Terça-feira, 28 de Fevereiro de 2012

poucos jogadores europeus com tamanha margem de progressão como Kevin de Bruyne e Xherdan Shaqiri. Não são apenas talentosos, jovens e extremamente bem sucedidos. Revelaram-se também surpreendentes exemplos de negócios em tempos de crise. Chelsea e Bayern Munchen mostraram o caminho e deixaram em evidência a habitual politica de desbarato de alguns dos clubes de top do futebol europeu. Dois cracks, uma forma de fazer negócios que entra em sintonia com os novos tempos.

 

Fábio Coentrão custou 30 milhões ao Real Madrid. Falcao custou 40 milhões ao Atlético de Madrid. Alexis Sanchez trouxe às arcas da Udinese cerca de 40 milhões, tanto como as movimentações de Fabregas ou Aguero. Negócios milionários num ano de crise economica crescente que transparecem bem a teoria de que muitos se valem para criticar o universo futebolistico. Sem dúvida há clubes que trabalham à margem da realidade. Com dinheiro emprestado, com dividas crescentes e pagamentos a prazo que muitas vezes se atrasam sucessivamente. Raros são os bons negócios, raros são os negócios realistas que capturam tanto a essência de uma politica desportiva sustentável como a dinâmica económica da actualidade. No meio desta troca constante de divisas por valores astronómicos que poucas vezes traz uma verdadeira rentabilidade a longo prazo, há sempre excepções. Sadias e esperançadoras excepções. Por cada Sanchez ou Coentrão existe um De Bruyne ou Shaqiri.

O potencial tanto do extremo belga como do craque suiço não está longe do que podemos imaginar com o defesa português e o dianteiro chileno. E no entanto Chelsea e Bayern pagaram a metade de Real Madrid e Barcelona pelos jogadores. Negócios rápidos, silenciosos e que se afastam cada vez mais da ideia mediática da contratação para a ergonomia sustentável de uma gestão quase empresarial que começa a tomar forma em Londres e que há muito faz escola em Munique. Se o Bayern é o exemplo perfeito de como um clube de futebol deve ser gerido, ao Chelsea há que reconhecer que, progressivamente, o clube vai dando passos similares nessa direcção e se afasta, cada vez mais, do fantasma milionário de Abramovich como bolsa sem fundo. De Bruyne e Shaquiri, como sucedeu com Lukaku, Mata, Oriol Romeu, Courtois, Boateng, Rafinha ou Luis Guztavo são espelhos de uma politica de contratação racional e profundamente orientadas para o futuro.

 

De Bruyne é o terceiro belga a aterrar em Stanford Bridge num ano.

Há muito que o Chelsea soube identificar no outro lado da Mancha um verdadeiro viveiro de talentos a que se podem incluir Hazard, Defour, Witsel e Verthogen. O extremo do Genk tem sido nos últimos anos uma das principais atrações da Jupiler League e apesar dos seus tenros 20 anos há muito que estava referenciado pelos clubes de top do futebol europeu. Em Brugge tentaram aguentar as investidas de Arsenal, Milan e Bayern mas acabaram por ceder aos argumentos do Chelsea. O clube londrino pagou a misera quantia de 9 milhões de euros por um jogador com um valor potencial de mercado capaz de rondar o triplo. O negócio não só garantiu ao clube inglês um substituo à altura para Kalou – de saída do clube – como ainda beneficiou o Genk que ficará com o jogador como empréstimo até ao final da temporada.

O mesmo acordo foi establecido entre Bayern Munchen e Basel FC.

É dificil encontrar um extremo tão entusiasmante na praça europeia nos últimos dois anos que Xherdan Shaqiri. Desde que brilhou com as cores helvéticas num Europeu de Sub-19, o extremo tem deixado a salivar os olheiros dos grandes nomes do Velho Continente. O seu clube de formação foi rejeitando ofertas tentadoras de Espanha e Inglaterra. Por detrás da decisão dos gestores do Basel estava a expectativa numa boa campanha europeia que se veio a concretizar. Shaqiri liderou o melhor Basel da história numa fase de apuramento empolgante que acabou com a eliminação do Manchester United, garantindo aos suiços a presença nos Oitavos de Final. Por 10 milhões de euros os bávaros garantiram a sua contratação para reforçar uma temivel linha ofensiva onde já estão Robben, Ribery, Muller, Kroos e Gomez. A capacidade técnico e a velocidade do suiço transformam-no obrigatoriamente numa das grandes sensações dos encarnados para a próxima temporada. O negócio entrou na dinâmica recente do Bayern, o único clube a conseguir um lucro no exercicio anual pelo 15 ano consecutivo, algo inédito na história de um desporto onde a maioria das instituições vive mergulhada em dividas.

 

Com estes dois negócios tanto Bayern Munchen como Chelsea não garantem apenas dois elementos que farão parte do futuro do futebol europeu a um baixissimo preço. Ambos clubes establecem uma linha de gestão económica que nos dias do Fair Play establecido pela UEFA deve marcar o futuro das negociações desportivas. Enquanto existirão sempre clubes dispostos a recorrer ao chamado “doping financeiro” e sem esquecer que o desnivel do mercado é real, negócios como este abrem uma esperança para um futuro mais sustentável, realista e ao mesmo tempo empolgante para o futebol europeu.



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Domingo, 26 de Fevereiro de 2012

Ser adepto do Arsenal podia ser aborrecido até ter aparecido Arsene Wenger. Hoje é um verdadeiro caso freudiano. Os gunners passaram numa década de ser a inveja intelectual da Europa a ser uma equipa incapaz de viver à altura dos seus melhores momentos. Wenger não perdeu o dom, mas a conjuntura onde se move é cada vez mais rasteira e dificil de gerir. A sua gestão nunca foi tão criticada e os dirigentes do clube londrino têm de tomar uma decisão que pode marcar profundamente o futuro do clube.

 

Quando Wenger chegou a Londres o “boring, boring Arsenal” era um destino tão pouco apetecivel que muitos técnicos ingleses nem se atreviam a aproximar-se. Apesar dos titulos da era George Graham o clube era mal visto pelos adeptos, mesmo os mais “hornbianos”, e a maior parte das suas estrelas viviam mergulhadas em alcool, calmantes e escândalos. A imprensa sensacionalista pode ter chamado ao gaulês “Arsene who?” no dia da sua apresentação mas o curriculum de Wenger no Monaco falava por si. O espectáculo estava garantido.

