr o que onze não tinham sido capazes. A final do Europeu terminou aí.
Antes tinham chegado os golos, as ocasiões, as intervenções de Casillas, um penalty que Proença não viu e a consagração definitiva (a última?) desta geração espanhola. A selecção de Xavi e companhia começou mal o jogo mas encontrou-se com um golo contra a corrente do jogo e a partir daí sentiu-se cómoda, como sempre, sabendo que a sua fortaleza está no eixo defensivo. Ironicamente, ou talvez não, foi um dos defesas, o mais explosivo, Jordi Alba, quem subiu pelo flanco para relembrar o seu passado de extremo e assim marcar o segundo golo. Ainda não tinhamos chegado aos 40 minutos. Nunca ninguém tinha recuperado numa final de um Euro de uma desvantagem de dois golos e Itália, de todas as selecções, era a mais improvável para operar essa reviravolta. Com Balotelli desactivado, Cassano desaparecido e Pirlo bem guardado, o jogo estava decidido. Espanha não jogou propriamente bem, manteve o seu habitual futebol de crochet horizontal, passe atrás de passe, procurando surpreender a defesa italiana com um que outro passe largo a rasgar. Mas não estava a funcionar. Os italianos tinham a bola e iam tentando furar a muralha defensiva espanhola. Mas foi Espanha quem marcou. Posse de bola larga, sonolenta, passe a rasgar a Fabregas que centra no último segundo, o suficiente para Silva meter a cabeça e encontrar a baliza vazia. 1-0.
Depois começou o jogo preferido dos espanhóis. Guardar a bola e defender com ela com comidade.
Itália, a única selecção em todo o torneio que marcou a Casillas, lançou-se para o ataque com uma honestidade tremenda mas o guarda-redes espanhol defendeu cada disparo, desviou cada centro e mostrou-se, uma vez mais, infalível. Pirlo tinha a bola mas não tinha o espaço e numa perda do meio-campo italiano, Xavi esperou até ver Jordi Alba passar como uma flecha pelo seu lado e isolar-se diante Buffon. 2-0.
A segunda parte foi ainda mais à espanhola, adormecida no seu jogo de troques rápidos. Sem um jogador no miolo, os italianos foram-se abaixo, fisica e psicologicamente e o jogo acabou. Espanha ficou com a bola, os italianos desistiram de a roubar e limitaram-se a defender-se de uma derrota demasiada dolorosa, demasiado injusta para uma selecção que fez um Europeu impecável. Não foi suficiente. Xavi apareceu outra vez, pela primeira vez no torneio, e Torres fechou o debate do nove com o seu segundo golo em duas finais consecutivas, algo que nunca um jogador tinha logrado. Minutos depois a conexão Chelsea, Torres-Mata, dá a Espanha a maior vitória de sempre numa final da história. Ironia das ironais, a ditadura futebolistica espanhola, terminou o torneio com uma goleada inesquecível.
O futebol espanhol conquistou o seu terceiro titulo internacional consecutivo. No meio deste ciclo só a eliminação diante dos Estados Unidos na Taça das Confederações impede aos espanhóis reclamar um pleno absoluto. Se o Euro 2008 foi o da surpresa, da afirmação de um estilo, e se o Mundial 2010 uma vitória da sorte dos últimos momentos e da labor colectiva do meio-campo, o triunfo neste Campeonato da Europa foi, sobretudo, o de um estilo que se metamorfoseou a ponto de deixar de ser reconhecidamente um modelo ofensivo - como explorou o Barcelona nestes quatro anos - para ser um planteamento cada vez mais defensivo, cuidadoso e cínico. Com a bola os espanhóis fazem o que querem e decidiram que queriam defender com ela em vez de atacar com ela. Os golos, para os espanhóis, tornaram-se numa consequência da boa defesa e não do melhor ataque. Uma revolução na mentalidade do jogo, uma revolução que precisa, urgentemente, de uma contra-revolução.
