Quinta-feira, 29 de Novembro de 2012

O regresso de Luis Filipe Scolari ao banco da selecção brasileira demonstra bem o estado de desorganização absoluto em que vive o futebol brasileiro a um ano e meio do seu Mundial. Tal como em 2002, o "sargentão" chega em cima da hora para resgatar a honra de uma selecção de quem muitos esperam que se torne em campeã mundial. Nunca, na história do futebol, uma equipa que recebeu dois Campeonatos do Mundo, salvo o México, falhou em vencer pelo menos uma dessas edições. Depois da depressão de 1950, o desespero da canarinha já se faz sentir a 18 meses do seu encontro com a história.

 

Quando Ghighia marcou o golo que deu ao Uruguai o seu segundo Mundial, um país inteiro entrou numa profunda depressão que nunca curou verdadeiramente. Sim, o Brasil tem cinco Mundiais, tem algumas das melhores equipas da história do futebol e foi palco de artistas e génios tácticos que ajudaram a mudar a face do jogo para sempre. Mas aquela tarde no Marcanã nunca teve cura.

Perder um Mundial em casa acontece a poucas selecções quando são favoritas. 

Uruguai, Itália, Inglaterra, RF Alemanha, Argentina e França contam-se entre os países que venceram torneios diante dos seus. De todos os vencedores de um Mundial de futebol, só o Brasil e a Espanha não o fizeram em frente dos seus adeptos. O caso espanhol é recente, a sua performance em 1982 foi deprimente em todos os sentidos, mas ninguém duvida que se em 2018 o Mundial fosse em Espanha, que eles seriam candidatos sérios ao titulo. E o Brasil?

A selecção canarinha chega a 2014 sem ser o favorito de ninguém. E isso não só parece algo sui generis em si como também ameaça prolongar a ressaca moral do futebol brasileiro. A FIFA ofereceu ao país uma oportunidade única de desforrar-se de si mesmo e limpar os esqueletos do armário. Mas a direcção sem rumo do futebol canarinho tem-se encarregue de destruir esse projecto. A contratação de Luis Filipe Scolari, um acto de puro desespero, é apenas a ponto do iceberg de um problema bem mais gordo.

 

Ninguém questiona que o favoritismo colectivo do próximo Mundial está nos ombros da selecção espanhola.

Se a Brasil de 1970 foi, provavelmente, a mais entusiasmante selecção da história, esta Espanha pode ser a mais longeva e estender a sua hegemonia a um segundo Mundial consecutivo não é uma ideia descabelada. Individualmente a figura do torneio será Lionel Messi que talvez tenha a última oportunidade de ser campeão com uma Argentina que aprendeu a gravitar à sua volta.

O Brasil não é favorito a não ser no plano emocional. Não possuiu uma geração inesquecível como os espanhóis e é uma equipa com muitos projectos de grandes jogadores mas sem um líder moral como Messi. E é, sobretudo, tacticamente, uma equipa sem rumo, sem um plano definido que ora baila ao som do falso nove ora procura manter-se fiel ao 4-2-3-1 que tem perseguido desde 2006 sem significativo sucesso pelos antecessores de Scolari. 

Num ano em que o técnico viu a equipa que treinou descer pela primeira vez em largos anos - o histórico Palmeiras - e depois da péssima carreira pós-selecção portuguesa, muitos questionam a eleição de Scolari. A verdade é que o homem ideal para o cargo chamava-se Guardiola mas os brasileiros não podiam viver com um treinador estrangeiro no momento mais importante da sua história desde 1970. E que tanto Muricy Ramalho como Tite eram nomes pouco consensuais não só nos corredores da CBF mas, sobretudo, entre os adeptos. A falta de um génio táctico ao futebol brasileiro tem-se notado.

Desde o notável trabalho de Carlos Alberto Parreira em 1994 que a táctica desapareceu do futebol brasileiro e o génio individual tornou-se no protagonista solitário com melhores e piores resultados mas cada vez mais ao som da actualidade e distanciando-se das suas origens. Do Brasil de 1998 de Zagallo ao de Menezes vai muita diferença e talvez o de Scolari tenha sido o mais original de todos. 

O "sargentão" beneficiou de três elementos fundamentais para ganhar o último Mundial canarinho.

O seu 3-4-3, contrário à tendência da época, funcionava porque então o Brasil contava com os dois melhores laterais ofensivos do Mundo (Cafú e Roberto Carlos) e o melhor tridente ofensivo em gerações (Ronaldo-Ronaldinho-Rivaldo). Tudo o resto era composto por operários que faziam o típico trabalho físico que tanto impressionava o técnico. E por fim, uma debacle das equipas europeias, que pagaram o preço da longa época no futebol europeu e a incapacidade de se adaptar ao clima asiático. Portugal, França, Itália, Espanha e Inglaterra foram caindo, por motivos extra-desportivos e por má gestão, e ficou o Brasil para vencer a mais fraca selecção alemã de que há memória. 

Lembrar 2002 é importante para perceber que a escolha de Scolari é, sobretudo, uma escolha desesperada num homem que vendeu um perfil ganhador, mas que depois dessa gesta particular nunca mais voltou a saborear o triunfo. Há dez anos que a sua aura se foi perdendo e o futebol evoluiu. Scolari poderá tentar recuperar esse modelo táctico (tem Alves e Marcelo mas na frente não há Ronaldo e Rivaldo e Neymar ainda não está à altura de Ronaldinho) mas sobretudo o que terá de criar é um bloco emocionalmente forte para superar a pressão emocional tremenda que significa jogar um Mundial em Copacabana.

 

Scolari é o homem do aparelho, o homem dos escritórios. A sua relação com a Nike e a CBF manteve-se viva durante largos anos. Mesmo com a uma directiva progressivamente afastada da herança de Ricardo Teixeira, os velhos contactos continuam a gravitar na mesma órbitra. O Brasil sabe que, tacticamente, não superará o modelo espanhol e individualmente não encontrará um rival à altura de Messi. Essa foi a base da sua grandeza histórica (o 4-2-4 e 4-3-3 e o génio de Pelé e Garrincha). Terá de recorrer, como em 2002, à épica emocional e ao trabalho colectivo como arma de fogo para não entrar na galeria negra da história da única grande selecção que nunca soube o que era festejar um Mundial com os seus. 



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Segunda-feira, 26 de Novembro de 2012

Mais uma semana que o @FutebolMagazine dedicada à relação entre o mundo do futebol e o universo político ao longo da história recente. Recolhemos alguns dos artigos mais exemplficativos publicados na última semana para uma leitura rápida!