17 anos passaram. Muitos, em qualquer país, em qualquer clube, em qualquer filosofia desportiva. Muito mais neste mundo veloz e devorador, qual Saturno, dos seus próprios filhos. Wenger prometeu espectáculo e titulos e cumpriu. A equipa jogou como não o fazia desde os dias de Herbert Chapman e logrou mais vitórias que nas últimas cinco décadas juntas. Faltou o ceptro europeu para confirmar a sua hegemonia estética e emocional e esse karma acompanhou Wenger nos últimos anos como talvez nenhum outro. Se tivesse ganho uma Champions League com a magnifica geração dos Invencibles talvez as criticas de imprensa e adeptos fossem menos crueis. Mas frente a Barcelona e Chelsea a sorte e a frieza faltou-lhe e o fracasso europeu transformou-se, inevitavelmente, numa das suas imagens de marca. Agora, sete anos depois do seu último titulo essa lembrança doi mais do que nunca. A eliminação na FA Cup e na League Cup têm-se tornado realidades quase inevitáveis tal como a incapacidade dos gunners de lutar pelo titulo nacional. Se a vitória categórica sobre o Tottenham Hotspurs (depois de estar a perder por 2-0) parece devolver a esperança aos adeptos, a lembrança da derrota humilhante em Milão transformou-se na real vara de medir dos adeptos à gestão actual de Wenger.

 

Poucas equipas conseguiram destroçar tão facilmente o Arsenal de Wenger como o AC Milan de Allegri.

Não que os italianos tenham feito o jogo do ano. Apesar do resultado brilhante, notaram-se bastantes debilidades no conjunto rossonero para pensar que há uma diferença assim tão grande na realidade. O problema esteve em Wenger e, sobretudo na falta de espirito competitivo dos seus. Não se pode medir este Arsenal ao de há dez anos porque, inevitavelmente, a qualidade do plantel é infinitamente superior. Quando Wenger chegou ao clube dedicou-se a duas tarefas. Contratar jogadores de top infra-valorizados no futebol europeu (Petit, Overmars, Henry, Anelka, Vieira, Lehmman, Pires, Ljunberg) e lançar as bases para as equipas de futuro, formadas em casa. À medida que a primeira geração se esgotou os adeptos começaram a perceber que os substitutos, apesar de seleccionados criteriosamente, eram incapazes de igualar os feitos dos seus antecessores. Nem Diaby era Vieira, nem Walcott era Pires nem Bendtner podia aspirar a ser Henry. A qualidade de Fabregas, Nasri e Whilshere era evidente mas o talento individual era incapaz de encontrar um colectivo à altura. A equipa perdeu jogadores maturos, capazes de controlar os tempos de jogo. Perdeu calma, perdeu cordura e perdeu punch.

Vulgarizou-se e essa dura realidade começou a fazer ressentir-se nos resultados. À medida que o clube gastava o dinheiro que tinha a construir o Emirates, Wenger ficava despojado de recursos para combater com os seus rivais directos. O atraso, calculado, tornou-se irreversivel. Hoje o Arsenal não só não tem um plantel à altura da sua história. O seu destino é cada vez mais o do Liverpool. Numa Premier League inflacionada pelos milhões de Chelsea, Man City e Man Utd, os gunners são incapazes de manter as suas estrelas e ambicionar em contratar os grandes nomes de fora. A rejeição de Eden Hazard e Mario Gotze em deixar Lille e Dortmund por Londres é sintomático do real valor internacional do clube. As partidas de Nasri, Clichy e Fabregas consequência inevitável dessa perda de competitividade.

 

Friamente os adeptos do Arsenal podem estar gratos a Wenger. Há mais de cinco anos que o clube não tem nem o plantel nem o poder financeiro de estar regularmente na fase a eliminar da Champions League e no top 4 da Premier League. Este ano o banho de realidade custa mais do que nunca pelo sucesso desportivo do rival Tottenham. Mas a vitória dos gunners no duelo directo entre ambas as equipas espelha perfeitamente, não só a bipolaridade em que vive o clube, mas o importante papel de Wenger como comandante da nau. Contratar um novo treinador só funcionaria com uma injecção de dinheiro que nas últimas épocas foi negada ao francês e que permitiria recuperar o atraso financeiro com os clubes de topo. Na previsivel incapacidade de aumentar o orçamento, o clube tem de ser frontal com os adeptos e deixar claro, como fez o técnico, que os dias de ambicionar por troféus terão de esperar por tempos melhores. O Arsenal tem todas as condições para voltar a ser grande. Mesmo depois de sete anos sem nada vencer a paciência continuará a ser a melhor aliada dos adeptos gunners.



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Sexta-feira, 24 de Fevereiro de 2012

algo no passado que nos prende eternamente, algemas invisíveis de que realmente ninguém se quer livrar. 150 anos da história do futebol dão para muitos passados distintos mas na era moderna a sua revalorização continua a ser um enigma para muitos. Para a empresa TOFFs tornou-se na melhor forma de fazer negócio. Com a memória, com o passado, com os sonhos que ainda comandam algumas vidas.

 

A moda de ir para os estádios com a camisola do clube do coração nasceu em Inglaterra.

Quando os clubes começaram a entender o potencial da sua própria comercialização, nos arranques da década de 80, os adeptos responderam. Hoje fazem-se três e quatro equipamentos diferentes por ano para capitalizar a fome dos mais novos e dos mais velhos em ter colados ao peito a cor e escudo da equipa dos seus amores. O fenómeno britânico tornou-se global, as grandes marcas fizeram disso uma das principais fontes de rendimento e hoje o lançamento de uma nova camisola é feito com a pompa e circunstância de uma cerimónia de estado. De ano para ano os equipamentos, as cores, os traços vão-se renovando reforçando a condição de imediatismo do jogo. As três riscas de este ano para o ano serão cinco, o ano passado foram só duas e quem imagina se existirão sequer riscas no equipamento de daqui a duas temporadas. A tradição conta cada vez menos e o importante é oferecer um producto novo para seduzir os bolsos dos adeptos, sempre desejosos do futuro. Mas o amanhã não é o único negócio possível. Há quem continue a lucrar com o passado, com a memória de quem não quer esquecer.

Em 1990, em pleno “boom” da cultura dos equipamentos comercializados para adeptos, Alan Finch decidiu recrear a histórica camisola com que o Arsenal disputou a final da FA Cup, a sua primeira do pós-guerra. Comprou o tecido, bordou o emblema e logrou uma réplica idêntica à que se lembrava dos seus tempos de infância. Foi a primeira de muitas.

