Domingo, 31 de Março de 2013

Durante quatro anos o futebol foi o escape de uma equipa repleta de magos que desafiaram a sombra do nazismo. O Wunderteam foi mais do que uma invenção desde génio precoce chamado Hugo Meisl. Simbolo da cultura das casas de café da Viena dos anos vinte, foi um grito de independência de soldados com a bola nos pés contra o pânico de uma guerra que ninguém podia evitar. Duas décadas antes da consagração do mais belo futebol do centro da Europa pelos magiares de Sebes, a Áustria de Sindelaar ergueu a bandeira da escola continental programada por Jimmy Hogan.


Na década de 30 o futebol já era mais do que uma curiosidade desportiva. Cada país tinha já formada a sua liga, o amadorismo começava a ser abandonado e as duas primeiras edições do Mundial de futebol tinham apresentado ao mundo o poderio do jogo sul-americano (Argentina e Uruguai) e a eficácia do Calcio italiano. A Inglaterra continuava isolada do Mundo, acreditando na sua total superioridade e no coração da Europa começava a nascer um novo estilo de jogo, arrojado e profundamente belo. Uma escola impulsionada por um inglês sui generis e levada à prática por um austríaco com alma de empreendedor, Hugo Meisl.

Em Abril de 1931 a seleção austríaca, orientada pelo mago vienense, começou uma série inesquecível de jogos sem perder. Durou mais de ano e meio - até Dezembro de 1932 - e lançou as bases do "jogo bonito", um futebol de troca rápida de bola, de movimentações organizadas, versatéis e coordenadas por um verdadeiro poeta dos relvados, Mathias Sindelar.

Meisl, visionário como poucos na história do desporto rei, aproveitou as lições aprendidas durante uma viagem ás ilhas britânicas. Em vez de seguir o modelo inglês do seu amigo intimo Herbert Chapman - inventor do WM e à época técnico do invencível Arsenal - preferiu apostar por uma variante do modelo escocês de Jimmy Hogan, muito mais assente no toque de bola no pé e no passe rápido em lugar dos lançamentos longos e em profundidade. Sem inovar no esquema táctico, que continuava a ser o inevitável 2-3-5  (Meisl nunca acreditou no WM) o técnico chegou à sua Áustria natal e colocou em prática toda a teoria que tinha aprendido. Tomou o comando da selecção austriaca e rodeou-se de jovens talentosos que actuavam principalmente nos clubes da capital. Pekarek, Smitsik, Vogl, Schall, Zizchek, Nausch e acima de tudo o "Homem de Papel" (devido à sua compleição física e rapidez) Mathias Sindelar, foram as bases em que o técnico montou o seu sistema de jogo, como um carrousell, onde a troca de bola a meio campo e o desdobramento do eixo ofensivo provocava uma série de desequilíbrios na defesa contrária. No sistema de Meisl a táctica não era fixa. O médio centro apoiava o eixo ofensivo que atacava com seis elementos e era nele que começava e terminava todo o jogo ofensivo. Nascia a figura do 10, numa época onde ainda eram os extremos que habitualmente levavam a bola nos pés em campo. Apesar da táctica pouco inovadora, discutida até à exaustão nas longas tertúlias dos cafés vienenses pelos intelectuais mais importantes da sociedade austríaca, o estilo de jogo de Meisl preconizou uma autêntica revolução de pressing e circulação de bola, tornando-se no avô do que seria o Futebol Total.

 

Foi dessa forma que durante 18 meses a Áustria foi uma selecção invencivel.

Por essa época eram vistos no Velho Continente como a única equipa capaz de bater a armada sul-americana, que tinha dominado os Jogos Olímpicos de 1928 e logo o Mundial de 1930, então as duas únicas aventuras internacionais do beautiful game. Na prova seguinte, marcada em 1934 para França, os austríacos lideravam as apostas dos favoritos e os primeiros jogos deram razão aos seus adeptos. Depois de vencer por 6-0 a vizinha Alemanha - num jogo que traria futuras consequências politicas - 6-2 a Suiça e 8-0 a vizinha Hungria, a equipa de Meisl chegava ás meias-finais com clara vantagem. Só que o jogo disputado sobre um imenso temporal que impediu a rápida circulação de bola dos austríacos ficou marcado por um garrafal erro arbitral, quando um avançado italiano empurrou o guardião austriaco e o árbitro fez vista grossa. Uma derrota que teve mão de Mussolini (a Itália venceria a prova e reeditaria o triunfo quatro anos depois, também após fortes pressões do Duce) e que destrui a fama de invencibilidade austríaca.

Mas da derrota nasceu a lenda, tal como sucederia mais tarde com os seus sucessor húngaros. E a fama do Wunderteam ficou para a posteridade. De tal forma que Adolf Hitler, um homem nada entusiasmado com a visceralidade do mundo do futebol mas que tinha assistido à humilhante derrota alemã, não hesitou após o Anchluss em exigir a inclusão dos jogadores austriacos na equipa alemã para vencer o Mundial de 1938. Por essa altura já o maestro Meisl, o primeiro a defender a máxima "A melhor defesa é o ataque", já tinha falecido e Sindelaar, a sua maior estrela, cometido suicídio poucos dias antes de ser preso pela Gestapo.