 

- Na Argentina existe um clube com nome bem sugestivo que defende uma visão alternativa do mundo do futebol. É a história do Ernesto Che Guevara.

 

- Futebol de Causas, um documentário português sobre a união dos destinos da Académica e da revolta estudantil de 1969.

 

- Nos anos 20 a comunidade judaica de Viena transformou o seu clube numa das grandes armas políticas do movimento sionista.

 

- O mais popular realizador argentino mergulha no universo do 3D para contar uma história de amizade, superação e paixão pelo futebol protagonizada por jogadores de matraquilhos!


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Sábado, 24 de Novembro de 2012

Era o treinador que ninguém queria e no entanto, aí está ele. Por meio ano ou por uma geração, provavelmente nem Roman Abramovich seria capaz de responder com honestidade. O homem mais perigoso para a carreira de um treinador apostou no mesmo espanhol que há um ano lhe disse que não, suspeitoso do que se vivia no balneário de Stanford Bridge. Rafa Benitez, um dos mais geniais técnicos da década, chega a Londres com a missão de passar para a posteridade. E o peso do cutelo a roçar-lhe a pele do pescoço.

 

Nos fóruns de adeptos a opinião era unânime. Todos, menos Rafa.

Entre alguns dos jogadores e directivos a opinião não variava. O ex-treinador do Liverpool nunca foi uma pessoa querida em Londres. As duas eliminações dos Blues ante os Reds, a luta dialéctica com Mourinho, os comentário de Benitez sobre o novo-riquismo do Chelsea, nada disso ajudou. E que no ano passado, quando Villas-Boas foi despedido sem piedade, o espanhol tenha recusado o convite indicando que gostaria de começar o projecto do zero, num defeso, e não herdar um balneário que cheirava a sangue, também não é propriamente algo que os adeptos e gestores do clube vejam com graça. Mas aí está, oficialmente, Benitez aterrou, finalmente, em Stanford Bridge.

Desde a saída de Mourinho que houve sempre dois nomes que povoaram a cabeça de Abramovich. Um era Guardiola, de quem o russo é um profundo admirador. O outro, Benitez, um espanhol que sabe o que é sofrer na Premier. Nunca venceu uma liga, mas ganhou a Premier que o russo tanto queria no primeiro ano do Special One e levou o Liverpool a outra final, bem como a um segundo lugar em 2008, a melhor classificação do clube desde o último titulo conquistado por Kenny Dalglish.

Benitez é um treinador do futuro. Sempre o foi, desde que treinava as camadas jovens do Real Madrid. 

Em Valencia pegou numa equipa desfigurada pelas duas derrotas consecutivas nas finais europeias de Paris e Milão, e ganhou duas ligas, olhando de tu a Real Madrid e Barcelona. Foi a última vez que uma equipa, fora do duopólio, logrou tal êxito. Pelo caminho ficou uma Taça UEFA, ganha ao Marselha, e um bilhete para a Kop como sucessor do bem amado Houllier. Em Liverpool o seu projecto durou vários anos mas foi de mais a menos. 

A falta de dinheiro do clube, a falta de um plantel com soluções para aguentar o pulso dos milhões do Chelsea, United e City, significaram o principio do fim. Quando abandonou o Liverpool, deixando atrás de si a melhor gestão pós-Boot Room, fê-lo com honestidade e graciosidade. Depois da má experiência com o Inter aprendeu a licção, de mergulhar num balneário minado pelo seu antecessor. E desde então preferiu estar tranquilo, a estudar o jogo, do que aventurar-se no desconhecido. Confessou que só voltaria a trabalhar com um projecto audacioso e à sua altura. Encontrou o desafio certo.

 

O novo Chelsea assenta como uma luva ao espanhol.

Reencontra-se com Torres, o homem que resgatou ao Atlético de Madrid para realizar a sua melhor época doméstica, em 2008, quando El Niño ameaçou o recorde goleador de Cristiano Ronaldo. Tem à sua disposição um leque de jogadores criativos que encaixam perfeitamente na sua filosofia de jogo, a mesma que explora o toque com uma constante pressão alta da linha defensiva e a recuperação rápida para explorar as costas do rival. Mata, Hazard, Oscar, Marin ou Ramires serão os protagonistas desta história como no passado foram Gerrard, Alonso e Mascherano. Talvez seja esse, o posto de numero 5, o médio mais recuado, aquele que sentirá mais falta mas, seguramente, Abramovich já lhe terá prometido uma prenda de reis.

O plantel do Chelsea tem problemas, sobretudo na sua dimensão ofensiva, mas também na outra área.

Benitez conhece bem a Torres mas o avançado espanhol é um jogador diferente daquele que aterrou em Liverpool. Sem alternativas no plantel para a posição de avançado, seguramente que a chegada de Falcao é esperada ansiosamente pelo espanhol mas o mais provável é que até Junho o colombiano fique por Madrid. E Benitez joga contra o relógio. O projecto não é dele mas os resultados têm de ser imediatos.

Como sucedeu em 2010, é-lhe incumbido vencer o Mundial de Clubes. Na altura bateu os congoleses do TP Mazembe. Agora pode conseguir um feito histórico, ser o primeiro treinador a vencer mais vezes o Mundial de Clubes (2) do que Champion Leagues (1). E Abramovich quer mais. Di Matteo começou bem a época e o Chelsea foi líder várias jornadas, mas as recentes derrotas condenaram o clube a um terceiro posto não demasiado distância da cabeça. Benitez parte com um ligeiro atraso mas vencer a Premier é algo com que sonha há oito anos e nunca sentirá que se lhe apresenta uma melhor oportunidade. Terá de ganhar o balneário, onde ainda há fieis ao seu arqui-rival Mourinho (e ele já sabe o que isso é), os adeptos que olham para ele ainda como o homem da desdita e sobretudo os mais cépticos na directiva do clube. Entre os quais está um Abramovich que sabe que esta decisão pode converter-se em temporal, sempre e quando Guardiola se decida em Junho a aceitar o seu cheque em branco. 

 

Contra esta realidade, Rafa Benitez regressa e com ele as lições de um maestro de xadrez que entende o futebol moderno como poucos. Sob o seu leme o Chelsea pode conseguir a frieza e o racionalismo que o condenaram sob a direcção de Di Matteo ao mesmo tempo que explora as potencialidades individuais ofensivas que o plantel lhe deixa ao seu dispor. Benitez era, no mercado actual, o único técnico em que Abramovich sentiu que podia confiar o seu projecto. O Chelsea era, para o espanhol, o único clube capaz de saciar o seu ego. O casamento, ainda que de conveniência, tem tudo para resultar.