Num Europeu sem surpresas, sem novas formas de contrariar este esquema, num torneio onde as grandes selecções tentaram, quase sempre, jogar em negação, a vitória de Espanha é lógica e consequente com uma realidade táctica que parece evidente no universo futebolistico. Uma realidade de estagnação que espera por um novo estilo, um novo sistema, uma nova forma de pensar o jogo para desafiar os campeões invictos e reinantes. O próximo Mundial do Brasil será o desafio definitivo.
Alves, Bruno
O defesa central ficará para a história por ter falhado o penalty decisiva contra a Espanha. Foi o elo mais fraco da linha defensiva durante todo o torneio e talvez do onze titular que Paulo Bento repetiu até ao último jogo.
Banco
Paulo Bento levou 23 jogadores para o Europeu mas sete não jogaram nem um só minuto. Os dois guarda-redes, os dois laterais suplentes (Lopes e Costa) e Hugo Viana, Ricardo Quaresma e Ruben Micael. Ficou claro que para o seleccionador a diferença entre o seu onze e o seu banco era abismal.
Cristiano Ronaldo
O capitão da selecção teve um torneio de altos e baixos. Contra a Holanda foi excelente e contra os checos, apesar de menos eficaz, foi decisivo. Mas nos dois primeiros jogos e no duelo contra a Espanha voltou à sua versão sombra e desapareceu de campo, dedicando-se aos habituais livres impossíveis e gestos desnecessários. Como líder do projecto de Paulo Bento deveria ter puxado a equipa às costas no jogo com a Espanha e ter apontado um dos primeiros penaltys. Guardou-se para o fim e ficou sem rematar clamando injustiça aos céus. Mas não fez o suficiente para tê-la do seu lado.
Dinamarca
Foi o momento de reviravolta. Portugal vencia por 2-0 e em pouco tempo os dinamarqueses empataram o jogo e levantaram velhos fantasmas. O golo de Varela e o espirito colectivo do meio-campo foi determinante em dar a vitória que iria permitir a Portugal seguir em frente na fase de grupos. Arrumaram-se quatro anos de frustrações nórdicas.
Espanha
A campeã do Mundo e da Europa foi o carrasco de Portugal pelo segundo torneio consecutivo mas durante 90 minutos nunca soube impor o seu jogo. Portugal realizou um grande jogo mas acabou por perder o domínio no prolongamento e a eficácia na marcação dos penaltys. Foi um jogo que demonstrou que o percurso da selecção estava ao nível dos melhores do Mundo.
Fábio Coentrão
Foi criticado (e com razão) pela sua decepcionante época em Madrid mas ao serviço da selecção realizou um Europeu tão impressionante que é difícil distinguir entre ele e Jordi Alba como melhor lateral esquerdo do torneio. Omnipresente, defendeu e atacou com igual solvência, aguentou com a dupla investida no seu sector pela falta de ajudas de Ronaldo e não cometeu um só erro durante todo o torneio. A par de Pepe e Moutinho, o melhor de Portugal.
Goleadores
Portugal continua a ter um problema crónico com os golos. Nélson Oliveira jogou pouco pelo Benfica este ano, Hélder Postiga e Hugo Almeida são figuras secundárias e Cristiano Ronaldo, o homem dos 60 golos por época em Madrid precisa de 39 remates para fazer 3 golos. Sem um matador à altura, a selecção portuguesa foi incapaz de resolver com solvência os cinco jogos e acabou por cair frente ás selecções alemã e espanhola, precisamente porque não soube plasmar em golo os seus melhores momentos em campo. Um problema que em 2014, no Brasil, continuará porque no horizonte não aparecem boas noticias.
Hélder Postiga
Começou por ser questionado mas quando foi preciso, contra a Dinamarca, apareceu e marcou um golo fundamental. Destacou-se a desgastar a defesa rival, funcionando como pivot para o jogo rápido dos extremos, mas a sua lesão contra a República Checa obrigou Paulo Bento a mudar de plano e cometer o mesmo erro de Queiroz em 2010, apostando por Almeida, um jogador menos móvel e fino à frente da baliza.