 

O irromper da II Guerra Mundial destruiu a geração do Wunderteam. A maioria dos jogadores acabou por falecer ou ficar ferida durante o conflito e quando a guerra terminou, em 1945, o futebol austríaco estava de rastos. O país nunca mais voltou a ter uma selecção de alto nível mas lançou as bases do futebol do centro da Europa, distinto a qualquer outro estilo de jogo do Velho Continente. Uma revolução que se transferiu na década seguinte para os vizinhos húngaros, e que nos anos 60 seria transformada paralelamente por um holandês e outro austríaco, Ernst Happell, na base do Futebol Total holandês.



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Segunda-feira, 25 de Março de 2013

A via crucis é inevitável. Há uma certa melancolia em cada fase de apuramento para uma competição internacional da selecção de futebol portuguesa. Um olhar preso nos tropeções do passado, um sufoco moral que obriga a um país tão mau em contas tenha de se valer da matemática até ao suspiro derradeiro. Tudo porque, o caminho do sucesso elimina os rastos do caminho certo, e Portugal continua a querer subsistir entre a elite do futebol à base de resultados e não de ideias. Até que os resultados faltem. Depois, o abismo...

Digam que Portugal é uma equipa que joga mal, e a primeira resposta será sempre a do adepto que cita de memória os pódios conseguidos nos torneios internacionais dos últimos anos. Digam que Portugal não tem uma boa equipa técnica, e lembrar-se-ão de dizer maravilhas de Scolari, Paulo Bento e (quiçá) Queiroz, lembrando vitórias pretéritas e esse espírito de sargentinho (não sargentão) de que o português tanto gosta. Digam que Portugal tem um plantel curto, um plantel sem demasiada qualidade, e lembrar-se-ão imediatamente de Cristiano Ronaldo, João Moutinho, Nani e Pepe para justificar tudo o resto. Digam algo negativo sobre Portugal e a sua prestação habitual nas fases de qualificação e a única resposta que vão ouvir é a habitual, a mesma que um individuo como José Mourinho não teve receio de proclamara aos céus algo do estilo "que se lixe a qualificação, o que importa é estar e depois já se vê". E como, para muitos, Portugal se tem visto bem, aqui afinal não há um só problema que tratar.

Claro que isso é o que jogadores, técnicos e dirigentes querem que as pessoas pensem.

Evidentemente que é falso. Demasiado falso para o mais crédulo acreditar e no entanto, não se imaginam quantos crédulos existem. Portugal, é verdade, tem um registo em provas internacionais bastante bom para um país de 10 milhões de habitantes. Mas está mais do que provado que a correlação económica e social, só por si, não garante títulos. Na última década Portugal perdeu um Europeu em casa contra a Grécia. Caiu nas meias-finais de um Mundial contra a França, tendo deixado pelo caminho a Holanda e Inglaterra. Caiu num Europeu com a Alemanha e num Mundial e Europeu com a campeã, Espanha. Não parece, à partida, um mau registo. A diferença está em ver como se chegou até lá e, sobretudo, como se caiu. Em ambos os casos a resposta é fácil: sem ideias, sem futebol e sem um colectivo. O que faz toda a diferença.

 

A Portugal falta-lhe hoje o mesmo que faltava há cinco anos. Não mudou nada nesse aspecto.

É uma selecção com uma base de escolhas extremamente reduzidas que se agrava ainda mais pela mentalidade redutora e classicista do dirigente/técnico/adepto português que associa os jogadores de maior renome, os mais caros ou mais bem pagos, com os mais idóneos para jogar pelo país. Não é assim. No jogo de Israel, o obtuso Paulo Bento usou todos os nomes que tinha à sua disposição. Esqueceu-se de que o trabalho dele é utilizar jogadores. Em campo estavam atletas fisicamente em má forma física e anímica. Jogadores que jogam a outra coisa, a outro ritmo. Jogadores que não têm condições para serem titulares absolutos com a selecção e que no entanto, jogo atrás de jogo, aí estão.

Jogadores como João Pereira, Bruno Alves, Miguel Veloso, Raul Meireles, Varela e Hélder Postiga, para por caras e nomes.

Nomes, membros da "família Bento" com carta branca para fazerem o que quiserem em campo, que nada questiona a sua titularidade ao jogo seguinte. Quando Vierinha, um jogador sem pedigree público, entrou em campo as sensações da equipa mudaram logo. E mudaram porque utilizar um jogador fora do esquema fechado de Bento obrigou forçosamente Portugal a lidar com o seu mais grave problema, a falta de ideias e conceitos tácticos.

Paulo Bento é um péssimo treinador no aspecto táctico. É fechado, redutor e insiste regularmente no mesmo modelo, mostrando uma incapacidade atroz em ler os jogos e a readaptar-se. Rodeia-se dos jogadores que ele entende que melhor aplicam a sua filosofia e espera que depois seja a individualidade a fazer a diferença. É um técnico primário e sempre será. Essa é outra das razões porque é seleccionador.

