A eterna máquina de estrelas brasileira não tem descanso. Ano após anos há sempre uma nova dezena de jovens talentos à procura de um lugar ao sol. Muitos deles acabam por não vingar. Outros tornam-se estrelas planetárias. No meio de tanta oferta é dificil falhar. Allan Kardec também não falha. Como um antigo voador, é letal diante das redes!
Fisicamente é inegável a sua comparação natural com Mário Jardel.
Mas as coincidências vão muito para lá do aspecto. Kardec é um goleador nato, um jogador que está em campo apenas e só com um objectivo. A táctica, as marcações, a disciplina. Tudo isso lhe é indiferente. O que importa é ter a bola, é encarar o defesa, surpreender o guarda-redes. Levantar a bancada.
Aos 20 anos Kardec é já um dos melhores atletas brasileiros em lográ-lo. Depois de três anos a forjar-se no sempre prolifero Vasco da Gama, o dianteiro está preparado para novos desafios. O último Mundial sub-20 no Egipto provou-o. Numa equipa de talentos imensos como Alex Teixeira ou Giuliano, foi o goleador Kardec quem muitas vezes desbloqueou os momentos mais complicados. Uma movimentação subtil, um gesto de antecipação. E a bola no fundo das redes. Foram quatro golos e só a final sofreu com a sua sequia. O Brasil dependia dele para vencer. Kardec ficou em branco e o titulo foi parar ao Gana. Mas confirmou-se o que o Campeonato Sul-Americano Junior já tinha dado a entender. Kardec é um dos nomes obrigatórios do futuro.
Foi em 2007 que o avançado se estreou, então com 17 anos, pelo clube da Cruz de Malta.
No São Januário o dianteiro formado nas escolas do Vasco aprendeu a admirar heróis como Edmundo, Romário e companhia. Agora era a sua vez. Estreou-se pelo clube em Manaus na Taça do Brasil e dois meses depois apontou o seu primeiro golo, num duelo contra o Botafogo. Um golo que evitou a derrota. E que o lançou para a lista de titulares de onde não voltou a sair. Pelo meio a aventura pouco bem sucedida na Venezuela, na sua estreia pela canarinha. Ao lado de Walter do Internacional formou uma dupla temível, mas o Brasil não estava no seu ano. Depois veio o Mundial e aos dois golos inaugurais da prova juntou os decisivos frente ao Uruguai e Costa Rica. Golos que lhe permitiram acariciar o titulo mundial. Que ficou assim, por uma leve carícia.
Agora com 20 anos feitos e uma bagagem competitiva considerável, Allan Kardec quer dar o salto. E a Europa está atenta. Os clubes disputam os nomes maiores da nova vaga de talentos (Sandro, Walter, Alex Teixeira, Giuliano, Douglas Costa) e o dianteiro do Vasco tem ofertas de Itália e Portugal. Resta saber se tardará tantos anos como o Super-Mário a explodir ou se a sua precocidade voltará a evidenciar o killer-instinct que muitos poucos jogadores conseguem realmente ter.