As lágrimas de Angelo Palombo no final do último jogo da Sampdoria da passada temporada foram um dos momentos icónicos do ano desportivo. Meio ano depois o capitão da Samp deixou o clube que jurou defender até ao fim e voltou à ribalta. É a ultima oportunidade para um dos melhores médios italianos da última década, o último comboio rumo ao estrelato que nunca encontrou no mitico Luigi Ferraris.
Viajou à África do Sul e sofreu na pele a paupérrima imagem deixada pela Azurra no Mundial de 2010. Podia ter sido o seu torneio, mas não havia condições para que um jogador italiano tivesse sucesso numa espiral assumidamente destructiva. O annus horribilis que se seguiu em Genova pareceu dictar sentença sobre o destino de Palombo.
Em 2002 a jovem promessa que a Fiorentina tinha contratado em idade de juvenil foi vendido por uma módica quantia a uma Sampdoria que militava então na Serie B. O destino quis que uma década depois fosse nessa divisão que Palombo se despedisse do seu clube do coração. Durante esse imenso periodo de tempo foi a alma mater de um projecto de altos e baixos que quase logrou o céu, leia-se Champions League, e acabou por cair nas trevas inesperadamente depois de um péssima acto de gestão desportiva do presidente, Ricardo Del Ara, ao dispensar Antonio Cassano quando o clube ainda não militava nos postos de despromoção. Palombo transformou-se no tipico médio italiano de baixo perfil mediáticomas profundamente influencial na manobra de jogo da equipa. Os anos transformaram-no num inteligente box-to-box, poderoso remate, excelente controlo de bola e acima de tudo, um espirito de liderança inimitável. Cresceu ao lado de Volpi no coração do Luigi Ferraris e ganhou o carinho dos adeptos e o respeito de cada corpo técnico que chegava e partia.
Em 2005 ajudou a Samp a chegar às provas europeias pela primeira vez numa década, capitaneando o conjunto numa impecável temporada na Serie A. Começou a ser convocado por Roberto Donadoni para a Squadra Azurra e foi elemento integrante da equipa que se apurou para o Euro 2008 e o Mundial de 2010, mas sem conseguir establecer-se como titular ao lado de Gennaro Gattuso e Andrea Pirlo, elementos nucleares da então campeã do Mundo.
Durante vários anos foi tentado pelos grandes de Milão, mas manteve-se fiel ao projecto da Samp, sendo recompensado em 2008 com a braçadeira de capitão, titulo que manteve durante quatro anos. Ao lado de Andrea Poli, em 2010, realizou a sua melhor temporada, um ano de pura épica que entrou para a história do clube. Aos 29 anos parecia que, finalmente, o destino lhe ia proporcionar um bilhete dourado para os grandes palcos da Europa. Os seus golos e assistências de última hora foram os catalizadores de uma parceria letal com o duo de ataque Cassano-Pazzini no 4-3-3 desenhado por Del Neri. Um ano e meio depois de realizar a melhor época desde o titulo de 1991 nenhum dos três continua em Genova. Palombo manteve-se ao leme do navio durante o inicio desta temporada, mas no último dia de Janeiro chegou uma oferta irrecusável do Inter, um empréstimo de meio ano com opção de compra. Uma última oportunidade de brilhar.
Palombo representa o perfil exacto e certeiro do jogador low profile que contraria a tese de que o Calcio é um ninho de jogadores sem classe e técnica. O actual médio neruazurri viveu a última década a reinvindicar o perfil do tuttocampista, capaz de defender e atacar como o melhor defesa e o melhor atacante, nunca desistindo de uma bola, nunca resistindo ao mais intenso cansaço. O Luigi Ferraris sente-se hoje mais orfão que nunca. Jogadores como Palombo podem vender poucas camisolas mas cosem muitas almas!