Terça-feira, 21.12.10

poucos jogadores no activo com um curriculum tão imenso. Há poucos jogadores no activo com tantos galardões individuais nas prateleiras. Há poucos jogadores no activo que, depois de tudo isso, continuem a encarar cada jogo como o primeiro. Quis trabalhar como um negro para viver como um branco. E conseguiu. Ele é, indiscutivelmente, o rei do seu continente.

 

 

 

Pode-se discutir sobre muitas coisas. Mas a carreira de Samuel Etoo é algo que está por cima da dúvida.

Há quem prefira o talento animal de Didier Drogba, um verdadeiro vulcão com uma explosão tardia. Há quem se renda ao talento artistico da escola egipcia dos Aboutrika e companhia. Ou quem torça pelas estrelas cadentes, engolidas pela sede de glória, dos Finidi, Okocha, Diouf, Gyan e companhia. Todos eles fariam parte de qualquer onze de gala. Foram os principes consortes da versão futebolistica do continente africano. Mas nenhum deles chegou ao nivel do camaronês que um dia chegou a Barajas com frio, sozinho e sem vontade de voltar para trás.

Etoo começou, como todos os africanos, por baixo. Muitas vezes agradeceu ao futebol o facto de ter chegado a Espanha num avião e não numa patera, como milhares dos seus. Sensível ao tema do racismo (já por várias vezes saiu de um relvado por não pactuar com os gritos animalescos dos adeptos rivais) e um dos verdadeiros padrinhos da renovação do futebol de base da África ocidental, uma labor onde se tem destacado há vários anos, é um rosto inconfundível do renovado futebol do continente negro. Certamente não esquecerá 2010 pelos bons e maus motivos. A decepcionante campanha no Mundial dos Camarões confirmou a malapata do dianteiro com a grande prova internacional, depois das ausências em 2006 e 2002 quando eram os reis de África. Na última década venceu três CAN`S, um registo inigualável e que o deixa no topo dos grandes campeões do continente, ao contrário, pelo seu grande rival, Didier Drogba. E mais, muito mais.

 

O sucesso de Etoo no futebol europeu tem apenas comparação com Eusébio.

Ambos africanos, conseguiram ultrapassar o esteriótipo do jogador do continente negro incapaz de render de forma determinante nas grandes provas europeias. São jogadores diferentes e com niveis dispares na história do jogo, mas são também provavelmente os únicos que chegaram, viram e venceram. Nem Abedi Pelé, nem Rabath Madjer, nem Just Fontaine, nem sequer George Weah. As vitórias em 4 Champions League (com três clubes diferentes em dez anos de carreira), os prémios Pichichi e a forma consensual como encantou técnicos e adeptos por onde quer que passou são os melhores sinais de uma carreira que ainda promete mais.

Na final do Mundial de Clubes, o último grande titulo que lhe faltava, voltou a ser determinante. Sem as amarras tácticas de Mourinho, que fez dele um sacrificado exemplar, algo que poucos jogadores suportariam com tanto caracter e determinação, voltou aos golos e actualmente é o dianteiro mais em forma no futebol europeu. Em Milão sentem o mesmo que em Barcelona, Maiorca e Madrid, onde muitos ainda não percebem como é que não se encontrou espaço para a maior pérola africana dos últimos 40 anos. O dianteiro desterrado de Madrid por falta de protagonismo (face aos mais mediáticos Raul, Morientes e Ronaldo) e para quem Pep Guardiola nunca teve "feeling", apesar de ter sido um dos grandes artifices do tri que depois passou a hexa, encontrou em Milão um terreno sólido para prosperar. Como na paradisíaca ilha mediterrânica de Maiorca aonde quer voltar para fechar uma carreira inigualável. Aí começou o mito Etoo, levando uma pequena equipa sem grande historial às noites de glória da Champions League, prova que já tinha ganho, por uma curta participação, com o Real Madrid. Depois chegou o Barcelona, repleto de cicatrizes, e a parceria com Ronaldinho e Messi. Um tridente que deu ao clube blaugrana a sua segunda "orelhona", com golo decisivo do camaronês a abrir a final frente ao Arsenal do seu amigo Henry, mas que não aguentou o peso do sucesso e caiu estrepitosamente e sem glória. Com a saída do brasileiro e a explosão definitiva do argentino, foi o africano a pagar os pratos rotos. Abandonado pelo clube, marcou como nunca no ano da sua dispensa sem honra. Saiu de cabeça erguida, com uma terceira Champions nas costas e chegou aos braços de um general, Mourinho, que fez dele o sargento perfeito. Em Madrid, ironia das ironias, venceu a sua quarta taça europeia e igualou em titulos alguns dos mitos do futebol contemporâneo. E tornou-se no futebolista no activo com mais troféus na máxima prova europeia. Coisa pouca.

