Sexta-feira, 15 de Abril de 2011

Nunca uma região geográfica dominou de forma tão clara as provas europeias patrocinadas pela UEFA. Dos oito semi-finalistas europeus, seis encontram-se na Peninsula Ibérica. Um feito histórico que confirma a tendência dos últimos anos. O futebol europeu volta a deslocar-se, progressivamente, para o sul. E Espanha e Portugal podem passar um mês de Maio em plena festa.

 

 

 

Depois dos resultados das primeiras mãos era expectável. Mas apesar de tudo não deixa de ser uma doce realidade.

Portugal colocou pela primeira vez na sua história três equipas numa meia-final europeia, garantindo à partida um lugar na final. Que pode ser lusa a 100% se o intruso espanhol não estragar a festa. Na prova rainha da Europa os espanhóis garantem também um lugar na final, um mano a mano histórico entre os seus dois gigantes. Final contra um representante do norte da Europa. Seja o Manchester United seja o Schalke 04, um alien nesta história. Uma história europeia e ibérica. Histórica.

Em 2010 houve quatro equipas do norte contra quatro equipas do sul da Europa nas semi-finais das duas provas. Um ano antes, em 2009, o dominio do norte europeu era ainda evidente. Mas as coisas começam, progressivamente, a mudar.

Já houve finais europeias com clubes do mesmo país. Espanha (por duas vezes), Inglaterra (por duas vezes), Itália (por duas vezes) e Alemanha (por uma vez). Mas um dominio tão grande de uma zona geográfica nas duas provas europeias, isso sim é inédito. O dominio dos ingleses na Champions League nunca se viu acompanhado pelas performances dos seus clubes na Europe League (ou a defunta Taça UEFA). A melhor era do futebol italiano, a meados dos anos 90, foi a única que se aproximou a esta realidade. Mas, mesmo assim, estamos a falar de seis clubes de dois países desportivamente muito diferentes. Se Barcelona e Real Madrid deveriam ser, à priori, presenças naturais a esta altura da competição (e o Barça soma mais um record com quatro semi-finais consecutivas) já o feito das equipas lusas é ainda mais louvável. Duas equipas procedentes da Champions League confirmam uma tendência habitual da segunda prova da UEFA. Tanto Braga como Benfica vieram da prova rainha e um dos lugares em Dublin é para eles, sim ou sim. O outro será para as duas melhores equipas do torneio numa verdadeira final antecipada. Duas equipas que não puseram os pés na Champions deste ano mas que certamente marcarão presença na próxima época. O seu nivel é esse, futebolisticamente e estruturalmente. O Villarreal é um dos projectos futebolisticos mais fascinantes do futebol europeu. Sem os milhões na liga dos milhões ontem alinhou oito jogadores da sua formação a que juntou pérolas resgatadas aos grandes (Diego Lopez, Rossi e Borja Valero) do futebol europeu. Destroçou a duas mãos o Twente, provável futuro campeão holandês. Antes já o tinha feito a Bayer Leverkusen e Napoli, segundos de Alemanha e Itália. Uma demonstração de força que encontra rival à altura. O FC Porto de André Villas-Boas.

Depois do esperado titulo nacional a ambição europeia. O clube da Invicta aplicou uma goleada histórica em duas mãos a um russo saído também da Champions League e está a três jogos de repetir o feito logrado na última vez que passeou por esta prova. O que significaria uma final 100% made in Portugal, um êxito conjunturla que não deve tapar os graves problemas do futebol luso.

 

Do outro lado da barricada estão Braga e Benfica. Ambos chegam a esta altura da época por méritos próprios e caminhos distintos.

O Benfica sofredor, como sempre, esteve com um pé fora da prova até que Luisão acalmou os nervos de Jorge Jesus. O PSV acabou por ser manso demais (como PSG e Stutgart antes) e não teve argumentos para o conjunto luso. O Benfica regressa a uma meia-final europeia 21 anos depois. Até aos anos 70 era a segunda equipa do futebol com mais presenças nessa fase da prova rainha europeia. Depois a longa agonia. Que uma presença em Dublin pode acalmar. Já o Braga tem, provavelmente, a maior quota de mérito dos semi-finalistas. É o Schalke 04 desta prova, salvas as devidas distâncias económicas e desportivas.

A equipa de Domingos Paciência bateu o Liverpool agónicamente e soube sofrer em Kiev e Braga para eliminar o ambicioso Dynamo ucraniano. Com as suas conhecidas limitações - ontem Paulo César teve de ser lateral direito - o Braga matou todos os fantasmas que rodeiam o seu projecto e as capacidades do seu técnico. Chegam tão longe como o histórico Boavista do inicio da década - que então caiu aos pés do Celtic de Glasgow e falhou uma final 100% made in Porto. Contra o Benfica, rival que conhecem bem, e com um ambiente europeu sem os habituais condicionantes da arbitragem portuguese adivinha-se um duelo extremamente equilibrado. O melhor certamente seguirá em frente.

Um sonho que persegue igualmente o Schalke 04. Mas os alemães são matreiros e no único duelo do norte da Europa sabem que o Manchester United desta época não tem o mesmo glamour de outros tempos. Emular o feito do Bayer Leverkusen é o objectivo de Raúl e companhia. O espanhol gostaria de rever o seu ex-clube, mas a verdade é que o Barcelona parte como favorito. Espanha tem certamente presença garantida em Londres. Os campeões e o seu eterno rival jogam quatro vezes em três semanas (Liga, Taça e meias-finais) e todos os jogos valem mais do que se possa imaginar num país dividido até ao tutano entre merengues e culés. Se o vencedor do Villareal vs FC Porto é o máximo favorito em Dublin todos sabem que quem saia vencedor deste duelo fracticida também entra como grande favorito pelo velho Wembley.

