Domingo, 25.05.14

A Décima. Finalmente. Numa noite onde a justiça dos noventa minutos prevaleceu sobre a justiça poética, o Real Madrid mergulhou nos infernos para sair mais forte do que nunca. Trucidou um rival que não soube nunca disputar a final da sua vida mas que, ainda assim, não a merecia perder. Por aquilo que significa no futebol actual. Cristiano Ronaldo fez história sem estar praticamente presente. Foram os secundários que salvaram as estrelas, as dez que o clube merengue usa agora ao peito com orgulho.

Faltavam dois minutos. Essa angústia histórica que parece que sempre faltaram dois minutos para alguma coisa, apoderou-se do Atlético de Madrid. Como em 1974 um defesa com a camisola quatro apareceu para relembrar que faltavam ainda dois minutos para o fim do mundo. Duas vezes na história, o mesmo filme. O mesmo desfecho. Uma tragédia assim destrói qualquer clube. A uma entidade como o Atlético de Madrid, habituada a partilhar alegrias e tristezas na mesma medida, é apenas mais uma lágrima no meio de tanta euforia. O golo de Sérgio Ramos, absolutamente justo pelo que se vivia em campo, definiu o jogo. Como em 74. A partir de aí não houve final, não houve jogo. Não houve dúvidas.

O Real Madrid carimbou a sua 10º vitória na máxima prova da UEFA com a autoridade de quem duvida da própria sombra. Foi uma equipa incapaz de reclamar o seu lugar histórico durante mais de uma hora de jogo. Não merecia vencer. O erro garrafal (outro) de Iker Casillas, o homem sobre o qual Mourinho avisou que era mais o problema que a solução, tinha deixado claro que este Real era menos assustador que outras versões. Quando até o perenal santo falha, tudo parece perdido. O Atlético encontrou-se com um golo que não queria, que não tinha reclamado. Fisicamente mais imponente onde menos importava, o conjunto de Simeone entrou na Luz para não perder uma final que nunca quis ganhar. Esse golo de Godin, dividido com Casillas e Khedira, dava-lhe uma vantagem que surpreendeu a tudo e a todos. Não era esse o guião. A prova veio depois. Nunca mais os colchoneros voltaram a procurar repetir a graça. Foram inofensivos, inconsequentes e pavimentaram o alcatrão do caminho que percorreram até ao cadafalso. Se a Europa do futebol, sempre á procura de um underdog que nos ensine que há algo mais que dinheiro envolvido neste mundo, torcia pelos atléticos, foi o próprio Simeone que se encarregou de reduzir o afecto. A sua equipa foi estanque, previsivel e inofensiva. "El Cholo" errou, e muito, ao confiar na palavra de Diego Costa, um homem que já a deu ao seu país de nascimento para depois a trocar pelo país de adopção. Costa prometeu que estava em condições mas oito minutos depois voltou atrás. Saiu directamente para o duche, sem pedir sequer desculpa. Numa batalha longa, uma bala menos a gastar. Ia fazer falta.

 

Simeone apresentou uma equipa sem magia. Mas com musculo e autoridade.

Não havia Arda - "no Arda, no party" como diria a brilhante biografia do turco assinada por Juan Esteban Rodriguez - nem Diego. Não havia toque fino onde sobrava a raça de Raul Garcia, Gabi e Koke. Só Tiago e Villa falavam outro idioma, coisa pouca para quem aspira a tanto. Os sessenta e tantos jogos nas pernas não ajudaram. Num plantel pequeno e a dar as últimas pouco mais se podia pedir que não fosse entrega e dedicação. E isso não faltou. Também não serviu para entusiasmar. O problema é que o rival, o dos orçamentos milionários, era incapaz de o fazer com a sua constelação de estrelas. Sem a bússola habitual, Xabi Alonso, e com Ronaldo, Khedira e Benzema em péssimas condições físicas, faltavam ideias, critério e futebol aos merengues. Modric, só, não podia fazer mais do que sobreviver á legião de gladiadores rojiblancos. Durante uma hora lutou só com a ocasional ajuda de um Di Maria preso num 4-3-3 que rapidamente passou a 4-4-2 e o obrigou a trabalhar o dobro do habitual. Ao Atlético o golo deu-lhe a comodidade emocional de não ter de avançar e por culpa disso deixou-se empurrar para o seu campo. Ancelotti, o homem que herdou uma equipa montada por Mourinho a que apenas trocou Ozil por Bale (o galês, apesar do golo, foi um dos piores em campo e um dos principais responsáveis pelo sofrimento dos adeptos blancos) imprimindo-lhe ainda mais verticalidade e dificuldade em manejar um jogo com poucos espaços, rendeu-se à lógica. Saiu o fantasma de Khedira - o jogador, em carne e osso, estará pela Alemanha - e Coentrão, para subirem ao relvado Isco e os seus malabarismos e Marcelo e a sua capoeira com a bola nos pés. Foi o momento que definiu a história do jogo. Ambos conseguiram empurrar o Atlético de Madrid para a sua área. Seguiram-se as ocasiões, faltava apenas a bola entrar. Simeone, num esquema mais defensivo do que nunca (fosse Mourinho a fazer o mesmo e imaginamos o que se diria) preferiu Sosa a Diego, mais musculo e lentidão a um jogador que sabe segurar a bola e criar espaços. Depois perdeu Felipe Luis e esqueceu-se que Alderweireld joga melhor pelo lado direito, onde Juanfran desfalecia com uma constante voragem de velocidade e talento encarnados em Di Maria e Marcelo. Tacticamente, Simeone perdeu aí um jogo que Ancelotti quase se esforçou por não ganhar. O golo de Ramos, o tal que emulou velhos fantasmas colchoneros, esteve à altura do dramatismo que uma final assim exige. Ao Real Madrid faltava-lhe ganhar uma final assim, à inglesa. Até isso logrou. Depois deixou de haver luta. O Atlético nunca tinha criado perigo, não ia ser em meia hora, sem alma já e sem corpo há muito, que o conseguiria. O Real, despido de medos, aplicou a lógica de quem tem mais talento tem sempre mais probabilidades de vencer. A conexão Ronaldo-Di Maria permitiu a Bale entrar na fotografia sem o merecer. O descaro de Marcelo triunfou sobre a passividade defensiva de uma equipa que já não acreditava no empate. E o golo de Ronaldo serviu apenas para ter na ficha do jogo o responsável principal por esta conquista épica nos jogos anteriores. Em Lisboa, CR7 não esteve. E por uma vez, ninguém pareceu notar.

 

O Atlético de Madrid foi durante o ano todo um exemplo de luta, coragem e dedicação. Quando lhe faltou o futebol ganhou a alma. Na Luz faltou-lhe a ambição que lhe sobrou em Londres. Quando a diferença de orçamentos é tão grande, a ambição e a alma são o único que sobra. Sem elas o destino está traçado. Ao clube das "10 Copas", o destino foi finalmente amigo depois de três eliminações injustas sob o mandato de Mourinho que pela primeira vez na sua carreira tem de assistir a um clube que deixa para trás triunfar onde ele falhou. Ironias do destino, principalmente porque este Real joga ao mesmo e com os mesmos que fazia a equipa que em 2012 colocou um ponto final à hegemonia blaugrana. Foi uma noite de sonho para os que acreditam em milagres, foi uma noite de pesadelo para os que acreditam em justiça poética. Foi uma final de Champions League. Não há mais nada que se possa pedir.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 18:43 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Quarta-feira, 19.02.14

O futebol não é um mundo estranho. É um espelho. Que nos reflecte a nós, os que dele bebemos com ânsias de emoção a partir de uma existência tranquila. Talvez por isso (também por isso) é impossível ser-se no futebol diferente do que se seria no quotidiano, não preto ou branco mas uma palete de constantes cinzas. Lamentavelmente o poder da opinião pública, a procura constantemente pelo maniqueísmo, levou para os campos os debates ideológicos do bem contra o mal esquecendo-se de que, quando falamos de Humanos, falamos de erros e enganos. Os que o negam rapidamente são apanhados na sua própria rede. São os fariseus do jogo.

Um penalty polémico. Um resultado para alguns, inesperado. Um triunfo por dois golos a zero que deixa praticamente sentenciada uma eliminatória que parecia mais equilibrada à primeira vista. O treinador derrotado, secamente, aproveita a conferência de imprensa para lavar as suas culpas, o seu esquema mais defensivo, especulativo, vitima desse eterno medo ao golo sofrido em casa que vale a dobrar. Culpa o árbitro. Cita teorias da conspiração. Critica a sua nacionalidade, como se houvesse árbitros de primeira e segunda de acordo com a sua competitividade. Talvez até se esqueça que ele próprio vem de um país periférico. Não faz mal. No final do seu discurso repleto de criticas contra a arbitragem diante dos membros da imprensa, provavelmente será punido pela UEFA. Falou demais. Falou sobre aquilo que os códigos de conduta da organização não permitem que se fale. E a história guardará o episódio.

