46 quilómetros. Um diâmetro espacial que é menor do que une muitas das grandes cidades do Mundo. O espaço que separa o estádio do Dragão do estádio Axa. O Porto de Braga. Os dois finalistas da Europe League 2011. Um feito histórico para o futebol português. Um feito histórico para uma região que tem sentido, como nenhuma outra, o desmoronar da economia comunitária. Nesses 46 quilómetros vivem os projectos, as ilusões e as esperanças. Passe o que passar eles chegaram lá. A Dublin. Cidade com pronúncia do norte...
Um salto na história. Um salto desafiante. Um salto preciso.
O golo de Custódio gelou um país habituado à ladainha dos "seis milhões", um país que não entende de diferenças de credo. Um país que, ainda hoje, se esquece que há vida para lá da capital, que há vida para lá do império imaginário. O salto de Custódio, um puto de Guimarães que se fez herói em Braga. Coisas da vida! O salto de um jogador dispensado por um grande da capital e que deixou de ser uma promessa para passar a ser mais um zé-ninguém. Assim funcionam as coisas em Portugal. Palavras que Miguel Garcia e Hugo Viana poderiam fazer suas. Os três estavam lá e testemunharam aquele salto imenso que transformou um clube regional numa potência europeia. O Sporting Clube de Braga, esse clube que parecia uma moda passageira, é o 100º finalista de uma prova da UEFA. A quarta equipa portuguesa em lograr esse feito histórico. A primeira a deixar outra equipa nacional pelo caminho. Sem contestação.
Um projecto pequeno que a imprensa lusa sempre tentou empequenecer sem entender que os partidismos nacionais na Europa perdem todo o sentido. Este Braga, uma equipa com as contas em dia, uma equipa sem dividas e fundos a que recorrer quando as coisas apertam, é um caso sério. Desde a chegada de António Salvador transformou-se num autêntico grande, feito que só o Boavista pode reclamar fora do circulo dos três clubes que têm asfixiado o futebol português. Com a desaparição momentânea dos axadrezados destas contas e o progressivo empequenecimento do Sporting, o Braga tinha a oportunidade de dar um murro na mesa. Em 2010 o titulo perdeu-se por muito pouco, em 2011 Dublin conseguiu-se por pequenos detalhes. Estavam Vandinho e Mossoró desta vez. Estavam aqueles que aprenderam a lição de como se joga este tipo de duelos. E estava, sobretudo, uma equipa com fome de desforra. Ás vezes é o que basta. Isso e um salto imparável para furar os livros de história.
Os 46 kilómetros que separam Braga da cidade do Porto são quase a mesma distância da mais longa avenida do mundo. É muito para um país pequeno e muito pouco para um Mundo tão grande. As provas da UEFA já acolheram finais entre clubes do mesmo país mas nunca com uma proximidade geográfica tão gritante. Bracarenses e portuenses são quase vizinhos e em Dublin a festa terá uma forte pronuncia nortenha. Com sotaque do Porto.
Domingos Paciência era aquele miudo de Leça que mal tinha para comer e que muitas vezes lançava na casa dos amigos porque estes sabiam que em sua casa só lhe esperava uma sopa. Esse herói das Antas tornou-se no messias da pedreira de Braga. Quando em 1994 o inglês Bobby Robson parecia ter perdido a confiança no esguio dianteiro um miúdo de 13 anos aproximou-se dele perto de sua casa e explicou-lhe como tinha de aproveitar as capacidades do internacional português. Esse miúdo, portuense de gema, que nunca passou fome nem lhe faltou nada, transformou-se no homem dos recordes e aos 33 anos no mais jovem técnico a chegar a uma final europeia. André Villas-Boas e Domingos Paciência representam dois lados bem diferentes da Invicta, da vida que pautou o norte de Portugal desde sempre. E o futebol uniu-os de tal forma que até na glória mútua acabam por ter de se reencontrar. Da mesma forma que o FC Porto se tornou um clube internacional depois do desprezo da capital que queria reduzir os azuis e brancos a "andrades" de província com uma final europeia (então perdida para a toda poderosa Juventus em 1984), também o Braga conseguiu soltar-se desses preconceitos sociais para fazer história. Celtic, Sevilla, Liverpool, Dynamo de Kiev e Benfica, todas elas equipas com títulos europeus no seu brilhante curriculum que não souberam aguentar o vendaval bracarense. Um vendaval em quem ninguém acreditou, eliminatória após eliminatória. Se ao FC Porto era reconhecido o seu favoritismo, que se foi cimentando a cada jogo e acabou numa eliminatória histórica face ao Villareal, ao Braga estava destinado o papel de patinho feio. Talvez por isso a equipa de Domingos seguiu sempre em frente, porque não teve de se preocupar em olhar para o espelho.
