Quinta-feira, 30 de Agosto de 2012

Os prémios individuais em desportos colectivos são sempre dificeis de justificar. O mediatismo de um individuo supera sempre o trabalho de um todo e o glamour de um troféu ajuda a definir o contorno de uma carreira. No caso de jogadores que jogam debaixo dos focos, surgem sempre como uma curiosa surpresa. Mas nenhum jogador, entre o trio eleito, merecia mais o troféu de jogador europeu do ano do que don Andrés, o malabarista manchego.

Iniesta não tem o perfil de vencedor de prémios.

Vende poucas camisolas, não gera uma especie de palpitação única no coração das mulheres e não inspira, precisamente, os mais novos a ser como ele. Calado, branco como nenhum outro filho do calor de Albacete, cabeça baixa, está para o futebol moderno como outros gentlemans do passado estiveram para os grandes nomes da sua era. Mas por cada Messi, estrela global em todos os sentidos, está sempre um Iniesta. E há quem arrisque, ás vezes como se fosse pecado, a dizer em voz baixa que talvez o lado humilde do espelho seja maior do que o lado mediático. No caso de Iniesta, poucos duvidam.

O médio espanhol é o herdeiro natural de Zinedine Zidane. O francês também demorou largos anos a habituar-se ao protagonismo. Em Bordeaux e Turim já exibia todo o seu talento, já vencia competições nacionais e internacionais, já liderava a sua selecção à glória suprema. Mas, de certa forma, ainda vivia longe da imagem de glamour que herdou com a camisola 5 quando Florentino Perez fez dele o seu segundo Galáctico. Se os melhores anos da sua carreira foram os passados na Juve, a memória colectiva lembra-se dele de branco ao peito, essa associação de um clube e projecto mediático ao seu ser tranquilo e longe de qualquer suspeita. Iniesta seguiu-lhe as pisadas. Começou por baixo e sofreu as duras penas de ser suplente de um Deco estelar na sua chegada ao Camp Nou. Foi encontrando, a pouco e pouco, o seu espaço no projecto de Rijkaard mas, como dizia Guardiola, o manchego estava destinado a outros voos.

Pep tinha dito a Xavi que este seria o responsável pela sua reforma, mas que Iniesta os acabaria por superar aos dois. Partindo do principio que Xavi Hernandez já não voltará a vencer um troféu individual depois de três anos a bater à porta, mediaticamente o Mundo partilha da ideia do ex-técnico blaugrana. Se o AC Milan de Sacchi viu Gullit e van Basten vencerem o Ballon D´Or, agora é o Barcelona do projecto guardilesco que tem em Messi e Iniesta duas estrelas premiadas a ouro.

 

Há quem diga que troféus como este pecam pela dificuldade do adepto em perceber o que realmente se premeia.

Se um ano natural concreto, se uma temporada, se uma carreira, se o talento puro e genuino ou se um evento marcante em que um jogador deixou a sua marca. O desaparecimento do FIFA Award e a posterior fusão com o Ballon D´Or da France Football trouxe ainda mais confusão porque afastou os jornalistas do papel de protagonistas, à hora de votar, e entregou aos capitães e seleccionadores do mundo o poder de decidir. É dificil de compreender a decisão porque a principal consequência, como se viu em 2010 com a ausência de Wesley Sneijder do pódio, centra-se na excessiva mediatização do prémio. Por esse mundo fora serão sempre os jogadores mais mediáticos, leia-se Messi e Ronaldo, a somar mais votos simplesmente porque são aqueles que o Mundo realmente conhece de memória. Votar em Falcao, Drogba, Xavi ou Casillas torna-se num problema quando se pode eleger, ano atrás ano, entre o argentino e o português.

Michel Platini, num gesto oportuno, daqueles que domina bem como fazia com a bola nos pés, aproveitou o vácuo deixado pela publicação francesa e juntou de novo a imprensa que o coroou como o primeiro jogador a vencer 3 Ballon D´Ors consecutivos para um novo prémio. Um prémio que relembra a ideia inicial da France Football, com a introdução de jogadores não-europeus (que impediu Pelé e Maradona de vencer uns quantos troféus), como alternativa lógica. Ainda não tem, se é que alguma vez terá, o peso mediático da Bola de Ouro, mas a ideia é louvável. 

Que o vencedor de este ano seja Andrés Iniesta contribui, ainda mais, para abrir essa terceira via.

Lionel Messi é o jogador mais espectacular do Mundo. Se o talento puro fosse o único condicionante, provavelmente o argentino iria vencer ano sim, ano também. Mas Messi, dentro de toda a sua grandeza, já venceu dois prémios da France Football sem merecê-lo e não viveu em 2011/12 o seu melhor ano individual. Cristiano Ronaldo, que vive amargado na sombra do argentino, ficou duas vezes à porta da glória. Penaltys fatidicos, um falhado e outro que nem se atreveu a marcar, que ditaram o seu destino. Tivesse o Real Madrid vencido a Champions League ou Portugal eliminado Espanha e ninguém questionaria o seu triunfo. Mas a hora de Iniesta tinha de chegar.

Foi o melhor jogador espanhol do Europeu. Foi um dos melhores jogadores do Barcelona durante a época, carregando tantas vezes com a equipa às costas quando o Real Madrid fugia na tabela classificativa e contra o Chelsea o seu desaparecimento condenou os blaugrana a uma derrota inesperado. Podia tê-lo ganho em 2010. Podia tê-lo ganho em 2011. Venceu em 2012 e não há uma voz no mundo que se alce indignada.

 

Iniesta é o herói humilde do jogo de todos. Não tem a preparação fisica de Cristiano Ronaldo e o espirito potrero de Messi. Mas tem a magia do futebolista tranquilo. O conhecimento táctico que lhe permite ler os jogos como nenhum dos outros dois é capaz. Lidera desde o silêncio e decide jogos decisivos com a frieza dos maiores. Desde Zidane que nenhum jogador do seu perfil tinha chamado a atenção do Mundo, nesse imediatismo voraz de procurar o espectáculo pelo espectáculo, o golo pelo golo. O espanhol é filho da escola que, mais do que os artistas individuais, ajudou o mundo do futebol a crescer, a fazer-se popular, a fazer-se arte. Iniesta nasceu para triunfar. Finalmente o Mundo parece ter-se dado conta.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 15:26 | link do post | comentar | ver comentários (27)

Segunda-feira, 27 de Agosto de 2012

Existem aqueles que entendem que o futebol é um jogo de jogadores, de artistas. Que desvalorizam o papel do treinador, reminiscências de uma era onde o papel do técnico era quase inexistente aos olhos de público e directivos. Mas desde a década de 60 que, finalmente, o técnico começou a ganhar preponderância mediática e, com ela, um estatuto social importante que em alguns casos os equipara directamente aos nomes próprios do futebol. Mas o reconhecimento, o mérito e a fama também vêm de mão dada com a responsabilidade, a culpa. Para todos os treinadores menos para um. José Mourinho continua a sentir-se como o treinador que nunca tem a culpa.