 

 

 

No meio deste dominio português da Europe League destaca-se, uma vez mais, a ausência do Sporting. O último clube português a marcar presença numa final europeia começa a perder corrida nessa luta emocional pelo titulo de "grande". O passado no futebol vale menos do que se imagina e face à afirmação europeia de Benfica, à consolidação da superioridade do FC Porto e ao arrojo do projecto do SC Braga, os leões têm de reagir. Até lá podemos ficar com um pequeno sabor de como seria uma eventual Liga Ibérica. Com algum intruso pelo meio...



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 08:43 | link do post | comentar

3 comentários:
De Pedro Costa a 15 de Abril de 2011 às 15:07
Já antes tinha feito um comentário neste blog, que descobri por acaso. Vou voltar a faze-lo. É de enaltecer a campanha das equipas lusas por essa Europa fora. Se da parte do FCP e do Benfica era expectável, já que o primeiro desde o início se revelou como um dos conjuntos mais fortes e como tal favoritos à vitória, e o segundo devido ao seu historial e à actual qualidade do seu plantel tem obrigação de fazer uma boa campanha nesta 2ª divisão europeia, o Braga vem aqui confirmar o estatuto da única equipa portuguesa em ascensão nos últimos anos (referi isto mesmo no anterior comentário que tinha feito). Porto sempre foi forte, Benfica depois duns valentes anos de crise alicerçada nas presidências desastrosas de Manuel Damásio e Vale e Azevedo, começa a consolidar-se de novo no topo graças ao trabalho de Luís Filipe Vieira, que goste-se ou não, é o grande obreiro deste ressurgimento benfiquista no topo. Agora o Braga, sem os recursos dos grandes e com uma gestão extraordinária protagonizada pelo seu presidente desde há uns anos para cá, confirma-se como equipa revelação da Liga Europa e com um estatuto de novo "outsider" da competição em questão. Portugal tem de agradecer ao sr Platini o facto de em 2012/2013 ir ter 2 equipas a entrar directamente na Champions, pois devido aos novos moldes da Liga Europa (fase de grupos e pré-eliminatórias) que comporta tantos jogos como a Liga dos Campeões - o que não acontecia com a extinta taça UEFA - dá tantos pontos para o ranking como dá a prova-mor dos campeões europeus.
Nas meias-finais tudo pode acontecer. A meu ver, as duas equipas mais fortes (Porto e Villarreal) vão-se defrontar numa eliminatória que pode pender para qualquer um dos lados, se bem que talvez o FCP tenha um ascendente muito ligeiro de favoritismo. O Villarreal é uma equipa que impõe respeito em qualquer estádio que visite, que conta nas suas fileiras com jogadores de fazer tremer qualquer defesa adversária, tais como Nilmar, Rossi, Borja Valero, Cani, Carzola, se bem que cá atrás depara-se com uma baixa de vulto para o resto da época, o sub-capitão Gonzalo Rodriguez, que se lesionou com gravidade no jogo da primeira mão dos quartos de final frente ao Twente.
Tanto Porto como Villarreal teram uma tarefa árdua, pois quis o sorteio que as 2 melhores equipas em competição se defrontassem nas meias da prova. Estará aqui à vista uma final antecipada? Quem sabe...
Agora, quero chamar a atenção para um eventual risco desta missão europeia venerável. Espero que isto não sirva para camuflar os problemas do futebol portugues, que os senhores da Liga não se distraiam excessivamente com esta campanha europeia positiva das equipas, porque pode dar a ideia para os mais desatentos que as coisas estão bem, quando na verdade não estão... Até porque sejamos também realistas: é a Liga Europa, não é a Champions...
Continuamos a ter clubes com ordenados em atraso, outros que sobrevivem à custa das autarquias locais e ainda outros que não metem mais do que 350 pessoas por jogo nos jogos em casa.
Ainda há muito trabalho a continuar a ser feito, sobretudo combater as assimetrias cada vez mais evidentes entre grandes e pequenos (basta ver os moldes da taça da Liga para comprovar aquilo que estou a dizer). Continuo a achar que não temos os quadros competitivos mais adequados e que apenas o Braga tem crescido verdadeiramente nos últimos anos, já para não falar nos problemas oriundos do excesso de extra-comunitários e da escassez crescente de jogadores portugueses, bem como das sucessivas situações de falta de transparência e imparcialidade patentes no dia-a-dia futebolístico (mais recentemente tivemos o "justo?" castigo a Jorge Jesus, tanta tempo para decidir e a montanha pariu um rato).
Continua a escrever Miguel, mesmo sem te conhecer, louvo as tuas crónicas futebolísticas.

Um Abaço


De Pedro Costa a 15 de Abril de 2011 às 15:08
Um abraço, e não um "Abaço" :)


De Miguel Lourenço Pereira a 15 de Abril de 2011 às 15:41
Pedro,

Totalmente de acordo com tudo o que dizes.

O futebol portugues continua a ser uma gaiola de doidas, os problemas vão ficar aí, os 3 postos na Champions League vão desaparecer 3 anos depois na seguinte contagem com toda a certeza e as equipas que passarão à Europe League não conseguirão manter o nível.

É um feito espantoso, principalmente do Braga, porque o Benfica teve rivais muito acessiveis e o FC Porto soube ser fiel ao seu favoritismo. O Villareal joga muito bem por isso será certamente um duelo apaixonante. Espero sinceramente uma final portuguesa mas mesmo que isso aconteça há muito que trabalhar para o futuro. Não é por acaso que os dois semi-finalistas vêm da CL onde não estiveram ao nivel da concorrência directa (franceses, alemães, ucranianos) nessa coisa chamada ranking uefa.

um abraço e bem vindo sempre!!


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