Portugal não reagiu tacticamente ao empate israelita e muito menos ao segundo golo, desperdiçando uma vantagem conseguida, segundo o treinador "demasiado cedo", como se estivesse assumir que mentalmente é incapaz de manter uma equipa motivada num campo onde era imperioso ganhar. É uma conversa que já se ouviu com Bento no passado, nada de novo. Só a entrada de Vierinha e Hugo Almeida - tarde demais - obrigou Portugal a mudar o desenho, a deixar o 4-3-3 para apostar num 4-4-2, com Postiga por detrás de Almeida e Ronaldo como número 10 - ao ponto a que chegou o futebol português - e dois médios interiores abrindo as alas para a subida dos laterais, algo que não se viu durante todo o período de tempo em que funcionou o 4-3-3 clássico. Sem essas ideias, Portugal é uma equipa plana, demasiado pendente do jogo transicional que favorece tanto Cristiano Ronaldo mas que prejudica todos os outros. Um jogo que só funcionou no Europeu contra uma Holanda partida em duas. Contra a Dinamarca e República Checa teve muitos problemas em impor-se e frente à Espanha foi o que se viu.

Sem jogadores e sem treinador, o raro é que uma selecção consiga algo. E o pior é quando esse treinador é incapaz de incutir aos jogadores adrenalina. Portugal joga as fases de qualificação a um ritmo sonolento, obrigado, como quem tem de despertar-se todos os dias de madrugada para encarar oito horas de árdua jornada laboral. Não há tensão competitiva, querer, dinamismo físico e pressão menta que salve esta equipa. Nem Ronaldo, tão voraz no Real Madrid, consegue valer a sua braçadeira. A equipa joga a passo, linhas distantes, e quando qualquer rival coloca um pouco mais de velocidade no seu jogo - viu-se com a Rússia, a Irlanda do Norte e com Israel - o barco vai ao fundo. Se já é mau que os jogadores escolhidos não sejam os idóneos e que o treinador seja um problema, não a solução, que essa dupla ainda cumpra o seu trabalho quase como queixando-se é demais. Tarde ou cedo a realidade acabará por bater à porta.

 

Portugal já sabe que o primeiro lugar do grupo é uma impossibilidade, se não matemática pelo menos moral. E que o segundo será um mano a mano intenso até ao fim, sobretudo com o jogo do Estádio da Luz contra a equipa israelita a fazer a diferença. Depois vem o play-off, mais um consecutivo, o terceiro. A mim importa-me pouco que Portugal chegue a uma competição internacional via play-off ou como primeiro do grupo, se tiver demonstrado em campo ser uma equipa, bem treinada, com jogadores comprometidos, com uma convocatória que respeite a qualidade e não o estatuto. O problema é que isso nunca acontece e o cenário vai-se repetindo e os problemas ficam sem resolver-se e assim continuarão até que a selecção falhe uma ou duas provas internacionais consecutivas e entre, como outros país, numa espiral autodestrutiva. Aí tudo o que for escrito aqui será relembrado, mas sem um futebol de formação de qualidade e com figuras individuais como Cristiano Ronaldo cada vez mais escassas na nossa fábrica de futebolistas, talvez seja tarde demais.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 13:22 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Quarta-feira, 20 de Março de 2013

José Mourinho quebrou o seu silêncio selectivo para dar uma entrevista à RTP que é como quem dá a possibilidade aos amigos de lucrarem com palavras que semana atrás semana se recusa a prenunciar onde deve, na sala de conferências de imprensa do clube que lhe paga 12 milhões de euros ao ano. E fê-lo para, entre outras coisas, denunciar a corrupção que está por detrás do Ballon D´Or. O mesmo prémio que em 2010, quando venceu a primeira edição, não pareceu ter nenhum problema. O mesmo prémio que, ano após ano, treinadores, jogadores, jornalistas e público em geral se sentem determinados a dar uma importância que, no fundo, não tem.

Vicente del Bosque venceu o Ballon D´Or ao Melhor Treinador de 2012.

Ganhou-o com mais de 10% dos votos do segundo, José Mourinho, o vencedor inaugural do prémio e 29% mais do que Josep Guardiola, a quem sucedeu no palmarés. Venceu-o com o voto maioritário de seleccionadores e jornalistas, mas não dos capitães que preferiram a figura de Mourinho. A gala foi a 7 de Janeiro de 2013. Mais de dois meses depois aparece Mourinho, qual vencido despeitado, anunciando que foi o seu conhecimento da existência de fraude nas votações que o levou a não marcar presença na gala (ao contrário de Cristiano Ronaldo, também português, também do Real Madrid, também segundo nas votações). Está no seu direito.