 

 

A TOFF´s (The Old Fashioned Football Shirts) nasceu em contracorrente com os seus dias e tornou-se imediatamente numa referência absoluta de quem olhava para trás com a mesma ilusão que contemplava o futuro. Finch recrutou uma pequena equipa de desenhadores, costureiros e historiadores e começou a sua própria pequena empresa no sul de Inglaterra. Inicialmente fez-se anunciar em revistas da especialidade, sobretudo as fanzines como When Saturday Comes que viviam então a sua época de esplendor. A grave crise porque passava o futebol inglês, em plena ressaca do Taylor Report, fez reaviver uma profunda nostalgia com os anos dourados da First Division. Os adeptos aderiram em massa à ideia e rapidamente a TOFFS passou a produzir réplicas perfeitas de camisolas clássicas de todas as equipas do futebol inglês. O posterior aparecimento da internet permitiu-lhe criar uma das primeiras páginas webs dedicadas à compra e venda de productos desportivos onde exibiam o seu magnifico portfolio. Pais que queriam oferecer aos filhos pedaços da sua infância, filhos que queriam oferecer aos pais pedaços do seu passado, oferecer uma réplica clássica tornou-se tradição dentro dos fãs hardcores ingleses à medida que o aumento dos preços dos estádios da Premier os afastava dos terrenos de jogo.

A partir de meados dos anos 90 o portfolio da empresa expandiu-se a nível internacional à medida que a própria cultura da venda de marketing das equipas começava a chegar a outros países. Muitos dos productos eram pedidos únicos, de adeptos solitários que procuravam uma lembrança de um momento feliz da sua memória. Adeptos do velho Torino que queriam relembrar os dias de Mazzolla, saudosistas dos dias de Eusébio com a camisola do Benfica, fãs do River Plate e da camisola da La Maquina ou nostálgicos do Ajax de Cruyff começaram a invadir a web de Alan Finch com pedidos tão originais como a camisola que usou Fachetti no dia do seu 100º jogo. Um trabalho que implicava não só conseguir o tecido certo como uma profunda pesquisa nos jornais e revistas da época para garantir a reprodução perfeita. Em quase todas as entrevistas que dá, o seu fundador, Alan Finch reforça a ideia de que o que ele produz não são meras réplicas de camisolas do passado. Réplicas, diz ele, são as que se comercializam hoje, aos milhões, sem identidade. Cada uma das suas camisolas é única, não existe stock e tê-la no peito é algo absolutamente pessoal e intransmissível. Algo que o ritmo de fordização do negócio futebolístico actual é incapaz de lograr.

Hoje a empresa prospera misturando essa paixão pelo passado e a optimização do futuro. As novas ferramentas online permitem recompilar informação e material a uma velocidade impossível em 1990 e a popularidade do projecto é hoje parte da própria mitologia do jogo. Para aqueles que sonharam em sentir na pele uma réplica perfeita da camisola que Pelé vestia na tarde da final do Mundial do México de 1970, (a sua estátua de cera no Madame Tussauds veste precisamente um dessas) a TOFFs tornou-se um espaço fundamental. Os próprios clubes e federações compram lotes de equipamentos do seu próprio passado que ninguém se lembrou de preservar e não há um museu  ou estádio em Inglaterra onde não se encontre um dos seus productos.

 

Numa época onde a velocidade do negócio à volta do futebol parece não conhecer limites, o preço que pode ter a memória começa a fazer cada vez mais sentido. Os adeptos sentem um desapego com o ritmo vertiginoso do negócio que marca o ritmo do futebol de hoje e agarram-se ao seu passado. Talvez o façam sem darem-se conta de que inevitavelmente estão a cair na mesma dinâmica comercial. Mas terá o mesmo preço emocional o mergulho nas memórias mais pessoais do que entregar-se à incerteza do amanhã. O Ser Humano é incapaz de viver sem olhar para trás e o adepto de futebol é só mais um espelho dessa necessidade. A TOFFs limitou-se a ver as cifras, as ilusões e as expectativas. O resto já é história!



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Quarta-feira, 22 de Fevereiro de 2012

Pode parecer paradoxal, mas são as leis do jogo. O futebol não respeita tempos e é inimigo natural da paciência e dos projectos a longo prazo. É preciso ter coragem para remar contra a corrente para poder ler as entrelinhas. O Chelsea nunca demonstrou ser um clube com visão de futuro, mas há claros sinais de que algo está a mudar na estrutura directiva do clube londrino. No entanto essa metamorfose só pode funcionar se a paciência admnistrativa se transladar ao terreno de jogo. Mas os idos de Março estão aí e as facas nunca estiveram tão afiadas...

 

Pode ser irónico que o duelo entre Chelsea e Napoles em Londres se disputa nas vésperas dos Idos de Março, mas é uma noite perfeitamente apropriada.

Não que Villas-Boas seja um César, mas seguramente porque todos os senadores – jogadores e directivos – do clube estão desejosos de espetar a sua adaga no cadáver já moribundo do técnico português. Ontem, aos pés do Vesúvio, Villas-Boas parecia-se mais com os restos petrificados pela lava do Vesúvio que podemos encontrar alguns kilómetros a sul na belissima Pompeia do que propriamente um treinador de futebol de topo. O técnico perdeu há muito o controlo do balneário – algo fundamental para sobreviver em Stanford Bridge – e arrisca-se a perder também a paciência de Abramovich. A exibição dos Blues foi desoladora.

Mata abriu o marcador num lance fortuito, mas nem aí parecia que o Napoles tinha perdido o absoluto controlo do jogo. O jogo pelas alas dos laterais ofensivos destroçou a estratégia de Villas-Boas – que apostou num conservador 4-2-3-1 – e o jogo de Hamsik entre Ramires e Meireles foi superlativo. Os golos sucederam-se com uma naturalidade confrangedora, podiam ter sido mais e muitas culpas ficaram por atribuir tanto a um decadente Cech como a uma defesa inadmissivel. David Luiz na Luz já tinha deixado antever que era um central com muitos pontos débeis. Em Londres a sua ineficácia tem sido ainda mais regular. O facto de AVB não ter conseguido establecer uma linha de quatro estável, entre lesões e conflictos internos com Terry e Cole, não tem ajudado. A defesa dos ingleses é o seu calcanhar de Aquiles, mas a verdade é que a incapacidade de trocar a bola e de manter uma larga possessão é cada vez mais evidente e problemática. O projecto de futuro do clube está em cheque, a destituição do portuense é questão de dias e o status quo ameaça destroçar o profundo trabalho de reestruturação interna em que o Chelsea se envolveu de corpo e alma.

 

Quando Abramovich começou a entender que despejar fortunas nos cofres do clube não era suficiente para transformar o Chelsea num projecto ganhador a curto, médio e longo prazo, os Blues começaram a desenhar uma estratégia para cumprir com as regras de Fair Play da UEFA sem perder a competitividade no terreno de jogo.