 

Nas bancadas perdidas pelos campos desse mundo fora, quando uma equipa se encontra a perder e o relógio corre mais depressa do que Usain Bolt, o desespero leva os adeptos a gritar por golos, por mais homens capazes de marcar esses tão necessários golos. E os treinadores mais comuns, os que seguem o estudo do jogo de longe, habitualmente fazem-lhes a vontade. Entram avançados, saem defesas. Entram avançados, saem médios. Mudam-se defesas centrais para a área contrária e as bolas deixam de sentir o cheiro da relva para rasgar os céus, onde, como diria Clough, não há relva porque Deus não quis que a bola por ali se movesse.

Esse "chuveirinho", como diz o calão futebolistico, ás vezes resulta. Mas a maioria das vezes apenas serve para espelhar o desespero e a falta de ideias do homem que, no meio da tensão, tem de saber manter a calma, o raciocinio solto e a frieza nas decisões. Por cada golo inesperado nos últimos segundos que entra, há dezenas de oportunidades que morrem na confusão da falta de ideias. Um treinador paciente sabe que a bola se coze no meio, se pensa no miolo e só o jogo de espaços pode provocar oportunidades de golo claras. Depois entra o talento, a sorte, a eficácia. Mas o seu trabalho não é esse. É o de saber manter as condições ideais no tapete para que as oportunidades surjam. E para isso, a evolução táctica já demonstrou vezes sem conta, mais avançados não é forçosamente a melhor solução. Pensará o mesmo José Mourinho depois de perder frente ao Getafe por 2-1? Pensará o mesmo o técnico sadino que este ano soma três jogos sem vencer e vê já o rival directo - e único - para o título espanhol a cinco longos e asfixiantes pontos de distância? 

Da sua boca nunca o irão ouvir. Na conferência de imprensa, no final do jogo, Mourinho teve palavras para tudo e todos. Menos para si. Menos para o seu peregrino 3-2-5, um esquema táctico que aguentou durante um quarto de hora e que deixou a nú a clara incapacidade do seu Real Madrid de jogar com paciência, com calma, com a bola nos pés.

 

O futebol de toque não garante sempre a vitória. Essa demagogia recente faz tanto mal ao jogo como acreditar que o "chuveirinho" final é a solução óptima para momentos de desespero. Mourinho move-se no cinzentismo entre as duas correntes mas as suas equipas sempre foram equipas de físico, de velocidade, de romper as linhas com passes rápidos, poucos toques, arrancadas no espaço e pressão asfixiante para esgotar o rival. Mas em Getafe não houve nem sinal desse projecto que lhe deu uma taça e uma liga em duas épocas.

Fisicamente o Real Madrid é um desastre, Cristiano Ronaldo é um fantasma de si mesmo (nunca arrancou tão mal uma liga) e ao contrário de Leo Messi, que depois de uma pré-temporada completa - a primeira em quatro anos - está fresco como nunca, ainda não se encontrou com o golo. O golo decisivo capaz de enganar com o resultado uma exibição cinzenta. Em Pamplona o Barcelona sofreu mas venceu, Messi desenhou à mão um resultado enganador. Mas assim se ganham ligas, como o extremo português demonstrou no ano passado em contadas ocasiões que o Real Madrid ganhou sem jogar melhor. Sem jogar bem.

Em Getafe a equipa de Mourinho jogou mal. Jogaram mal as individualidades mas, sobretudo, jogou mal o colectivo. E aí a responsabilidade é sempre do treinador. Por muito que este seja incapaz de o assumir. Não são só os erros sucessivos nos lances de bola parada o problema do Real Madrid. Desde o primeiro ano de Mourinho que cantos e livres têm sido o seu calcanhar de Aquiles. Depois de tantas sessões de treino é inacreditável ver o melhor jogador azulón neste tipo de lances, o lateral Varela apareça sozinho para empatar o jogo em Getafe. Um episódio mais numa lista onde ninguém sai bem na fotografia. Nem o Iker Casillas que, com a selecção de Espanha se transforma invencível nesse tipo de lances, nem os jogadores escalados para a marcação, nem o técnico que coordena o posicionamento dos jogadores neste tipo de lances. 

Se é nesses movimentos que o Real Madrid tem perdido jogos e pontos, é na incapacidade de dominar os jogos com a bola nos pés que está o seu real problema. Luka Modric chega para resolver, na teoria, uma realidade do futebol de Mourinho. Não o logrará. 

O croata, como Ozil, é um criativo veloz, que gosta de jogar em movimento, que explora bem os espaços com as suas diagonais com a bola nos pés e que lê bem a movimentação dos seus colegas em questões de nano-segundos. Em Inglaterra associou-se sempre bem com a velocidade de Bale ou Lennon e raramente o vimos a pausar o ritmo de jogo e acalmar as hostes. Modric é demasiado parecido a Ozil para apresentar uma alternativa que Sahin ou Granero ofereciam, jogadores mais de pausa no meio de tanta vertigem. Mas o primeiro já está em Liverpool e o segundo conta pouco porque, pura e simplesmente, não é esse jogo a que quer jogar Mourinho. 

O croata supera o alemão em golo, tem esse remate de meia distância tão apreciado em Inglaterra e que ajuda a desbloquear jogos. Mas numa equipa onde já há Di Maria, Ronaldo, Benzema e Higuain, homens fortes nesse campo, isso não é forçosamente uma necessidade.