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Quinta-feira, 22 de Novembro de 2012

Não vai haver City. Outra vez. Não vai haver Chelsea? Seguramente. No meio de tudo isto, uma certeza. O dinheiro é um atalho para o sucesso futebolístico mas nem todos os atalhos terminam bem. A falta de solvência futebolística dos "citizens" e o desnorte de um Chelsea em renovação deixam claro que investir milhões num clube nem sempre é o único caminho para o sucesso.

 

Podem os adeptos do City, com os irmãos Gallager à cabeça, queixar-se de fazer parte, pelo segundo ano consecutivo, do grupo da morte.

É verdade. Mas em ambos os casos, os ingleses chegavam com o maior orçamento, o mais caro plantel e a melhor colectânea de individualidades ofensivas possíveis e imaginárias. E não serviu para nada. A equipa voltou a despedir-se da Champions antes de Janeiro.

Na época passada foi a dupla Bayern Munchen e Napoli que se sentiu e fez sentir superior. O Villareal viveu um annus horribilis - acabou despromovido - e ficou claro que o grupo da morte não o era tanto. Esta época o Ajax medirá o apuramento para a Europe League, pela segunda época consecutiva, com o City. Os ingleses não vencerem nenhum jogo e em casa conseguiram apenas três empates. Nada mais. Muito pouco. Desesperadamente, muito pouco.

A culpa não irá morrer solteira, Mancini é consciente disso mesmo. Nem a vitória na Premier League - a primeira desde 1968 do clube azul de Manchester - será suficiente para aguentar o posto para lá de Junho. Especulam-se em nomes mas vive-se numa certeza. A hora do italiano pode chegar antes, mas nunca passará do defeso. O fracasso europeu a isso condena. Mancini voltou a apostar no seu lado mais conservador. Defesa de cinco, à italiana, com dois laterais que conhecem bem a dinâmica, e confiança num gesto individual capaz de fazer a diferença num leque onde se misturam Dzeko, Aguero, Nasri, Touré e Silva e a que se juntou ainda Tevez. Só Baloteli, incompreensivelmente, continuou de fora.

O sistema foi incapaz de lidar com Di Maria e os centrais e laterais atrapalharam-se no posicionamento na linha defensiva no lance que permitiu a Benzema aparecer, entre Kompany e Maicon, para fazer o golo inaugural do jogo. Ao City valeu-lhe, sobretudo, a incapacidade do clube merengue em fazer sangue com os rivais mais débeis. O 3-5-2 passou a 4-4-2, com Kolarov a subir na ala para encarar-se com Arbeloa, e o tabuleiro reequilibrou-se. Não chegou. O Real Madrid, a quem o empate bastava mas cuja vitória era fundamental se sonhasse com a liderança do grupo da morte, controlou os acontecimentos mas não pode encontrar forma de controlar o árbitro, Rochi, incapaz de ver três faltas consecutivas sobre Cristiano Ronaldo mas hábil o suficiente para encontrar no mergulho de Aguero motivos para um penalty e uma expulsão (já o primeiro cartão de Arbeloa tinha sido um erro, a falta era de Alonso). Com o empate chegou a tensão, o medo aos merengues - Varane e Albiol entraram para os lugares de Benzema e Di Maria - mas o City foi incapaz de transformar a superioridade no terreno em superioridade futebolística. Morreu a ideia, morreu a esperança e um ano mais os milhões investidos pela família do Dubai que revolucionou o clube foram insuficientes para comprar o bilhete mais valioso do ano. 

 

O Chelsea até cumpriu com o sonho do seu dono multimilionário, vencendo a Champions que se lhe tinha escapado tantas vezes.

Mas essa vitória, como ficou claro, pertenceu mais à vontade e garra de uam geração desesperada por justiça poética do que ao trabalho dos dois treinadores que comandaram o clube. Villas-Boas deixou os Blues à borda da eliminação nos oitavos. Di Matteo soube organizar as hostes e dar poder ao balneário para sofrerem o insofrivel no Camp Nou e acabaram por dobrar a vontade dos alemães do Bayern na sua própria casa. Mas a geração de Mourinho sentiu, com esse triunfo, que tinha cumprido a missão. Sem Drogba, com Lampard e Terry como actores cada vez mais secundários, o clube londrino entregou-se à juventude e promessa de Mata, Hazard, Marin, Moses, Sturridge, Oscar e Ramires. 

Uma geração que dará, seguramente, vários títulos aos Blues.

Está composta por alguns dos melhores e futuros melhores do Mundo. Mas é também uma geração sem liderança, sem um ponta-de-lança que trate o golo por tu e sem um médio defensivo que imponha a ordem e o respeito necessário num meio-campo defensivo demasiado débil. Se o grupo do City era o da morte, o do Chelsea não o era menos porque tal como o Dortmund, também o Shaktar Donetsk tem um projecto futebolistico sério e com ambições legitimas a surpreender os mais cépticos. 

Se contra os ucranianos faltou essa acutilância, contra os italianos da Juventus, renascidos para as grandes noites europeias, faltou futebol e liderança. Orfãos de tudo o que fez deles reis da Europa, o Chelsea foi uma sombra do que poderá vir a ser. E Di Matteo, o homem que cumpriu o sonho, não teve direito a reprise. Se os mineiros e os bianconeri pactuarem o previsível empate na última ronda, nem uma goleada histórica poderá salvar os londrinos, culpados dos seus próprios erros. Será a primeira vez que o campeão da Europa cai na fase de grupos, a primeira vez que é eliminado na primeira ronda desde que o Nottingham Forrest bateu, em 1979, o campeão Liverpool. 

 

O Chelsea sabe que tem material para o futuro onde falta apenas uma ideia de futebol e uma coerência na relação entre o campo e o banco. O City vive um problema maior. Um plantel profundamente desequilibrado, uma ausência de futebol colectivo que se vale do oportunismo individual dos seus génios, é um transatlântico governado por um pescador e até a época terminar o navio poderá cruzar-se com algum outro iceberg pelo caminho que deixem o trabalho dos últimos anos pelo chão. No final, Inglaterra, o país que há quatro anos dominava de forma autoritária o futebol europeu, continua em queda livre e só Arsenal e Manchester United parecem seguir em frente. E com uma versão muito menos impressionante em relação ao seu passado recente. Terão de salvar a honra da nação enquanto os seus potentados económicos terão, uma vez mais, de decidir se querem seguir o atalho do dinheiro ou o caminho do futebol.