O histórico “double” conseguido por Ancelloti no seu primeiro ano era um sinal de que o fantasma de Mourinho parecia ter ficado para trás mas a idade do plantel assustava o mais optimista. Em dois anos a directiva decidiu soltar-se da legião montada por Mourinho e seguida por Scolari e apostar no futuro. Os contratos dos veteranos não foram renovados e as saídas multiplicaram-se. Belleti, Deco, Ballack, Carvalho e Anelka foram os primeiros. Drogba, Paulo Ferreira, Kalou, Malouda, Cole e Essien viram as suas pretensões salariais recusadas e os contratos em suspenso. Alex foi vendido ao PSG em Janeiro e em dois anos o clube apostou, sobretudo, em jogadores jovens, com elevado potencial de crescimento e uma cultura futebolistica diferente à do choque e musculo cultivada por Mourinho e Kenyon. Os espanhóis Mata e Romeu, os belgas Lukaku, De Bruyne e Courtois, o repescado Sturridge e o inglês Cahill juntaram-se a um trio lusófono composto por David Luiz, Meireles e Ramires e a um velho sonho do magnata russo, Fernando Torres. Uma verdadeira revolução que ajuda a explicar a situação actual do clube. A velha guarda local – Terry, Lampard e Cole – responsáveis pelas saidas de Mourinho e Scolari – não aceitaram a politica directiva e as opções de Villas-Boas, que os condenou regularmente ao banco de suplentes. Aqueles que viam o contrato expirar criaram um circulo de bloqueio e as novas incorporações nunca demonstram força suficiente para impor-se no balneário. O falhanço desportivo de Torres, Ramires e David Luiz não ajudou a alterar a percepção dos adeptos. Em Stanford Bridge o tempo custa dinheiro. Mais de dois terços dos habituais detentores de lugares anuais ganham mais de 60 mil libras ao ano, são pessoas a que lhes importa muito pouco o amanhã e, sobretudo quando as mudanças implicam questionar o relicário de uma geração que devolveu o clube à glória. Com esse apoio de fundo, o balneário sentiu-se forte. A direcção nunca se postulou definitivamente do lado do técnico – como seria de esperar num projecto construido a pensar nos próximos dois anos – e a posição do sósia de Mourinho, ainda respeitado nas bancadas e no balneário, foi-se debilitando de uma forma que só resultados categóricos poderiam contrariar. Os resultados transformaram-se na consequência da guerra interna e conderam o luso. Salvo que Abramovich, homem de negócios caprichoso mas homem de negócios de todas as formas, saiba ter a paciência que tantas vezes lhe faltou e que sempre significou o imenso abismo que existe entre o Chelsea e o Manchester United, para por um exemplo.

 

Villas-Boas chegou a Londres com uma aura de sucesso talvez precipitada, tanto pela imprensa inglesa como pelo próprio técnico portuense que saiu do casulo do Dragão ainda muito verde. No entanto parece evidente que o problema do Chelsea é muito mais profundo e problemático do que um simples erro de casting de um técnico pode supor. Os Blues têm de saber ser consequentes com a sua politica de rejuvenescimento do plantel e da mutação do sistema e modelo de jogo aplicado. Se as adagas dos conspiradores fizerem sangue nos próximos Idos de Março, o grande prejudicado acabará sempre por ser o clube que dará mais um passo em falso rumo ao futuro. Villas-Boas pode não ser a solução definitiva mas sinceramente é o número menor nesta problemática equação. A lava do Vesúvio pode ter deixado petrificado o técnico, mas é do dono russo que se espera que contenha o seu habitual vulcão auto-destructivo.



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Segunda-feira, 20 de Fevereiro de 2012

As lágrimas de Angelo Palombo no final do último jogo da Sampdoria da passada temporada foram um dos momentos icónicos do ano desportivo. Meio ano depois o capitão da Samp deixou o clube que jurou defender até ao fim e voltou à ribalta. É a ultima oportunidade para um dos melhores médios italianos da última década, o último comboio rumo ao estrelato que nunca encontrou no mitico Luigi Ferraris.

 

Viajou à África do Sul e sofreu na pele a paupérrima imagem deixada pela Azurra no Mundial de 2010. Podia ter sido o seu torneio, mas não havia condições para que um jogador italiano tivesse sucesso numa espiral assumidamente destructiva. O annus horribilis que se seguiu em Genova pareceu dictar sentença sobre o destino de Palombo.

Em 2002 a jovem promessa que a Fiorentina tinha contratado em idade de juvenil foi vendido por uma módica quantia a uma Sampdoria que militava então na Serie B. O destino quis que uma década depois fosse nessa divisão que Palombo se despedisse do seu clube do coração. Durante  esse imenso periodo de tempo foi a alma mater de um projecto de altos e baixos que quase logrou o céu, leia-se Champions League, e acabou por cair nas trevas inesperadamente depois de um péssima acto de gestão desportiva do presidente, Ricardo Del Ara, ao dispensar Antonio Cassano quando o clube ainda não militava nos postos de despromoção. Palombo transformou-se no tipico médio italiano de baixo perfil mediáticomas profundamente influencial na manobra de jogo da equipa. Os anos transformaram-no num inteligente box-to-box, poderoso remate, excelente controlo de bola e acima de tudo, um espirito de liderança inimitável. Cresceu ao lado de Volpi no coração do Luigi Ferraris e ganhou o carinho dos adeptos e o respeito de cada corpo técnico que chegava e partia. 

 

Em 2005 ajudou a Samp a chegar às provas europeias pela primeira vez numa década, capitaneando o conjunto numa impecável temporada na Serie A. Começou a ser convocado por Roberto Donadoni para a Squadra Azurra e foi elemento integrante da equipa que se apurou para o Euro 2008 e o Mundial de 2010, mas sem conseguir establecer-se como titular ao lado de Gennaro Gattuso e Andrea Pirlo, elementos nucleares da então campeã do Mundo.

Durante vários anos foi tentado pelos grandes de Milão, mas manteve-se fiel ao projecto da Samp, sendo recompensado em 2008 com a braçadeira de capitão, titulo que manteve durante quatro anos. Ao lado de Andrea Poli, em 2010, realizou a sua melhor temporada, um ano de pura épica que entrou para a história do clube. Aos 29 anos parecia que, finalmente, o destino lhe ia proporcionar um bilhete dourado para os grandes palcos da Europa. Os seus golos e assistências de última hora foram os catalizadores de uma parceria letal com o duo de ataque Cassano-Pazzini no 4-3-3 desenhado por Del Neri. Um ano e meio depois de realizar a melhor época desde o titulo de 1991 nenhum dos três continua em Genova. Palombo manteve-se ao leme do navio durante o inicio desta temporada, mas no último dia de Janeiro chegou uma oferta irrecusável do Inter, um empréstimo de meio ano com opção de compra. Uma última oportunidade de brilhar.

