O Barcelona não deu qualquer opção ao Manchester United e confirmou a sua indiscutível supremacia no actual panorama do futebol mundial. Desde os dias do AC Milan moldado por Sacchi e continuado por Capello que nenhuma equipa se mostrava tão naturalmente superior aos seus rivais directos. Numa final em que foram claramente superiores, os blaugrana conquistaram a sua quarta Champions League fieis ao seu estilo e forma.
Aos 10 minutos de jogo acabou a resistência do Manchester United.
A partir desse momento a final funcionou apenas numa direcção, a da baliza de Edwin van der Saar.O Manchester United chegou ambicioso e arrancou muito bem, com uma pressão asfixiante que surpreendia o mais céptico dos seus adeptos. Park Ji Sung, Michael Carrick e Wayne Rooneyeram o rosto dessa atitude que nunca se viu, por exemplo, na final de Roma em 2009. Foi sol de pouca dura. A partir do minuto 10 a bola ocmeçou a fluir naturalmente pelos pés de Xavi, Iniesta, Busquets, Villa, Pedro e, sobretudo, Leo Messi. E nunca mais daí saiu.
Messi foi, sobretudo hoje, um jogador absolutamente estelar. Montou a festa blaugrana e coordenou os festejos com a sua brutal naturalidade para surpreender e decidir. O seu golo, um gesto de absoluta genialidade, foi apenas o corolário de uma grande exibição individual num espantoso concerto colectivo. O argentino reforçou o seu estatuto de melhor jogador do Mundo e foi o espelho perfeito da atitude da sua equipa que, três anos depois, continua a jogar com a mesma fome de titulos do primeiro dia. Da final de Paris de 2006, onde o ciclo negativo do Barcelona se começa a inverter, só Valdés surgiu como titular. Messi e Xavi estavam ausentes por lesão,Iniesta dormia no banco, Puyol ficou no banco desta vez. Mas eles são o esqueleto da estrutura deste modelo de jogo queGuardiolasoube cultivar e desenvolver. A pouco e pouco foram chegada as inclusões da cantera (Busquets, Pedro) e as incursões ao mercado (Abidal, Mascherano, Villa, Alves) para aperfeiçoar o projecto. A ninguém surpreende a vitória de hoje. Desde 1990, quando Arrigo Sacchi se tornou no ultimo treinador a levantar por duas vezes a máxima taça europeia, ninguém o emulou. Mas nunca nenhum treinador deu tanta sensação de superioridade comoGuardiola. O catalão perdeu a hipótese de emular o italiano quando se defrontou com a teia de aranha de José Mourinho. Mas pela segunda vez frente á velha raposa que é Ferguson, o triunfo não lhe escapou. Merecidamente.
O Barcelona tomou controlo do jogo para não o largar.
Xavi organizou a orquestra, Iniesta eVilla procuraram os espaços e Messi deixava Vidic eFerdinand sem saber o que fazer. É impressionante como, dois anos depois, os defesas centrais do Man Utdcontinuem sem saber como lidar com o estilo de jogo do argentino. Mas é verdade. Messi foi decisivo nas suas deambulações mas o primeiro golo surgiu de Xavi, a bússola do Barcelona, e do sentido de oportunidade de Pedro, o homem das grandes noites. Era justíssimo o resultado e este podia ter sido facilmente ampliado não fosse o desacerto blaugrana. E do nada, o empate. Wayne Rooney aproveitou um roubo de bola de Valencia e combinou, primeiro com Carrick e depois com Giggs, ligeiramente adiantado, para marcar com um remate espantoso. Valdés não teve opções. Do nada o Man Utdnivelava um jogo profundamente desequilibrado. Mas em vez de funcionar como um plus de moral, o golo apenas espicaçou o Barcelona. Quando as equipas voltaram do balneário, o Manchester foi forçado a esperar cinco minutos no relvado pelos rivais. Minutos que deixaram a dúvida, o receio, os nervos tomarem conta. O Barcelona entrou reforçado pelo grito dos adeptos. E assenhoreou-se do jogo de forma definitiva.
Messi tentou, tentou e voltar a tentar. Do nada sacou um remate colocado, quando a defesa do Manchester esperava nova tabela, e celebrou como se fosse o golo da sua vida. Sabia bem o simbolismo que lhe atribuiriam, ele que já tinha sido rei em Roma. E que voltava a sê-lo, indiscutivelmente. O Manchester ficou ainda mais nervoso, incapaz de reagir, de oferecer uma resposta digna. O castelo de cartas montado por Ferguson desfez-se e o escocês não soube reagir. O equatoriano Valencia nunca entrou no jogo, o mexicano Chicharito, que tantos queriam ver, defraudou absolutamente e Giggs, por muito talento que tenha, deu claros sinais de não aguentar o ritmo de troca de bola do carrossel rival. Mesmo as opções lançadas do banco acabaram por ser, no minimo, inconsequentes. O 3-1, resultado final, foi o espelho do encontro. Pressão alta do Barcelona, nervos da defesa do Manchester e um golpe de génio individual de Villa para culminar um brilhante trabalho colectivo. A final estava ganha, a história estava reescrita, a superioridade contrastada.
O triunfo inapelável do Barcelonareforça a sua condição de equipa número um do mundo. Mais para lá dos debates estéreis sobre a história passada, presente e futuro, o que está claro é que o modelo de jogo, de gestão e de pensamento do Barcelona é hoje o modelo dominador do futebol europeu. A aposta no estilo de toque, o culto da posse de bola, os destelhos individuais de um génio como Messi e a labor de gestão humana de um perfeccionista como Guardiola são os ingredientes perfeitos desta equação. Em Canaletas a noite será, merecidamente, muito longa. E a supremacia de jogo do Barcelona convida a pensar que não será a última nos próximos anos.