Sem nomes, sem citações concretas de jogos, apenas pela lembrança popular, seria fácil associar o treinador em questão. Há uma corrente de opinião que demoniza os que exprimem a sua opinião sem tentar agradar a todos. Quem está no mundo do futebol quer ganhar. Pode querer algo mais, uma imortalidade que nem sempre a vitória concede, mas o apetite ganhador é o que forja os campeões. Mesmo que morram a tentar cumprir os seus objectivos. Para um treinador, a personagem mais solitária do universo milionário do futebol, as queixas são parte do trabalho. É uma forma de auto-defesa fácil e certeira. Desviar as atenções para fora enquanto se procuram solucionar os problemas dentro. É antiga. Helenio Herrera e Bill Shankly faziam-no nos anos sessenta a nível global, mas desde que o futebol é futebol sempre houve espaço nas crónicas para criticas aos árbitros, aos relvados, ao jogo violento ou ultra-defensivo dos rivais, à falta de atitude, a conspirações. Todos os treinadores passaram por essa porta. Uns mais do que outros. Uns de uma forma mais educada do que outros. Mas há aqueles que o assumem. E os que não. Os primeiros são demonizados, quando dão a cara. Os que utilizam essa ferramenta mais vezes ou de forma mais virulenta, transformam-se no alvo dos puristas, dos românticos (os mesmos, provavelmente, que têm o maravilhoso Red or Dead na sua lista de livros favoritos) que os acusam de sujar a imagem do jogo. Os segundos, alabados pelo seu fair-play, são canonizados no acto. São os que estão acima de qualquer suspeita, os que defendem outro modelo de jogo. Os que se distanciam moralmente dos primeiros para receber o coro de aplausos de quem os eleva às altura. Quando perdem, e todos perdem em algum momento, facilmente se esquecem do seu compromisso ideológico. E são possuídos pelo espírito do mal, o espírito dos demónios das salas de conferência. Esse é o momento em que os eleitos se transformam no que realmente são, fariseus.

 

O primeiro paragrafo do texto podia referir-se a José Mourinho.

Ao seu comportamento pouco edificante no final da meia-final da Champions League, em Abril de 2011, disputada entre o seu Real Madrid e o Barcelona no Santiago Bernabeu. Um jogo equilibrado tacticamente (com um Real Madrid de contenção defensiva frente a um Barça especulativo e paciente) até ao momento em que Pepe é expulso por agredir Dani Alves com uma entrada violenta sobre o joelho. Depois desse momento, com dez (e sem treinador no banco) o Real rendeu-se ao génio de Messi que resolveu o jogo com duas pinceladas de magia. Game over. No final, Mourinho proferiu mais um dos seus célebres discursos citando uma lista de árbitros e as suas "naturais" incompetências e suspeitas. Era uma arma habitual nele nos momentos de fragilidade. Ninguém esperava, sinceramente, outra coisa. Foi genuíno até ao fim. Autodestrutivo, injusto e oportunista (como poderão dizer os adeptos do Manchester United, Deportivo la Coruña ou do próprio Barcelona nas suas duas Champions conquistadas). Mas igual a si mesmo. Mas o mesmo paragrafo também podia referir-se a Manuel Pellegrini. Sim, ao profeta chileno do jogo bonito, dos treinadores silenciosos e pacíficos. Dos homens que nunca se queixam dos senhores do apito. Dos que acreditam que a competição é pura no seu estado natural e que o que se passa no campo deve ficar no campo. Dias antes do jogo contra o Barcelona - aproveitando uma sequência de dois jogos com o Chelsea - Pellegrini conversou amigavelmente com o prestigioso jornalista da Marca, Santiago Segurola. Segurola, amigo pessoal de Valdano, Guardiola, Raúl e Pellegrini, um quarteto nada inocente nisto das ideologias, foi um dos homens responsáveis por queimar a imagem pública de Mourinho desde a sua chegada ao Bernabeu. Estava no seu direito. É um cronista fabuloso e um dos jornalistas que melhor interpreta o futebol. Na sua entrevista, guiada até ao ponto inevitável da comparação estilística e ideológica, Segurola quis traçar a diferença entre Mourinho e Pellegrini nas formas. Conseguiu que este afirmasse, não sem pudor, que tudo aquilo que Mourinho (e os que se comportam como ele) representam o que ele não gosta no futebol. O que seria incapaz de fazer. Os mind games, as queixas arbitrais, as provocações. Tudo isso distrai do que vale a pena. Da "pelota", que nunca se mancha. Soou bem como quase sempre tudo o que Pellegrini diz soa. Mas ontem, no City of Manchester, o chileno transformou-se quando viu uma polémica decisão destroçar o seu próprio plano de contenção defensiva. Frente a um Barcelona que, como em 2011, foi muito superior, o City quis defender primeiro, aguentar depois e procurar levar o jogo para o Camp Nou. O mesmo esquema de Mourinho. No inicio da segunda parte, como em 2011, um erro posicional grave de Demichelis provocou um penalty e uma expulsão que Messi não desaproveitou. Alves marcou perto do fim o 2-0 e fechou praticamente a eliminatória. Como em 2011.

Pellegrini tinha razões para queixar-se. A falta sobre Messi é evidente (e a expulsão também) mas nas camaras percebe-se que é fora da área. Nas camaras. Em campo é impossível apreciar-se qualquer falta e a marcação do penalty tem toda a lógica do mundo. Poderia questionar-se se a jogada era válida, já que a recuperação de bola do Barcelona tinha chegado de uma falta prévia, de Busquets sobre Navas, segundos antes. Mas treinadores como Pellegrini não deviam falar destas coisas. Até que falam. E dizem exactamente o mesmo que os demónios de gabardine. Pep Guardiola, provavelmente o melhor treinador dos últimos vinte anos da história (decididamente o mais apaixonante de seguir) passou pelo mesmo processo de versão imaculada alimentada por uma imprensa sectária até ao momento em que as coisas correram mal. Depois de se ter queixado de um fora-de-jogo (no limite) na final perdida da Copa del Rey de 2011, na temporada seguinte, com o título já perdido, chegaram as suspeitas de que algo não estava bem no mundo arbitral. Como sucede com todos os treinadores - que são humanos, como tu e eu - a derrota traz o nosso lado mais obscuro à superfície. Ninguém está imune.

 

O caso de Pellegrini vs Mourinho tem sido utilizado este ano até à saciedade. Não só porque são os dois grandes rivais pela Premier como também porque o chileno foi despedido do Santiago Bernabeu para ter sido substituído pelo português. Foi para Málaga, um clube que Mourinho disse que nunca treinaria, levantando ondas de polémica sobre os pequenos injustiçados, segundo o próprio chileno. O mesmo que ontem disse que um árbitro sueco não tem validade por não estar habituado à exigência da alta competição. Talvez os argentinos pudessem ter pensado o mesmo de um treinador chileno, há alguns anos atrás. Mourinho já passou por esse caminho. Várias vezes. Consegue ser uma pessoa desprezível em muitos sentidos. A sua agressão a Tito Vilanova não pode ser esquecida. As suas provocações, muitas vezes, roçam o ditatorial. Não é flor que se cheire. Mas é sempre o mesmo. Pertence a esse grande colectivo de treinadores humanos, com falhas e acertos. Pellegrini era, até ontem, o profeta dos surreais, dos homens impolutos que não se deixam tocar mesmo quando lhe apertam o coração. A realidade, na vida como no futebol, é bastante mais complexa. Eriksson nunca se esquecerá de Pellegrini como Frisk se lembrará sempre de Mourinho. E nós, de este lado da vedação, saberemos sempre que nem tudo o que vem na capa dos jornais é certo!



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Sexta-feira, 27.12.13

Com o final do ano de 2013 o Em Jogo publica a sua lista particular dos melhores jogadores do ano natural. Uma eleição condicionada pela performance individual, pelos méritos dentro do colectivo e pelo seu talento particular. Aos onze titulares do ano junta-se um leque de sete suplentes de luxo para forjar o plantel perfeito do ano 2013!

 

Os Melhores do Ano (Titulares)

 

Manuel Neuer

É díficil quantificar quem é o melhor guarda-redes do Mundo. Se os veteranos Cech, Buffon ou Valdés ou o alemão Manuel Neuer. Mas não houve um só título que o germânico não tivesse levantado no último ano e muitas das vitórias dos bávaros deveram-se, também, ás suas espantosas intervenções. Com o passar dos anos o ex-Schalke 04 tomou pulso a um posto onde muitos pensavam que não iria durar e já está à altura dos grandes número 1s alemães da história!

 

Philip Lahm

Talvez o jogador de 2013. Não é o mais rápido, o mais goleador, o que mais assistências dá ou o mais mediático. Não vencerá nunca um Ballon D´Or e a maioria dos adeptos até se esquece que já tem atrás de si uma década ao mais alto nível. Mas Lahm é o capitão desta equipa e um jogador que todos gostariam de ser e de contar com. Foi fundamental no esquema de Heynckhes e Guardiola rendeu-se à sua inteligência de jogo, colocando-o várias vezes no fundamental papel de médio defensivo durante os primeiros meses da temporada. É o líder emocional em campo dos bávaros e já um dos maiores laterais da história.

 

Thiago Silva

O brasileiro esteve perto de abandonar a carreira por uma tuberculose que os médicos do FC Porto não souberam detectar a tempo. Desde esses dias na Rússia e o regresso ao Brasil até à explosão definitiva como o melhor central do mundo, o capitão do Brasil tem protagonizado uma sequência de temporadas inesquecíveis. 2013 foi a melhor. Não só pelo título conquistado pelo PSG mas também pela vitória do Brasil na Taça das Confederações. Títulos onde teve um papel fundamental. A sua liderança e capacidade de controlo da área não encontram impar no futebol actual.