 

 

 

Etoo é um turbilhão da natureza, intempestivo dentro e fora do campo. Reage a quente à frente das camaras e nunca quis cultivar uma imagem de estrela que o deitou a perder no confronto mediático com alguns dos seus colegas mais iminentes. Mas a sua trajectória impecável, culminada ontem com a conquista do seu quarto Ballon D´Or africano (ele que nunca venceu sequer um dos prémios entregues pela France Football como Weah mas que é recordista de prémios em África), não deixa margens para dúvidas. Ele é, definitivamente, o rei de África.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:48 | link do post | comentar | ver comentários (3)

Domingo, 09.05.10

Muitas bancadas vazias, um calor inesquecível. No meio dos gritos de alegria dos estreantes irlandeses e da euforia dos locais, o futebol desenrolou-se a conta-gotas. No final ganhou a melhor equipa mas a grande sensação tinha caído dez dias antes do violento encontro final. Em Itália os Camarões demonstraram, pela primeira vez, a força da raça africana.

A imagem de Roger Milla a dançar sobre a bandeirola de canto ficou para a história.

No entanto, o mitico avançado não era titular. Não havia pernas para tanto. Tinha estado na mitica formação do Espanha 82 e voltaria a despedir-se no Mundial dos EUA 94. Mas aquele foi o seu Campeonato do Mundo. O primeiro em que África hipnotizou. Apesar da boa campanha de Argélia e Marrocos nas duas provas anteriores, a magia da África Negra ganhou uma legião de fãs que ainda se mantém e que justificou, e muito, que tarde ou cedo o continente tivesse o seu próprio Mundial. Estamos a menos de um mês desse feito histórico. Nessa aventura italiana os Camarões deslumbraram do principio ao fim. No jogo de abertura defrontavam os campeões em titulo liderados por um "Deus" em pessoa. O jogo foi duro e acabou com os africanos com menos um jogador. A Argentina, muito inferior à equipa de 86, viu-se superada várias vezes. Até que, perto do fim, Oman-Byik subiu às nuvens e baixou com um golpe de cabeça indefensável. Pumpido, que dias depois partiria o braço num choque involuntário com um colega, largou a bola para dentro das redes. Estava consumada a surpresa. Os Camarões seguiam em frente como primeiros do grupo e na fase seguinte cruzavam-se com outra equipa sensação, o exército de Rene Higuita. O guardião da Colombia esteve irrequieto do principio ao fim e perdeu o controlo depois do golo inaugural, já no tempo extra, dos Camarões. A meio campo tentou fintar Milla, que, uma vez mais, tinha saído do banco de suplentes. O avançado foi mais esperto, driblou dois defesas e não perdoou. A Inglaterra era o obstáculo para lograr um feito ainda mais histórico para África. Era a melhor selecção Pross dos últimos anos. Talvez a melhor até hoje desde 1970. E jogava como tal. E no entanto os Camarões souberam dar a volta a um golo inaugural de David Platt. E deixaram os ingleses do bad-boy Gascoine em desespero. Até que este inventou um lance de génio e Liniker converteu o inevitável penalty. No prolongamento outro golpe seco do avançado acabou com o sonho. Milla aplaudia, camisola branca no corpo. Esta tinha sido a sua festa.

 

A prova italiana deveria ter consagrado o futebol que melhor identificava então o desporto-rei na Europa. Mas não o logrou.