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Quarta-feira, 21 de Novembro de 2012

O que significa, no desporto, o fair play. O que significa, realmente, num desporto de competição que move milhões, o conceito quase amador de respeitar o rival acima de todas as coisas? A FIFA e as confederações, com a UEFA à cabeça, defendem o conceito como algo moralmente único mas na prática o fair play vai desaparecendo dos relvados. O acto de Luiz Adriano, pobre reflexo do estado actual do futebol, devia ser para a UEFA a oportunidade de ouro para demonstrar que as palavras também se podem transformar em actos.

 

Se a lógica imperasse, o Shaktar Donetsk teria perdido os três pontos conquistados na Dinamarca.

Mesmo vencendo por 2-5, mesmo tendo sido a melhor equipa no terreno de jogo. Tudo porque cuspiu num dos conceitos mais importantes do futebol como desporto. Do futebol como alma de um espirito competitivo justo e imparcial onde os principios de cavalheirismo ainda fazem sentido. No entanto ninguém espera que isso se torne realidade. Uma multa económica, para engordar o jantar de Michel Platini durante o próximo mês, e pouco mais. Uma reprimenda verbal, um raspanete a meninos mal comportados. A imagem, essa, ficou manchada para a posteridade. Chegue onde chegar o Shaktar Donetsk, que já está matematicamente apurado para os Oitavos de Final, confirmando o que dissemos, todos se vão lembrar antes deste gesto do que da imensa qualidade demonstrada nos cinco jogos pelos homens de Lucescu.

Lucescu, ai Lucescu. O homem que interrompeu a entrevista de Pep Guardiola depois de um 1-2 em que Messi marcou um golo parecido ao de hoje de Adriano, para criticar a falta de desportividade dos blaugrana tem agora um problema nas mãos. Diga o que disser, é fácil perceber que da sua boca não veio nenhuma ordem para permitir o golo dos dinamarqueses. O Nordsjallen vencia por 1-0 e depois do empate de Adriano marcou o 2-1. Mas foi mérito seu, nada mais. Não há nenhum gesto que indique que os ucranianos se deixaram bater. Depois, talvez espicaçados pelas celebrações dos dinamarqueses, marcaram diferenças com a sua superior qualidade. Mas o futebol já tinha perdido.

 

O lance é simples. Fácil de entender e explicar.

Uma bola ao ar no meio-campo que o árbitro indica, como é hábito, ao jogador do Shaktar que devolva à defesa dinamarquesa. Os homens da casa venciam por 1-0, estavam a ser melhores e os ucranianos sentiam-se nervosos. O remate foi sem convicção, é certo, mas Luiz Adriano apanhou a bola em jogo, sem estar em fora de jogo, e correu para a baliza onde o guarda-redes local, incrédulo, nem esboçou uma defesa. Foi o empate e a confusão. O árbitro validou o golo - poderia não fazê-lo? - e os jogadores dinamarqueses cercaram o brasileiro. Os homens de laranja olharam para o banco e encontraram silêncio. Quando a bola arranca, os avançados afastam-se mas o meio-campo fecha a muralha e recupera a bola. Não ia haver devolução de golo concedido, não ia haver desportividade. Muitos milhões em jogo provocam estas atitudes.

E no entanto Arsene Wenger solicitou um jogo repetido numa eliminatória da FA Cup quando Nwanknu Kanu marcou um golo nas mesmas circunstâncias, depois de receber uma bola que não era mais que a devolução desportiva do Arsenal à defesa do Southampton depois de uma bola ao ar. E Paolo di Canio, vendo os rivais no chão, lesionados, não hesitou em atirar a bola para fora e evitar marcar um golo fácil, com a baliza descoberta. Dois gestos que indicam que é possível esquecer que o futebol é uma indústria de milhões e, acima de tudo, um desporto. 

Se o golo pode acontecer, o que é inadmissível é a reacção dos jogadores do Shaktar depois do golo. Essa é a atitude que a UEFA e todos aqueles que acreditam no futebol como algo mais do que uma indústria jamais poderão perdoar. Esquecer e deixar passar.

Os ucranianos deviam ser punidos da forma mais exemplar por representarem, com este gesto, o cúmulo da falta de escrupulos que no futebol tem muitas formas, desde perdas de tempo propositadas, apanha bolas que desaparecem, lesões e expulsões fingidas, agressões imaginárias...

O futebol perde-se um pouco mais em gestos como o de Adriano e dos seus colegas e a UEFA, como organizador do torneio, não pode limitar-se a anúncios televisivos e directivas a adeptos e clubes. A UEFA tem a responsabilidade absoluta de fazer valer o mesmo ideário que está na base do próprio jogo que se chama futebol.

 

Infelizmente este episódio passará os próximos dias por todos os telejornais para acabar no anedoctário do futebol, numa sequência de videos de Youtube e uma piada entre os mais cínicos do jogo contra aqueles que acreditam que o futebol representa realmente algo mais. O Shaktar tem equipa, já o dissemos, para ser uma das surpresas da prova. Adriano, com este hat-trick, pode acabar o torneio como máximo goleador e Lucescu seguramente pensará duas vezes antes de acusar outros técnicos de falta de desportividade. No final, uma modesta equipa dinamarquesa sentirá na pele o cinismo de um jogo que desaparece diante dos nossos olhos e a máquina que é responsável pela sua gestão profissional calará e guardará no bolso o dinheiro pago pelo Shaktar - se é que alguma multa se pagará - para anunciar aos quatro cantos no Mundo a importância do Fair Play. Em vez de Collina no próximo anúncio poderiam colocar Luiz Adriano. Ninguém daria pela diferença!



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Segunda-feira, 19 de Novembro de 2012

Platini quer ser presidente da FIFA. Comprou a presidência da UEFA com o apoio dos países pequenos e agora quer comprar a presidência da FIFA com o apoio inquestionável dos clubes de elite. A sua última decisão, levada a estudo pela FIFA, é o golpe de graça definitivo ao futebol europeu tal como o conhecemos e o início de uma nova era, a da Superliga dos grandes do Velho Continente, os senhores do dinheiro e da história. Os seus novos amigos.

 

Imaginem uma edição da Champions League sem clubes portugueses. Sem gregos. Sem turcos.

Imaginem provas europeias sem muitos clubes espanhóis ou italianos, sem espaço para holandeses, austriacos, suiços ou sérvios. Imaginem por isso mesmo não uma Champions League mas uma Superliga europeia. Porque é isso mesmo que Michel Platini quer que vejam daqui a nada. Um torneio de elite onde os demais, os pobres, os pequenos, os periféricos, não têm lugar.

