Quinta-feira, 05.04.12

Hoje pode ser o seu último jogo nos palcos europeus. Essa frase tem sido repetida até à exaustão desde há dois anos. Mas o mais polémico jogador espanhol da história teima em esconder o segredo da eterna juventude só para si. Se hoje há jogo em San Mamés é porque Raul não se rende nunca e saca os mais apaixonantes artilúgios futebolisticos para desafiar o fantasma da retirada.

Quando Jorge Valdano pegou no miudo de 17 anos a quem chamavam Raúl e o lançou num jogo em La Romareda sentiu que estava a fazer história.

O então técnico merengue referiu-se por diversas vezes ao caracter competitivo de "Rulo". Nunca foi o mais dotado dos jogadores, nunca foi um matador de área, um génio com a bola nos pés, um atleta incansável ou um perito em lances de bolas paradas. Mas sem ser um divino em cada uma destas caracteristicas fundamentais para arriscar entrar na história, foi grande em todas elas. E enquanto os outros se iam perdendo para o tempo e para o corpo que os sustentava, o sete negava-se a desaparecer nos volumes da história.

Os seus dois golos em Gelsenkrichen, a passada quinta-feira, foram a prova viva de que o mesmo jogador que mandou calor o Camp Nou e se tornou em simbolo do Real Madrid continua exactamente igual. O oportunismo de área, o descaro no remate, a contenção na liderança que exerce com uma naturalidade pasmosas. Raúl conviveu com os melhores jogadores dos últimos 20 anos, de Butrageño e Laudrup a Zidane e Cristiano Ronaldo e nunca se deixou sequer atropelar pela imagem de um deles. Quando Florentino Perez, ansioso por construir a sua Galáxia, quis retirar-lhe o sete para entregar o número a Luis Figo, ouviu o que nunca imaginaria ouvir de um jogador de futebol no seu gabinete. Figo foi apresentado com o 10, Beckham com o 23, Zidane foi o 5 e Cristiano Ronaldo o 9. Nenhum deles conquistou os adeptos do Bernabeu, sentou tão bem á imprensa e deixou uma marca tão profunda como o jovem que estava predestinado a ser uma estrela no Atlético de Madrid.

 

Se a carreira de Raúl é um espelho da sua glória e do seu fracasso, dos seus três titulos europeus com o Real Madrid e os seus repetidos erros com a selecção espanhola, é com as cores do Atlético de Madrid e o Schalke 04 que a sua vida desportiva faz sentido como espelho da personalidade de um herói do silêncio.

Raul podia ter emigrado para as Arábias ou para a liga norte-americana quando Florentino Perez, de volta ao trono, lhe fez saber que nem ele nem José Mourinho contavam com os dois filhos predilectos da cantera local, ele e Guti. O inconstante José Maria Gutierrez deixou-se atrair pela música e pelas mulheres turcas mas o profissionalismo absoluto de Raúl levou-o a procurar o melhor para o seu nome profissional. Foi exactamente a mesma decisão que tomou 15 anos antes. Jesus Gil y Gil estava determinado a acabar com a formação do clube para poupar em gastos e fez várias propostas a jogadores locais por valores insignificantes de empréstimos a clubes da região com a eventual promessa de, num futuro, integrar os quadros dos colchoneros. Raúl não gostou dos números, do destino que lhe estava reservado e da palavra de um presidente reconhecido por não a ter em absoluto. Sem vergonha na cara bateu á porta do eterno rival e foi acolhido como um filho pródigo. Quando deu ao clube a sua segunda Taça Interconintental com um golo que se tornaria imagem de marca, já ninguém se lembrava de onde vinha. Quando enfunda a camisola azul do Schalke ninguém se esquece de donde vem um jogador que transformou radicalmente a imagem de uma equipa com potencial mas demasiado irregular para triunfar ao mais alto nível. A sua exibição em Milão levou o Schalke a umas históricas semi-finais da Champions League e só os seus golos impediram o Athletic Bilbao de estar a marcar hotéis e bilhetes para a próxima fase. Ao principio e ao final a sua visão vai mais além do mero futebolista de prestigio. Recusou-se a ser homenageado pela selecção espanhola por despeito á forma como Luis Aragonés fez dele o bode espiatório que permitiu aos espanhóis acabar com a sua maldição desportiva. No fundo ainda acalenta a esperança de voltar a vestir La Roja e os seus números, este ano, posicionam-no como o melhor avançado espanhol do ano. Não será suficiente, nem por muito que o seu amigo Josep Guardiola o declare como melhor jogador espanhol da história, epiteto onde Gento, Suarez, Butrageño e Xavi têm algo que dizer.

 

Ver jogar Raúl sempre foi ver um desporto á parte. O avançado estudas as capas, lê as sequências, salta-se os parágrafos e remata o ponto final com a autoridade de um decano universitário que vê passar pelas suas salas de aula gerações de génios em potência. Sem nunca insistir na mitologia a forma como evitou a odiosa comparação com os seus conterrâneos e o seu agastado fim já lhe vale o reconhecimento de muitos que antes lhe torciam o nariz. Os outros, os raulistas, contam as horas passar temendo que chegue o dia em que a fonte da eterna juventude se esgote e Rulo se canse de ser eterno.  



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Sexta-feira, 30.03.12

São a melhor equipa do ano. Com recursos infimos jogam de uma forma inimitável, fruto do génio absoluto do treinador mais audaz e apaixonante do futebol mundial. O Athletic Bilbao de Marcelo Bielsa é mais do que uma grande equipa num imenso estado de forma. É a prova de que é possível fazer muito com pouco, que há espaço para a garra e o toque, a análise cientifico e o recurso ao coração nos momentos de aperto. Bielsa é um caso único no futebol mundial, alguém de quem é impossível não se apaixonar perdidamente quando falamos de futebol.

Bielsa dá um passo á esquerda, cinco á direita, coloca-se de cócoras, dá meia volta e recomeça a contar.

O seu feitio de colocar ordem em qualquer momento de caos mental faz dele quase uma caricatura de um génio. Mas a realidade do "Loco" de Rosário vai muito mais longe. Se a cidade argentina tem um dos melhores jogadores do Mundo também pode orgulhar-se de ter um treinador sem igual, capaz de fazer muito com tão pouco sem nunca renunciar aos seus principios.

Quem segue o Athletic Bilbao sabe que o nome do argentino era o último que se podia associar a San Mamés, estádio onde se forjou o espirito guerreiro do futebol espanhol, noites de dureza épica, garra histórica e sob o grito "Euskadi" se defendia a bandeira com a vida. O estádio onde Javier Clemente moldou o seu 4-4-2 mais britânico e agressivo de sempre. O estádio que desconfiava do génio de Julen Guerrero e preferia a entrega de Joseba Extebarria. A catedral que se rendeu ao futebol brusco, bronco e eficaz de Caparrós. Enfim, um clube onde a forma de vencer se assemelhava mais a uma batalha ideológica do que a um exprimir todo o sumo futebolistico dos seus melhores jogadores. Mas algo mudou. O nascimento de uma geração irrepetivel na história do clube desde os anos 50 - onde o Bilbao logrou bater o Real Madrid de Di Stefano na luta pelo titulo por duas vezes - trouxe uma novamentalidade e quando o clube foi a votos José Urrutia, o ex-jogador que anunciou Bielsa como seu treinador, venceu o presidente em exercio, Fernando Mácua, responsável pela reestruturação financeira e desportiva da identidade. A vitória de Urrutia foi a porta de aberta de Bielsa e o inicio do melhor ano da história do clube basco desde 1984.

 

Obcecado pelo futebol e pela vida, Bielsa é único. Para ele a vida só faz sentido com uma bola nos pés.

Na preparação para o duelo em Gelsenkirchen contra o Schalke 04 viu 48 videos do conjunto alemão lembrando o Mundial de 2002 na Coreia do Sul. Então o seleccionador argentino levou consigo mais de 600 videos de todas as seleções presentes no torneio. Os jogadores não corresponderam á intensa preparação do "Loco" e a albiceleste voltou cedo para casa mas a vitória na Copa América primeiro e a sua notável prestação como seleccionador chileno voltou a devolver o nome de Bielsa á ribalta. O chileno é, provavelmente, com Louis van Gaal, o mais genial e menos reconhecido técnico do futebol mundial dos últimos 25 anos.