 

David Alaba

A evolução do lateral austríaco nos últimos dois anos tem sido épica. Alaba apareceu em cena como um médio interior formado nas camadas jovens do Bayern e acabou reconvertido num dos melhores e mais incisivos laterais do Mundo. O seu ano 2013 foi memorável, como sucedeu com quase todos os seus colegas de equipa. O seu próximo passo é levar a Áustria de volta a um Campeonato da Europa e manter o pulso com outros laterais da escola sul-americana como Marcelo, Felipe Luis, Dani Alves o protagonismo entre os melhores do Mundo!

 

Paul Pogba

Foi o melhor jogador do Mundial sub-20, a grande revelação do Calcio e a melhor notícia possível para o futebol francês. Descoberto por Ferguson, recusou-se a renovar o contrato com o Man United com medo a não ter o protagonismo que sentia que merecia. Tinha 18 anos. Dois anos depois, em Turim, transformou-se no parceiro perfeito de Pirlo. Os seus disparos de longe, as suas recuperações impossíveis e as assistências perfeitas tornaram-no peça fundamental na conquista da Serie A. Para completar um ano memorável, a vitória no Mundial sub20 e a promoção aos Bleus garantem que vamos ouvir falar dele com regularidade na próxima década.

 

Ilkay Gundogan

Há poucos jogadores tão inteligentes no futebol europeu como Gundogan. O médio turco-alemão do Dortmund soube substituir o seu amigo Nuri Sahin de tal forma que quando o ex-Real Madrid regressou ao Westfallen, foi-lhe impossível recuperar a titularidade. Fundamental na manobra de jogo da equipa de Klopp, o médio foi fundamental para a época memorável dos amarelos de Dortmund e a Alemanha de Low conta com ele para dar cartas no próximo Mundial.

 

Bastian Schweinsteiger

O que seria do futebol sem jogadores como "Schweini". Poucos teriam a fortaleza mental de superar um 2012 horribilis, com o penalty falhado na final da Champions League e a eliminação da Mannschaft nas meias-finais do Europeu, parecia que a carreira do médio tinha atingido o seu apogeu. Com a confiança de Heynckhes, voltou a pegar na equipa e lambeu as feridas com o champagne da glória. Superou a Pirlo num mano a mano, anulou (com a ajuda de Javi Martinez) o meio-campo do Barcelona numa histórica meia-final e em Londres voltou a ser fundamental para manter o jogo equilibrado até a conexão Ribery-Robben mostrar-se superior à dos rivais germânicos. O Mundial e um título com a selecção alemã é tudo o que separa Schweinsteiger de tornar-se num dos mais memoráveis jogadores teutónicos de toda a história!

 

Marco Reus

Os mais mediáticos seguramente citariam a Mario Gotze, mas talvez a mais incisiva e brilhante novidade ofensiva do Dortmund de Klopp no último ano tenha sido Reus. O médio contratado ao Gladbach foi uma verdadeira confirmação de tudo o que se suspeitava que podia ser. Vertical, directo, perfeito nas assistências, seguro frente à baliza, Reus foi o melhor jogador do Dortmund na corrida à final de Londres e com a saída do seu amigo Gotze para o histórico rival deu um passo em frente e reclamou a sua liderança para transformar-se no mais influente jogador do Dortmund actual.

 

 

Frank Ribery

Se os prémios individuais fossem atribuídos com o seu critério histórico, Frank Ribery era o homem prémio 2013. Lamentavelmente, o poder mediático cada vez mais encontrou forma de sobrepôr-se e o francês - tal como Iniesta ou Sneijder - verá a glória desde longe. Foi um ano histórico para o homem que alguém pensou que podia ser o sucessor de Zidane. Não foi nem nunca será mas vencer tudo em 2013 e ajudar a França a não falhar o Mundial é um feito que poucos gauleses podem reclamar para si. Ribery marca, assiste, distribui, lidera e encarna o espirito deste histórico Bayern Munchen. No ponto mais alto da sua carreira é um jogador imparável!

 

Luis Suarez

Se 2013 acabasse daqui a dois meses, talvez o uruguaio fosse o próximo Ballon D´Or. Na realidade, não estará sequer no top 10. No entanto, o que o jogador do Liverpool tem conseguido é impressionante. Não só realizou um excelente final da época 2012-13 - com muita polémica à mistura - como o seu arranque de temporada tem eclipsado as gestas de grandes nomes que podiam estar neste onze como Ibrahimovic, Lewandowski, Muller, van Persie, Falcao ou Diego Costa. Recorde de golos marcados, liderança na Bota de Ouro e um enfant terrible transformado na última esperança da Kop.

 

 

Cristiano Ronaldo

É díficil olhar para 2013 e não pensar num jogador: CR7. E no entanto o português não venceu um só título em 2013. Fora da luta pela liga desde 2012, Ronaldo conseguiu ser o melhor marcador da Champions League mas no jogo decisivo, no Bernabeu, não marcou o golo que carimbaria o passaporte para a final. Marcou no jogo decisivo da Copa del Rey mas acabou expulso e a equipa derrotada. Foi um mês de Maio negro que no entanto escondia um semestre memorável pela frente. Histórico de golos marcados num ano natural, memorável exibição no play-off de apuramento ao Mundial do Brasil, melhor marcador histórico numa fase de grupos da Champions League e o reconhecimento internacional posterior a uma imitação lamentável de Blatter. Ronaldo ganhou dentro e fora de campo todo o protagonismo de 2013 - sobretudo da temporada 2013-14 - e é a figura mediática inquestionável do ano!

 

 

Menções Honrosas (Banco de Suplentes)

 

Victor Valdés

É díficil não olhar para o guarda-redes catalão e não ver nele o melhor número 1 do futebol espanhol da actualidade. Valdés tem-se revelado tão influente como Leo Messi nos momentos decisivos e nos grandes triunfos dos blaugranas. A sua lesão, no final de 2013, deixou a nú muitas das fragilidades defensivas que Valdés tem tapado com brio. Talvez o seu melhor ano.

 

Matt Hummels

Tem um talento pouco habitual para um central e sabe-o. É a sua fortaleza e a sua perdição. Alguns dos golos sofridos pelo Dortmund em 2013 levam o seu selo, o descontrolo do seu imenso know-how. Mas Hummels é, sobretudo, um central imenso com um sentido posicional espantoso e uma leitura de jogo que faz lembrar a velha escola de líberos alemã iniciada por Beckenbauer.

 

Yaya Touré

Há jogadores que não necessitam de apresentações. São aqueles que qualquer treinador gostaria de ter na sua equipa. Defendem, atacam, distribuem, recuperam, dão calma quando necessário e vertigem se é preciso. E fazem-no quase como vultos fantasmas, deixando o protagonismo a outros. Yaya Touré tem-no feito há vários anos, desde a sua passagem pelo Barcelona até à sua consagração na Premier League. 2013 foi mais um ano de ouro para o marfilense!

 

Koke

O renascimento do Atlético de Madrid sob a mão de Diego Simeone encontrou no talento individual de um jovem produto da cantera colchonera o seu melhor exemplo. Para lá dos golos de Falcao e Diego Costa, do talento de Arda Turan e Mario Suarez, o trabalho incansável do médio espanhol no miolo da equipa de Madrid destacou-se pela sua sobriedade e perfeição. É uma das grandes revelações do ano e um jogador capacitado para liderar o futuro do meio-campo da Roja!

 

Lionel Messi

Há poucos jogadores na história do futebol com o talento de Leo Messi. O jogador argentino estaria em qualquer onze do ano mas 2013 foi o seu annus horribilis. Lesões recorrentes - entre Janeiro e Março e mais tarde, desde Outubro até ao presente - deixaram o génio blaugrana fora de combate em quase metade da temporada. Nos meses que esteve em campo esteve praticamente igual a si mesmo. Mas no duelo directo contra o Real Madrid (Copa del Rey), Atlético de Madrid (Supercopa) e Bayern Munchen (Champions League) não conseguiu ser o elemento desequilibrador a que nos tem tão habituados.

 

Zlatan Ibrahimovic

Igual a si mesmo, "Ibracadraba" é um dos jogadores com mais talento do mundo. Com a vitória na Ligue 1 ampliou a sua lenda. Dez titulos de campeão em doze temporadas é algo a que poucos jogadores podem optar, particularmente se os titulos foram conseguidos em quatro ligas e seis equipas diferentes. Levou os parisinos até um duelo intenso com o Barça na Champions League, rematou o título em Maio e protagonizou um notável arranque de época em 2013, interrompido apenas pela exibição de Ronaldo em Solna. Um craque!

 

Robert Lewandowski

É um exagero dizer que o polaco eliminou só o Real Madrid mas quatro golos numa meia-final da Champions League é algo histórico. O avançado do Dortmund realizou um ano memorável. Levou a sua equipa até à final da Champions, mostrou ser o avançado mais em forma na Bundesliga e tem os adeptos do clube de Dortmund em suspense sobre o seu futuro. É um dos mais letais avançados do futebol mundial e vale o seu peso em ouro!

