Humilhação absoluta. Nunca na história da máxima competição de clubes da UEFA uma meia-final acabou com um resultado mais parecido a um encontro de futsal do que a um duelo entre dois emblemas de elite do futebol europeu. A vitória esmagadora do Bayern Munchen sobre um Barcelona estéril confirmou definitivamente o fim da era iniciada em 2009 brilhantemente pelo génio de Guardiola. A hegemonia teutónica no futebol europeu é a melhor notícia num ano que despede, definitivamente, um projecto que coleccionou admiradores em todo o mundo.
É complicado procurar nos livros de história uma diferença tão abismal entre dois semi-finalistas de alto nível europeu.
É mais ainda quando se trata de uma equipa que marcou uma era. O Real Madrid de Di Stefano, o Benfica de Eusébio, o Inter de Suarez, o Milan de Rivera, o Ajax de Cruyff, o Bayern de Beckenbauer, o Liverpool de Dalglish, o Milan de van Basten...e podíamos continuar numa lista quase sem fim. Nenhuma dessas equipas foi tão facilmente destroçada num jogo europeu como este Barcelona. Nunca nenhuma delas capitulou de forma tão clara e evidente. Sem ideias, sem físico, sem argumentos. Nunca nenhuma delas colocou o ponto final na sua epopeia de uma forma tão humilhante.
O ciclo do Barcelona começou com Guardiola e acabou com Guardiola. A saída do génio de Santpedor fechou um capítulo maravilhoso na história do clube blaugrana. Foi uma saída triste, entre derrotas e problemas internos no balneário.
A instituição tinha duas opções. Ou apoiar Guardiola numa renovação necessária ou dar o poder ao balneário. Escolheu o segundo caminho. Entregou o poder a Messi e companhia e colocou no banco o mais inepto dos treinadores, um garante de que a filosofia blaugrana seguia mas que não levantava problemas com os pesos pesados do plantel. Vilanova abdicou do futebol original de Guardiola para transformar o seu 4-3-3 ou até 3-4-3 num 4-2-2-2, centralizando o jogo pelo corredor central para dar espaço a Fabregas e Alexis, as duas contratações milionárias do último ano do guardiolismo e que para ele tinham contado muito pouco. Com motivos.
Vilanova sofreu uma recaída do cancro que já o tinha afectado no ano anterior - como sucedeu com Abidal - e deixou no poder o responsável por compilar dvds para Guardiola. Percebeu-se que o poder era, de facto, dos jogadores e a queda abrupta da qualidade de jogo notou-se. Salva-se o génio de Messi, incapaz fisicamente de dar continuação ao seu brilhante arranque de época, no meio da hecatombe. Nem Xavi, nem Iniesta, nem Pedro, nem Villa, nem Fabregas, nem Alexis eram capazes de dar a cara. Depois de uma reviravolta polémica contra o AC Milan, e de um duelo com o PSG onde a equipa esteve perto de ser eliminada, salva no último momento pela aparição do argentino, o inevitável sucedeu. A derrota calamitosa contra o gigante alemão.
O Barcelona viveu da glória de há dois anos durante quase 700 dias.
A derrota contra o Real Madrid, na liga, e contra o Chelsea, na Champions League, foram o sinal mais evidente da mudança de ciclo. Contra o eterno rival a derrota surgiu, sobretudo, pela falta de regularidade no campeonato, culpa de uma defesa demasiado permeável. Contra os ingleses - clube que tinham eliminado de forma absolutamente vergonhosa três anos antes - foi a sorte favorável aos britânicos e o desnorte ofensivo de Messi que condenou o conjunto blaugrana. O projecto estava minado por dentro, Guardiola percebeu-o e saiu. Com a cabeça alta, apesar das derrotas. Como a um génio corresponde.