A notícia de que o francês, presidente da UEFA, apresentou à FIFA uma proposta para acabar com a co-propriedade é o primeiro passo real para essa nova ordem futebolística. O mercado actual, com os preços inflacionados pelos milhões das provas europeias e o investimento dos magnatas mundiais nas ligas inglesa, russa, espanhola e agora francesa - aliada à impecável gestão dos clubes alemães - não deixa margem de manobra para clubes como os portugueses, mas também instituições de prestigio em França, Itália, Espanha, Turquia, Holanda ou Grécia. Para sobreviver em provas da UEFA e competir contra clubes que, tantas vezes, têm mais dinheiro no banco de suplentes que o rival em campo, desde há vários anos que o modelo de co-propriedade se tornou fundamental.

Os clubes não podem pagar os salários actuais e os valores de transferência e não viver entre dividas atrás de dividas. Se querem ser competitivos claro. Para aliviar essa carga financeira, negoceiam com fundos, com empresários, com outros clubes. Entre eles criam uma teia de sobrevivência. Comprar parte de um passe, vender pedaços de um jogador para poder mantê-lo na equipa, é o santo e senha de qualquer um desses clubes na situação actual. Vejam o plantel de FC Porto, SL Benfica e Sporting CP. Vejam o do Atlético de Madrid, Valencia, Galatasaray, Bessiktas, o da Lazio ou Udinese. E descubram quem é que pertence, realmente, ao clube e quem não. Verão que a maioria das suas estrelas jogam com uma camisola mas, quando vendidos, entregarão o lucro aqueles que os têm no seu regaço, realmente. Acabar com essa realidade - uma triste realidade, é certo - é acabar com esses clubes e permitir, de uma vez por todas, que o futebol de todos seja de uns poucos.

 

Claro que esta medida de Platini é tudo menos inocente.

O francês quer suceder a Blatter, que o lançou no meio do dirigismo desportivo depois da organização do Mundial de 1998 os ter apresentado, como presidente da FIFA. Quando chegou à UEFA, fê-lo da mão dos pequenos, dos que estavam contra a asfixia do G14, da gestão final de Leonardt Johansson, dessa ameaça de Euroliga. Eram mais países, eram mais votos e foi assim que Platini venceu. Prometeu mais lugares nas provas europeias, renovou a Taça UEFA, levou finais e torneios à Europa dos pequenos e bateu o pé aos grandes. Os membros do G14 tornaram-se personas non gratas, uns mais do que outros, e Platini afirmou-se no primeiro mandato como o presidente dos pobres, do futebol como espectáculo de todos. Assim podia ganhar e manter a UEFA. Mas nunca a FIFA.

Na FIFA as grandes entidades valem muito, o prestigio conta e ninguém é capaz de vencer contra os nomes que sustêm a popularidade mundial do jogo, os clubes ingleses, espanhóis, alemães e italianos. Os senhores do dinheiro russos e ucranianos e os homens dos milhões árabes. Para agradar à elite há que tratá-los como tal. Diferencia-los dos demais, em mais do que uma maneira. Londres recebeu duas finais da Champions em três anos. À Ucrânia perdoou-se tudo para ter o seu Europeu e aos russos deram-se-lhe todos os apoios na candidatura Mundial contra outros projectos europeus. Os votos da UEFA decidiram a favor o Mundial do Médio Oriente e em tudo isso houve dedo de um Platini que sonha com mais. Sonha com o trono mundial e para apaziguar os seus antigos detractores, reverteu a sua politica ao extremo de ser ele o homem que vai eliminar os poucos obstáculos que nos separam da remodelação do futebol europeu de forma definitiva.

O final da co-propriedade é o final dos clubes médios, dos clubes que ainda surpreendem, que ainda fazem sonhar mas que não dão receitas televisivas, não enchem estádios como o Camp Nou, o Bernabeu, Old Trafford ou o Allianz. São os clubes que ocupam essa incómoda fase de grupos da Champions, os que representam o futebol puro, mesmo utilizando meios pouco recomendáveis para se manter vivos. Acabar com a co-propriedade é, no fundo, acabar com o futebol europeu e abrir caminho a uma liga onde o dinheiro não é problema.

O final do conceito é justo, eticamente. Mas também o seria rever a lei Bosman e impedir equipas com 22 estrangeiros. Também o seria criar um tecto salarial como sucede actualmente na NBA e impedir que a massa salarial de um clube seja inferior à de um jogador quando se defrontam. Também seria renovar o futebol de formação e apostar de novo nos jogadores locais. Mas nada disso preocupa realmente a UEFA, disposta a olhar para o lado com os grandes mas sempre preparada para pisar os mais pequenos, principalmente desde que Platini se fartou de Zurique e prepara-se para mudar-se para Genebra.

 

A decisão do presidente da UEFA significará o fim do futebol profissional português. Os clubes, incapazes de suportar a massa salarial e o valor dos passes dos James Rodriguez, Rodrigos, van Wolfswinkel e companhia, fecharão portas, jogarão com atletas sem o mesmo nível e o mesmo potencial de crescimento. Deixarão de poder vender para subsistir e acabarão por definhar. Aqui e em toda a Europa do Sul. Ligas que tomarão o caminho dos países escandinavos e do centro da Europa, com jogadores menores, ligas ainda mais abandonadas pelos adeptos e com menos dinheiro a mover-se. A nível mundial afectará pouco outros campeonatos, salvo os sul-americanos que encontrarão forma de reciclar-se, como sempre têm feito. As estrelas actuais dessas ligas serão os suplentes de outras estrelas nos clubes de elite e asfixiarão, ainda mais, o desenvolvimento do jogo. Claro que ao francês isso interessa pouco. Por essa altura estará na sua cadeira de sonho gerindo um futebol que cada vez mais se parecerá com uma fábrica de Henry Ford do que com o sonho de uns poucos amadores do século XIX.



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Sábado, 17 de Novembro de 2012

Uma vez mais, o Em Jogo recopila os melhores artigos publicados durante a última semana na revista online @FutebolMagazine para uma leitura agradável de fim-de-semana!

 

- No mês dedicado à relação entre futebol e política, mergulhamos na crua realidade social do futebol chileno durante o governo de Augusto Pinochet e na ascensão do seu clube de confiança, Colo-Colo. 

 

- Calcio, a obra do autor inglês John Foot, retrata à perfeição a evolução histórica do futebol italiano. Leitura obrigatória.

