Quinta-feira, 21 de Fevereiro de 2013

Da última vez que vi, o futebol continuava a ser um jogo decidido por quem marca mais golos. Como qualquer outro desporto, o golo resume a essência do jogo. No entanto, nos últimos anos, graças ao sucesso espantoso do projecto de Pep Guardiola, surgiu uma legião de puristas que tentou transformar as regras do jogo a seu belo prazer. O golo, esse momento estranho, quase pecaminoso, passou a um segundo plano. O importante era a possessão, os largos minutos de posse de bola, aquilo que verdadeiramente definia, qual Star Wars, os brancos e os negros, os bons e os maus. Em Milão, como já sucedeu no passado, o golo voltou a por as coisas no seu lugar. Aquele onde o futebol realmente gosta de estar.

 

É possível uma equipa ser dona e senhora da possessão e, ao mesmo tempo, ser absolutamente inconsequente?

Ser inofensiva, tímida, sem coragem de enfrentar o jogo de frente, de procurar transformar a sua superioridade teórica, reconhecida por próprios e estranhos, em algo palpável? Seria fácil dizer que não, que nunca se chega a esse extremo, mas jogos como o que opôs o AC Milan ao Barcelona em San Siro diz-nos que há sempre espaço no futebol para o ridículo. Quando uma ideia se começa a levar demasiado a sério, cai no fundamentalismo absoluto e perde toda a sua relevância. Foi o que passou ao Barça.

Guardiola, provavelmente o treinador mais importante do futebol europeu da última década, partiu sempre do conceito da possessão para algo mais profundo, mais palpável. O seu primeiro esboço, o forjar do Pep Team que venceu num ano natural seis títulos, era uma equipa que queria a bola para atacar, para marcar. Superou o registo goleador, desmontou os rivais com tremenda facilidade e ganhou, por mérito próprio, o direito a ser considerada como uma equipa superlativa, um fiel sucessor do Milan de Sacchi ou do Ajax de Kovacs e Michels. Nos três anos seguintes, quase sempre com os mesmos protagonistas, a equipa continuou a aplicar os ensinamentos do técnico mas foi, progressivamente, levando demasiado a sério o santo e senha da possessão. Foi perdendo eficácia, finura, exactidão. Caiu por duas vezes em meias-finais da Champions League por ser incapaz, a todos os níveis, de gerar um plano alternativo, um esquema que desse a tanta posse um sentido claro, o do golo. Ao contrário de Cruyff, um técnico que partia para cada jogo com três planos, o Barcelona de Guardiola foi tornando-se plano e previsível para os seus rivais. Não deixava de ser, tecnicamente, a melhor equipa com diferença, aquela que melhor sabia manejar a bola e os tempos. Mas para rivais mais aguerridos, eficazes, capazes de abdicar de ter a bola para controlar o espaço, os seus pontos frágeis tornavam-se evidentes. Por isso perdeu uma Copa del Rey, uma liga e duas Champions League que, à partida, pareciam suas por direito divino. Por isso perdeu ontem em Milão. Por não saber jogar a outra coisa.

 

Ouvindo os profetas da seita da possessão, génios da bola como Xavi Hernandez, jornalistas conhecidos e bloggers desejosos de ter um pouco de atenção e afecto, parece que o futebol é um jogo que foi disputado erradamente por todos nos últimos 100 anos. E que, do nada, a luz desceu à terra e iluminou um conjunto de apóstolos, transmissores da verdade absoluta, destinados a evangelizar o mundo.

No final dos jogos começou a debater-se mais a equipa que mais possessão tinha do que aquela que realmente tinha sido mais perigosa. Aquela que tinha procurado fazer das suas armas algo concreto. Porque a posse é uma arma ou, pelo menos, foi assim concebida desde os dias de Hogan, Meisl ou Sebes. Uma arma de ataque. A forma de ter a bola impedia o rival de a ter e, portanto, tornava a equipa mais ofensiva por natureza. Mas com a bola nos pés era preciso depois partir para o ataque. As equipas que defenderam a posse sempre foram incisivas. Se por um lado génios como Chapman se preocupavam mais com os espaços do que com a bola - e a corrente do cattenaccio de Rocco e Herrera levou a ideia ao extremo - na Holanda a posse voltou a ser o santo e senha, mas como disse um dia o brilhante Muhren, um dos integrantes do Ajax de Michels e Kovacs, a posse só servia se a equipa fosse vertical. Tanto passo horizontal, dizia, irritava-o profundamente porque tirava sentido ao jogo. E assim era.

