Hoje o FC Porto pode conseguir matematicamente o apuramento para os Oitavos de Final da Champions League. Seria o apuramento mais tranquilo da história do campeão nacional. Para tal os dragões podem agradecer àquele que partia como seu rival directo. O Atlético de Madrid vive (mais uma) grande crise desportiva e parece estar disposto a atirar hoje a toalha. Para Quique Sanchez Flores a época colchenera começa sábado.
Depois do empate em casa contra o APOEL e a derrota clara no Dragão frente ao FC Porto tornou-se fácil perceber que o Atlético de Madrid teria graves problemas em imitar o feito da época passada. A juntar a isso estavam as péssimas exibições na liga espanhola, a falta de entendimento entre o técnico e os adeptos e a baixa de forma das suas grandes estrelas. Um cocktail molotov que explodiu em Londres com uma derrota histórica às mãos do Chelsea. O técnico Abel Resino foi demitido e durante 48 horas houve nove técnicos a quem foi oferecido o posto de treinador. Por uns motivos ou outros, todos rejeitaram. Todos menos um, Quique Sanchez Flores. O ex-técnico do Benfica, Valencia e Getafe viu no Vicente Calderon uma oportunidade para voltar a demonstrar o seu valor. Depois da derrota em San Mamés no passado fim de semana o treinador foi perentório. O objectivo é a Europe League e a época começa no próximo sábado: um derby com sabor especial.
Hoje à noite no Vicente Calderon a cabeça dos adeptos de ambas as equipas estará concentrada no próximo fim de semana. O genial Chelsea de Ancelloti espera vencer o Manchester United, rival directo na luta pela Premier, e ampliar a vantagem em cinco pontos. Para eles o jogo de hoje é apenas um trâmite já que a classificação está praticamente assegurada. Um ponto será suficiente. Em três jogos.
Já os adeptos colchoneros esperam que a equipa dê a cara. O que não se avizinha fácil. Uma vitória do FC Porto no Chipre obriga o Atlético a vencer para poder ainda aspirar ao apuramento. Qualquer outro resultado significa a eliminação imediata. E uma derrota dos dragões aliada a uma vitória do Chelsea pode mesmo colocar em perigo o terceiro lugar. Dias dificeis se vivem ao lado do Manzanares, esse pequeno riacho que em Madrid, à falta de outro, chamam rio. Só que tanto o técnico como os jogadores sabem que o encontro de hoje é pouco relevante para o seu futuro. O inicio da época foi um desastre e é preciso agora recomeçar do zero. Em lugares de despromoção o conjunto madrileño sabe que tem de apostar forte na Liga. Há sete anos atrás a ambição europeia de Gil y Gil já tinha levado à despromoção. O fantasma está aí.
No sábado há jogo contra o Real Madrid. As derrotas dos merengues nas últimas jornadas e a fraca exibição diante do Getafe dá um tónico de esperança aos adeptos do Atlético, que há largos anos não vencem o eterno rival. Com a perspectiva da ausência de Cristiano Ronaldo e com o clube de Concha Espina a viver uma grave crise de balneário, o Atlético sonha começar a sua recuperação contra o rival mais apetecido. Diego Forlan, Kun Aguero, Maxi Rodriguez e Simão Sabrosa estão a afiar as facas para o grande duelo. O novo técnico sabe que tem de priorizar opções e é possível que hoje algumas das figuras fique no banco. Um sinal claro aos adeptos que irão assobiar do principio ao fim um conjunto que passou do céu ao inferno em questão de meses. A polémica vem de há muito e envolve a junta directiva, onde ainda subsiste o espirito do polémico presidente Jesus Gil y Gil sob a figura do seu polémico filho. A substituição de Abel, como todas as outras dos últimos anos, só ajudou a incendiar mais os ânimos e o técnico sevillista que agora chega à capital sabe que terá a missão mais complicada da sua carreira.
Uma vitória frente ao clube mais em forma do futebol europeu é uma utopia. Mas os adeptos do Atlético definem-se assim por excelência. Caso contrário, seriam do Real Madrid, o pragmatismo feito futebol, dizem. Na televisão espanhola passa todos os anos um anúncio do clube que começa sempre por "Papa, porque soy del Atleti?". E é por noites como esta, onde um clube nos postos de despromoção e praticamente fora da Europa, continua a sonhar com tudo, que se percebe porque há sempre aqueles sonhadores que jogam todas as cartas no cavalo que sabem que não vai ganhar. Mas sonhar, não custa nada!