A directiva do clube escolheu o seu adjunto e este demonstrou ser incapaz de estar à altura da sua herança. Batido em todos os duelos directos com o Real Madrid, Vilanova foi um fantasma na eliminatória com o PSG e este ausente nos dois jogos com o Bayern. Tacticamente comprometeu a equipa blaugrana com o seu esquema conservador no Allianz, abdicando de um jogo mais aberto e ofensivo com Tello como titular. A derrota copiosa por 4-0 foi criticada por alguns dos habituais ultras da ideia blaugrana - sobretudo esses - pelo fora-de-jogo de Gomez, esquecendo-se dos penaltys que ficaram por marcar. Criticas que serviam para esconder a ausência de ideias futebolistas e a realidade mais negra para os adeptos do clube. Duas oportunidades de golo em todo o jogo, as duas dos pés do central Marc Bartra. Muito pouco.
O resultado era humilhante, a exibição de superioridade física, táctica e técnica dos alemães era ainda mais. Ribery, Robben, Muller, Gomez, Schweinsteiger e, sobretudo, Martinez - por quem o Barcelona não quis pagar 40 milhões para contratar Song no seu lugar - atropelaram por completo a máquina blaugrana. Para os que pensavam que era um acidente, o Bayern Munchen demonstrou que não. No Camp Nou a equipa saiu ao ataque - ao contrário de Inter e Chelsea, os anteriores carrascos do Barça - dispôs sempre das melhores ocasiões e voltou a golear. O Barcelona falhou algumas ocasiões mas nunca deu sensações de estar dentro da eliminatória. O plantel mais caro do mundo não tinha ideias. A sua estrela individual - responsável pelo título de liga com a sua maravilhosa sequência de golos - tinha sido um dos responsáveis da eliminação no ano anterior. Este ano uma lesão inoportuna impediu-o de fazer melhor. Cristiano Ronaldo, também lesionado, subiu ao relvado do Bernabeu. Messi nem se preocupou em forçar o corpo. A sensação de reviravolta era uma ilusão de adeptos não dos jogadores, conscientes de que tinham sido batidos no seu próprio jogo. Vilanova voltou a tropeçar com as tácticas, os bávaros demonstraram ser uma equipa completíssima e o inevitável sucedeu. Em 180 minutos o Barcelona não marcou qualquer golo. Não esteve sequer perto de o conseguir. Só Piqué acertou na baliza mas, lamentavelmente para o central que é uma sombra do que prometia ser, era a errada.
Em cinco anos o clube blaugrana venceu duas Champions League. Tantas como o Nottingham Forrest, o SL Benfica e Inter em duas temporadas. Muito longe dos registos de eficácia de Real Madrid, Ajax, Liverpool ou Bayern Munchen, por exemplo. O mito da possessão - estéril, se não é como arma de ataque - da magia dos construtores de jogo da selecção espanhola e de que uma ideia é capaz de vencer sem um treinador capaz e jogadores em forma caiu, definitivamente. Para o ano o projecto não será o mesmo. Haverá saídas, chegará Neymar para partilhar o protagonismo mediático com o astro argentino. Será um começar desde zero. Os milhões de que o clube dispõe, o seu historial e a qualidade individual de muitos dos seus jogadores, quando em plena forma, permitem legitimamente aos adeptos continuarem a sonhar com mais títulos. Mas este ciclo chegou ao fim. Em quatro anos o Bayern Munchen parte para a sua terceira final. São eles que querem agora consolidar o seu ciclo!
De Luís Miguel a 1 de Maio de 2013 às 22:31
Exclente texto, plenamente de acordo com tudo o que disses-te...só um pequeno à parte, o Barça no papel ganhou de facto 2 champions, agora uma delas foi como tu bem frisas em cima, de forma completamente VERGONHOSA, graças àquela meia final contra o Chelsea...para mim, moralmente este Barça do Tiki-Taka apenas venceu uma champions
Luis Miguel,
A equipa de 2009 jogava maravilhosamente bem, mas chegou á final como se sabe. Curiosamente, em 2011, também, com essa entrada de Pepe que nunca o foi e que abriu o caminho de uma eliminatória, até então, igualada, com o Real Madrid.
