Um ano depois, Em Jogo volta a divulgar o nosso particular Top 10 de jogadores que marcaram a última temporada. Uma análise dos dez nomes mais marcantes que definiram o rumo das principais ligas e provas europeias. Um top baseado não só nas exibições mais estelar mas sobretudo na sua constância e evolução demonstrada desde o arranque da temporada, no passado mês de Agosto até ao passado mês de Maio. Uma lista, como não podia ser de outra forma, liderada pelo astro argentino Lionel Messi, o jogador mais influente de 2010/2011.
1. Lionel Messi
Aos 23 anos, Leo Messi sabe perfeitamente conjugar o verbo ganhar.
Depois de três Champions League (duas das quais onde foi determinante), cinco Ligas, 1 Taça, várias supertaças, 1 Mundial de Clubes e dois Ballon´s D´Or cabe perguntar como é que um jogador tão novo encontra motivação para melhorar de ano para ano. Os números de Messi, a sua precocidade, só encontram paralelo nos de Pelé, que à sua idade já tinha ganho dois Mundiais e várias provas nacionais e internacionais com o seu Santos. O argentino já meteu a velocidade de cruzeiro nessa corrida por entrar na história e o seu papel na definição do futebol contemporâneo está suficientemente documentada. Em 2010/11 conseguiu o impossível, melhorar. O seu posicionamento táctico na estratégia de Pep Guardiola como o falso nove que era quando chegou a La Masia ajudou a aperfeiçoar o seu estilo de jogo e deu-lhe de novo o protagonismo absoluto na época memorável dos blaugrana. As suas arrancadas, o jogo de tabela e a precisão do remate são já imagens de marca mas na época que finda Messi afirmou-se igualmente como um assistente de primeira. Perdeu a Bota de Ouro no seu duelo pessoal com Cristiano Ronaldo mas bateu-o claramente em assistências, o que o confirma, sobretudo, como uma dessas individualidades que aposta, sobretudo, no jogo colectivo. Com ele o modelo do Barcelona, com todo o seu academismo perfeccionista e geométrico, ganha esse toque de improvisação potrera que o torna ainda mais grande. Messi ajudou a decidir a Liga, levou a equipa às costas durante a reconquista europeia e agora só lhe falta fazer as pazes definitivas com o povo argentino. A Copa América, que arranca daqui a nada, será a ocasião perfeita. Cruyff, Di Stefano, Eusébio, Puskas, Baggio, van Basten, Platini e Zico não precisaram de um Mundial para entrar na história. Messi também não, digam o que disserem, ele já é a história!
2. Cristiano Ronaldo
A grande frustração de Cristiano Ronaldo chama-se Messi.
Se no mundo do faz de conta o argentino não existisse (ou pelo menos, não tivesse aterrado na realidade blaugrana), o português podia reclamar para si o titulo de melhor do mundo. Individualmente é um dos jogadores mais desequilibrantes das últimas décadas. Tem todas as condições para brilhar e a sua faceta goleadora, uma nova obsessão, marcou a letras de ouro a sua temporada passada. Cristiano Ronaldo marcou 41 golos na liga espanhola, 53 no total de todas as provas. Números espantosos para um jogador que nem joga como avançado mas que sabe que tem um esquema táctico desenhado à sua medida. O português conquistou a sua segunda Bota de Ouro (igualou Eusébio e Fernando Gomes como o português com mais vitórias no troféu) e marcou ainda o golo decisivo na final da Copa del Rey, a única ocasião em que o Real Madrid soube bater o Barcelona. Mas acabou por ter de viver à sombra da grande época blaugrana.