Ineficácia
Portugal foi uma das selecções que mais rematou à baliza e no entanto sai do torneio com apenas seis golos marcados. Uma média bastante pobre, da qual apenas se aproveitou um dos 21 cantos marcados a favor e nenhum dos 13 livres directos/indirectos que tivemos.
João Moutinho
Foi o melhor jogador de Portugal no torneio. Correu mais de 50 kms, fez mais recuperações e desarmes do que qualquer colega de equipa e foi um bombeiro indispensável nas tarefas defensivas e um apoio fundamental no jogo ofensivo. Quando mais teve de recuar no campo (Alemanha, Espanha) foi quando o ataque português se tornou mais tímido e a sua assistência no jogo contra a República Checa, sublime. Depois de uma época cinzenta com o FC Porto provou o que em 2008 já tinha deixado antecipar, um jogador imenso que só precisa de ter ao lado um médio de maior classe para ter com quem associar-se.
Kms
Jogar na Ucrânia e descansar na Polónia podia ter sido um problema, tantos eram os kms a percorrer durante o torneio. Isso porque quatro dos cinco jogos disputados pela equipa das quinas foram em terras ucranianas. Acabou por não pagar factura, justificando a decisão da federação de preferir a tranquilidade das instalações polacos ao caos que foi a vida na Ucrânia neste Europeu.
Livres
As bolas paradas em Portugal são um problema sério sem solução à vista. Cristiano Ronaldo rouba todas as bolas que pode e transforma-as em lances perdidos. Miguel Veloso tentou demasiadas vezes o lançamento directo de posições impossíveis e acabou por não contribuir positivamente em lances de estratégia que são fundamentais em torneios de curta duração. Não só Portugal não conta com um especialista como transforma lances que podem decidir jogos em prendas ao rival.
Miguel Veloso
Foi uma agradável surpresa. Não tem a força física dos habituais médios mais defensivos nem sequer a omnipresença de Busquets ou Khedira. Mas numa posição em que Portugal andava órfão desde que Paulo Sousa e Costinha deixaram a selecção, agarrou o lugar com as duas mãos e foi sempre uma figura importante no jogo de pressão e distribuição rápida que Paulo Bento implementou. Depois de um ano apagado em Génova este Europeu devolve-o à ribalta futebolística pela porta grande.
Nani
Tem imenso futebol nas pernas mas é incapaz de aparecer nos momentos decisivos. Faltou-lhe o golo (o falhanço contra a Holanda foi evidente) e apareceu menos do que se lhe exigia. Trabalhou muito mais na defesa do que Ronaldo, é certo, mas salvo o jogo com a República Checa, esteve bastante discreto durante todo o torneio e contra a Espanha a maioria das oportunidades acabaram sempre por vir do seu flanco.
Oxigénio
Faltou no prolongamento contra a Espanha e foi decisivo. Portugal tinha mais dois dias de descanso que os espanhóis mas não se sentiu. Nem nos jogadores que entraram, nem nos que estiveram os 90 minutos em campo. Foi um problema de preparação física evidente, os espanhóis, com muitos mais jogos nas pernas, tiveram sempre mais oxigénio no corpo e na mente na hora da verdade.
Pepe
Divide com Moutinho o protagonismo individual do torneio. Foi imenso. Teve tantos golos como amarelos (1) em toda a prova, não cometeu uma só falta grave e nunca se deixou levar por esse fantasma que ás vezes danifica a sua imagem. Foi um líder na defesa, o único que se ouviu a protestar com o capitão quando este errava e ofereceu sempre uma saída com a bola quando a situação no meio-campo se complicava. É, sem dúvida, o mais completo central do futebol mundial.
Quaresma
Nem um só minuto para um jogador que em 2002 prometia tanto e que uma década depois passa pelo torneio sem pena nem glória. A sua ousadia podia ter sido útil contra checos e espanhóis, mas a sua indisciplina táctica e carácter problemático levou-o a ver o Europeu sentado desde o banco de suplentes.