Na final do Mundial de 1974, em Munique, a Holanda perdeu porque, depois de marcar o golo inaugural, dedicou-se a praticar sucessivos rondos pelo campo, sem causar o mais mínimo perigo a Sepp Maier. Os alemães, uma equipa tecnicamente inteligente mas mais hábil ainda em velocidade, marcaram dois golos e depois asfixiaram a possessão estéril dos holandeses. Essa capacidade de acção e reacção faz de todas as equipas capazes de manobrar distintas realidades verdadeiros colectivos. Entendem que o futebol se adapta às circunstâncias e quando é necessário operar um inesperado roque, estão dispostos a fazê-lo para salvar o rei e ganhar o jogo. O Barcelona vive no mutismo intelectual de acreditar que a sua fórmula resulta por inércia, independente do rival. Tem a ideia e, sobretudo, as individualidades para isso. O génio de Messi, Iniesta, Xavi, Busquets, Puyol, Piqué, Alves, Alba, Fabregas, Pedro e Valdés resume uma geração irrepetível, verdadeiros maestros a entender a mensagem. Mas não é eterna e quando o génio individual, sobretudo do argentino, tem um mau dia, fica a nu a fragilidade do planeamento colectivo. Em San Siro o Barcelona não teve uma só ideia futebolística que não passava por trocas sucessivas de bola em zonas inofensivas, oferecidas à consciência por Allegri ciente que a equipa só é perigosa quando troca a bola comodamente na linha da grande área. Espaços fechados, imaginação zero, a derrota tornou-se inevitável. Em Barcelona a equipa da casa até pode vencer por 5-0, tem jogadores, adeptos e talento para isso. É a melhor equipa do mundo em individualidades e sentido colectivo. Mas também é um projecto que começa a deixar demasiado evidente as suas falhas estruturais. Golos sofridos com qualquer rival, imprecisão no passe, ausência de goleadores alternativos, avançados que continuam a penar no banco para não fazer sombra à estrela da companhia e uma possessão cada vez maior em zonas recuadas e menos asfixiante onde realmente importa, na cara do rival. Em Milão não houve desculpas, não houve remates, não houve rondos, não houve futebol.

 

É interessante ver a ultra dependência que toda a ideia de jogo do Barcelona tem dos golos de Messi. Uma equipa que faz da posse de bola uma obrigação divina mas que depois depende apenas de um indivíduo é um projecto condenado a fracassar no momento em que esse jogador individual falhe ou desapareça. O Ajax de Michels e Kovacs brilhou sobretudo porque, apesar do génio e liderança de Cruyff, todos defendiam, todos atacavam e todos marcavam. A verticalidade do jogo dos holandeses desconcertava os rivais mais do que as suas largas possessões. Em Barcelona, a necessidade de trocar a bola até à pequena área para La Pulga empurrar para mais um recorde é um filme que os rivais já conhecem. As equipas mais humildes da liga espanhola pouco podem fazer para o contrariar, mas na Europa são cada vez mais os clubes que entendem o modelo que o ausente Vilanova tem aplicado. Pode não ser bonito, especialmente quando as pessoas vivem bombardeadas com a ideia pregada até à exaustão que defende, imagine-se, que só existe uma forma de jogar bem ao futebol (contrariando 100 anos de história, apenas porque sim), e que tudo o demais devia ser castigado com o purgatório, inferno e um fim-de-semana numa favela de Monróvia. Mas sem ser esteticamente interessante, é o que melhor representa a essência do futebol. Eu tenho a bola quando quero ter, eu remato quando quero, eu marco quando remato: eu ganho. Mais de um século de grandes treinadores, equipas e jogadores não nos dizem que a posse é mais importante que o golo. E o presente só acaba por confirmar que, sem uma ideia mais ousada e uma flexibilidade emocional necessária, a posse de bola pode ser algo profundamente estéril.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 16:26 | link do post | comentar

25 comentários:
De Carlos Santos a 25 de Fevereiro de 2013 às 14:30
Miguel este seu comentário é muito bonito mas aqui o único que criticou e tentou banalizar um modelo de jogo foi você.
A crítica que você fez ao estilo de jogo do Barcelona sem ser enquadrada com as condições em que esse jogo foi jogado, pura e simplesmente não faz sentido.

