Quarta-feira, 30 de Outubro de 2013

Quem me conhece sabe perfeitamente que não sou um "Ronaldieber", ou lá como se chamam agora os groupies adolescentes. Também não acredito na defesa absoluta de quem quer que seja pela nacionalidade, cor ou credo. Se Blatter tivesse ridicularizado Messi como um "enano hormonado", como lhe chamam por Madrid, teria dito exactamente o mesmo. A FIFA existe apenas e só porque o futebol é um fenómeno global que ultrapassa todo o tipo de fronteiras. É a verdadeira globalização. E deve-o aos seus grandes jogadores por cima de tudo e de todos. E Ronaldo é um desses jogadores e merece o respeito de quem vive, indirectamente, à sua custa!

Hoje cumpre 53 anos Diego Armando Maradona.

El Pibe é provavelmente um dos melhores jogadores de todos os tempos. Vê-lo jogar é o mais próximo que um adepto de futebol pode estar de um orgasmo artístico. Vi Maradona fazer o possível e o impossível milhões de vezes. Desafiava a gravidade, desafiava tudo e desafiava todos. Foi o último grande símbolo do "potrerismo" puro e mágico da escola sul-americana. E foi também um drogado, um putanheiro e um fraudulento fiscal. Começou a consumir cocaína em Barcelona, em Nápoles passou a ser acompanhado por uma corte das mulheres ao serviço dos capos da máfia local e deve, ainda hoje, milhões de euros ao estado italiano. E no entanto, hoje, 30 de Outubro, só nos conseguimos lembrar da "mano" e do "barrillete cósmico". Porque Maradona, o jogador, é muito mais do que Maradona, o homem.

Johan Cruyff cumpriu há dois dias quarenta anos da sua estreia como futebolista do Barcelona.

Foi, talvez, o momento mais marcante da história moderna do futebol europeu. Significou a transição definitiva da escola danubiana do centro da Europa para Barcelona. Está na base do Dream Team e do Pep Team, da cultura de futebol de posse que a muitos nos tem fascinado. Cruyff é, para mim, o melhor jogador europeu de sempre. Se é que algo assim se pode dizer. É também um dos homens mais inteligentes alguma vez associados a este jogo, dentro e fora do campo. No relvado não parava de se mexer, de falar, de dar ordens, de movimentar-se e movimentar os outros. E com um gesto, uma finta de corpo, tal como Diego, desafiava a gravidade e fazia as estrelas sonhar. Cruyff é também um homem obcecado com o dinheiro, um sovina de primeira, um populista capaz de baptizar o filho como Jordi aos seis meses de chegar a Barcelona e, sobretudo, um menino-mimado que abandonou o clube que cuidou da sua família desde que ficou órfão no dia em que os seus colegas não lhe votaram como capitão. Na rua seria conhecido como o mimado dono da bola. No mundo do futebol é um génio superlativo. Para mim, pessoalmente, irrepetível.

 

É muito perigoso julgar os jogadores pelo que são fora do campo.

Best era alcoólico e mulherengo. Cantona agredia pessoas quando insultado e saiu chateado de quase todos os clubes por onde passou. Zidane fervia em pouca água como poucos. Garrincha era a versão brasileira de Best mas com um neurónio menos. Meazza tinha simpatias fascistas. Di Stefano era um autêntico ditador moderno dentro e fora do balneário do Real Madrid. Pelé era um fraudulento oportunista e um demagogo que vive há décadas daquilo que representou. A lista é infindável.

Cristiano Ronaldo - como nenhum dos outros nomes citados - é propriamente um exemplo. Pelo menos para mim.

Mas como jogador é irrelevante o que gaste em cabeleireiros. O que gaste em carros desportivos. Com quem dorme à noite, onde passa as férias, de que cor é o bronzeado, de que tamanho são os brincos que leva e quão ridículos são os gestos que faz nas celebrações (ainda que o "calma, calma" tenha sido genial, confesso). Ronaldo é tudo isso como homem. Não como jogador. Como futebolista é um dos melhores da história, seguramente um dos melhores das últimas décadas. É capaz de coisas abrumadoras que a esmagadora maioria dos jogadores nem sonhando poderia repetir. É um jogador totalmente diferente de Messi ou Ronaldinho, por exemplo, mas isso não invalida que em campo seja imenso, que os seus números possam ser impossíveis de bater num futuro próximo e que quando está em campo o rival tenha de se benzer um par de vezes extra para o travar. Ronaldo é um dos maiores futebolistas do Mundo e a FIFA - a organização que deve velar "for the good of the game" devia ter-lhe o mesmo respeito que tem a qualquer outro. Nem menos, nem mais.

O que Sepp Blatter fez - e atenção, o suíço fez coisas muito mais graves e, lamentavelmente, menos mediáticas - é um insulto ao futebol não a Ronaldo. O mesmo seria válido se tivesse dito que preferia o português a Messi porque este é um fraudulento fiscal, vomita recorrentemente no relvado e fala de uma forma que ninguém entende. Messi é um génio (cada um poderá escolher de quem gosta mais) e como futebolista há poucos tão bons. Um deles é Ronaldo. Blatter como amante do jogo - como eu, como vocês - pode ter o seu favorito. Naturalmente. Como presidente da FIFA não o pode ter, muito menos utilizando elementos externos ao jogo como balança de decisão.

