Quarta-feira, 15.01.14

Acabou a novela do Ballon D´Or. Felizmente. Lembro-me com nostalgia das segundas-feiras em que passava pelo quiosque e via a capa da France Football. Só aí sabia quem era o vencedor. Nos dias da internet era possível na véspera confirmar os rumores dos jogadores que eram apanhados na foto da capa. Nada mais. Agora vivemos um autêntico circo mediático com posturas tão afastadas que o prémio se transformou numa guerra. No meio de tudo isto Platini volta a demonstrar a sua habitual hipocrisia e oportunismo. Um dos melhores jogadores do Mundo, o actual presidente da FIFA é também um demagogo consumado e dono de uma memória muito, muito fraca.

Começamos esta viagem com um disclaimer. O meu Ballon D´Or teria ido para Franck Ribery.

Nem isso signifique que não ache o ano de Cristiano Ronaldo absolutamente brutal. Nem quer dizer que não considere a Lionel Messi um ET do futebol. Na minha cabeça o Ballon D´Or é outra coisa. Nem é um prémio para o maior goleador (para isso há a Bota de Ouro), nem é um prémio para o Melhor Jogador do Mundo (para isso está a História). É um prémio temporal (365 dias, para a FIFA com alguns trocos pelo meio) e reflecte o que um jogador faz num ano num determinado contexto. O contexto colectivo (títulos, exibições) e o contexto individual (a sua importância dentro dessa dinâmica, o seu valor e o que representa). Esse é para mim o que significa o Ballon D´Or. Não significa que eu esteja certo ou errado. Pura e simplesmente, se pudesse votar, fá-lo-ia debaixo desses princípios. E para mim Franck Ribery representa o que de melhor se viu em 2013.

Dito isto, naturalmente, não posso deixar de me alegrar por Cristiano Ronaldo. Apesar de estar numa equipa milionária o abismo que há entre si e os seguintes melhores jogadores é imenso. Por isso - e porque Mourinho e o balneário merengue cortaram relações mal a época começou - o português não ganhou nenhum título em 2013. O que não o impediu de marcar como nunca, assistir como nunca e transformar-se definitivamente na reencarnação de Alfredo di Stefano que o clube necessitava. Ronaldo merece ter dois Ballon D´Ors pelo o que tem feito nos últimos seis anos da sua carreira desportiva. O prémio assenta-lhe bem, como uma luva. Mas chegou um ano mais tarde. Já Messi, imenso como é, conseguiu terminar em segundo lugar num ano em que só jogou seis meses. É um hino à forma como o argentino capturou a imaginação colectiva. Mesmo quando não está ao seu melhor Messi dá a sensação de ser o melhor. Há poucos futebolistas na história que o podem proclamar. Vencer o quinto Ballon D´Or consecutivo num ano como este seria ridículo mas estar aí relembra a todos que será muito difícil que Messi não vença mais dois ou três prémios destes. Basta não estar lesionado e o Mundo votará nele por defeito. Sentem que é o melhor que há e que o prémio representa isso. Michel Platini pensa de outra maneira. De certa forma estou de acordo com as suas declarações. O problema é que Platini funciona por oportunismo. Tem todo o direito a defender o seu "protegée" como qualquer outro adepto, ainda sendo presidente da UEFA. O que não pode é dizer que o modelo mudou precisamente este ano. Porque mudou. E nem foi este ano nem o ano passado.

 

Desde a fusão com o FIFA Award que o Ballon D´Or perdeu a sua inocência.

Nenhum prémio é perfeito mas o modelo histórico do troféu da France Football, confesso, faz para mim mais sentido. A partir do momento em que se abriram as votações ao Mundo, o prémio descaracterizou-se e transfomou-se num concurso de popularidade entre os dois monstros da nossa era. Façam o que fizerem os restantes jogadores sabem que nos próximos cinco ou seis anos será difícil que alguém se intrometa entre Messi e Ronaldo. O brasileiro Neymar - que acabou num surpreendente, ou talvez não, quinto lugar - é o único com o mediatismo suficiente para ambicionar quebrar essa hegemonia. Nesse contexto os jogadores que fazem parte da coluna vertebral do prémio não têm sentido. Ribery, Iniesta, Xavi e Sneijder teriam sido premiados noutro modelo. Com este estão destinados a aplaudir.

Antes deles houve outros que sim foram celebrados. O modelo histórico do Ballon D´Or premiou a Raymond Kopa, a Josef Masopust, a Lev Yashin, a Florian Albert, a Dennis Law, Gerd Muller, Allen Simonsen, Oleg Blokhin, Kevin Keegan, Karl-Heinz Rummenige, Igor Belanov, Lothar Mathaus, Hristo Stoichkov, Pavel Nedved, Andrei Shevchenko ou Fabio Cannavaro. São todos maravilhosos jogadores. Maravilhosos. E em cada ano fizeram méritos para vencer. Mas se o modelo aplicado à época fosse o vigente, nunca teriam vencido e Zinedine Zidane, Ronaldinho, Ronaldo Nazário, Johan Cruyff, Franz Beckenbauer, Eusébio, George Best, Alfredo di Stefano teriam seguramente bastante mais prémios dos que conquistaram. Para que façam uma ideia, em comparação com os quatro de Messi os geniais Zidane e Ronaldinho tiveram apenas um. A diferença não é tão grande, pois não? E aí entra na equação Michel Platini.

O francês foi, provavelmente, o melhor jogador europeu da sua geração. Até 1995 os jornalistas da France Football não podiam votar a não-europeus, mesmo que jogassem na Europa. Em campo, Platoche media-se com Zico, Sócrates, Maradona e Francescoli mas quando chegava a hora de votar, estava só. Em 1983 venceu o seu primeiro de três Ballon´s D´Or consecutivos. Consecutivos. Sob a sua teoria, esses prémios teriam de ter sido referenciado com algo mais do que o seu talento e charme. Títulos. Títulos colectivos imagino porque foi esse o seu argumento de defesa de Ribery. Em 1985, quando venceu o prémio pela última vez, Platini foi campeão europeu com a Juventus. Confirma. No ano anterior, o francês levou o seu país a vencer a sua primeira competição internacional, o Euro 84. Confirma. E em 1983, o seu primeiro ano como premiado, que venceu Platini? Nada.

A memória de Michel é curta mas nós ajudamos. Nessa temporada, ao serviço da Juventus, o francês ganhou a Supertaça italiana. Mas ganhou-a em Agosto de 1982, fora do ano temporal de 1983 a que se correspondia a votação. Nessa temporada o título italiano foi para a AS Roma. E o europeu para o Hamburgo, depois de ter derrotado a sua Juventus na final. A Platini restou a compensação de ter ganho o prémio ao melhor marcador da Serie A com 19 golos. Nada mais. E na votação final, a sua vitória foi esmagadora. E não sobre um jogador do campeão europeu (Hamburgo) ou italiano (Roma). Atrás de si ficou Kenny Dalglish, um dos melhores jogadores que nunca venceu o troféu, e que tinha vencido algo esse ano: o título inglês. Em terceiro ficou Simonsen, que por então já jogava no Vejle dinamarquês. Não foi a primeira nem seria a última vez que um jogador sem títulos ganharia o Ballon D´Or. Sucedeu com Stanley Matthews (aí o prémio foi mais honorifico que real), com Dennis Law, com Luis Figo ou com Kevin Keegan. A fraca (e selectiva) memória de Platini serve para relembrar que o triunfo de Cristiano Ronaldo afinal não é tão atípico como isso. Afinal, em 2012, não foi o argentino Leo Messi que ganhou (de forma surpreendente) o mesmo troféu com "apenas" um novo recorde goleador num ano mas sem títulos colectivos. Um recorde que superou outro, de Gerd Muller que, quando o conseguiu, não foi recompensado com o mesmo prémio. Nessa época, para vencer o Ballon D´Or, era preciso algo distinto!

 

O Ballon D´Or é cada vez mais um circo mediático e um prémio fechado. Impensável o esquecimento a que foi votado o Borussia Dortmund e muitos dos jogadores do próprio Bayern Munchen. É também um prémio que, se fosse votado ainda só pelos jornalistas, teria ido para Ribery como no passado teria ido para Sneijder em 2010, por exemplo. Na votação final nem no pódio ficou. Não é um prémio que respeite, nos moldes actuais. Não é um prémio bem gerido, a variação nas votações este ano, os votos falsos no ano passado, dão bem conta disso. É um prémio binómio que dista muito da sua ideia original. A que sabia premiar a Cruyff, Charlton e van Basten mas também sabia reconhecer que outros grandes jogadores realizavam grandes temporadas. Tenho saudades dessas segundas-feiras de manhã, desse quiosque e de uma capa com a cara de Philip Lahm, mais surpreendido do que eu. Platini seguramente não tem nostalgia desses dias. Se tivesse, um dos seus troféus estaria agora em casa de Dalglish ou Magath. Poderia oferece-lo a Ribery. Em nome da coerência!

