Sexta-feira, 30 de Dezembro de 2011

algo curioso nos regressos de velhas glórias. Uma sensação do passado perdido que se encapsula num momento que não é real. Thierry Henry decidiu entrar nessa perigosa viagem. Durante dois meses (como minimo) voltará a ser o gunner que todos aprenderam a admirar. Aquele que foi, talvez, um dos mais espantosos jogadores da década passada quer voltar a encantar Londres com a sua magia. Mas à sua volta estará sempre a inultrapassável sombra da sua grandeza...

 

Há um mês, na inauguração da sua estátua à frente do novo Emirates Stadium, Henry chorou.

Sentiu-se profundamente a ligação entre o jogador francês e o clube que o acolheu e transformou numa estrela mundial. Henry e Arsenal são sinónimos do mais belo futebol que se disputou nos terrenos europeus na última década e meia. O francês, perdido nas reservas da Juventus, ajudou a transformar o clube londrino numa potência continental. Com Arsene Wenger encontrou o seu estilo e fez-se referência máxima do futebol champagne dos gunners que sem ele já tinham quebrado o dominio do Manchester United. Com ele lograram algo mais. A eternidade.

Henry liderou a equipa londrina na chamada época dos Invencibles. Levou o clube à sua única final da Champions League e no final do jogo, com a transferência para o Barcelona apalavrada, adiou por um ano a mudança de ares por sentir que devia algo aos adeptos. Uma relação assim não se constroi com o tempo, nasce de forma expontânea. E entre Thierry Henry e o Arsenal a felicidade superou sempre a tristeza.

Depois de 10 anos no clube o gaulês mudou-se para Barcelona, um velho sonho, e depois de três anos complexos decidiu migrar aos Estados Unidos, país por que sempre professou uma sentida devoção. Agora, na pausa da MLS como já o fez David Beckham, decidiu voltar. A casa. A Londres. Ao seu Arsenal.

 

E no entanto é sempre perigoso voltar onde já se foi feliz.

Poucos jogadores causaram tanto impacto numa equipa como Henry quando chegou a Londres. Tornou-se no herdeiro de facto de Ian Wright (depois da experiência de Anelka) e no parceiro perfeito para as diabruras de Dennis Bergkamp. O técnico francês Arsene Wenger, que o lançou às feras no seu baby Monaco, colocou-o como falso dianteiro, descaido no flanco esquerdo, e causou uma verdadeira revolução no estilo de jogo dos gunners. Com Ljunberg, Pires, Bergkamp e Vieira o francês formou um quinteto perfeito que marcou um antes e um depois na evolução táctica do futebol inglês. Como outro francês, Cantona, anos antes, quebrou com o hermetismo táctico da Premier e ajudou o Arsenal a ganhar o pulso de hegemonia ao Manchester United. Foi sol de pouca dura mas enquanto brilhou foi resplandecente.

No final da sua etapa em Londres o fisico já começava a dar sinais de cansaço mas como provou no Mundial de 2006, a sua inteligência de jogo tinha há muito superado as suas habilidades fisicas e agora o mitico 14 era um jogador mais completo do que nunca. Foi quando decidiu partir, de mutuo acordo com o seu mentor (resignado como sempre e já preparado para dar a batuta da equipa a Cesc Fabregas) para um projecto que sempre o apaixonou, o Barcelona. Os adeptos do Arsenal podiam ter lamentado a sua partida mas visto o que conseguiu em Can Barça o certo é que podem guardar a sensação de terem tido o melhor Henry de sempre.

Agora, cinco anos depois, Henry está longe de ser um jogador de top. O fisico abandonou-o totalmente, a mente já pensa mais na luxuosa reforma a que tem direito e daquela chispa que fez dele um num milhão ficaram as lembranças. Os adeptos do Arsenal certamente sentirão algo no estômago quando o voltarem a ver a entrar em campo com o canhão no coração mas talvez, secretamente, as suas esperanças de ver algo mágicamente henryano se transformem numa doce decepção. Tal como Beckham provou no regresso do seu auto-imposto exilio, as velhas glórias quando regressam aos palcos europeus parecem pertencer a outra era, a peças de museu sagradas, brinquedos de antiquário misturados com modernices contemporâneas.