 

Inevitavelmente, esta polémica apenas joga a favor de Cristiano Ronaldo. Conseguiu colher simpatia global, unir muitos portugueses a sua polémica figura (continuo sem entender a obrigatoriedade nacional de estar sempre com alguém que é do mesmo país mas também não entendo o oposto, a critica gratuita e invejosa tão habitual dos países do sul da Europa) e reforçar a ideia de que muitos dos prémios do génio argentino dos anos anteriores possam ter sido condicionados. Pelo menos o critério mudou, isso temos todos claro, caso contrário Wesley Sneijder e Andrés Iniesta (e não Ronaldo) também já teriam vencido o tal Ballon D´Or. O que a FIFA acabou de fazer é um verdadeiro insulto ao jogo e não haverá forma de emendar o erro. Ronaldo deveria - ainda que não o vá fazer - renunciar publicamente aos prémios FIFA dando um sinal de maturidade e despreocupação. O seu ego seguramente que não lhe permitirá. E da próxima vez que alguém se lembrar da dança de Blatter e dos seus comentários, lembrem-lhes que tipo de pessoas eram "El Pibe" ou o grande Johan fora dos relvados. Talvez aí o gel no cabelo e o brinco dourado pareça ainda mais inofensivo do que já é. O futuro, esse, é quem tratará de julgar o verdadeiro papel de Cristiano Ronaldo no constelamento das estrelas do futebol.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 12:06 | link do post | comentar | ver comentários (23)

Sábado, 26 de Outubro de 2013

O futebol, como a vida, faz-se de decisões. No caso dos grandes jogos são os pequenos detalhes que, habitualmente, se revelam decisivos. Depois de um ano com um registo quase imaculado, mesmo no período mais negro da era Mourinho, o Real Madrid de Carlo Ancelotti comportou-se como uma equipa que não conhecia em absoluto a forma correcta de ultrapassar um rival que é cada vez mais uma sombra da imensa equipa que já foi. O suicídio táctico de Carlo Ancelotti, um misto de medo e submissão ao poder presidencial do clube, deu um balão de oxigénio a um Barça decadente mas sempre perigoso.

Bale parecia perdido. Não, Bale estava perdido.

Independentemente da sua questionada condição física, o galês não encontrava uma só combinação colectiva. Olhava com ar surpreendido para tudo e todos. A alta competição é assim e a diferença entre ser a estrela do Tottenham e ver-se como protagonista de um Barça-Madrid é grande. Cada bola que acabava nos seus pés perdia-se para sempre. Nem a sua velocidade ou capacidade física se fizeram notar. As ajudas defensivas do Barcelona anularam todo o seu potencial. A sua incapacidade de combinar com os colegas fez o resto. Tinha Bale condições para ser titular? Naturalmente a resposta é não. E porque jogou?

Fácil. Custou quase 100 milhões de euros, não estava oficialmente lesionado. Se não tivesse jogado muita gente importante se chatearia a sério. E Ancelotti não é treinador de incomodar os seus ricos chefes. Nunca foi.

Para colocar a Bale em campo, Ancelotti aceitou perder o jogo. Perder a herança de um modelo questionado por muitos mas que foi capaz de anular o Barcelona durante mais de um ano com autoridade. O Real Madrid de Mourinho, à medida que ia caindo em picado, mostrava-se, paradoxalmente, mais sagaz nos duelos com o eterno rival. Ganhou a liga no Camp Nou em 2012, venceu a Supertaça em Agosto e eliminou os blaugrana da Copa del Rey com autoridade. Pelo caminho voltou a vencer em casa para a liga e a empatar em Camp Nou. Como?

Aprendendo com os erros e explorando as falhas, cada vez mais evidentes, de um modelo já distante da herança inicial do guardiolismo. Mascherano e Piqué, uma dupla propensa ao erro, pressão alta no meio-campo explorando a dificuldade física de Xavi e Iniesta aguentarem noventa minutos de asfixia do rival e claro, um esquema de ajudas colectivas capazes de travar o génio de Messi. Ancelotti abdicou de todas essas lições. O Barcelona agradeceu.

Com Mascherano e Piqué em péssima forma, Carlo abdicou de jogar com um avançado que os segurasse e de-se espaço ao jogador mais em forma da sua equipa, Cristiano Ronaldo. Com Iniesta discutido e em más condições físicas, colocou Sérgio Ramos como médio defensivo e deu ao manchego todo o espaço do mundo. Com Messi e Neymar abertos nas alas, apostou em laterais ofensivos que foram incapazes de morder por medo a deixar espaços atrás. O seu 4-3-3 foi uma amalgama de jogadores perdidos em campo. Ronaldo não tinha posição. Bale perdia-a constantemente. Di Maria corria, corria e limitava-se a correr e embora Modric tentasse impor critério, não tinha ninguém com quem combinar porque Khedira é Khedira, Ramos é Ramos e os laterais raramente subiam com confiança. Um ano de herança destroçada por uma decisão que Ancelotti não teve a coragem de tomar.

 

Ao contrário do Real Madrid, o mérito do Barça é saber que tem uma ideia e que se se afasta dela sofre em demasia.