Em Bilbao, um clube que só contrata jogadores bascos, Marcelo não teve direito aos fundos de José Mourinho, Josep Guardiola, Roberto Mancini ou Alex Ferguson. Mas o seu onze base é provavelmente o mais intenso, apaixonante e espectacular do ano. O curto banco, espelho do pouco leque de opções que um clube que leva o simbolo de Euskadi muito a sério, impediu-o de estar actualmente mais perto da Champions League na tabela classificativa da liga. Mas na Europe League o clube basco tem sido superlativo. Depois de vencer a fase de grupos e de eliminar o Lokomotiv Moscow, o festival de futebol com que Bielsa asfixiou ao veterano Ferguson em 180 dos melhores minutos do futebol europeu despertaram a Europa para algo que Espanha já se tinha habituado a ver semana sim, semana também. Os 2-4 impostos ao Schalke 04 foram outra prova tremenda da capacidade táctica do técnico. Depois de uma primeira parte em que o jogo pertenceu aos alemães, Bielsa reordenou as peças, soltou Muniain e Susaeta, e a equipa que muitos diziam estar fisicamente morta venceu por 2-4, sentenciando praticamente um lugar nas meias-finais onde pode defrontar o Sporting CP antes da viagem a Bucareste.

Bielsa é um treinador corajoso. Chegou uma semana depois do arranque da pré-época depois de ter visto todos os jogos do Bilbao dos últimos cinco anos na sua casa em Rosário. Trazia uma lista de dispensados onde se encontravam intocáveis de Caparrós como Aitor Ocio ou Fernando Amorebieta. Mesmo assim aceitou o segundo depois de o ter convencido na pré-temporada que reunia as condições minimas que Bielsa exige aos defesas: ser os primeiros a saber manejar a bola com classe.

O seu 3-4-3, mais ousado ainda do que habitualmente utiliza Guardiola em casa, reune alguns dos mais promissores jogadores do futebol espanhol, de Iker Muniain a Marcel Susaeta passando por Oscar de Marcos, Iturraspe, Ezkiza, San José, Aurtanexe, Iraizoz ou Iraola a que se juntam os internacionais Fernando Llorente e Javi Martinez. Em oito meses de temporada poucos clubes podem dizer, com a cabeça alta, que já jogaram ao mesmo nivel que os "leones" do Louco.

 

Amanhã o Bilbao joga no Camp Nou. A habitual hipocrisia do Barcelona e a permissividade da Liga espanhola não permitiram ao clube basco cumprir as 48 horas de descanso estipuladas. É provável que o discipulo, Guardiola, vença sem dificuldade um onze mais débil e, sobretudo, muito mais extenuado, de um dos seus mentores, Bielsa. Mas para uma equipa que já tem bilhete na próxima final da Copa del Rey, que está perto de vencer a sua primeira prova europeia e que não está a mais de 9 pontos da Champions League com um plantel onde 14 jogadores cubrem mais de 85% do tempo de jogo a dois meses do final da temporada é histórico. Mais do que isso, é futebolisticamente único e humanamente apaixonante. Algo que só Marcelo seria capaz de fazer.



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Sexta-feira, 25.11.11

As provas europeias parecem ser, cada vez menos, coisa de ingleses. À parte do ostracismo votado à Europe League/Taça UEFA na última década, a perda de importância dos clubes ingleses na Champions League começa a ser evidente. De três semi-finalistas em 2008 podemos passar ao extremo de um só concorrente nos oitavos de final. Mais sério do que isso é a perda de competitividade dos insulares face aos seus rivais europeus, um problema que tem a sua génese não na grande competição continental mas nas entranhas da própria Premier League.

 

O futebol europeu rege-se sempre por fases e o periodo de predominância inglês parece estar, definitivamente, superado.

Se nos anos 80 foi necessário o desastre do Heysel para acabar com um mandato absoluto de dominio britânico entre 1977 e 1985 (sete titulos em nove anos), agora a implosão desportiva dos grandes da Premier League vem desde dentro.

Sob a ameaça da aplicação do Fair Play financeiro que continua a ser uma das grandes bandeiras de Michel Platini, os ingleses têm de decidir que caminho querem seguir. Se por um lado são um oásis nos desafios morais à hegemonia da FIFA - a questão do racismo, da corrupção e introdução de tecnologia são belos exemplos - por outro o nivel de endividamento da maioria dos clubes (da Premier e do Championship) coloca seriamente em risco o futuro de uma liga que se soube reinventar como nenhuma outra depois do Relatório Taylor e que agora vive afogada nas próprias dividas.

E no entanto a presença do Manchester United na final de Londres tapou, de certa forma, uma tendência que se vem verificando desde 2009 e que parece irreversível. A supremacia do dueto espanhol Barcelona-Real Madrid (hegemónicos em tudo, desde o dinheiro ingressado, a atenção televisiva e as propostas futebolisticas) bem como o fortalecimento claro da realidade futebolistica na Alemanha (que as campanhas exitosas de Bayern Munchen e Schalke 04) ajudam a explicar a perda de preponderância desportiva da Premier. Mas o problema é mais profundo.

A taxa de endividamento dos principais clubes ingleses é a mais alta do espectro europeu. A carteira de Abramovich e Al Mansour tem ajudado a maquilhar a desastrosa realidade financeira de Chelsea e Manchester City, porta-estandartes desta liga de novos ricos capazes de destabilizar o mercado como ninguém. Mas começa a revelar-se insuficiente para resolver todos os problemas. No caso do Arsenal, a clara perda de poder económico a que se seguiu a forte aposta na construção do Emirates (que só agora se acabou de pagar), contribuiu para a perda de poder futebolistico que passará por um natural processo de reestruturação antes de voltar à elite. E por fim, em Manchester, o histórico United continua a aparentar uma imagem invejável de saude financeira que esconde a imensa divida do império dos Glazer transportada para as costas do clube. Mais abaixo tanto Tottenham como Liverpool debatem-se com uma eventual mudança de estádio para recuperar poder económico com os rivais directos enquanto que a habitual classe média (Everton, Aston Villa, Newcastle, Blackburn Rovers, Bolton, Sunderland) conta os tostões para chegar ao fim do mês com a balança no verde. O dinheiro começa a escassear, os preços inflacionados de jogadores no mercado Premier - onde os clubes locais continuam a apostar - não parece baixar (viu-se nos casos de Adam, Henderson, Carroll, Jones, Meireles, Arteta) e a evolução técnico-táctica que contribuiu para a mutação da competição entrou numa fase de estagnação evidente.

 

Não foi alheio ao processo de auto-destruição do Calcio, há uma década atrás, os mesmos sintomas que se vivem na Premier.

Aquela que foi, entre os finais dos anos 80 e grande parte dos 90, a grande liga europeia, entrou num poço de onde ainda não voltou muito por culpa do endividamente dos seus clubes (com a Lazio, Napoli, Sampdoria, Parma e Fiorentina como casos mais evidentes), pela violência e falta de interesse dos adeptos por um espectáculo que ia perdendo qualidade e, como antecedente dessa realidade, a progressiva migração dos melhores jogadores para outras ligas (espanhola e inglesa). A Premier vive hoje esse pesadelo.

Nos últimos cinco anos abandonaram o campeonato alguns dos seus mais brilhantes interpretes, como Fabregas e Cristiano Ronaldo, e apesar de algumas incursões pagas a preço de ouro (caso do City com Silva, Aguero, Balotelli, Dzeko), desde há vários anos que os principais clubes ingleses têm falhado nas tentativas em incorporar os melhores jogadores do continente. Os grandes negócios realizam-se entre eles (Torres, Nasri, Berbatov, Jones, Henderson, Meireles) e a aposta começa a ser - seguindo o exemplo do Arsenal - em jogadores jovens, de preço mais acessível e com margem de progressão (David Luiz, Javier Hernandez, Luis Suarez, Luka Modric...).