De Tiago Ferreira a 1 de Maio de 2013 às 22:42
Sendo um dos que sempre apoiou a existência de várias formas de jogar, e repudiou o fundamentalismo barcelonista que inundou os media desportivos europeus nos últimos anos, só posso dizer que adorei esta eliminatória. Por 2 razões - por fim calou os ditos fundamentalistas (espero, creio que 7-0 é um resultado esclarecedor), e porque deu a provar ao Barcelona um pouco do seu próprio remédio (posse de bola de alta qualidade, muita pressão e, porque não admitir, favorecimento da equipa de arbitragem).
Tenho, no entanto, que dar o braço a torcer: Guardiola realmente teve um papel muito mais importante do que o que julgava, e Vilanova este ano apenas confirmou isso. Estou genuinamente curioso para ver como vai correr a sua aventura pela Bavária - e também por ver como o Barça se vai restruturar.
Excelente texto, como de costume. Obrigado por manter este blog e o Futebol Magazine - sou leitor assíduo!
Tiago,
Não duvides que o 7-0 não é suficiente. Basta ver a quantidade de comentários que tenho de eliminar a essa horda de fundamentalistas. Acho que ganharam a eliminatória em posse de bola. Talvez possam disputar um play-off graças a isso.
O Pep é um génio. Dos maiores da história do jogo. O problema foi quando quiseram abdicar do básico do que ele defendia para agarrarem-se ao fundamentalismo. A história de qualquer religião!
obrigado e um abraço
De Tiago Ferreira a 1 de Maio de 2013 às 22:54
Sim, realmente tiveram mais posse de bola! Um excelente consolo, certamente haha
Não sabia que continuavam a comentar a toda a hora. Não compreendo - se já sabem que vão discordar das tuas opiniões, para quê vir aqui spammar?
Enfim, gente que não tem mais nada para fazer. Força, abraço e que seja uma grande final!
Tiago,
Devem ter o acesso às páginas porno bloqueadas e se não se podem masturbar fisicamente tentam fazê-lo intelectualmente!
De Pois a 1 de Maio de 2013 às 23:01
Outra questão que se coloca é porque é que TODOS os comentários contrários à sua visão são apagados.
Será que não consegue contra-argumentar?
È que não é por insultos de certeza porque eu nunca insultei ninguém e já me censurou mais do que uma vez.
Tem medo da discussão?
Pois,
Não tenho medo de discussão, por isso este blog tem uma caixa de comentários aberta e sem moderação prévia. Qualquer comentário apagado inclui insultos, o que eu considero insultos, não significa que sejam, necessariamente, palavrões. Se fossem TODOS, este blog não teria hoje 3098 comentários publicados!
Basta ler todos os artigos publicados - ou os mais comentados, que habitualmente são, os mais polémicos - para perceber que se aceitam todos os pontos de vista desde que sejam respeituosos comigo ou com outros comentadores e aportem algo para a discussão.
De espanhol a 2 de Maio de 2013 às 00:14
Messi estava com medo de nos (Ribery, dixit)
De Fenómeno a 2 de Maio de 2013 às 01:32
Miguel, uma pergunta, o que achas que o Guardiola poderá acrescentar a este Bayern?
Continuação de bons posts, tanto aqui como no Futebol Magazine.
De espanhol a 2 de Maio de 2013 às 09:22
Guardiola......¿Desea fervientemente que el Borussia gane la Champions League de este año 2013?
Fenómeno,
O Pep é um génio e os génios sempre têm algo a acrescentar. Seguramente que haverá mudanças no modelo, pontuais mas importantes para deixar a sua marca. Terá a difícil missão de motivar um balneário de barriga cheia (se vencerem a Champions) e a ideia de uma hegemonia europeia pode servir de estimulo suficiente. Procurará um jogo ainda mais associativo, com Gotze e sem Robben, e abrirá caminho às eventuais sucessões de Schweinsteiger, Lahm e van Buyten com novos e refrescantes jogadores.
Obrigado e um abraço
De Eugenio a 2 de Maio de 2013 às 15:17
É verdade que não tenho de perceber, mas não percebo mesmo essa necessidade de escrever estas coisas "à la Dia Seguinte".
A qualidade está a decair praí desde o ultimo ano, seguramente. Nem toda a publicidade é boa publicidade... Óbvio que a caixa de comentários fica mais animada por estes dias, mas entre os que estão a favor e os que estão contra o que escreve, a relevância dos artigos é que têm sofrido.