O Benfica, o terceiro português em discórdia, era o favorito. Antes de arrancar a Liga, antes de arrancar a Champions League e antes de arrancar a Europe League na sua fase a eliminar. Mas perdeu demasiado tempo a olhar-se reflectido num espelho enganador. Sem pernas, sem atitude, sem destreza mental, os encarnados actuaram numa semifinal europeia convencidos que estavam num duelo nacional sem grande importância. A arrogância, sempre patente no discurso do seu técnico, desencontrou-se com a realidade. Talvez se a eliminatória tivesse sido trocada e o duelo fosse com os espanhóis a equipa tivesse reagido de outra forma. Pagou o preço do pecado mortal que no futebol não perdoa, o orgulho. E assinou por baixo uma época a todos os títulos decepcionante. Não soube estar à altura da sua história, dos seus pergaminhos e do seu próprio futebol. O espelho mentiu, mas só a eles, porque havia muitos que conseguiam ver para lá da ilusão.
18 de Maio tornar-se-á num dia histórico para Portugal. Mas talvez a ausência dos representantes do centralismo asfixiante transforme uma festa europeia numa reunião de vizinhos. O impacto mediático dado, em Portugal pelo menos, será bem diferente se os rostos fossem outros. É de esperar, afinal não seria a primeira vez. Mas a Europa estará forçosamente atenta e tentará descobrir o que está no meio destes 46 quilómetros que unem mais do que separam. Do Bom Jesus de Braga vê-se o Douro? Talvez não, mas o eco da pronuncia do norte já se ouve lá longe nas areias dançantes de Dublin...
De DC a 6 de Maio de 2011 às 10:34
Nada mais justo. ficou pelo caminho o tal mestre da táctica sem ter eliminado uma única equipa a sério neste ano europeu. Quase, quase que à custa da sorte nos sorteios chegavam à final mas o grande Braga impediu-os.
É que entre Porto e Braga caíram só o recente bi-campeão da UEFA Sevilha, o poderoso Liverpool, a besta negra do Sporting CSKA, o mini-Barcelona Villareal ou o sempre perigoso Dinamo de Kiev.
Já o benfiquinha ia eliminando clubes de fundo da tabela da Alemanha ou do meio da tabela de França.
Vai ser uma grande final e certamente muito mais bonita sem aqueles "animais" que ontem decidiram arrancar as cadeiras do Estádio AXA.
DC,
Acho que o grande problema do Benfica, que tem uma grande equipa, foi o mesmo de todo o ano: a arrogância.
Já vinha do discurso de pré-época com a dispensa do Quim, o catedrático do futebol, o candidato à Champions, etc... e depois, ao primeiro banho de realidade, Jesus não soube dar a volta aos jogadores e entrou no seu proprio mundo de fantasia. Estourou os jogadores nessa perseguiçao ingloria ao FCP com aqueles jogos freneticos mas fisicamente impossiveis e agarrou-se ás provas a eliminar.
Mas, mesmo aí, sempre mostrou certa indolencia. Viu-se no jogo da 2nd mao contra o FCP (dois golos de vantagem nao se perdem assim) e contra o Braga deu a sensação de que pensavam que eram favas contadas, que era mais um jogo do nacional, e perderam o contexto de onde realmente estavam e que do outro lado estava uma equipa impecavel no espectro europeu.
Numa prova por onde andaram o Villareal, o Napoli, o Dortmund, o City, o Twente, tudo equipas de Champions para o proximo ano, o que fez o Braga tem um mérito brutal.
um abraço
De DC a 6 de Maio de 2011 às 14:22
Concordo em absoluto.
E pergunto, como vai o benfica resolver agora o problema de ter um treinador pago a peso de ouro, com uma cláusula de rescisão brutal e que neste momento tem a imagem completamente arruinada?
DC,
O que o Benfica tem de fazer é um mea culpa perante os adeptos por ter elevado as expectativas em demasia, entrar numa fase de racionalidade de objectivos e continuar o trabalho que têm desenvolvido e que lhes permitiu em dois anos obter melhores resultados que nos 5 anos anteriores.
Tudo o resto será mais um suicidio que pode funcionar a curto-prazo mas que irá manter um afastamento estrutural com os clubes de elite.
um abraço
De Ricardo a 6 de Maio de 2011 às 12:06
Sou portist, mas fui ver o jogo do Braga, pke adoro futebol... coisa tão linda!!!! As bestas, sim, sempre existiram e existem e temos de lhes dar um desconto. Pessoalmente o Braga em todo o seu percurso foi explêndido e se ganhar ao FCP tbm não faz mal algum, pke vendo as coisas de modo frio, bem a merece. Pois k ganhe o melhor e parabèns aos dois clubes
Quem ganhar em Dublin merecerá o trofeu, seja de que cor for, isso é indesmentivel.
O FCP foi sempre categorico no seu percurso mas o Braga jogou com equipas de maior nomeada e nunca desiludiu. Uma época histórica.
um abraço
De Tira as palas dos olhinos a 6 de Maio de 2011 às 17:45
.. sem ter eliminado uma equipa seria? vencemos o shalke 04 q foi só às meias finais da Champions, o dinamo de kiev ou o scka nao sao maiores q o PSV ou o Estugarda seu ignorante!!!
