Domingo, 25 de Maio de 2014

A Décima. Finalmente. Numa noite onde a justiça dos noventa minutos prevaleceu sobre a justiça poética, o Real Madrid mergulhou nos infernos para sair mais forte do que nunca. Trucidou um rival que não soube nunca disputar a final da sua vida mas que, ainda assim, não a merecia perder. Por aquilo que significa no futebol actual. Cristiano Ronaldo fez história sem estar praticamente presente. Foram os secundários que salvaram as estrelas, as dez que o clube merengue usa agora ao peito com orgulho.

Faltavam dois minutos. Essa angústia histórica que parece que sempre faltaram dois minutos para alguma coisa, apoderou-se do Atlético de Madrid. Como em 1974 um defesa com a camisola quatro apareceu para relembrar que faltavam ainda dois minutos para o fim do mundo. Duas vezes na história, o mesmo filme. O mesmo desfecho. Uma tragédia assim destrói qualquer clube. A uma entidade como o Atlético de Madrid, habituada a partilhar alegrias e tristezas na mesma medida, é apenas mais uma lágrima no meio de tanta euforia. O golo de Sérgio Ramos, absolutamente justo pelo que se vivia em campo, definiu o jogo. Como em 74. A partir de aí não houve final, não houve jogo. Não houve dúvidas.

O Real Madrid carimbou a sua 10º vitória na máxima prova da UEFA com a autoridade de quem duvida da própria sombra. Foi uma equipa incapaz de reclamar o seu lugar histórico durante mais de uma hora de jogo. Não merecia vencer. O erro garrafal (outro) de Iker Casillas, o homem sobre o qual Mourinho avisou que era mais o problema que a solução, tinha deixado claro que este Real era menos assustador que outras versões. Quando até o perenal santo falha, tudo parece perdido. O Atlético encontrou-se com um golo que não queria, que não tinha reclamado. Fisicamente mais imponente onde menos importava, o conjunto de Simeone entrou na Luz para não perder uma final que nunca quis ganhar. Esse golo de Godin, dividido com Casillas e Khedira, dava-lhe uma vantagem que surpreendeu a tudo e a todos. Não era esse o guião. A prova veio depois. Nunca mais os colchoneros voltaram a procurar repetir a graça. Foram inofensivos, inconsequentes e pavimentaram o alcatrão do caminho que percorreram até ao cadafalso. Se a Europa do futebol, sempre á procura de um underdog que nos ensine que há algo mais que dinheiro envolvido neste mundo, torcia pelos atléticos, foi o próprio Simeone que se encarregou de reduzir o afecto. A sua equipa foi estanque, previsivel e inofensiva. "El Cholo" errou, e muito, ao confiar na palavra de Diego Costa, um homem que já a deu ao seu país de nascimento para depois a trocar pelo país de adopção. Costa prometeu que estava em condições mas oito minutos depois voltou atrás. Saiu directamente para o duche, sem pedir sequer desculpa. Numa batalha longa, uma bala menos a gastar. Ia fazer falta.

 

Simeone apresentou uma equipa sem magia. Mas com musculo e autoridade.