Vale o que vale não é? Na volta até acha que isto é o seu melhor e quer mesmo aperfeiçoar este estilo de espírito curriqueiro e trivial, deixar de ter uma biblioteca para passar a ter uma mercearia. Força.
Eugénio,
O seu argumento tem algum sentido e uma explicação lógica. Hoje cumpre um ano o projecto Futebol Magazine que dirijo. Muitos dos artigos que por lá são publicados, até há pouco tempo, seriam publicados no Em Jogo e a duplicidade de publicação não faz nenhum sentido.
Inevitavelmente o Em Jogo transformou-se mais num espaço de debate da situação actual do futebol e parece-me relevante debater a evolução dos principais emblemas do futebol europeu (para os próximos dias segue-se a análise à época do Real, do United, do PSG e dos clubes alemães). É inevitável. Não considero que o EJ seja nenhuma mercearia, lamento que o pense.
De Duarte F a 8 de Maio de 2013 às 15:22
Miguel,
Já aqui comentei outras vezes, e volto para sublinhar: não acho aceitável (não é apenas discordância!) continuar a afirmar que este Barcelona não deixou marcas profundas na história do futebol, quando comparado ao Real Madrid dos anos 50, ao Bayern e Ajax dos 70 ou ao Liverpool dos 70 e 80.
Nenhum dos exemplos se refere ao formato Liga dos Campeões. Desde que este modelo foi implementado ninguém, sublinho, ninguém fez uma dobradinha.
Metê-los no mesmo saco que o Nottingham Forrest então é de bradar aos céus.
Entre 2006 e 2011 (6 competições) o Barça ganhou 3! Metade (naturalmente que sem Guardiola em 2006, mas com Xavi, Etoo, Puyol e, não tenho a certeza, Messi a espaços).
Goste-se ou não do tiki-taka (e eu assumo o meu gosto) é um registo impressionante .
Mais: ao mesmo tempo, Espanha ganhou 3 competições em 3 possíveis, assentando a sua base na equipa do Barça.
Além do palmarés, sejamos adeptos ou opositores do modelo, todos os que assistimos nos lembraremos do tiki-taka e do "guardiolismo". Se não nos determos sobre as estrelas (Di Stefano, Cruyjff, BEckenbauer, etc.), quem se lembra do legado que esses campeões de outros tempos deixaram no futebol (concedo talvez o "futebol total" dos holandeses)?
Não vou discutir se este ciclo acabou ou não, até porque não vi este ano futebol suficiente para ter ideias firmes.
Mas não me parece minimamente sustentável apequenar este Barcelona (ou tornar menos grande) comparando-o com o incomparável.
Se quer ir por aí, podia dizer que o Real Madrid ganhou 3 títulos em 5 competições (2008, 2000 e 2002) e nem por isso ficou na história (e não ficou).
Duarte,
Claro que o Barça deixa uma marca muito importante. Muito importante em multiplos sentidos. O que eu tenho afirmado, reiteradamente, é que não foi o único que o fez. Não é o único clube a marcar a história do futebol a um grande nível. Ao contrário do que se tem vendido.
E, partindo do principio de titulos - que não deve ser nunca o único medidor no futebol - não é uma equipa extraordinariamente rara. Precisamente porque no mesmo periodo de tempo, esse tal Real Madrid (que no fundo são 3 com matizes) também o fez e a sua marca existe, noutro sentido (a colectivização do estrelato individual).
O Barça tem um projecto maravilhoso, com potencial para reciclar-se e continuar a ganhar - noutros moldes, forçosamente, já não está Guardiola - e tal como a selecção espanhola merece os meus aplausos de pé pelo que conseguiu e como o conseguiu. O que continua a surpreender-me é que queiram fazer desse modelo e dessa épica existência a essência histórica de um jogo que teve grandes equipas no passado e terá grandes equipas no futuro.
De Duarte F a 9 de Maio de 2013 às 10:04
Concordo mais com o seu comentário então.