Rui Patricio
Não está entre os melhores guarda-redes do Europeu mas fez um torneio ascendente. No golo alemão podia ter feito mais, contra a Dinamarca sentiu-se que estava nervoso mas a partir daí começou a assumir os galões de guarda-redes titular e foi importante na vitória contra holandeses e nos 120 minutos contra os espanhóis. Nos penaltys deu o seu melhor e adivinhou o remate de Xabi Alonso. Durante o jogo fez a defesa do torneio. Tem de resolver o problema de jogar com os pés!
Selecionador
É um treinador conservador e transmite um claro sinal de estar a preparar para Portugal a mesma ideia desenvolvida no mandato de Luis Filipe Scolari, de uma família fechada onde os novos jogadores têm problemas de integração, que o diga Hugo Viana. Mas o certo é que o Europeu de Paulo Bento foi de primeiro nível. Sem ovos para fazer grandes omeletes, eliminou a Holanda num jogo superlativo e carimbou o apuramento para as meias-finais ao asfixiar na segunda parte a República Checa. Contra os campeões do Mundo e da Europa esteve muito bem nos primeiros 90 minutos e depois acabou também ele vitima da falta de opções e frescura de ideias para aguentar o ritmo do prolongamento. Se continuar o trabalho que desenvolveu neste mês, o normal é que daqui a dois anos esteja a fazer algo bastante similar em terras de Vera Cruz.
Tradição
Portugal continua a cumprir com a tradição de apurar-se para os Quartos de Final de um Europeu. Desde 1996 que a equipa das Quinas tem estado sempre na fase a eliminar. Perdeu com a República Checa e a Alemanha nos Oitavos de Final em 1996 e 2008. Com a França e a Espanha nas meias-finais em 2000 e 2012 e com a Grécia na final de 2004. A única palavra que se repete: perder!
União
Notou-se que Paulo Bento quis recuperar o conceito de família de Scolari. Apesar da noticia da discussão entre Quaresma e Miguel Lopes o ambiente na selecção foi muito diferente do vivido na África do Sul. O facto da maioria dos jogadores (e da equipa técnica) ter o mesmo representante talvez tenha ajudado.
Varela
O golo contra a Dinamarca foi decisivo e o extremo do FC Porto, autor de uma época decepcionante, tornou-se no joker preferido de Paulo Bento. Trouxe velocidade, dinamismo e acutilância ao jogo ofensivo português e deu a disciplina táctica que Paulo Bento nunca viu em Quaresma.
Xabi Alonso
O médio espanhol tem realizado um torneio à altura do seu talento mas podia ter entrada para a história pela positiva para Portugal se o seu falhanço, ao abrir a série de penaltys, tivesse sido aproveitado imediatamente a seguir por João Moutinho. Foi o único futebolista espanhol que falhou o alvo depois de uma brilhante defesa de Rui Patricio, com ajuda de Cristiano Ronaldo que, segundos antes, lhe disse ao ouvido como o seu colega de equipa iria rematar.
Wiel, van der
O jovem lateral esquerdo holandês - sempre pretendido pelos grandes do futebol europeu - nunca mais se vai esquecer da selecção portuguesa. Já tinha demonstrado problemas nos jogos com Dinamarca e Alemanha mas frente a Coentrão e Ronaldo foi destroçado por completo e deixou o torneio com a cabeça baixa.
kYev
Paulo Bento disse que queria jogar em todas as cidades ucranianas. Ficou Kyev para cumprir o sonho. Depois de disputar a fase de grupos em Kharkiv e Lviv e as meias-finais em Donetsk, só a passagem à final permitia a Portugal completar o percurso perfeito. Não foi assim e a cidade onde o FC Porto carimbou, em 1987, a passagem para a sua primeira final da Taça dos Campeões desta vez não recebeu as celebrações lusas.
Zero
Dois jogos em que Portugal ficou a zero ajudam a explicar a dificuldade da equipa portuguesa em competir de igual para igual com equipas supostamente superiores. Frente a outras duas semi-finalistas, Alemanha e Espanha, a equipa das Quinas não só não marcou nenhum golo como acabou por criar muito poucas oportunidades claras.