Só uma vez na história da Premier League uma equipa tinha apontado 9 golos num encontro. Quatorze anos depois o Tottenham Hotspurs igual o feito e confirma que os dias dificeis parecem ter passado. Defoe é o novo herói de White Hart Lane, um estádio que recuperou o sorriso.
Histórico do futebol inglês como poucos, o Tottenham tornou-se na última década num verdadeiro case study. Teve ao seu serviço grandes técnicos e executantes primorosos. Todos os anos arrancava cheio de expectativas mas rapidamente a equipa provava o amargo sabor da derrota. Demasiadas vezes. Pelo Natal na maioria dos anos os Spurs debatiam-se pelos últimos postos e só a custo iam trepando na classificação. Sem nunca lograr os objectivos. Este ano parecia que não ia ser diferente, excepto por um pequeno detalhe: Harry Redknapp.
O técnico inglês foi o grande responsável pela ascensção do Portsmouth à elite da Premier e ao mudar-se para Londres muitos auguravam-lhe um futuro complicado. Uma equipa com muitos bons jogadores mas sem espirito colectivo. E uma maldição que ninguém parecia quebrar. Redknapp herdou a equipa de Juande Ramos e conseguiu equilibrar o conjunto londrino a meio da tabela. Este ano prometeu algo mais. E pela primeira vez os adeptos têm razões para sorrir. O Tottenham segue em quarto lugar, empatado com o terceiro, o eterno rival Arsenal. E depois da goleada histórica aplicada ao Wigan Athletic, muitos sonham já com uma qualificação histórica para a Champions League.
Ao intervalo a equipa da casa vencia por 1-0. Golo solitário de Peter Crouch e muitas unhas ruidas na bancada. O Wigan defendia bem, mostrava organização e parecia querer vender cara a derrota. Mas ao regresso do intervalo algo parecia mudar. Os brancos do bairro judio de Londres vinham com uma aura insuspeita. Preparados a fazer história. Um deles em particular. Jermaine Defoe, que seguiu o técnico do Portsmouth até Londres, depois de uma anterior passagem pouco sucedida no Tottenham, tornou-se na estrela do dia. Em sete minutos o dianteiro apontou um hat-trick. E abriu caminho ao enxoval ofensivo da sua equipa. Um auto-golo de Kirland, um remate colocado de Aaron Lennon e um golpe de autoridade do croata Niko Kranjcar selaram o resultado. Roberto Martinez, o técnico espanhol do Wigan, não podia acreditar. A organização defensiva que tão bem tinha funcionado na primeira parte tinha sido destroçada pela movimentação do avançado que reclama a Capello uma oportunidade na equipa dos Pross. Um feito que iguala a única goleada que atingiu números tão escandalosos. Em 1995 o Manchester United bateu por 9-0 o Ipsiwch Town com Andy Cole a assinar então o hat-trick goleador.
A oito pontos do lider destacado - o Chelsea que voltou a provar que é, neste momento, a melhor equipa do futebol europeu - o Tottenham sabe que a sua luta é outra. O regresso à Europa é o objectivo prioritário numa equipa que vive há muito longe da sua posição natural na hierarquia britânica. Mas com a queda do Liverpool, a baixa de forma do Aston Villa e os constantes tropeções do Manchester City, os Spurs podem sonhar com algo mais. É uma das equipas em melhor forma da Premier League e conta com um dos técnicos mais experientes. No final a história até se pode repetir, mas desta vez os adeptos tiveram verdadeiramente razões para sorrir.