Quarta-feira, 9 de Novembro de 2011

São a mais jovem selecção do Mundo e nesse arrojo típico dos recém-chegados desafiaram os prognósticos, emudeceram os críticos e desafiaram a história. Tiveram a Inglaterra a seus pés, destroçaram o projecto de futuro da Suiça e agora estão preparados para defrontar a selecção mais bipolar da história recente do futebol europeu. Quais são os limites dos rookies do ano?

Passou pelo Benfica sem pena nem glória e em Vallecas muitos continuam a desconfiar do seu jeito molengão.

Mas em Podgorica, Andrija Delibasic é o equivalente mais próximo que podemos encontrar a um mito vivo.

O golo do dianteiro do Rayo Vallecano não garantiu só o empate frente à toda poderosa Inglaterra. À distância de um anúncio radiofónico, confirmou o conto de fadas que há um ano se estava a escrever em letras maiúsculas no último filho do Mundo, na derradeira bandeira independente a desfraldar pelos Balcâs, no quinto país da ex-Jugoslávia a entrar em disputa por um lugar ao sol.

Durante anos o Montenegro viveu à sombra do seu vizinho maior, a Sérvia, e foi nessa condição que os montenegrinos marcaram presença - apesar de ninguém ter notado - no Europeu de 2000. Mas jogar com bandeira e luz própria é outra sensação. Só em 2007 a FIFA e a UEFA aceitaram a inscrição dos montenegrinos como selecção oficial e permitiram a participação na fase de qualificação para o Mundial da África do Sul. Montar uma equipa de um país novo era um desafio ao alcance de poucos e só a apaixonada labor de Zoran Filipovic, filho da terra, permitiu montar um plantel competitivo mas cheio de baixas. A maioria dos jogadores montenegrinos preferiu continuar a actuar com a Sérvia e entre os veteranos Basa, Pavicevic, Novakovic e o próprio Delibasic e as novas promessas locais Vukcevic, Vucivic , Savic e Jovetic, formou-se um onze sui generis que daria muito de que falar. Há dois anos pagaram o preço da inexperiência apesar de surpreendentes resultados a abrir. Em 2010 arrancaram para uma campanha a roçar o inacreditável. E estão a dois jogos do paraíso.

 

Desde o desmembramento do Jugoslávia que três nações do país inventado por Tito marcaram presença numa grande competição internacional. Das três só a Croácia está na disputa deste play-off mas aos homens do Adriático acompanham-nos os novos filhos dos Balcâs, os guerreiros da Bósnia e os falcões do Montenegro.

Na altura do sorteio os montenegrinos eram a equipa pior quotada do grupo G, por detrás de bulgaros, suiços, galeses e ingleses. Ninguém imaginava que no último dia os recém-chegados tenham ficado a apenas 4 pontos do apuramento directo para o torneio disputado entre a Polónia e a Ucrânia. O arranque sublime (três vitórias por 1-0 com golos de Vucinic contra Gales, Bulgária e Suiça) foi seguido de um épico duelo em Wembley com a Inglaterra de Fabio Capello. Num jogo onde os papeis pareciam trocados, os montenegrinos encostaram os ingleses às cordas e o próprio seleccionador italiano confessou que o empate era um mal menor.

Depois de uma série inesquecível começaram a chegar os primeiros revezes. A selecção já tinha perdido a fluidez de jogo de Jovetic - lesionado durante um ano - e ninguém se surpreendeu com o empate contra os búlgaros e a primeira derrota em Gales. Os ingleses pareciam escapar-se finalmente e os suíços de Shaquiri e companhia aproximavam-se perigosamente antes de um duplo confronto determinante contra ingleses e suíços para decidir as posições finais do grupo. O clima de histeria depois da derrota em Gales custou a cabeça ao mentor da fábula, o seleccionador croata Zlatko Kranjcar e para o seu lugar a federação - que parecia ter perdido a crença num apuramento que chegou a estar perto de ser directo - nomeou o técnico Branko Brnovic, secundado pelo ex-internacional jugoslavo Savo Milosevic. A nomeação, juntamente com o regresso de Jovetic à equipa nacional, deu o plus de motivação que faltava. Podgorica encheu para receber a Old Albion e apesar dos dois golos inaugurais dos ingleses na primeira parte, os locais nunca perderam a cabeça. As noticias que chegavam de Gales (onde a Suiça perdia também por 2-0) eram motivadoras suficientes e no segundo tempo os ingleses sofreram uma pressão asfixiante que culminou no tento de Zverotic e depois no salto milagroso de Delibasic. O salto em suspensão de todo um povo. 

 

O empate garantiu a qualificação matemática para o play-off, algo que nem a derrota por 2-0 com a própria Suiça foi capaz de alterar. O destino traçou um duelo com a República Checa, selecção facilmente reconhecível pelo transtorno bipolar na grande prova europeia. Uma final e uma semi-final caminham lado a lado com duas campanhas em que a eliminação na fase de grupos foi o melhor que conseguiram. Os checos contam com uma das melhores gerações jovens do continente mas terão de medir-se contra uma pequena nação que olhará para os 180 minutos como um encontro com a história. O jogo decisivo em Podgorica, mais do que um duelo entre duas selecções, promete ser o grito de um povo que só quer que o Mundo sinta que eles também existem.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:36 | link do post

De R_Matos a 9 de Novembro de 2011 às 11:55
Mais um artigo de inegável qualidade, parabéns.

De facto, esta equipa da recém formada República do Montenegro, traduz a ascensão das ex repúblicas da Jugoslávia, materializando competência com ambição. Não duvido que muitas das próximas gerações continuarão a dar frutos em Europeus e Mundiais futuros, à semelhança da brilhante campanha da Croácia no Mundial 98 por exemplo.

O destaque vai claramente, não só para o ex Benfica e Braga, Delibasic, mas sobretudo para Jovetic, jogador fantástico que parou um pouco a progressão e consolidação como estrela devido a uma lesão grave, mas que vai retomando aos poucos os pergaminhos que fazem dele um jogador moderno, tecnicamente evoluído e que, se escapar às lesões, estará num futuro próximo num grande do futebol europeu, sem grandes dúvidas.

Quanto ao playoff, esta Rep. Checa parece-me a anos luz da equipa do Euro 2004 por exemplo (à semelhança da nossa selecção), temível e recheada de craques e que tantas alegrias e esperanças deram aos seus adeptos. Actualmente, nem percebo se está numa fase de transição ou está como Portugal, à procura de fazer ovos sem omeletes, vivendo na constante ilusão de que são mais do que aquilo que têm capacidade. Como tal, Montenegro tem toda a legitimidade de acreditar.

Abraço


De Miguel Lourenço Pereira a 10 de Novembro de 2011 às 08:25
R_Matos,

Obrigado, como sempre!

Tenho a crença absoluta que a Jugoslávia seria, nos últimos 20 anos, um sério candidato aos titulos europeus e mundiais tendo em conta a altíssima qualidade do futebol das suas repúblicas independentes desde então. A Bósnia e o Montenegro são os últimos exemplos e Jovetic é, desde logo, uma pérola ao nivel dos grandes Boban, Stoijkovic, Prosinecki ou Zahovic do passado mais imediato.

A Republica Checa tem algo que Portugal carece absolutamente, um futebol de formação bem estruturado e que lhe permite pensar positivamente para o futuro, mas é de longe uma das selecções mais débeis das que estão presentes no play-off e os montenegrinos podem, efectivamente, sonhar bem alto.

um abraço


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