 

- Há um ranking internacional que mede o sucesso real dos treinadores. Conheçam o Football Coach World Ranking.

 

- Em França a relação entre o futebol e a sociedade sempre foi conturbada. O Maio de 68 foi o ponto de inflexão.

 

- Na Rússia o futebol é um espelho dos seus problemas sociais e o Zenit, a casa de Hulk, Bruno Alves, Danny e Witsel, o clube da supremacia branca.


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Quarta-feira, 14 de Novembro de 2012

Numa era em que os analistas mais progressistas teimam em querer enterrar o ponta-de-lança, como fizeram no passado com os extremos e os criativos puros, novas versões da velha espécie teimam em desmentir a filosofia de que o falso-nove, uma invenção de sessenta anos, é o futuro. Javier Hernandez e Edin Dzeko vivem a poucos quilómetros de distância um do outro. Mas no terreno de jogo partilham a mesma habitação. E sabem como fazer dela a mais aconchegante da casa. A sua, a do golo.

 

A contratação de Robie van Persie parecia condenar Hernandez ao esquecimento. 

O mexicano viveu, há duas épocas, uma explosão prodigiosa no ataque do Manchester United, relegando o milionário Dimitar Berbatov para o esquecimento definitivo de onde nunca mais saiu. Foi o homem dos golos definitivos, especialmente quando a chama de Rooney se apagou. Mais do que uma vez.

Chicharito, diminutivo de quem ama o golo (chicharro é golo em vernáculo popular espanhol), tornou-se sinónimo de triunfos épicos naquela escola que tanto apaixona o futebol inglês. Relembrou as gestas de Fairclough, do Liverpool, de Solskjaer, do United, homens que saiam do banco para tratar por tu as redes adversárias. Ele era e ainda é o símbolo de uma nova geração de um país que está destinado a grande voos. E no entanto, nem Ferguson nem os analistas pareciam confiar nele de forma evidente para dar-lhe a titularidade absoluta do gigante de Manchester. Não era o avançado móvel tão em voga, como todos os predadores, vivia de séries positivas e negativas e no futebol actual não há margem de erro. E no entanto estava aí, a responder com golos às dúvidas dos próprios e estranhos. Este ano, a chegada de van Persie podia ter sido o seu fim. O holandês tem respondido com golos, desmarcações e movimentações que agradam a quem se apaixonou por Hidgekuti ou Rivelino reconvertidos em Messi ou Fabregas, como se o nove e meio fosse coisa do hoje e do amanhã. Não é. E os grandes goleadores não desapareceram por completo. Hernandez tornou-se no abono de família do Manchester United no último mês. 

Os golos do mexicano permitiram ao clube trepar até ao primeiro lugar da Premier League, de forma isolada, e ajudaram a garantir o apuramento directo para a próxima fase da Champions League, sem o sofrimento de outros anos e as eliminações precoces como na época passada. Com Rooney cada vez mais reconvertido a falso número 10 (ou 8, como queiram) a partir desde o meio-campo para estabelecer a ponte com o ataque, o mexicano vai aproveitando os minutos e os espaços para deixar a sua marca. Não é nem será titular na cabeça de um homem, como Ferguson, que sempre quis avançados velozes como Hughes, Cantona, Cole, Yorke, van Nistelrooy, Tevez, Rooney e van Persie. Mas cada vez mais prova que é um jogador que pode ser titular absoluto em qualquer equipa do Mundo.

 

Do outro lado da cidade, o lado azul celeste, há um homem que entende o mexicano à perfeição apesar de vir do frio dos Balcãs para o céu cinzento mancuniano. Edin Dzeko é a versão citizen de Hernandez, o goleador absoluto dos momentos desesperados, o homem que parece não ser contabilizado como primeiro opção numa linha de ataque onde os nomes próprios - Aguero, Balotelli e Tevez - correspondem a esse arquétipo moderno do avançado móvel e todo terreno. 

Dzeko pode ser mais previsível, o seu jogo mais físico e posicional, a sua influência no comportamento do colectivo menos evidente. Não desce tanto a fechar linhas, não exerce as mesmas diagonais a meio-campo mas inspira terror em qualquer defesa contrária. Por quatro vezes este ano saiu do banco nos últimos dez minutos e ajudou o City a dar a volta ao marcador e a garantir doze pontos que mantêm os campeões vivos na luta pela renovação do título histórico logrado na época passada. Um título com o seu selo, com golos importantes nas segundas partes onde Mancini perdia a fé nele mesmo e deixava tudo nas mãos de Deus, da sorte e Dzeko.

O bósnio demonstrou na Bundesliga que é um dos melhores avançados puros do Mundo. A sua transferência para Manchester fazia sentido mas encontrou-se com a fome exagerada de uma equipa que prefere contratar primeiro e pensar depois. O overbooking ofensivo, com quatro jogadores de excelência, causou danos colaterais. Dzeko foi o primeiro. Talvez tenha o melhor ratio de golos e minutos do futebol europeu, talvez seja um dos avançados mais importantes nas vitórias agónicas da sua equipa, mas acaba sempre relegado para quarta opção. Ele é o herdeiro de Nial Quinn, o homem dos golos decisivos, o goleador em quem os adeptos sabem que podem confiar quando mais ninguém salva a pátria. 

Como Hernandez, o bósnio é exemplo de uma velha raça que ajudou a fazer do futebol um espectáculo de golos. Quando a história comemora os feitos dos homens que decidem os jogos com os seus gestos implacáveis, que cheiram o sangue e o medo dos rivais, seguramente terá sempre um espaço para lembrar-se homens como Edin e Javier, goleadores puros que resistem à passagem do tempo e ás modas para demonstrar que a beleza do futebol parte também da sua pureza e simplicidade absoluta. 

 

A linguagem do golo tem muitas entoações distintas e a imensa variedade de tipos de dianteiros ajudou o jogo a crescer e a aperfeiçoar-se. Mas o nascimento - ou redescoberta - de novas posições não deve, à partida, significar a extinção de outras. Os goleadores puros serão sempre fundamentais na concepção de qualquer plantel e os êxitos recentes de Dzeko e Hernandez apenas significam que o nove saberá sempre encontrar formas de se reinventar.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 12:44 | link do post | comentar | ver comentários (10)

Segunda-feira, 12 de Novembro de 2012

Depois de um sprint final que prometia ser intenso, acabou-se o suspense no Brasileirão e o Fluminense conquistou o seu quarto título nacional, o segundo em três anos, consolidando-se como um dos mais sólidos e bem sucedidos clubes do historial recente brasileiro. Apesar da pressão do "Galo" de Ronaldinho e a surpreendente etapa final do Grémio de Porto Alegre, o clube carioca resistiu a tudo e todos e carimbou mais um troféu, o terceiro em três anos.