Não havia Arda - "no Arda, no party" como diria a brilhante biografia do turco assinada por Juan Esteban Rodriguez - nem Diego. Não havia toque fino onde sobrava a raça de Raul Garcia, Gabi e Koke. Só Tiago e Villa falavam outro idioma, coisa pouca para quem aspira a tanto. Os sessenta e tantos jogos nas pernas não ajudaram. Num plantel pequeno e a dar as últimas pouco mais se podia pedir que não fosse entrega e dedicação. E isso não faltou. Também não serviu para entusiasmar. O problema é que o rival, o dos orçamentos milionários, era incapaz de o fazer com a sua constelação de estrelas. Sem a bússola habitual, Xabi Alonso, e com Ronaldo, Khedira e Benzema em péssimas condições físicas, faltavam ideias, critério e futebol aos merengues. Modric, só, não podia fazer mais do que sobreviver á legião de gladiadores rojiblancos. Durante uma hora lutou só com a ocasional ajuda de um Di Maria preso num 4-3-3 que rapidamente passou a 4-4-2 e o obrigou a trabalhar o dobro do habitual. Ao Atlético o golo deu-lhe a comodidade emocional de não ter de avançar e por culpa disso deixou-se empurrar para o seu campo. Ancelotti, o homem que herdou uma equipa montada por Mourinho a que apenas trocou Ozil por Bale (o galês, apesar do golo, foi um dos piores em campo e um dos principais responsáveis pelo sofrimento dos adeptos blancos) imprimindo-lhe ainda mais verticalidade e dificuldade em manejar um jogo com poucos espaços, rendeu-se à lógica. Saiu o fantasma de Khedira - o jogador, em carne e osso, estará pela Alemanha - e Coentrão, para subirem ao relvado Isco e os seus malabarismos e Marcelo e a sua capoeira com a bola nos pés. Foi o momento que definiu a história do jogo. Ambos conseguiram empurrar o Atlético de Madrid para a sua área. Seguiram-se as ocasiões, faltava apenas a bola entrar. Simeone, num esquema mais defensivo do que nunca (fosse Mourinho a fazer o mesmo e imaginamos o que se diria) preferiu Sosa a Diego, mais musculo e lentidão a um jogador que sabe segurar a bola e criar espaços. Depois perdeu Felipe Luis e esqueceu-se que Alderweireld joga melhor pelo lado direito, onde Juanfran desfalecia com uma constante voragem de velocidade e talento encarnados em Di Maria e Marcelo. Tacticamente, Simeone perdeu aí um jogo que Ancelotti quase se esforçou por não ganhar. O golo de Ramos, o tal que emulou velhos fantasmas colchoneros, esteve à altura do dramatismo que uma final assim exige. Ao Real Madrid faltava-lhe ganhar uma final assim, à inglesa. Até isso logrou. Depois deixou de haver luta. O Atlético nunca tinha criado perigo, não ia ser em meia hora, sem alma já e sem corpo há muito, que o conseguiria. O Real, despido de medos, aplicou a lógica de quem tem mais talento tem sempre mais probabilidades de vencer. A conexão Ronaldo-Di Maria permitiu a Bale entrar na fotografia sem o merecer. O descaro de Marcelo triunfou sobre a passividade defensiva de uma equipa que já não acreditava no empate. E o golo de Ronaldo serviu apenas para ter na ficha do jogo o responsável principal por esta conquista épica nos jogos anteriores. Em Lisboa, CR7 não esteve. E por uma vez, ninguém pareceu notar.

 

O Atlético de Madrid foi durante o ano todo um exemplo de luta, coragem e dedicação. Quando lhe faltou o futebol ganhou a alma. Na Luz faltou-lhe a ambição que lhe sobrou em Londres. Quando a diferença de orçamentos é tão grande, a ambição e a alma são o único que sobra. Sem elas o destino está traçado. Ao clube das "10 Copas", o destino foi finalmente amigo depois de três eliminações injustas sob o mandato de Mourinho que pela primeira vez na sua carreira tem de assistir a um clube que deixa para trás triunfar onde ele falhou. Ironias do destino, principalmente porque este Real joga ao mesmo e com os mesmos que fazia a equipa que em 2012 colocou um ponto final à hegemonia blaugrana. Foi uma noite de sonho para os que acreditam em milagres, foi uma noite de pesadelo para os que acreditam em justiça poética. Foi uma final de Champions League. Não há mais nada que se possa pedir.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 18:43 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Quarta-feira, 21 de Maio de 2014

Não surpreende ninguém que Bento embarque nas naus com os seus homens de confiança. Muitos serão figurantes, menos ainda que secundários. Mas fazem parte desse conceito militar de grupo que mudou para sempre a perspectiva colectiva de uma selecção baseada, exclusivamente, na meritocracia. O futuro terá de esperar. Os mavericks, terão de assumir. Os homens do sargento Bento são os únicos que alguma vez entraram nas suas contas.