 

Talvez tudo isso passe pela cabeça de Henry. Talvez não. Como se pode discutir um grande amor? Mas o passado ensinou-nos que estes regressos á gruta perdida do tempo perfeito e pretérito muitas vezes transformam-se numa memória que só queremos esquecer. Para a esmagadora maioria dos adeptos e amantes de futebol, Henry pertence a outra era a outro mundo, este clone seu poderá tentar emular os seus dias de glória, os dias em que foi o maior atleta europeu do Mundo. Mas secretamente sabemos que o original continua lá, no passado, a rasgar o mundo com um sorriso...



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Sábado, 24 de Dezembro de 2011

De pequeno sempre tive uma profunda reverência à fleuma britânica. Olhava cinicamente para o jogo pausado que vinha do outro lado do Altântico e ambicionava ser capaz de sentir-me tão à vontade com a bola nos pés como o mais vulgar dos artesões holandeses. Mas em Itália encontrava o meu consolo, sentia a minha alma palpitar de outra forma. Ali o jogo belo era-o por um sem número de motivos, cada um mais atractivo do que outro. Hoje o Calcio vive horas a fio na penumbra da dúvida sobre um futuro que não termina de desenhar-se nos céus. Talvez por isso o ame mais do que nunca. Talvez por isso sinta este fascínio sem igual...

Onde uns vêm com desdém eu mastigo com devoção.

A bola rola pesarosa por um tapete que não chega à imagem verde que a mitologia nos ensinou mas que, se pudesse falar, contaria histórias de dez mil e uma noites sem pregar olho. O posiconamento dos vinte e dois jogadores roça a perfeição. O erro é o castigo, a exigência é máxima. Se o acordeão se move para o lado o espelho acompanha. Três, quatro, cinco passos, não há espaço para mais, mover-se é um desafio tão exigente como não falhar...o passe, o remate, o corte, o posicionamento. Nenhum futebol do Mundo é tão exigente como o Calcio e por isso mesmo mergulhar profundamente na sua idiossincrasia não deixa de ser um sério desafio.

Nasci com uma bola nos pés e aí ela foi ficando, ano após ano, à medida que ia encolhendo e eu aumentando de tamanho. Tornava-se fácil apreciar o leque de estrelas que via nos jogos disputados em Espanha. Ou vibrar com o jogo frenético e tão desorganizado da Premier League, esse jogo que aprendi a ver como o original quando, realmente, era apenas um hiato numa história que mudou muito ao longo dos últimod 100 anos. Em provas de selecções tinha os meus fetiches, habitualmente países pequenos com esse ar de superioridade moral a quem a posse e o toque transmitem uma sensação de impotência ao alheio. Mas no final, Itália era uma perdição.

Crescer na época dourada do futebol italiano forçosamente alterou a minha perspectiva mas hoje, muitos anos depois de perder a conta às grandes equipas que via, continuo a sentir algo especial sempre que vejo aqueles estádios semi-vazios, aquele relvado apertado no miolo e aquelas camisolas azzuri quando a Primavera se despede de dois em dois anos para dar lugar ao Verão. Itália tornou-se naquela mulher que todos admiramos mas poucos têm coragem de confessar aos amigos. Porque não é a mais bonita, porque não é a mais sensual ou a mais excitante. Mas que nos consegue mover só com a picaresca do olhar.

 

Aprendi que a bola no Calcio é um elemento tão importante como a chuteira, a altura da relva e o nome do árbitro.

Essa devoção quase absurda de uns conseguia fazer-me sentir ainda mais atraido por aqueles que viam o jogo com o mesmo apetetito que um xadrezista de topo olhava para o tabuleiro por estrear. As peças colocadas, as jogadas ensaiadas vezes sem fim e no final o inevitável cheque mate. Como diria o imenso Gianni Brera, para o italiano o jogo perfeito seria sempre um 0-0, algo que o adepto comum seria incapaz de suportar porque olha para o futebol como uma forma de livrar-se das penas do dia a dia. Da mesma forma que a maioria dos espectadores nas salas de cinema preferem comédias, melodramas ou cinema de acção também os seguidores da bola gostam de golos, sprints, fintas espantosas e irrepetíveis e emoção. Passar hora e meia a ver o relógio mover-se, timidamente, à medida que os ponteiros medem a tensão de ambas as equipas, definitivamente, não é para qualquer um.