Holanda dos milaneses Van Basten, Rijkaard e Gullit foi um fantasma, empatando os jogos da fase de grupos e saindo pela porta pequena frente à Alemanha depois da cuspidela do central do AC Milan a Rudi Voeller. Espelho da falta de mentalidade dos campeões de Europa que voltavam a falhar na hora H. O Brasil de Careca com o 3-5-2 de Lazzaroni nunca entusiasmou e acabou por cair no engano argentino de beber uma água pouco misteriosa. Um golo, do loiro Cannigia, confirmou a falta de competitividade do pior escrete de que há memória. E quanto à Itália, a jogar em casa, foi saltando etapas graças aos atrevidos golos do desconhecido siciliano Toto Schilacchi. Um jogador que não existiu antes nem depois daquele Junho. A prova nunca se esquecerá dos simpáticos irlandeses, capazes de vergar os rivais britânicos e a poderosa Orange antes de bater a seca Roménia de Hagi nos penaltys. Onde cairiam face aos anfitriões. Ou da dinâmica Chescolosváquia, que voltava a uns Quartos de Final, 28 anos depois de 1962, liderados por Thomas Skurhavy. Uma prova de equipas pequenas onde o futebol acabou quase sempre por cair em segundo plano face a um jogo calculado, faltoso e pouco ambicioso da maioria dos candidatos ao titulo.

No jogo final consumou-se tudo aquilo que foi o Itália 90. A Argentina de Maradona confiou demasiado no seu génio, mas este não apareceu. Depois, como fez ao longo de toda a prova, recorreu à violência. Pela primeira vez um jogador foi expulso numa final. A Argentina teve dois defesas a caminhar, desesperados, mais cedo para os balneários. Do outro lado Beckhambauer sorria. Ninguém acreditava nele. Mas a sua armada com Moeller, Hassler e Mathaeus no eixo central tinha coração, talento e espirito de grupo. No ano em que a Alemanha voltou a falar a uma voz o Mundo uniu-se para aplaudir a sua taça. Mereceram-na por isso e por muito mais. 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 03:48 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Sexta-feira, 26.02.10

Apesar de ter passado desapercebido da maioria dos observadores, no último ano houve poucos jogadores que dessem um salto tão grande na sua carreira como o ganês Samuel Inkoom. A águia que domina o flanco direito de uma selecção recém-sagrada campeão do Mundo de sub-20 e dos suiços Basel FC tem todas as condições para se tornar numa estrela mundial.

O nome Inkoom significa "Rei Guerreiro". E acenta que nem uma luva no jovem lateral de 20 anos. Samuel Inkoom é um dos nomes próprios de 2009. E para ele o ano de 2010 anteve-se ainda mais risonho. Começou o ano passado como um desconhecido do histórico Kotoko No Verão convenceu os suiços do Basel FC a contratarem-no. A partir daí o conto de fadas foi tomando proporções impensáveis até para o mais optimista.

Nascido em Agosto de 1989, Inkoom é o equivalente africano ao estilo de jogo popularizado por Daniel Alves. Rápido, perfeito nas transições ofensivas, tem como ponto fraco algum atraso na recuperação de posição. Mesmo assim a sua velocidade nata ajuda-o muitas vezes num um contra um, tanto no processo ofensivo como no posicionamento defensivo. Começou a dar nas vistas ainda muito novo e chegou a estar na órbita do Barcelona. Acabou por não viajar até à Catalunha. Preferiu as montanhas geladas dos Alpes. No passado Verão juntou-se ao Basel FC, um dos candidatos ao titulo da liga suiça. E desde então a sua fama não parou. Dono absoluto do lado direito da defesa, Inkoom deu-se a conhecer ao Mundo em Outubro ao serviço da sua selecção.

No Mundial de sub-20 poucos acreditariam numa vitória africana. O Gana fez história graças a uma notável geração de talentos onde se encontram Ayew, Osei, Adiyhi e claro, Inkoom. O lateral direito foi uma das figuras da prova, acabou o torneio no onze ideal e as suas letais investidas pela ala direita tornaram-no num dos mais populares jogadores da prova. De tal forma que se abriu a possibilidade de deixar a Suiça no mercado de Inverno. O negócio com o Arsenal gorou-se, mas Inkoom recebeu um outro prémio. Chamado pela primeira vez à selecção principal do Gana esteve no onze titular do conjunto africano na última CAN. O Gana caiu mais cedo do que era previsto, mas a boa sensação dos seus jovens talentos deixou água na boca para o próximo Mundial. Onde se espera ver mais deste notável talento.