 

Quaresma nunca iria ao Brasil. Todos os que sabem como isto funciona sabiam-no mesmo antes do próprio Bento ter tomado a decisão. Não é um caso de agente certo ou errado. Há muito (demasiado) disso na selecção. Mas Mendes controla o futebol português via fundos, tem uma influencia crescente nos dois clubes com maior orçamento da liga. É o homem que mais jogadores portugueses tem na carteira e o pai espiritual de Cristiano Ronaldo. O seu fantasma, forçosamente, terá de pairar sempre sobre este projecto. Quaresma ficou de fora por outra coisa. Por como é. Dentro e fora de campo. O “Mustang” teve tudo para ser um jogador destinado a marcar uma década. Um arranque que eclipsou o do próprio Ronaldo. Talento a rodos, insultante até. A explosão mais pura de génio desde Futre, superior a um Figo que precisou de amadurecer com o tempo e as derrotas. Depois veio o Barcelona, cedo demais. Deixou marca. Mas no Porto, dentro de uma estrutura sábia, mostrou o grande que podia ser. Cometeu o maior erro da sua vida ao partir para o sonho italiano. A carreira acabou ali. O talento não. Mas deixou de ser insuficiente. Quaresma defende mal, Quaresma joga pouco com os colegas. Quaresma é génio puro no passe e no remate mas num jogo de detalhes é prescindível para quem já tem quem faça isso por ele. Ronaldo, que cresceu na sua sombra, tomou o caminho oposto e converteu-se num dos maiores jogadores da história. Ele é o líder espiritual em campo deste projecto e não precisa de sombras ao lado. E Quaresma não sabe não ser o protagonista. Os problemas em 2012 deixaram claro, para Bento, que quando fosse necessário, Quaresma nunca iria por o grupo à sua frente. E isso foi a sua sentença de morte. Os últimos meses do “cigano” têm sido penosos para quem já foi tão grande, um náufrago mais neste FC Porto para esquecer. Por talento genuíno está claro que Nani e Varela não pertencem à sua liga. Mas não é de talento que se fala quando se fala em selecções hoje em dia. Há quase duas década, desde a França de Jacquet, que a maioria das selecções decidiu ir pelo caminho do grupo. Nessa França o carácter de Cantona e Ginola não cabia. O mesmo passou com Gascoine e a Inglaterra de Hoddle. Com Romário e Zagallo e Scolari. Ou com Guti, Effenberg ou Michael Laudrup. Quaresma pertence, por um ou outro motivo, a esse grupo de vitimas de um bem maior, o de estar comprometido ao máximo com uma ideia durante quatro asfixiantes semanas.

 

Paulo Bento faz-se acompanhar dos seus. Dos que estiveram na fase de grupos.

Não quer jogadores que fingiram lesões como Danny. Está preparado a não convocar o melhor médio português este ano – por muito que agora venha o circo do pedido de regresso há dois anos – que é Tiago porque este, quando Bento lhe pediu, preferiu passar ao lado de uma equipa onde aconteciam demasiadas coisas fora da esfera desportiva e que culminaram no despedimento de Queiroz e o circo que se montou à sua volta. Tiago e Carvalho, dois velhos amigos que funcionam a outro ritmo nisto dos meandros do futebol, cansaram-se do circo e foram dizendo adeus. Por muito bem que tenham estado depois, deixaram de contar. Os homens do sargento não podem dizer que não. Ao Brasil vão os que aprenderam a dizer sim. Como Nani, com uma época (época?) penosa mas que tem o compromisso defensivo que dá asas a Ronaldo. Como Vieirinha, que foi de precioso auxilio quando Bento mais precisou, em Setembro, e que não voltou a ter continuidade. Como Ricardo Costa, Ruben Amorim e Eduardo, figuras decorativas em campo e fundamentais fora dele para o seleccionador. Como sucedeu em 2012, Portugal são onze titulares fixos e quatro alternativas recorrentes. Bento tem a sua espinha-dorsal da qual não vai abdicar. A esses nomes há que juntar Hugo Almeida (por Postiga), Varela (por Nani), William Carvalho (por Miguel Veloso) e Ruben Amorim (por qualquer um do meio-campo) que vão ser as substituições da praxe. Ninguém espere algo diferente. João Pereira e Fábio Coentrão são intocáveis e estão fixos. Os seus suplentes normais (Almeida e Costa) nem são sequer laterais de raíz. Uma pena para Antunes ou Cedric que ainda não são parte da “família”. Pepe e Alves são intocáveis como é Patricio por muitas Europa Leagues que ganhe Beto. Veloso-Moutinho-Meireles é um trio inegociável e no ataque não é preciso alongar-nos muito. Rafa, a grande e boa surpresa da lista, poderia ter minutos noutro contexto. Mas a fase de grupos mais dura dos últimos tempos para Portugal convida pouco a imaginar uma jovem e flamante promessa a explodir num palco Mundial. É pena.