Hoje os Neymar, Gotze, Hazard, Pastore, Cavani, Falcao e companhia dão-se ao luxo de rejeitar ofertas de clubes de top da Premier, seja pela melhoria de condições nos seus clubes de origem, seja porque a liga perdeu grande parte do seu real atractivo. Ao contrário de Espanha, onde muitos dos nomes continuam a procurar um lugar ao sol, Inglaterra tornou-se outra vez num destino cinzento, envolto numa capa escura de smog.

Se a partir de 1995 a grande mutação da Premier começou a tornar-se evidente com o contributo de jogadores de fora como Cantona, Zola, Bergkamp, Asprilla, Pires, Overmars, Anelka, Vieira, Ginola e companhia, permitindo ao futebol local abandonar o estandardizado 4-4-2, o jogo directo e a total falta de pressão entre linhas, hoje parece que as equipas inglesas ficaram paradas no tempo. Da hegemonia de técnicos estrangeiros a principios da década passada (Houllier, Ranieri, Benitez, Mourinho, Wenger) passou-se a um cenário onde só o francês e Villas-Boas sobrevivem, o primeiro no enésimo projecto e o segundo numa mutação desportiva longa e complexa. O 4-5-1 e 4-2-3-1 tornaram-se num santo e senha dificil de mudar e, sobretudo, fácil de anular quando as equipas das ilhas viajam ao continente. A versão mais conservadora do Manchester City - clube para muitos candidato ao máximo troféu europeu - foi incapaz de reacionar diante de um 3-4-3 móvel e asfixiante do Napoli. Como antes, diante do Bayern Munchen e até mesmo frente aos napolitanos em casa. O Chelsea de Villas-Boas tem tentado apostar num 4-3-3 que na Europa acabou, em momentos, por ser vulgarizado por uma versão mais fluida e acutilante tanto por Valencia como por Leverkusen. E no caso do Manchester United a realidade bateu à porta de um sir Alex Ferguson, habituado a tratar com pouco interesse uma fase de grupos que antes era apenas um trâmite. Frente ao Basileia e Benfica, em Old Trafford, a péssima exibição do sector defensivo facilitou os dois empates consentidos. Fora de portas a incapacidade de criar jogo num meio-campo lento e previsivel transformaram os duelos em Portugal e na Roménia em verdadeiros suplicios. Salvou-se o Arsenal, talvez por ser um projecto novo e, portanto, mais aberto à mudança, mas que beneficia da mentalidade continental do seu técnico, mas olhando para os cinco jogos disputados é dificil ver nos gunners um candidato sério a chegar às meias-finais.

A realide é desarmante, um 45% de vitórias em 20 jogos de equipas inglesas, a mais baixa percentagem dos últimos 10 anos. E um espelho de uma realidade que sim existiu durante os anos 90 onde, por várias vezes, os ingleses caiam aos pés de equipas mais acessiveis como o IFK Goteborg, Legia Warsawm RCD Lends, Dynamo Kiev, Fiorentina, Basel, Rosenborg ou Spartak Moscow. Numa Premier que então ainda se debatia com os problemas estruturais pós-Taylor, essa era a realidade que hoje parece ter regressado apesar da diferença de orçamentos entre os clubes ingleses e os continentais (salvo Barça e Madrid) seja maior do que nunca.

 

Em 2008 o futebol inglês viveu o apogeu de lograr três semi-finalistas na Champions League. O sucesso do Liverpool três anos antes e a presença do Arsenal na final de 2006 e do próprio Liverpool em 2007 davam a ideia de uma hegemonia clara e facilmente reconhecida. O United, vencedor dessa final totalmente inglesa, voltou em 2009 e 2011 mas numa versão mais pobre, facilmente domada pelo Barcelona de Guardiola. E a performance dos ingleses foi decaindo progressivamente, tanto nos casos de Chelsea e Arsenal como nas presenças, esporádicas, de Liverpool e Tottenham. Este ano, pela primeira vez, há sérias possibilidades do futebol inglês chegar à fase a eliminar com apenas uma equipa em prova. Um cenário que talvez doa menos do que a constatação de uma crua realidade. No panorama actual é muito complicado que um clube inglês possa aspirar a estar em Munique no próximo mês de Maio. As goleadas entre favoritos na Premier atraem os espectadores mas deixam a nu os problemas técnico-tácticos dos principais clubes e a falta de competitividade quando viajam à Europa tem tomado proporções alarmantes. Apesar de manter todos os condimentos de um espectáculo sem igual, à perda de competitividade da Premier League vai, seguramente, unir-se uma perda de prestigio, perda de financiamento e perda de interesse. Já vimos este filme em Itália e sabemos o dificil que é recuperar de um choque tão grande. Os ingleses sempre demonstraram saber reinventar-se mas este desafio parece ser mais sério do que muitos possam imaginar.



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Sexta-feira, 10.06.11

André Villas-Boas transformou o ano desportivo num regresso ao futuro. A sua juventude, questionada ao principio, deixa antever um futuro brilhante para o técnico portuense. A forma como se instalou, confortavelmente, na cadeira dos seus sonhos, permitiu recuperar os sinais de identidade do passado. Com Villas-Boas ao leme o FC Porto voltou a ser rei de Portugal e da Europa, sob aplauso generalizado e admiração genuína. AVB tornou-se, por direito próprio, no treinador de moda do futebol europeu. E no Homem do Ano para o Em Jogo.

 

Aprendeu muito com Mourinho mas agradeceu a Guardiola a inspiração. E certamente não se esqueceu de beber um bom copo de vinho à saúde de Bobby Robson. Onde tudo começou. Para ele. E não só. No momento da consagração, André Villas-Boas podia sentir-se um homem completo. Logrou o inédito a uma idade precoce e no lugar onde sempre quis estar. Aí, sem dúvida alguma, traça um precioso paralelo com o treinador do Barcelona. Ambos voltam a casa, antes do tempo prevista, para ganhar tudo o que havia para ganhar e com uma filosofia e um estilo próprio que os afastam da figura em comum que os une, mas também, que os separa, José Mourinho.

Villas-Boas aprendeu do técnico sadino muito mas o seu talento precoce vinha já das suas conversas com Bobby Robson, dos seus relatórios adolescentes e das muitas horas perdidas a ver jogos atrás de jogos. Durante essas tardes, no velho estádio das Antas, sonhou com a cadeira de Pedroto, de Artur Jorge, de Ivic, Carlos Alberto...de Robson. Deu sempre passos mais longos que as pernas mas pensados ao mais minimo detalhe. E mesmo quando embarcou na cosmopolita viagem europeia com Mourinho nunca perdeu a Invicta de vista. Fez um desvio por Coimbra (por onde passaram também Pedroto e Artur Jorge) antes de aterrar no Dragão para por ordem na casa. Manteve os jogadores, mudou os principios. E ganhou a aposta. Em 365 dias mudou o rosto do futebol português. Os seus quatro titulos colocaram um ponto final na ambição do Benfica de emular algo que não consegue desde 1984, vencer dois titulos consecutivos. Numa especie de O Império Contra-Ataca, restaurou a normalidade na Liga Sagres com registos impensáveis na era moderna. 30 jogos, 27 vitórias, 3 empates, 73 golos marcados e 16 sofridos não caem do céu. Definem sim uma época.

 

O sucesso de Villas-Boas recai também na sua atitude.

Não é só um técnico que domina os distintos aspectos do jogo - do conhecimento táctico à gestão de balneário - mas é também um homem que sabe controlar todos os aspectos que rodeiam a vida do clube. Essa lição foi bem aprendida com Mourinho, o mentor de quem se afastou, e que soube colocar em prática durante todo o ano, tanto dentro como fora de portas. O sucesso interno do clube - em três provas, sempre à custa do Benfica - teve mais eco no futebol europeu pela caminhada vitoriosa até Dublin. Como sucedeu em 2003 os grandes da Europa ficaram prendados com o talento de gestão de um treinador mais novo do que o próprio capitão de equipa, mais novo ainda de que os precoces Mourinho e Guardiola, os dois rostos que comandam hoje em dia as hostes quando se fala em gestores de primeiro nível.