Com toda a época à sua frente, Samuel Inkoom tem de trabalhar mais a concentração defensiva. Ainda longe da sua maturidade desportiva, o ganês tem apresentado dados estatisticos esmagadores e Pep Guardiola está muito interessado na sua evolução. Pelas suas caracteristicas seria o substituto ideal do genial Alves.

Depois de um 2009 inesquecível, Samuel Inkoom prepara-se para um 2010 memorável. A sua transferência para um grande é quase certa e a presença no primeiro Mundial em terras africanas é um aliciante único. Resta saber se a evolução táctica do jovem lateral o levará a um patamar onde poucos atletas realmente logram atingir. Porque a realidade é que a águia ganesa tem todas as condições para brilhar bem alto nos céus.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 16:22 | link do post | comentar

Sexta-feira, 29.01.10

Quando se olha para trás a selecção do Egipto desta década entrará nos registos como um dos maiores case-studies da história do jogo. Dominadora absoluta do continente africano sem nunca ter pisado os pés de um Mundial. Os que pensavam que a eliminação diante da Argélia tinha terminado com o reino dos faraós estavam bem enganados. O implacável Egipto voltou a mostrar o seu rosto mais temível e trucidou a Argélia. A coroa de África espera-os. Outra vez...

Será a terceira final consecutiva dos egipcios. Pode significar também um tri histórico. Nunca nenhuma equipa venceu tantas vezes seguidas a prova. E merecidamente. Ainda falta um jogo mas parece um trâmite. Nenhuma equipa se exibiu ao nivel do Egipto neste torneio angolano. Nenhuma equipa esteve perto, sequer, de roçar o nível dos Faraós. Seguros a defender, controladores a meio-campo, letais no ataque. Frente à Árgelia voltaram a ser iguais a si próprios e libertos de velhos fantasmas fizeram o que em três jogos não lograram na fase de qualificação: impor-se claramente diante dos Fenecs.

É extremamente curioso que o onze argelino, que voltou a mostrar todas as suas debilidades, tenha garantido precisamente o passaporte mundialista à custa dos egipcios. Como sucedeu há quatro anos com a Costa do Marfim e há oito com o onze do Senegal. Equipas mais débeis que na hora da verdade deram a estocada final. E sempre que cairam os egipcios ergueram-se. E fizeram do torneio continental o seu feudo inexpugnável.

 

Sem Aboutrika e Mido, duas figuras nucleares da selecção egipcio dos últimos dez anos, o Egipto manteve-se fiel à sua filosofia. Rápidos laterais - o genial Moawab  é, claramente, um dos melhores laterais-esquerdos do futebol mundial - e avançados móveis e contundentes. Se os Quartos-de-Final foram totalmente de Hassan, hoje o jogador mais internacional da história, as Meias-Finais pertenceram a Zidan. O médio O jogo arrancou extremamente equilibrado, com El Hadary a voltar a brilhar para a história. Os remates venenosos dos argelinos não perturbaram os egipcios que continuaram a sua série de ataques à área argelina. Num desses lançamentos rápidos o demoniaco Motaeb isolou-se diante de Chaouchi antes de ser derrubado por trás por Halliche. O central do Nacional viu o segundo amarelo e acabou expulso. O penalty de Hosny fez justiça ao marcador e a primeira-parte acabava com a superioridade egipcia no terreno e no marcador. 

