O segundo titulo consecutivo do Borussia de Dortmund é um feito histórico no futebol alemão contemporâneo e a prova viva de que no Westfallen a lição de 2001 foi bem aprendida. Jurgen Klopp manteve-se fiel à ideia que fez do Dortmund uma das equipas mais atractivas do futebol europeu no ano passado e com isso lançou as bases para manter um troféu que a meio da época parecia que voltaria ás mãos do Bayern Munchen. Os bávaros disputaram taco a taco o titulo com os campeões mas viram-se superados pela maior eficácia dos homens do Rhur que estiveram 17 longas jornadas sem conhecer o sabor da derrota.
Quando o Dortmund perdeu o seu último jogo na Bundesliga, a equipa de Klopp seguia no 11º lugar e parecia a caminho de uma época para esquecer. O quarto lugar num grupo da Champions League acessível, a incapacidade de Gundugon de substituir com classe o talentoso Sahin e a irregularidade na prova nacional eram maus presságios. Mas essa última derrota, no Outono, antecipou uma cavalgada histórica liderada por Shinji Kagawa e secundada por actores de luxo, de Hummels a Bender, de Lewandowski a Gotze. O Dortmund não perdeu mais, encadeou 17 vitórias consecutivas, bateu o rival directo pelo titulo e sagrou-se campeão antes do último suspiro.
Um triunfo histórico não só porque contraria a tendência recente do futebol alemão como foi realizado com o esqueleto da equipa do ano transacto mas sem Sahin, vendido ao Real Madrid, e com Mario Gotze largos meses fora do onze. O popular técnico do conjunto amarelo provou ser fiel ao seu estilo e aos homens que foi lançando às feras nas últimas três épocas e a resposta foi um futebol de alto calibre, uma eficácia tremenda e uma superioridade moral confirmada por duas vitórias num mês diante do Bayern, primeiro para a Bundesliga e depois por 5-2 para a final da Taça da Alemanha.
Meritório titulo do Dortmund que volta a ter a Europa como desafio pendente para a próxima época, Europa onde melhor se moveu o Bayern Munchen. A ilusão de disputar a final do torneio no seu próprio estádio tornou-se numa obsessão para um clube que viveu um ano mais tranquilo com Jupp Heynckhes ao leme. Mesmo assim a lesão de Schweinsteiger, a baixa de forma de Muller e as discussões entre Ribery e Robben acabaram por contribuir para os pequenos, mas significativos, tropeções dos bávaros quando ainda lideravam a prova. Depois de ultrapassados pelo Dortmund, aos homens de Munique a perseguição transformou-se num pesadelo e as atenções viraram-se, sobretudo, para a Champions League.
Sempre perto e sempre tão longe deste duelo, a bela época de Borusia Monchengladbach e Schalke 04 não pode passar desapercebida. Sobretudo porque são dois projectos distintos mas que demonstram, à sua maneira, a maturidade da Bundesliga. Os mineiros do Rhur continuam na politica equilibrada de apostar na formação local misturando-a com valores importados a preço de custo como foi o caso de Raul e Huntelaar, peças chave no terceiro posto alcançado. Em Monchengladbach a aposta na juventude é evidente e seguramente terá o seu preço, mas a qualidade de jogo dos homens de Favre durante largos meses da prova foi insuperável.
A completar os postos europeus não houve lugar para campeões recentes como o Wolfsburg ou Werder Bremen, ainda assim a viver épocas mais tranquilas do que nos têm acostumado, mas sim para Bayer Leverkusen (bom ano apesar de tudo) e Stuttgart, a pouco e pouco a voltar às posições altas da tabela.
No lado oposto confirmou-se a falta de ritmo de alta competição de um campeão histórico como o Kaiserlautern e a despromoção de um FC Koln que, apesar de Podolski e os seus 18 golos, nunca soube funcionar como colectivo. Rostos amargos de um ano em que se assistiu a mais uma série de jogos inesquecíveis, novos jogadores locais a despontar e, sobretudo, a bancadas cheias e repletas de um dinamismo que confirma que a Bundesliga já ultrapassou a liga inglesa e espanhola em organização e qualidade de jogo. Falta agora no duelo desigual dos palcos europeus, onde as fortunas de poucos clubes de Espanha e Inglaterra dão uma sensação de desnível irreal, que os títulos comecem a dar razão a quem vê na prova germânica o futuro sustentável do futebol europeu.
Jogador do Ano
Shinji Kagawa
O japonês foi o eixo central à volta do qual se moveu a engrenagem do campeão. Na ausência de Sahin e Gotze, o primeiro vendido ao Real Madrid e o segundo vitima de uma larga lesão, o nipónico liderou a equipa do Westfallen, marcou e assistiu com regularidade e encheu os relvados com gestos de um génio que, seguramente, para o ano jogará num dos maiores clubes do futebol europeu.
Revelação do Ano
Marc ter Stegen
3060 minutos de puro talento numa temporada espantosa para a mais jovem e flamante promessa das redes germânicas. 19 anos e a lembrança de uma escola que conta com gigantes como Maier, Schumacher, Ilgner, Kopke ou Kahn para seguir, ter Stegen não só foi um dos baluartes da grande época do Borussia Monchengladbach como também poderá ter o escaparate europeu da próxima época que precisa para dar o salto para um dos grandes do Velho Continente.
Onze do Ano
Manuel Neuer confirmou-se como um dos melhores guarda-redes do futebol europeu na sua primeira época em Munique. Na defesa jogam Lukas Piszceck (Borusia Dortmund), Matts Hummells (Borusia Dortmund), Kyriakos Papadopoulos (Schalke 04) e David Alaba (Bayern Munchen), um quarteto jovem, dinâmico e com uma profundidade ofensiva tremenda.
O miolo é de Kagawa, motor do campeão, Toni Kroos, a grande surpresa deste Bayern Munchen e o sensacional Marco Reus, líder indiscutível do surpreendente Monchengladbach.
Mario Gomez e Klas Jan Huntelaar partilham a linha de ataque, reis dos golos na prova, com o polaco Robert Lewandowski a completar um trio de ases do "thor".
Treinador do Ano
Lucien Favre
Não aguentou o sprint até ao final mas a época realizada pelo Borussia Monchengladbac de Lucien Favre foi tremenda. O técnico responsável pela erupção de verdadeiros talentos em bruto como são Reus, Ter Stegen, Jantschke, Hermman ou Cigergi, montou um onze ofensivo, atractivo e tremendamente eficaz. Durante meia parte da época o Monchengladbach pareceu emular a herança histórica da maravilhosa equipa da década de 70 e manteve-se perto do topo da tabela. Acabou em quarto, com opções de disputar a Champions League, e agora caberá a Favre confirmar que, sem Reus e com os focos nos seus jovens talentos, o projecto tem pernas para andar.