Os factos parecem dar-lhe razão. Paulo Duarte, seu velho amigo e antigo jogador nos seus tempos de técnico da União de Leiria, confessou que não teve oportunidade de votar porque o formulário lhe chegou para lá da data limite de voto. Uma situação comum a países como a Guiné-Bissau ou Costa de Marfim, nações que, a julgar pelo lido, votariam em Mourinho para vencer o prémio. O técnico português fala ainda de personalidades que lhe terão ligado falando na existência de boletins de voto alterados. Uma vez mais, os seleccionadores da Zâmbia e Zimbabwe queixaram-se na imprensa local que os nomes que aparecem na lista oficial da FIFA não se correspondem com as suas votações, um deles referindo até que nunca chegou a ver o formulário de foto e que alguém terá votado por ele.

Curiosamente, os amigos de Mourinho permanecem em silêncio e seguramente continuarão calados porque comprar uma guerra contra a FIFA é, habitualmente, meio caminho para ter uma carreira curta e sem grandes oportunidades. A velha raposa chamada Blatter raramente esquece estes insultos à sua honra, se é que lhe sobra alguma para mostrar ao público depois de todos os escândalos dos últimos quinze anos de presidência. Parece ser perfeitamente possível dizer que houve irregularidades e fraude nas votações do Ballon D´Or. E quê?

 

O que mais supreende - ou talvez não - nas declarações de José Mourinho é a sua percepção que os erros acontecem exclusivamente no ano em que perde.

Em 2010, quando venceu o prémio - também contra Del Bosque, então recém-consagrado campeão do Mundo pela selecção espanhola - o técnico português subiu exaltante ao palco, celebrou, dedicou o prémio e nunca se lembrou de rever a lista de votações para confirmar se faltava algum país, não fossem eles ter votado noutro técnico. Como tantas vezes sucede nas acusações aos comités de arbitragem, as palavras surgiram apenas depois de uma derrota. Não lhe retira a razão mas sim a moral de falar quando, nos momentos de glória, tudo fica guardado num baú e escondido debaixo da cama para não chamar à atenção.

Parece-me claro que um prémio com estas caracteristicas tem tudo para ser alvo de fraude. Nada resta já do velho Ballon D´Or, um prémio de glamour mais do que reconhecimento real de talento. Ao abrir as votações, muito democraticamente, a todos os capitães, seleccionadores e correspondentes da France Football do mundo, a FIFA abre também a caixa de pandora. Em países onde a corrupção está oficialmente instalada, seguramente que os votos podiam ser comprados facilmente. Em estados que seguem apenas os máximos eventos desportivos, naturalmente que a votação está condicionada aos nomes mais emblemáticos. Na Etiópia, onde a Premier é seguida com devoção, Roberto Mancini coleccionou vários pontos que não se repetiram em nenhum outro país. Nos países hispânicos e lusófonos o índice de sucesso de Messi e Ronaldo foi proporcional à influência cultural de cada um e o seleccionador espanhol, perdão, chinês, não teve problemas em votar em dois técnicos e três jogadores do seu país referindo-se ao jornal Marca como algo normal porque há sempre que votar nos seus.

O que nos leva a perguntar sobre o valor real que possa ter um prémio que se transformou num concurso de popularidade nos últimos três anos, um concurso fechado nos nomes mais simbólicos do futebol internacional, distante da ideologia inicial de um prémio que não teve problemas em celebrar os êxitos de Sivori, Masopust, Albert, Blokhin, Simonsen, Belanov, Owen e Cannavaro quando havia jogadores muito mais completos em activo, os mesmos que hoje estão destinados a vencer como condição sine qua non. O Ballon D´Or deixou de ter o prestigio e o respeito de quem via algo original e distinto na atribuição do prémio da France Football, consciente que num desporto colectivo a entronização pessoal faz sempre pouco sentido.

 

As queixas de Mourinho deixam-no, uma vez mais, nú e só ante uma das máximas entidades do jogo. Depois de ter desafiado a UEFA com a sua lista de erros arbitrais, agora o técnico português lança um dardo envenenado à FIFA a propósito do seu prémio mediático comprado a peso de ouro à família L´Equipe-France Football. O treinador do Real Madrid pode perfeitamente queixar-se em ambos os casos, até porque os momentos concretos arbitrais que cita, bem com os erros nas votações, são reais. Mas esquecer-se das mesmas particularidades quando saiu vencedor, tanto em provas europeias (Old Trafford, 2004; San Siro, 2010; quem sabe se Old Trafford, 2013 também) como na atribuição do primeiro Ballon D´Or ao melhor técnico da história apenas deixam reflectida uma pálida e triste imagem de um treinador genial consumido cada vez mais pela sombra da sua própria persona.



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Quarta-feira, 13 de Março de 2013

A justiça poética no futebol funciona assim. A era dourada de Guardiola terminou sem uma terceira Champions quando Ramires, isolado, não perdoou no duelo com Valdés. Um ano depois, Niang, na mesma situação, apenas acertou no poste e consumou o péssimo partido do AC Milan. O baile de futebol aplicado pelo Barcelona é também um bálsamo para os que reclamavam um regresso rápido às origens. Mais do que nunca, os homens de blaugrana recuaram no tempo, até 2009, e aplicaram todo o ideário desenhado por Guardiola à sua chegada ao banco do Camp Nou. Por isso venceram, por isso humilharam e por isso têm todas as condições para ir até ao fim. Sendo fieis às suas origens.