Acho discutível (no sentido em que pode discutir-se, não que seja cético) que seja a melhor equipa da história; o que me causou vontade de comentar foi o texto passar a ideia de que este Barcelona nem pode ombrear com outras equipas que ganharam 5, 4 ou 3 Taça dos Campeões seguidas ou pô-los a par do Nottingham, que ganhou duas finais a equipas que, tal como eles, sucumbiram na história dos grandes palcos.
Se calhar li nas entrelinhas algo que não está lá, mas conhecendo já o seu histórico de textos sobre o FCB é essa ideia que me ficou.
(O Real Madrid de 1998 e 2000 era pré-galático, o de 2002, com Figo e Zidane, já era um conjunto de estrelas, mas ainda sem Ronaldo Fenómeno e Beckam).
Um abraço
Duarte,
O Barcelona pode discutir a primazia histórica - se isso existisse - a qualquer grande equipa e muito mais aos Nottingham Forrest do passado. Futebolisticamente a diferença é muita. O que está em causa é a escassez de títulos - que eles próprios assumem - para uma geração tão boa. Em condições normais, uma equipa tão superior a outras teria, pelo menos, um ou dois troféus mais do que aqueles que tem e no futuro, quando se olhe só para os títulos - e é disso que se trata o artigo - as gerações de depois de amanhã vão ter dificuldade em entender como o Barça foi tão hegemonico com tão poucas vitórias enquanto outras equipas ganharam o mesmo ou mais sem criar essa sensação.
Quanto ao Real, por isso falei dos matizes, são projectos diferentes a todos os níveis.
De Tiago Santos a 11 de Maio de 2013 às 17:27
Não me parece que seja forçosamente o fim de ciclo. Foram simplesmente 2 jogos contra uma equipa mais forte, onde com o avolumar do resultado as coisas descambaram.
No inicio da temporada a direção tomou uma decisão arriscada, já toda a gente percebeu que Guardiola queria uma renovação de 5/6 nomes para continuar e não houve coragem (nem dinheiro provavelmente) da parte da direção para isso.
David Villa já teria saído do Barça se não se lesiona-se no ano passado, pois Guardiola ia encostalo no banco definitivamente, optando por jogadores mais dinâmicos como Alexis, ou opção por Cuenca, Pedro Tello (extremos que dão largura) e inclusões de Iniesta e até mesmo Thiago na ala esquerda.
Depois, para consolidar o 3x4x3, Daniel Alves iria acabar por entrar em rutura, o que para Guardiola não seria um problema visto não ser um jogador consensual em termos de balneário.
Com o rendimento ridículo de Cesc, que teima em não querer assumir que o seu lugar terá de se um dia o de Xavi, e teima em querer ser um médio-ofensivo recusando-se a passar mais tempo na sombra, a sua saída seria inevitável.
... em suma, seriam várias as saídas, a acrescentar um provável afastamento de Pique, que no 3x4x3 parecia ir perdendo espaço para Puyol-Mascherano...
A direção optou por não mover tantas fichas e manter Vilanova.
Voltou o 4x3x3, mas o plantel tornou-se curto.
Faltava um central, com os problemas de Pique e Puyol, e com a incapacidade de Song era demasiado urgente encontrar alguém que nunca chegou.
Xavi precisava que Thiago (época horrível, marcou passo na carreira) e Cesc (o problema de sempre, quer ser um jogador que não é) o fossem substituindo, o que, sabendo-se que não seria fácil, nunca esteve sequer próximo de acontecer.
Vilanova abdicou da largura de Pedro, Tello e Cuenca (emprestado), e apostou em Cesc no ataque (demasiado lento e previsível nesta posição) e de um Alexis sem confiança. Villa deu um ar de sua graça mas já é demasiado curto.... resumo.. só Messi cria desequilíbrios, com um jogo demasiado afunilado (algo que Guardiola sempre tentou evitar)...
Agora pensemos.... o plantel tem alguns problemas, mas a base está lá, e pode voltar a render o que já fez. Falta um central que de vez seja um titular indiscutível. Falta que Thiago ou Cesc, sobretudo o segundo, percebam de uma vez por todas que para terem futuro no clube terão de abdicar de ser médios mais soltos, jogando mais atrás, e sobretudo com intensidade defensiva de quem joga como interior. Não é preciso ir ao mercado, porque os jogadores estão lá.