 

Para o futuro fica a sensação de que este é o último grito de guerra de muitos jogadores. Há uma nova seiva de talento que pede a gritos a sua oportunidade. Não são só os André Gomes, Ivan Cavaleiro, Cedric, Anthonny Lopes ou João Mário. São também Bruno Fernandes, André Martins, Paulo Oliveira, Ronny Lopes, André Silva, Alexandre Guedes, João Cancelo, Bernardo Silva, José Sá, Miguel Rodrigues ou Tozé que tarde ou cedo serão cromos de futuras colecções. O futuro destes depende da vontade dos dirigentes do futebol português em dar-lhes espaço, do seleccionador de abrir as portas a nova sangue na família e à sua capacidade de aceitar que neste mundo em que se gera a “equipa das Quinas” ser bom, apenas, não chega. Há que ser algo mais. Há que ser parte dos homens do sargento!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 16:34 | link do post | comentar | ver comentários (8)

Segunda-feira, 19 de Maio de 2014

"Era uma vez uma irredutível aldeia gaulesa"... Invariavelmente assim começavam as sagas animadas de Asterix e companhia. O pequeno herói de banda desenhada pode ter sucessor real. Numa pequena aldeia dos Pirineus com apenas 650 habitantes desenha-se o sonho de alcançar a Ligue 1. Seria um feito único na história do futebol europeu.

Poucas cidades contam com estádios onde cabem mais pessoas que habitantes. Se falamos de aldeias então é mais difícil ainda encontrar algo parecido ao que sucede em Luzenac. Na minúscula localidade encostada aos Pirenéus, a poucos quilómetros da fronteira com a Catalunha, vivem 650 habitantes. 650. Nem mais, nem menos segundo o último censo. O estádio local - melhor dito, o campo local - tem espaço para 1200 espectadores. E invariavelmente está cheio.

Num domingo qualquer os habitantes das aldeias vizinhas vão até Luzenac passar a tarde e ver a equipa local jogar. A modesta formação que nunca passou dos campeonatos distritais é a nova sensação do futebol europeu. Acaba de vencer o Campeonato de Seniores do futebol gaulês de forma categórica e carimbou assim o passaporte para a Ligue2, a segunda divisão do país. Um clube de amadores num meio profissional. Muitos auguram uma queda tão rápida quanto a subida mas o sonho dos habitantes de Luzenac e dos dirigentes do clube é outro. Querem ser o mais pequeno clube da história do futebol europeu a alcançar a primeira divisão de uma das grandes ligas do "Velho Continente". Nunca se deu o caso de um clube de uma localidade com menos de mil habitantes ter chegado tão longe. Estes irredutíveis gauleses querem ser os primeiros e assim fazer história.

 

O US Luzenac foi fundado em 1936. Poucos anos depois esteve perto de desaparecer por culpa da II Guerra Mundial. Teria sido uma existência curta e anónima. Não foi. O clube sobreviveu e durante décadas viveu debaixo do radar futebolístico francês. Nunca formou um futuro grande jogador, nunca recebeu um treinador de renome em horas baixas. Sempre foi uma equipa absolutamente modesta. Até agora. Tudo por culpa de um campeão do Mundo.

