SL Benfica
A época do SL Benfica seria digna de entrar na história do clube não fosse pelo habitual discurso populista e demagogo dos seus dirigentes e equipa técnica que elevou a fasquia de tal forma que destroçou qualquer possibilidade do adepto encarnado se sentir satisfeito com o ano que findou.
Nos últimos 10 anos o Benfica venceu apenas dois campeonatos, uma Taça de Portugal, uma Supertaça e três Taças da Liga sendo que o máximo que logrou a nivel europeu foi uns Quartos de Final na Champions League de 2006. Face a este registo recente que se pode dizer de um ano que garantiu um vice-campeonato (com pré-eliminatória da Champions League garantida), a terceira melhor classificação da década, uma nova Taça da Liga e uma semi-final europeia, inédita há 20 anos no historial do conjunto encarnado?
Os excelentes números entalam-se numa ambição desmedida que acabou por provocar um profundo, e legitimo, sentimento de frustração. Luis Filipe Vieira prometeu a grandeza europeia e o dominio do futebol nacional e Jorge Jesus secundou o presidente tornando-se refém das suas próprias palavras. Depois da euforia do titulo de 2010, o péssimo planteamento de época começou a ditar o final das aspirações encarnadas. Sairam Di Maria e Ramires, peças chave no jogo trepidante de Jesus, e ainda Quim, despedido em directo pelo técnico que queria um guarda-redes que garantisse titulos e pontos. A escolha acabou por se tornar numa cruz para a equipa já que o guardião Roberto esteve directamente ligado à maioria dos fracassos do colectivo ao longo do ano. Jesus não soube aproveitar os seus activos, não encontrou alternativas à baixa de forma de Aimar, Saviola e Cardozo e perdeu dinamismo no meio-campo com a saída, não compensada, de Ramires. As perdas de pontos cruciais nas primeiras jornadas obrigaram a equipa a jogar no seu máximo durante o resto de 2010 para manter-se na perseguição ao FC Porto mas a copiosa derrota no Dragão dictou o fim do campeonato e, mais ainda, significou um profundo desgaste fisico que pagaria factura.
Face à debacle europeia na Champions League, com a equipa a cinco minutos de terminar a fase de Grupos no último posto, surgiu a campanha na Europe League para dinamizar os adeptos encarnados mas a derrota frente a um Braga que soube sofrer, tornou ainda mais doloroso os eventos prévios, as duas derrotas caseiras frente ao eterno rival que significaram a perda do titulo diante dos seus (com um lamentável comportamento dos directivos encarnados) e a eliminação nas meias-finais da Taça de Portugal depois de uma vantagem conseguida no Dragão de dois golos (no melhor jogo da época do conjunto da Luz). Derrotas contra os rivais directos nas três competições que dão esse travo amargo a um projecto que viveu mais da garra e da improvisação – com Fábio Coentrão com imagem perfeita desse estado de animo descontrolado e frenético – do que de um planteamento pensado e trabalhado no laborátorio de Jesus. Os erros individuais não escondem a profunda quebra colectiva, nomeadamente nos niveis fisicos, e deixam a reputação do técnico em baixa apesar do titulo de 2010.
Para o próximo ano espera-se de novo um Benfica combativo em todas as frentes como aliás sempre soube ser, com a excepção da Champions League, durante 2010/11. Mais do que melhorar o aspecto técnico-táctico aos encarnados pede-se, essencialmente, um pouco mais de honestidade intelectual para com a sua legião de adeptos e um leque de objectivos realistas que não se deixem levar por discursos populistas mas que carregam com um pesado preço na hora do infortunio.
Sporting CP
Há algo muito podre em Alvalade e começa a levantar legitimas suspeitas aos adeptos leoninos de que se trata de um regresso a um tortuoso passado que significou estar 18 anos a ver os titulos passar. Depois de quatro épocas consecutivas num segundo lugar inexpressivo o Sporting começa a cair cada vez mais fundo. Na tabela classificativa. Junto dos seus próprios adeptos e no respeito do futebol português, ainda aburguesado a velhos ritos sociais para entender que entre passado e futuro há uma grande diferença. O Sporting ainda é um grande, principalmente pela sua herança longinqua. Em 30 anos sumou 3 titulos, menos 5 que o seu rival Benfica e menos 15 que o FC Porto. E a situação parece estar longe de inverter-se.
Os graves problemas financeiros do clube na ressaca do plano Roquette continuam sem encontrar fim à vista e a polémica à volta das eleições presidenciais apenas contribuiu para aumentar o pessimismo e descrença dos adeptos. O Sporting navega sem rumo, sem ideias e sem forças. A celebre academia conta cada vez menos na gestão desportiva do clube e muitos dos seus melhores frutos são aproveitados por rivais directos. Chegam jogadores sem nivel, velhas glórias com contractos milinários e despedem-se abonos de familia e maças podres que, resulta, ainda têm muito para dar noutras paragens. Paulo Sérgio foi aposta pessoal da direcção desportiva de Costinha e transformou a sua reputação de técnico com projecção numa caricatura de si mesmo. Sem uma ideia de jogo definida o Sporting não encontrou os golos de Liedson e desesperadamente foi caindo no poço. A Europa virou-lhe as costas, as provas a eliminar também e a Liga Sagres tornou-se um martirio constante. Com as excepções de Rui Patricio e André Santos, recém-internacionais, o plantel nunca ofereceu a sua melhor cara e entre os falhanços de Postiga e Djaló, a inconstância de Valdés, Fernandez e Vukcevic e os problemas fisicos intermináveis de Pedro Mendes e Maniche, deixaram a nu a má planificação do plantel na pré-temporada. Nem o terceiro lugar, resgatado ao Braga no último dia, deixa um bom sabor de boca. Afinal, em termos percentuais, esta é mesmo a pior época do conjunto de Alvalade. O anterior registo negro remonta ao ano passado onde a equipa nem passou do quarto lugar.
Sem vencer um trofeu há três anos, sem vencer uma Liga há nove, este Sporting começa a assemelhar-se cada vez mais a uma caricatura caduca de grandeza do que a um projecto ganhador. O problema não está, forçosamente, no técnico ou nos jogadores mas sim na falta de uma coerência desportiva que minou nos últimos anos os projectos de Peseiro e Paulo Bento e atirou para o descrédito total um clube ainda com uma significativa franja de adeptos que cada vez menos tem razões legitimas para sonhar.