 

O quadrado mágico egipcio a meio campo de Hassan Shehata, o grande maestro dos bancos africanos, voltou a encantar. A rápida circulação de bola e o apoio dos laterais-ofensivos desnorteou por completo os dez argelinos que começaram a perder a cabeça. Zidan pautou o jogo ofensivo do Egipto e pouco passados os 60 minutos matou o jogo com um golo repleto de oportunismo e talento. Um golo que matou o jogo e levou a Argélia a actuar, precisamente, como queriam os egipcios. Em vez de tentarem reduzir os argelinos passaram a última meia-hora em entradas violentas que levou o árbitro a expulsar mais dois jogadores. O Egipto agradeceu, marcou mais dois tentos, e consumou a doce humilhação. Nunca numa meia-final da CAN os egipcios tinham sentido tantas facilidades para marcar o bilhete da final. E se o Gana se está a revelar uma equipa mais europeizada - com um sólido sector defensivo e um bom aproveitamento do contra-golpe - a verdade é que a CAN 2010 voltou a provar que em África quem continua a mandar são os egipcios. Por muito que estranhe ao mundo.

A selecção dos Faraós é, provavelmente, junto com a Rússia, a melhor selecção que não irá ao Mundial da África do Sul. Duas selecções magnificas e eliminadas num duro play-off que explica muito a incerteza mágica de que se reveste o jogo. Mas um dominio como o que têm imposto os egipcios ao longo da última década não é habitual. E para a história ficarão sempre Hassan, Zidan, Aboutricka, Motaeb, Moawab, El Hadady, Abdelshafi, Gedo, Hosny e companhia. Uma geração magica que por razões que a própria razão desconhece nunca conhecerá o palco de um Mundial.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:13 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Quarta-feira, 18.11.09

Em Argel houve distúrbios. No Cairo viveu-se uma autêntica batalha. Agora o Sudão espera uma verdadeira guerra. As duas grandes potências futebolisticas do Norte de África defrontam-se num jogo de vida ou de morte. Só um pode carimbar o passaporte para o extremo oposto do Continente Negro. E não serão poucos os que estejam dispostos a matar para lográ-lo..

Foi lamentável assistir à chegada da selecção da Argélia ao Cairo. O ataque dos adeptos egipcios, os rostos ensanguentados, o autocarro destroçado. Imagens que a FIFA não pode permitir que se repitam. No campo a batalha continuou. Os jogadores egipcios precisavam de vencer por dois golos de diferença para forçar um play-off. A equipa dos faraós tinha arrancado com o pé esquerdo a fase de qualificação e durante algum tempo foi o último do grupo. Mas depois da Taça das Confederações - onde desiludiu ao cair aos pés dos Estados Unidos - começou uma espantosa recuperação. De tal forma que em vésperas do último jogo, apenas dependia de si para forçar um último encontro. A eliminar. Os argelinos foram intimidados desde o apito inicial. O estádio eufórico, a arbitragem assumidamente caseira e a violência dos egipcios não teve par. Os faraós abriram a contagem e levaram os adeptos ao extase. Mas faltava outro golo. E que nunca mais chegava. Aos 90 minutos o árbitro anunciou seis de desconto. Os argelinos protestaram. Muitos jogaram de cabeça vendada, espelho das agressões sofridas na véspera. O homem de negro fez-lhes pouco caso e menos ainda quando ao minuto 95 um centro do lateral direito Moawad descobriu a cabeça de Motaeb. O avançado anotou o golo decisivo. Em fora-de-jogo claro. E forçou o terceiro encontro.

 

Desde há várias semanas que a FIFA estava informada da possibilidade de ter de chegar a este terceiro jogo. Desde então ficou decidido que a partida seria disputada no Sudão, território neutro e terceiro em discórdia. Os argelinos voltaram a protestar mas a FIFA fez-lhes pouco caso. Segundo o central argelino, Khaled Lemmouchia, está tudo preparado para garantir a presença dos egipcios na África do Sul. Uma acusação que já vem de trás e que espelha bem a guerra fraticida entre estas duas potências. O Egipto e a Argélia dominaram o futebol africano nos anos 80. Os argelinos lograram participar em dois Mundiais consecutivos (1982, onde protagonizaram uma inesquecível polémica, e 1986) e os egipcios surgiram em 1990 em Itália. Durante essa era partilhavam o dominio do futebol africano, centralizado então na zona do Sahara. Com a deslocação para sul e o (re)nascimento de novas potências os duelos Egipto-Argelia tornaram-se cada vez mais regionais, particularmente porque então se vivia a era dourada do futebol marroquino. Só que as vitórias dos faraós nas últimas CAN e os sucessos futebolisticos dos seus principais clubes voltaram a colocar o Egipto no mapa. E quando todos acreditavam que o grupo de qualificação estava feito à medida dos faraós surgiu uma renascida Argélia. Os argelinos fizeram uma fase de qualificação irrepreensível e complicaram um cenário que o Egipto (e a FIFA) acreditavam ser simples. É inevitável que uma nova ausência do grande campeão do continente, quando o Mundial é pela primeira vez organziado em África, supõe um revez para a organização. E talvez isso justifique a decisão da FIFA que já mostrou ser bem mais severa com outras nações em casos semelhantes.