Fabian Barthez não é natural de Luzenac mas de uma aldeia igualmente pequena a trinta quilómetros de distância. O extravagante guarda-redes, vencedor de todas as competições a que um futebolista de elite pode aspirar, transformou-se num empresário de sucesso depois de ter terminado com a sua carreira. Entre as corridas de protótipos e os seus negócios, Barthez encontrou tempo para associar-se à empresa JD Promotion e adquirir o modesto clube. O objectivo, a médio prazo, era o de criar um clube com uma forte identidade futebolística na região do Midi gaulês, no espaço ocupado entre Bordeaux e Toulouse, duas históricas regiões do futebol gaulês. A ambição dos investidores no clube passava por aglutinar adeptos de aldeias e pequenas cidades vizinhas e propulsar assim o Luzenac rumo à Ligue1.

Com a ajuda de Barthez, o clube começou a contratar vários jogadores com presença habitual nos planteis da Ligue 1 e 2 com a promessa de um substancial aumento salarial a cada promoção. No plantel do clube há espaço para futebolistas norte-americanos, georgianos, camaroneses, marfilenses ou togoleses. Três anos depois de ter abandonado os campeonatos distritais, a formação orientada por Christophe Pelissier passeou literalmente pelo Campeonato Nacional, carimbando a subida de divisão de forma categórica bem antes do suspiro final. Os triunfos cumpriram o seu papel e atraíram espectadores das redondezas. O estádio da pequena aldeia tornou-se pequeno e o clube mudou-se para uma localidade vizinha onde mais de 1400 pessoas por jogo acompanham a gesta do Luzenac. No jogo decisivo, contra o histórico Boulogne, estavam 3000 adeptos nas bancadas, cinco vezes mais do que os que habitam a pequena aldeia pirenaica.

O sucesso do Luzenac transformou-se num dos mais emotivos contos de fadas recentes do futebol europeu. Numa altura em que os milhões de investidores russos e qataris invadem a Ligue1 e mudam a escala de poderes da competição, os franceses encontraram no clube de Barthez o símbolo do desporto mais puro e humilde. De um momento para o outro o US Luzenac transformou-se no clube alternativo do futebol francês.

O objectivo de Barthez e dos seus parceiros de negócios é reproduzir o sucesso recente do Evian. O clube alpino foi refundado em 2003 graças ao patrocínio do grupo Danone - detentor dos direitos da célebre água Evian - e ao apoio de vários futebolistas internacionais como Zinedine Zidane Florent Malouda, Alain Boghossian e Bixente Lizarazou. Tal como o Luzenac era um clube de uma localidade sem expressão desportiva, mais associada ao futebol suíço que francês. Em cinco anos o clube saltou do campeonato nacional para a Ligue 1 onde se mantém contra todas as expectativas.

 

Enquanto históricos clubes como o Nantes, Metz, Lens, Auxerre ou Strasbourg militam em divisões secundárias o Evian é a prova de que o modelo de gestão local francês pode ser bem sucedido. É o espelho onde o modestissimo Luzenac se vê reflectido. Na próxima temporada o principal objectivo do projecto desportivo passa pela estabilização mas Barthez e companhia já fizeram saber que os irredutíveis aldeões querem fazer história quanto antes. França está à sua espera.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 12:35 | link do post | comentar

Quinta-feira, 15 de Maio de 2014

Qualquer final decidida por grandes penalidades é um drama difícil de engolir para qualquer adepto. Ao final de cento e vinte minutos se nada separa duas equipas, o título torna-se secundário. Já se sofreu que chegue. O problema, para os adeptos encarnados, é que o sofrimento dura há mais de meio século de história.