Villas-Boas não se limitou a bater recordes de precocidade. Definiu um estilo. Num FC Porto habituado nos últimos anos a um jogo temeroso, dependente em excesso do contrário ele manteve apenas o desenho táctico. Trocou os lançamentos rápidos pelo futebol pensado no miolo, recuperou principios da mistica azul e branca dos dias de Artur Jorge e a eterna fome de golos que fez parte dos ensinamentos de Bobby Robson. Uma equipa com tracção à frente mas com uma defesa segura e fiável. Uma equipa sem medo de ter a bola nos pés e com a clareza de mente suficiente para saber o que fazer com ela. E, sobretudo, uma equipa repleta de valores individuais imensos com uma forte dimensão colectiva. Esse espirito de pastor de homens - de que o Dragão estava orfão desde a debandada de Mourinho - significou um profundo regresso à filosofia do passada, cultivada desde a chegada do duo Pedroto-Pinto da Costa. Um FC Porto autoritário, ofensivo e profundamente carismático.

 

Não é casualidade que os grandes da Europa tenham o nome de AVB no topo das suas listas. Muitos lembram-se do que sucedeu da última vez que um jovem e desconhecido técnico despontou ao serviço dos dragões. Por muito que Villas-Boas se queixar distanciar dessa imagem, a verdade é que o jovem técnico já superou o registo ganhador do seu mentor e essa realidade está bem presente  tanto em Portugal como para lá da raia fronteiriça. O treinador tem possibilidades de emular o trajecto de Artur Jorge e José Mourinho mas há algo no seu caracter tripeiro que deixa antever que se prepara para inverter a tendência. Sente-se cómodo na sua cadeira de sonho e não vê motivos para sair. Já viu o Mundo uma vez agora quer que seja o Mundo a vê-lo a ele. Este ano conseguiu-o e transformou a cidade Invicta - com autorização de Barcelona, que vive ainda noutra dimensão - na capital do futebol europeu.  



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Quinta-feira, 09.06.11

Um ano depois, Em Jogo volta a divulgar o nosso particular Top 10 de jogadores que marcaram a última temporada. Uma análise dos dez nomes mais marcantes que definiram o rumo das principais ligas e provas europeias. Um top baseado não só nas exibições mais estelar mas sobretudo na sua constância e evolução demonstrada desde o arranque da temporada, no passado mês de Agosto até ao passado mês de Maio. Uma lista, como não podia ser de outra forma, liderada pelo astro argentino Lionel Messi, o jogador mais influente de 2010/2011.

 

1. Lionel Messi

 

Aos 23 anos, Leo Messi sabe perfeitamente conjugar o verbo ganhar.

Depois de três Champions League (duas das quais onde foi determinante), cinco Ligas, 1 Taça, várias supertaças, 1 Mundial de Clubes e dois Ballon´s D´Or cabe perguntar como é que um jogador tão novo encontra motivação para melhorar de ano para ano. Os números de Messi, a sua precocidade, só encontram paralelo nos de Pelé, que à sua idade já tinha ganho dois Mundiais e várias provas nacionais e internacionais com o seu Santos. O argentino já meteu a velocidade de cruzeiro nessa corrida por entrar na história e o seu papel na definição do futebol contemporâneo está suficientemente documentada. Em 2010/11 conseguiu o impossível, melhorar. O seu posicionamento táctico na estratégia de Pep Guardiola como o falso nove que era quando chegou a La Masia ajudou a aperfeiçoar o seu estilo de jogo e deu-lhe de novo o protagonismo absoluto na época memorável dos blaugrana. As suas arrancadas, o jogo de tabela e a precisão do remate são já imagens de marca mas na época que finda Messi afirmou-se igualmente como um assistente de primeira. Perdeu a Bota de Ouro no seu duelo pessoal com Cristiano Ronaldo mas bateu-o claramente em assistências, o que o confirma, sobretudo, como uma dessas individualidades que aposta, sobretudo, no jogo colectivo. Com ele o modelo do Barcelona, com todo o seu academismo perfeccionista e geométrico, ganha esse toque de improvisação potrera que o torna ainda mais grande. Messi ajudou a decidir a Liga, levou a equipa às costas durante a reconquista europeia e agora só lhe falta fazer as pazes definitivas com o povo argentino. A Copa América, que arranca daqui a nada, será a ocasião perfeita. Cruyff, Di Stefano, Eusébio, Puskas, Baggio, van Basten, Platini e Zico não precisaram de um Mundial para entrar na história. Messi também não, digam o que disserem, ele já é a história!

 

2. Cristiano Ronaldo

 

A grande frustração de Cristiano Ronaldo chama-se Messi.

Se no mundo do faz de conta o argentino não existisse (ou pelo menos, não tivesse aterrado na realidade blaugrana), o português podia reclamar para si o titulo de melhor do mundo. Individualmente é um dos jogadores mais desequilibrantes das últimas décadas. Tem todas as condições para brilhar e a sua faceta goleadora, uma nova obsessão, marcou a letras de ouro a sua temporada passada. Cristiano Ronaldo marcou 41 golos na liga espanhola, 53 no total de todas as provas. Números espantosos para um jogador que nem joga como avançado mas que sabe que tem um esquema táctico desenhado à sua medida. O português conquistou a sua segunda Bota de Ouro (igualou Eusébio e Fernando Gomes como o português com mais vitórias no troféu) e marcou ainda o golo decisivo na final da Copa del Rey, a única ocasião em que o Real Madrid soube bater o Barcelona. Mas acabou por ter de viver à sombra da grande época blaugrana.

Se a sua veia goleadora reforçou o seu estatuto de estrela, a verdade é que a cada ano que passa, Cristiano Ronaldo torna-se um jogador cada vez mais individualista, num duelo contra o Mundo, contra a história e, forçosamente, contra Messi. Enquanto o argentino faz da associação colectiva a arma que potencia a sua individualidade, Ronaldo é a negação do jogo conjunto, apesar de ter encontrado em Ozil e Benzema parceiros dispostos a dar-lhe o ar que precisa. Assinatura pendente para o próximo e intenso ano em que se espera muito (e melhor) de um jogador que também já entrou na história do beautiful game.

 


 

3. Falcao

 

Bater o recorde de Jurgen Klinsmman não é tarefa para qualquer um. Não o digam a Falcao.

O colombiano do FC Porto é o avançado de moda do futebol europeu. E quem duvida disso? Depois de um primeiro ano de adaptação em que superou as expectativas, o ex-avançado do River Plate realizou a sua melhor época profissional ao serviço dos dragões de Villas-Boas e tornou-se na peça fundamental para o FC Porto conquistar um poker inédito no seu historial. Melhor marcador da Europe League (15 golos em tantos jogos), segundo melhor marcador da Liga Sagres, apesar da sua prolongada ausência por lesão, Falcao voltou a demonstrar o bom olho de Pinto da Costa para avançados com fome de golo e deixou os departamentos de observação de vários clubes de top a pensar como deixaram escapar tamaha pérola. Aos 24 anos o colombiano está em plena forma e será, sem dúvida, um dos grandes atractivos da próxima Copa America. O Dragão deverá começar a preparar-se para a despedida porque não é provável que os grandes da Europa o percam de vista no próximo ano.

 

4. Eden Hazard

 

Zidane já o tinha anunciado e quem segue a espantosa evolução do futebol belga não podia deixar de pensar o mesmo. Eden Hazard está chamado a fazer história. Aos 20 anos tornou-se no mais jovem jogador a ser eleito Jogador do Ano pela Ligue 1. Não é por menos. Depois de formar-se em Lens, tornou-se no patrão de jogo, alma e génio, do modesto Lille que rompeu com os prognósticos e sagrou-se campeão francês pela primeira vez em 56 anos. O talento criativo de Hazard relembra, mais do que o génio gaulês que o apadrinha, o estilo de jogo do dinamarquês Michael Laudrup. Rápido, ágil e com golo nos pés, o belga é igualmente o lider de uma geração que se propõe a recolocar o futebol belga no lugar de onde há muito está afastado. O Lille fará de tudo para o segurar com o atractivo da Champions League (um pouco como farão FC Porto e Dortmund com as suas estrelas), mas é fácil imaginar que muito brevemente a classe de Hazard esteja a desfilar pelos grandes palcos europeus.