 

Depois da semana negra dos catalães, escrevi precisamente aqui que o Barcelona tinha tudo para vencer a eliminatória com o AC Milan. "A grandeza do plantel do Barça, o melhor do Mundo sem dúvida, pode permitir tudo, incluída uma goleada ao Milan e uma caminhada heróica rumo ao terceiro titulo europeu conquistado em Wembley. Se procurarem mais Xavi e menos a Messi, se a bola volte a sair dos pés de Valdés jogável, se as linhas se abrirem e a posse seja a ferramenta e não o fim, uma equipa do calibre e qualidade do Barcelona pode com tudo. "

Dito e feito.

O jogo de ontem foi uma viagem no tempo patrocinada pela Qatar Airways. O voo saiu do aeroporto do Camp Nou e voou entre as nuvens até 2009, até a essa essência básica onde Xavi é o eixo pendular. Onde Messi não se obcecou com vir jogar atrás do meio-campo e move-se mais e mais depressa que a sua sombra. Onde há uma figura ofensiva mais presente, que obriga os centrais a não distraírem-se apenas com os passos do argentino. Onde o campo se abre e os laterais entram em jogo. Onde a defesa sobe linhas e Valdés coloca a bola jogável, e onde morder, pressionar e recuperar é feito a uma velocidade supersónica.

Tudo aquilo que o Barcelona foi em Fevereiro, todo esse espelho sombrio de cansaço, de falta de forças e motivação, tudo isso desapareceu neste reflexo perfeito do que era a equipa nos seus primórdios, onde cada bola recuperada era ganha com devoção, com ganas. O Barça recuperou mais bolas do que em toda a temporada, pressionou mais intensamente do que nunca. Três dos quatro golos saíram de lances em que a bola é ganha num lance ofensivo contrário. Ganha com timing preciso, impedindo o ataque do rival e transformando uma posse defensiva numa lança ao contrário. Foram três golos dos quais Guardiola, mais do que nenhum outro, estaria profundamente orgulho. Foram três golos para todos aqueles que se levantaram a aplaudir a maravilhosa equipa que Pep lançou ao mundo naquele 2008/09 memorável.

 

O Milan foi a mesma equipa de San Siro, mas numa versão ainda mais lenta, mais conservadora.

Faltou-lhe uma referência ofensiva sólida - como foram Drogba e Milito nas aventuras bem sucedidas de Chelsea e Inter ao Camp Nou - e Niang, claramente, mostrou ser ainda muito verde para estas noites europeias. O seu erro, crucial no desenrolar do jogo, foi a sorte do encontro. Se o Milan tinha marcado naquele lance, o futebol teria sido, sem dúvida, injusto com a equipa catalã, a única que quis entrar em campo para jogar sem complexos e sem pressão. O golo inaugural de Messi - um disparo indefensável - ajudou a tirar de cima os nervos e a lançar os adeptos e os jogadores na cruzada da "remontada" de que falava Xavi. Desde 2000, numa vitória por 5-1 contra o Chelsea, que o Camp Nou não vivia uma noite assim.

E tal como então, foi o jogo coral da equipa que deu lugar a um festival de golos. Messi bisou, partindo de fora de jogo (antes tinha havido já um penalty de Piqué, por mão na bola, e um ligeiro toque de Abate, sobre Pedro, na área), e Villa, um trabalhador incansável e um dos grandes injustiçados do balneário blaugrana, marcou de forma magistral o terceiro golo. Era o que faltava para completar a reviravolta. O Milan era incapaz de reagir. Não tinha nem jogadores nem banco para inverter a tendência do jogo. Ao contrário do duelo de San Siro, onde fez das suas fraquezas virtudes, onde soube anular o jogo do rival e fazer do contra-ataque uma arma capaz de fazer sangue, o Camp Nou foi demasiado para a jovem squadra milanesa. Incapazes de criar perigo, incapazes de aguentar a bola, incapazes de dar essa sensação de querer algo mais. Ao contrário de Inter e Chelsea, equipas de homens maduros e com experiência europeia, capazes de sofrer, o Milan foi inocente e frágil e mereceu ser atropelado por uma equipa do Barcelona que quase nunca tirou o pé do acelerador. O golo final, a lembrar o épico tento apontado à Itália em Junho, coroou mais um grande jogo de Jordi Alba e esse espírito que tanto tem faltado ao clube blaugrana nos últimos meses.

Ao contrário do que muitos podem pensar, o jogo em Itália não foi um acidente de percurso. O Barcelona que viajou a Itália (e que perdeu o duplo confronto com o Real Madrid) era realmente uma equipa com muitos problemas, físicos e anímicos, incapaz de apresentar algo fresco e inovador no relvado que perpetuasse a sua imensa lenda. O que provocou o triunfo de ontem, mais do que os erros e falta de ambição do AC Milan, foi a mudança de mentalidade da equipa técnica, assimilada pelos jogadores. Só com esse regresso ao passado o 4-0 e o apuramento foram possíveis. Uma réplica do jogo em Itália, de uma equipa pastelenta e previsível teria sido tudo aquilo que os italianos queriam. Não tiveram sorte, nem engenho para adaptar-se.

