Um golpe de sorte, um golo certeiro vindo da crença da alma de uma equipa que na primeira parte mereceu a vantagem que chegou a ter mas que, devido a dois erros do seu capitão e da postura defensiva do seu seleccionador, ficou à mercê da Dinamarca. Se Paulo Bento é já um caso crónico de conservadorismo, Cristiano Ronaldo continua a confirmar-se como a cruz da selecção. Preguiçoso, inconsequente, autor de dois erros imperdoáveis e, sobretudo, sem capacidade para exercer de líder e capitão, o número 7 tornou-se na cruz de um colectivo que venceu a Dinamarca apesar da sua estrela e nunca graças a ela.
Dois minutos depois do seu erro clamoroso, a Dinamarca empata.
Rui Patricio, que já tinha sido mal batido no primeiro golo, medindo mal a saída, voltou a ser enganado por Niklas Bendtner. A Dinamarca tinha estado a perder por 2-0 e encontrou-se com um empate a dez minutos do fim. Cortesia de Ronaldo.
O número 7 voltou a realizar um desses jogos mediocres com a selecção que o separam dessa lista de históricos que brilham com os clubes e também com as selecções que representam. A diferença com Luis Figo (já nem vale a pena falar de Eusébio) é abismal nesta apartado. Apesar da grandeza indiscútivel dos seus números ao serviço do Real Madrid, com Portugal a presença de Ronaldo é cada vez mais um lastre dificil de suportar. Não ajuda na cobertura defensiva, não ajuda na criação de jogo, não aproveita as bolas paradas e hoje, em duas oportunidades, frente a frente a Anderson, sofre o seu habitual bloqueio mental (que deve ter a forma de Leo Messi na sua mente), e com isso impede que a equipa lusa remate um jogo que controlou com autoridade no primeiro tempo. Esses dois erros podiam ter custado caro a um colectivo que fez perfeitamente bem o seu trabalho. No final, o golo de Varela - depois do enésimo erro de Ronaldo - fez justiça ao marcador. Nem a Dinamarca tinha merecido o empate, nem os colegas do capitão mereciam perder. O jogo imenso do quarteto defensivo, com Coentrão e Pepe como melhores em campo a meias, e o trabalho incansável do miolo, com Nani e Postiga sempre a entrar em jogo pela direita, mereciam muito mais.
Pepe, sobretudo, confirma-se como o verdadeiro lider espiritual desta equipa. A sua omnipresença a defender sentiu-se ainda mais no portentoso golpe de cabeça que deu o primeiro golo na prova à equipa portuguesa. Um golo merecido e que foi ampliado, pouco depois, pelo sempre contestado Hélder Postiga. Excelente trabalho de Nani pela direita, que soube combinar muito bem com João Pereira, e passe a rasgar para o dianteiro do Zaragoza ampliar a vantagem. Face ao jogo sofrível dos nórdicos e a lesão do seu melhor jogador, Zimling, parecia claro que Portugal ia somar os três pontos. Mas sofrer é um termo bem português.
Um erro de posicionamento defensivo e uma saída em falso de Rui Patricio, a par de Ronaldo e Meireles o eixo mais fraco de Portugal, permitiu a Bendtner continuar a sua série goleadora com Portugal. Faltavam três minutos para o prolongamento e esse golo deixou marca. Especialmente em Paulo Bento.
Já se sabe que o seleccionador português, do leque de 16, é talvez o menos capaz e mais conservador dos técnicos, mas a atitude especulativa de Portugal no inicio da segunda parte foi espelho evidente das suas instruções no balneário. Em vez de procurar matar o jogo, Portugal deu a bola à Dinamarca e decidiu esperar, apostando nos contra-golpes. Uma jogada com um risco bem alto como se veria e que nunca sentou bem com o jogo trapalhão de Postiga e a inoperância de Ronaldo. Os laterais, demasiado longe da linha de meio-campo, não podiam ajudar na cobertura e o controlo do partido evaporou-se. A entrada de Nélson Oliveira (talvez um desses jogadores votados pelo público se, como adiantou Queirós, se tivesse feito desta vez essa promoção pague 22, leve 1) não trouxe nada de novo e depois chegaram os erros impossíveis de Ronaldo. O fantasma de Messi continua a pesar demasiado.
Reclamou, resmungou e falhou. E chegou o empate nórdico, lance impecável, velha escola dinamarquesa e Bendtner, implacável, com Patricio de novo a ficar mal na foto. O sofrimento tornou-se em angústia e Paulo Bento repetiu a substituição do jogo com a Alemanha. Lançou Varela. O extremo do FC Porto trouxe a alma que tinha faltado aos que não a tinham e que se evaporava de quem tinha corrido kilómetros. Insistiu na linha e foi ganhando metros, com o apoio de Coentrão e Nani. Num centro do defesa do Real Madrid, que Ronaldo falhou em rematar, a bola sobrou-lhe para os pés e dez milhões de portugueses remataram com ele. Perante isso, Anderson não tinha nada a fazer. Merecidamente, sem jogar especialmente bem, Portugal venceu e agora depende de si mesma para garantir um lugar nos Quartos de Final.
Portugal depende de si e agradece à Alemanha uma vitória no duelo desta noite, um resultado que deixaria os holandeses quase fora de prova e os alemães comodamente classificados. Um empate deixaria tudo em aberto, inclusive a liderança do grupo e um triunfo holandês faria com que as quatro equipas chegassem ao último jogo igualadas em pontos. Não era por acaso que alguém lhe decidiu chamar, o grupo da morte.