Com o Calcio aprendi que a disciplina vale mais que as corridas com o coração nas mãos tão habituais da mentalidade morrer com as botas calçadas da Premier. Ou o brilhantismo técnico, tantas vezes inconsequente, da Liga Espanhola. Os jogadores em Itália são diferentes de todos os outros. Tecnicamente podem ser tão ou mais dotados mas psicologicamente vivem num mundo à parte. São capazes de ler um jogo em 94 minutos, de saber controlar os tempos, as emoções os suspiros. Encaram cada jogo com o mesmo profissionalismo de uma cimeira de paz, sempre pensando nas consequências de cada acção. A diplomacia do futebol italiano aproxima-o, mais do que nenhum outro, à realpolitik, a mesma que destroçou a anarquia romântica do Brasil de 82 ou que rasgou as casas de apostas em 2006. Os italianos são, talvez, dos poucos que entendem o futebol verdadeiramente como algo colectivo e mostram uma impressionante capacidade conciliar o individuo com o todo, a arte com o oficio. Baggio, Zola, Del Piero, Totti, Cassano, Pirlo valem tanto como Gattuso, Conte, Ancelloti, Baresi, Maldini, Tachinardi ou Cannavaro. Têm a injusta fama de futebol defensivo - e são talvez uma das melhores canteras de guarda-redes e centrais do Mundo - e no entanto ninguém esquece a fome goleadora das equipas de Sacchi e Lippi, o respeito que ouvir os nomes de Rossi, Vialli, Mancini, Chiesa, Delvechio, Montella, Ravanelli, Inzaghi, Toni ou Pazzini supõem para o rival. Talvez por viverem num país estreito, os italianos sempre preferiram canalizar o seu jogo pelo corredor central. Não há extremos ou laterais ofensivos que abram o campo, a bola discute-se com o mesmo fervor que a relva. E com a mesma exactidão. O relógio continua a soar, lá ao fundo, numa qualquer piazza de eclesia perdida no meio do belle paese, e o jogo segue, sem pressas, sem essa vontade de agradar que tanto parece fazer falta aos demais.

 

Com o passar dos anos aprendi a amar cada futebol pelo que é, descubrindo as suas virtudes e defeitos e hoje é dificil dizer que exista algum estilo, alguma escola que não me apaixone de certa forma. Ruivas, loiras ou morenas, com bola, sem ela, altas, baixas, muito ou pouco peito, atrás com 5 à frente com quatro, no meio com sete... o futebol, como o sexo feminino, só me desperta sensações positivas e experiências únicas. Ver o Chivas de Guadalajara, o Hearts of Oaks ou o Hellas Verona tornaram-se vivências, por si só, únicas na sua emoção. Mas o meu olhar acaba sempre perdido nos Alpes, viaja pelo Pó, senta-se na baía de Napoles e mergulha no Mediterrâneo. Como com as mulheres, e não se entende o futebol italiano sem as mulheres italianas, no final só há uma que me preenche verdadeiramente. Lembro-me daquele por do sol e penso no Calcio, a bola continua a girar, o acordeão de jogadores move-se lado a lado, a cabeça bem levantada e a vida faz-se eterna debaixo do limoeiro...



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Quarta-feira, 21 de Dezembro de 2011

Setembro nunca foi tão quente e Guardiola tão audaz. Nesse inicio de mês de despedida de um Verão inesquecível escrevi aqui que o técnico de Santpedor tinha dado um passo mais em frente e abdicado da figura do avançado moderno. Muitos pensavam que este Barcelona não podia ir mais longe e que o desejo de jogar só com centro-campistas era mais um sonho retórico que um projecto realista. Palavra de Pep, palavra cumprida. O futebol de moda, agora,  é dos médios!

A chegada de Fabregas e Alexis Sanchez ao Camp Nou (ao mesmo tempo que se promovia definitivamente o talento inato de Thiago Alcântara) parecia, à primeira vista, criar um problema de overboking. Um plantel superlativo com poucas opções atrás, menos à frente e um excesso de centro-campistas para quem esteve habituado a jogar os últimos anos num 4-3-3 fléxivel mas, mesmo assim, 4-3-3.