 

Palombo representa o perfil exacto e certeiro do jogador low profile que contraria a tese de que o Calcio é um ninho de jogadores sem classe e técnica. O actual médio neruazurri viveu a última década a reinvindicar o perfil do tuttocampista, capaz de defender e atacar como o melhor defesa e o melhor atacante, nunca desistindo de uma bola, nunca resistindo ao mais intenso cansaço. O Luigi Ferraris sente-se hoje mais orfão que nunca.  Jogadores como Palombo podem vender poucas camisolas mas cosem muitas almas!


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Sábado, 18 de Fevereiro de 2012

No futebol os ciclos são habitualmente curtos. A metamorfose e evolução do jogo impedem que uma balança esteja desiquilibrada demasiado tempo a favor de um só clube e todos os factores externos por detrás de um projecto de sucesso começam a vir ao de cima, mais cedo que tarde. O mérito tremendo deste FC Barcelona tem sido, desde o momento da sua eruoção, a capacidade de fintar o inevitável. Agora que caminham a dez pontos do rival directo na Liga e continuam a demonstrar um cansaço fisico e mental anormal noutras épocas, os criticos começam a apertar o cerco. Mas se algum projecto desportivo contemporâneo merece o beneficio da dúvida, esse é sem dúvida o Pep Team.

De certa forma o projecto de Guardiola é vitima da euforia que ajudou a criar.

Quando leio ou ouço expressões como melhor equipa da história pergunto-me até que ponto da história do futebol conhece quem expressa verdades tão absolutas. O primeiro que devem saber é que há muitas histórias dentro da história e que sempre, de época a época, houve uma “melhor equipa de sempre”, eventualmente o lider da sua geração e que, inevitavelmente, entrou em decadência e entregou o testemunho ao próximo. Inglaterra, Escócia, Uruguai, Áustria, a Hungria, Brasil, Alemanha, Holanda, França, Argentina ou Espanha alguma vez tiveram direito a essa distinção. No universo de clubes os anos de ouro da Juventus, Schalke 04, FK Austria e do Arsenal dos anos 30 pareciam insuperáveis até aparecer o Torino dos anos 40, o Honved, Wolverampton, Dynamo Moscow, Barcelona e Real Madrid dos anos 50, Benfica, Milan, Inter, Manchester United na década seguinte, o reinado de Ajax, Bayern Munchen e Liverpool nos 70 e 80 e a erupção do projecto AC Milan de Sacchi a final dos 80. E apenas ficando-me pelos onzes europeus. É certo que desde meados dos anos 90, nunca mais voltou a surgir uma equipa tão constante como este Barça. E para os de memória curta ou jovem idade, isso parece suficiente para esquecer tudo o que existiu antes. Mal deste Mundo que vive e sobrevive no imediato. E mal também de um clube que eleva as suas vitórias ao máximo e deprime-se à primeira pedra que lhes aparece pelo caminho. O Barcelona sempre sofreu desse complexo de inferioridade, esse erro de timing que lhe impediu ganhar uma Champions durante 40 anos, que a impediu sempre de revalidar o troféu (algo que a maioria das equipas supracitadas sim logrou) e que apesar de ter tido equipas extraordinárias (a dos anos 50 pré-Di Stefano, o Dream Team de Cruyff, o projecto de van Gaal liderado por Rivaldo e o de Rijkaard por Ronaldinho) sempre foi um clube alimentado pela inconstância. Talvez por isso os primeiros sinais de descontentamento venham da própria Cidade Condal.

 

Os dez pontos de atraso para o Real Madrid são consideráveis tendo em conta que em 20 jogos os merengues apenas perderam 8.

Para os blaugrana já não parece importar que nos cinco jogos disputados este ano com os merengues o balanço seja de 3 vitórias e 2 empates, uma Supertaça e a final da Copa del Rey. Se é certo que tanto em Agosto como no jogo da segunda mão da Copa, o clube de José Mourinho foi francamente melhor, também é verdade que o punch blaugrana continua a desiquilibrar a balança. Mas o péssimo registo fora de casa do Barça tem marcado o destino da sua performance em liga e é nesses campos onde os titulos se ganham e se perdem.

As goleadas, o futebol-arte e a constante habilidade de surpreender já só se encontram nos duelos no Camp Nou, onde a equipa se mantém invencivel. O plantel curto começou a fazer passar a factura do cansaço, a má preparação fisica causou uma série de lesões musculares inoportunas e Leo Messi, o jogador que está por cima do próprio técnico, como já assumiu Guardiola, ao não descansar nem nos jogos a brincar – no seu afã competitivo com Ronaldo e Maradona, têm contribuido para a situação actual.

Piqué perdeu o brio que o tornou no melhor central do Mundo e este ano já passou mais jogos de “castigo” na bancada que nos últimos três anos juntos. Pedro, Iniesta, Busquets, Sanchez, Xavi, Puyol reincidem com regularidade em problemas fisicos, quase todos eles musculares. Villa e Afellay estão fora de combate para o resto do ano e os jovens Cuenca, Tello, Robert e Thiago têm sido providenciais, mas incapazes de inverter a tendência. O Barcelona é uma equipa com mais posse, mas com menos acerto, com mais passes e menos remates, com mais consciência das suas limitações – fisicas, sobretudo – e menos soluções. É um projecto que necessita uma súbita reinvenção que dificilmente chegará e que pode prenunciar um fim de ciclo. Isso não significa que o Barça tenha deixado de ser o melhor, porque no seu estilo de jogo continua a roçar constantemente a excelência. Mas é o seu modelo de jogo que começa a encontrar rivais preparados e com outras opções capazes de dar a volta ao enigma. O Liverpool de Paisley, o Milan de Sacchi ou o Ajax de Michels continuaram a ganhar nas suas versões posteriores com Fagan/Dalglish, Capello e Kovacks. Mas a magia de terem sido parte de um momento único foi-se evaporando.

 

O Barcelona tem jogadores, condições financeiras e, sobretudo, um timoneiro, capaz de repetir triunfos nos próximos anos com regularidade. E os seus adeptos (onde se inclui a sempre facciosa imprensa nacionalista catalã) deviam ser os primeiros em saber que este é um projecto sólido e coerente. Mas o toque de realismo que muitos temem, essa chamada à realidade que todos os projectos, tarde ou cedo recebem, pode inclusive prolongar a sua lista de grandes feitos. O Real Madrid de Di Stefano, o Benfica de Eusébio, o Liverpool de Keegan, o Milan de van Basten, todos eles perderam ligas e Champions durante o seu reinado. Mas todos mantiveram-se fieis ao seu ideário e quando todos imaginavam o seu final, souberam reaparecer. Cabe a Guardiola decidir se vai optar pelo fatalismo blaugrana ou pela matéria que define as equipas verdadeiramente grandes.