 

Modric jogará ao lado de Alonso, no lugar de Ozil ou até mesmo pegado a uma banda, mas não mudará o problema de construção paciente de jogo de um treinador que se recusa a sentir culpado quando a sua equipa perde (ou ganha) jogando mal. Com o plantel que dispõe, o Real Madrid podia jogar a diferentes tipos de jogo. O seu técnico escolheu um, tão legitimo como os outros, e os números ajudam-no sempre que dão jeito. Mas quando a bola se esconde no meio de tanta precipitação, quando o desespero lhe assalta a consciência e o medo de perder se torna maior do que a certeza de ganhar, Mourinho deixa-se levar pela pressão e abdica de um principio básico da táctica futebolistica. Não assumir a culpa é algo que já ninguém espera dele, mas no fundo o português sabe que as derrotas da sua equipa, como as vitórias, são também (de)mérito seu. 



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Sábado, 25 de Agosto de 2012

Da eterna promessa Freddy Adu à memória da mítica vitória do Barcelona por 5-0, no Clásico final de 2010, a semana no @FutebolMagazine traz-nos estes artigos em destaque:

 

- Producto mediático made in USA, Adu é um dos fenómenos mais curiosos do futebol mundial da última década.

 

- Em Roma sonham com imitar a Juventus e construir um novo estádio. A nova equipa directiva tem o projecto nas mãos.

 

- O Clásico dos 5-0 num video inesquecível.

 

- Pirlo, o regista que devolveu aos italianos o orgulho na sua selecção, numa obra única.

 

- A escrita do maior pensador sul-americano, o uruguaio Eduardo Galeano, em revista.

 

- Betty Ellis, a primeira mulher a fazer parte de uma equipa de arbitragem oficial, a protagonista da semana. 


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Quinta-feira, 23 de Agosto de 2012

vinte e três anos morria numa movimentada estrada de Madrid a primeira pérola negra do futebol britânico. No país que inventou o beautiful game a população negra parecia ter sido historicamente colocada de lado no desporto mais popular do país. Até que chegou Laurie Cunningham, e com ele uma nova esperança de futuro. Na capital espanhola apelidaram-no de "El Negro" e aí acabaria por morrer num trágico acidente de viação.

 

Contam-se pelos dedos das mãos os jogadores negros britânicos a brilharem no futebol das ilhas até aos anos 80.

Um contra-senso, já que não só a população negra - particularmente nos centros urbanos - cresceu velozmente ao largo do século, mas também pelas condições físicas que permitiam a jovens oriundos - directamente ou em primeira ou segunda geração - de África ou das Caraíbas, mostrar o perfume do seu jogo. O historiador desportivo Chris Green citou apenas quatro exemplos anteriores ao final dos anos 70. Arthur WartonWalter Tull, ainda no amador século XIX, e Lindy Delapenha e Teslim Balogun nos anos 50.

Mas o percurso deste mágico futebolista negro britânico seria de todos o mais marcante. Nasceu em Londres, a 8 de Março de 1956. Numa época onde os Busby Babes iluminavam o futebol europeu e Stanley Matthews e Jimmy Greaves faziam as delicias dos mais novos, Laurie Cunningham começou a correr endiabradamente atrás de uma bola. Aos 18 anos este descendente de jamaicanos decidiu tornar-se profissional e assinou um contrato com o modesto Leyton Orient depois de ter sido rejeitado pelo Arsenal. Despontou rapidamente e dois anos depois foi contratado pelo West Bromwich Albion. Sob  o comando do carismático Ron Atkinson, no Hawthorns Stadium começou a mostrar todo o seu talento e a parceria com Batson e Regis - também de raça negra - levou ao aparecimento de um verdadeiro fenómeno mediático que passaria para a posteridade como os Three Degrees, nome de uma popular banda soul norte-americana negra da época.

No WBA o jovem Cunningham explodiu liderando a equipa aos seus melhores resultados dos últimos 50 anos. Em 1978 disputaram até ao fim o titulo com o poderoso Liverpool, tendo estado invictos durante três meses. Isso permitiu ao jovem ser também o primeiro negro a estrear-se com a camisola inglesa num jogo oficial. Mas nem tudo era rosas.

 

Num país de contrastes, o racismo no futebol era um tema tabú e poucos atreviam-se a defender Cunningham dos ataques sofridos. O jogador era constantemente vitimas de ameaças e ataques racistas, os mesmos que ainda hoje sofrem jogadores da Premier League como os recentes casos de Anton Ferdinand e Patrice Evra demonstram, mesmo dentro do terreno de jogo. 

Durante um jogo atiraram-lhe uma navalha aberta e numa viagem ao norte - zona tradicionalmente mais conservadora - foi colocada uma bala junto do poste da baliza do WBA com a mensagem "Terás uma destas nos joelhos se jogas pela nossa Inglaterra"). Era constantemente assobiado quando a equipa jogava fora e até nos partidos disputados em casa havia sempre um sector racista que não se cansava de o assobiar. Em 1979 - e depois de um magnifico jogo a duas mãos contra o Valencia numa eliminatória da Taça UEFA - o promissor extremo esquerdo, então com 23 anos, deixou as ilhas para assinar pelo Real Madrid por uma cifra record de 995 mil libras.

Foi o primeiro britânico a actuar no clube merengue e no Bernabeu viveu os seus melhores momentos como jogador. No primeiro ano venceu a Liga e a Taça do Rei, mas também passou por momentos complicados, com a afficion ultra madridista a apelidá-lo pouco carinhosamente de "El Negro".

No entanto o público em geral aplaudia o seu estilo rápido e letal mas as sucessivas lesões que foi sofrendo e a sua agitada vida nocturna progressivamente afastaram-no do onze. Quatro anos depois de aterrar em Madrid voltou a Inglaterra, mas a carreira estava já em queda livre. Actuou a espaços no Manchester United (onde reencontrou Atkinson) por empréstimo e ainda passou por Sporting Gijon, Olympique Marseille, Leicester, Charleroi e Wimbledon clube onde conseguiu o seu último troféu, uma FA Cup em 1988 contra o mítico Liverpool. No final da temporada decidiu voltar a Madrid, desta feita para actuar no pequeno Rayo Vallecano. Ao serviço do clube madrileno não exibiu o seu melhor nível e na noite de 15 de Julho de 1989 morreu num violento acidente de tráfego na circunvalação da capital espanhola. Tinha apenas 33 anos e era um fantasma da flecha que tinha despontado dez anos antes.