 

 

Custou deixar de fora (O resto do plantel)

 

Robbie van Persie (decisivo no último ano de Ferguson), Mezut Ozil (mal tratado em Madrid, herói em Highbury), Andrea Pirlo (não é preciso explicar pois não?), Óscar (determinante na era Benitez, fundamental nos meses Mourinho), Mario Gotze (grande até Junho), Andrés Iniesta (um génio indiscutivel), Heines Weidenfeller (o eterno esquecido do futebol alemão), Thomas Muller (outro grande ano do working class heroe bávaro), Diego Costa (uma verdadeira transformação épica), Neymar (tem tudo para ser um mega-top), Arjen Robben (porque nos esquecemos tanto dele?), Marcelo (continua a ser um jogador especial), Raphael Varane (foi a revelação do final da época 2012-13), Eden Hazard (destinado à grandeza com os Diables Rouges)



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Quinta-feira, 03.10.13

O futebol português tem, muitas vezes, nos próprios portugueses, o seu pior inimigo. Este ano havia duas equipas lusas no pote 1 da Champions League. O Benfica vinha de uma final perdida da Liga Europa e muitos, como sempre, tentaram vender esses feitos como uma subida do futebol português no escalão internacional. Não era. A Champions League, prova que coloca cada macaco no seu galho, deixou claro que Portugal ainda pertence a uma segunda divisão europeia quando o árbitro apito para o início do jogo e a demagogia fica no balneário.

 

É dificil ver pessoas surpreendidas com as merecidas derrotas de FC Porto e SL Benfica.

Muito dificil. A maior parte dessas análises saem de seres que vivem em nuvens, talvez esmagados pelo poder mediático dos órgãos de comunicação que teimam em difundir mensagens longe da crua realidade. Ter o presidente de um clube a prometer aos adeptos que a sua equipa vai lutar para ser campeã europeia só porque a final é no seu estádio devia ser motivo de destituição imediata. Nem o Benfica tem o melhor plantel dos últimos 30 anos (uma afirmação que é uma total falta de respeito a grandes, grandes equipas do Benfica) nem organizar uma final dá direito moral a pensar que se pode ganhar. Que o digam ao Bayern Munchen ou à Roma, por exemplo, finalistas vencidos em casa. E esses foram os que lá chegaram.

O futebol português não está em condições de ganhar uma Champions League na próxima década salvo que um cataclismo mundial elimine de golpe a dez ou vinte equipas do seu caminho. É a crua realidade e vale tanto para os encarnados como para os azuis-e-brancos.

O FC Porto perdeu bem para um Atlético de Madrid muito parecido ao FCP de Mourinho. Tinha sofrido para vencer o modesto FK Austria (outrora glória europeia) e terá agora de disputar com o Zenit o apuramento. Se for eliminado não vem mal ao mundo. São duas realidades competitivas incomparáveis. Os dragões têm o pedigree e a experiência europeia (o clube, não o plantel). O Zenit tem o dinheiro. E nesta prova da UEFA o dinheiro conta muito. E mais se se sabe o que fazer com ele. Gastar milhões em jogadores para a equipa B não parece ser a melhor alternativa para encontrar um atalho para o sucesso.

 

Pode o campeão português, uma liga mais previsível que a sueca, onde só duas equipas têm argumentos lógicos e realistas para lutar pelo título (por muito bom que tenha sido o arranque de Sporting e Braga, bom e necessário), ombrear com o líder da liga espanhola. Com uma equipa formatada para ganhar a todo o custo, capaz de fazer soar como poucas ao notável Barça, de vencer duas vezes em poucos meses o Real Madrid em casa (depois de 13 anos de derrotas consecutivas)?

Logicamente, não.

Mas para os adeptos, embriagados de populismo, a vitória era uma obrigação, o sonho europeu uma realidade. São os mesmos que acreditavam no ano pós-AVB que o FC Porto era a terceira melhor equipa da Europa, como se a Europa League fosse medidor de algo. E os que pensavam que o Málaga, só porque não tinha pedigree, era fácil e manobrável, como se provou. O FC Porto, e os seus adeptos, têm-se esquecido que competem numa liga medíocre, com equipas medíocres e um ritmo de jogo que vai do lento ao parado. Não há exigência, não há estimulo e isso passa factura nos jogos a sério. Nos jogos europeus. Aí um jogador que vale para a liga deixa rapidamente de valer e vai-se abaixo. Aí as falhas de marcação que na liga não resultam em nada, transformam-se em golo. O FC Porto até jogou melhor que o Atlético em grande parte do seu jogo mas não sabia a que jogava. Não soube nem matar nem soube defender a vantagem e acabou presa de uma formação que mede bem os seus tempos, o seu desgaste e sabe aproveitar cada ocasião para ferir de morte o rival. O Atlético é um dos outsiders para esta Champions porque vem formatado de dois anos de máxima exigência, encurtando distância para o binómio Barça-Madrid e porque tem um plantel de jogadores de muitos kms nas pernas, veteranos de mil batalhas. O FC Porto é uma equipa verde, feita para exportação, sem liderança salvo a de Lucho que dura uma hora. A essa equipa não se pode pedir mais que tentar vencer um duelo desigual com o Zenit, a equipa que pode comprar num só dia os melhores jogadores dos dois grandes portugueses, sem pestanejar. É uma equipa irregular, com problemas defensivos sérios mas a quem os adeptos azuis e brancos deviam olhar com o respeito que, muitas vezes, parecem ter perdido. Tanto sucesso às vezes tolda as vistas e faz-nos perder perspectiva e humildade. Aos portugueses mais do que a nenhum outro povo, talvez porque estamos pouco habituados a sensações positivas.

Com o Benfica a situação é ainda mais grave, sobretudo porque o seu pedigree europeu é uma lenda antiga que a gestão JJ não conseguiu nunca transformar em realidade. A final da Liga Europa foi uma ilusão de competitividade para os adeptos, esquecendo-se de que o Braga também já foi finalista vencido e não foi por isso que se tornou, da noite para o dia, um player importante nos palcos europeus. O seu grupo é mais acessível (Anderlecht e Olympiakos são, claramente, de um nivel similar) mas como é possível pensar-se em ir a Paris vencer com este plantel, com esta desorganização mental do treinador e este balneário destruido uma formação que pode deixar no banco a Lucas Moura, Javier Pastore e não jogar com Thiago Silva? A uma equipa que não perdeu um só jogo com o Barcelona na época passada e que pode gastar numa hora o que o Benfica não pode (ou melhor, não deve) gastar num ano? Uma vez mais a perspectiva dos adeptos perde-se no meio da propaganda e depois os correctivos em campo parecem mais duros do que são na realidade.

O futebol português tem sido, historicamente, um overachiever nos palcos europeus. Somos o sexto país com mais troféus europeus, apenas atrás dos Big Four e da Holanda (sobretudo graças ao trabalho do Ajax) e à frente de França ou Rússia (mesmo na versão soviética). Isso diz muito de nós e na da nossa capacidade de superação. Mas tudo tem as suas limitações. Os rankings da UEFA enganam porque não reflectem a realidade do momento em que as equipas sobem ao relvado. O Dortmund, uma das melhores equipas europeias e vice-campeão em título, pertencia ao pote 3 do sorteio. O facto de FC Porto e SL Benfica terem sido cabeças de série não adianta nada se as suas equipas e os seus treinadores estão longe, muito longe, de ser parte da elite. Na ausência do poderio financeiro, do talento individual e da destreza táctica, os adeptos apenas podem acreditar em ilusões que dificilmente se tornarão em realidade. A Champions League é para projectos completos e complexos. Não para demagogos e sonhadores!



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Terça-feira, 24.09.13

Sou um dos grandes admiradores de Juan Mata. Talvez porque o vejo jogar desde os dias do Castilla. Porque sempre vi nele todas as condições para ser um jogador de elite. José Mourinho pensa de outra forma. Para ele o espanhol está uns furos abaixo do que ele quer como elemento central do seu esquema ofensiva. Entre o espanhol e Óscar, o técnico sadino prefere o brasileiro. A maioria dos treinadores agradeceria ter um dilema destes nas mãos. Afinal, são dois dos melhores jogadores do Mundo na sua posição. E para o "Happy One" só há espaço para um.

Guardiola chegou a Barcelona com uma ideia.

Quando há jogadores top, há sempre espaço para todos.

Sob essa filosofia não se importou de colocar muitas vezes a Iniesta como extremo. De deslocar Messi para o centro. De enquadrar no mesmo onze a Xavi, Iniesta, Cesc e Messi, mesmo sendo consciente que ficaria pouco espaço para a improvisação. Se tivesse tido Neymar, para abrir o campo, seria outra conversa. Essa ideia é antiga. Até aos anos 70 o jogador prevalecia sobre o esquema. Ao técnico competia-lhe encontrar espaço para por os melhores em campo. Depois apareceu Herrera, apareceu Rocco, apareceu Michels e o modelo de jogo passou a ser a prioridade. Ou o jogador se adaptava ou, por muito bom que fosse, estava destinado ao banco. A Itália do Mundial de 70 foi alternando Rivera e Mazzolla porque ninguém pensava que dois génios como esses pudessem jogar juntos sem comprometer a equipa. O Ajax de Michels e Kovacs, repleto de grandes jogadores, funcionava porque todos eles se manejavam bem em distintas posições. Quando saíram do clube foram incapazes - até Cruyff - de reproduzir o mesmo nível de jogo noutras paragens. E quando chegou a década de oitenta o sistema tinha prevalecido. O Brasil de 82 foi um reflexo de uma era perdida, o AC Milan de Sacchi colocou cada um no seu sitio e a goleada dos homens de Capello a um Barcelona de Cruyff que procurou vencer um duelo equilibrado através das estrelas em campo selou o destino de quem acreditava no valor do jogador.