 

Tudo indica que Bayern Munchen, Borussia Dortmund, Barcelona e Real Madrid partilhem o favoritismo para chegar a Wembley. Cabe agora ao sorteio de amanhã ditar como será o caminho até à final. São as quatro melhores equipas em prova, as que contam com os melhores jogadores, treinadores e planos de jogo. Mas isso nem sempre significa que sejam as finalistas. O sofrimento dos espanhóis em Old Trafford, o toque de atenção ao Barcelona em San Siro e o duelo do Dortmund em Donetsk deixa claro que há pouca margem de manobra para o erro. A Europa do futebol prepara-se para a contagem decrescente. O jogo do ano está quase aí e um Barcelona fiel a si mesmo, capaz de solucionar os seus problemas e apresentar a sua melhor versão, tem de partir como máximo favorito ao ceptro europeu.



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Segunda-feira, 11 de Março de 2013

Em 1980 um desconhecido realizador espanhol estreava a sua primeira longa-metragem. Pepi, Luci e Bom y Otras Chicas del Montón, abria a larga e espantosa carreira cinematográfica de Pedro Almodovar. Este ano o realizador manchego volta ao activo com um regresso às comédias que o fizeram célebre mundialmente na década de 80. Nos relvados, três treinadores, "del montón", desafiam as convenções e demonstram que o futebol é também um palco de teatro onde a improvisação e a arte muitas vezes superam o hermetismo habitual entre os convencionais maestros do jogo.

Eram adolescentes. Sonhavam talvez com a glória com uma bola nos pés ou talvez com roubar um beijo à estrela feminina do momento, Bo Derek, a mulher 10. Mas nenhum deles imaginaria, seguramente, que 33 anos depois fossem protagonistas de uma crónica que os unisse no tempo e no espaço a um obscuro filme cómico estreado nesse ano.

Pepe Mel tinha 17 anos, Paco Jemez 10 e Philippe Montanier 16 e é provável que nenhum deles tenha sequer visto o filme. Não foi, propriamente, um sucesso de bilheteira numa Espanha ainda em profundo estado de "transição". Mas sem o saber, Almodovar já falava deles. Pepi, Luci e Bom são três raparigas comuns, correntes, normais, nem bonitas nem feias, nem altas nem baixas, nem magras nem gordas. Mas são imaginativas, intrépidas e criativas, capazes de desafiar o convencionalismo de uma era de profundas mudanças sociais. Não tinham a atenção dos homens como as elegantes e sensuais mulheres do seu tempo mas eram capazes de ir mais longe do que qualquer outra para inverter essa realidade quase crónica. E com isso demonstravam ser, sobretudo, personagens de recursos infinitos para lograr os seus objectivos. O mesmo se passa nos bancos da liga espanhola.

Numa liga orfã do génio de Guardiola, cansada das poses ditatoriais de Mourinho, dificilmente apaixonada pelo hermetismo de Simeone ou pelos vai e vens de Tito Vilanova e Jordi Roura, há um vazio de génios e figuras que permite ao espectador, quase sempre focado nesse duelo mediático Mou-Pep, olhar para o lado e ver que, afinal, também há imensa qualidade, imenso talento e imensa criatividade nos treinadores "comuns".

Mel, Jemez e Montanier lideram o sprint pela Europa, misturados com os milhões de Málaga e Valencia, do projecto sólido do Atlético de Madrid e batendo o pé aos multimilionários do futebol europeu. Lutam os três por um lugar na Champions League, uma competição que, à partida, podia estar para eles como um concurso de misses para Pepi, Luci e Bom. Mas que lhes fica como uma luva.

 

Pepe Mel é o mais veterano nestas lides.

Foi o responsável pelo renascimento do Rayo Vallecano, desde as entranhas do futebol secundário espanhol. Falhou a promoção com a equipa depois de um ano memorável na segunda divisão mas deixou tudo preparado para o seu sucessor - o espantoso Sandoval - completar o trabalho. Partiu para a sua Sevilla, para pegar num Bétis igualmente em horas baixas. Desenhou a régua e esquadro uma equipa que faz do futebol ofensivo, de toque, o seu santo e senha. Escritor, novelista consagrado, Mel sabe trabalhar com a bola como com as palavras, sem medos. Encontrou em Beñat a batuta, em Castro o golo, em Adrian a segurança defensiva e à volta criou um espírito colectivo impressionante para um clube dado sempre a tendências autodestrutivas. Neste Bétis não há estrelas, não há vedetas nem há margem de erro para arriscar sem a certeza do sucesso. A urgência de um clube falido pela gestão criminal de Ruiz de Lopera, deu passo a um clube renascido e determinado a criar uma marca de identidade no futebol espanhol. O prémio de um lugar europeu é apenas o reflexo simbólico e mediático de algo muito mais profundo e meritório.