 



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Domingo, 05.01.14

Com a morte de Amália Rodrigues foi-se o Fado. O adeus da irmã Lúcia colocou um ponto final no mito humano de Fátima. Sobrava o terceiro F que definiu o sentimento português de um regime que se armou de ícones populares para sobreviver. Eusébio da Silva Ferreira encarnou esse F como nenhum outro jogador teria podido. Ele era o império, ele era o português humilde, ele era o super-herói. Ele foi, durante largas décadas, o Futebol. Há muito poucos - e contam-se com os dedos de uma mão - os jogadores que podem reclamar terem sido melhores, em campo, do que ele. Todos os outros, os seus iguais e os seus inferiores, sabem que hoje não morreu um Homem. Foi-se o Mito!

Não é preciso ser-se português ou moçambicano. Ter vivido o Mundial de 1966 em directo, ter assistido às épicas Noites Europeias via televisão ou rádio. Eusébio ultrapassou há muito a necessária condição de acompanhar em vida os méritos de um homem para fazer dele uma personagem mitológica. No dia em que deixou de jogar, depois de anos entre as Américas e modestos clubes portugueses, Eusébio já fazia parte da elite desse desporto que é muito mais do que um jogo de vida ou morte. Maradona, Pelé, Di Stefano, Cruyff? Talvez. Talvez eles tenham sido melhores, em traços gerais, do que Eusébio. Mas salvo "El Pibe", de outra geração, todos eles defrontaram a Pantera Negra em campo...e perderam.

Não há um só jogador que possa reclamar ser imensamente superior a um homem que marcou um antes e um depois na vida do futebol mundial. Ele foi o protótipo do jogador moderno. Atlético, com um físico preparado para as exigências do jogo malgre aquele joelho. Um jogador com um sentido posicional único, capaz de pressionar o rival para conseguir a sua oportunidade. Um jogador tacticamente culto e fisicamente inumano. As suas arrancadas épicas precederam as de Maradona. O seu disparo letal não tinha rival nos de Pelé. A forma como se movia em campo nada devia a Cruyff ou Di Stefano. A sua humildade ganhou-lhe o respeito e o carinho do mundo. Eusébio era inimitável.

Hoje em dia nenhum jogador seria capaz de fazer o que ele fazia. No mítico jogo contra a Coreia do Norte - e ainda hoje nenhum futebolista marcou 4 golos nuns quartos-de-final de um Mundial de futebol depois dele para operar uma reviravolta no marcador - foram precisos três entradas dos coreanos para o travar. Qualquer ídolo das massas de hoje teria ido ao chão na primeira das faltas sofridas. 

Por isso, pelo golo mítico contra a Checoslováquia na fase de apuramento, pelas exibições históricas não só na Luz mas também nas Antas, em Alvalade, no Bernabeu, em Paris, Amesterdam, Milãõ ou Turim, Eusébio era uma estrela global quando esse termo ainda não fazia todo o sentido.

 

Eusébio encarnou sempre tudo aquilo que o futebol tinha de positivo.

Era competitivo, um apaixonado do seu clube (algo que os adeptos dos clubes rivais, em vez de criticarem deveriam admirar, provavelmente porque gostariam que ele tivesse professado a mesma devoção à sua equipa) mas também era humilde, com um sentimento de fair play único e, sobretudo, era um entre muitos. Nunca se transformou na estrela solitária e pretensiosa em que acabaram os da sua condição. Di Stefano governava com chicote o balneário do Bernabeu. Pelé transformou-se com o tempo numa máquina de fazer dinheiro e Cruyff e Maradona criaram personas bigger than life. Tal como o seu rival e amigo Charlton, a simplicidade era o seu traço.

Venceu um Ballon D´Or - essa obsessão moderna - e ficou a um ponto de vencer um segundo no ano em que brilhou no Mundial de Inglaterra, algo impensável se fosse outro jogador qualquer. Venceu uma Taça dos Campeões e podia ter vencido outras três, finais perdidas em que deu tudo o que tinha para dar. A nível nacional era impossível acompanhar os seus registos, a sua ferocidade. Era um jogador de outra dimensão e permitiu ao Benfica - que o logrou reter com a cumplicidade de um Estado Novo que viu nele a esperança de se eternizar no poder com o beneplácito do povo - protagonizar a etapa mais brilhante da sua história. Os "ses" não nos permitem se não sonhar o que teria sido o seu impacto mundial se tivesse actuado em Inglaterra, Itália ou Espanha. Que tenha sido capaz de fazer-se mito vestindo apenas a camisola das Águias é testemunho da sua grandeza.

Não vale a pena falar dos números, dos momentos marcantes, dos títulos conquistados. O debate sobre se é ou não o melhor português de todos os tempos também não faz sentido. Foi o produto de uma era, o melhor de uma geração de génios que fizeram das equipas portuguesas uma das linhas avançadas da época dourada das noites europeias. A memória é hoje a única coisa que conta. Cada português, cada amante do futebol terá a sua. Os benfiquistas perderam um pai espiritual. Os adeptos dos rivais uma "besta negra" que muitos, no entanto, respeitaram pelo seu valor individual. Os que não talvez gostem mais do seu clube do que de futebol. Lá fora o Mundial de 66 não se esqueceu provando que não é preciso vencer para conquistar o troféu mais importante de todos: o respeito dos teus.

 

Eusébio era o meu jogador preferido quando era pequeno. E no entanto nunca o vi jogar. Não era necessário. Também não fazia falta que fosse do meu clube ou que eu tivesse sido um seguidor apaixonado da equipa das Quinas. Para mim era como Maradona ou Cruyff, jogadores que valem pelo que são, pelo o que nos fazem sentir e pelo que conseguem transmitir, como se tivessem sido os primeiros a lograr algo. Talvez não seja verdade, o tempo ensinou-me que houve outros pibes, génios centro-europeus e pérolas negras antes deles. Mas Eusébio para mim será sempre um dos poucos nomes deste jogo capaz de me evocar sensações únicas. Isso é talvez o mais importante. A morte de um mito custa sempre a aceitar, coloca toda a nossa vida em perspectiva. Onde estavas, o que fazias quando soubeste. Mas quando passa o choque, há uma sensação de paz interior que fica. O mito já era mito antes de partir. E continuará a sê-lo depois. Eternamente, como a própria magia do jogo sem o qual não sei viver!



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Quarta-feira, 20.03.13

José Mourinho quebrou o seu silêncio selectivo para dar uma entrevista à RTP que é como quem dá a possibilidade aos amigos de lucrarem com palavras que semana atrás semana se recusa a prenunciar onde deve, na sala de conferências de imprensa do clube que lhe paga 12 milhões de euros ao ano. E fê-lo para, entre outras coisas, denunciar a corrupção que está por detrás do Ballon D´Or. O mesmo prémio que em 2010, quando venceu a primeira edição, não pareceu ter nenhum problema. O mesmo prémio que, ano após ano, treinadores, jogadores, jornalistas e público em geral se sentem determinados a dar uma importância que, no fundo, não tem.

Vicente del Bosque venceu o Ballon D´Or ao Melhor Treinador de 2012.

Ganhou-o com mais de 10% dos votos do segundo, José Mourinho, o vencedor inaugural do prémio e 29% mais do que Josep Guardiola, a quem sucedeu no palmarés. Venceu-o com o voto maioritário de seleccionadores e jornalistas, mas não dos capitães que preferiram a figura de Mourinho. A gala foi a 7 de Janeiro de 2013. Mais de dois meses depois aparece Mourinho, qual vencido despeitado, anunciando que foi o seu conhecimento da existência de fraude nas votações que o levou a não marcar presença na gala (ao contrário de Cristiano Ronaldo, também português, também do Real Madrid, também segundo nas votações). Está no seu direito.

Os factos parecem dar-lhe razão. Paulo Duarte, seu velho amigo e antigo jogador nos seus tempos de técnico da União de Leiria, confessou que não teve oportunidade de votar porque o formulário lhe chegou para lá da data limite de voto. Uma situação comum a países como a Guiné-Bissau ou Costa de Marfim, nações que, a julgar pelo lido, votariam em Mourinho para vencer o prémio. O técnico português fala ainda de personalidades que lhe terão ligado falando na existência de boletins de voto alterados. Uma vez mais, os seleccionadores da Zâmbia e Zimbabwe queixaram-se na imprensa local que os nomes que aparecem na lista oficial da FIFA não se correspondem com as suas votações, um deles referindo até que nunca chegou a ver o formulário de foto e que alguém terá votado por ele.

Curiosamente, os amigos de Mourinho permanecem em silêncio e seguramente continuarão calados porque comprar uma guerra contra a FIFA é, habitualmente, meio caminho para ter uma carreira curta e sem grandes oportunidades. A velha raposa chamada Blatter raramente esquece estes insultos à sua honra, se é que lhe sobra alguma para mostrar ao público depois de todos os escândalos dos últimos quinze anos de presidência. Parece ser perfeitamente possível dizer que houve irregularidades e fraude nas votações do Ballon D´Or. E quê?

 

O que mais supreende - ou talvez não - nas declarações de José Mourinho é a sua percepção que os erros acontecem exclusivamente no ano em que perde.

Em 2010, quando venceu o prémio - também contra Del Bosque, então recém-consagrado campeão do Mundo pela selecção espanhola - o técnico português subiu exaltante ao palco, celebrou, dedicou o prémio e nunca se lembrou de rever a lista de votações para confirmar se faltava algum país, não fossem eles ter votado noutro técnico. Como tantas vezes sucede nas acusações aos comités de arbitragem, as palavras surgiram apenas depois de uma derrota. Não lhe retira a razão mas sim a moral de falar quando, nos momentos de glória, tudo fica guardado num baú e escondido debaixo da cama para não chamar à atenção.

