A dupla mais letal do futebol sul-americano do inicio da década volta a reencontrar-se, surpreendentemente, nos relvados portugueses. A partir da próxima época o estádio da Luz acolherá aquela que foi conhecida como a conexão Milionária, entre as duas grandes promessas do futebol argentino da geração de 1981 e que depois de várias experiências falhadas no pais vizinho, esperam agora recuperar o prestigio internacional de águia ao peito. Javier Saviola e Pablo Aimar voltam a jogar juntos e os adeptos encarnados esperam que se repita a fórmula de sucesso que fez deles estrelas mundiais antes dos 20 anos. No entanto a maioria teme que a queda em pique na carreira de ambos conheça mais um ponto negro na Luz.
Em 2001 o River Plate era o clube da moda para os amantes do futebol de ataque. Os Milionários de Buenos Aires tinham uma equipa extremamente ofensiva com duas jovens promessas capazes de encantar qualquer um. O médio Pablo Aimar e o pequeno avançado Javier Saviola tinham chegado á equipa principal com apenas 16 anos e durante quatro anos deslumbraram vencendo o campeonato de Apertura e Clausura de 2000. Em 1999, então com 18 anos, Saviola venceu o prémio de melhor jogador sul-americano. Tinha marcado no jogo de estreia e em três anos venceu tudo incluindo o Mundial sub21 pela Argentina, marcando o golo decisivo na final. Tornou-se na maior pérola do futebol sul-americano, e aos 20 anos chegou á seleção e herdando o titulo de sucessor oficial de Diego Maradona. A sua sociedade com Pablito Aimar, dois anos mais velho, tornou-se celebre. Quando Aimar foi transferido em 2000 para o Valencia, rapidamente se percebeu que "El Conejo" poderia segui-lo para o Mestalla. Mas o destino quis outra coisa e foi o Barcelona que logrou contratar a jovem estrela argentina.
Entretanto Aimar, que tinha herdado de Ariel Ortega o papel de patrão no Monumental, chegou a Valência sob grande expectativa. O seu estilo de jogo adaptou-se bem á equipa de Hector Cuper e fez parte da equipa valenciana que logrou a sua segunda final consecutiva na Champions League, tendo perdido em penaltis com o Bayern Munchen. No entanto a chegada de Rafa Benitez deu mais espaço ao génio de Aimar que foi o patrão da equipa que logrou dois titulos de campeão espanhol e uma Taça UEFA. Foi a época aurea de um jogador que era já o patrão do meio campo da Argentina, ao lado do polémico Riquelme, e junto ao seu amigo de sempre, que no entanto não tinha conhecido o mesmo sucesso no Camp Nou. El Conejo nunca brilhou na equipa catalã como se esperava e acabou mesmo por ser emprestado, primeiro ao AS Monaco e logo ao Sevilla, onde ganhou a Taça UEFA. De costas voltadas com Rijkaard, Saviola trocou o Camp Nou pelo Santiago Bernabeu mas no Real Madrid nunca foi opção para Schuster e Ramos, e com a chegada de Maradona também a albiceleste deixou de ser opção. Em queda livre há praticamente cinco anos, Saviola procura relançar a carreira na Luz, tentando imitar Aimar, que depois de várias lesões no Valência foi vendido ao Zaragoza onde não rendeu o esperado, acabando por estar na equipa que descera de divisão há duas temporadas. A ida para a Luz foi um escape para não ter de actuar na Liga BBVA mas a expectativa levantada nunca foi completamente satisfeita. Apesar de alguns detalhes de virtuoso, Aimar nunca logrou superar os seus problemas fisicos para liderar o meio campo encarnado.
Rui Costa e Luis Filipe Vieira esperam ver a dupla que dominou o futebol argentino há uma década. Uma jogada de marketing e que pode revelar-se eficaz no terreno de jogo. Mas nem o futebol portugês tem o ritmo de jogo do futebol argentino, nem a dupla Saviola-Aimar tem 20 anos. O médio já chegou á casa dos 30 e Saviola está prestes a cumprir 28. Jesus tem assim o avançado móvel que procurava para encaixar no seu 4-3-3 e a eficácia de El Conejo pode ajudar a equipa encarnada nos momentos mais complicados da época. Mas atenção para os que esperam um milagre que revolucione o confuso ataque do clube da capital. Aimar continua a ser um quebra cabeças fisico e Saviola não tem ritmo competitivo há várias temporadas. A adaptação será larga e provavelmente nunca voltará a ser a estrela que foi no passado. Mas a possibilidade de ver em acção uma das mais explosivas duplas dos últimos dez anos é uma atração importante para um campeonato cada vez mais orfão de figuras de renome.