 

Em Inglaterra poucos deram importância ao evento mas a inequívoca verdade é que Cunningham fez história. A estreia pela equipa nacional inglesa num jogo oficial (em 1979) fez dele o primeiro negro internacional britânico. O extremo abriu as portas para dois dos grandes futebolistas britânicos da década - John Barnes e Paul Ince - e iniciou uma verdadeira revolução no futebol inglês. Na época em que surgiu, Cunningham era a única estrela negra e hoje a Premier League conta com um 23% de jogadores de raça negra, muitos dos quais ingleses internacionais como l Theo Walcott, Danny Wellbeck, Ashley Young, Ashley Cole, entre tantos outros. O seu estilo de jogo era apaixonante mas foi o seu espírito de luta e sacrifício que lhe permitiram quebrar barreiras invisíveis. Foi a primeira pérola negra num futebol que descobriu tarde a sua imensa colónia e que hoje olha para trás com um inevitável sentimento de culpa.



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Terça-feira, 21 de Agosto de 2012

Messi marca dois golos em cinco minutos. O Valencia mostra ser o único capaz de resistir à ditadura goleadora do Real Madrid. O Barcelona arranca a época com goleada. Os golos escondem a pobreza da maioria dos duelos. A época é nova mas a realidade mantém-se igual. O futebol espanhol parte para a nova temporada com o orgulho do título europeu renovado e a certeza que o duelo Barça-Madrid vai voltar a ser até ao fim.

 

Higuain. Jonás. Puyol. Castro. Messi. Messi. Pedro. Villa.

Entre eles se repartem os oito primeiros golos marcados nos dois jogos de Barcelona e Real Madrid, esse clube exclusivo que mantém o interesse do  Mundo numa liga cada vez mais mal organizada, cada vez mais dividida entre uns e outros e cada vez mais distante da imagem de supremacia absoluta que exibe, com orgulho, a selecção do país vizinho.

Semana após semana adeptos dos quatro cantos do Planeta vão parar para ver, ler, ouvir e seguir atentamente os combates à distância entre os dois máximos candidatos a todos os títulos da época, espanhóis e europeus. A diferença de planteis e orçamentos dos dois clubes com o resto é tal que esse duopólio se torna inevitável. Sem resolver a negociação dos direitos televisivos, o fosso aumenta e com ele esse espirito quase claustrofóbico em que vive o futebol espanhol. O Valencia demonstrou no primeiro jogo o que tem vindo a conseguir nos últimos cinco anos. É o único clube que, apesar dos problemas financeiros, se mantém minimamente perto do duo da frente. Mas com uma distância considerável. O empate no jogo inaugural do Bernabeu não é novidado. O ano passado houve menos dois golos mas os pontos foram divididos da mesma forma. O Real venceu o título, o Valencia venceu o título da outra liga. E o Barcelona, em casa, goleou. Como fez quase semrpe nos 19 jogos disputados no último ano de Guardiola. O novo comandante da nau blaugrana, Tito Vilanova, prometeu manter-se fiel ao guardiolismo sem guardiola. Os números e o estilo de jogo dão-lhe razão. Poucos deram pela diferença. Messi continua a ser Messi, e quando é assim, os golos surgem com uma naturalidade única. Foram dois em cinco minutos. Podiam ter sido mais dois. Ninguém teria ficado demasiado surpreendido. A vitória do Barcelona entrega-lhe não só a liderança matemática na primeira ronda, o que é irrelevante, como deixa boas sensações para o primeiro combate de boxe a sério entre blaugranas e merengues, uma Supertaça express a decidir em poucas horas e com muito simbolismo à mistura.

 

Na passada época o Real Madrid começou a dar sinais de que esse podia ser o seu ano no duplo confronto inicial com o Barça.

Perdeu o titulo mas ganhou em futebol, ganhou em confiança e autoridade. A pré-época tinha sido feita a pensar na simbologia desse duelo e no final as pernas começaram a faltar também por culpa dessa obsessão de Mourinho. Este ano o português prometeu pensar mais na liga e na Champions e menos no seu duelo pessoal com o clube catalão. Já lhes venceu na Copa del Rey, já lhes venceu na Liga e agora a Champions é a última fronteira. Com ou sem simbolismo a Supertaça pareça, nesse sentido, algo supérfulo a todos os sentidos. Mas em Barcelona não o é.

O clube é um leão ferido e depois de uma semana dolorosa, onde perdeu liga, Champions e um treinador de lenda, vencer o primeiro confronto directo com o eterno rival pode ser um bálsamo precioso. A chegada de Song traduz-se numa adaptação definitiva de Mascherano a central. O golo de Villa garante que o Guaje é o reforço no ataque que fazia falta e com os mesmos de sempre, Vilanova sabe que tem o melhor plantel da Europa à sua disposição. A pressão é imensa mas a margem de crescimento é evidente.

O Mundo, esse, continuará a ver nos duelos Barcelona-Madrid a essência do futebol espanhol, passando ao lado da crua realidade.

Clubes com salários em atraso há meses, contratos televisivos desrespeitados, horários insultuosos, guerras de poder nos bastidores, jogadores de talento que se vão e poucos que chegam e, sobretudo, uma progressiva perda de qualidade nas equipas de meio da tabela. As baixas no Athletic de Bilbao de Bielsa, a juventude do Atlético de Simeone, entregue agora a um rapaz de 17 anos que despontou no Europeu de sub-19, a falta de liquidez do projecto de Pellegrini com o Málaga e os orçamento apertados de Sevilla, Bétis, Espanyol, Mallorca, Deportivo, Real Sociedad, Getafe ou Levante não deixam de preocupar o adepto neutral que, face a esse cenário, não se pode surpreender quando, semana atrás semana, Messi e Ronaldo goleiam a seu belo prazer defesas que, na totalidade, valem metade das suas botas. 

 

O futebol espanhol continua entretido a brincar aos títulos europeus e mundiais e aos duelos de capa e espada de Barcelona e Madrid. Por detrás da glória há um imenso problema estrutural que foi a base da depressão que vive agora a Série A. O dinheiro começou a faltar, os clubes que aspiravam a algo foram desaparecendo, a televisão não acompanhou as mudanças e a Liga estagnou até morrer à sede. Mediaticamente continua a ser um torneio apaixonante por esse duelo maratoniano, mas futebolisticamente a Liga espanhola vai caminhando, progressivamente, para uma long depressão. Novo ano, nada de novo! 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 00:08 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Domingo, 19 de Agosto de 2012

O futebol inglês encerrou esta semana um ciclo de 15 anos da sua história. Um ponto final surpreende, pelo simbolismo, mas evidente pela forma como a competição se foi adaptando a uma nova realidade de novo-riquismo que domina a elite da Premier League. A mudança de Robbie van Persie de Londres para Manchester não é apenas uma das transferências do ano. É a primeira mudança de um jogador do Arsenal para o Man United em 25 anos. É a transferência que termina, oficialmente, com uma época em que os gunners olhavam de igual para igual aos red devils. Durante quinze anos dividiram o protagonismo da prova. Agora competem em universos distintos.