Parece-me claro que um prémio com estas caracteristicas tem tudo para ser alvo de fraude. Nada resta já do velho Ballon D´Or, um prémio de glamour mais do que reconhecimento real de talento. Ao abrir as votações, muito democraticamente, a todos os capitães, seleccionadores e correspondentes da France Football do mundo, a FIFA abre também a caixa de pandora. Em países onde a corrupção está oficialmente instalada, seguramente que os votos podiam ser comprados facilmente. Em estados que seguem apenas os máximos eventos desportivos, naturalmente que a votação está condicionada aos nomes mais emblemáticos. Na Etiópia, onde a Premier é seguida com devoção, Roberto Mancini coleccionou vários pontos que não se repetiram em nenhum outro país. Nos países hispânicos e lusófonos o índice de sucesso de Messi e Ronaldo foi proporcional à influência cultural de cada um e o seleccionador espanhol, perdão, chinês, não teve problemas em votar em dois técnicos e três jogadores do seu país referindo-se ao jornal Marca como algo normal porque há sempre que votar nos seus.

O que nos leva a perguntar sobre o valor real que possa ter um prémio que se transformou num concurso de popularidade nos últimos três anos, um concurso fechado nos nomes mais simbólicos do futebol internacional, distante da ideologia inicial de um prémio que não teve problemas em celebrar os êxitos de Sivori, Masopust, Albert, Blokhin, Simonsen, Belanov, Owen e Cannavaro quando havia jogadores muito mais completos em activo, os mesmos que hoje estão destinados a vencer como condição sine qua non. O Ballon D´Or deixou de ter o prestigio e o respeito de quem via algo original e distinto na atribuição do prémio da France Football, consciente que num desporto colectivo a entronização pessoal faz sempre pouco sentido.

 

As queixas de Mourinho deixam-no, uma vez mais, nú e só ante uma das máximas entidades do jogo. Depois de ter desafiado a UEFA com a sua lista de erros arbitrais, agora o técnico português lança um dardo envenenado à FIFA a propósito do seu prémio mediático comprado a peso de ouro à família L´Equipe-France Football. O treinador do Real Madrid pode perfeitamente queixar-se em ambos os casos, até porque os momentos concretos arbitrais que cita, bem com os erros nas votações, são reais. Mas esquecer-se das mesmas particularidades quando saiu vencedor, tanto em provas europeias (Old Trafford, 2004; San Siro, 2010; quem sabe se Old Trafford, 2013 também) como na atribuição do primeiro Ballon D´Or ao melhor técnico da história apenas deixam reflectida uma pálida e triste imagem de um treinador genial consumido cada vez mais pela sombra da sua própria persona.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:41 | link do post | comentar | ver comentários (22)

Segunda-feira, 07.01.13

Poucos prémios têm o condão de atrair tanta atenção pública como o Ballon D´Or. E tão poucos se têm transformado num circo de variedades nos últimos anos como o Ballon D´Or. O quarto triunfo consecutivo de Lionel Messi não discute o seu génio. Pelé e Maradona não precisaram de 4 Ballons D´Or para ser considerados os melhores de sempre. Messi também não precisa. Ele está há muito nesse olimpo de génios e por muitos troféus individuais que ganhe, eles não o vão fazer melhor jogador. Mas vão torná-lo um eucalipto, a última coisa que o futebol e este prémio precisam.

 

Quem precisa de um prémio individual num jogo colectivo para consagrar um jogador precisa, sobretudo, de ver mais futebol.

Quando apareceu pela primeira vez na ribalta, em 2006, Lionel Messi já deixava antever que era um jogador especial. Cresceu no melhor sistema de formação do Mundo, foi tratado e mimado como poucas promessas da história do futebol e aprendeu em loco com um jogador que podia ter ido tão longe como ele se tivesse tido a cabeça necessária, Ronaldinho. Quando chegou Guardiola, Messi estava preparado para tomar de assalto o futebol Mundial. E fê-lo com estilo, com classe e com malabarismos que poucos tinham visto.

Messi tem um pouco de quase todos os grandes jogadores da história.

A finta de Garrincha, a mobilidade de Di Stefano, o faro goleador de Pelé, o espirito potrero de Maradona e a mudança de velocidade de Cruyff. Parece feito por encomenda. Ao contrário deste quinteto irrepetível, conseguiu prolongar nos anos a sua carreira fruto ao trabalho de um clube que o soube rodear de um grupo de génios especializados em não aparecer. Di Stefano rivalizou com Puskas e Pelé com Garrincha, mas Messi sabe que dentro da mesma equipa não há rival. 

Os demais jogam, à consciência, para ele e não há nenhum drama nisso. Quando tens um dos melhores jogadores da história na tua equipa, aproveita-o. Mas o génio de Messi supera, por muito, a necessidade de vencer, ano após ano o prémio Ballon D´Or. 

Porque nem o prémio foi criado para premiar o melhor jogador do Mundo, nem lhe faz bem atribuir, ano após ano (e sempre com considerável diferença pontual) o troféu. Não que não seja merecedor, o seu génio é o seu melhor cartão de visita. Mas porque antes dele todos os grandes, todos os gigantes, e Messi não é o único, partilharam os seus triunfos como uma forma, inclusive, de se fazerem ainda mais grandes.

A história faz-se de heróis individuais e, sobretudo, de disputas icónicas. É assim em todos os desportos e mesmo naqueles em que houve hegemonias claras, sempre se encontrou espaço para a concorrência. Era bom para o negócio, era bom para o ego e era mais de acordo com a realidade. Porque Lionel Messi pode ser o melhor jogador individual do Mundo mas não foi o melhor jogador individual em 2012 e as duas coisas, por muito estranho que pareçam, não são sinónimos.

 

O palmarés do Ballon D´Or está repleto de exemplos que explicam bem esta realidade.

Zinedine Zidane venceu apenas uma vez e durante quase uma década foi considerado o melhor do Mundo. No seu "mandato", venceram o prémio  aqueles que brilharam mais num ano em concreto, de Nedved a Ronaldo, de Figo a Rivaldo. Ninguém discute que hoje é Zizou quem está no top da história e que não foram precisos vencer de forma consecutiva vários prémios para o reclamar. O mesmo podemos dizer de Ronaldinho (venceu apenas uma vez), de Beckenbauer e Cruyff (que dividiram entre si cinco prémios, em seis anos) ou da década de 60, onde nenhum jogador repetiu o triunfo apesar de todos saberem que Eusébio e George Best - entre os nomeáveis - estavam um furo por cima de Masopoust, Albert, Law ou Suarez.

O Ballon D´Or tornou-se popular porque premiava os feitos de um ano. Da mesma forma que os Óscares premeiam uma performance em concreto  (Brando venceu dois, em 1954 e 1972, e ninguém quer saber quem ganhou os que estavam pelo meio), os Grammys um trabalho musical, os Ballon D´Or premiavam temporadas. Um génio podia ter um mau ano, o melhor podia ser superado numa época em concreto e os títulos colectivos, a natureza do futebol, contavam e muito porque no fundo, apesar de tudo, é isso que um jogador profissional quer ganhar.

Messi podia perfeitamente vencer estes quatro e mais quatro, que não terão muita discussão. Mas é legitimo pensar que em 2010 não foi o seu ano. Falhou nos momentos decisivos da temporada, onde mais se exige aos maiores. Não é um drama, é uma realidade. O mesmo sucedeu este ano. Em ambos os anos a legião espanhola (Xavi, Iniesta, Casillas) merecia ter tido outro tipo de reconhecimento e o talento individual e brilhante de um ano (como teve Sneijder em 2010 e Ronaldo e Falcao em 2012) superou em 365 dias o seu génio individual mais consensual.

Mas a metamorfose do Ballon D´Or num prémio da FIFA tem destas coisas.

Em 2010 os votos dos jornalistas dariam o prémio a Sneijder mas na votação juntaram-se os capitães, jornalistas e seleccionadores de todo o Mundo, do Vanuatu à Guiné Conacrky, de St. Nevis and Ketis às ilhas Samoa. E isso, forçosamente, transformou o prémio num concurso de popularidade. E não há ninguém mais popular do que o argentino. Nem ninguém mais impopular que Ronaldo. Nem ninguém com mais low profile do que Xavi e Iniesta. E assim sendo, é fácil prever que este cenário se vai repetir até que algo mude a própria carreira do argentino. E o Ballon D´Or vai perder, progressivamente, o glamour e importância que chegou a ter.