Martino, um argentino pragmático, percebeu que contra uma equipa a quem lhe custa ter a bola nos pés a melhor opção é guarda-la e esperar. Colocou Fabregas para forjar um losango com Xavi, Busquets e Iniesta e dar total mobilidade ofensiva para Neymar e Messi nas diagonais. O argentino não apareceu, como não tem aparecido. O brasileiro fez uma excelente primeira hora de jogo e foi decisivo em quebrar a hermética defesa rival, demasiado preocupada com o empalidecido Messi. O seu golo abriu o jogo e confirmou a ideia de Martino. Para o italiano colocar mais defesas e abdicar da sua essência - o ostracismo de Isco é evidente, a falta de confiança em Benzema, Jessé e Morata recorrente - não lhe valeu de nada contra uma equipa que troca a bola como poucas. A velocidade de outros tempos foi-se, mas a classe ficou. Iniesta sentiu-se cómodo, Neymar cumpriu o papel que já foi de Pedro ou Villa e o resultado foi o de quase sempre.

Com um golo de vantagem o Barcelona fez o que nunca tinha feito, nem com Guardiola nem com Tito. Recuou. Cedeu a iniciativa, deu um passo atrás e procurou gerir o resultado. Perdeu uma ocasião de morte de ferir um rival que não sabia a que jogava. O Real Madrid, em vez de a aproveitar, continuou a bater com a cabeça na parede. Só as entradas de Illarramendi, Benzema e Jesé devolveram ao clube merengue a sua essência. E foi nessa meia-hora que o jogo esteve, realmente, igualado. Os blaugrana deixaram de criar perigo e passaram a ver como Valdés, o poste e uma mão involuntária de Adriano impediam a igualdade.

A vinte minutos do fim Cristiano Ronaldo foi derrubado na grande área. Penalty claro e evidente por marcar. Na primeira parte Pepe tinha cometido também falta sobre Fabregas na área contrária. Os erros tiveram o mesmo denominador, um árbitro incapaz de controlar bem o jogo. A partir desse momento o Real Madrid desligou emocionalmente e Alexis Sanchez, recém-entrado, com o descaro de um novato, aproveitou o erro de Diego Lopez e a passividade de Varane para marcar um golo digno da noite. Jesé, depois de uma corrida fabulosa de Ronaldo, reduziu no último minuto. Pela primeira vez em cinco anos um Clássico com três golos e nenhum da dupla Ronaldo-Messi. Até nisso este duelo foi atípico. Se o argentino foi empurrado para a ala pela decisão do seu treinador e continua a sofrer problemas físicos, Ronaldo viu o seu técnico abdicar da sua máxima forma em prole de um desenho táctico inconsequente. Merecia mais.

 

A vitória do Barcelona dá três pontos aos lideres da prova mas mantém as duvidas no seu jogo, cada vez mais distante da matriz elogiada universalmente. No entanto um plantel que se permite ter a jogadores como Pedro e Alexis no banco tem sempre condições para resolver problemas mais agudos. No caso do rival a situação é radicalmente diferente. Ancelotti tinha os jogadores que queria (abdicou de Ozil, não exigiu um avançado top, resignou-se ao negócio de Florentino com Bale) mas mesmo assim criou um esquema incapaz de os aproveitar. E pagou o preço. A liga está mais dificil - em Espanha cada vez se perdem menos pontos - e a jogar assim, nem merengues nem blaugranas afastam-se perigosamente da elite europeia. Em Munique os campeões em titulo sorriem. Hoje em dia continuam sem ter rival à sua altura!



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Sábado, 19 de Outubro de 2013

A transformação não podia ser mais radical. O perfume gaulês do futebol champagne tem embriagados os eufóricos adeptos romanos. Depois da humilhante derrota contra o eterno rival laziale na final da Taça de Itália a AS Roma não voltou a perder um jogo. Uma nova era com um futebol de primeiro quilate a quem os resultados têm acompanhado. Se a história ainda valer alguma coisa, o Scudetto já tem dono.

Por duas vezes uma equipa venceu as primeiras oito jornadas da Serie A italiana. Por duas vezes essa formação ganhou o Scudetto.

Em ambos casos a protagonista, a Juventus, tinha as melhores equipas da temporada. Nos anos 30 estiveram quatro anos seguidos a reinar sobre o Calcio, um recorde até hoje apenas batido por "Il Gran Torino". Cinquenta anos depois, a equipa liderada por Michel Platini e pelos campeões do Mundo de 1982 na linha defensiva arrancaram para uma temporada memorável que acabou com a vitória na Taça das Taças abrindo caminho ao título europeu do ano seguinte, em Heysel. Olhando exclusivamente para os relvados italianos custa imaginar que a AS Roma não acabe por cometer uma proeza similar.

O calendário não foi propriamente amigo dos gialorosso. Dois jogos contra candidatos ao título foram resolvidos com vitórias merecidas e inquestionáveis frente ao renascido Inter de Mazzari e a sua antiga equipa, o Napoli de Benitez. Os napolitanos chegavam a Roma como segundos na tabela classificativa, desejosos de confirmar as boas sensações que foram deixando neste arranque de temporada. Mas revelaram-se incapazes de aproveitar as escassas oportunidades que tiveram e cairam sob o perfume rendilhado do jogo medular dos romanos e a sua eficácia a bola parada. Pjanic foi o herói mas o treinador Rudi Garcia teve o cuidado de referir, no fim do jogo, que esta era a Roma de Totti. A Roma do "capitano" na sua enésima reencarnação.