 

Alex Ferguson voltou a levar a melhor sobre Arsene Wenger. Mas a vitória tem agora um sabor diferente. 

O francês já não é o seu rival. Já não é o alvo a abater, já não está nas principais da Bwin para o título. E já não é a sua principal preocupação. Quando Wenger chegou a Highbury Park da liga japonesa, em 1996, o Manchester United de Ferguson estava a consolidar o seu dominio na Premier League, conquistando o quarto titulo em cinco edições, apenas suplantado por uma ocasião pelo Blackburn Rovers. Nos 15 anos seguintes o único clube capaz de desafiar de forma regular os homens de Old Trafford eram liderados, precisamente, por Wenger. 

Até à chegada de Abramovich ao Chelsea, dividiram todos os títulos principais do futebol inglês. Depois do hiato de dois anos do Chelsea - liderado por José Mourinho - voltaram a ser os principais rivais na prova. Mas o dinheiro injectado pelo russo nos londrinos de Stanford Bridge e a chegada do sheik Al Mansour ao Manchester City foram acabando com o duopólio. O Big Two passou a Big Four, então com o Liverpool e mais tarde com o City a fechar o poker de clubes que podiam aspirar ao titulo da Premier. Mas sem dinheiro - devido à aposta do clube em fazer do Emirates Stadium uma nova fonte de ingressos a curto prazo - e perdendo as suas estrelas, de alguma forma Wenger conseguia estar sempre aí. O seu Arsenal nunca terminou abaixo do terceiro lugar desde a sua chegada. Nunca falhou a fase de grupos da Champions League, prova maldita para o gaulês. E nunca cedeu à tentação de render-se às investidas de Ferguson.

Wenger preferiu perder Nasri para o Manchester City, Fabregas para o Barcelona e Cole para o Chelsea antes de os vender a Ferguson. Com o escocês travou mais do que batalhas ideológicas e dialécticas. Até à chegada de Mourinho os dois monopolizaram o império mediático da Premier. Depois da saída do português afastaram-se ainda mais. Na hora da verdade Wenger confessou que tentou tudo para não perder o jogador holandês para o Manchester United. Mas desta vez não teve alternativa. E fechou-se um ciclo histórico.

 

Com Van Persie o escocês conseguiu o que queria.

Acabou com um rival directo de forma definitiva. Parece evidente que hoje o titulo inglês é questão de três, de três clubes com poderio financeiro suficiente para aguentar esta corrida ao armamento que terá, mais tarde ou mais cedo, outros danos colaterais. O Liverpool foi o primeiro e agora definha nos últimos postos europeus, depois de ter sonhado alto com Rafa Benitez. O Chelsea sofreu-o na pele e só o triunfo na Champions League despertou a vontade de Abramovich de contrariar uma tendência recente e volta a injectar sangue novo - pago a peso de ouro - no clube.  E agora o Arsenal, vitima de uma politica louvável mas que o está a afastar, progressivamente, dos títulos. O clube é o porta-estandarte do programa Fair Play da UEFA mas no terreno de jogo a sua aposta em manter uma massa salarial controlada e um gasto em transferências que não aumente o passivo do clube teve um duplo efeito negativo. Não só afastou os gunners dos títulos como levou os seus principais jogadores a procurarem o dinheiro e os troféus nos seus rivais mais directos. 

Wenger não joga num jogo limpo e sabe-o. Manter-se fiel à sua filosofia é louvável mas suicida e agora o técnico sabe que o máximo que pode aspirar é repetir a enésima presença na Champions League num duelo quente com Tottenham, Liverpool e Newcastle, equipas cujo o orçamento e gastos em transferências se equipara ao dos londrinos. A anos-luz estão os outros, os homens dos títulos.

O United tem lidado com o grave problema de resolver aos Glazer a sua própria divida e isso tem sido um grave handicaap nos últimos anos para Ferguson. A formação do clube não tem dado os frutos esperados a curto prazo, a maioria dos jogadores contratados são jovens de potencial e a necessidade de recorrer cada vez mais à velha guarda é evidente. Este defeso foi um passo fundamental para mostrar que o clube está ainda no topo. A chegada de Van Persie para unir-se no ataque com Wayne Rooney equivale em importância moral ao "roubo" de Eric Cantona ao Leeds United, então rival directo dos Red Devils na Premier. Com o japonês Kagawa a dar ao meio-campo a classe que faltava, espera-se este ano um Manchester mais agressivo, eficaz e autoritário. Uma equipa montada a longo prazo para aguentar os gastos loucos do Manchester City - que continua a ser o grande favorito - e de um Chelsea rejuvenescido a peso de ouro. 

 

Apesar das chegadas de Giroud, Cazorla e Podolski, o Arsenal sai claramente desfigurado deste negócio. Baixou oficialmente um degrau e deixou de ser uma equipa a contar na luta pelo titulo, mesmo que nos últimos anos isso tenha sido sempre uma miragem. Os próximos anos da Premier vão definir-se sobretudo à volta dos clubes com dinheiro vivo e sobreviverá aquele que melhor aguente a concorrência. O grande trabalho de Wenger será agora evitar que o Arsenal repita o exemplo do Liverpool e se mantenha a uma distância saudável do pódio, esperando algum deslize. Talvez assumindo definitivamente que a Premier é outro cantar possa o técnico finalmente focar-se na Champions League e ganhar o único troféu que lhe falta, aquele que mais tem merecido e que sempre se lhe tem escapado. O Chelsea e o Liverpool lograram-no nas horas mais baixas. Quem impede o Arsenal de seguir pelo mesmo caminho? 



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Sexta-feira, 17 de Agosto de 2012

No episódio da silly-season protagonizado por Luisão o que mais preocupa nem é sequer o gesto do defesa brasileiro. Nem a atitude exagerada do árbitro alemão. O mais triste é constatar que o clube que já representou Portugal ao mais alto nível caiu numa crise profunda de valores. Este incidente não só deixa a nu a falta de moral do clube encarnado como abre um perigoso precedente para o futuro imediato.

 

De suposta agressão a conspiração alemã.

