Numa das mais movimentadas ruas de Sliema encontramos a sede do clube com mais história da paradisíaca ilha de Malta. A porta abre-nos para um mundo de recordações, com equipamentos de outras eras expostos e um convite a provar alguns dos pratos tipicos. Com os olhos postos no porto de La Valleta, os adeptos suspiram. Depois de uma década gloriosa o mitico Sliema Wanderers atravessa uma grave crise desportiva. aGORA espera ter dado o golpe de efeito necessário para voltar aos melhores dias.
Para os mais despistados o futebol maltês é um misterio. O pequeno país mediterrânico é, no entanto, pela sua influência anglo-italiana, um dos primeiros países europeus a regularizar aquele que viria a ser o desporto do século. A Federação Maltesa e a liga de clubes, hoje conhecida como BOV Premier League (pelo patrocinio do Bank of Valleta) é das mais antigas da Europa e data de 1901. Uma prova mais do que centenária e que, no entanto, nunca teve repercursão internacional. Os clubes locais contam com poucos jogadores estrangeiros e as suas perfomances nas provas europeias saldam-se por eliminações precoces. Apesar de ser um campeonato longe do nível de muitas das ligas do continente, o futebol em Malta é vivido com paixão. A antiga colónia inglesa segue com paixão o futebol britânico mas também o Calcio da vizinha Itália. Pelo meio estão os clubes locais. Pequenos, humildes e sem grandes estrelas. Mas que também levantam paixões.
O mais marcante dos clubes da ilha é sem dúvida o Sliema Wanderers.
Conjunto fundado em 1909, celebra este ano o seu centenário. Mas sem grandes motivos para festejos. Na cidade hoteleira por excelência da ilha, de olhos voltados para a histórica capital, vivem-se dias angustiosos. A bela cidade portuária celebrou já 26 titulos de campeã da ilha. O clube é um dos grandes orgulhos locais especialmente por ser o conjunto maltês com mais trofeus, entre liga e taça. A primeira vitória remonta a 1920. A última a 2005. No novo século o Sliema mandou na Premier League de Malta com autoridade quase ditatorial. Um tricampeonato sem hipóteses para os rivais históricos de La Valleta e Floriana, as duas cidades vizinhas. Mas desde 2005 a equipa caiu em picado. Mudaram-se os técnicos, renovou-se o plantel mas os resultados continuam sem chegar. Hoje a equipa logrou o seu primeiro triunfo da época, já lá vão quatro jornadas. Num jogo contra o modesto Msida, o conjunto venceu por 2-0 mas continua na parte baixa da tabela da classificação. Numa liga composta por 10 clubes (no total há 50 clubes na ilha, incluida a vizinha Gozo que tem uma liga própria e uma selecção dos melhores jogadores que disputa a liga de Malta) que se disputa em duas rondas. A primeira, a duas mãos, define quem se apura para a pool de campeões, onde só participam os seis primeiros. Os restantes conjuntos lutam para evitar a despromoção. O histórico Sliema sempre lutou pelo titulo. Agora luta para não descer.
A liga maltesa este ano voltou à ribalta pela chegada de Jordi Cruyff, filho do mitico técnico e ex-jogador do Barcelona e Manchester United, que trabalha como jogador-treinador do rival La Valleta. A presença da selecção no grupo de Portugal (com quem fecha a fase de apuramento em Guimarães) despertou também a curiosidade de alguns adeptos. Na ilha a qualificação para o Mundial é um tema secundário, estão habituados a sofrer dissabores. Na prova interna a questão é bem distinta. O Birkirkara FC, clube da cidade mais populosa da ilha, é a nova sensação da liga. O Hibernians FC conquistou o décimo trofeu mas parece ter dificuldades em revalidar o titulo. O Sliema sofre e os seus rivais históricos, Floriana (25 ligas) e La Valleta (19) sonham em alcançar a cifra mágica de lider do futebol da ilha. Todos os fins de semana a emoção desperta os adeptos locais que têm de deslocar-se habitualmente ao Ta´Qali, o estádio nacional. Exceptuando o Hibernians, todos os clubes malteses disputam os seus jogos no Estadio Nacional, disputando dois jogos ao dia. Localizado no coração da ilha, o recinto recebe todos os encontros e é a casa de devoção dos adeptos locais. Incluindo os do Sliema que hoje celebram o regresso aos triunfos.
O conjunto azul e branco quer terminar o seu ano centenário da melhor forma. Os adeptos ainda acreditam que o conjunto de Stephen Azzopardi pode dar a volta por cima. Nas suas filas só há quatro jogador estrangeiros. O costa-riquenho Victor Coto, o australiano Daniel Severino, o italiano Valerio Mottola e a estrela, o sérvio Kosta Bedjov. Mas nesta vitória histórica os golos tiveram a marca da casa. Depois de um auto-golo rival após um centro do capitão, coube ao substituto John Mintoff a honra de confirmar o triunfo. Jogador da formação do clube, como a esmagadora maioria das apostas do técnico para esta ronda vitoriosa. A eles coube o papel de heróis. Os adeptos do centenário maltês esperam que esta vitória não seja um oásis. E sonham de novo com as marchas de vitória num dos passeios maritimos mais hipnotizantes do globo terrestre.