Se a sua veia goleadora reforçou o seu estatuto de estrela, a verdade é que a cada ano que passa, Cristiano Ronaldo torna-se um jogador cada vez mais individualista, num duelo contra o Mundo, contra a história e, forçosamente, contra Messi. Enquanto o argentino faz da associação colectiva a arma que potencia a sua individualidade, Ronaldo é a negação do jogo conjunto, apesar de ter encontrado em Ozil e Benzema parceiros dispostos a dar-lhe o ar que precisa. Assinatura pendente para o próximo e intenso ano em que se espera muito (e melhor) de um jogador que também já entrou na história do beautiful game.
3. Falcao
Bater o recorde de Jurgen Klinsmman não é tarefa para qualquer um. Não o digam a Falcao.
O colombiano do FC Porto é o avançado de moda do futebol europeu. E quem duvida disso? Depois de um primeiro ano de adaptação em que superou as expectativas, o ex-avançado do River Plate realizou a sua melhor época profissional ao serviço dos dragões de Villas-Boas e tornou-se na peça fundamental para o FC Porto conquistar um poker inédito no seu historial. Melhor marcador da Europe League (15 golos em tantos jogos), segundo melhor marcador da Liga Sagres, apesar da sua prolongada ausência por lesão, Falcao voltou a demonstrar o bom olho de Pinto da Costa para avançados com fome de golo e deixou os departamentos de observação de vários clubes de top a pensar como deixaram escapar tamaha pérola. Aos 24 anos o colombiano está em plena forma e será, sem dúvida, um dos grandes atractivos da próxima Copa America. O Dragão deverá começar a preparar-se para a despedida porque não é provável que os grandes da Europa o percam de vista no próximo ano.
4. Eden Hazard
Zidane já o tinha anunciado e quem segue a espantosa evolução do futebol belga não podia deixar de pensar o mesmo. Eden Hazard está chamado a fazer história. Aos 20 anos tornou-se no mais jovem jogador a ser eleito Jogador do Ano pela Ligue 1. Não é por menos. Depois de formar-se em Lens, tornou-se no patrão de jogo, alma e génio, do modesto Lille que rompeu com os prognósticos e sagrou-se campeão francês pela primeira vez em 56 anos. O talento criativo de Hazard relembra, mais do que o génio gaulês que o apadrinha, o estilo de jogo do dinamarquês Michael Laudrup. Rápido, ágil e com golo nos pés, o belga é igualmente o lider de uma geração que se propõe a recolocar o futebol belga no lugar de onde há muito está afastado. O Lille fará de tudo para o segurar com o atractivo da Champions League (um pouco como farão FC Porto e Dortmund com as suas estrelas), mas é fácil imaginar que muito brevemente a classe de Hazard esteja a desfilar pelos grandes palcos europeus.
5. Xavi Hernandez
Quando Xavi Hernandez recebe a bola, o Mundo pára. Na sua cabeça. Como um axedrezista sobredotado, o número 6 do Barcelona sabe antever todos os lances que irão suceder nos instantes seguintes. E molda-os a seu belo prazer. Ele é a base deste modelo de jogo que tanto encandila ao mundo. Se Messi traz o rasgo individual, Xavi pauta a coordenação colectiva. Herdeiro da filosofia cruyffiana, que começou com Milla para depois confiar-se a Guardiola, ele define o modelo de jogo. Recuado, lê nas entrelinhas, traça a régua e esquadro e depois contempla a sua criação. Se o futebol do Barcelona é milimétrico, estudado até à perfeição pelos aplicados alunos da Masia, Xavi é o professor catedrático por excelência. A cada jogo, um novo curso, um novo gesto de superioridade mental. Com Messi cada vez mais recuado, Xavi cedeu o protagonismo do último passe, recuou dez passos no terreno e aprendeu a controlar à distância. Mas continua a ser ele, e só ele, quem mantém a máquina blaugrana perfeitamente oleada.