Na família benfiquista o episódio de Luisão transformou-se agora numa conspiração internacional liderada desde Berlim pelo governo alemão contra o Benfica e o futebol em Portugal. Seria talvez o cumulo do absurdo se não fosse provavelmente apenas mais um dos muitos comentários que se seguirão a ouvir sobre este triste caso desde a Luz. Pragal Colaço, homem de confiança da direcção, presença assídua em tertúlias do canal oficial do Benfica, advogado conhecido por achar que a violência é o caminho que os encarnados têm de seguir para recuperar a hegemonia do futebol português, não surpreende com as suas declarações. Mas deixa em evidência a direcção sem norte nem sul de um clube que foi um símbolo de moralidade durante largos anos.

O árbitro do Fortuna Dusseldorf - Benfica, o alemão Christian Fischer, não caiu sozinho. Não foi empurrado pelo ar nem tropeçou na própria sombra. Luisão, capitão ou não, não pode actuar como actuou. Seja isso uma agressão, um encosto premeditado, um choque de peito. O jogador - um internacional com uma carreira de mais de uma década - devia saber que o árbitro é uma figura sagrada no universo desportivo. E no árbitro não se toca. De nenhuma forma. Muito menos com o peito, muito menos com a arrogância de quem vem reclamar razão num lance em que o seu colega de equipa fica muito mal na fotografia. Luisão devia sabê-lo. Esteve no Mundial de 2002, o mesmo em que João Vieira Pinto mostrou aos portugueses o que não fazer a um árbitro num jogo oficial. Pagou por isso. Portugal também. Mas se Luisão depois de tanto anos como jogador não sabe que não pode tratar o árbitro de um jogo, oficial ou não, como um colega de rua, então o Benfica devia sabê-lo. Esse é o grande problema.

 

Não me admira que na Alemanha estejam estupefactos com este caso.

Com a actuação do benfiquista, com a reacção algo exagerada do árbitro mas, sobretudo, com a actuação do clube.

O Benfica, sob o mandato de Luis Filipe Vieira, tem vindo progressivamente a afastar-se da imagem do clube que foi. Vencer a todo o custo, seja a sustentabilidade financeira ou moral da instituição, tornou-se na palavra de ordem. Foi assim nos últimos anos com queixas de vários clubes à actuação de jogadores, técnicos e directivos dentro e fora do relvado. Foi assim no ano em que se sagrou campeão com Jorge Jesus ao leme, uma equipa que começou o ano a jogar um futebol fantástico e que acabou a temporada asfixiado física e psicologicamente, e a pedir a hora. Foi assim quando impediu o FC Porto de celebrar um titulo apagando as luzes de um estádio que já iluminou o futebol português. E tem sido na forma como tem dado aos jogadores carta branca para agir no relvado com total impunidade moral. 

O Benfica que se fez grande era um clube onde não havia espaço para atitudes como a de Luisão

Antes de qualquer sanção a UEFA, FPF ou FIFA, devia ter sido o próprio clube a recriminar pública e internamente o seu capitão. Há acções que não se podem permitir a ninguém. Devia ter sido o clube a dar o exemplo moral, castigando Luisão com a perda da braçadeira, com uma suspensão interna ou uma multa pecuniária. Qualquer um desses gestos teria sido suficiente para demonstrar uma autoridade moral de um clube campeão que sabe estar no mundo. Não seria uma decisão consensual nem fácil mas as decisões correctas nunca o são. 

O que fez o clube foi remar a favor da corrente mas rumo a um precipício. Destroçou, um pouco mais, o escudo que representa ao tratar o árbitro como um actor de comédia, um agente ao serviço de outros interesses, um símbolo do anti-benfiquismo. Ao transformar o agressor em vitima, em herói de resistência, capaz de unir um balneário com um gesto que merecia reprovação de todo o plantel. Agiu no sentido de desculpabilizar e com isso acabou de assumir a culpa de ser uma nau sem capitão, à deriva. Um clube mais pequeno.

 

Sob a gestão da FPF parece evidente que Luisão não receberá nenhum tipo de sanção desportiva. A justiça desportiva portuguesa não é algo propriamente de que um cidadão se possa fiar. Mas mesmo que o central fosse suspenso, de alguma forma, a atitude do clube já está retratada para a posteridade. Os adeptos e associados do clube que ainda é aquele que mais títulos de campeão nacional ostenta, mandou uma mensagem clara e directa. Contra ventos e marés, custe o que custar, pisando o que seja preciso pisar, o Benfica carrega contra tudo e contra todos. Pode servir para ganhar um votos em Novembro, mas também servirá para que alguém no futuro olhe para trás e diga que os valores deixaram de vestir de encarnado há muito tempo. 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 00:29 | link do post | comentar | ver comentários (11)

Quarta-feira, 15 de Agosto de 2012

Na retina dos adeptos está ainda o espantoso volley que destroçou Zubizarreta e o Dream Team na elétrica final da Champions League de 1994. Atrás ficaram anos de conflitos constantes com os técnicos que o orientaram e a sensação de que Dejan Savicevic tinha passado ao lado de uma grande carreira. Naquele mágico momento "Savi" ajustou as suas contas com o passado e imortalizou-se definitivamente como o "Principe dos Balcâs".

 

Hoje é presidente da Federação de Futebol do Montenegro e continua tão polémico como há vinte anos atrás. Está no seu carácter ser conflituoso e procurar sempre o caminho mais difícil para resolver qualquer problema. Um carácter que também transparecia no seu estilo de jogo. Ao contrário do milimétrico Prosinecki ou do cerebral Boban, a Dejan o mais espantoso era complicar para depois resolver. Provocar o rival para ultrapassá-lo. Superar as expectativas e encarar cada novo jogo como uma batalha a ser ganha, de vida ou de morte.

Uma realidade que já se evidenciava quando surgiu, franzino mas com vontade de engolir o Mundo, no FK Buduconst Podgorica, equipa da sua cidade natal em Montenegro, então mais uma província da Jugoslávia. Com 16 anos arrancou a sua carreira profissional. Começou como ponta-de-lança e rapidamente foi ganhando mobilidade até se tornar um autêntico todo o terreno. Tornou-se na grande estrela do futebol de leste durante os anos 80, rivalizando já com nomes como Hagi e Lacatus, Prosinecki e Boban, Kostanidov e Stoichkov, então todos as dar os primeiros passos desportivos. Em 1988 o Estrela Vermelha de Belgrado não hesitou e juntou-o à já significativa constelação de promessas que tinha no plantel. Começava a sua idade dourada. Mas que não chegaria antes de muitos conflitos.