 

No final de tudo, o mais triste destes prémios, não está nos aplausos aos vencedores mas na atitude de muitos adeptos que celebram mais uma derrota do que uma vitória. É um velho mal do ser humano, do adepto que prefere ver o rival perder a ver os seus ganhar. A internet voltou a encher-se de imagens de um estóico Cristiano Ronaldo, que esteve correctíssimo em toda a gala (ao contrário do que passou noutros casos). É caso para pensar que se o prémio já é um concurso de popularidade neste modelo, se fosse aberto ao público podia tornar-se num verdadeiro MTV Awards em versão Star Wars. Já há um Jedi branco e um Darth Vader negro. E em todas as grandes rivalidades - e houve-as mais intensas, provocativas e brutais do que esta - uma vez as pessoas esquecem-se que quando dois chegam a um determinado nível, acabam por se alimentar mutuamente. Quando se vive só, como um eucalipto, a tendência natural é para o empequenicmento. Messi é imenso porque sabe que joga contra outro jogador tremendo da mesma forma que Senna e Prost superaram limites para superar-se um ao outro, que Borg e McEnroe treinavam com mais afinco para se baterem um ao outro e Johnson e Bird sabiam respeitar-se mutuamente quando subiam ao campo. Ás vezes a memória e os arquivos ajudam a perceber as muitas realidades de um só dia. 

 

PS: Superlativo o prémio a Vicente del Bosque, um excelente treinador, com um curriculum espantosa e uma figura das que fazem muita falta ao circo mediático que rodeia o jogo. A nomeação de Guardiola, no entanto, acaba por espelhar a mesma realidade que atrás explico. Num ano em que Prandelli, Klopp, Di Mateo ou Simeone superaram-se de uma maneira brutal, o politicamente correcto para os votantes do mundo é escolher o profeta da nova era. Guardiola pode até ser, como Messi, o melhor treinador em actividade (ainda que suspensa), mas em 2012 não foi de longe o seu ano.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 19:09 | link do post | comentar | ver comentários (9)

Quinta-feira, 24.05.12

O Barcelona de Josep Guardiola marcou 114 golos. Sofreu 29. Atingiu a marca de 91 pontos em 114 possíveis. Contou com o prémio Zamora e o Pichichi da prova, Valdés e Messi. E mesmo assim perdeu o que seria o seu quarto titulo consecutivo. No meio destes números que fariam histórica em qualquer edição de qualquer campeonato do mundo é possível apreciar melhor o duelo de titãs que mediu o conjunto blaugrana com o Real Madrid de José Mourinho, o campeão mais espantoso em números da história do futebol espanhol.

 

Ao clube de Guardiola só faltou superar o seu recorde de pontos. Tontos os outros recordes foram superados com uma claridade assustadora.

E no entanto perdeu. Perdeu antes do final, com três jogos para o final da época. Perdeu em casa, no jogo decisivo. E perdeu a liga, essencialmente, quando concedeu ao Real Madrid uma renda de dez pontos depois de uma série histórica de péssimas exibições longe do Camp Nou, estádio onde foi dono e senhor até que apareceu Cristiano Ronaldo para por calma.

Nesse Barcelona-Real Madrid decidiu-se o titulo de forma oficiosa porque o Real Madrid já tinha meia liga no bolso. Um arranque de época com alguns resultados tremidos, uma série espantosa de vitórias que acabou na habitual derrota contra o Barcelona e um Inverno com resultados sofridos mas vitoriosos. Quando o clube merengue perdeu a vantagem de dez pontos era tarde para um Barcelona que em casa foi inigualável, fora foi irreconhecível e que viveu demasiado da dependência goleadora de Leo Messi. O triunfo no Calderon, com selo de Ronaldo, selou um titulo que a partir daí ficou sentenciado e o seu golo em Barcelona apenas pôs o preto no branco final. 121 golos (14 mais que o recorde histórico), 100 pontos (um mais que o recorde do Pep Team) e alguns problemas a controlar a maioria dos jogos que acabou por vencer com goleadas que resultavam mais do génio do seu trio de goleadores do que da capacidade para asfixiar o adversário.

  

Nesse duelo estético o Barcelona, mais espesso que outros anos, continua a ser o preferido da maioria face ao jogo de transição rápida que Mourinho imprimou com mais eficácia ofensiva do que nunca, depois de ter provado a mesma receita em Itália e Inglaterra. Confirmou o seu quarto titulo em países distintos, lançou as bases para um projecto que tem futuro e ambiciona a palcos maiores. Do outro lado, Guardiola despediu-se num ano em que falhou os dois principais titulos e, sobretudo, mostrou-se incapaz de encontrar a solução para ultrapassar rivais que contrariaram o jogo do Barcelona com um posicionamento defensivo central e numeroso. Nesses tropeções ficou a possibilidade de igular a Cruyff e de sair de Camp Nou com mais história ás costas.

 

 

A Liga espanhola continua a viver das rendas emocionantes que geram cada duelo entre blaugranas e merengues.

Do outro lado o sofrimento do Racing Santander e Sporting Gijon, históricos do norte que seguramente darão lugar a históricos galegos, mas sobretudo o de Villareal. Se há largos anos o Celta de Vigo caiu na segunda divisão depois de ter arrancado a época na Champions League, a má preparação da época, a lesão de Rossi e a orfandade de Cazorla custou demasiado a uma equipa que no ano passado esteve nas meias-finais da Europe League e no quarto posto de liga. Um projecto de futuro com muitas interrogações presentes.

Do outro lado a euforia de um Levante espantoso, de um Malaga que subiu aos postos dourados graças à milionária inversão de um xeque árabe e à boa gestão do mal-amado Pellegrini para contrarrestar o cinzentismo de um Valencia eternamente insatisfeito com ser o primeiro dos últimos, de um Atlético de Madrid destinado outra vez a lutar pela Europe League e de Sevilla e Bilbao que terminaram o ano muito por debaixo das expectativas. Ossasuna e Mallorca terminaram o ano com a cabeça bem alta, Rayo Vallecano e Granada sofreram mais da conta e um ano mais o Zaragoza demonstrou que é um sobrevivente nato nestas maratonas ligueiras.

 

O ano que começou com uma greve de jogadores, que continuou com o boicote ás rádios por parte da liga e que terminou com as enésimas acusações de compra de jogos por alguns clubes termina com números que seriam provavelmente irrepetíveis se não soubessemos que para o ano voltam a medir-se duas equipas com um arsenal de estrelas impressionante, muito dinheiro para gastar e um set de rivais que não sabe como apresentar uma alternativa a este duopólio histórico.  

 

 

Jogador do Ano

Cristiano Ronaldo

 

Perdeu o Pichichi para Leo Messi depois de um duelo de loucos que rondou a casa dos 50 golos. Mas este foi o seu ano, apesar de tudo. O ano em que mandou acalmar o Camp Nou, estádio maldito durante largas épocas, onde era acusado de nunca aparecer. Logrou-o na Supertaça, na Copa del Rey e decidiu, com um golo desenhado por Ozil, o campeonato diante do seu eterno rival. Antes tinha ganho sozinho o jogo mais importante do ano, no Calderon, e assinou durante a temporada cinco golos para a colecção de qualquer top 100 da história, do calcanhar de Vallecas à metrelhadora de Pamplona. Menos egoista, mais participativo no jogo colectivo, emergiu definitivamente como lider moral do ataque do Real Madrid. Não falhou um só jogo, raramente desapareceu de cena e decidiu-se a marcar os golos decisivos da temporada. Depois de ter sido rei em Inglaterra, Cristiano Ronaldo finalmente sagrou-se rei em Espanha.

 

 

Revelação do Ano

Isco

 

Manuel Pellegrini encontrou esta pérola formada na cantera do Valencia e solicitou-a expressamente para o seu projecto. Foi uma aposta a longo prazo com resultados imediatos. O jovem médio ofensivo malaguenho foi um dos grandes atractivos do "Euro-Malaga". Face à escassez de golos e magia no ataque dos andaluzes durante algumas jornadas, Isco encontrou o seu espaço e tornou-se rapidamente no parceiro ideal de Cazorla e Joaquin na linha medular do ataque do Malaga. O seu futuro na selecção espanhola é algo inevitável a curto prazo e a sua projecção não parece, de momento, conhecer limites. 

 

Onze do Ano

 

Seria possível fazer um Onze do Ano só com jogadores dos dois primeiros classificados. Possível, inevitável e lógico. Mas como todos sabem de memória esse onze o curioso é descobrir uma equipa alternativa sem blaugranas e merengues. Nas redes Thibaut Courtois, guardião belga do Atlético de Madrid. Um quarteto defensivo composto por Ballesteros, capitão veteranissimo do Levante, o médio adaptado Javi Martinez do Bilbao, e os laterais Jordi Alba e Juanfran

 

O meio-campo a três seria composto por Santi Cazorla, lider espiritual de um Málaga histórico. O asturiano seria acompanhado por Ander Herrera e Barkero, todo-terreno do Levante. No trio de ataque os golos de Koné, dianteiro levantino, de Radamel Falcao, herói do Calderon e de Fernando Llorente, o rei leão de Bilbao.

 

Treinador do Ano

Juan Ignacio Martinez

 

Imaginem uma equipa que há dois anos não tinha dinheiro para pagar o salário do plantel e corpo directivo e estava às portas da falência absoluta? Agora avancem no tempo e encontrem-na a disputar a Champions League. Podia ter acontecido, faltou muito pouco para o Levante ter assegurado a presença no play-off da prova rainha do futebol europeu depois de ter sofrido uma crise financeira tremenda. O homem responsável pelo renascimento do clube valenciano, Juan Ignacio Martinez, JIM na giria futebolistica espanhola, foi o grande responsável pela época tremenda de uma equipa que bateu o Real Madrid, dormiu quase todos os anos em postos Champions e pela primeira vez em 102 anos carimbou a passagem ás provas europeias.