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Quinta-feira, 16 de Fevereiro de 2012

O Real Madrid deve toda a sua fama a um só jogo. O primeiro grande épico europeu visto maioritariamente por quem tinha televisor na Europa Ocidental à época. Sessenta anos depois, mais do que nunca, a mitologia futebolistica é definida inexoravelmente pelo poder da televisão e da curta memória que há se transformou no espelho desta sociedade.

 

Messi é o melhor jogador da história.

Pudera! Cada lance seu é visto em primeiro, segundo, terceiro plano, em movimento, em 3D, a cores e alta definição. Desliguemos agora o modo irónico antes que pensem que falamos a sério. O génio do argentino é único, mas o seu papel na história do jogo deve muito ao poder das novas tecnologias, da era dos twitters, facebooks, HDs e 3Ds.

A televisão, sempre a televisão, define os padrões de qualidade e superioridade de uns sobre os outros. A mitologia moderna não se baseia na palavra escrita ou perdida no tempo. É escrava da imagem. Messi é escravo da sua própria imagem da mesma forma que o Real Madrid ainda sobrevive no inconsciente humano pela força inequivoca das suas camisolas brancas brilhantes naquela tarde em Glasgow. A televisão provocou um antes e depois na sociedade ocidental e o futebol como espelho perfeito do mundo em mutação viu-se inevitavelmente presa à mesma realidade. A memória deixou de fazer sentido se não for acompanhada de um clip de video subido ao You Tube. Hoje não há ninguém que escreva sobre futebol que não se limite a repetir a mesma ladainha que foi vendida com imagens coladas à lapela. Pelé, Maradona, Cruyff e Di Stefano, o quarteto imenso. Real Madrid, Ajax, Liverpool, Milan, Manchester United e Barcelona, as seis equipas mais emblemáticas nos últimos 60 anos. Consequências directas da popularização do espectro televisivo. A memória deixou de ser algo valorizável. Quem a tinha e quem presenciou outros tempos foi morrendo e o seu testemunho recolhido por uma infinita minoria, ostracizada por aqueles que se agarram à imagem como um jesuita à cruz. Os mitos do passado não televisado deixaram de existir, a história foi despromovida à condição de anedoctário e os heróis a cores suplantaram os a preto e branco da mesma forma que os Messi a 3D parecem mais que os Maradona de planos únicos de camara.

 

Alfredo Di Stefano, génio que chegou ao final da sua carreira quando a televisão estava apenas a dar os primeiros passos, entrou nesse top 4 quase como por gesto de condescendência.

Nenhum jovem de menos de 40 o cita sem ser por pura imitação snob e pretenciosa e nem mesmo Messi ou Maradona, seus conterrâneos, o têm como referência. Nessa tarde ele manobrou à vontade, como sempre, o jogo colectivo do Real Madrid. Marcou um hat-trick (Puskas marcou um poker) e entrou nesse imaginário televisado por pouco. Quem o viu jogar diz dele maravilhas que nem as imagens seriam suficientes para ilustrar vários clips de best of, desses que fizeram das corridas de Ronaldo, das roletas de Zidane, dos bailados de van Basten ou os remates de Cristiano Ronaldo, imagens de marca internacionais. O hispano-argentino, pouco dado a falsas modéstias, no entanto sempre defendeu que ele nunca foi tão bom como Pedernera e Labruna, os mentores de La Maquina, da qual restam poucas imagens em video. Outros sobreviventes de eras pretéritas falaram da aura de grandeza de Sindelaar, Meazza, Friedenreich, Piola, Finney e Hidegkuti como génio tão brilhantes como os Cruyff, Baggio, Romários, Keegans e van Basten que se seguiram. Mas sem video ninguém acredita que o génio fosse algo real quando os relatos radiofónicos ainda eram a excepção, e não a regra. O futebol homérico, inspirado em descrições e metáforas mitológicas, para a maioria dos espectadores e analistas actuais é puro folclore. Não conta, não existe, não faz sentido.

 

Esses são os mesmos que vivem sem entender que o impacto do Brasil de 70 deve-se tanto ao génio dos seus jogadores como ao facto da camisola amarela estridente ter sido vista, pela primeira vez, em televisores a cores, debaixo do calor asfixiante do meio-dia mexicano. Os mesmos que exaltam o presente e votam no “flavour of the month” por cima de nomes ilustres que nunca viram ou quiseram ver. Os que reduzem a mitologia futebolistica ao poder da televisão e esquecem-se de que o jogo já era centenário quando os aparelhos começaram a invadir os lares da Europa. Acreditar que o génio, a arte, o talento só existem porque passou na televisão é tão néscio como pensar que qualquer tempo pretérito é melhor que o actual. Entre esses dois mundos, essas duas filosofias, encontraremos certamente a virtude. O problema é que muito poucos se dão realmente ao trabalho de a procurar.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 15:25 | link do post | comentar | ver comentários (10)

Terça-feira, 14 de Fevereiro de 2012

Como é que um dos países mais fanáticos pelo futebol é também um dos que menos literatura desportiva é capaz de gerar? Morbo, obra de um inglês, explica como os espanhóis preferem falar a escrever sobre um jogo que mais do que um duelo desportivo é o espelho de um país perdido em si mesmo.

 

É dificil para os espanhóis escreverem sobre o seu futebol porque mais de cem anos depois dos mineiros da firma de Rio Tinto terem sido os primeiros autóctones a tocar uma bola com os pés, o país continua a centrar-se essencialmente nas disputas politico-sociais entre as suas cidades mais emblemáticos. Em nenhum outro país – talvez com a excepção de Itália – o futebol teve um contorno tão profundamente sectário e o papel do beautiful game como reinvindicação seccionista ainda hoje é fundamental na afirmação desportiva das principais entidades do país vizinho.

Tudo isso, mais do que o jogo em si, provoca o chamado “morbo”, palavra unicamente espanhola e sem tradução literal. Termo que se entende pelo prazer especial de triunfar nesse contexto de confronto dissimulado, mas real e fundamental na identidade social de castelhanos, catalães, galegos, bascos, andaluzes, manchegos, leoneses, asturianos, cantábros, valencianos e toda essa amálgama de estados disfarçados de regiões que compõem o estado espanhol. Nesta amalgama onde o futebol desempenha um papel fundamental, nasce Morbo.