Em Belgrado Savicevic sofreu os primeiros revezes. Forçado a cumprir o serviço militar obrigatório, foi afastado dos trabalhos da equipa durante toda a época 1988-89 e perdeu o seu posto no onze. Entre os jogos que lhe foi permitido disputar esteve a mítica eliminatória com o AC Milan de Gullit, Rijkaard e van Basten. Fora de forma e já com problemas visíveis com a equipa técnica, Savicevic conseguiu mesmo assim surpreender Baresi e apontar o golo que parecia dar o apuramento aos jugoslavos. Só que um nevoeiro cerrado obrigou o árbitro a parar o jogo e recomeçar o encontro no dia seguinte. Os italianos lograram empatar e nos penaltys apuraram-se para conquistar o primeiro titulo da geração holandesa do Piemonte. No inicio da época seguinte Savicevic incorporou-se definitivamente e o técnico Branko Stankovic, com quem o jogador já nem trocava palavra, foi substituído por Dragoslav Sekularac. A partir daí o dianteiro arrancou para o seu melhor ano, ajudando a vencer três ligas consecutivas e ainda duas taças. O muro tinha caído e a Jugoslávia estava prestes a desmoronar-se. O avançado falhava a presença nos jogos chave da selecção devido à sua relação de amor-ódio com Ivica Osim, o seleccionador nacional. Falhou o apuramento para o Euro 88 e no Mundial de Itália foi deixado sucessivamente no banco. 

Mas se a carreira internacional corria mal, a nível interno o sucesso era absoluto. O momento alto chegou em 1991, em Bari. Numa final histórica contra o Olympique Marseille, o Estrela Vermelha contrariou todos os prognósticos e conquistou o seu único titulo de campeão europeu. A vitória permitiu a Savicevic ser coroado o melhor jovem jogador europeu e ser segundo na disputa pelo Ballon D´Or, atrás de Jean-Pierre Papin.

 

O sucesso desportivo levou rapidamente o AC Milan a apostar no sérvio como o substituto ideal para Marco van Basten, já a conta com várias lesões consecutivas. Com ele chegaram ainda Boban, Eranio, Lentini e Pappin. Uma equipa que Fabio Capello teria dificuldade em contentar com tantas estrelas a treinar diariamente em Millanello. E quando van Basten recuperou do seu primeiro grave problema, Savicevic passou imediatamente para o banco. Fez apenas 10 jogos e apontou 4 golos em 1992/1993 e a sua relação com Cappello (tal como passou com Gullit) começou a deteriorar-se. Além do mais a proibição de apresentar mais de 3 estrangeiros fazia com que uma equipa onde havia 7, o número de insatisfeitos fosse sempre elevado. O grande choque deu-se aquando da convocatória para a final da Champions de Munique, diante do Marseille. Savicevic ficou de fora e nem viajou com os companheiros. A estadia em Milão tornava-se um barril de pólvora mas subitamente Capello mudou. Passou a confiar mais no avançado e deu-lhe a titularidade do ataque na época seguinte. O jugoslavo respondeu com belas exibições e muitos golos. Il Genio, foi assim que o descreveu Berlusconi, satisfeito pela equipa não notar a ausência (definitiva) de van Basten. A noite de luxo chegou a 18 de Maio. Diante do mitico Dream Team de Johan Cruyff, o AC Milan de Berlusconi deu uma lição de futebol.

O avançado montenegrino foi o interprete perfeito e apontou um histórico hat-trick a Zubizarreta, dando ao AC Milan a sua terceira Champions em oito anos.

O ano seguinte foi negro para o Milan. Mau desempenho doméstico e derrota na final da Champions com o Ajax. Savicevic não jogou por estar lesionado, apesar do jogador ter insistido até ao último minuto que podia actuar. A equipa italiana começava a perder protagonismo para a Juventus e a veterania do plantel começava a fazer-se notar. O dianteiro voltou ao banco e deixou de ter as mesmas oportunidades. Era visto como um elemento a substituir e a chegada de George Weah apressou a sua saída. Voltou a casa, ao Estrela Vermelha, mas apenas ficou um ano na equipa que o lançou ao estrelato. Depois de dois anos no Rapid Wien decidiu parar, definitivamente. Mas continuou ligado ao futebol e dois anos depois de retirar-se foi nomeado seleccionador da Sérvia-Montenegro. Falhou a qualificação para o Mundial de 2002 e para o Euro 2004 e acabou por ser substituído. Mas não antes de se envolver em várias disputas politicas, tornando-se num dos rostos da independência montenegrina. Quando o país finalmente conseguiu separar-se da Sérvia, rapidamente Savicevic ocupou o posto de presidente da Federação de futebol, entrando em confronto directo com os dirigentes sérvios. Em Podgorica, continua a ser o filho predilecto de maior renome. Um ídolo.

 

Enquanto Prosinecki preferiu brilhar em Espanha, Savicevic seguiu o rumo da maioria dos jogadores jugoslavos mostrando o perfume do seu futebol na vizinha Itália. No entanto a história do futebol lembrar-se-á sempre primeiro da notável formação do Estrela Vermelha e daquele rebelde irrequieto que durante dez anos foi um dos mais letais executantes da história do beautiful game.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:53 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Domingo, 12 de Agosto de 2012

Foi o homem que marcou o golo decisivo que confirmou o regresso do West Ham United à Premier League. Oito anos depois de estrear-se na máxima competição inglesa, o avançado português está de regresso para provar definitivamente o seu valor. Foram oito anos de expectativas, desilusões para mergulhar agora numa ressurreição inesperada.

 

Foi colega de equipa de Nani no Real Massamá mas a carreira de ambos mudou radicalmente no dia em que o Sporting contratou o actual extremo do Manchester United enquanto Vaz Tê preferiu marchar para Inglaterra e assinar com o Bolton Wanderers. Prometeram fazer dele uma estrela, um sonho que qualquer jovem alimenta. Que dizer de um rapaz que aos dois anos deixou Lisboa para viver na Guiné-Bissau de onde o pai era natural e que aos 11 anos voltou à capital portuguesa, passando as horas com a bola nos pés no cimento frio dos subúrbios da cidade. O Bolton oferecia-lhe mais do que o clube leonino e à primeira vista parecia a melhor opção. Mas não foi.