 

O investimento norte-americano na Roma arrancou há três anos.

A aposta inicial num modelo de jogo atractivo e ofensivo levou os dirigentes romanos a procurarem uma versão acessível do Barcelona de Guardiola. Escolheram Luis Enrique, até então treinador da equipa B do clube. O espanhol teve meios mas não teve sucesso, talvez porque a sua ambição táctica superou no tempo um projecto ainda em formação. Durante duas temporadas os romanos caíram no fundo, depois de terem sido os principais rivais do Inter de Mourinho. O renascimento prometia ser mais lento do esperado e enquanto isso Totti e De Rossi, a alma e o trabalho desta formação histórica há quase uma década, envelheciam um pouco mais. O processo reverteu-se, definitivamente, neste Verão.

Rudi Garcia, o homem que operou o milagre do Lille, campeão francês contra todas as expectativas, foi recrutado para dar forma aos sonhos romanos. Com ele chegaram também reforços à altura das ambições mas com um valor de mercado controlado pela crise financeira. Não fizeram muito ruido, em comparação com o de alguns rivais - entre os quais o próprio Nápoles - mas rapidamente demonstraram ser escolhas mais do que acertadas. Garcia, treinador da velha escola francesa de um futebol rendilhado e preciso, desenhado no meio-campo com precisão geométrica, recuperou o 4-3-3 e com ele o papel de Totti como figura central do ataque, bem secundado pelo forte Gervinho e os jovens e criativos Marquinhos, Llajic e Florenzi, a grande promessa da cantera romana. Na sala de máquinas colocou ao lado de De Rossi dois jogadores de primeiro nível mas eternamente subvalorizados pelo mercado, o bósnio Pjanic e o holandês Strootman. A equação perfeita.

O trabalho e entrosamento colectivo sucederam quase como um milagre, da noite para o dia. Contra todas as expectativas as peças encaixaram e a máquina começou a funcionar com a perfeição de um relógio roubado a um dos guardas suíços do Vaticano. Os resultados, que ás vezes no futebol não acompanham as metamorfoses das equipas, desta vez não tardaram em aparecer e a Roma surgiu invencível e imparável no arranque da temporada. Enquanto à campeã Juventus custava-lhe recuperar o ritmo perdido e com as equipas de Milão muito mais débeis do que o seu nome podia imaginar, a Roma deu um murro na mesa. Com as atenções viradas para o novo Nápoles ou as promissoras equipas forjadas pela Fiorentina e pelo próprio AS Lazio, foram eles os protagonistas inesperados de dois meses de competição que podem ser decisivos.

 

Se a história valer para algo, o espirito de Falcão, Conti, Emerson e Montella está vivo nesta nova geração romana. Eles demonstram que o Calcio nem sempre é um exercício futebolístico aborrecido. Rompem convenções e convidam a imaginar um futuro melhor para uma liga que sabe que mais baixo não pode cair. Um sopro de ar fresco rompe o futebol europeu a partir do mais inesperado dos coliseus. Na cidade eterna já se sonha com a história!


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Terça-feira, 15 de Outubro de 2013

Enquanto os seniores deprimem, tropeçam e aborrecem, os miúdos voltam a ser os principais pontos de interesse quando a temporada regular para e dá lugar aos encontros internacionais. Há uma clara mudança de rumo com o futebol apresentado por Rui Jorge e os seus discípulos. Uma decisão corajosa levou o seleccionador a defender um salto geracional para preparar o futuro. O tempo tem-lhe dado razão. Mas apesar disso, o mérito do técnico português vem acompanhado do renascimento das equipas B. Um ano e alguns meses depois os frutos estão à vista. E a pergunta de porque acabaram também.

Há nesta selecção de sub21 algo que escapa há vários anos à selecção principal de Portugal: alegria.

Ver as equipas de Rui Jorge nos últimos meses é um passaporte directo para o desfrute. Ao contrário dos herméticos, lentos, pesados e aborrecidos titulares do exército montado pelo sargento Bento, os miúdos jogam como miúdos. Com espontaneidade, com dinamismo e intensidade. Têm algo que provar e estão desejosos para não cair nos erros dos seus antecessores. Quem se lembra de jogadores portugueses desse Mundial sub-20 em que fomos finalistas? Onde estão eles?

Não foi por acaso que Rui Jorge percebeu, quando se falhou o apuramento para o Europeu em Israel, que algo estava errado na estrutura dos seus alunos mais veteranos. Traziam os vícios e os defeitos de uma geração perdida. Perdida desde meados da década. Em 2006 Portugal disputou o Europeu que organizou e desiludiu. Desde então, o país que o mundo aprendeu a admirar como uma escola de formação única, desapareceu do mapa. Ocasionalmente apareciam jogadores, potenciados sobre tudo pelas academias dos clubes. A nível nacional não existia um projecto coerente. A transição para a era Queiroz prometia uma nova atenção aos mais novos mas foi curta, polémica e sem soluções. Os problemas prosseguiam e vinham acompanhados de uma realidade mais preocupante: os putos não jogavam.