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Quarta-feira, 21.03.12

De Messi o mais simples que se pode dizer é que é um jogador consensual. Poucos na história lograram ter tanta gente rendida aos seus pés ao mesmo tempo. O recorde logrado na passada noite é apenas um detalhe na sua longa e espantosa biografia como futebolista. Aos 24 anos Messi bateu todos os recordes de precocidade e a esmagadora maioria dos registos de absoluta maturidade. A forma como o mundo do futebol se rende facilmente aos seus pés explica também o seu impacto social e a dura herança que deixará a um Barcelona habituado a estrelas cadentes.

César tinha o recorde e a César o que é de César.

Mas nem nessa maravilhosa equipa das "Cinc Copes", talvez uma das maiores da história do jogo, César era a estrela da companhia, o icone que todos pretendiam emular. Os seus números (232 golos) eram de um goleador nato, de um Dixie Dean á espanhola, mas nem Dean nem César nem Pichichi simbolizam uma era. Messi sim.

O Barcelona está habituado a ter nas suas filas a jogadores de elite. Dois dos quatro ases de poker da história do jogo (Cruyff e Maradona), os dois mais espantosos jogadores das últimas duas décadas (Ronaldo e Ronaldinho) e um leque de glórias que começam nessa equipa de César com o hungaro Kubala e que terminam no jovem argentino. Pelo meio Suarez, Liniker, Laudrup, Stoichkov, Romário, Guardiola, Figo, Rivaldo, Etoo, Xavi ou Iniesta ajudam a entender o nível de classe técnica e talento a que o Camp Nou se habituou nas últimas cinco décadas. E no entanto nenhum desses jogadores conseguiu alguma vez recolher a unanimidade de Lionel Messi. Esse é, sobretudo, o seu grande triunfo.

Pelé foi talvez o único futebolista da história incontestado. Pelo seu aparecimento precoce e espantoso e pela forma como construiu do nada uma equipa que se tornou símbolo de magia e qualidade durante todos os anos 60 até á sua despedida dos grandes palcos com o mais memorável Mundial de que há memória. Por essa época passaram Garrincha, Eusébio, Rivera, Charlton, Best, Fachetti, um precoce Beckenbauer, um veterano Di Stefano e nunca ninguém se lembrou de questionar a supremacia de Edson Arantes de Nascimento. Cinquenta anos depois sucede um fenómeno similar. Excepto os mais acérrimos defensores de Cristiano Ronaldo, a maioria dos adeptos reconhece que o estado de graça de Messi nos últimos quatro ou três anos tem sido espantoso. Não é a primeira vez que um jogador se mantém no mais alto durante tanto tempo, Di Stefano, Cruyff, Beckenbauer e Platini que o digam. Mas quem se lembra disso? Na era moderna, na era global, o mundo habituado a estrelas cadentes surpreende-se com algo que dura mais do que um nano-segundo. Muitos ainda olham de lado para o génio de Ronaldo, Zidane ou Ronaldinho porque, pelo paradigma contemporâneo, sempre parece uma memória efémera. Messi repete-se a si mesmo semana sim semana também, marca golos com a facilidade de um matador, gera jogo com a perspicácia de um playmaker e quando o Barcelona mais débil da era Guardiola se parece afundar, o argentino sai ao seu resgate. Este ano, mais do que nenhum outro, o Barça deve-se a Messi mais do que Messi se deve á espantosa orquestra montada á sua volta.

 

De Messi já se disse muito e pouco ficará sempre por dizer. 

Os titulos somam-se no final da carreira e se as suas três Champions (a primeira como elemento secundário, é preciso relembrar) empalidecem ainda com as cinco de Di Stefano a verdade é que o recorde de Cruyff, Beckenbauer e van Basten já foi igualado. Os prémios individuais, essencialmente o prestigioso Ballon D´Or, colocaram-no lado a lado com Platini e Cruyff e a partir de agora será fácil que a história pende para o seu lado. E no entanto Messi, esse símbolo de uma cultura futebolística que se transformou de contra-cultura a espelho dominante, tem aquilo que nenhum outro grande clássico do passado teve. Uma Némesis á sua verdadeira altura.

O futebol está habituado a reinados curtos mas de uma só personalidade. Durante esse breve ocaso uma estrela brilha de uma forma incontestável enquanto lá em baixo, no firmamento, outras tentam imitar sem sucesso os mais grandes. Mas os números espantosos de Messi encontram-se todas as semanas com os números não igualmente depreciáveis de Cristiano Ronaldo. O português perde em relação ao argentino sobretudo em três apartados que, no final, vão ser suficientes para criar uma imagem de eterno segundo que muitas vezes é tremendamente injusta.

Ronaldo, ao contrário de Messi, vai no seu terceiro clube em sete anos. O recorde de César é possível para quem cresceu e fez-se génio na melhor versão histórica de um clube, onde uma orquestra de génios (primeiro Ronaldinho, Deco e Etoo, depois Xavi, Iniesta, Henry, Alves, Pedro, Fabregas e Villa) permitiu o seu aperfeiçoamento. Ronaldo poderia, se tivesse tido a perspicácia mental, repetir esse feito de Red Devil. Mas a ambição pode mais que a razão e em Madrid o seu nome será sempre comparado com Di Stefano e isso são palavras maiores para qualquer um. E no entanto o português hoje pode fazer o seu 100 golo em Liga com o Real Madrid, em apenas duas épocas e meia. Uma média de um golo por jogo é o seu registo actual no clube e isso sem ter atrás de si estrelas tão brilhantes e (sobretudo) regulares como as do seu rival. Se a Cristiano lhe perde essa comparativa entre cantera vs dinheiro e sentido de pertença vs arrivismo, é sobretudo o caracter do português que lhe faz perder a luta mediática onde se decide a história. Messi vive também dos seus silencios, geridos habilmente pelo clube, e longe de ser um simbolo mediático como foi Pelé o Di Stefano, um profeta como Cruyff, um rebelde como Maradona é, sobretudo, um triunfo do anonimato. Naturalmente que os seus rendimentos publicitários falam de alguém preparado a sacar até ao último euro do seu mediatismo mas a incapacidade de brilhar fora de campo com a palavra como o faz dentro com o pé transforma-o num ser que não ameaça ninguém e que, por efeito oposto, se torna facilmente atractivo. A sua unanimidade ganha-se, sobretudo, com a capacidade que tem o argentino de não gerar anticorpos. Quando cospe em rivais, dispara a bola contra adeptos, protesta sobre a independência arbitral ou é assobiado na sua pátria o enfoque é ligeiro e rapidamente substituído por vídeos das suas eternas e perfeitas diabruras. A máquina propagandística que o Barcelona tão bem sabe levar e que capturou a atenção de mais de meio mundo transformou-se no melhor exercido de relações públicas que um atleta pode querer. O perfil de Ronaldo é mais conflictuoso porque simboliza o novo-riquismo do jogo que os mais românticos desprezam. Para esses, os logros de uma máquina física, como muitos o apelidam, nunca poderão ter o mesmo valor que os de um jogador feito na rua contra todas as adversidades do corpo humano.

 

A história do desporto fez-se sempre de grandes duelos. César é um nome que evoca um passado brilhante mas cujo o registo goleador pertence a outra era, outra simbologia. Messi, por outro lado, ambiciona ir mais além, talvez os 1000 golos de Pelé e sobretudo causar nos adeptos as mesmas sensações que Maradona, Di Stefano ou Cruyff lograram. Mas para ser o herói deste filme tanto o jogador como o clube que o transformou sabem que qualquer história precisa de um vilão. Ali e Frazier apenas combateram um par de vezes. Borg e McEnroe não disputaram tantas finais como a memória nos faz lembrar e mesmo Prost e Senna foram rivais apenas por um triénio em que dispuseram de armas similares. No desporto-rei esse duelo nunca existiu realmente porque nunca dois jogadores estiveram simultaneamente ao máximo das suas capacidades. O resultado final parece importar pouco porque o Mundo já decidiu quem ganhou á partida mas a contenda vai prolongar-se e continuar a entusiasmar os mais apaixonados adeptos. O génio superlativo de Lionel Messi existe por si só mas ganha ainda mais valor quando se relembra, semana atrás semana, contra quem se mede.



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Terça-feira, 10.01.12

O Ballon D´Or é um abrumador banho ao ego. Qualquer prémio individual num desporto colectivo acaba por sê-lo, seja por factos objectivos (golos, assistências, defesas) seja pela opinião alheia. Em Barcelona, talvez a equipa mais coral da história, sobrevive apenas um ego. O que sobe ao estrado para recolher a nome individual o prémio que Guardiola insiste no balneário que é de todos. Como Platini antes dele, Lionel Messi é o rosto do valor colectivo e o espelho de uma era.