 

O Benfica perdeu a final da Europa League pelo segundo ano consecutivo. Da mesma forma que a sua caminhada europeia nas andanças da UEFA – antes esteve o triunfo na mais caricata edição da curta história da Taça Latina – arrancou com dois títulos seguidos. A história é circular, como diría Marx. O pior foi o resto. São já oito finais perdidas, desde Londres em 1963 até Turim em 2014. Pelo caminho ficou Milão, Londres (cidade maldita), Bruxelas/Lisboa, Estugarda, Viena e Amesterdão. Cidades míticas do Velho Continente que testemunharam a tristeza das Águias. Mas ao contrario do que o folclore, a desinformada imprensa e alguns “experts” gostam de defender, não há maldição que justifique esta tortura. Em primeiro lugar, como os mais atentos sabem – basta ler – Guttman só se referia à Taça dos Campeões Europeus. O húngaro também disse que nenhum clube português ganharia um titulo europeu em cem anos. Dois anos depois dessa frase o Sporting ganhou a Taça das Taças. Já nem vale a pena lembrar os quatro títulos europeus do FC Porto. Esqueçam a maldição!

 

O que passou ontem ao Benfica em Itália foi a falta de ambição e o peso das baixas sensíveis na organização do ataque. Sem o melhor jogador do campeonato – Enzo Perez – ou as alternativas oferecidas regularmente ora por Markovic, ora por Salvio, o Benfica entrou coxo em campo. Quando Suljemani, que no pouco tempo que esteve em campo fez mais do que Gaitán em todo o jogo, teve de sair, rendido a uma lesão no ombro, Jesus viu-se perante um dilema. O Sevilla estava mais organizado, mais consciente da exigência da noite. Emery, treinador assobiado recorrentemente em Valência (depois dele o clube entrou numa espiral depressiva, há que lembrar) preferiu um esquema conservador desde o principio. Carriço e Mbia no miolo, apoiados por Rakitic, cercaram o meio-campo encarnado. Vitolo e Reyes tapavam as subidas dos laterais e Bacca, sacrificado aos monstros que foram durante todo o jogo Garay e Luisão, era peça fora do tabuleiro. Ao 4-4-2 em losango montado por Jesus faltava-lhe organização e inspiração. André Gomes foi um fantasma, o esforço de Amorim não foi acompanhado e Rodrigo e Gaitan  não entusiasmaram. A entrada de André Almeida e a subida no terreno de Maxi Pereira lançou a mensagem decisiva. Jesus estava mais preocupado em não perder a final do que em ganhá-la. Procurou o prolongamento, procurou os penalties. Sentiu que não tinha força em campo para vencer. Enganou-se. O Benfica, mesmo em inferioridade de talento titular, era superior ao Sevilla. Faltou-lhe a tracção dianteira de tantas outras noites e o acerto no disparo. Criou as melhores oportunidades – Bacca também teve o seu momento, montado com régua e esquadro pelo genial croata – e driblou os medos. Do banco a mensagem de ataque chegou tarde e sob a forma de erro táctico. Cardozo entrou mas não foi a âncora que se esperava, demasiado atirado para o lado direito onde foi menos eficaz. Cavaleiro chegou para o sopro final quando já não havia pernas para o acompanhar. O Sevilla tinha passado pelo mesmo almanaque de duvidas existenciais. Não perder para depois pensar em ganhar. Foi mais honesto a principio, adaptou-se melhor e sobreviveu ao golpe de autoridade que o Benfica tentou dar no fim da cada parte. Mentalmente mais soltos, foram uma equipa que sabia ao que vinha. Não havia existencialismos que derrotar. Só Oblak, o guarda-redes tranquilo que Beto não pôde ser. Para alegria dos andaluzes o português esteve à altura nos cento e vinte minutos. Depois, a glória.