O fim do projecto das equipas B, em 2005, veio acompanhado de um imenso hiato que custou largos anos a uma promissora geração. Vieirinha, Paulo Machado, Miguel Veloso, Hélder Barbosa, Bruno Gama, Danny, Beto e companhia entraram tarde nas contas da selecção porque não tiveram a oportunidade de cumprir os prazos habituais do salto de gerações. Nesses anos perdidos, sem uma equipa B onde crescer, sem oportunidades na equipa principal (só o Sporting de Bento encontrava minutos para os mais novos, mais por necessidade que por vontade) os sucessivos empréstimos pela Europa atrasaram o desenvolvimento dos jogadores e a sua relação com o futebol português. Os resultados ressentiram-se mas, sobretudo, foi a falta clara de opções para a equipa A que deixou evidente que algo tinha sido muito mal planeado anos atrás. O fim das equipas B, o crescimento de jogadores estrangeiros a ponto de desfigurar totalmente os planteis dos principais clubes e a despromoção de vários emblemas conhecidos por lançar jovens com potencial estiveram a ponto de dar o golpe de misericórdia à formação do futebol português. Ninguém o diria olhando para uma equipa que marca muitos golos, sofre poucos, joga bem e impressiona.

 

Na actual geração dos sub21 há muito poucos jogadores que não tenham passado pelo universo das equipas B.

Saltaram dos juniores como os melhores da turma para equipas preparadas para estabelecer a ponte com os A. Jogam na II Liga mas, o mais importante, é que jogam. Ocasionalmente são convocados e treinam com os mais velhos. Empapam-se de futebol de elite cada vez mais cedo, com idade de juniores muitos deles. E parecem ser alunos que aprendem rápido. Rui Jorge entendeu isso, descartou muitos dos jogadores que ainda podia convocar, acima dos 21 anos, consciente que eram os sub20 que traziam essa nova rotina e dinâmica tão necessária aos planos da selecção. Estes jovens estão entre as listas dos futuríveis de muitos clubes europeus. Alguns como Tiago Illori ou Bruma já lá andam. Outros, como William Carvalho, João Mário, Bernardo Silva, José Sá, Paulo Oliveira, Tiago Silva, Ricardo ou Tozé algum dia lá chegarão. Há cinco anos atrás todos eles teriam sido emprestados pelos seus clubes para rodar. Agora fazem a ponte entre dois mundos.

José Sá, impressionante guarda-redes, é a prova viva de que o projecto das equipas B sempre fez sentido. O Maritimo, o clube onde actua, nunca desistiu dele e graças a isso tem sido uma constante fábrica de jogadores interessantes, com capacidade para recrutar jovens promessas noutros clubes. Sá, formado no Benfica, sabia que não iria estar nunca nos planos de um plantel instável e não quis cair no erro de muitos colegas e viver de empréstimos alheios. Formou-se no Funchal e hoje já não é o futuro. É o presente.

Luis Martins e Sérgio Oliveira são os mais veteranos. Pertencem à geração que sofreu na pele esse desnorte dos grandes. Ambos foram "queimados" pelos seus respectivos clubes e encontram agora em emblemas mais modestos como o Gil Vicente e o Paços de Ferreira os minutos que precisam. São a lembrança do que se perdeu, potenciais Bruno Gamas e Paulo Machados recuperados a tempo.

A falta de dinheiro de muitos dos clubes portugueses foi um dos elementos que propiciou o arranque das equipas B. Aproveitar cada vez mais a prata da casa em época de crise revelou-se uma solução elementar, algo que alguém se tinha esquecido com o passar dos anos. Sporting e Vitória de Guimarães entendem-no melhor que ninguém. Com graves problemas financeiros, os leões voltaram a virar-se para a magnifica academia de Alcochete. Bruma e Ilori já saíram mas Betinho, William, João Mário, Nuno Reis, Cedric, Guedes, Esgaio, Ribeiro, merecem que alguém os tenha em linha de conta para o futuro. Paulo Oliveira, Josué, João Amorim, Ricardo e Tiago Fernandes (ambos contratados pelo FC Porto), representam a mesma solução para o mesmo problema mas a norte.

FC Porto e SL Benfica têm trabalhado com outro ritmo nesta equação, até porque as suas prioridades (e o core do seu negócio) é diferente. Tozé, Rafa, Podtwaski e Tiago Ferreira, no Porto, e Ivan Cavaleiro, João Cancelo, Bernardo Silva, André Gomes e Miguel Rosa, em Lisboa, têm tido poucas ou nenhumas oportunidades na equipa principal mas jogam regularmente com os B à procura do seu melhor momento. O talento está lá, o acumular de minutos e de erros é fundamental. A estes juntam-se os jogadores resgatados da diáspora (um trabalho que também tem sido, progressivamente, feito para contrariar anos de vazio) e os talentos singulares que brotam pontualmente (Tiago Silva, Ricardo Horta, Ronny Lopes). Uma amálgama de qualidade filha dos novos tempos, o de um Portugal renascido e ambicioso.