Portugal, em 2000, e a Espanha, em 2008, começaram a mudar a filosofia. Guardiola exprimiu-a ao máximo. De repente os génios individuais voltaram a ser valorizados mesmo que isso significasse problemas. Compaginar a Rooney e van Persie na mesma equipa funciona ou cria mais problemas do que soluções? Podem Ozil, Isco, Bale e Ronaldo jogar juntos? Ancelotti pensava que não e facilitou a saída do alemão. E em Munique, apesar da fama que precede Guardiola, há quem não entenda o seu esquema onde Lahm é médio para que os bons joguem todos à sua frente sem conceder um lugar a um jogador que paute o ritmo e o equilíbrio. Em Londres, onde Mourinho tem tido problemas para impôr a sua ideia de jogo (que ninguém ainda entendeu muito bem qual é) o Chelsea vive um desses dilemas: modelo vs jogadores.

 

Hazard, De Bruyne, Mata e Oscar.

São quatro dos melhores do Mundo. Jovens, ambiciosos, talentosos, jogadores capazes de marcar a diferença. Apesar de algumas diferenças pontuais, não são futebolistas distintos. Uns mais velozes que outros, uns mais cerebrais que outros, mas todos eles com o mesmo principio de jogo na cabeça: o jogo associativo.

Para muitos treinadores, ter tanto talento é uma benção. Para alguém como Mourinho, um problema. O técnico português, desde os dias do FC Porto, sempre fez prevalecer o seu sistema aos jogadores. Nas Antas relegou várias vezes o talentoso Alenitchev para o banco porque já contava com Deco no relvado e preferia a consistência defensiva de Tiago/Pedro Mendes ou a abertura de banda que lhe podia dar Capucho (primeiro) e César Peixoto (antes da lesão) depois. Quando chegou Carlos Alberto, e a sua imprevisibilidade, para substituir o trabalhador Derlei, ficou claro que havia num onze uma função para cada jogador e nada mais. O padrão repetiu-se em Londres (entre Robben e Joe Cole) e em Madrid (em Milão faltavam-lhe opções de talento, salvo Sneijder) com Ozil tantas vezes relegado para o banco em jogos importantes. Para ele, jogadores que se decalcam, devem competir entre si por um dos lugares livres no seu esquema, nunca o contrário. Sendo que o belga Hazard é para Mourinho a sua clara coqueluche (com toda a razão do Mundo) e que De Bruyne se revelou uma surpresa (para os mais desatentos), basta olhar para o passado do português para entender que o MVP da temporada passada, Mata, e o talentoso Oscar - que cresceu muito no último ano e meio - teriam de disputar um lugar.

Mourinho gosta de jogadores possantes (de aí a presença de Schurlle), de jogadores rápidos (a primeira razão da contratação de Etoo) e que desequilibrem com o seu talento natural para a finta (de Carlos Alberto a Willian, passando por Robben e Di Maria vai um largo historial). Do que menos gosta são de jogadores que pautam o ritmo do jogo e muitas vezes impedem que se ponha em prática a sua habitual verticalidade e velocidade. Mata é um jogador de pausa, de procurar espaços, de toques decisivos. Óscar também, com a diferença que o faz mais em grandes planícies do que, propriamente, em apertados vales. Mata move-se melhor perto da área, lendo o jogo. Óscar é um jogador (agora), mais rápido e físico, capaz de vir desde o meio-campo para o ataque em condução ou abrindo linhas de passe com lançamentos em profundidade. O brasileiro é um jogador que se enquadra perfeita no ideário de Mourinho. Mata, talvez melhor individualmente, não o é.

Poderia ter-se desprendido do espanhol no mercado mas a opção de reforçar algum rival (seja na Premier, seja na Champions) com um jogador que ele sabe ser de alto nível não lhe agradava. E Mata ficou. Mas terá muitos problemas para ter minutos. Como Torres, que parece incapaz de conseguir repetir a mesma consistência da sua etapa no Liverpool, é uma vitima de uma ideia de jogo que se enquadra pouco com o espírito espanhol. Obi Mikel, Ramires, o eterno Lampard, o esforçado Óscar, o abnegado Schurlle e o esforço físico de Etoo são mais adequados à "Biblia" do português. Para Hazard e, eventualmente, De Bruyne e Willian, sobra o pouco espaço deixado ao talento genuíno e à improvisação, sempre comprometidos ao esforço colectivo. Apesar de ter prometido uma filosofia de estância larga, Mourinho continua a pensar no curto-prazo.

 

Tele Santana não teria problemas em montar um quadrado entre os futebolistas mais talentosos para mandá-los ao campo a jogar. O seu esquema criou escola, na imaginação dos adeptos, mas não tanto nos relvados. Mourinho sempre foi um técnico com fama de resultadista, uma expressão perigosa num meio onde vencer é tudo. O seu problema não está tanto na busca do resultado mas sim no caminho único para o obter. Com o passar dos anos o português foi abdicando de princípios fundamentais nos primeiros anos por abordagens cada vez mais simplistas e herméticas. Quando o guião não funciona, os problemas são evidentes. O Chelsea com a bola é uma equipa que não sabe o que fazer porque o treinador não quer que a tenham muito tempo. Sem ela sofre porque a maioria dos seus jogadores sente-se mais cómoda com ela. Sem um killer de área, como foi Drogba, e sem um Lampard dez anos mais novo, a equipa londrina sofre porque o seu técnico quer repetir uma fórmula impossível. Continuam a ser uma potência do futebol europeu (com essa equipa, é inevitável) mas deixam mais sombras do que luzes neste arranque de uma nova era que pode ser mais curta do que muitos imaginavam à partida...



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Segunda-feira, 05.08.13

O Special One transforma-se em Happy One. Mourinho está contente para regressar a um clube que lhe deve muito. O sadino é consciente de que a base do sucesso recente é sua. Que os rostos com que se vai cruzar o conhecem bem. O seu carácter, o seu nível de exigência, a sua filosofia de conflito mas também a sua justiça como profissional. O balneário que encontra é radicalmente diferente daquele de 2004. O investimento realizado também. Mourinho trabalhará com o que há, essencialmente, porque se sente capaz de iniciar uma dinastia no tempo e na memória.

 

Em 2004, minutos antes ou depois da célebre tirado do Special One, Mourinho escreveria num papel os jogadores à sua disposição.

Havia os primeiros resquícios dos investimentos de Abramovich, os jovens que vinham do West Ham United (mas que para muitos parecem "canteranos) e todos os nomes que ele tinha pedido. Os Drogba, Robben, Cech, Tiago, Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira e companhia. Durante os quatro anos seguintes, Mourinho moldou o presente e o futuro dos Blues.

Fê-lo buscando sempre resultados imediatos. Jogadores preparados para responder logo às suas exigências físicas, tácticas e de atitude. Guerreiros para o seu exército, homens para a refrega contra o Arsenal de Wenger, o Liverpool de Benitez e o United de Ferguson. Foi essa a filosofia que pautou a sua passagem pelo clube e que perpetuou em Milão, onde não teve problemas em entregar-se corpo e alma a uma guarda pretoriana envelhecida mas à procura de um último suspiro de glória. Ironicamente, ao mesmo tempo, os seus homens de confiança no Chelsea seguiam o mesmo caminho, com outros nomes no banco, mas mantendo essa filosofia do choque, do confronto e da batalha. Assim chegaram à final de Moscovo, meses depois da destituição do português. E assim conquistaram o ansiado troféu (para Roman, para Mourinho, para eles), na final contra o Bayern Munchen. Naquela noite encerrou-se um ciclo.

Não necessariamente da presença dos jogadores no plantel. Uns saíram outros ficaram, mas o grau de exigência baixava. Afinal, não havia nada por conquistar. Não havia nada mais porque lutar quando todo o esforço de oito anos tinha sido focalizado no santo Graal, que descansava, são e salvo, em Stamford Bridge. Inevitavelmente, como sucedeu com Villas-Boas, o seu sucessor, Di Matteo, não encontrou forma de motivar os veteranos nem teve poder para os colocar de lado. E Benitez, o homem a prazo, limitou-se a cumprir os serviços mínimos exigidos. Cabia ao seu sucessor dar inicio a uma nova era. Abramovich quis sempre que esse homem fosse Guardiola mas o catalão dá mais importância à história e à estrutura que ao dinheiro. Para isso está Mourinho, um treinador que se move sempre em terrenos onde não se sente atado na carteira e preso a uma história. Em Madrid sentiu-o bem na pele.

 

Mourinho chega assim a Londres com uma equipa brutalmente rejuvenescida.

No entanto, já o era o seu Real Madrid, o seu primeiro Chelsea e o seu FC Porto. A etapa final com os londrinos e em Milão vendeu a história de que o treinador português só gosta de trabalhar com veteranos, mas não é verdade. Gosta de trabalhar com jogadores feitos, táctica e mentalmente, o que é diferente. No plantel actual dos Blues, tem jovens mas que já contam com mil e uma batalhas nos pés. E apesar de contar com um plantel com evidentes desequilíbrios - e é estranho que as incursões no mercado, até ao momento, tenham sido pontuais - Mourinho sabe que há jogadores suficientes para colocar em prática a sua filosofia de jogo.