No ataque, o nome Neymar arrepia... sobretudo porque é totalmente imprevisível o que ira realmente valer... sinceramente, parece que estão à espera que Real Madrid ou City pagem um valor obsceno para puderem justificar uma não aposta no jogador.
De qualquer forma é necessário um avançado que jogue numa das alas em diagonais interiores, com bom remate e adaptação rápida. Pensando no panorama do mercado Luiz Suarez do Liverpool seria uma solução (claro que precisa de ir ao psiquiatra antes), ou mesmo, Aguero (talvez demasiado caro)... um avançado que afinal, faça aquilo que Guardiola e Vilanova esperavam de Alexis mas que o chileno nunca conseguiu.
A equipa precisa de outra intensidade, precisa de estar mais focada no coletivo, e Vilanova não pode abdicar da largura no ataque como teimosamente quis fazer este ano, sob pena da equipa se tornar demasiado previsível. Mas no essencial, dar sangue novo e uma nova vontade de vencer.
Agora fim de ciclo? Isso querias tu e todos os outros blancos Miguel.
Tiago,
Comentário interessante, sem dúvida, que tem alguns pontos discutiveis e um erro. Não sou adepto do Real Madrid.
Os ciclos têm diferentes dimensões. Há equipas com largos ciclos de hegemonia interna que são incapazes de a reproduzir no espaço europeu. Há equipas com óptimos ciclos em provas a eliminar mas que mostram problemas em provas de regularidade. E há projectos desportivos tão bem montados desde a sua base que parece que o seu ciclo nunca termina. Esta equipa do Bayern Munchen, por exemplo, perdeu dois campeonatos de liga mas é a consequência do trabalho genial de van Gaal, que começou no ano em que venceram tudo menos a Champions League.
O ciclo do Barcelona como hegemonia continental não existe. É uma falácia. Não pode existir quando hegemonia continental, forçosamente, quer dizer que se é o melhor do continente. O Barça não o foi em 2010. Não o foi em 2012. E não o foi em 2013. Perdeu três meias-finais em cinco anos. Não soube ser melhor que os seus adversários em seis jogos. O último caso foi um resultado humilhante mas mesmo nos jogos contra Chelsea e Inter, nunca se mostraram cómodos contra um sistema que anulava bem as suas mais-valias.
É óbvio que o Barça tem um plantel para repetir o titulo espanhol e ser campeão europeu. Mas isso, no espaço europeu, não é um ciclo a não ser que se perpetue. O ciclo do Milan de Sacchi não se confunde com o Milan de Capello apesar de só terem passado 3 anos entre o último titulo europeu do 1º e o único titulo continental do segundo. Se Vilanova vencer a sua 1º Champions em 2014, 3 anos depois da última de Pep, não há conexão possível. Forçosamente será uma equipa diferente, talvez com muitos dos protagonistas mas com funções diferentes.
Valdés e Puyol estão em processo de ruptura institucional. Piqué e Fabregas, contestados pelos adeptos depois de duas temporadas abaixo das expectativas. Alexis é considerado como uma versão ofensiva de Chygrinski e Villa não tem espaço nem corpo para se impor no relvado. Dani Alves foi o primeiro a chocar com Guardiola e agora é também um dos primeiros a chocar com Vilanova. Tem os dias contados.
Naturalmente que temos o génio de Xavi, a magia de Iniesta, a frieza de Busquets e o sobrenatural que é Messi. Quatro jogadores do outro mundo. Mas tudo à sua volta terá de ser distinto. Mais velocidade, mais processos colectivos oleados desde a defesa até ao ataque, menos espaços concedidos, maior eficácia dos outros membros do ataque para baixar a dependência de Messi (que continuará a bater recordes), e sobretudo jogadores certos para posições-chave.
Barcelona ganhador? Seguramente, é o segundo favorito para a Champions de 2013/14 por detrás do Bayern. Ciclo ganhador? Marketing!
Comentar post