 

Muitas criticas receberam os directivos da publicação France Football quando Michel Platini foi fotografado com o seu terceiro Ballon D´Or consecutivo. Apesar de ser indesmentível que o francês era, por direito próprio, o jogador da sua época, muitos apontavam o dedo ao favoritismo nacionalista da publicação (afinal ele era o orgulho francês) e a falta de critério num prémio que não se decidia sobre se votavam no melhor ou no que fosse o protagonista principal do melhor ano. Platini tinha vencido nessa época (1985) a sua única Taça dos Campeões Europeus, onde apontou o golo decisivo nessa tarde para nunca esquecer em Bruxelas, por outros e muito mais sérios motivos. No ano anterior tinha sido a vitória superlativa no Europeu a justificar a atribuição do galardão. E em 1983, quando abriu a sua série, ficou no ar a ideia de que, simplesmente, era uma compensação por ter perdido o prémio no ano anterior para Paolo Rossi depois de realizar um notável Mundial em Espanha. Foi a última vez.

Depois de Platini surgiram jogadores que a história certamente colocará no seu devido lugar e alguns deles (Marco van Basten, Ronaldo, Ronaldinho, Zinedine Zidane) possam até ser considerados como superiores ao gaulês. Mas exceptuando o bailarino holandês (não de forma consecutiva), nenhum deles venceu por três vezes o galardão que qualquer futebolista ególatra gostaria de receber.

O Ballon D´Or é o que sempre foi, um prémio ao individuo num desporto onde este, para ser alguém, tem de saber estar ao serviço do colectivo. Valorizam-se os troféus ganhos pelos jogadores quando estes realmente são ganhos pelas equipas. Salientam-se as estatisticas individuais quando passa desapercebido que atrás de cada golo há um passe, atrás de cada assistência há uma recuperação e por cada finta genial há, de certa forma, o trabalho de outros 10 que possibilitam o tempo e espaço necessário para brilhar. Há jogadores que nunca ganharam ou ganharão um troféu destas características porque não entram nesse leque de egos no qual o futebol tanto gosta de se apoiar. E há outros que nunca ganharão prémios suficientes para aplacar o seu imenso ego. Messi é um deles.

 

O argentino sabe que na história do FC Barcelona nunca nenhum jogador teve tanto poder.

Pode passar desapercebido mas o papel de Messi no balneário do Camp Nou é superlativo. Foi à volta dele que Guardiola decidiu montar o seu projecto depois de obter da Pulga a concordância com um novo estilo de vida longe dos perigos da noite, da droga e do álcool onde começava a mergulhar. A partir dessa reunião Messi renasceu como jogador e Guardiola conseguiu o que necessitava. Dos velhos lideres do balneário, os homens da casa, como Xavi, Iniesta ou Valdés conseguiu o consentimento absoluto para as liberdades individuais de um jogador que, desde o primeiro momento, aprendeu a valorar o conjunto. Nesse aspecto a grandeza de Messi é inquestionável e aproxima-o muito mais aos grandes.

Platini soube sempre, mesmo debaixo do seu ego, que o seu triunfo era o de Tigana, Giresse, Girard, Rocheteau, Boniek, Scirea e companhia. Ele era o rosto, as mãos que recolhiam um troféu que existia por todos. Messi sabe-o e demonstra-o.

Guardiola podia ter optado por uma luta de egos porque seguramente a Andrés Iniesta, Xavi Hernandez, Gerard Pique, Victor Valdés, David Villa e até mesmo Samuel Etoo e Zlatan Ibrahimovic, poderiam reclamar muito mais protagonismo do que alguma vez tiveram. Os dianteiros foram afastados por isso mesmo, os restantes foram, de certa forma, forçados a aceitar como reconhecimento os triunfos colectivos, mesmo que os seus currículos superem os do próprio Messi com esses títulos de campeões da Europa e do Mundo com a Espanha que Messi nunca logrou emular nem de longe nem de perto. Por pertencerem a essa casta coral, é mais fácil para Xavi - dono de um ego descomunal que utiliza, como Guardiola, não para recolher prémios mas para se tornar numa espécie de guru da filosofia blaugrana - e Iniesta suportarem o sucesso de um colega e amigo do que para Messi ver-se superado individualmente por um colega que fez tantos ou mais méritos para ser considerado isso de melhor. Secretamente Guardiola, que viveu os dias complicados do Dream Team com Laudrup, Koeman, Stoichkov e Romário em eterna disputa, desejaria que Messi vencesse sempre, Xavi e Iniesta se contentassem com as nomeações e os pódios e todos felizes e contentes. Parte da sua labor está em manter esse equilibrio da mesma forma que van Basten foi eleito símbolo do AC Milan de Sacchi, que Cruyff representou o Ajax e a Holanda de Michels, que Beckenbauer (e não Muller) foi a cara do Bayern e da RFA ou que Platini representou o perfume do futebol champagne gaulês. Para um grande projecto, um só rosto, nenhuma luta (visivel) de egos e um bilhete para posteridade.

Este troféu - talvez o mais merecido dos três que já ganhou - confirma Messi e este Barça nesse planeta especial onde jogadores que pensam exclusivamente no ego individual nunca conseguirão estar. O génio individual de Ronaldinho, Cristiano Ronaldo, George Weah, Rivaldo ou Hristo Stoichkov é premiado ocasionalmente pela sua inevitável grandeza (da mesma forma que há prémios que só se explicam pelo "momento" em questão como os de Owen, Nedved, Cannavaro, Kaká ou Sammer) mas torna-se dificil repetir-se porque não assenta nesse espírito colectivo que é o que permite establecer esse porta-estandarte. Zidane, Figo e Ronaldo vencerem Ballon D´Ors ao serviço do Real Madrid mas nunca por estar a jogar de branco mas sim porque quem eram no panorama internacional. Este Barcelona optou por outro caminho, o de concentrar todos os focos num dos seus génios mais expressivos e guardar para o segredo do balneário as verdades sobre o real valor de cada um. Como a história já demonstrou, esse foi sempre o caminho dos grandes projectos, das grandes gestas. O triunfo do ego único para a sobrevivência do colectivo.



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Terça-feira, 11.01.11

Quando Espanha se dividia, lambendo os beiços como um gato contente depois de ter apanhado a presa, o rato Messi passou pelo meio e subiu ao palco para reclamar o seu segundo Ballon D´Or de forma consecutiva. Foi o triunfo do novo modelo da FIFA, onde todos são iguais. A revista France Football perdeu a grande importância que tinha e viu-se relegado a um terceiro plano. Triunfou o atleta que só superou a concorrência nas listas dos países de Terceiro Mundo. O futebol universaliza-se e a Europa dos seleccionadores e capitães (Xavi) e dos jornalistas (Sneijder) viu-se superada pelo mediatismo de um rato atómico e imparável.

 

 

 

Em ano de Mundial ganha um campeão do Mundo? Num ano valoriza-se a trajectória mais completa a nivel internacional? Não.

No novo prémio FIFA Ballon D´Or ficou claro que os principais critérios para ganhar os esquecidos Ballon D´Or e FIFA Award foram deixados de parte. Votam capitães, seleccionadores e jornalistas de todos os países, por partes iguais. No final mistura-se e elege-se um ganhador. Como se fosse tudo a mesma coisa. E não é, bem se sabe.

Messi, um génio superlativo nisto que se chama futebol, já tinha vencido em 2009 graças ao mediatismo que acompanha a sua figura de rato dandy que passeia pelos relvados sem pedir licença. No ano de Xavi Hernandez, maestro de batuta da melhor versão do Pep Team, o argentino superou o seu colega e o seu rival número um, o português Cristiano Ronaldo (sexto este ano com 4% dos votos, espelho do seu grande mediatismo internacional). O Mundo aplaudiu e depois do Mundial da África do Sul (e da semi-final perdida contra o Inter) pensou que demoraria um par de anos mais a ver o pequeno argentino com o troféu nas mãos. Mas, hellás, a bola dá muitas voltas e acaba sempre no pé de Messi. Partia como o menor dos favoritos mas com o maior dos pedigrees. E, muito honestamente, na Antigua, Ilhas Virgens Inglesas e Laos isso conta mais que os critérios futebolisticos ou a soma dos resultados de provas em que essas nações nem sequer participam. O resto do Mundo ignorou a Champions League (até José Mourinho ganhou porque, dos três técnicos, é ele o mais mediático e fê-lo sobretudo, com os votos dos jogadores) e passou ao lado de um Mundial que não encantou ninguém e onde não houve uma figura individual consensual. Ficou-se pelas figuras. Por isso Cristiano Ronaldo está à frente de Bastian Schweinsteiger, Thomas Muller, Arjen Robben, Samuel Etoo, Diego Milito ou Iker Casillas. E por isso ganhou Messi. Porque é o atleta mais conhecido do Mundo, onde quer que seja esse Mundo. Se para os jornalistas o argentino nem no top 3 merecia estar (um distante quarto atrás de Xavi, Iniesta e Sneijder, que seria o justo ganhador), basta olhar para os votos dos capitães e seleccionadores das grandes potências futebolisticas para perceber que a notável época do argentino não lhe serviria de muito. Aí, com excepção dos votos brasileiros (uma surpresa), Xavi prevaleceu sobre os demais enquanto que Iniesta foi um regular segundo, o que lhe permitiu superar o seu colega de equipa e selecção na votação total. A divisão de voto (42%) em oito jogadores espanhóis explica também o sucesso de um atleta sem rival no seu continente e no mercado internacional, que conhece mais depressa os méritos do 10 do Barça do que o futebol que brota dos pés de alemães, holandeses e até espanhóis ainda anónimos para tantos e tantos por esse mundo fora. O terceiro Mundo que glorificou Pelé e Maradona, heróis seus, por encima das glórias europeias, prepara-se para fazê-lo uma vez mais com o argentino de apenas 23 anos. O mesmo percurso, a mesma base de apoio, o mesmo destino?