 

Hoje os dois colossos voltarão a defrontar-se. Futebolisticamente o Egipto é uma equipa mais atractiva. Arrisca do primeiro ao último minuto num arrojado 3-4-1-2, com dois laterais velozes e uma série de veteranos que sabe que tem aqui a última oportunidade de ir a um Mundial. Ahmed Hassan, Aboutrika, El-Haddary, Mowad são nomes históricos em África mas poucos conhecidos fora do continente. Uma boa performance no Mundial pode ajudar a consagrá-los além portas. Mas do outro lado está uma Argélia atrevida, menos ofensiva mas, definitivamente, mais organizada tacticamente. Estão motivados depois do último desafio e sabem que podem fazer história. Não têm nenhum crack de nível Mundial como acontecia com a sua mágica geração da década de 80, onde pontificava esse pequeno grande génio chamado Rabath Madjer. Mas são um exemplo de profissionalismo e organização que não deve ser ignorado. Jogar em campo neutro, longe dos fanáticos egipcios, pode ser um ponto a favor.

À parte do jogo quente que se espera levanta-se a dúvida. Face ao comportamento dos adeptos egipcios no Cairo deveria a FIFA permitir o terceiro jogo? Deveria suspender a selecção egipcia e garantir o apuramento aos argelinos? Ou o terreno neutro é solução suficiente para apagar a vergonhosa actuação de todas as entidades no passada sábado? Hoje a bola volta a rolar e não há lugar a empates. Só um cairá e só um viajará até ao outro extremo. A Guerra do Sudão promete entrar para os anais da história do futebol.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 04:57 | link do post | comentar

Domingo, 31.05.09

Num país que idolatra até à loucura os seus idolos, há um jovem que sonha já ser levado em ombros pelas ruas de Abidjan. Com a geração capitaneada por Didier Drogba a chegar ao seu zénite, está na hora de preparar uma nova fornada. E ninguém dúvida que o patrão da Costa do Marfim do futuro é mais do um tanque. É um verdadeiro elefante intransponível que dá pelo nome de Antoine N´Gossan.  

É o protótipo do jogador africano do século XXI.

Força fisica impressionante, sabedoria táctica inusitada e uma cultura futebolistica fora do vulgar. Hoje em dia os jovens que chegam formados do Continente Negro não chegam apenas com musculo e garra. São inteligentes no posicionamento, solicitados nas movimentações e voluntariosos em todos os segmentos de campo. Verdadeiras máquinas de guerra. N´Gossan é, tudo isso, e muito mais. Com apenas 18 anos de idade, o meio campista marfinense é uma das maiores promessas do futebol actual. Metade e meia da Europa tem o seu nome bem sublinhado na lista de futuras contratações. Quem se antecipou foi o britânico Charlton Athletic, que depois de uma digressão por Abidjan ficou impressionado com o jovem que actuou desde os 15 anos no ASEC local. A Coca Cola Championship é no entanto demasiado pequena para N´Gossan e ele sabe-o bem. E os grandes europeus também. Mas em época de crise preferem esperar e analisar o ritmo de adaptação do jovem marfinense ao duro mundo do futebol europeu.

Elemento chave na selecção jovem do seu país, N´Gossan é já a estrela da companhia. Fez todo o percurso vitórioso, desde os sub15 até aos sub-21, onde com 18 anos é o pilar da equipa. A estreia na equipa principal está por breves momentos, especialmente depois de no Verão passado ter sido uma das estrelas dos Jogos Olimpicos de Pequim. O certo é que este é claramente um dos exemplos de que o continente africano continua a ser uma incrivél máquina de talentos, mesmo se esses vêm dos mais inóspitos locais do Mundo...