6. Carlos Tevez
Na problemática realidade chamada Manchester City é dificil encontrar um elemento que consiga deixar para segundo plano os (muitos) milhões gastos para formar uma equipa campeã que continua sem ganhar o titulo da Premier. O argentino Tevez logrou com o City uma das suas melhores épocas e levou às costas o conjunto citizen ao apuramento directo para a Champions League, algo inédito na sua história. Apesar do investimento milionário em Balloteli, Dzeko, Silva, Touré e companhia, foi a raça do "Apache" e o seu espirito de liderança nos meses mais complicados da gestão de Mancini que mantiveram o clube nos lugares de topo da tabela classificativa. A sua saída do City of Manchester podia provocar mais um terramoto emocional num clube que gastou muito mas nunca tão bem num jogador como naquele que foi, sem dúvida, o homem mais em forma da última Premier League.
7. Jack Whilshire
Foi uma aparição estelar, mais uma na lista de lançamentos relampagos patrocinada por Arsene Wenger. Se em 2010 o jovem Whilshire já deixava sensações especiais, a sua época em Londres foi absolutamente memorável. Num ano em que, mais do que nunca, Cesc Fabregas passou ao lado dos grandes momentos, foi o jovem internacional inglês que emergiu como lider e figura de um Arsenal que esteve perto da glória mas que acabou, como tem sido habitual, mergulhado no desespero. A explosão de Whilshire chegou também aos Pross e ajudou Capello a decidir-se finalmente por outro modelo de jogo, bem distinto ao apresentado na África do Sul. No duelo contra o Barcelona viu-se o melhor de Whilshire, um miudo com a eternidade à sua espera.
8. Javier Pastore
Ver jogar a Pastore é um delicioso requinte que convida a constantes repetições. Com uma técnica sublime e o mapa mundi da filosofia de futebol menotiano na cabeça, Pastore foi o sol que brilhou na Sicilia durante a última temporada dando sentido a uma época convulsa e problemática do Palermo. Não surpreende que meio mundo suspire pelo talento cirúrgico do jovem argentino, apenas ultrapassado em mediatismo no seu país natal pelo fenómeno Messi. O genial médio tem todo o potencial para tornar-se num dos jogadores mais importantes da década e a forma como move o jogo, qual axadrezista de primeiro nível, permite imaginá-lo nas grandes noites europeias nos próximos anos. Poucos jogadores podem sonhar com um futuro tão promissor.
9. Nuri Sahin
Aos 16 anos já era a maior promessa do futebol de formação na Alemanha. Precisou de cinco anos para explodir verdadeiramente mas a sua evolução confirmou todas as boas sensações que deixou quando foi lançado às feras da primeira equipa em plena adolescência. Nuri Sahin foi a bússula do entusiasmante Borussia de Dortmund, o braço direito de Jurgen Klopp no terreno de jogo e o idolo do Westfallenstadion na época que significou uma profunda viragem na história do clube mitico da Vestfália. Menos vertical que o seu amigo Ozil, outras das precoces promessas alemãs que deu o salto recentemente, o estilo de jogo de Sahin é mais pausado mas não menos determinante. O jovem que preferiu alinhar pela Turquia dos seus pais do que pela Alemanha adoptiva terá no projecto de Mourinho em Madrid a dificil tarefa de ordenar a casa. Especialista em tranquilizar quando os demais se entusiasmam, Sahin terá um desafio à altura do seu talento precoce. Emular uma época como a que agora termina será o seu grande desafio.
10. Edison Cavani
Quando a cidade de Napoles começou a sonhar com os dias de glória de Diego Maradona, quando o titulo se tornou uma realidade, os napolitanos trocaram as suas rezas habituais ao “dios” argentino e viraram-se para um jovem profeta uruguaio que levava as bancadas do San Paolo à loucura. Edison Cavani confirmou todos os predicados que o acompanham desde os seus dias como jovem estrela do futebol uruguaio. Durante largos meses pareceu ser o hércules que os napolitanos necessitavam na sua luta contra os grandes do norte. E mesmo que no final da corrida o Napoli se tenha ficado “apenas” pelo terceiro lugar, a época de Cavani foi um dos grandes atractivos da Serie A 2010/11.