Algo similar experienciou Philippe Montanier, um francês olhado como suspeita, como todos os franceses, desde o dia que chegou a San Sebastian com a promessa de um futebol rendilhado e ganhador. Demorou mais tempo do que muitos podiam esperar e teve a sorte de contar com uma directiva capaz de ver a longo prazo. A Real Sociedad perdeu o duelo mediático com o Athletic Bilbao há muito tempo e abandonou a política exclusivista de jogadores bascos mas não a sua identidade. Apostou muito na formação e começou agora a colher os primeiros rebentos de uma nova e brilhante geração, a de Aguirretxe, Illarramendi, Iñigo Martinez ou Ruben Pardo a que se juntaram os talentos de Vela e Griezzman. O líder da armada, único sobrevivente da brilhante equipa que há uma década desafiou o Real Madrid pelo título de liga (a de Xabi Alonso, Nihat e Kovacevic), é também o reflexo de como o futebol espanhol decidiu finalmente olhar para dentro e apaixonar-se pelas suas virtudes em vez de deixar-se cair nos seus defeitos. Xabi Prieto é um dos nomes do ano no futebol espanhol, recuperado tardiamente como o foi Valeron na Corunha ou agora Joaquin em Málaga, jogadores que explodiram antes do tempo em que a imprensa começou a valorizar o "tiki-taka" dos Xavi e Iniesta. Montanier teve todos contra si, teve o carácter de aguentar os piores momentos ao leme do clube, o sofrimento, para emergir com uma equipa construída com pés e cabeça, com vocação ofensiva, com capacidade de misturar a velocidade individual de Griezmman e Vela com o critério de Prieto e Pardo, uma equipa completa da cabeça aos pés.

Sem um nome histórico, como são os já campeões Bétis e Real Sociedad, sem um passado como treinador significante, talvez o trabalho de Paco Jemez tenha ainda mais mérito porque não há clube mais "del montón", do que o Rayo Vallecano. Desastrosamente gerido pela família Ruiz-Mateos, penosamente presidido por um sucessor que entende pouco de futebol e menos de finanças, que o Rayo ainda esteja de pé não deixa de ser um desses milagres do futebol. Que dispute um lugar na Champions League é algo quase sobrenatural. Jemez sucedeu a dois homens que deixaram parte do trabalho feito, Mel e Sandoval, mas imprimiu o seu toque definitivo ao clube, apostando num 3-4-3 ousado, convencido de que para um clube pequeno que sabe que acabará por sofrer golos, a arma secreta tem de ser sempre procurar marcar mais do que o rival. Sem Diego Costa e Michu, os dois goleadores do ano transacto, o técnico encontrou em Piti e Leo Baptistão os seus novos aríetes, confiou no regresso do mítico Tamudo e na qualidade de Lass para fazer a diferença e preparou-se para sofrer. A onze jogos do fim, o Rayo está praticamente salvado. No ano passado precisou de um golo milagroso nos descontos do último jogo do ano. Sonhar com a Europa não é impossível, nem sequer se falamos da Champions League. Seria a prova do que o futebol é algo mais do que uma simples utopia.

 

Não são estrelas, a maior parte da Europa do futebol nem os conhece. Os rostos são figura estranha, os gestos desconhecidos mas o trabalho desenvolvido é algo que não pode passar desapercebido. Não são os únicos. Em Espanha há ainda Juan Ignacio Martinez. Em Portugal o jovem Paulo Fonseca começa a fazer-se notar. Em Inglaterra já ninguém olha de lado quando ouve Roberto Martinez e em Itália Vicenzo Montella já é um futurível dos grandes clubes. São treinadores comuns, em equipas mais ou menos comuns, que fazem da necessidade, engenho, e das fraquezas forças. São eles o pão e sal do futebol. Enquanto as câmaras se divertem a descobrir quantos rabiscos tem o livro de notas de Mourinho ou Guardiola, eles seguram nos ombros a estrutura base do beautiful game.



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Quarta-feira, 6 de Março de 2013

Branca. Limpa. Mourinho, no seu célebre discurso arbitral depois da polémica arbitragem de Wolfgang Stark no Real Madrid vs Barcelona de 2011, referiu-se assim à suposta vergonha que Josep Guardiola devia sentir sobre os seus títulos europeus. O técnico português não tinha, atrás de si, precisamente uma carreira imaculada mas a noite de Old Trafford passará para a posteridade como o jogo em que a UEFA calou definitivamente qualquer queixa futura do português. A melhor equipa ficou pelo caminho, a única equipa que quis seguir em frente ficou pelo caminho. E só um árbitro impediu um treble histórico do Manchester United.

 

Nani procura um alivio de Patrice Evra. A sua missão é e foi essa durante todo o jogo.