 

 

 

Ficou a nota dominante para o futuro num prémio que já não é um selo de qualidade garantizada. Nunca o foi totalmente, mas os critérios tinham uma certa coerência. Pouco se percebeu o triunfo de Schevchenko em 2004 sobre Deco, com uma época similar à de Sneijder, mas estava claro que a vitória italiana em 2006 iria permitir a um azzurro (no caso Cannavaro) subir ao pódio. Se o critério da publicação francesa que inventou o trofeu em 1957 para responder ao seu rival, L´Equipe e a sua Taça dos Campeões Europeus, tivesse permanecido vigente, Wesley Sneijder seria o vencedor. Cumprindo com o critério histórico de feitos logrados num ano civil. E aí ninguém chegou sequer perto do rendimento do espanhol.

Mas agora isso conta muito pouco, de tal forma que os votos dos jornalistas (os que se lembraram de Muller, Schweinsteiger, Robben, Fórlan por diante de Messi) pesaram muito pouco na votação final porque se dispersaram entre vários atletas. O voto dos seleccionadores concentrou-se num lote reduzido e assim será sempre, emulando o FIFA Award que, desde 1990, sempre preferiu o mediático ao lógico. Mas foram os capitães que acabaram por alinhar todos do mesmo lado, desiquilibrando uma balança que pendia, claramente, para o lado europeu.

Não ajuda também que estes prémios sejam, sobretudo, jogos politicos. Thomas Vermaleen, capitão belga, elegeu o seu colega espanhol Cesc Fabregas como o melhor do ano. O seleccionador do Chade preferiu Asamoah Gyan, jogador do continente, enquanto que os holandeses, seleccionador e capitão, tiveram votos nulos por não poder votar em Sneijder ou Robben. Pelo meio encontram-se vários casos de escolhas pouco transparentes que entorpecem a imagem de um trofeu que já valeu mais do que realmente vale hoje em dia.

Supondo que o mediatismo triunfou definitivamente é expectavel prever que os próximos anos sejam um mano a mano entre o argentino e o português com algum rival pontual pelo meio. E que Messi (ou Ronaldo) supere o recorde de três troféu, o máximo com que contam van Basten, Platini e Cruyff. O futebol ao globalizar os prémios individuais reduz ao máximo o lote de premiáveis ao que é reconhecível. Contradições do mundo recriado pela FIFA.

 

 

 

Na eleição ao técnico do ano, pela primeira vez um galardão que há muito fazia sentido, tem um peso simbólico imenso que o vencedor seja o treinador mais marcante da última década futebolistica. Mourinho venceu pelo ano perfeito mas, também, porque é o mais mediático dos Managers. E, sobretudo, com o voto dos jogadores que vêm nele o técnico perfeito. Os seleccionadores preferiram o seu parceiro de andanças, Del Bosque, e os jornalistas o seu azote, Mourinho. O inventor da maravilha que é o Barcelona moderno não convenceu ninguém. Ironias das ironias, o espelho mediático que enche regularmente de elogios o Pep Team voltou-se, neste caso, contra o seu próprio criador. Ironias da vida...



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Quinta-feira, 09.12.10

Um é possívelmente o melhor jogador do Mundo. Outro é o quase unanimemente considerado como o número um. E há um terceiro, o que marcou o golo mais importante do ano. Para a dupla organização FIFA-France Football esses são os três homens que merecem optar ao renovado Ballon D´Or FIFA. Uma nomeação que poderia não oferecer discussão não fosse uma clara traição ao conceito que está por detrás deste e de todos os prémios: o conceito temporal.

 

 

 

Xavi, Messi e Iniesta.

Os três expoentes máximos do adorado Barcelona de Josep Guardiola fazem história e ocupam os três primeiros postos do Ballon D´Or 2010. Algo que só o intocável AC Milan de Arrigo Sachi logrou por duas vezes, em 1988 e 1989, com a salvaguarda de que, nessa época, só se podiam votar a atletas europeus (e daí a ausência de um tal Maradona). Pela terceira vez, os três finalistas são colegas de equipa. Um prémio que funciona como mérito colectivo para um ideário futebolistico, o do Barça de Cruyff, e para o trabalho de formação de La Masia com três embaixadores especiais: o catalão local, o espanhol recrutado quando novo e o estrangeiro pescado do outro lado do grande charco. A base de trabalho de uma fábrica de formação que é, indubitavelmente, o melhor exemplo a seguir depois do sucesso das escolas do Ajax, Sporting, Manchester ou...do eterno rival de Madrid.

No entanto esta tripla nomeação não deixa de ser um erro, um grave erro. Para os próprios pressupostos morais que estão por detrás do troféu atribuido este ano em conjunto pela revista francesa, que o inaugurou em 1955, e pela FIFA que teve o seu próprio prémio paralelo nos últimos vinte anos, sem que nunca tenha existido grande discrepância. Não se pode questionar o génio de Xavi, o talento de Messi e o espirito incisivo de Iniesta. São jogadores de top e estão certamente na lista dos melhores de qualquer um. É dificil fugir a essa evidência. Mas, muito provavelmente, nenhum deles merecia este pódio, quanto mais o trofeu, entregue numa cerimónia especial a principios de Janeiro. Porquê?

 

O Ballon D´Or (como era o FIFA Award e como é qualquer prémio) reporta-se a um ano natural, nem sequer a uma temporada desportiva. Estamos a falar do ano 2010, desses 365 dias em concreto. Não se atribui, ou não se devia atribuir, um troféu baseando-se exclusivamente no talento inato de cada atleta. O mais natural seria manter o mesmo pódio anos sem fim. Não. Da mesma forma que Ronaldinho venceu em 2005 e no ano seguinte desapareceu do mapa injustamente, apenas porque o Brasil desiludiu no Mundial da Alemanha, voltamos a assistir a um fenómeno de selecção contra-natura para com as bases do conceito do troféu criado por Gabriel Hanot. O melhor de 2010 podia ter sido qualquer jogador, menos o tridente nomeado. Um tridente que não apresentou méritos desportivos que suplantassem outros candidatos mais lógicos, tendo por base o critério anual. Um critério que foi esquecido, como tantas vezes sucede, pelo peso mediático (Messi) e pelo peso do Mundial de Futebol (Xavi e Iniesta), por cima de qualquer mérito individual de um atleta que não partilha nem o mesmo patamar da ribalta nem o mesmo peso de um triunfo colectivo.

Cannavaro em 2006, Ronaldo em 2002, Rossi em 1982 são apenas alguns exemplos de vencedores pontuais, jogadores que devem à sua performance num só mês o troféu que se reporta a um longo ano desportivo. Os italianos tiveram anos desportivos para esquecer (a Juventus de Cannavaro seria despromovida na secretaria da mesma forma que Rossi esteve inabilitado até dias de arrancar o Mundial de Espanha 82). O brasileiro, genio como era, tivera um ano frouxo vindo de uma grave lesão com o Inter (e antes de se mudar para Madrid). Os três são exemplos do peso do Mundial e nesse aspecto seria de prever que os espanhóis tivessem uma merecida presença no pódio do troféu. Mas se o próprio Iniesta confessou que 2010 foi o seu pior ano, devido às lesões acumuladas, salvo apenas pelo golo certeiro nos instantes finais do prolongamento da final contra a Holanda (pode um golo ser tão importante para um prémio anual individual?) já Xavi esteve uns furos abaixo do que é habitual durante todo o Mundial da África do Sul, apesar de se ter mantido a um alto nível na sua época com o Barça. Na armada espanhola mundialista o principal destaque esteve, provavelmente, no tridente Casillas-Busquets-Villa. O primeiro parou o possível e impossível e garantiu que o campeão do Mundo com menos golos sofridos (e marcados) aguentasse até ao fim a corrida rumo à história. O segundo revelou-se imprescindível e foi um polvo no meio campo espanhol, a defender e a atacar. E o terceiro, já se sabe, desatascou com os seus golos situações complicadas in extremis. Mas o poder mediático do Barça (e o talento genuino dos nomeados) falou mais alto que a lógica.

 

E se Messi está nomeado por decreto, e isso já se sabe que sucede sempre com jogadores do seu talento, por muito que o ano não tenha sido coroado com os principais trofeus a que optava (ficou-se pela Liga Espanhola e pela Bota de Ouro com números, verdade seja dita, estratosféricos), resta ver quem são os grandes prejudicados por esta nomeação colectiva à excelente escola blaugrana.

A ausência mais notada será, sem dúvida, a de Wesley Sneijder.

O holandês não tem o poder mediático dos seus rivais e isso joga contra nestas alturas, mais do que ele próprio poderia imaginar quando se declarou como favorito ao troféu. E deveria ter sido. Vencedor de um triplete histórico com o Inter e finalista vencido do Mundial de Futebol, sempre sendo o melhor das suas equipas, o holandês é hoje um jogador especial, com uma importância no sistema de jogo orange e neruazurri fundamental. Assistiu, marcou, fez jogar e foi constante ao longo de todo o ano. O seu triunfo seria o do individuo, o do atleta a superar os seus próprios limites pessoais durante um ano. A sua ausência é uma mensagem clara. Este prémio tem código de conducta próprio.

