Pode sobreviver a liga escocesa sem o Glasgow Rangers? A partir deste Verão saberemos a resposta mas enquanto todos dão por descontado um novo título para o Celtic de Glasgow, aquece a corrida para completar o pódio agora que a hegemonia crónica do Old Firm desaparece por uns bons anos.
Desde a década de 80 que nenhum clube escocês conseguir trepar ao segundo lugar da tabela classificativa a não ser que o seu nome fosse Celtic ou Rangers. Nem mesmo na passada época, com os problemas financeiros dos azuis, o terceiro em discórdia, neste caso o Motherwell, logrou superar pontualmente o clube de Glasgow. A realidade do futebol escocês é inegavel. Dois clubes competiam para vencer e os restantes para sobreviver. Mas sem o Glasgow Rangers em prova a emoção está garantida. Os analistas consideram o titulo do Celtic uma das certezas crónicas do ano que aí vem. Mais, muitos insinuam mesmo que, sem concorrência interna, este é o ano em que os católicos têm de apostar seriamente nas provas europeias, apesar de ser evidente que a qualidade do plantel do Celtic não permite grandes sonhos na Champions League.
Com os verdes ocupados com esse sonho europeu - não participam numa final desde 2003 - e as contas do título fechadas antes da loja abrir, é o segundo lugar, o que dá opções de entrar na febre dos milhões da UEFA que inspira tanto interesse. A eliminação do Motherwell às mãos do Panatinaikhos deixa claro que a realidade dos clubes escoceses dista ainda bastante do nível europeu, mas mesmo assim terminar atrás do futuro campeão é um estimulo que há esmagadora maioria dos clubes de metade da tabela acalenta para as próximas quatro temporadas, ou seja, até ao esperado regresso do Rangers à elite.
Nessa conjuntura a disputa parece resumir-se a quatro clubes históricos que têm vivido anos de cinzentismo profundo.
O Dundee United, campeão na década de 80 (quando venceu igualmente uma Taça UEFA), é o mais sério rival do Celtic e lidera o pelotão de favoritos ao campeonato dos "outros". A equipa orientada por Peter Houston esteve perto da despromoção há dois anos atrás mas acabou a última temporada num quinto posto e mantém a estrutura base de uma equipa que pode e deve ambicionar a mais.
Em concorrência directa com os laranja de Dundee (a despromoção do Rangers permitiu a promoção do Dundee FC, que veste de azul, outro histórico da cidade) estão Hearts, Abardeen e Motherwell.
O clube de Edimburgo, orientado na passada época por Paulo Sérgio, chega à nova temporada com a taça escocesa debaixo do braço, a primeira vitória do clube em largos anos numa prova oficial. O técnico português já não está para liderar a nave, mas o seu sucessor, John McGlynn, conta com a maioria dos jogadores que estiveram por detrás da vitória frente ao Hibernian no passado mês de Maio. Por outro lado, o Motherwell entrou cedo na temporada para preparar a presença europeia e chega ao arranque do torneio em boas condições. Mas começar bem numa competição onde as equipas jogam quatro vezes entre si nem sempre é bom sinal. Os homens de Stuart McCall são, na imensa maioria, os mesmos que terminaram o passada época no terceiro lugar e sem a concorrência directa do Rangers o objectivo natural é subir um degrau no pódio da Scotissh Premier League. Na luta pela prata, o clube de Fir Park vai encontrar-se com o Abardeen.
Desde o mandato de Alex Ferguson, com os seus dois títulos de liga, duas taças da Escócia e uma Taça das Taças, que o clube da cidade portuária vive entre desilusões. O veterano Craig Brown - o último homem que levou a Escócia à fase final de uma competição internacional - quer despedir-se com uma boa temporada e depois de ter manobrado bem o mercado de transferência, garantindo que o grosso dos jogadores do plantel fica ao seu serviço e incorporando vários jogadores de nível a custo zero, há quem considere os encarnados como o outsider por excelência da prova.
Uma competição dentro de outra prova com vencedor pré-anunciado é o estimulo que os adeptos e seguidores do futebol escocês vão encontrar. O formato do torneio não permite sonhar com grandes surpresas, como sucede em ligas como a holandesa, belga ou suíça quando os grandes perdem protagonismo, e o título do Celtic parece inquestionável. Mas estes serão anos fundamentais para perceber até que ponto o futebol do país que inventou o passe como principal técnica de jogo é sustentável e pode existir para lá do fantasma do Old Firm.