Depois de três anos consecutivos a derrotar Arsenal, Chelsea e Liverpool, os Red Devils preparam-se para atacar um feito histórico no clube: o Tetracampeonato. Mas a equipa de Alex Ferguson está ferida e tem atrás de si três caçadores implacáveis. Será, muito provavelmente, o ano mais duro para os Red Devils que nunca conseguiram perpetuar durante tanto tempo o seu domínio na prova rainha do futebol europeu.
Para os adeptos portugueses este é o ano 1 pós CR7. Para os adeptos do United também mas a perda do craque português – já prevista desde que começaram as birras de Ronaldo em 2008 – dói mais se juntarmos à saída de Carlos Tevez e à falta de reforços de renome. O campeão em título (por três anos consecutivos, convém relembrar) mantém a estrutura das últimas épocas mas perde os sois dois elementos mais versáteis do ataque, que permitiam a Ferguson jogar constantemente entre o 4-4-2, 4-3-3 e 4-2-3-1 conforme o rival que se lhe apresentava. Apesar do bloque defensivo e o meio campo se manterem inalterados – com o problema de que van der Saar, Scholes, Neville e Giggs devem arrancar para o último ano, o ataque torna-se agora no ponto mais frágil de uma equipa conhecida pela sua eficácia ofensiva. Berbatov não vingou e Michael Owen é uma incógnita enquanto que os extremos estão entregues a jogadores com um futuro promissor como Obertan, Valência, Nani e Tosic, mas sem grande experiência para levar a equipa aos ombros. Wayne Rooney passará a ser o centro das atenções e este pode muito bem ser o ano da sua definitiva consagração.
O principal rival do United voltará a ser o Liverpool. O treinador Rafa Benitez manteve a estrutura que lhe permitiu disputar até ao fim o título com o United na época transacta contando com a dupla Steven Gerrard e Fernando Torres como setas bem apontadas às defesas rivais. A falta de reforços de renome deve-se ao facto de o clube atravessar uma forte crise mas Mavinga (do PSG) e a entrada de Glen Johnson para o lado direito equilibrará ainda mais um compacto eixo defensivo com Skrtl e Carragher em boa forma.
Por outro lado o Chelsea começa um novo ciclo. Carlo Ancelloti chega a um clube em descrença depois de três anos de seca. Com um plantel altamente envelhecido e descontente (Ricardo Carvalho, Deco, Drogba, Lampard, Anelka, Terry), o técnico italiano não começa com bom pé já que o eixo que deveria ser a base do seu onze pretende deixar Stanford Bridge. O russo Zhirkov e o jovem Sturridge são as únicas entradas de realçar numa equipa que pode também ela estar num ano de transição. Dos candidatos crónicos ao ceptro resta falar do Arsenal, mas sem dinheiro para investir (apesar dos 50 milhões conseguidos com Adebayor e Touré), a Arsene Wenger pouco lhe resta do que sacar o máximo proveito de Arshavin – já plenamente integrado – van Persie e Fabregas, e continuar a sua hábil politica de aproveitar jovens promessas. Este ano veremos mais Wallcott, Wilshire, Ramsey, Gibbs e companhia no onze dos gunners
O grande ponto de interrogação da temporada chama-se Manchester City. Na época passada ficou atrás dos europeus Everton e Aston Villa mas tanto os toffes como os villains parecem mais débeis este ano enquanto que os citizens chegam em força. Adebayor, Tevez e Santa Cruz juntam-se a Robinho para formar um dos melhores eixos ofensivos dos campeonatos europeus. Mark Hughes terá de ser um maestro em gerir um plantel com alguns desequilíbrios mas com um potencial imenso. Na baliza conta com Taylor e Given, na defesa há Richards, Toure, Kompany, Zabaleta e Bridge. No meio campo os jovens Johnson, de Jong e Gareth Barry com Wright-Philips e Ireland pelas alas. Uma equipa com potencial para lutar pelo titulo mas que não deixa de ser uma incógnita.
No resto da tabela pouco ou nada muda. West Ham United e Tottenham arrancam com projectos ambiciosos enquanto que Blackburn Rovers, Fulham e Bolton estão em contenção. Sunderland, Portsmouth, Hull, Birmingham e Stoke também sabem que vão passar um ano complicado enquanto que os recém-promovidos Burnley, Wigan e Wolverampton Wanderers chegam com a ilusão de fazer história. As últimas temporadas ensinam-nos que raramente descem os mesmos que sobem pelo que por aí o optimismo está em alta.
O arranque da época deixa algumas questões em aberto. Podemos estar num período de mudança de ciclo – com os clubes londrinos em queda e os novos-ricos a subir na tabela – e a Premier até pode ter vendido a sua principal estrela para a liga rival, mas o principal problema continua a ser o endividamento dos clubes e o facto da esmagadora maioria ser detida por empresários estrangeiros. Os adeptos e os puristas da magia da Premier reivindicam um regresso ás origens de um modelo que há quinze anos foi totalmente inovador mas que agora começa a deixar alguns pontos complexos por resolver. Mas no campo tudo isso torna-se supérfluo. Arranca uma nova época e começa a caça ao diabo.
De Paulo Pereira a 15 de Agosto de 2009 às 22:04
Belo artigo, retratando bem o que se espera deste início de um dos mais excitantes campeonatos europeus. Será, por certo, uma competição muito mais equilibrada, sem vencedor previsível e onde poderá aparecer um outsider: o Manchester City.
Não fiquei, para já, muito impressionado com os comandados de Mark Hughes, pese a vitória obtida fora de portas. Foram dominados durante grande parte do jogo, raramente conseguindo impor o seu jogo. Valeram, para já, a classe de Adebayor e um guarda-redes quase sobrenatural.
O Chelsea, merecidamente, continuou com a estrelinha da sorte, num golo em tempo de descontos fortuito. Amnahã se verá o que faz o Liverpool, numa deslocação tremenda a Londres.
Mas foi o Arsenal, num resultado demolidor, que mostrou credenciais. Sem reforços sonantes, repleto de qualidade de jovens escolhidos criteriosamente por Wenger, os gunners continuam a apresentar o melhor futebol de Inglaterra. Chegará para o título?
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