Numa liga carente de lideres emocionais, o regresso de Mourinho é um bálsamo. Em Manchester a pressão vai estar toda do lado de David Moyes e Manuel Pellegrini. Nomes novos que sucedem a idolos históricos e recentes e a quem os adeptos vão perdoar muito pouco. Wenger é eterno, ou isso parece, mas a sua fórmula está esgotada e salvo uma mudança radical de política, o Arsenal continuará a ser uma equipa limitada na sua ambição. Quanto a Tottenham, Liverpool e Everton, não há nomes, nem no banco nem em campo, nem dinheiro nas contas, para fazer sombra à elite. Só um descalabro desportivo podia permitir uma mudança consciente no circulo de poder.

O técnico português recebe assim um Chelsea nos mesmos moldes que a sua primeira participação. Um título nacional que escapa há quatro anos, mas um plantel de qualidade, um estatuto consolidado e dinheiro para gastar. As vitórias europeias recentes dão-lhe seguramente um descanso nesse capítulo e permitem-lhe comprar tempo para focar-se em recuperar a hegemonia interna que manteve entre 2004 e 2006.

Para essa batalha estão nomes antigos convocados. Cech será titular e Terry, Cole e Lampard também. São homens de confiança, que terão muitos minutos nas pernas e presença assegurada nos dias decisivos. Também estará o tipico modelo de jogador que o técnico tanto aprecia, o futebolista combativo e guerreiro. Os Ivanovic, Cahill, Obi Mikel, Essien, Ramires e Moses, serão parte coral da sua filosofia. O talento está entregue ao quarteto de luxo forjado entre a magia de Hazard, a classe de Óscar, o génio de Mata e a velocidade de De Bruyne. A estes há que juntar mais um legionário, o alemão Andrea Schurlle, e a eterna incógnita do ataque, entre Torres e Lukaku, dois jogadores cujo perfil dista bastante do que quer Mourinho. Sem Cavani, sem Lewandowski e sem Rooney, o português terá de procurar um jogador à altura da sua ideia no mercado para dar a estocada final no seu projecto. É a grande incógnita do seu novo Chelsea.

Haverá seguramente minutos para os mais jovens (o promissor Chabolah, mais do que qualquer outro), uma constante rotação de jogadores e um esqueleto fixo à volta do eixo Terry-Ivanovic-Lampard-Oscar-Hazard. Eles são o reeditar do Terry-Carvalho-Lampard-Robben-Drogba da primeira, e mais espectacular, versão do Chelsea de Mou. A partir de aí, e com as alternativas que já existem e as que se podem materializar, que Mourinho pode presumir de dispor de um plantel capaz de recuperar o trono do futebol inglês face a um United e um City em curva descendente na sua relevância de mercado e um Arsenal e Tottenham que não terminam de dar o salto. Todos os elementos estão conjugados para o regresso de Mourinho à elite britânica!



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Quinta-feira, 11.07.13

Em 2008 Josep Guardiola chegou à primeira equipa do Barcelona depois de realizar um trabalho notável com a equipa B do clube, que promoveu à segunda divisão depois de vários anos. O papel da Masia, a casa onde cresceu como homem e jogador, sempre foi fundamental na sua filosofia. Mas a direcção de Sandro Rossell, homem forte da Nike e com ânsias de protagonismo, sempre preferiu um modelo de "Globetrotters". As personalidades chocaram e foi Guardiola quem saiu. O resultado está à vista. Em pouco mais de um ano, há pouca esperança para a Masia.

 

No último ano de Guardiola, o que lhe custou os títulos com o Chelsea e Real Madrid, forçando-o a abandonar Camp Nou apenas com a Copa del Rey debaixo do braço, o papel da cantera foi tão importante como sempre.

Não só porque Sergio Busquets e Pedro Rodriguez - dois desconhecidos para a maioria dos próprios adeptos blaugranas - se tinham confirmado como titulares indiscutiveis do seu projecto, mas porque continuava a surgir gente nova com vontade de ocupar o seu lugar. O Barcelona chegou a efectuar jogos só com futebolistas formados em casa. Aos históricos Valdés, Puyol, Xavi, Iniesta e Messi, todos eles já em Can Barça quando Guardiola aterrou, juntavam-se Pique, Pedro e Busquets (parte da sua primeira fornada) e também o recuperado Cesc Fabregas e Thiago e Bartra (jogadores utilizados inicialmente nos dois anos seguintes à sua estreia). Onze futebolistas aos que se podiam começar a adicionar os estreantes Montoya, Cuenca e Tello. Todos eles, mais Sergi Robert e, pontualmente, Gerard Deulofeu, passaram pelo onze titular das mãos de Guardiola. Um total dezoito jogadores (se juntamos a Muniesa e Rafinha) que tiveram minutos nesse ano. Um número assombroso para uma equipa de elite mundial. Pep não venceu por pequenos detalhes os dois títulos principais mas não só consolidou o presente do Barça como arrancou o desenho do seu futuro. Os adeptos podiam estar tranquilos. Havia opções para todas as posições e mesmo aquela onde a equipa mais sofria (com os problemas de Abidal), a resposta estava outra vez em casa, no regresso de Jordi Alba ao clube que o formou. Não havia que enganar.

Um ano e alguns meses depois, a situação mudou radicalmente. Os jogadores formados no Barcelona que não eram já titulares indiscutiveis em 2011 parecem ter todas as vias da equipa principal fechadas. A operação saída começou ainda na época passada e prossegue neste Verão. Tito Vilanova, outro filho da Masia, mudou radicalmente a sua política face à do seu antigo amigo e superior. Para ele a cantera conta cada vez menos e a ideia de forjar um "Globetrotter" mundial, como quer o presidente Rossell, parece-lhe muito mais interessante.

 

Cuenca e Muniesa foram os primeiros descartados por Vilanova.

O extremo direito foi utilizado várias vezes por Guardiola em 2011/12 com boa nota mas acabou por ter de seguir a sua carreira no Ajax, enquanto o promissor central, vitima de vários problemas físicos, foi igualmente descartado. Robert e Rafinha, que tanto prometiam nesse último ano da era Pep, jogaram tão pouco que custa associar os seus nomes ao plantel campeão. Bartra só foi realmente opção para Vilanova quando ficou claro que utilizar Song e Adriano a centrais era aumentar os problemas em vez de diminuir os riscos. Fez boas exibições, mesmo nos momentos de maior aperto contra o Bayern Munchen, mas parece que para o clube isso não chega. Com Guardiola teria mais minutos, com Vilanova parece destinado a ser a quarta opção se finalmente chega a Can Barça uma estrela do nível de Thiago Silva ou um jovem com a projecção de Marquinhos. No lado direito, Montoya, que foi utilizado várias vezes pelos problemas físicos de Alves, continua a pedir mais minutos e a ponderar sair para encontrá-los. Com o mesmo problema encontrou-se Thiago.

O seu caso é verdadeiramente paradigmático. Não só porque o médio é o mais promissor futebolista a sair da Masia nos últimos sete anos, como durante anos foi anunciado como sucessor natural de um Xavi Hernandez que já tem 33 anos nas pernas. Thiago demonstrou o seu valor, não só de blaugrana ao peito mas também com a Rojita, e se começava a ganhar o seu espaço com Guardiola, com Tito perdeu-o por completo. A tal ponto que o seu contrato estipulava que, se disputasse x minutos, a cláusula seria de 30 milhões. Menos desse tempo de jogo e baixaria a 18. Com o título no bolso a várias jornadas do fim, Vilanova não teve a inteligência de o colocar a jogar regularmente para segurar o futebolista. Era visivel o seu desinteresse. E assim o mais velho dos irmãos Alcantâra tem a porta aberta com Guardiola em Munique.

O seu irmão Rafinha já tem guia de marcha, com um empréstimo ao Celta de Vigo. Deulofeu, a outra estrela da Masia, jogará com o Everton. Tello terá a concorrência directa de Neymar e Alexis apesar das excelentes exibições das últimas temporadas. Jogará muito pouco se a explosão do brasileiro se converter numa realidade.

Sob os planos de Vilanova, e a julgar pelo onze habitual da última temporada, mais Neymar, os "canteranos" que terão minutos serão os mesmos que já os tinham em 2011, mais Alba. Em 3 anos, todas as promessas da formação catalã foram descartadas. Mas não pela falta de talento. Todos eles têm um nível altíssimo de conhecimento de jogo e poderiam perfeitamente disputar a titularidade no Barça actual e dar a sua contribuição, como sucedia com Guardiola. Mas não será assim. Rossell e Vilanova preferem apostar noutro modelo de negócio, onde se abra espaço para o génio de Neymar, as habilidades de Alexis, as trapalhadas de Song, a frieza de Thiago Silva ou uma utilização excessivo de kms nas pernas de jogadores que têm um ritmo diferente como Puyol ou Xavi. A geração a quem Guardiola tinha deixado o testemunho para começar a ocupar o seu lugar foi convidada a sair. Muitos deles acabarão por regressar da mesma forma que a Xavi, Iniesta e Puyol lhes custou ser titulares. Outros estarão perdidos para sempre. Mas o mito da Masia como fábrica constante de jogadores para a primeira equipa foi desmantelado. Com um plantel curto e muitos jogos pela frente, havia tempo e espaço para todos. Pelo menos, com outro capitão ao leme!