 

5. Xavi Hernandez

 

Quando Xavi Hernandez recebe a bola, o Mundo pára. Na sua cabeça. Como um axedrezista sobredotado, o número 6 do Barcelona sabe antever todos os lances que irão suceder nos instantes seguintes. E molda-os a seu belo prazer. Ele é a base deste modelo de jogo que tanto encandila ao mundo. Se Messi traz o rasgo individual, Xavi pauta a coordenação colectiva. Herdeiro da filosofia cruyffiana, que começou com Milla para depois confiar-se a Guardiola, ele define o modelo de jogo. Recuado, lê nas entrelinhas, traça a régua e esquadro e depois contempla a sua criação. Se o futebol do Barcelona é milimétrico, estudado até à perfeição pelos aplicados alunos da Masia, Xavi é o professor catedrático por excelência. A cada jogo, um novo curso, um novo gesto de superioridade mental. Com Messi cada vez mais recuado, Xavi cedeu o protagonismo do último passe, recuou dez passos no terreno e aprendeu a controlar à distância. Mas continua a ser ele, e só ele, quem mantém a máquina blaugrana perfeitamente oleada.

 

6. Carlos Tevez

 

Na problemática realidade chamada Manchester City é dificil encontrar um elemento que consiga deixar para segundo plano os (muitos) milhões gastos para formar uma equipa campeã que continua sem ganhar o titulo da Premier. O argentino Tevez logrou com o City uma das suas melhores épocas e levou às costas o conjunto citizen ao apuramento directo para a Champions League, algo inédito na sua história. Apesar do investimento milionário em Balloteli, Dzeko, Silva, Touré e companhia, foi a raça do "Apache" e o seu espirito de liderança nos meses mais complicados da gestão de Mancini que mantiveram o clube nos lugares de topo da tabela classificativa. A sua saída do City of Manchester podia provocar mais um terramoto emocional num clube que gastou muito mas nunca tão bem num jogador como naquele que foi, sem dúvida, o homem mais em forma da última Premier League.

 

 

7. Jack Whilshire

 

Foi uma aparição estelar, mais uma na lista de lançamentos relampagos patrocinada por Arsene Wenger. Se em 2010 o jovem Whilshire já deixava sensações especiais, a sua época em Londres foi absolutamente memorável. Num ano em que, mais do que nunca, Cesc Fabregas passou ao lado dos grandes momentos, foi o jovem internacional inglês que emergiu como lider e figura de um Arsenal que esteve perto da glória mas que acabou, como tem sido habitual, mergulhado no desespero. A explosão de Whilshire chegou também aos Pross e ajudou Capello a decidir-se finalmente por outro modelo de jogo, bem distinto ao apresentado na África do Sul. No duelo contra o Barcelona viu-se o melhor de Whilshire, um miudo com a eternidade à sua espera.

 

8. Javier Pastore

 

Ver jogar a Pastore é um delicioso requinte que convida a constantes repetições. Com uma técnica sublime e o mapa mundi da filosofia de futebol menotiano na cabeça, Pastore foi o sol que brilhou na Sicilia durante a última temporada dando sentido a uma época convulsa e problemática do Palermo. Não surpreende que meio mundo suspire pelo talento cirúrgico do jovem argentino, apenas ultrapassado em mediatismo no seu país natal pelo fenómeno Messi. O genial médio tem todo o potencial para tornar-se num dos jogadores mais importantes da década e a forma como move o jogo, qual axadrezista de primeiro nível, permite imaginá-lo nas grandes noites europeias nos próximos anos. Poucos jogadores podem sonhar com um futuro tão promissor.

 

9. Nuri Sahin

 

Aos 16 anos já era a maior promessa do futebol de formação na Alemanha. Precisou de cinco anos para explodir verdadeiramente mas a sua evolução confirmou todas as boas sensações que deixou quando foi lançado às feras da primeira equipa em plena adolescência. Nuri Sahin foi a bússula do entusiasmante Borussia de Dortmund, o braço direito de Jurgen Klopp no terreno de jogo e o idolo do Westfallenstadion na época que significou uma profunda viragem na história do clube mitico da Vestfália. Menos vertical que o seu amigo Ozil, outras das precoces promessas alemãs que deu o salto recentemente, o estilo de jogo de Sahin é mais pausado mas não menos determinante. O jovem que preferiu alinhar pela Turquia dos seus pais do que pela Alemanha adoptiva terá no projecto de Mourinho em Madrid a dificil tarefa de ordenar a casa. Especialista em tranquilizar quando os demais se entusiasmam, Sahin terá um desafio à altura do seu talento precoce. Emular uma época como a que agora termina será o seu grande desafio.

 

10. Edison Cavani

 

Quando a cidade de Napoles começou a sonhar com os dias de glória de Diego Maradona, quando o titulo se tornou uma realidade, os napolitanos trocaram as suas rezas habituais ao “dios” argentino e viraram-se para um jovem profeta uruguaio que levava as bancadas do San Paolo à loucura. Edison Cavani confirmou todos os predicados que o acompanham desde os seus dias como jovem estrela do futebol uruguaio. Durante largos meses pareceu ser o hércules que os napolitanos necessitavam na sua luta contra os grandes do norte. E mesmo que no final da corrida o Napoli se tenha ficado “apenas” pelo terceiro lugar, a época de Cavani foi um dos grandes atractivos da Serie A 2010/11.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:40 | link do post | comentar | ver comentários (3)

Quinta-feira, 19.05.11

André Villas-Boas tem motivos para lamentar-se numa noite histórica para o FC Porto. Foi a quarta vitória europeia, a sétima conquista internacional do clube português. Mas foi também a exibição mais cinzenta, nervosa e calculista de toda a temporada. Pouco para uma equipa que deixou a Europa com mel na boca e que na grande noite desiludiu os que imaginavam uma equipa de tracção dianteira com fome de golos pronta a romper todos os recordes. O Braga não estava pela labor mas a verdade é que o justo vencedor da Europe League também não procurou esforçar-se em demasia. O titulo é mais do que justo mas, na ressaca da vitória, fica a ideia de uma final que teve mais de jogo da Liga Sagres do que a glória de uma noite europeia. 

No final dos 90 minutos o delírio apoderou-se dos adeptos do FC Porto.

Mas foi um delírio contido de uma equipa que tem consciência de que a imagem dada não tinha sido a esperada. O técnico confirmou-o por palavras mas não era preciso. A falta de inspiração foi evidente.

Depois de uma campanha espantosa, com goleadas históricas e pouco habituais, o FC Porto mostrou-se em Dublin não como uma banda nova capaz de entusiasmar os fãs em concertos históricos. Foi antes um desses grupos de veteranos que sobe ao palco para tocar os greatest hits com pouca vontade e menos engenho. Ao contrário de Gelsenkirchen e Sevilla - nisto Viena foi um caso à parte - nunca houve essa sensação de superioridade que se podia esperar. Entre a comitiva azul e branca, adeptos incluidos, havia uma sensação de superioridade natural depois de um campeonato perfeito e um apuramento categórico para Dublin. Muitos imaginavam outro FC Porto alegre, vistoso, ofensivo e asfixiante no palco irlandês. Uma exibição para o mundo ver. Porque se muitos não viram como o campeão português desfez o Spartak ou o Villareal, muitos seriam os que acompanhariam com interesse a consagração dos homens de Villas-Boas.