 

Olhando para a fraca qualidade do plantel principal escolhido habitualmente por Paulo Bento, é fácil imaginar que muitos destes internacionais sub-21 estão chamados a bater à porta da equipa das Quinas mais cedo ou mais tarde. Dependerá, sobretudo, do seleccionador, dos jogos de interesses que controlam os destinos da selecção e dos planos de futuro. Há qualidade técnica e táctica para que muitos destes futebolistas, alguns já com minutos importantes, ambicionem algo mais. Os 16 anos de Alen Halilovic, recentemente internacional com a Croácia, ou os casos de Adam Januzj permitem entender que no futebol a idade é um critério relativo quando o talento e qualidade existe. Pensar que está aqui a base de uma nova geração de ouro pode ser um exagero, mas até os discípulos de Queiroz necessitaram oito anos para dar o salto de qualidade que se antecipava. Sem haver um fora-de-série da qualidade de Cristiano Ronaldo nesta geração, Portugal tem aqui opções válidas para todas as posições. E uma série de perfis que permitem imaginar que o futuro será mais risonho que este cinzento presente.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 13:26 | link do post | comentar | ver comentários (12)

Quinta-feira, 10 de Outubro de 2013

Em semana de jogos internacionais de selecções voltou à baila o velho e caduco (ou assim parecia) debate das nacionalizações. Dois frentes abertos, um em Espanha e outro em Inglaterra, colocaram no ponto de mira a história dos jogadores que optam por jogar por nações distintas daquelas de donde nasceram ou com as quais têm ligações familiar. No século XXI esse debate está totalmente fora de ordem na esmagadora maioria dos desportos mas o mediatismo do futebol garante que qualquer acto natural é visto ainda como uma aberração social.

Diego Costa é brasileiro. Quer jogar por Espanha. Adnan Januzaj é belga. E em Inglaterra querem que se torne parte dos Pross.

São dois casos bem diferentes mas que reabrem um debate antigo. É legitima, moral e ético que um jogador que não seja de um país possa representar a sua selecção nacional?

Ao contrário do que muitos querem fazer crer, nacionalizar jogadores não é uma moda do universo global de hoje.

A Itália de Vittorio Pozzo foi duplamente campeã do Mundo com argentinos e uruguaios no onze. Jogadores que tinham disputado a primeira final do Mundial, em 1930, e que foram transformados em italianos por oportunismo político. Eram os "oriundi". Ao mesmo tempo vários filhos da emigração, muitos dos quais nascidos ainda nos países de origem, começaram a jogar regularmente pelos seus novos países, ainda que levantando alguma polémica com os adeptos, como aconteceu em França com Kopa nos anos cinquenta. Alfredo di Stefano, que raramente esteve nos planos das selecções argentinas, disputou em 1962 o Mundial do Chile com Espanha. Na mesma equipa estava o idolo do eterno rival, Ladislao Kubala, um dos maiores jogadores húngaros da história. Mesmo assim a campanha dos espanhóis não passou à história e quando, dois anos depois, venceram o seu primeiro Europeu, o onze era composto por jogadores exclusivamente nascidos em Espanha. O mesmo não se podia dizer das potências coloniais (Portugal, França) e nem sequer dos ingleses que sempre procuraram assediar os melhores jogadores britânicos, na maior parte das vezes sem sucesso. E quando chegaram os anos oitenta, os brasileiros começaram a tomar parte na diáspora que levou vários dos seus atletas a surgirem como internacionais japoneses, de equipas do Médio Oriente, da América central e até da Europa. Donato com Espanha, Cacau com a Alemanha, Eduardo com a Croácia eram apenas alguns dos exemplos mais mediáticos. A Espanha de 2008, na segunda vez que vencerem o Europeu, arrancava para o ataque sabendo que a cobrir as costas estava o experiente brasileiro Marcos Senna. O êxito de Portugal em 2004 deveu-se, e muito, ao brasileiro Deco. Antes dele tinha havido excepções também no futebol português e depois dele veio Pepe, Liedson, Makukula e todos os filhos da comunidade guineense que fazem parte dos escalões internacionais. Olisadebe, nigeriano, jogou pela Polónia. Argentinos e uruguaios voltaram a actuar pela Itália e a diáspora deixou uma Alemanha com jogadores de ascendência turca, tunisina, polaca e checa e uma França com filhos do Império mas também de emigrantes portugueses, arménios e argelinos. No fundo a velha história de que a selecção nacional é exclusiva dos nativos de cada país há muito tempo que deixou de ser uma realidade.

 

E então, que fazer nestes casos?

Há, como em tudo na vida, uma moralidade no futebol que deveria ser respeitada ainda que não imposta.