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Sábado, 25.05.13

O Dortmund jogou melhor mas o Bayern soube ter a eficácia que lhe tem faltado nas finais europeias pós-Muller. Foi um título merecido para uma geração brilhante de jogadores que fazem parte já da elite histórica do futebol europeu. Os bávaros são indiscutivelmente a mais forte equipa da Europa e Pep Guardiola terá muito trabalho pela frente para emular o feito de Jupp Heynckhes. Ao Dortmund, a melhor equipa em campo, fica a honra de terem sido protagonistas de uma das mais espectaculares finais das última décadas. Com Klopp ao leme, para o futuro, tudo é possível.

Robben. O holandês que sempre perde.

Todos os jornais europeus já tinham a crónica do jogo escrita. Pelo menos os parágrafos em que iam desenterrar o passado do mágico extremo, os falhanços contra o Inter em 2010, na final do Mundial desse mesmo ano frente ao seu amigo Casillas. Ou o penalti desperdiçado contra o Chelsea, já no prolongamento de uma final que o Bayern não podia perder. Esse parágrafo estava escrito porque, uma vez mais, a sorte parecia estar contra ele. Três falhanços durante o jogo condenavam-no à penitência eterna. O rosto de Weidenfeller parecia uma assombração do passado quando a quatro minutos do fim, a história fez justiça. O mesmo Bayern que tinha perdido em cinco minutos uma final contra o FC Porto, em três minutos outra com o Manchester United e que tinha caído nos penalties frente ao Chelsea podia, pela primeira vez, agradecer ao cronómetro. Não ia haver tempo para mais. O toque de calcanhar de Ribery, o erro de marcação de Hummels, a saída desesperada de Weidenfeller. Gestos que passaram ao lado da visão de Robben, o jogador que só via a bola, a baliza e os braços abertos no ar. Os braços de alguém que resolvia todas as contas pendentes com a sua espantosa carreira. Um golo que merecia como poucos, um golo que marcou com a frieza dos grandes momentos. Um leve desvio, depois de mais uma diagonal letal, como a que lhe permitira, meia hora antes, desenhar o tento inaugural dos bávaros. Então Robben surgiu na sua faceta de assistente de luxo para Mandzukic marcar. Mas a glória suprema, o golo do título, estava-lhe reservado. Quando o esférico entrou já Arjen se sentia imortal.

 

O Borussia Dortmund entrou muito melhor no jogo, pressionando a saída de bola dos bávaros em cima da sua grande área.

O esforço físico dos homens de Klopp foi brutal. Durante os primeiros vinte minutos asfixiaram o Bayern e acumularam oportunidades de golo. Oportunidades que Manuel Neuer, imenso como sempre, foi resolvendo com perícia e sorte. Quando a balança se equilibrou, o cansaço fisico começou a fazer-se sentir e já não era toda a equipa que rondava como abutres a área bávara. As respostas dos amarelos vinham, sobretudo, da conexão entre Reus e Kuba, pelo lado direito. Ambos procuravam avidamente Lewandowski, em perpétuo movimento entre a defesa contrária, mas o ritmo já não era o mesmo e a solidão do avançado polaco foi-se acentuando. Tinham entrado definitivamente no jogo os futebolistas fundamentais no esquema de Heynckhes, os mesmos que tinham trucidado o Barcelona numa eliminatória para a posteridade. Javi Martinez, Schweinsteiger e Muller encontraram-se, associaram-se e inverteram o ritmo do encontro. Com Robben e Ribery bem tapados pelo apoio dos extremos do Dortmund a Pieszcek e Schmelzer, era pelo corredor central que o Bayern iria procurar explorar as suas mais valias. De aí nasceram as primeiras ocasiões, as que meteram o medo no corpo dos homens do Ruhr. A cadência da final seguia a todo o vapor, lembrando que há vida no futebol europeu para lá do circuito mediático Barcelona, Real Madrid, AC Milan e Manchester United. Para os que seguiram a transformação recente da Bundesliga, o ritmo e a qualidade do jogo vividos em Wembley não era novidade. Só faltavam os golos. Chegaram na segunda parte.

Primeiro Ribery e Robben, afastados do protagonismo pela pressão táctica do Dortmund na primeira parte, exploraram a falha de marcação dos amarelos e desenharam o golo de Mandzukic. Não foi preciso muito para o empate. Um erro de Dante - que devia ter sido expulso - propiciou o penalty que Gundogan converteu com frieza. Tudo igualado mas sensações novas. O Dortmund tinha mais critério mas o Bayern mais velocidade e Thomas Muller reapareceu como figura principal espalhando o medo entre a linha defensiva rival. Poderia ter sido ele o herói da noite. Ou talvez Schweinsteiger, a par de Lahm, o herdeiro de uma geração que viveu duas amargas derrotas. Mas foi Robben. Um lançamento largo, um toque de Ribery, um desvio do homem que nunca decide.

 

Não havia tempo para mais, não havia mudança táctica que desse cabo da vontade de vencer de um clube desenhado para lutar contra a sua malapata. O último clube a vencer a prova por três vezes consecutivas vive, desde 1977, uma luta contra o seu próprio ADN. Derrotas inesperadas contra Aston Villa, FC Porto, Manchester United, Inter e Chelsea criaram uma lenda que só uma equipa ainda mais maldita como o Valencia permitiu quebrar. A quatro minutos do fim Heynckhes era o quarto treinador da história a vencer a prova com duas equipas diferentes. O eterno goleador maldito do Monchengladbach, o homem que a direcção do Bayern entendeu que não seria capaz de devolver o Bayern à glória, o treinador que será rendido pelo génio de Pep Guardiola, não podia perder. Klopp tem tempo. Chegará a sua hora. Como o Dortmund jogam muito poucas equipas. Mas esta era a noite de Jupp. A noite de Robben. A noite de Lahm e Schweini. Hoje era a noite de ajustar contas. A noite histórica que Pep terá quatro anos para melhorar. O desafio começa em Julho!



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Quarta-feira, 01.05.13

Humilhação absoluta. Nunca na história da máxima competição de clubes da UEFA uma meia-final acabou com um resultado mais parecido a um encontro de futsal do que a um duelo entre dois emblemas de elite do futebol europeu. A vitória esmagadora do Bayern Munchen sobre um Barcelona estéril confirmou definitivamente o fim da era iniciada em 2009 brilhantemente pelo génio de Guardiola. A hegemonia teutónica no futebol europeu é a melhor notícia num ano que despede, definitivamente, um projecto que coleccionou admiradores em todo o mundo.

 

É complicado procurar nos livros de história uma diferença tão abismal entre dois semi-finalistas de alto nível europeu.

É mais ainda quando se trata de uma equipa que marcou uma era. O Real Madrid de Di Stefano, o Benfica de Eusébio, o Inter de Suarez, o Milan de Rivera, o Ajax de Cruyff, o Bayern de Beckenbauer, o Liverpool de Dalglish, o Milan de van Basten...e podíamos continuar numa lista quase sem fim. Nenhuma dessas equipas foi tão facilmente destroçada num jogo europeu como este Barcelona. Nunca nenhuma delas capitulou de forma tão clara e evidente. Sem ideias, sem físico, sem argumentos. Nunca nenhuma delas colocou o ponto final na sua epopeia de uma forma tão humilhante.

O ciclo do Barcelona começou com Guardiola e acabou com Guardiola. A saída do génio de Santpedor fechou um capítulo maravilhoso na história do clube blaugrana. Foi uma saída triste, entre derrotas e problemas internos no balneário.

A instituição tinha duas opções. Ou apoiar Guardiola numa renovação necessária ou dar o poder ao balneário. Escolheu o segundo caminho. Entregou o poder a Messi e companhia e colocou no banco o mais inepto dos treinadores, um garante de que a filosofia blaugrana seguia mas que não levantava problemas com os pesos pesados do plantel. Vilanova abdicou do futebol original de Guardiola para transformar o seu 4-3-3 ou até 3-4-3 num 4-2-2-2, centralizando o jogo pelo corredor central para dar espaço a Fabregas e Alexis, as duas contratações milionárias do último ano do guardiolismo e que para ele tinham contado muito pouco. Com motivos.

Vilanova sofreu uma recaída do cancro que já o tinha afectado no ano anterior - como sucedeu com Abidal - e deixou no poder o responsável por compilar dvds para Guardiola. Percebeu-se que o poder era, de facto, dos jogadores e a queda abrupta da qualidade de jogo notou-se. Salva-se o génio de Messi, incapaz fisicamente de dar continuação ao seu brilhante arranque de época, no meio da hecatombe. Nem Xavi, nem Iniesta, nem Pedro, nem Villa, nem Fabregas, nem Alexis eram capazes de dar a cara. Depois de uma reviravolta polémica contra o AC Milan, e de um duelo com o PSG onde a equipa esteve perto de ser eliminada, salva no último momento pela aparição do argentino, o inevitável sucedeu. A derrota calamitosa contra o gigante alemão.

 

O Barcelona viveu da glória de há dois anos durante quase 700 dias.