Também de fora ficam Diego Fórlan e Bastian Schweinsteiger. Sucede-lhes o mesmo que ao holandês. Mediaticamente perdem com o tridente culé. Se Iniesta marcou um golo importante durante 365 dias e pouco mais, o uruguaio fez história em 2010. Primeiro com o Atlético de Madrid, marcando e assistindo na final da Europe League, Copa del Rey e Supertaça Europeia, três noites que fizeram do clube colchonero um dos mais titulados do ano europeu. Se isso não fosse pouco, Fórlan pegou às costas no modesto Uruguai e levou-o a um histórico quarto posto, o melhor lugar desde 1970 do país que venceu já dois Mundiais e que é um histórico adormecido do mundo do beautiful game. Ao mesmo tempo foi galadorado pela própria FIFA como Bola de Ouro do Mundial. Tarefa hérculea que não foi tida em consideração  pelos jornalistas, capitães e seleccionadores nacionais, reféns do poder mediático do super-Barça. O alemão partilhou um pouco a trajectória com Sneijder, e perdeu para ele a final da Champions League. Na Alemanha foi fulcral para a época espantosa do Bayern e no Mundial com a sua Alemanha foi possivelmente o melhor jogador até às meias-finais da prova. Nada disso valeu, porque o tal golo de Iniesta, o regate diário de Messi e o olhar cerebral de Xavi parecem valer a dobrar.

 

 

 

Iniesta vencerá segundo a imprensa e suplantará o melhor jogador espanhol da história, por ironia das ironais. É curioso que Xavi, omnipresente nos pódios nos últimso três anos, seja agora relegado por um colega inferior, apenas pelo detalhe de um só tento. Como se Materazzi tivesse ganho a Cannavaro o Ballon D´Or de 2006. O argentino Messi vai marcar presença pelo quarto ano consecutivo no pódio, no terceiro posto. É a posição de honra daquele que muitos consideram o Melhor do Mundo. O pódio paralelo Sneijder-Fórlan-Schweinsteiger ficará apenas na mente daqueles que acreditam que o futebol é algo mais que marketing e poder mediático. Não conta muito, é certo. Mas há quem tenha os conceitos trocados. Pena é que sejam aqueles com o poder para fazer a diferença.

 

PS: Quanto ao prémio de técnicos volta a repetir-se a mesma sensação. O vencedor provável será Vicente del Bosque, por ter ganho um Mundial onde a Espanha mostrou estar longe do nível apresentado há dois anos por Luis Aragonés. O técnico do Barcelona, Josep Guardiola, suplantou o holandês Louis van Gaal nos nomeados e deverá suplantar também a sua particular nemesis, José Mourinho, o homem que ganhou todas as provas onde entrou. Os critérios continuam errados. Já sabemos porquê!



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Quarta-feira, 27.10.10

No dia em que o polvo Paul partiu desta para melhor, os espanhóis ficarão sem saber qual dos seus sete candidatos terá mais hipóteses de romper com um maleficio de quase 50 anos e emular o feito de Luis Suarez. A FIFA e a France Football anunciaram os candidatos ao renovado Ballon D´Or e, como era de esperar, o Mundial de Paul foi o factor determinante na escolha. Como será, naturalmente, na atribuição do prémio final. Mas a quem?

Xavi Hernandez, Andrés Iniesta, David Villa, Iker Casillas, Charles Puyol, Cesc Fabregas e Xabi Alonso.

Os espanhóis dividem-se sobre quem é o mais justo ganhador do novo Ballon D´Or, entregue em simultâneo pela FIFA e pela revista France Football. No país vizinho a certeza de que o ganhador será um dos seus é absoluta. Queixam-se, como sempre, de que os nomeados eram poucos. Havia que eleger os 23 campeões do Mundo, hombre!.

Desde a vitória, tão longinqua, de Luis Suarez, estrela do Barcelona e Inter de Helenio Herrera, que Espanha não voltou a ver um dos seus artistas triunfar no prémio individual mais cobiçado do mundo futebolistico. Nem Paco Gento, nem Emilio Butrageño, nem Josep Guardiola, nem sequer Raul Gonzalez. Nada de nada. Nem mesmo Xavi Hernandez, superado pelo mediatismo de Cristiano Ronaldo e Leo Messi no ano em que Espanha rompeu um maleficio de 40 anos e se sagrou campeã europeia. Mas agora parece que vai ou racha. O problema é saber quem escolher.

A FIFA (e a France Football, que parece ter saído a perder neste negócio), elegeu a 23 elementos. Todos eles brilharam no Mundial. Todos, menos Cristiano Ronaldo, talvez o jogador mais em forma do planeta. Por muito explosivo que seja o seu renascimento às mãos de Mourinho, o português sabe que dificilmente repetirá o seu quarto pódio consecutivo. Mais hipóteses tem Leo Messi, também ele com um Mundial muito abaixo das expectativas. Mas com um titulo de campeão espanhol e uma Bota de Ouro nas mãos (mais aquela admiração que o argentino é capaz de gerar, ao contrário do luso), pode ser suficiente para desafiar a "armada espanhola". Aliás, para os experts, só mesmo Leo ou algum membro da armada interista, podem dar a surpresa. Num trofeu que encontrou também o seu espaço para o Treinador do Ano. Vicente del Bosque vs José Mourinho, sem margem para dúvidas de que o primeiro pode ganhar como prémio de carreira e o segundo deveria ganhar pela imensidão da tarefa de ressuscitar dois mortos num só ano civil.

 

Wesley Sneijder seria o vencedor lógico do troféu se o mediatismo não superasse, como sempre, o rendimento real de uma só época desportiva (CV incluído).

Vencedor da Serie A, Taça de Itália, Champions League e finalista vencido do Campeonato do Mundo, é de todos os jogadores nomeados aquele que chega com o melhor palmarés. Mas é também fruto da labor de Mourinho e estrela de uma equipa pouco ou nada amada. E não é espanhol, que hoje em dia parece ser condição sine qua non para receber o elogio de turno. Outro holandês destacado é Arjen Robben. Tem o mesmo curriculum que o seu colega de selecção, exceptuando a Champions, perdida na final de Madrid. Robben tem mais perfil de "Balon D´Or", mas o seu timido arranque de época, entre algodões, e os falhanços na final de Johannesburg jogam contra si.

Sem Diego Milito ou Wayne Rooney, jogadores chave na última edição da Champions mas que não existiram no Mundial, nota-se a predominância do trofeu patrocinado pela própria FIFA. Daí sai o quinteto germânico composto por Philip Lahm, Miroslav Klose, Bastian Schweinsteiger, Mezut Ozil e Thomas Muller. Os três do Bayern Munchen têm atrás de si uma época doméstica imaculada, um grande ano europeu e um Mundial asfixiante (Muller foi melhor marcador e melhor jogador jovem da prova). Ozil é o rosto do novo Madrid de Mourinho e da nova Mannschaft de Low. São projectos de vencedores futuros, mas aquela meia-final contra a omnipresente Espanha ditou a sua sentença.

Asamoah Gyan, do Sunderland, Samuel Etoo, do Inter, e Didier Drogba, do Chelsea, representam o continente africano mas são cartas fora do baralho como os brasileiros Dani Alves, Maicon e Julio César. Quanto a Diego Forlan, MVP do Mundial e vencedor da Taça UEFA, espera-se uma votação simbólica. Mas sem opções reais. Porque depois há os espanhóis.

As divisões clubisticas fazem-se sentir na imprensa do país vizinho (a eterna campanha pró-Casillas em Madrid) mas há quatro nomes consensuais (Fabregas, Puyol e Xabi Alonso são um mistério na lista). O guardião do Real Madrid foi determinante na campanha espanhola (salvou um penalty frente ao Paraguai e dois golos certos da Holanda na final) e é, consensualmente, o melhor do Mundo na actualidade. O goleador David Villa demonstrou a sua eficácia no arranque do Mundial para depois desaparecer nos jogos decisivos (um pouco como agora lhe sucede no Barcelona e como sucedeu no Europeu). E ficam os artistas bajitos do Barça. Quem deles ganhará o pulso?

Andrés Iniesta foi o homem da final e isso conta (e muito nestas coisas). Marcou um golo determinante e confirmou-se como um dos mais determinantes jogadores do futebol actual (que o diga o Chelsea). É um jogador de low profile, "campechano" e muito apreciado onde quer que vá. Um fora-de-serie que teve um ano para esquecer e um Mundial de sonho. E depois há Xavi. Hernandez. O professor. O maestro, a régua e esquadro que definem um jogo de futebol. Para Xavi é a última oportunidade. Ele que é, sem dúvida, o melhor jogador espanhol da história. Ele que é, sem dúvida, o mais determinante jogador dos últimos cinco anos. Ele que é, sem dúvida, a razão de ser deste Barcelona tão idolatrado. Mas para Xavi um Ballon D´Or se calhar era pouco. Seria preciso criar um de diamantes, para se poder entender a diferença entre ele e o resto.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 00:25 | link do post | comentar | ver comentários (3)

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