O critério base da FIFA parte do principio que um jogador que nunca disputou um jogo oficial com o seu país de origem e vive há cinco anos no país de acolhimento, pode ser internacional por essa nação. Exclui os jogos amigáveis destas contas o que no caso de Diego Costa amplia a discussão. O brasileiro já foi chamado por Scolari e já jogou pelo escrete canarinho. Não renunciou a jogar pelo Brasil. Mas como a selecção está proibida de realizar encontros oficiais até ao Mundial, não há forma de prender oficialmente o jogador. Até Junho de 2014, jogue onde jogue Diego Costa, será sempre de forma temporal porque a Espanha também deixará de ter jogos oficiais a fazer quando se qualifique directamente. O jogador já manifestou vontade em jogar pela selecção espanhola, consciente do seu valor e também da falta de concorrência no ataque da Roja ao contrário do cenário que encontraria num Brasil com Hulk, Neymar, Fred, Leandro Damião, Pato e Jô. A sua escolha parece claramente oportunista (não só por já ter jogado pelo Brasil mas também porque, até há poucas semanas, era fácil encontrar Diego Costa em concentrações oficiais e nas ruas de Madrid com auriculares, indumentária e adereços evocando a bandeira brasileira) e cínica. Mas está no seu legitimo direito.

Já o caso de Adnan Januzaj é distinto.

O belga é filho de uma diáspora tremenda. Nasceu em Bruxelas e aí se criou mas a sua ascendência familiar vem dos Balcãs entre kosovares, albaneses e montenegrinos. Tem ainda uma costela turca na família. Condições suficientes para reclamar jogar com qualquer uma destas selecções. Mas Inglaterra, país onde vive actualmente, também está interessada no seu potencial. O problema é que teria de esperar que se cumprissem cinco anos de vida do jogador no país (acima dos 18 anos) o que alargaria a sua internacionalização até aos 23. Um cenário pouco plausível, deixando evidente que Januzaj provavelmente escolha a Bélgica como o país a representar. O seu caso é distinto ao de Costa. Existem laços familiares com vários países ainda que é difícil entender até que ponto chega a sua identificação. Ozil, por exemplo, manifestou sempre desejo de jogar com a Alemanha, país onde nasceu e cresceu, contra a vontade de uma família exclusivamente turca. Os irmãos Boateng jogam por nações distintas (Alemanha e Gana) porque assim o sentem. Pepe sempre manifestou sentir-se mais português do que brasileiro ao contrário de Deco e Liedson. O avançado do Atlético de Madrid, Diego Costa, é claramente (e sente-se claramente) brasileiro mas entende que o futebol é um negócio e jogar hoje com Espanha quotiza em alta. Ao contrário de Senna (já veterano e sem hipóteses de ser chamado) sabe-se cobiçado por duas potências e pode escolher entre a que quiser. É a versão mais mercantilista das nacionalizações.

 

É difícil definir a lógica por detrás deste processo. Pessoalmente não tenho nada contra que um jogador actue por um país onde não nasceu ou com o qual não tem nenhum laço de sangue sempre e quando sinta esse país como uma segunda pátria. Seja porque cresceu desportivamente aí, porque sente que esse é o país que o valoriza de verdade ou porque futebolisticamente está integrado nessa cultura. Não é preciso fazer provas genéticas e de ADN para entender o compromisso e a entrega que esse jogador terá com a camisola do país que elegeu como seu. Ninguém escolhe onde nasce. É-me mais difícil de aceitar cenários bem diferentes, onde a escolha é arbitrária e oportunista e onde o jogador apenas utiliza a plataforma da selecção como veículo próprio. Em Portugal tivemos casos claramente em ambos os lados da barricada, Pepe no primeiro e Liedson no segundo (Deco poderia considerar-se a meio caminho, mas a pender mais para o primeiro ponto). E ninguém se surpreenderá se a situação se venha a repetir. O que é perigoso é lançar debates demagógicos e populistas sobre nacionalismos e xenofobia quando o futebol continua a ser a melhor forma de unir os povos à volta de uma paixão em comum.  



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Quinta-feira, 3 de Outubro de 2013

O futebol português tem, muitas vezes, nos próprios portugueses, o seu pior inimigo. Este ano havia duas equipas lusas no pote 1 da Champions League. O Benfica vinha de uma final perdida da Liga Europa e muitos, como sempre, tentaram vender esses feitos como uma subida do futebol português no escalão internacional. Não era. A Champions League, prova que coloca cada macaco no seu galho, deixou claro que Portugal ainda pertence a uma segunda divisão europeia quando o árbitro apito para o início do jogo e a demagogia fica no balneário.

 

É dificil ver pessoas surpreendidas com as merecidas derrotas de FC Porto e SL Benfica.

Muito dificil. A maior parte dessas análises saem de seres que vivem em nuvens, talvez esmagados pelo poder mediático dos órgãos de comunicação que teimam em difundir mensagens longe da crua realidade. Ter o presidente de um clube a prometer aos adeptos que a sua equipa vai lutar para ser campeã europeia só porque a final é no seu estádio devia ser motivo de destituição imediata. Nem o Benfica tem o melhor plantel dos últimos 30 anos (uma afirmação que é uma total falta de respeito a grandes, grandes equipas do Benfica) nem organizar uma final dá direito moral a pensar que se pode ganhar. Que o digam ao Bayern Munchen ou à Roma, por exemplo, finalistas vencidos em casa. E esses foram os que lá chegaram.

O futebol português não está em condições de ganhar uma Champions League na próxima década salvo que um cataclismo mundial elimine de golpe a dez ou vinte equipas do seu caminho. É a crua realidade e vale tanto para os encarnados como para os azuis-e-brancos.