No final, por mérito do Braga também, ficou uma imagem pálida de uma equipa que rematou uma vez à baliza. Bastou-lhe para vencer o troféu, mérito de Falcao, mas não para convencer os amantes do futebol de ataque que o jovem técnico tão bem soube explorar durante o ano. Villas-Boas estava nervoso. Os jogadores mais. Normal numa grande final. Caíram na teia táctica montada pelo Braga, que preferiu não deixar jogar a encarar o rival e assim tornou o jogo mais monótono e contido. O golpe de Falcao evitou uma mudança profunda ao intervalo que certamente já deveria andar pela cabeça do técnico. Poupou o risco que o FC Porto nunca teve no segundo tempo. Quando entrou Belluschi, foi para o lugar de Guarin, o melhor de um miolo sem espaço para pensar. Quando lançou James foi para render Varela, apagadíssimo, mas o jovem colombiano foi incapaz de acelerar com critério e dar mais largura ao terreno de jogo.

 

Villas-Boas perdeu o jogo táctico mas ganhou o duelo no terreno de jogo.

Não soube como responder ao previsível planteamento recuado de Domingos, reforçando o seu jogo a meio-campo desde o inicio (a equipa azul e branca esteve em constante inferioridade numérica) onde lhe faltou sempre um homem. Onde sobrava um inconsequente Varela fazia falta um Belluschi ou Micael com critério. Fiel ao seu ideário táctico o portuense esperou por um golpe de génio dos seus jogadores, a classe que os homens do Braga não tinham. Sabia à partida que sofrer um golo era difícil e que marcar tornar-se-ia mais provável à medida que o tempo fosse discorrendo. Mas sofreu na espera e sem corrigir o posicionamento no terreno de jogo. Hulk nunca soube aproveitar o pouco espaço que teve e perdeu-se, demasiadas vezes, em lances individuais. Abdicou de lances de bola parada estudados por remates sem sentido e foi o espelho da falta de alegria e classe desde FC Porto campeão comparado com a equipa que chegou até à final.

Mas no meio de todo este cinzentismo - e o FC Porto sabia-se superior e jogava com isso, sem procurar nunca o risco - o Braga nunca soube reagir à altura e deixou os azuis e brancos ainda mais cómodos. Villas-Boas foi mais Mourinho e menos Robson do que nunca e com a entrada do médio argentino deu um claro sinal de estar satisfeito com o rumo do jogo. Um segundo golo não era, nem ia ser, uma prioridade.

Depois do susto de Mossóro, com um Helton imenso (na sua melhor época em Portugal), o Braga demonstrou que o quarteto defensivo do Porto (especialmente Otamendi e Sapunaru, os mais desastrados) joga mal sob pressão. Mas os poucos erros individuais não tiveram continuidade e sempre que a bola chegava a Moutinho ou Fernando o jogo adormecia outra vez. Os médios do FC Porto nunca procuraram as diagonais a rasgar, a velocidade dos flancos e contribuíram, e muito, no afunilar do jogo ofensivo. A certa altura dava quase a sensação de haver um pacto de não-agressão entre todos, evidenciado várias vezes pela atitude de Helton, aplaudindo os rivais efusivamente. Ao clube do Porto não interessou nunca procurar uma vitória expressiva, o Braga nunca lhe deu demasiados espaços mesmo quando perdia e o golo de Falcao poupou a Villas-Boas exercer mais como táctico e menos como psicólogo.

 

No final, a sua desilusão, é algo que só pode atribuir a si mesmo e aos seus homens. Pouco incomodados é certo, para eles - e para muitos adeptos - as finais são só para ganhar. Mas depois de ter surpreendido os adeptos neutrais e ter ganho uma considerável legião de adeptos fora de Portugal (como sucedeu com o Dortmund alemão), fica a sensação de que vencer era quase um trâmite e era a imagem de uma equipa descomplexada e atacante que o clube deveria ter procurado dar. Optou pelo cinismo calculista de quem se contenta com a glória do sucesso e talvez com razão. Mas ninguém dúvida também que o clube do Dragão perdeu uma oportunidade de ouro para deixar ainda mais vincada a sua marca no seu impressionante historial europeu.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:15 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Em Dublin o Sporting de Braga apresentou a sua cara mais cinzenta. Foi uma equipa sem recursos e incapaz de dar a volta a um FC Porto muito nervoso e sem a solvência habitual. Domingos Paciência tentou vencer o jogo no tabuleiro de xadrez com Villas-Boas mas o golo de Falcao obrigou a sua equipa a fazer o que pior sabe e em 90 minutos o Braga nunca deu a sensação de poder ir mais longe. Uma carreira europeia com um mérito colectivo tremendo que terminou com a exibição mais pequena do ano.

Será fácil num futuro próximo catalogar esta final da Europe League como uma das mais pobres dos últimos tempos.

Faltou-lhe, quiçá, a emoção do prolongamento a que o Fulham obrigou o Atletico de Madrid na época passada ou a solvência das vitórias de Zenith St. Petersburg, Shaktar Donetsk ou Sevilla nas edições anteriores. Para muito contribuiu a postura do Braga.

O conjunto minhoto sabe quais são as suas limitações. No passado sábado não teve pulmão e know-how para dar a volta a um Sporting que foi tudo, menos entusiasmante. Ontem voltou a defrontar-se com os seus próprios fantasmas.

Uma equipa perfeita na organização defensiva (só cometeu um erro, mas para Falcao isso é suficiente) mas que depois tem muitas dificuldades no processo criativo. Domingos Paciência tentou prolongar ao máximo o marcador a zero, deixar os jogadores mais nervosos do que já estavam e tentar aproveitar um lance fortuito para ganhar. Não quis dar espectáculo, quis ser efectivo. Essa é a sua imagem de marca mas essa é também a realidade do seu plantel, especialmente depois da perda de Matheus, o único talento individual que podia ter destroçado a defesa azul e branca só com o movimento de corpo. Foi uma postura extremamente eficaz e para a qual André Villas-Boas nunca teve resposta. Guarin, Fernando e Moutinho estavam cercados por um quarteto asfixiante (Vandinho, Custódio, Viana e Lima) e a bola nunca chegava com regularidade ao tridente da frente. Silvio forçou Hulk a jogar sem os espaços que tanto gosta de explorar e do outro lado do terreno Varela nunca soube ganhar os duelos a Miguel Garcia. Um posicionamento táctico perfeito que deixou de funcionar ao minuto 44. Falcao fugiu a Rodriguez, olhou para Guarin e pediu a bola. A conexão colombiana destroçou com três toques toda a estratégia bracarense e Domingos percebeu então que a vitória seria quase impossível.

 

Mesmo a perder o técnico nunca arriscou muito, faz parte do seu carácter.

A lesão do central peruano, que deu lugar a Kaká, também não lhe deu a margem de manobra necessária. Mossoró, outro que entrou ao intervalo, teve a única oportunidade clara do Braga em todo o jogo mas os nervos encolheram a baliza e agigantaram Helton. A final acabou aí, depois veio a agonia de 40 minutos soporíferos. O Braga procurou mais a baliza do Porto mas sem critério, sem calma e sem uma única jogada com pés e cabeça. Nem nas bolas paradas, e foram várias, conseguiu ser eficaz. Cantos mal marcados, lançamentos laterais mal calculados, livres desperdiçados e Domingos desesperado. Na inoperância do tridente ofensivo preferiu abdicar de Lima em vez de Paulo César, sem ritmo de jogo. Errou e Meyong não trouxe nada de novo ao jogo do Braga. A equipa continuou a defender bem e a não dar espaços ao rival, mas ao mesmo tempo acabou por adormecer o jogo. Precisamente o que pretendia o rival.

No final dos 90 minutos o Braga pode queixar-se de uma expulsão perdoada a Sapunaru - por segundo amarelo - mas também pode olhar para o jogo bastante duro dos seus defesas (Paulão, Silvio e até Hugo Viana, substituído ao intervalo mais pelo cartão do que pelo seu papel no terreno de jogo) e perceber que o árbitro espanhol podia ter sido mais exigente nos critérios de penalização. Mas, acima de tudo, tem de queixar-se de si mesmo e das incapacidades que revelou durante todo o jogo. Se é verdade que em toda a campanha europeia na Europe League - precisamente depois do adeus de Matheus - o Braga só marcou 2 golos num jogo, também é verdade que em nenhum dos restantes encontros deu tanto a sensação de ser incapaz de incomodar minimamente o rival. Foi um jogo de equipa pequena, pelo menos no panorama europeu, que também não deve surpreender porque as limitações financeiras estão à vista de todos. Sem o técnico, Arthur, Vandinho, Silvio, Rodriguez e algum mais, o próximo ano revelar-se-á um verdadeiro desafio para António Salvador e Leonardo Jardim, o previsível herdeiro de Domingos Paciência. O que os adeptos do clube minhoto não se podem esquecer, apesar da fraca imagem deixada em Dublin, é que a campanha europeia foi, por si só, um pequeno grande milagre, talvez irrepetível, pelo menos nestas condições financeiras e desportivas.

