Há algo especial nas celebrações de Primavera que consagram os grandes campeões das taças nacionais. Uma festa particular e emotiva que nos afasta muitas vezes da tensão até ao apito final do último segundo do campeonato regular. A Taça é uma festa diferente. Sem favoritos, sem campeões pré-anunciados, sem um palco a pender mais para um lado do que para o outro. Uma festa do futebol. Apesar de haver países que se têm habituado a antecipar a final da Taça para uma quarta-feira no meio das últimas rondas do campeonato, a tradição continua a ser o que é em muitos países que guardam o último fim de semana do ano para consagrar os finalistas de uma prova especial. Ontem e hoje foi o será sempre o seu dia. Pelo menos até para o ano que vem.
Nas ilhas britânicas a Taça é mais respeitada que a própria liga, competição com mais de uma centena de anos de história capaz de levar os adeptos á loucura. Estar em Wembley ou Hampden Park é para ingleses e escoceses o ponto mais alto do ano. Ainda se lembram muitos da blasfémia daquele Manchester de 2000 que rejeitou participar na F.A para ir ao Brasil jogar o Mundial de Clubes. Ninguém percebeu quem poderia trocar o novo pelo velho. Este ano os Devils não estão em Wembley, ainda devem lamber pelos cantos as estocadas do super Barcelona. No seu lugar o Chelsea de Guus Hiddink e o Everton de David Moyes. O bombeiro azul contra o Coach of the Year. Duelo apaixonante. Estádio repleto, calor infernal para um Maio londrino e um golo a abrir, o mais rápido de sempre, cortesia do francês Louis Saha. O Everton, que conseguiu o quinto posto na prova regular, tinha baixas importantes e esse golo soube-lhes a ouro. Durou pouco. No dia da despedida do técnico holandês os jogadores deram-lhe a merecida homenagem e arrasaram, futebolisticamente falando os de Liverpool. O notável golo de Drogba, o tiro monumental de Lampard e até um golo fantasma que acabou por não ser necessário. O Chelsea não fecha o ano a zero, o Everton continua á procura de um titulo que consagre um técnico tão arrojado como Moyes.
Centenas de quilómetros a norte, os protestantes de Glasgow sonhavam com conseguir a dobradinha. O rival não era o histórico Celtic, eliminado bem cedo, mas sim o pequeno Falkirk, equipa da zona norte das Highlands, complicada como qualquer outra. Pedro Mendes, o patrão invisivel, comandou a armada do Rangers mas foi outro ibérico, o espanhol Nacho Novo, quem apontou o golo solitário que permitiu á equipa azul e branca comemorar um ano inesquecivel quando parecia há uns meses que tudo estava perdido. Como é o futebol.
Na Alemanha, a viver a ressaca da vitória doméstica do Wolfsburg e agitada pelas transferencias por confirmar e confirmadas, juntaram-se em Berlim o ferido Werder Bremen e o ambicioso Bayer Leverkusen. O primeiro já sabia este ano o que era perder uma final e queria limpar a face e marcar de novo presença na Europa. Os segundos tiveram, o que se pode chamar de, ano tranquilo, e queriam um rebuçado bem mais doce do que os esperava a principio do ano. O jogo foi largo e sem grande história, com Diego a pautar, pela ultima vez, o jogo com o equipamento verde e branco. Ao seu lado Hugo Almeida, também ausente em Istambul, e o jovem turco-alemão Ozil. Era sobre ele quem se pôs todo o peso nos ombros na final da UEFA. Mais relaxado, sem ter de fazer de Diego, o jovem soltou o seu melhor jogo e deu a estocada final aos de Leverkusen, que defenderam bem mas atacaram mal. Pagaram o preço e a festa da taça alemã celebrou-se nas ruas de Bremen, numa quente noite de sábado de Maio onde o futebol deu o último verdadeiro suspiro do ano.