Antes da explosão da Danish Dynamite nos anos 80 pela mãos de dois génios imensos de nome Michael Laudrup e Preben Elkjaer Larsen, já o futebol dinamarquês tinha tido um verdadeiro génio, um voador de primeiro nível que se tornou no primeiro atleta nórdico a conquistar um Ballon D´Or. Espelho de uma brilhante carreira ligada ao melhor do futebol disputado em Espanha e na Alemanha entre os anos 70 e prinicipios da década de 80. Os mais veteranos reconhecem o olhar sério, os mais novos surpreender-se-iam com a capacidade fisica e técnica apurada de um génio chamado Allan Simonsen.
Simonsen não era o protótipo do atleta nórdico. Relativamente baixo (não chegava ao 1m65) e sem grande porte atlético, era mais uma gazela do que um desses ursos que davam o rosto pela poderosa selecção sueca, a mais destacada equipa do norte Europeu dos anos 70. Nascido em 1952 em Vejle, Simonsen demorou a explodir numa época onde para um jogador sair do país Natal era bem mais complexo do que se pode supor hoje em dia, neste meio cada vez mais globalizado. Foi no clube da terra o Vejle FC, que em 1971, aos 19 anos, se tornou profissional. Simonsen jogava pela ala direita, mas várias vezes percorria todo o campo, como um nobre vagabundo de invulgar corte senhorial. O seu impacto foi tal que quebrou todas as regras da época e com 20 anos assinou contrato com o poderoso Borussia Monchenladgbach da RF Alemanha. A equipa germânica queria colocar um travão na ascensão meteórica do Bayern Munchen de Beckambauer e Muller e juntou uma série de jovens jogadores talentosos que eram tudo o que os letais homens da Baviera não eram. Desse Borussia falou-se como os poetas do futebol alemão e nenhum deles atingiu tanto a genialidade como o dinamarquês. Durante três anos (1975 a 1977) o clube de Monchenladgbach venceu a Bundesliga, conquistando ainda uma taça. Para além disso exibiu-se em grande nas provas europeias vencendo em 1975 e 1979 a Taça UEFA. Em 1977 o extremo venceu o Ballon D´Or, diante de nomes ilustres como Keegan, Cruyff ou Beckhambauer. Era o consagrar definitivo do seu génio intemporal.
A vida corria bem a Simonsen até que em 1979, na ressaca de mais uma prova europeia ganha, o Barcelona apareceu e contratou-o para atacar o titulo espanhol, que há vários anos se lhe escapava. Ao seu lado a equipa catalã contava ainda com Hans Krankl, possante avançado austriaco, Bernd Schuster, médio irrascivel germanico, e os espanhois Quini, Carrasco e Urruti. Simonsen encaixou que nem uma luva no belo futebol blaugrana mas os titulos acabaram por não chegar. Numa era dominada pelos clubes bascos (a Real Sociedad primeiro, e o Athletic Bilbao depois) o Barcelona ficou sempre ás portas da glória, tendo de contentar-se com uma Taça do Rei, em 1981, e a Taça das Taças de 1982 onde foi o heroi do encontro com um golo e uma assistência. No final da temporada seguinte, já com 29 anos, Simonsen foi forçado a abandonar o Camp Nou devido à chegada do astro argentino Diego Maradona. Numa época onde os planteis só podiam ter três estrangeiros, a direcção do clube catalão ainda tentou mudar a lei e quando a possibilidade falhou propôs ao dinamarquês ficar no banco, à espera da lesão de um dos três estrangeiros. Simonsen recusou. Passou primeiro pela liga inglesa, ao jogar pelo Charlotn Athletic até que voltou ás origens, terminando a carreira no Vejle FC tendo ainda logrado a participação nas espantosas campanhas da selecção do seu país no Euro 84 e Mundial 86, mas por essa altura já não era ele a estrela da companhia.
Simonsen deixou em 1989 os relvados e começou a carreira como treinador, orientando selecções de pequena dimensão como as Ilhas Faroes e o Luxemburgo e vários clubes dinamarqueses. Ainda hoje é um idolo no país natal e pode gabar-se de ter sido o único atleta a marcar golos nas três finais europeias (Taça dos Campões, Taça das Taças e Taça UEFA) e ainda o único nórdico a triunfar no Ballon D´Or, algo que os compatriotas Michael Laudrup, Peter Schemeichel e Elkjaer Larsen, bem mais conhecidos do grande público, nunca lograram. Um verdadeiro génio que o tempo não esquece.