 

Um autor inglês radicado em Espanha consegue ter o distanciamento necessário para viajar pelo país, pela história e pela memória de multpilas realidades que fazem do futebol espanhol algo especial. Phil Ball começa na Andaluzia, onde se reencontra com o nascimento do Recreativo de Huelva, o “Decano” espanhol que na realidade nunca foi uma equipa de prestigio para terminar o livro com uma nota de atenção especial ao sucesso recente da selecção espanhola.

Pelo meio os duelos entre Barcelona e Madrid, os papeis das segundas equipas das principais cidades, a rivalidade sevilhana, o papel das autonomias regionais como catalizadores populares do jogo e, sobretudo essa divisão nacional entre bandos que transformou a liga num duelo de estrelas pagas a peso de ouro pela ambição desmedida do Real Madrid e Barcelona. Num país que fuzilou o futebol regional fora dos grandes nucleos urbanos, numa era onde os espanhóis encontraram finalmente uma identidade desportiva depois de décadas traumatizados por exemplos de sucesso que chegavam de fora, tanto aos clubes como à selecção, Morbo é uma leitura fundamental para entender os parêntesis que muitas vezes ficam por explicar. Ball utiliza o humor britânico, mas apresenta um livro que respeita perfeitamente as idiossincrasias sociais espanholas e o retrato final são mais do que notáveis.

 

Phil Ball começou a escrever Morbo quando o futebol espanhol ainda não tinha entrado na sua era dourada. Cinco anos depois da primeira edição, com os respecticos ajustes, ler Morbo torna-se ainda mais relevante porque permite, sobretudo, antecipar o ideário que cimentou as bases do sucesso de um país que faz do beautiful game a grande arma social dos dias modernos, o último descendente de velhos conflitos medievais que hoje tomam forma com uma bola de futebol nos pés.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 13:12 | link do post | comentar

Domingo, 12 de Fevereiro de 2012

dois treinadores que definem a excelência do futebol francês. Um foi campeão do Mundo. O outro teve o Mundo a seus pés. Durante mais de duas décadas o bom gosto futebolistico gaulês era tão sinónimo de Albert Batteux como hoje sucede em Espanha com Josep Guardiola. Num país que sempre olhou para o futebol com um desprezo iluminado, o pioneirismo do filho pródigo de Reims lançou as bases para o sucesso multi-cultural da era moderna.

O país que inventou o Mundial e as provas europeias demorou décadas até conseguir os primeiros trófeus oficiais. Mas se houve alguém que esteve perto  de quebrar essa malapata quase antes de ter começado, esse alguém foi Albert Batteux.

O seu Stade Reims  não foi só o grande dominador do futebol francês da década de 50. Era também o percursor ideológico do popular foot-champagne que fez escola a partir da década de 80 com Platini e companhia. Quando o futebol em França continuava a ser um passatempo provinciano, são cidades como Lille e Reims que vão dictar sentença no pós-guerra. Batteux cresceu debaixo da catedral de Reims e nos anos 30 tornou-se num dos jogadores de moda do conjunto que trouxe para a liga gaulesa o conceito de profissionalismo pela primeira vez. A 2 Guerra Mundial acabou com a sua carreira como jogador, cortando anos preciosos que culminaram no final dos anos 40 com as suas oito internacionalizações e os primeiros titulos como capitão, na liga e taça de 1950. No final do jogo, sem o ter consultado previamente, o presidente do clube, Henri Germain, anuncia ao balneário que ele será o treinador da próxima época. Sem o saber, começava uma época de glória inesperada para o clube do nordeste.

 

A equipa do Reims nutria-se essencialmente de jogadores locais e de filhos de emigrantes que anos 20 e 30 tinham começado a chegar à zona, especialmente do leste europeu. O olho clinico do técnico permitiu-lhe rodear-se dos melhores profissionais da zona. Mas foi, sobretudo o seu conceito táctico, que afastou progressivamente o clube de um 2-3-5 ainda primário para um WM avançado que deu aos jogadores do Stade um plus de superioridade face aos seus rivais mais directos.

Ao colocar mais jogadores no sector defensivo, Batteux implantou uma cultura de toque curto, com a bola a sair a jogar sem os longos pontapés para os extremos que tinham sido o habitual até então. A explosão precoce de Robert Jonquet e Armand Penverne, adolescentes quando foram lançados como titulares, trouxe o rigor e precisão que o modelo necessitiva e que libertava o quarteto atacante para um jogo de ataque continuado confirmado com os espantosos números goleadores que o “Grand Reims” manteve ao longo de toda a década. Dez anos depois, sem cumprir 40 anos, os titulos, e sobretudo, a aceitação cultural de uma nação devotada sobretudo aos desportos individuais (ténis, ciclismo, natação) do que propriamente à febre futebolistica que já era uma realidade em todo o Mundo. 4 titulos de liga, 2 Taças de França, 1 Taça Latina e duas finais da Taça dos Campeões perdidas diante o Real Madrid (incluida a primeira final da história), reforçaram o cariz lendária do conjunto que então subsistia com a magia de Kopa e os golos de Just Fontaine. Foi precisamente na dupla que juntou em Reims que Batteux se apoiou quando a FFF o nomeou seleccionador nacional em 1955, com apenas 34 anos. O terceiro lugar no Mundial de 1958 foi recebido com surpresa num país habituado às desilusões e deixou no ar a ideia de que com pouco mais os gauleses podiam realmente desafiar os grandes do futebol internacional. Seria preciso esperar até 1998 para a França lograr um resultado melhor num Mundial.

Em 1963 Batteaux abandonou finalmente o Stade Reims.

Um  titulo mais e treze anos depois o técnico, então com 42 anos, sentiu que estava na hora de mudar de rumo. O esqueleto do seu projecto tinha-se desfeito com a idade e as exibições na Europa não tinham estado à altura dos seus melhores momentos. Depois de dois anos em Grenoble, onde passou relativamente despercebido, o técnico marchou para a pequena localidade do Massiço Central de Saint-Ettiene. No Geoffrey-Guichard pegou na herança deixada por outro grande técnico gaulês, Jean Snella, e transforma o grito “Allez lez Verts” no santo e senha para os amantes neutrais do futebol em França, que sempre fora a esmagadora maioria. Três ligas consecutivas entre 1968 e 1970 lançaram as bases para o sucesso esmagador do Saint-Ettiene na década seguinte.