E todas essa questões que está a levantar também fazem muito pouco.
1º, o futebol não é o único desporto que pode ser jogado em qualquer lado, do Camp Nou ao Municipal da Condeixa. Eu vejo basquetebol no Madison Square Garden e também o vejo no polidesportivo da minha rua. E muitos outros existem que também podem ser jogados em qualquer lado. E o fenómeno socio-cultural do basquetebol é tão forte, no mínimo, como o do futebol.

2º Quanto ao tamanho da relva ou do campo, se o Nuno fala em padronizar essas questões qual é o seu problema? Se for padronizado para todas as equipas a altura da relva a que vão jogar obviamente estas equipas treinarão para jogar assim e não haverá diferenças sentidas pelas equipas e muito menos truques como os que houve em San Siro. Agora treinar em campos de batatas duvido que alguém treine.

Aqui a única questão é que o Miguel apresenta todo um teorema com base numa amostra sem o mínimo de significância. Se quer dizer que o estilo de jogo do Barcelona tem problemas apresente-os com base em jogos feitos em condições normais e não com base num único jogo feito num batatal.
Quer ser coerente, analise a época do Barcelona no seu todo e faça as suas comparações.
Querer fazer uma tese a defender a "esterilidade" do jogo do Barcelona, com base num único jogo (em que o Barcelona foi mesmo assim superior ao adversário) e em que existiram tantos condicionantes externos, não faz qualquer sentido.
Com textos assim é inevitável que o acusem de azia ao Barcelona e à Espanha já que você só "aparece" nestas raras derrotas.

Você pode ter


De Miguel Lourenço Pereira a 25 de Fevereiro de 2013 às 14:53
Carlos,

A mim dá-me exactamente igual o que pensem sobre o que eu escrevo, se tenho ou não tenho azia contra a equipa A, B ou C, se apareço em momentos pontuais ou realizo crónicas semanais. Há pessoas que gostam de escrever para ser elogiadas, para que alguém lhes dê uma palmadinha nas costas todas as semanas por repetir o óbvio, estão no seu direito. Eu, no meu blog, escrevo quando quero, como quero, sobre o que quero e o resto importa bem pouco. Isto não é um concurso de popularidade.

Em relação ao que está em discussão, eu sou absolutamente contra a padronização das dimensões do terreno de jogo precisamente porque aprecio e valorizo todo o ambiente que existe à volta do futebol. Se por um lado parece-me excessivo (para não dizer outra coisa) comparar o impacto socio-cultural do basket com o futebol, por outro é fácil de entender que desfruto com essa sensibilidade quase bélica em que se transforma o jogo de xadrez que é o futebol quando se enquadra num espaço comum. E o relvado, as dimensões, são uma das armas que as equipas têm ao seu dispor, a par do seu estilo de jogo. Gosto de todas as variantes apesar de saber reconhecer que umas propiciam o futebol mais técnico e outras o mais físico. O problema do Carlos, do Nuno e todos os que defendem a mecanização do futebol, é que querem excluir essa componente humana, padronizando tudo a partir do pressuposto que só um modelo é válido - são as mesmas pessoas que criticam os "autocarros", a arte de defender, as equipas de vertigem, as equipas mais físicas, como o "não-futebol", assumidamente que só existe um futebol - e que esse modelo acabará por ser adaptado a todos porque, como diz, todos acabarão por treinar e absorver esse modelo através da padronização das dimensões, do tamanho do relvado, etc...

Eu opino exactamente o contrário e perdi-me no caminho, na parte em que pensar o oposto é a) não perceber de futebol, b) não gostar de futebol, c) ter azia contra a b ou c, mas não me preocupo em excesso.