Receber, parar e ver a movimentação ofensiva de van Persie e Wellbeck, o apoio de Giggs e Cleverley. E passar, romper as linhas inexistentes no meio-camp do rival, criar superioridade. E marcar. O portugês realizou um movimento técnico perfeito para recuperar a bola, era para ela que olhava fixamente. E não viu Alvaro Arbeloa, o sargento preferencial de Mourinho, aparecer nas suas costas, procurando o corte desesperado para matar o contra-golpe desde a raiz. A chuteira chocou com Arbeloa, empurrou-ao ao chão, deixou-lhe uma marca nas costelas. E acabou com o sonho de Old Trafford, o teatro onde ontem se viveu um drama em tons de comédia patrocinado pela UEFA.

A expulsão de Nani - num lance totalmente fortuito que oscila entre a advertência e o amarelo - abriu caminho a um jogo novo. Que durou cinco minutos. Nada mais. Até esse instante, só havia uma equipa no terreno de jogo. No final desses cinco minutos voltou a existir apenas uma equipa em campo. Mas como o Real Madrid é uma equipa letal, quando encontra os espaços, os momentos de desajuste dos ingleses possibilitaram a Modric impor a sua lei, associar-se com Ozil, Higuain e Kaká, desferir um golpe mortal e criar o lance que acabou cirurgicamente nos pés de um Cristiano Ronaldo engolido pela emoção de dar o golpe de misericórdia aos adeptos que mais o admiram em todo o mundo.

Ronaldo fez um jogo fraquissimo, espelho da sua incapacidade emocional se encarar Old Trafford como um estádio rival. Tentou mas não soube ter clarividência mental, rematou demasiadas vezes, passou mal, movimentou-se pior. Mas marcou o golo do apuramento, que provavelmente é o único que as pessoas se irão lembrar em Maio. Não celebrou, pediu desculpa, provando ser um gentleman. Mas ontem não foi ele o elemento diferencial. Foi apenas o carrasco de uma sentença ditada previamente...Ovrebo, De Bleckcerke, Stark...Çakir?

 

O Real Madrid nunca mereceu seguir em frente. Atado totalmente pelo Manchester, foi uma equipa pequena e inofensiva.

Como era previsivel, sem os espaços para explorar, o ataque merengue tornou-se estéril e incapaz de associar-se para procurar espaços. Sem espaço parar correr, a imaginação não triunfou e o Manchester United tomou cedo controlo do jogo. Impôs o seu ritmo, colocou as peças de xadrez no sitio, abdicando da individualidade de Rooney pela velocidade e luta de Wellbeck e Nani, no apoio de um van Persie sempre em movimento. Giggs colocou-se à direita, engoliu Coentrão e assustou com o olhar o seu velho amigo Ronaldo, que desapareceu totalmente do jogo no primeiro-tempo. As oportunidades eram do Manchester, a bola do Madrid, o guião oposto que queria Mourinho que, de mãos sobre o tijolo de Old Trafford, olhava para a forma como Ferguson o ultrapassava outra vez tacticamente.

Mas o golo não apareceu, entre a exibição soberba de Diego Lopez e o génio crescente de Varane, e o segundo tempo parecia ser uma benção para os espanhóis, que já tinham deixado as malas feitas no balneário para voltar de cabeça baixa a casa. O goloo do Manchester, fruto do único erro de Varane e do enésimo disparate de Sérgio Ramos nesta época, deu uma margem de manobra superior aos ingleses que lidaram melhor ainda com a reação do Real. Mourinho já tinha sido forçado a abdicar de Di Maria, mas em vez de procurar ganhar o jogo com Modric, preferiu a vertigem com um Kaká sem forma. Á segunda não repetiu o mesmo erro, abdicou do amarelado Arbeloa e lançou Modric. Mas Nani já tinha recebido a bola, acertado em Arbeloa acabando expulso. E a balança tinha sido propositadamente desequilibrada.

Modric mudou o rosto do Real Madrid durante cinco minutos, tempo suficiente para marcar um golo memorável e organizar o jogo colectivo com a calma necessária para encontrar a circulação que abriu as portas à reviravolta. Depois, animicamente débeis, os espanhóis perderam outra vez o critério e a coragem e esconderam-se na sua área, procurando o seu jogo preferencial. E o Man Utd, mesmo com menos um, já com Rooney, Valencia e Young em campo, voltaram a dominar, a ganhar sempre a superioridade, a bascular o seu jogo à sua vontade. Apertando, tiveram oportunidades, mas falharam. E quando Sérgio Ramos cometeu penalty e Çakir não apitou, ficou claro que o drama tinha-se tornado em comédia, ou melhor, em pesadelo. O Real tinha encontrado a fórmula entre os que criticavam para eliminar uma equipa futebolisticamente muito superior.

 

No final, Ferguson perdeu a oportunidade única de igualar Paisley e um avergonhado Mourinho, tentou pedir desculpa aos adeptos dos quais quer ser treinador. Nenhum jogador espanhol festejou com o orgulho de uma noite histórica, nenhum jogador do Manchester chegou a casa tranquilo e o futebol europeu perdeu um grande espectáculo e ganhou mais uma polémica patrocinada por Platini, Villar e companhia.



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