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:49 | link do post | comentar

Terça-feira, 12.05.09

Nos anos 90 jogava na Europa um futebolista ganês que deslumbrava pela qualidade do seu toque de bole. Não tinha a mesma magia que indicava o outro com o seu sobrenome, mas foi um dos esteios do Olympique Marseille campeão da Europa em 1993. Era Abedi Pele, a par de Roger Milla e George Weah, o mais desequilibrante jogador do continente negro da década de 90. O seu irmão, Ayew Kwane, também brilhou na Europa, particularmente no campeonato português onde deixou saudades entre Sporting, Vitória de Setubal e Boavista. Dois nomes com carreiras distintas mas que sempre honraram o mesmo apelido. Agora começa uma nova geração a despontar. E todos olham para Abdul Rahim e André Ayew como as novas esperanças para liderar a nova geração ganesa. Resta saber o quanto pesa o apelido desta família nestes dois jovens.

 
Abdul Rahim despontou na equipa do seu pai, Nania F.C. Como muitos filhos de grandes estrelas, viveu sempre sobre os holofotes da fama mas também debaixo da larga sombra paternal. Quando tinha oito anos, o seu pai sagrou-se campeão da Europa e era consagrado pela terceira vez consecutiva como o maior futebolista africano. No final da década Abdul começou – a par dos seus irmãos André e Jordan – a dar os primeiros toques. Anos depois passou para o Elevan Wise, um dos grandes do futebol ganês da actualidade. Depois de dois anos a brilhar nas provas africanas, e depois de ter liderado a selecção do seu pais Natal nas categorias de sub 17, sub 20 e sub23, o jovem Abdul prepara-se finalmente para dar o salto. Tem já contrato para a próxima época com o TSV Hoffenheim, a grande sensação da primeira volta da Bundesliga, que tem já preparado o projecto de assalto ao próximo ano. A chegada de Abdul para o meio campo é mais uma contratação cirúrgica dos alemães. Jovens promessas a preço de saldo e com o futuro pela sua frente. Depois de optar jogar pelo Gana – poderia tê-lo feito pela selecção francesa – Abdul tornou-se aos 23 anos num mito para os jovens do seu pais.
 
Quatro anos mais novo, o seu irmão André é outro dos esteios da futura selecção ganesa. Nascido em Lille, em 1990, quando o pai já brilhava nos relvados franceses, tem dupla nacionalidade franco-ganesa. Um filho do Mundo que cedo decidiu que ia fazer carreira na Europa e chegou a jogar pela selecção gaulesa das camadas de formação. Depois não resistiu ao chamamento da terra de origem do pai e estreou-se em 2007, com apenas 17 anos, como internacional ganês. Depois do período de formação no clube paternal conseguiu um lugar na equipa que celebrizou o pai na Europa, o Olympique Marseille. Actualmente sob empréstimo ao FC Lorient, aos dezanove anos André tem tudo para singrar no futebol francês. Extremo habilidoso e veloz, é uma das referências das camadas jovens gaulesas e uma aposta de futuro segura na cidade portuária que já anunciou que o resgatara para atacar a Champions League do próximo ano. Em 2007 Andre tinha-se estreado no Dragão pelo Marselha. Agora no próximo ano espera voltar a brilhar nos mesmos holofotes e com a mesma camisola que consagrou o pai e sob o olhar atento de Arsene Wenger que já mostrou interesse em contar com o talentoso jovem na sua armada de talentos precoces em Highbury. O flanco esquerdo do ataque marselhês espera pelos seus dribles ao mesmo tempo que os adeptos já se juntam no campo de reservas para ver mais um Ayew, o jovem Jordan, de quem o pai Abedi, orgulho como poucos, já se atreveu a elogiar como o melhor de todos os três.
 
O futuro o dirá mas parece certo que a próxima década do futebol africano voltará a viver sob o signo do apelido Ayew, a ínclita geração do futebol ganês que conta com o mítico Abedi como o padrinho perfeito para um futuro de sonho.


publicado por Miguel Lourenço Pereira às 08:12 | link do post | comentar

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Miguel Lourenço Pereira

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