Quanto ao Barcelona, que já elogiei tantas vezes nestes últimos cinco anos, continuo a dizer o de sempre. É uma grande equipa naquilo que faz mas é uma equipa com limitações quando se trata de fazer outra coisa. Este jogo foi um exemplo perfeito dessa realidade. O jogo com o Chelsea e o Inter também. Na liga espanhola, onde a maior parte das equipas assume que parte derrotada desde inicio quando joga contra Barcelona e Real Madrid, é díficil encontrar quem procure fazer algo distinto que force o Barcelona a ter um plano B ou C e portanto seria redundante estar toda a semana a dizer que o plano A funcionou - e muito bem. Alerto apenas para os que acreditam em teorias de infalibilidade, que no futebol isso não existe e que sem a metamorfose, todas as grandes equipas acabam por definhar. O mérito principal deste projecto é, não só os titulos que tantos ganharam antes, mas a sua longevidade mas quando encontra-se com o mesmo problema de espaço, continua sem saber como o resolver. Portanto temos um modelo de jogo excelente mas sem alternativas. Quando são necessárias, por motivos x y e z, não aparecem e o modelo torna-se estanque, insuficiente. O Barça no Camp Nou pode encontrar a alternativa ou até triunfar sem o necessitar, dependendo do que faça o rival, mas isso não invalida que tem manifestado esse grande - e talvez único - problema.

Para o Carlos pode não fazer sentido nenhuma das minhas afirmações e está no seu pleno direito. A diferença, é que eu não parto do principio que o faz por ignorância, por azia ou por provocação, simplesmente acredito que está a ser fiel à forma como vê o jogo. O que já não entendo, é que seja incapaz de fazer o mesmo exercício sempre que escrevo algo com o qual não está de acordo. O debate seria muito mais lógico se não partisse da premissa maniqueísta de que há um certo e um errado, um bem e um mal, um superior e um inferior. No futebol, como em tudo!



De Carlos Santos a 25 de Fevereiro de 2013 às 17:11
"O problema do Carlos, do Nuno e todos os que defendem a mecanização do futebol, é que querem excluir essa componente humana, padronizando tudo a partir do pressuposto que só um modelo é válido - são as mesmas pessoas que criticam os "autocarros", a arte de defender, as equipas de vertigem, as equipas mais físicas, como o "não-futebol", assumidamente que só existe um futebol - e que esse modelo acabará por ser adaptado a todos porque, como diz, todos acabarão por treinar e absorver esse modelo através da padronização das dimensões, do tamanho do relvado, etc..."

Não Miguel, o problema é seu que está a colocar-me palavras na boca sem eu ter feito uma única consideração sobre outros estilos de jogo.
Eu não tenho problema nenhum com uma equipa que jogue com a defesa recuada, uma equipa que jogue em contra-ataque, etc. Saber defender bem é meritório como é saber atacar bem.
Agora uma equipa que tem que se servir dum terreno de jogo impraticável para conseguir defender é uma equipa que não sabe defender bem e que tem que aliar métodos externos ao jogo para o fazer.
Gostos são gostos e cada treinador joga como quer, agora métodos externos e possivelmente ilegais não têm nada a ver com táctica ou estratégia. Um grande treinador, ofensivo ou defensivo, apologista da posse ou do contra-ataque, não deixa a sua estratégia sujeita a factores externos como o árbitro ou o relvado. Um grande treinador prepara a sua equipa, analisa o adversário e não manda o jardineiro parar de regar o relvado durante 2 semanas e colocar-lhe areia em cima.

E já agora, que forma mais justa haverá de distinguir a capacidade dos treinadores e das equipas do que colocá-las em igualdade de circunstâncias, ou seja em relvados semelhantes e em bom estado? É que nem sequer se está a assumir que a padronização seria o relvado de Camp Nou, as entidades competentes até podiam regulamentar jogar num relvado mais pequeno. Mas toda a gente jogaria nele, toda a gente treinaria para jogar nele e não haveria a estupidez de alguém jogar em 10000m2 no sábado e em 5000 na 4ª feira seguinte.


"Na liga espanhola, onde a maior parte das equipas assume que parte derrotada desde inicio quando joga contra Barcelona e Real Madrid, é díficil encontrar quem procure fazer algo distinto que force o Barcelona a ter um plano B ou C e portanto seria redundante estar toda a semana a dizer que o plano A funcionou - e muito bem."

Já isto, ou é resultado de não ver a liga espanhola ou é mais uma desculpa esfarrapada para a supremacia do Barcelona. Qual foi a equipa que entrou derrotada contra o Barcelona ou o Real? O Depor por exemplo, a perder por 3-0 acabou por perder 5-4 e dar luta até ao fim ao Barcelona. E o Granada há 15 dias? E o Sevilha este fim-de-semana? E a Real Sociedad? E o Valência?
Eu não vejo nenhuma equipa a entrar derrotada em Espanha e o Real que o diga este ano!