 

Fred marcou, voltou a ser o protagonista, e fechou com chave de ouro uma época inesquecível para o Flu.

O goleador do campeonato brasileiro, que depois de uma etapa como emigrante intermitente voltou em grande ao país natal, foi o grande herói individual de uma equipa que Abel transformou num colectivo difícil de manobrar. O Fluminense foi a equipa mais regular da época e depois de um brilhante arranque soube gerir bem a sua vantagem e vencer a prova a três jogos do fim. Nem a derrota em Belo Horizonte, contra o Atlético Mineiro, colocou em cheque o título. No jogo do ano, os homens de Ronaldinho foram melhores mas o atraso já era considerável e os tropeções seguintes dos alvinegros facilitaram o título carioca. O empate contra o Vasco da Gama a um golo abriu as portas ao título do Fluminense. Que não enjeitou a possibilidade. 

Abel Braga, um dos grandes históricos dos bancos brasileiros, soube trabalhar bem a herança da espantosa equipa de 2010, onde brilhava o argentino Dario Conca e começava a dar os primeiros passos Deco, fundamental na organização do meio-campo do clube do Rio. Pode já não ter pernas para aguentar o ritmo europeu, mas o luso-brasileiro continua a ser um dos jogadores mais importantes do futebol mundial e o seu papel no título dos cariocas não pode ser ignorado. Entre ele, Wellington Nem, Thiago Neves, Fred e as notáveis exibições do guarda-redes Diego Cavalieri, desenhou-se o sucesso individual de um colectivo muito mais forte que qualquer outro rival brasileiro.

Três derrotas em 35 jogos é algo espantoso na realidade brasileira, um campeonato extremamente competitivo e onde todos podem perder pontos em qualquer terreno. O Fluminense tem o melhor ataque, a melhor defesa e o melhor registo em jogos fora de portas (11 vitórias, pelas 6 do Grémio, por exemplo). Ninguém apresenta números similares na prova nos últimos anos.

 

O clube do Rio de Janeiro tem algo que falta aos seus rivais: solidez financeira.

É uma instituição bem gerida, com os salários em dia, que sabe mexer-se no mercado com habilidade e que mistura veteranos e jovens promessas com critério e paciência. Em 2010 venceram de forma clara o título e dois anos depois repetem a gesta com ainda maior naturalidade. A herança de Muricy Ramalho foi preservada por Abel Braga, que já tinha recentemente obrado a reconstrução do Internacional de Porto Alegre, e levada a outro extremo. Ninguém duvida que o Flu é um dos máximos candidatos a vencer a Libertadores do próximo ano.

O clube manterá a estrutura, a começar pelo técnico, e ninguém espera que veteranos como Deco e Fred saiam. No Brasil ninguém paga tão bem e a horas como o Fluminense, muito mais solvente actualmente do que históricos rivais cariocas como Flamengo ou Vasco da Gama, a pagarem o preço de gestão calamitosas na última década.

A vitória do Fluminense parecia evidente e só foi colocada em questão pela recuperação espantosa do Atlético Mineiro.

Liderado pelo regresso do grande jogador da última década, Ronaldinho, o Galo recuperou a pouco e pouco o atraso e no duelo entre os dois primeiros, o jogo do ano, venceu e encurtou distâncias permitindo aos adeptos sonhar com um campeonato histórico. A qualidade de Bernard, os golos de e a liderança de "Dinho" pareciam condimentos únicos para uma receita de sucesso mas os líderes foram psicologicamente mais fortes e aguentaram o pulso e a distância nas jornadas seguintes não se voltou a encurtar. De tal forma que o Atlético Mineiro perdeu gás e foi apanhado pelo Grémio na tabela classificativa, outro clube que arrancou para um sprint final épico.

Num torneio que pode ficar marcado pela despromoção de outro grande, o Palmeiras, a vitória do Fluminense não só é mais evidente pelo excelente trabalho do Galo em aguentar o suspense do título quase até ao fim da prova. As próximas jornadas servirão para cumprir calendário e para Fred ampliar a sua lenda como goleador para Mano Menezes ver, ele que teima em não confiar no dianteiro carioca como opção para o ataque do escrete canarinho.

 

O triunfo do Fluminense permite estabelecer uma ponte com 2010 e afirmar, sem problemas, que estamos perante um domínio equivalente ao do São Paulo, no final da década passada. Estão em jogo todas as condições para o título se repetir nas próximas épocas e o próximo passo do clube carioca será restabelecer a importância do futebol brasileiro na máxima prova continental de clubes e marcar presença no Mundial de Clubes do próximo ano.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 11:54 | link do post | comentar | ver comentários (9)

Sábado, 10 de Novembro de 2012

Não há nenhum país onde o vermelho ocupe um papel tão fundamental na cultura futebolística como sucede no historial imponente do futebol britânico. Lendas de noites de glória, tardes de sonho e apoteose sob o signo de uma cor que conquistou o mundo com autoridade. Em Turim, numa fria noite de Abril de 1999, o vermelho voltou a triunfar e ajudou a definir os contornos de uma das grandes lendas modernas do futebol mundial. Em Barcelona esteve a emoção mas a grandeza futebolística foi evidente semanas antes, naquela noite em Turim, a noite em que o Manchester United avisou a Europa que estava pronto a renascer. Outra vez!

 

Dos Busby Babes aos heróis de Shankley e da Kop, as camisolas vermelhas de Manchester United e Liverpool, são parte fundamental da iconografia do futebol moderno. Entre ambos estão 80% dos títulos de campeão nacional inglês e o dobro das Taças dos Campeões Europeus dos restantes clubes ingleses juntos. O vermelho impõe aqui um respeito que não conhece em nenhum outro país, em nenhuma outra realidade social. 