 

Numa final que foi, pela primeira vez na história, 100% portuguesa, o Sporting de Braga ajudou a contribuir para um jogo muito ao estilo de Liga Sagres. Sem emoção, sem golpes directos, sem um ritmo intenso e com muito calculismo táctico à mistura. Espelho do futebol português actual, o Braga representa essa madurez táctica que começa a chegar aos clubes portugueses mas também esse cinismo que retira a componente espectáculo ao futebol luso. No final o conjunto bracarense tem de sair de cabeça erguida. A eles não se podia pedir mais.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 08:20 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Quarta-feira, 18.05.11

A conexão colombiana voltou a funcionar e serviu para o FC Porto vencer, com serviços mínimos e muitos nervos á mistura, a sua segunda Europe League. Num jogo mais disputado do que emotivo, os azuis e brancos marcaram numa das poucas ocasiões criadas e depois geriram o resultado frente a um Braga combativo mas sem ideias. Numa final muito morna, os dragões entraram para a elite das poucas equipas europeias com quatro vitórias nas provas europeias. 

Um remate á baliza em oito ocasiões dizem muito de como o FC Porto esteve longe da imagem que deixou ao longo do ano.

A equipa com instinto assassino que fez uma campanha imaculada - e que asfixiou os rivais na prova nacional - mostrou o seu lado mais inofensivo e nervoso numa final em que o Braga nunca soube aproveitar o futebol macio e pouco esclarecido dos azuis e brancos. Até ao remate de Falcao, ao minuto 44, não tinha existido nenhuma ocasião de perigo em ambas as balizas. O Braga lutava muito - e bem - mas depois, com a bola nos pés, não sabia como coordenar os movimentos ofensivos e rapidamente perdia a possessão. O Porto, que tinha mais posse de bola, não sabia o que fazer com ela quando se encontrava com uma muralha defensiva de 4+1 (um excelente Vandinho) que não dava margem de manobra ao jogo em velocidade de Hulk e Varela. O avançado Falcao asfixiava-se no miolo sem poder conectar com Guarin e o jogo adormecia a cada minuto que passava.

Era esse o plano de Domingos, especializado em adormecer o rival e aproveitar as poucas ocasiões que a sua equipa habitualmente dispõe. E parecia estar a funcionar, plenamente, quando surgiu Guarin, com um recorte sublime e um centro milimétrico que entrou o avançado mais em forma do futebol mundial. A conexão colombiana funcionou em conjunto no momento certo. E deu o único ar de classe a um jogo que esteve longe dos pergaminhos de uma final europeia.

 

Com a necessidade de arriscar o Braga não se sente cómodo mas curiosamente foi Mossoró,ao minuto 46, que teve a única oportunidade de golo do segundo tempo. Falhou, clamorosamente, e deixou a nu todas as debilidades ofensivas de uma equipa construida detrás para a frente de tal forma que a qualidade do quarteto defensivo está ainda a anos-luz da qualidade do seu tridente da frente.

O Braga tentou tudo mas com uma ineficácia assustadora. O Porto preferiu não arriscar, não acelerar, sentindo-se cómodo com a curta vantagem que tinha. Só Bellushi, que entrou de forma surpreendente para o lugar de Guarin, o melhor do Porto até então, rematou á baliza. Os demais perderam a dose de pragmatismo que deu bom nome á equipa em toda a Europa e perdeu-se em lances individuais que podiam ter tido piores consequências não fosse a inoperância atacante do Braga.No único momento em que os bracarenses podiam ter dado um passo em frente no jogo, o árbitro Velasco Carballo, autor de uma arbitragem também longe do nível máximo europeu, errou ao não expulsarSapunaru. Poderia ter oferecido um jogo diferente. Acabou por nem sequer espicaçar o orgulho dos arsenalistas. Domingos não tinha margem de manobra no banco. André Villas-Boas, suplantado tacticamente na primeira parte, preferiu não gastar todas as armas que tinha no banco. Foi tão pragmático como os jogadores e no final conseguiu o objectivo. É o mais novo treinador a vencer uma prova europeia. Está muito perto de emular a histórica tripla de Mourinho. E mostrou, talvez pela primeira vez neste ano, que também sabe ganhar sem dar espectáculo com um futebol mais cínico e calculista. Um futebol que dá, de qualquer forma, títulos. O FC Portonão esteve ao seu nivel da época 2010/11 nem sequer ao nível das três anteriores finais que ganhou. Mas não precisou de mais face a um rival que, depois de uma temporada absolutamente fantástico, se viu sem recursos para ferir um rival mais débil do que nunca.

 

O FC Porto foi um merecido vencedor da Europe League 2010/11 mais pela grande épcoa europeia que realizou do que, propriamente, pela qualidade do jogo exibido durante a final. Para o próximo ano está no lote de candidatos a surpreender na Champions League mas Villas Boas sabe, melhor do que ninguém, que a equipa tem de dar ainda muitos aspectos a melhorar. Em Bragaa festa é justa e merecida. Uma noite histórica que possivelmente nunca mais se volte a repetir mas que, pelo menos, avala um excelente projecto desportivo que ainda pode dar mais de si. Numa festa absolutamente portuguesa não houve a emoção das grandes finais europeias mas no final para vencedores e vencidos isso acabou por importar pouco. Assim é, também, o futebol! 

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 22:23 | link do post | comentar | ver comentários (21)

Michel Platini instaurou um novo modelo de distribuição de finais europeias e Dublin foi uma das primeiras cidades satélite beneficiadas pela politica da UEFA de levar os grandes eventos a estádios de elite fora do circulo habitual de anfiteatros escolhidos. A capital irlandesa tem pouquíssima tradição futebolística e isso nota-se no ambiente. No relvado do Aviva Stadium estão as memórias passadas do mitico Lansdowne Road e os versos soltos perdidos de uma harpa que se ouve lá ao longe...

 

Apesar do relativo sucesso recente do futebol irlandês, que atingiu o seu pico entre 1988 e 2002, se há um país das ilhas britânicas onde o beautiful game continua a perder, claramente, para o rugby, é a Irlanda. Nenhum clube irlandês de futebol tem, sequer, a mínima tradição na competição. Ao contrário da Escócia, com um papel fundamental na definição do jogo, ou até mesmo o Pais de Gales, sempre pronto a recorrer ao velho estilo britânico em pleno século XXI, os irlandeses preferem o estoicismo do desporto que durante tantos anos partilhou tudo, menos o nome, com o futebol. Não é por acaso, aliás, que o clube com mais adeptos na ilha seja...o Celtic de Glasgow, primeiro conjunto derrotado pelo Braga na sua campanha deste ano. E clube derrotado, igualmente, pelo FC Porto na sua primeira final da Taça UEFA. Ironias do destino.

Talvez por isso não se viva um ambiente puramente futebolístico à volta do duelo derradeiro do torneio. Michel Platini, na sua guerra aos colossos do jogo, está determinado em levar as grandes finais europeias a países periféricos e sem grande tradição neste tipo de eventos. Foi assim com a Turquia, por exemplo, e volta a sê-lo com os irlandeses, país que nunca teve um clube numa eliminatória dos oitavos de final de qualquer prova europeia. No entanto o Aviva Stadium, construído por cima das cinzas do mítico Lansdowne Road, é um estádio de elite, cinco estrelas, construído para o competitivo mundo do rugby. Mas com o certificado de qualidade da UEFA. Aliás, a final disputa-se no terreno do Wanderers FC muito por culpa do estádio do Wembley. Tudo porque o rival do Aviva na disputa pela final da Europe League era o londrino Emirates Stadium. Quando a UEFA decidiu que o estádio de maior nomeada do futebol internacional, reconstruído de raiz, acolhesse a sua primeira final europeia, o recinto do Arsenal ficou automaticamente excluído por estar igualmente na capital inglesa. Sem rival, Dublin ficou com a festa.