O FC Porto perdeu bem para um Atlético de Madrid muito parecido ao FCP de Mourinho. Tinha sofrido para vencer o modesto FK Austria (outrora glória europeia) e terá agora de disputar com o Zenit o apuramento. Se for eliminado não vem mal ao mundo. São duas realidades competitivas incomparáveis. Os dragões têm o pedigree e a experiência europeia (o clube, não o plantel). O Zenit tem o dinheiro. E nesta prova da UEFA o dinheiro conta muito. E mais se se sabe o que fazer com ele. Gastar milhões em jogadores para a equipa B não parece ser a melhor alternativa para encontrar um atalho para o sucesso.

 

Pode o campeão português, uma liga mais previsível que a sueca, onde só duas equipas têm argumentos lógicos e realistas para lutar pelo título (por muito bom que tenha sido o arranque de Sporting e Braga, bom e necessário), ombrear com o líder da liga espanhola. Com uma equipa formatada para ganhar a todo o custo, capaz de fazer soar como poucas ao notável Barça, de vencer duas vezes em poucos meses o Real Madrid em casa (depois de 13 anos de derrotas consecutivas)?

Logicamente, não.

Mas para os adeptos, embriagados de populismo, a vitória era uma obrigação, o sonho europeu uma realidade. São os mesmos que acreditavam no ano pós-AVB que o FC Porto era a terceira melhor equipa da Europa, como se a Europa League fosse medidor de algo. E os que pensavam que o Málaga, só porque não tinha pedigree, era fácil e manobrável, como se provou. O FC Porto, e os seus adeptos, têm-se esquecido que competem numa liga medíocre, com equipas medíocres e um ritmo de jogo que vai do lento ao parado. Não há exigência, não há estimulo e isso passa factura nos jogos a sério. Nos jogos europeus. Aí um jogador que vale para a liga deixa rapidamente de valer e vai-se abaixo. Aí as falhas de marcação que na liga não resultam em nada, transformam-se em golo. O FC Porto até jogou melhor que o Atlético em grande parte do seu jogo mas não sabia a que jogava. Não soube nem matar nem soube defender a vantagem e acabou presa de uma formação que mede bem os seus tempos, o seu desgaste e sabe aproveitar cada ocasião para ferir de morte o rival. O Atlético é um dos outsiders para esta Champions porque vem formatado de dois anos de máxima exigência, encurtando distância para o binómio Barça-Madrid e porque tem um plantel de jogadores de muitos kms nas pernas, veteranos de mil batalhas. O FC Porto é uma equipa verde, feita para exportação, sem liderança salvo a de Lucho que dura uma hora. A essa equipa não se pode pedir mais que tentar vencer um duelo desigual com o Zenit, a equipa que pode comprar num só dia os melhores jogadores dos dois grandes portugueses, sem pestanejar. É uma equipa irregular, com problemas defensivos sérios mas a quem os adeptos azuis e brancos deviam olhar com o respeito que, muitas vezes, parecem ter perdido. Tanto sucesso às vezes tolda as vistas e faz-nos perder perspectiva e humildade. Aos portugueses mais do que a nenhum outro povo, talvez porque estamos pouco habituados a sensações positivas.

Com o Benfica a situação é ainda mais grave, sobretudo porque o seu pedigree europeu é uma lenda antiga que a gestão JJ não conseguiu nunca transformar em realidade. A final da Liga Europa foi uma ilusão de competitividade para os adeptos, esquecendo-se de que o Braga também já foi finalista vencido e não foi por isso que se tornou, da noite para o dia, um player importante nos palcos europeus. O seu grupo é mais acessível (Anderlecht e Olympiakos são, claramente, de um nivel similar) mas como é possível pensar-se em ir a Paris vencer com este plantel, com esta desorganização mental do treinador e este balneário destruido uma formação que pode deixar no banco a Lucas Moura, Javier Pastore e não jogar com Thiago Silva? A uma equipa que não perdeu um só jogo com o Barcelona na época passada e que pode gastar numa hora o que o Benfica não pode (ou melhor, não deve) gastar num ano? Uma vez mais a perspectiva dos adeptos perde-se no meio da propaganda e depois os correctivos em campo parecem mais duros do que são na realidade.

O futebol português tem sido, historicamente, um overachiever nos palcos europeus. Somos o sexto país com mais troféus europeus, apenas atrás dos Big Four e da Holanda (sobretudo graças ao trabalho do Ajax) e à frente de França ou Rússia (mesmo na versão soviética). Isso diz muito de nós e na da nossa capacidade de superação. Mas tudo tem as suas limitações. Os rankings da UEFA enganam porque não reflectem a realidade do momento em que as equipas sobem ao relvado. O Dortmund, uma das melhores equipas europeias e vice-campeão em título, pertencia ao pote 3 do sorteio. O facto de FC Porto e SL Benfica terem sido cabeças de série não adianta nada se as suas equipas e os seus treinadores estão longe, muito longe, de ser parte da elite. Na ausência do poderio financeiro, do talento individual e da destreza táctica, os adeptos apenas podem acreditar em ilusões que dificilmente se tornarão em realidade. A Champions League é para projectos completos e complexos. Não para demagogos e sonhadores!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:13 | link do post | comentar | ver comentários (6)

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