O modelo do Barcelona tem problemas como têm todos e este ano os problemas até são quase todos de cariz defensivo e não relativos a alternativas de ataque.
Aliás os números astronómicos do Messi demonstram isso e é óbvio que ele não marcaria todos estes golos se não jogasse numa equipa com um potencial ofensivo tão bem trabalhado.
A questão é que, quando o Chelsea se espalha ao comprido na Champions, quando o Man City é humilhado no seu grupo, quando o Benfica é superado pelo Celtic ou o Milan fica atrás do Málaga, o Miguel não vem tentar encontrar defeitos nos modelos de jogo deles. O Miguel não vem elaborar teses apocalípticas sobre o futebol directo, defensivo ou físico.
Já sobre o futebol de posse do Barcelona e da Espanha está constantemente a tentar anunciar-lhe a morte, a apontar-lhe os defeitos, etc...
Ele tem defeitos sim, mas também tem muitas virtudes! E acima de tudo, esses defeitos não serão nunca extraídos dum jogo num batatal. Quer falar desses defeitos fale de alguns dos jogos com o Real, quem sabe até do desta terça. Agora apontar o que quer que seja por causa deste jogo em Milão era como dizer que o Royce Gracie tinha defeitos no seu jiu-jitsu porque um dia foi apanhado à traição com um soco enquanto dormia.

Alguém que realmente goste de futebol sabe apreciar uma boa equipa defensiva. Não pode é nunca apreciar uma equipa batoteira.


De Miguel Lourenço Pereira a 25 de Fevereiro de 2013 às 17:41
Carlos,

Parece que, de facto, é inato, terminar qualquer discurso, com o habitual juizo de valor do "alguém que realmente goste de futebol", partindo sempre do principio que o seu gosto modela o gosto alheio e que a sua definição de batota se estende à Humanidade. Ou isso é resultado de um grande ego, de um conhecimento incontestável ou deixa-me estupefacto a facilidade de falar sempre em nome de um colectivo.

O modelo do Barça tem muitos problemas defensivos e um problema ofensivo sério. Os números do Messi simplesmente espelham esse problema, a excessiva dependência do seu talento inesgotável para resolver os problemas que o colectivo, a partir do modelo base, não é capaz. Contra o Sevillo, o banco colocou Tello em campo e Villa na posição de 9, algo que é cada vez mais raro na equipa blaugrana, e abriu logo o campo e criou os espaços na defesa dos andaluzes para permitir a reviravolta no marcador. Isso é aplicar um plano alternativo ao original (com Alexis a deambular pelo meio e Iniesta e Messi, ou Thiago e Fabregas, a bascular pelo corredor central). E sim, eu vejo os jogos do futebol espanhol, há anos, e a minha percepção é que as equipas entram claramente derrotadas psicologicamente em muitos (não o 100% obviamente) dos jogos que disputam contra os dois gigantes, algo que a brutal diferença de orçamentos, plantel e qualidade de jogo explica.

Relativamente aos outros modelos, claro que todos têm erros e falhos e pontos débeis e as equipas de Mourinho não conseguem atacar em estático, e as equipas inglesas continuam sem conseguir elaborar jogo sem perder a eficácia defensiva, e os italianos deixam cada vez um espaço maior entre os homens adiantados e alinha defensiva, alargando muito o campo. Sou completamente consciente disso, mas como disse no comentário anterior, sou eu, não o Carlos nem ninguém, quem define o que escrevo ou não escrevo, o que opino ou não opino. Isto, que eu saiba, ainda é um blog de um autor aberto ao público para ler e comentar. Não é um diário mas também não é um projecto colectivo, pelo que entendo que existam pessoas que não lhes interessa o que escreve e que não o lêem da mesma forma que eu também não leio muitos outros blogs. Agora nunca me virá dizer ao dono do blog A, B, C ou D sobre o que é que ele tem de escrever.