A derrota contra o Real Madrid, na liga, e contra o Chelsea, na Champions League, foram o sinal mais evidente da mudança de ciclo. Contra o eterno rival a derrota surgiu, sobretudo, pela falta de regularidade no campeonato, culpa de uma defesa demasiado permeável. Contra os ingleses - clube que tinham eliminado de forma absolutamente vergonhosa três anos antes - foi a sorte favorável aos britânicos e o desnorte ofensivo de Messi que condenou o conjunto blaugrana. O projecto estava minado por dentro, Guardiola percebeu-o e saiu. Com a cabeça alta, apesar das derrotas. Como a um génio corresponde.

A directiva do clube escolheu o seu adjunto e este demonstrou ser incapaz de estar à altura da sua herança. Batido em todos os duelos directos com o Real Madrid, Vilanova foi um fantasma na eliminatória com o PSG e este ausente nos dois jogos com o Bayern. Tacticamente comprometeu a equipa blaugrana com o seu esquema conservador no Allianz, abdicando de um jogo mais aberto e ofensivo com Tello como titular. A derrota copiosa por 4-0 foi criticada por alguns dos habituais ultras da ideia blaugrana - sobretudo esses - pelo fora-de-jogo de Gomez, esquecendo-se dos penaltys que ficaram por marcar. Criticas que serviam para esconder a ausência de ideias futebolistas e a realidade mais negra para os adeptos do clube. Duas oportunidades de golo em todo o jogo, as duas dos pés do central Marc Bartra. Muito pouco.

O resultado era humilhante, a exibição de superioridade física, táctica e técnica dos alemães era ainda mais. Ribery, Robben, Muller, Gomez, Schweinsteiger e, sobretudo, Martinez - por quem o Barcelona não quis pagar 40 milhões para contratar Song no seu lugar - atropelaram por completo a máquina blaugrana. Para os que pensavam que era um acidente, o Bayern Munchen demonstrou que não. No Camp Nou a equipa saiu ao ataque - ao contrário de Inter e Chelsea, os anteriores carrascos do Barça - dispôs sempre das melhores ocasiões e voltou a golear. O Barcelona falhou algumas ocasiões mas nunca deu sensações de estar dentro da eliminatória. O plantel mais caro do mundo não tinha ideias. A sua estrela individual - responsável pelo título de liga com a sua maravilhosa sequência de golos - tinha sido um dos responsáveis da eliminação no ano anterior. Este ano uma lesão inoportuna impediu-o de fazer melhor. Cristiano Ronaldo, também lesionado, subiu ao relvado do Bernabeu. Messi nem se preocupou em forçar o corpo. A sensação de reviravolta era uma ilusão de adeptos não dos jogadores, conscientes de que tinham sido batidos no seu próprio jogo. Vilanova voltou a tropeçar com as tácticas, os bávaros demonstraram ser uma equipa completíssima e o inevitável sucedeu. Em 180 minutos o Barcelona não marcou qualquer golo. Não esteve sequer perto de o conseguir. Só Piqué acertou na baliza mas, lamentavelmente para o central que é uma sombra do que prometia ser, era a errada.

Em cinco anos o clube blaugrana venceu duas Champions League. Tantas como o Nottingham Forrest, o SL Benfica e Inter em duas temporadas. Muito longe dos registos de eficácia de Real Madrid, Ajax, Liverpool ou Bayern Munchen, por exemplo. O mito da possessão - estéril, se não é como arma de ataque - da magia dos construtores de jogo da selecção espanhola e de que uma ideia é capaz de vencer sem um treinador capaz e jogadores em forma caiu, definitivamente. Para o ano o projecto não será o mesmo. Haverá saídas, chegará Neymar para partilhar o protagonismo mediático com o astro argentino. Será um começar desde zero. Os milhões de que o clube dispõe, o seu historial e a qualidade individual de muitos dos seus jogadores, quando em plena forma, permitem legitimamente aos adeptos continuarem a sonhar com mais títulos. Mas este ciclo chegou ao fim. Em quatro anos o Bayern Munchen parte para a sua terceira final. São eles que querem agora consolidar o seu ciclo!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 21:50 | link do post | comentar | ver comentários (20)

Quarta-feira, 24.04.13

Em 2012 a imprensa salivou com a possibilidade de uma final da Champions League entre os maiores colossos mediáticos do futebol europeu. Nenhum chegou ao jogo decisivo. Um ano depois repetiu-se o cenário. E uma vez mais, parece altamente improvável que o cenário se repita. O festival orquestrado pelo Borussia de Dortmund expôs todas as fragilidades do jogo colectivo do Real Madrid. Vinte e quatro horas depois, o representante alemão aplicou quatro golos ao rival espanhol. O golo de Ronaldo dá aos adeptos merengues pouca esperança. Em Wembley começam a esperar uma invasão alemã.

No Westfallenstadion houve uma equipa. Uma grande equipa.

Como já tinha sucedido na fase de grupos, o Dortmund foi categoricamente superior a um rival sem jogo, sem individualidades, sem treinador. Jurgen Klopp soube nos últimos dias que ia perder as suas duas referências ofensivas. Encarou o fado como algo inevitável e exigiu-lhes compromisso. E eles responderam. Mario Gotze foi imenso. Sozinho, fez o que quis de Xabi Alonso e Sami Khedira, e marcou o ritmo do jogo dos alemães. Robert Lewandowski fez aquilo que só Ferenc Puskas foi capaz de fazer na história: marcar quatro golos nas últimas duas rondas do torneio. Quatro golos perfeitos, exemplos do seu maravilhoso reportório. O terceiro, um golpe de magia a lembrar o próprio dianteiro húngaro, acabou definitivamente com a resistência dos espanhóis. O primeiro foi um puro gesto de atacante curtido. O segundo espelho do seu instinto oportunista. O último, concretização de um penalty perfeitamente assinalado pelo holandês Bjorn Kuipers. Da arbitragem o Real Madrid não tem razões de queixa, bem pelo contrário. Tal como sucedeu com o Manchester United e o Galatasaray. Um penalty por marcar de Varane sobre Reus antecipou a confusão que permitiu ao Real Madrid empatar. Foi nos suspiros finais da primeira parte, cortesia do impecável Matt Hummells - já o tinha feito contra o Shaktar - concretizada por Cristiano Ronaldo.

O português foi o espelho da sua equipa. Marcou mas esteve muito longe do seu melhor. Á sua volta o panorama era ainda mais desolador. Gonzalo Higuain, Mezut Ozil e Luka Modric nunca entraram em jogo. Os seus substitutos, Benzema, Di Maria e Kaká, também não. Gastando fortunas o Real Madrid forjou uma equipa que parece ser incapaz de ultrapassar a barreira das meias-finais. Olhando para a formação e para o mercado centro-europeu, a contar cada cêntimo, o Dortmund montou uma equipa quase perfeita.

 

Klopp ganhou a batalha táctica quando condicionou, uma vez mais, o modelo de Mourinho.

O português colocou Modric ao lado de Alonso e entre os dois, como é habitual, houve uma confusão constante de missões e espaços. Ozil, atirado para o lado direito, desapareceu do jogo ao suspiro inicial. Nunca mais se voltou a ver. No meio, Gundogan. O médio centro emulou o papel de Javi Martinez, na véspera, e dominou o meio-campo com autoridade e classe. Há dois anos Nuri Sahin era o dono dessa posição e foi contratado pelo Real Madrid. Não funcionou na capital espanhola e hoje é suplente de mais um turco-alemão com muito futebol nos pés e, sobretudo, na cabeça. Através da sua visão de jogo, o Dortmund controlou o encontro. As diagonais dos extremos destroçaram os laterais espanhóis e Pepe foi incapaz de lidar com Lewandowski que soube sempre fugir do mais certeiro Varane para passear pela área do português, irreconhecível. A máquina alemã estava perfeitamente oleada. Todos sabiam o que tinham de fazer, todos sabiam a que ritmo jogar e nunca, em nenhum momento, se viveu uma sensação de igualdade.

Claro que o Real Madrid teve mais posse de bola, essa condição inequívoca para vencer com categoria um jogo de futebol. Mas raramente soube o que fazer com ela. O Dortmund ocupou todos os espaços onde se moviam os seus criativos. Deixou apenas Khedira livre. E isso significou um congestionamento no jogo ofensivo do rival. Com paciência, o Dortmund manteve o controlo do jogo deixando o rival jogar longe da sua área. Com cada recuperação de bola, os alemães demonstraram que também manejam o contra-golpe com a mesma eficácia que o projecto de Mourinho. O treinador português esteve no banco de suplentes mas nem se deu por isso. Tacticamente foi superado do primeiro ao último segundo do jogo. Apático, previsível, sem soluções, o Special One foi vulgarizado por um treinador alemão que tem no bolso a admiração de toda a Europa.

 

A matemática permite sempre sonhar e o Real Madrid foi um clube construído com reviravoltas históricas. Um 3-0 não é um resultado impossível mas contra uma equipa tão bem organizada e letal como o Dortmund parece algo absolutamente utópico. Tal como o seu eterno rival, o clube espanhol sofreu na pele a afirmação definitiva do futebol alemão como o novo farol do futebol europeu. Em Inglaterra esperam uma invasão alemã, um duelo entre duas escolas parecidas mas forjadas com meios distintos. Poucas finais em tempos recentes teriam o condão de colocar frente a frente dois projectos desportivos tão fascinantes.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 21:38 | link do post | comentar | ver comentários (9)

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