 

52 mil lugares, um design inovador e distribuído de forma desigual – o que pode supor alguns problemas logísticos curiosos – o Aviva Stadium é detido pela federação de rugby irlandesa que compartilha o recinto com a selecção de futebol do país. Um modesto clube, o Wanderers, joga ocasionalmente os seus jogos mais significativos no estádio, mas são os duelos dos clubes mais importantes de rugby do país – bem como os confrontos do torneio das VI Nações – que dão colorido às bancadas. Com apenas um ano de vida, é um recinto sem história e magia particular, sem lembranças que envolvem os adeptos na mística do momento. Filho da politica de renovação de estádios, transformados em centros comerciais desportivos, com naming garantido para os próximos dez anos, é um estádio que não permite evocar o passado. Só a imagem da linha de comboio próximo transforma a memória e devolve, nem que por momentos, à vida, o primeiro grande ícone desportivo do desporto irlandês. Em Lansdowne Road os irlandeses viveram as suas noites mais intensas, mais apaixonantes e mais imprevisíveis.

Mais de 100 anos de duelos contra os rivais ingleses escondem muitas histórias, desde a marcha solidária de um grupo de jogadores do clube de rugby local com o exército dos Aliados durante a 1 Guerra Mundial às celebrações durante um Irlanda-Inglaterra transformadas em batalha campal dias depois do anuncio do desarmamento do IRA. Pequenos retalhos que definem a memória de um tapete tão verde com as terras da árida Irlanda e que os adeptos portugueses poderão relembrar na tensão dos momentos decisivos da primeira final da Europe League da nova década.

 

Em Dublin acabará por escrever-se, a ouro, mais uma página histórica do futebol português. Um estádio que relembra outras noites, as noites em que a selecção portuguesa superava os seus fantasmas e transformava-se numa potência europeia por direito próprio. Seja o Braga, seja o FC Porto, a festa será portuguesa, com certeza. Mas não faltará uma harpa, uma Guinness e um delírio de Samuel Beckett perdido no ar, perdido entre a eterna melancolia da bola que está prestes a entrar e que se suspende, no ar, até ao fim dos dias...



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 13:00 | link do post | comentar | ver comentários (2)

As equipas conhecem-se à perfeição e repetem em Dublin os duelos mais equilibrados que viveu a Liga Sagres na época que agora chega ao fim. Domingos e Villas-Boas nutrem uma longa admiração mútua. E sabem perfeitamente como passar-se a perna. Talvez por isso o duelo de hoje no Aviva Stadium seja muito mais equilibrado do que o cartel pode deixar antever.

 

Poucas vezes teve de suar tanto o FC Porto de Villas-Boas como nos duelos contra o Braga durante esta temporada.

O triunfo na cidade dos arcebispos deu o mote para o sprint rápido rumo ao titulo, antes que a época se tornasse numa longa maratona. A vitória no jogo do Dragão cimentou uma liderança intocável desde o primeiro dia. Mas os resultados em ambos os jogos enganam. Foram duelos muito mais tensos, equilibrados e disputados que pode parecer à primeira vista. Sem uma chispa de superioridade clara, os campeões nacionais sabem que vão encontrar uma equipa que se organiza como ninguém e que deixa poucos espaços para os matadores azuis e brancos. Mais do que nunca a luta a meio-campo vai determinar o rumo do encontro mas é nos espaços que se vai decidir a final. Nos poucos que deixe o Braga e que aproveite o FC Porto e nos muitos que os bracarenses encontrarão entre a linha de meio campo e a baliza de Helton.

 

 

Defesa adiantada, armadilha preparada

 

Villas-Boas já deixou claro que jogará como sempre e isso significa arriscar.

Especialmente com uma equipa que se desdobra com rapidez e precisão cirúrgica quando tem relva para correr. A adiantada defesa de quatro já deixou mais do que um arrepio nos duelos com Sevilla e Villareal, as equipas que melhor souberam aproveitar o adiantamento do quarteto defensivo azul e branco. Mas essa defesa adiantada é, de certa forma, um risco em formato de armadilha. Villas-Boas é um técnico que prefere jogar com a bola do que explorar os espaços. Mas também tem consciência que equipas bem organizadas no seu meio-campo, como é o caso do Braga de Domingos, precisam de um incentivo para abrir brechas na muralha. Ao adiantar o quarteto defensivo o FC Porto não ganha só em pressão alta e bolas recuperadas. Como o canto da sereia, atraia os lançamentos do rival e procura descolocar as suas peças chave no miolo para depois explorar esse posicionamento ofensivo. Foi assim que começaram as vitórias contra Sevilla e Villareal e foi dessa forma que as duas equipas russas foram massacradas pelo ataque liderado por Falcao e Hulk. O brasileiro é perito em explorar esse espaço mas é o colombiano quem melhor entende esta espécie de maré defensiva, penetrando nas brechas rivais quando menos se espera. Se o Braga opta por uma defesa zonal, como é o mais provável, Falcao terá certamente mais de uma possibilidade de apanhar a defesa em contra-pé e fazer o que sabe melhor. Mas os seus golos começam onde o trabalho defensivo acaba. Rolando, Otamendi, Sapunaru e Alvaro Pereira são os principais artífices do ataque porque, como a defesa de Sacchi no AC Milan, determinam o acordeão ofensivo do FC Porto.

 

Jogo de xadrez

 

O Aviva Stadium não viverá um desses jogos que tanto apaixona os adeptos britânicos de contragolpes.

Será, sobretudo, um jogo pausado, com um ritmo próprio, o que dicte quem tem a bola. E prevê-se que será o FC Porto. Moutinho e Guarin pautaram as velocidades a que se dispute o encontro e obrigarão Mossoró e Hugo Viana a correr, mais do que a pensar o jogo de ataque do Braga. É nesse carrossel, nesse jogo de circulação, que se começará a decidir o ritmo do encontro. Varela e Hulk terão, como principal missão, abrir ao máximo a largura do campo, emulando os princípios de jogo do Barcelona de Guardiola. Não só conseguem tapar o jogo lateral do Braga, sempre perigoso nas subidas de Silvio e Miguel Garcia, mas também forçarão a defesa de quatro do Braga (que será sempre de 4+1, porque se espera um Vandinho muito recuado) a abrir-se e deixar espaços para as diagonais de Falcao. Ter a bola no pé permitirá ao FC Porto explorar as suas armas sem deixar a sua baliza demasiado exposta. Ter a bola, para o Braga, significará, sobretudo, poder respirar. Uma necessidade que certamente Domingos passará aos seus jogadores. Explorar os contra-golpes mas, sobretudo, adormecer o jogo, respirar e não correr riscos desnecessários. Afinal o Braga chegou a Dublin sem nunca marcar mais de um golo por jogo desde o duelo com o Lech Poznan. Por isso não sofrer será sempre a primeira prioridade dos minhotos que sabem que têm pela frente a dupla de ataque mais eficaz do futebol europeu.

 

Em última análise o jogo poderá ser decidido no banco de suplentes. Se houve algo que André Villas-Boas já demonstrou é a sua capacidade de mudar radicalmente um jogo pelos seus ajustes da linha de fundo. O Braga, fruto da natureza épica da sua campanha, não tem as mesmas armas e Domingos Paciência tem poucas possibilidades de acrescentar mais ao que coloque em campo desde o inicio. Mas num duelo tão equilibrado como o que se prevê, as substituições funcionarão mais na dimensão colectiva (pela reorganização táctica na terreno) do que propriamente pelos desequilíbrios individuais que possam deixar a sua marca no marcador. Mas uma final é, inevitavelmente, uma final e todos os detalhes serão fundamentais.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 02:45 | link do post | comentar | ver comentários (2)

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