 

Jovem ainda, Batteux tinha perdido a paixão inicial e em 1972, depois de um segundo ano sem vencer um só trofeu, cede o posto a Roland Herbin, nome nuclear na transição entre os técnicos clássicos e a geração de 80 dos bancos franceses. Ainda passa por Avignon, Nice e Marseille, mas em estâncias curtas e sem o mesmo impacto que a fama que lhe precedia sempre levantava. A doença minava-o já e em 2003, depois de uma longuissima luta, Batteux perdeu o seu último e decisivo jogo. O futebol francês vivia a sua era dourada, mas poucos se lembravam de realmente que tudo tinha começado com Albert a dar ordens no banco e a catedral mais emblemática de França a velar as suas costas.  



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:15 | link do post | comentar

Sexta-feira, 10 de Fevereiro de 2012

Não interessa que Fabio Capello tenha sido o seleccionador inglês com melhor percentagem de resultados durante o seu mandato. Inglaterra celebra hoje a saída do italiano. A quatro meses de um Europeu o que podia ser um drama parece ter-se convertido numa risonha perspectiva de futuro. O portfolio e perfil de Capello chocaram directamente com a austera e exigente tradição inglesa. E ninguém parece lamentar o ponto final neste casamento de conveniência.

 

Pode ser (ou talvez não) pura coincidência.

No mesmo dia em que Harry Redknapp, o único treinador inglês realmente popular e bem sucedido da última década, foi absolvido da acusação de fraude fiscal, a FA comunicou a demissão voluntária de Fabio Capello por divergências de gestão. O adepto inglês, pouco amante de estatistica, nunca gostou da figura de Capello.

O facto do italiano ser o mais bem sucedido seleccionador em percentagem de vitórias conta pouco quando no último Mundial os Pross sairam pela porta pequena com apenas uma vitória em quatro jogos. O historial pretérito de Capello, imaculado por onde quer que passou (AC Milan, Real Madrid, AS Roma, Juventus), contou pouco quando o seu método italiano não encontrou respaldo nos directivos, jogadores e imprensa na Old Albion. Capello foi contratado para ganhar e como todos os treinadores que cimentam a sua carreira em obter resultados rapidamente, a sua prestação foi vista como um fracasso.

Uma realidade que para os ingleses não é nova. Desde 1990 que a selecção inglesa não chega às meias-finais de um Mundial e desde 1996 não logra estar nos últimos quatro participantes de um Europeu. Pelo meio muita expectativa e muita desilusão que puderam com as carreiras de Robson, Taylor, Venables, Hoddle, Keegan, Erikson, McClaren e agora Capello. Mas o italiano sempre jogou com a faca ao pescoço. Desde o primeiro minuto demarcou-se de forma absoluta da cultura britânica. Recusou-se a aprender mais do que o pouco inglês que sabia. Passou largos meses em férias pagas pelo milionário salário de 7 mihões anuais e obrigou os jogadores a uma politica colectiva que mais se assemelhava ao asfixiante ritiro de Helenio Herrera do que ao universo de tabloides e wags que os ingleses estavam habituados. O seu curriculum permitiu-lhe certa tolerância mas o fracasso da experiência na África do Sul despertou uma bomba relógio destinada a explodir mais tarde ou mais cedo.

 

O evento que despoletou a (aplaudida) decisão de Capello espelha bem a idiossincrasia do futebol inglês e a encruzilhada em que se move eternamente. Por um lado a vontade de ganhar e de acabar com uma malapata de meio século. Por outro os velhos ideais que transformavam o berço do jogo no local mais atrasado e avesso às inovações técnicas, tácticas e sociais. O caso Terry reflecte bem esse caminho de ervas daninhas de que a Inglaterra não se consegue livrar, muito por culpa do peso mediático de jogadores que se transformaram em cancros no interior do balneário.

Terry é o mais conflictivo e problemático jogador do futebol inglês. Sob muitos dos critérios que a FA sempre defendeu o seu tempo com os três leões ao peito devia ter terminado mas Capello quis fazer dele o seu sargento. Contra tudo e contra todos.

A impopularidade do capitão do Chelsea no balneário é de sobra conhecida, a sua péssima imagem pública nunca ajudou a convencer o público e a postura quase imperial de Capello fez o resto. Quando o jogador foi acusado de insultos racistas a Anton Ferdinand, irmão mais novo do anterior capitão Rio, a FA manteve-se fiel à sua imagem de espelho público e anunciou que lhe seria retirada a baraçadeira. Capello interpretou isso como um insulto à sua liderança omnipotente, mas a verdade é que há muito que o técnico via o seu futuro longe da vida milionária que levava em Londres. Evitando assim uma possível debacle em Junho, Capello preferiu sair antes da batalha e deixou um vazio que será menos dificil de preencher do que pode parecer à partida.

Tacticamente o italiano é um dos melhores técnicos do mundo mas o seu sistema é tão distinto ao que a maioria dos jogadores utiliza nos seus clubes que os poucos dias de trabalho diário que tem acabam por não surtir o mesmo efeito que conseguiu sempre nas suas passagens por clubes em Itália e Espanha. A sua cultura táctica entrou em choque, primeiro com a herança cultural inglesa e depois com a necessidade forçada de renovar o esqueleto da selecção. De um 4-4-1-1 passou a um timido 4-3-3, mas sempre com mais precauções defensivas do que intenções de ataque. Sem Rooney para os dois jogos inaugurais do próximo Euro, o cenário parecia trazer mais dores de cabeça do que soluções tanto para o técnico como para uma FA que já sabia que a partir de Julho o futuro seleccionador seria um homem da casa, popular entre os adeptos e a imprensa e, sobretudo, entre os jogadores. Antecipar um divorcio anunciado não só parecia inevitável como a largo prazo pode resultar benéfico.

 

Harry Redknapp é tudo aquilo que Fabio Capello não é. O italiano pertence a uma raça de treinadores que funcionam claramente melhor no seu ambiente (no seu caso, clubes latinos) do que em realidades que não logram assimilar. Redknapp não terá esse problema. Desde Terry Venables que a selecção inglesa não tem ao seu dispor um técnico bem sucedido a nivel interno, com um bom reportório táctico, motivador, disciplinador e, sobretudo, consciente da complexidade do cargo. Sem que exista ainda confirmação oficial (a notável época do Tottenham pode ser um problema a resolver com um trabalho part-time até Junho), é possível imaginar que, em lugar da descaracterizada Inglaterra de Capello, na Polónia se apresente uma Inglaterra fiel a si mesma. Redknapp tem nas mãos a possibilidade de reverter uma tendência destructiva e lançar as bases de uma geração com tremendo potencial para a próxima década. Da última vez que os ingleses tiveram essa possibilidade, Erikson tomou o caminho mais conservador. A “Arry” pede-se o oposto, a temeridade. Face ao historial recente inglês talvez esse seja mesmo o caminho a seguir.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 12:51 | link do post | comentar

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