Enquanto Nani amadurecia em Alcochete, até se tornar num dos melhores jogadores portugueses da década, Vaz Tê passou de grande promessa a maior desilusão. 

Estreou-se pela primeira equipa em 2004. Tinha apenas 17 anos. Contra o Middleslbrough na Premier League. Parecia um inicio entusiasmante mas a ilusão desfez-se. No ano seguinte, ainda com 18 anos, participou em 30 jogos pelo Bolton, sete como titular, e começou a representar as selecções de formação portuguesas, primeiro a sub-19 e mais tarde a sub-21. Mas depois chegaram os empréstimos, parte da cultura da gestão inglesa de jovens promessas. E com os empréstimos chegaram as lesões, as desilusões e o protagonismo inicial foi-se perdendo. Primeiro ao serviço do Hull City, depois com os gregos do Panonios. Sam Allardyce tinha deixado o Bolton, ele que apostara nele no inicio, e o novo staff técnico não parecia interessado em recuperá-lo. A sua carreira parecia sofrer o mesmo destino de tantas outras: o esquecimento.

 

Em 2010 o jogador desvinculou-se oficialmente do Bolton. Ninguém parecia interessado em contratá-lo e acabou por rumar à Escócia onde jogou uma época com o Hibernians. Depois voltou a Inglaterra para disputar o Championship com o Barnsley. Em nenhum dos casos chamou a atenção e relembrou o jogador que podia ter sido. Mas havia um homem que não se tinha esquecido do que Vaz Tê era capaz.

Sam Allardyce era técnico do recém-despromovido West Ham United. Sem dinheiro para investir aproximou-se de Vaz Tê no mercado de Inverno e desafiou-o a mostrar o que realmente valia com a camisola dos Hammers. Amor à primeira vista define perfeitamente esta história até agora. O dianteiro português renasceu e realizou uma época inesquecível.

Apontou dez golos e realizou cinco assistências em quinze jogos. Encaixou às mil maravilhas no esquema de ataque dos londrinos e quando a época chegou ao seu final, e o West Ham United foi forçado a disputar os play-off para lograr a promoção, Vaz Tê deu a sua melhor versão. No jogo decisivo, em Wembley, frente ao Blackpool, marcou o segundo e decisivo golo. O golo que permitia aos Hammers voltar à elite. O golo que o reconciliava consigo mesmo.

 

Ao lado de Carlton Cole, outro goleador maldito, o dianteiro português é a grande esperança dos adeptos do West Ham para a próxima época. Será a primeira temporada completa ao serviço do clube e se mantiver o mesmo rendimento que deu nos cinco meses da temporada passada, ninguém descarta que, mais cedo que tarde, Ricardo Vaz Tê cumpra o velho sonho de ser internacional pela selecção portuguesa. Face ao deficit crónico de goleadores, a ressurreição do dianteiro é uma das melhores noticias para o futebol nacional. A oportunidade está aí.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 11:02 | link do post | comentar | ver comentários (6)

Sexta-feira, 10 de Agosto de 2012

poucos guarda-redes com tanta projecção de futuro actualmente como o alemão Marc-André Stegen. Num país desenhado à base de grandes números 1, desde Tilkowski a Manuel Neuer, o homem que defende as redes do Borussia Monchengladbach é mais um desses nomes para a posteridade. Se a sua equipa entrar na fase de grupos da Champios League, Stegen terá uma oportunidade de ouro para consagrar-se como um dos melhores do continente.

 

Não chegou ao último Europeu, nem como terceira opção de Joachim Low mas ninguém duvida que é o homem do futuro

Apesar da juventude de Neuer e da classe de René Adler, dois dignos rivais, a projecção de futuro de Stegen é inquestionável. Na história do futebol alemão é raro que um guarda-redes se aguente nas redes da selecção absoluta mais do que meia dúzia de anos. Apesar da longevidade daqueles que ocupam a posição nuclear no sector defensivo, isso permitiu aos alemães conhecerem grandes guardiões da mesma geração. Aconteceu com Schumacher e Immell. Com Kopke e Illgner. Com Kahn e Lehman. Com Adler e Neuer. E agora Stegen pede para ser o próximo da lista.

Com 20 anos apenas o futuro é mais do que radiante. São 30 jogos na mais alta competição em dois anos ao serviço do Monchengladbach, período em que fez parte da profunda transformação de um clube histórico numa potência reconvertida. Ao serviço de Lucien Favre, o guardião tornou-se no pilar defensivo de uma equipa que se fez notar pela qualidade do seu ataque com Reus, Camargo, Hanke e Arango. E que acabou por se revelar fundamental na corrida da passada Bundesliga que terminou com um histórico quarto lugar, o melhor posto do clube em três décadas.

 

Com 1m89, Stegen corresponde fisicamente ao estereótipo de guarda-redes alemão.

Imponente, domina a área com uma autoridade inaudita num jogador tão jovem, e a sua capacidade de reacção fez-se notar, sobretudo nos momentos mais complicados da última temporada. Depois de superar definitivamente a concorrência do igualmente promissor belga Logan Bailly, a sua capacidade de liderança ficou evidente no primeiro jogo da época, o seu primeiro duelo com Neuer. O Bayern Munchen, que tinha preferido o ex-número 1 do Schalke 04 ao homem de Monchengladbach, perdeu com um erro da sua nova contratação e Stegen parou tudo o que havia para parar, garantindo o precioso triunfo de 1-0. Foi a primeira de muitas vezes que o guarda-redes salvou a equipa.

Depois do sofrimento da época de estreia, com o duelo nos play-offs que garantiu a manutenção do clube, ter Stegen transformou-se num dos homens da liga levando a maior glória alemã nas redes, Sepp Maier, a compará-lo com Neuer com a substancial diferença da idade que joga a seu favor. Eleito no onze ideal da Bundesliga por vários especialistas, foi abordando por alguns clubes ingleses no mercado de transferências mas deixou claro que o primeiro objectivo é estabeleceres como figura chave em Monchengladbach.

 

Na realidade do futebol alemão, e com o lugar no Allianz Arena reservado para os próximos anos, é difícil ter Stegen encontrar melhor sitio para continuar a crescer. Mas ninguém duvida que, mais cedo que tarde, o protagonismo que agora tem o polémico Neuer passe progressivamente para um guarda-redes que se desvia das polémicas com a mesma facilidade com que desvia remates às redes. 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:57 | link do post | comentar

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