Por fim, para rematar o tema inicial, Stan Cullis era um génio como treinador e recorreu a esses métodos "batoteiros". Bill Shankly também. Helenio Herrera também. Bela Guttman também. Ernst Happel também. Herbert Chapman também. Branko Zebec também. Osvaldo Zubeldia também. Carlos Billardo também. E assim podemos continuar todo o dia a enumerar treinadores "batoteiros" que cometeram o "erro" de achar que, jogando em casa, não podiam utilizar todas as armas possíveis para vencer. Qualquer equipa que jogue em sua casa tem a vantagem de poder dispor do relvado como deseja - a não ser que as autoridades digam o contrário - de criar o ambiente que desejem e de alargar ou fechar o campo como sentirem mais adequado para o seu plano. O futebol é a forma moderna mais honesta de guerrear e a destreza intelectual não está só na movimentação dos peões mas sim na escolha do melhor ângulo possível para saber como atacar e como defender. Um grande treinador tem todos esses factores em consideração e por saber ler perfeitamente todos os cenários possíveis, consegue reequlibrar, muitas vezes, desvantagens que não estão no relvado mas sim na conta bancária. Porque se vamos democratizar o futebol, porque não repartir equitativamente todos os grandes jogadores por todas as equipas, não permitir o mercado de transferências e assim, dessa forma, teremos a tal utopica igualdade que no futebol nunca existiu. Faz lembrar os apologistas da F1 que defendem que todos os carros devem ser desenhados por igual, todos os pneus exactamente iguais, todos os motores do mesmo provedor, todos os chasis do mesmo fabricante e a partir de aí que decidam os pilotos quando nem nos anos 30 e 40 essa realidade existia.

O futebol é um jogo que se disputa em planos muito diferentes, e saber manejar todos os seus registos não tem nada a ver com o termo "batota". O Carlos quer pensar de outra forma? Força, mas como diria Cruyff, eu pessoalmente prefiro enganar-me com as minhas ideias que errar com as de outros!


De Carlos Santos a 25 de Fevereiro de 2013 às 18:31
O Herrera, o Otto e companhia podem ter feito isso tudo mas não foi por isso que foram geniais.
Mourinho não é genial pelo dedo no olho, pela espera ao árbitro no parque de estacionamento ou pela camisola do Rui Jorge. É genial porque já mostrou ser capaz de ganhar aos melhores jogando futebol. Limpo, bonito, bom tacticamente.

Quanto ao resto, sei que é portista e só lhe desejo que este ano não perca o campeonato porque uma equipa se lembrou de destruir o relvado contra o Porto e contra o Benfica até lhe apeteceu abrir as pernas.
Se o meu Sporting para a semana se lembrar de colocar areia na relva, deixá-la crescer e não a regar se calhar vai repensar a sua opinião.

Quanto à última frase do meu último comentário, repito-a sem fazer juízos de valor sobre ninguém:
Alguém que goste de futebol não pode NUNCA gostar duma equipa batoteira.


De Miguel Lourenço Pereira a 25 de Fevereiro de 2013 às 18:44
Carlos,

Esses treinadores foram geniais porque fizeram muitas coisas, entre as quais essas, para vencer contra todas as circunstâncias negativas que encontraram. Misturar regar um relvado com meter um dedo no olho ou rasgar a camisola a um jogador, dois actos de imbecil, não faz nenhum sentido. Para mim o grave no futebol são as entradas para lesionar, o teatro dos jogadores, a corrupção nos organismos oficiais, a compra e venda de jogos e a progressiva falta de valores, muito mais sério que o estado de um relvado ou da relva.

Se este ano o FCP perder ou ganhar o campeonato pelo relvado do estádio A, B, C ou D para mim não fará a mais minima diferença. Pode guardar o link e voltar em Maio com ele se quiser. Como adepto do FCP critiquei o relvado do estádio do Dragão, mas não hipocritamente como já li, mas sim porque o FC Porto dos últimos anos procura ser uma réplica - com diferenças - do modelo do Barcelona e parece incompetente por parte de um clube quer jogar futebol de toque curto não cuidar o seu próprio relvado. Se o FC Porto quisesse jogar de outra forma e para esse jogo fosse potenciado um relvado mais descuidado não diria nada e respeito que o Moreirense, Nacional ou Olhanense façam o mesmo. Se o Sporting o quiser fazer está no seu direito, nunca me verá criticar uma equipa pelo o que quer que faça quando jogue em casa.

Quanto ao rematar, eu gosto muito de futebol e não gosto de equipas batoteiros, mas como o seu conceito de batota inclui realidades que para mim são estratégia, então está a mentir, porque eu sou um exemplo vivo que contradiz conscientemente a mesma frase que afirma tão taxativamente.


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