A cor que dá vida e força, para lá do humanamente possível, aos dois gigantes ingleses, também destaque de forma evidente nas suas grandes noites europeias. Como sucedeu com a lenda do Liverpool de Bob Paisley, o homem tranquilo que herdou o clube mais bem preparado do Mundo das mãos do seu mentor, Bill Shankley, também Ferguson encontrou nas meias-finais do torneio supremo do futebol de clubes a sua grande noite de glória. O Liverpool venceu cinco finais da Taça dos Campeões (perdeu duas) mas nenhum desses jogos, talvez com a excepção recente do milagre de Istambul, ressoa tanto na épica encarnada do futebol como a noite da segunda mão das meias-finais de 1977 contra os franceses do Saint-Ettiene. Naquela noite a Kop começou a explicar ao mundo o que significava não caminhar só. O clube de Liverpool já tinha ganho ligas e provas europeias (a Taça UEFA), mas aquela vitória, desenhada por Keegan e pintada no céu pelos adeptos Reds, definiu como nenhuma outra a sua lenda europeia. Em Manchester, cidade a 43 kms, habituada ao sofrimento e à perda, as meias-finais europeias estavam sempre associadas ao sofrimento, ao luto, à dor. Foi sonhando com elas que os Busby Babes conheceram o seu fim. Foi nelas que os projectos de Ferguson teimavam em tropeçar e foi numa meia-final que o sonho de Eric Cantona se encontrou com uma noite terrível para Raymond van der Gouw, o suplente holandês de Schmeichel num duelo em casa com os futuros campeões, o Borussia Dortmund, em 1997.

Talvez por isso aquela noite em Turim tenha tido mais impacto emocional do que a maioria das vitórias de um clube que se habituou a sofrer para ganhar as suas finais. Em 1968 precisou do prolongamento. Em 2008 foram os penaltys que decidiram tudo e naquele ano milenar de 1999 todos sabemos como a história acabou. O êxtase do futebol, o orgasmo futebolístico contra o cronómetro, consagrou o grande United mas não apresentou ao mundo a sua melhor versão futebolística. Mostrou o seu lado mais heróico e britânico. O futebol, esse, foi apresentado em dois duelos sucessivos com os gigantes italianos, quando vir de Itália significava, ainda, para os clubes ingleses um sério problema.

 

O empate a 1-1 em Old Trafford (golos de Giggs e Conte, o actual treinador da Juventus) dava uma preciosa vantagem à Vechia Signora.

Ninguém duvida que aquela era a melhor formação da sua era. Tinham participado na final da Champions nas últimas três épocas, a primeira vez que algo assim sucedia desde o triplo triunfo do Bayern Munchen nos anos 70. A diferença estava no resultado. A Juve tinha vencido a primeira, frente ao Ajax de van Gaal, mas depois a cada participação somava uma dolorosa derrota, com o Dortmund em 1997 e com o Real Madrid no ano seguinte. 

Lippi tinha partido e era Ancelloti o homem que comandava uma nave onde o génio de Zidane, o trabalho de Deschamps, Conte e Davids e a magia de Del Piero davam a Inzaghi as oportunidades suficientes para fazer sonhar os tiffosi com um regresso à elite continental. O Manchester United, na sua versão mais continental, tinha eliminado de forma tremendamente convincente o Inter de Ronaldo e companhia nos Quartos de Final. Mas nem nesse jogo (1-1) nem antes a equipa tinha logrado uma vitória em território italiano. E salvo um empate a mais de dois golos, vencer era necessário para sonhar com reencontrar o Bayern Munchen em Barcelona. Na fase de grupos os Red Devils tinham defrontado os bávaros e viajado à capital da Catalunha. Em 28 de Maio esperava-lhes a história mas para lá chegar era preciso passar aquela noite em Turim.

Turim, cidade malfadada para os ingleses desde a celebre série de penaltis do Mundial de 1990. Turim, cidade onde o gang de Michael Caine comete o mais audaz dos assaltos, num duelo nacionalista com a polícia e a máfia italiana, no mítico The Italian Job (versão original). Turim, uma cidade que viveu também a sua tragédia aérea com os heróis do Torino. Turim, cidade fria e que esperava o United conhecendo os seus problemas psicológicos nas grandes noites europeias.

Aos 11 minutos Turim parecia ser tudo isso e mais ainda. Dois golos do eterno oportunista, Filippo Inzaghi, o homem de quem Ferguson disse ter nascido em offside. Um Manchester United sem Giggs, lesionado, e com Scholes no banco, tocado, era incapaz de dominar o espiritio criativo de Zizou e encontrar espaços na defesa amuralhada bianconera. Um resultado assim seria suficiente para destroçar o sonho de qualque adepto do United. À  memória vinham, seguramente, outras noites europeias trágicas. Nesse momento ergueu-se do terreno de jogo a figura de Roy Keane.

O irlandês era o líder espiritual da equipa desde a saída de Eric, le roi, e puxou dos galões como nunca. Reduziu de cabeça depois de um centro de Beckham - e é preciso voltar atrás no tempo para lembrar o quão perfeitos e únicos eram os centros do "Spiceboy" superado injustamente nesse ano no Ballon D´Or por Rivaldo - e suportou estoicamente a punhalada no coração quando o amarelo de Urs Meier o condenava a não disputar a final. Cuspiu para o chão, olhou para o céu e gritou com tudo o que se movia à sua volta. A partir daquele minuto, era Old Trafford outra vez.

Antes do intervalo o empate, aquela parceria que ficou para a história como as "Twin Towers", Yorke-Cole, encontrou espaço para colocar a eliminatória do lado inglês. Obrigaram Ancelloti a arriscar, obrigaram a equipa italiana a subir no terreno, obrigaram Schmeichel a mostrar porque no seu último ano de vermelho algo mágico se sentia no ar. E obrigaram Scholes a entrar em campo para por pausa ao jogo e levar o outro amarelo malfadado que também lhe impedia a ele disputar o jogo decisivo. No meio da dor e do sofrimento, o terceiro golo, ao cair do pano, porque na ópera a obra não se acaba até que Cole marque. Não só Turim deixava de ser um pesadelo como visitar Itália deixava de dar medo. Numa das maiores performances desportivas de um clube inglês em provas europeias, o Manchester United de outros tempos renasceu e confirmou na Europa a sua hegemonia recente do futebol insular. Carimbou o passaporte para a final com autoridade e certezas. 

 

Parecia uma heresia que os Red Devils tivessem chegado a este ponto apenas com um título europeu no bolso. Hoje têm três, fruto do trabalho legendário de Alex Ferguson. Mesmo assim continuam a dois de igualar o recorde encarnado do Liverpool de Paisley, Fagan e Benitez. É a decisiva quimera futebolística de Sir Alex, lembranças das noites de Turim pretéritas e futuras que lhe permitem superar a idade e agarrar-se à sua cadeira de sonho com a esperança de voltar a saborear a sensação de grandeza de epopeia clássica que só noites como aquela de Turim podem fazer sentir alguém que venceu tudo o que havia para ganhar. Noites de lenda, noites de memória perdidas na bruma.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 13:57 | link do post | comentar | ver comentários (6)

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