 

O prolongamento foi um deserto de ideias, de forças e de ambição. Desde o Arsenal vs Galatasaray de 2000 que nenhum jogo da competição tinha chegado até ao fim sem golos. Aconteceu em Turim porque ninguém pareceu, verdadeiramente, querer marcar. Sem três penalties para marcar (dois para os lisboetas, um para os sevilhanos), sem grandes ocasiões e com duas linhas defensivas entretidas em competir no torneio de quem menos erra, o oásis de um golo revelou-se tão imaginário como as lagoas nos desertos. Para os penalties seguia o jogo como ambos os treinadores pareciam querer. O Benfica contaba em limpar o espirito de Estugarda num flamante guarda-redes e na vontade de vergar a história. Mas os andaluzes tinham Beto, provavelmente um dos melhores do mundo na sua posição quando se trata de parar grandes penalidades. O rapaz que em Alcochete era o Beto II, que no Dragão se manteve à sombra de Helton, deu a alegria do ano aos dois adeptos dos rivais das Águias com uma aula de como bem parar penalties. Saltou para a frente como os mais espertos fazem, adivinhou os disparos denunciados de Cardozo e Rodrigo e fez história. Com ele na baliza o Sevilla conquistou o seu terceiro troféu europeu, todos conquistados numa década histórica. Já ultrapassaram o Benfica no total histórico e igualaram Juventus, Inter e Liverpool como máximos vencedores de uma prova que já podia bem ter apelido espanhol. Com os dois triunfos do Atlético de Madrid e as finais perdidas por Espanyol e Athletic Bilbao, os últimos oito anos têm sido quase um monopólio “hispânico” na prova que metade da Europa ignora habitualmente.

 

Ao Benfica a derrota magoa mais pela longa lista de fracassos do que, propriamente, pela ausência de um titulo para levantar. Num ano memorável a nível interno, o triunfo de Turim era a cereja no topo de um bolo que ainda assim sabe bem. O clube da Águia pode conquistar o pleno de provas nacionais – tem de vencer a Taça e a Supertaça, em Agosto – e está na pole-position do futebol português com autoridade e por pleno direito. Para os folclóricos há ainda jornais a vender e a tertúlias a encher com velhos relatos de maldições caducas. Para os adeptos, uma dor difícil de engolir mas que não deve afastar a visão periférica do fundamental, um trabalho bem feito. No final de contas, em Turim, houve mais tácticas que espectáculo, mais drama que emoção e um parêntesis numa história com próximos capítulos inevitáveis. O Benfica, que foi melhor em campo, teve o pior dos treinadores e o menos afortunado dos guarda-redes. Não há maldição que justifique algo que pertence exclusivamente ao reino dos mortais.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 18:19 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Domingo, 11 de Maio de 2014

O Sport Lisboa e Benfica vai disputar, na próxima quarta-feira, a sua décima primeira final europeia. A primeira correu assim...in @NoitesEuropeias

 

"Essa realidade não obstante mantinha o desnível internacional que a Taça Latina evidenciou. Em oito edições, Portugal venceu apenas um título e marcou presença em três finais, dos quatro países envolvidos aquele que apresentava o pior registo. A vitória do SL Benfica na final do Jamor, em 1951, foi apenas a excepção que confirmava a regra. O AS Lazio, rival das meias-finais, não contou com a maioria dos seus jogadores, vítimas de uma epidemia de anginas na concentração, e acabou facilmente batido por 3-0. A final disputou-se contra os franceses do Girondins Bordeaux. 

 

O primeiro jogo terminou com empate, após o prolongamento, o que forçou um replay para a semana seguinte que se saldou com um novo empate, desta vez a uma bola. Disputou-se então um segundo prolongamento e aí, perto do fim, um golo de quem ninguém sabe verdadeiramente qual foi o autor, decidiu tudo a favor dos encarnados.

 

O Sporting, dos Cinco Violinos, que tinha sido batido pelo Barcelona no ano anterior, nunca mais voltou a uma final e à medida que as suas estrelas se foram progressivamente retirando, chegou a acabar duas edições no último lugar, o mesmo resultado obtido pelo Belenenses no único ano em que participou. Quando o Benfica voltou a uma final, em 1957, e foi batido pelo Real Madrid – então já bicampeão europeu – algo começava a mudar profundamente no futebol português."

 


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publicado por Miguel Lourenço Pereira às 21:45 | link do post | comentar

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