De DC a 6 de Maio de 2011 às 20:10
venceram o Schalke? perder 2-0 fora e 2-1 em casa eh vencer? loooooooooool
e o PSV forte? ha 10 anos talvez...
De Tiago a 7 de Maio de 2011 às 19:45
Bem o teu post, mais uma vez, parcial.
Não sei como podes comparar clubes e dizer que o Benfica não merecia ir à final porque não encontrou colossos do futebol europeu. Após a tua afirmação relatas um enorme numero de clubes não colosso que o fcp encontrou.... justificas com as classificações na tabela (mal vistas da tua parte) e não vês as classificações das outras equipas. Acho incompreensível o teu post. Digo-te mais, o Braga merece estar na final, bem como o fcp, mas a justificação do motivo pelo qual merece estar é de grande pobreza...
De Tiago a 7 de Maio de 2011 às 20:11
DC,
o post anterior foi em resposta ao teu comentario
cumps
Caro Tiago,
Não entendi muito bem o seu comentário, de certeza que leu o texto? Eu não disse que o Benfica não merecia ir á final nem sequer mencionei os adversários do Benfica no texto. Simplesmente constatei o elementar. O Benfica encarou esta semi-final com uma displicência inadmissivel que talvez não tivesse sucedido se o rival fosse o Villareal. Talvez isso explique o pedido de desculpas de um presidente que nunca deveria desculpar-se por um resultado que é o melhor do clube na Europa em 20 anos.
Convido-te a reler o artigo com calma e verás que tenho razão.
um abraço
De Tiago a 7 de Maio de 2011 às 21:55
Miguel,
De facto foi uma falha minha. A resposta não foi em relação ao teu texto mas sim ao comentario do DC.
Devia ter dito "DC, ...."
Peço imensa desculpa, é a falta de hábito a comentar.
cumps
Tiago,
Sem problemas, eu depois também vi o segundo comentário e percebi. Aliás sabia que só podia ser confusão, é normal.
um abraço
De DC a 9 de Maio de 2011 às 10:11
não sabes? mas não é óbvio? enfrentaram algum clube candidato à vitória com excepção do Braga?
Já reparaste que nos teus comentários te limitas a dizer que não percebes isto ou não compreendes aquilo mas não utilizas um único argumento?
Custa assim tanto?
De Tiago a 9 de Maio de 2011 às 15:29
PSV e PSG eram candidatos ao campeões nas suas respectivas ligas. E mais não te digo. Deixa de ser assim.
De DC a 9 de Maio de 2011 às 16:35
PSV sim era, o que não implica que fosse candidato à vitória na liga Europa.
PSG não é candidato a nada há muitos anos. Lembras-te do último título deles? se calhar ainda não eras nascido...
De Tiago a 9 de Maio de 2011 às 17:35
DC,
O PSG não era candidato só porque não ganhava há muitos anos? então o sporting nunca será candidato ao titulo. Até te digo mais, o Braga também nunca será candidato ao titulo. É esta a tua logica....
O Braga era candidato à liga europa e o psv e psg não?.. achas que isso faz algum sentido?
De DC a 10 de Maio de 2011 às 10:48
O Braga não era, passou a ser porque se transcendeu. Toda a gente sabe que o Braga não tem plantel para ombrear sequer com o Benfica, quanto mais com Liverpool, Man City, Juventus entre outros.
Por isso o Braga tem um mérito fabuloso em chegar à final e caso a ganhe será dos maiores feitos na história das competições europeias!
Já em relação ao lutar pelo título, não o Braga não luta pelo título português. Em dezenas de anos de história conseguiu uma vez dar luta ao Benfica, logo não é um candidato ao título como se pode constatar este ano em que nunca sequer ameaçou tal coisa. Uma época de transcendência não implica que se passe de pequeno a grande, senão ainda consideras o Boavista e o Belenenses candidato.
Aliás para o ano sem o Domingos, o mais certo será o Braga voltar aos lugares de meio da tabela. Caso consiga manter a tendência de acabar nos primeiros lugares, aí sim poderá começar a ser considerado concorrente ao título.
Já o Sporting apesar de estar numa péssima fase, ganhou 2 ligas nos últimos 15 anos. Já o PSG ganhou 2 ligas em toda a sua história e a última já foi em 1994. Logo, enquanto que no caso do Sporting pode haver esperança do problema ser apenas conjuntural, no caso do PSG ganhar o título ou ser candidato ao mesmo é uma excepção que confirma a regra de serem uma equipa de meio da tabela!
Portanto dizeres que o PSG é candidato à liga Europa é a mesma coisa que dizeres que o BATE ou o Lech o são. A diferença é que essas equipas provavelmente ganharam mais títulos que o PSG nos últimos anos.
Comentar post