Guardiola, provavelmente o treinador que melhor soube inovar tacticamente o jogo desde os dias de Marcelo Bielsa (de quem, de certa forma, é tão sucessor como de Johan Cruyff) sabe que não renovar é morrer, não só no panorama do futebol profissional actual mas, sobretudo, no ADN desportivo do Barcelona.

Um clube que sofre mais do que é habitual quando deixa de ganhar tem de encontrar uma constante motivação para não perder. A decadência dos projectos de Cruyff, van Gaal e Rijkaard deixou lições aprendidas e, melhor do que ninguém, Guardiola sabia que o sucesso só era factível se a aposta fosse em quem sentisse profundamente o sentimento de gere o cosmos de um clube que brilhou com os seus galácticos nos anos 90, com uma hoste de holandeses na mudança de século e depois com o sotaque exótico afro-brasileiro no mandato de Rijkaard. Rodear-se de filhos da Masia, filhos seus, foi o primeiro passo. Cercar-se de médios, o definitivo.

Guardiola sempre referiu que para ele o jogo era uma questão de centro-campistas e se fosse possível alinhar 11 médios o faria. Claro que muitos levaram pouco a sério este e outro tipo de frases que levaram a Ibrahimovic a catalogar o técnico como "filósofo", um epítome que funciona mal com o cheiro a suor dos balneários. Mas esse ideário táctico que contrariava a tendência histórica de considerar o jogo ou uma questão de defesas ou de avançados nunca saiu da mente de Pep e sentindo-se forte, sentindo-se conhecedor do meio onde navegava, o técnico decidiu romper com as regras e realizar a mais profunda mutação táctica desde os dias de Sacchi. No ocaso do Verão anunciou as intenções, na despedida do Outono completou a metamorfose. Muitos duvidavam da eficácia do 4-6-0. Para Guardiola o futuro é o 3-7-0.

 

Naturalmente um desenho táctico sem avançados e praticamente com os mesmos defesas que ideou Herbert Chapman há oitenta anos não só parece complexo no papel. Na realidade é-o ainda mais. Provavelmente é um esquema que funcionará no tempo e espaço, tempo hoje, espaço Camp Nou, reflexo perfeito desse leque de maravilhas que é o plantel blaugrana. Dificilmente uma equipa pretérita conseguiu reunir tantos talentos num espaço tão apertado do tapete verde como este projecto que arrancou com os despojos de Rijkaard e que se metamorfoseou até tornar-se algo profundamente inovador.

Qualquer clube que não disponha de jogadores que combinem tão bem a velocidade e o critério, o posicionamento defensivo e o jogo colectivo transformaria este esquema num desastre absoluto, mais próprio de um desenho infantil do que uma ideia vanguardista. Mas Guardiola sabe que esta era é irrepetível e que Xavi, Iniesta, Busquets, Cesc, Messi, Thiago e Alves não voltarão a jogar juntos com o mesmo apetite, frescura e classe como nesta série de anos que se prolonga mais do que muitos esperariam. Por sabê-lo, por senti-lo, Pep tem a certeza que esta experiência entrará nos anais da história e aí ficará, como peça de museu, quando o seu projecto, inevitavelmente se desintegre. E enquanto dura, o melhor é desfrutá-la.

Este 3-7-0 não renega do ataque nem da defesa. Busca o eterno equilibrio que tantos técnicos são incapazes de lograr, ora sacrificando um homem à frente (como os Mourinho), ora perdendo o controlo do manejo dos espaços atrás (como sucedeu com a Alemanha de Low no último Mundial). Guardiola conta com um lateral da escola brasileira que lhe garante a factibilidade de jogar apenas com três defesas. Dani Alves não é um jogador único porque o seu modelo de jogo é, no fundo, um loop do que o Brasil vem oferecendo, com mais ou menos critério, desde a década de 50. O seu aproveitamento como falso extremo, falso médio, falso defesa emula o que Scolari procurou com Roberto Carlos e Cafú em 2002 e de certa forma pode dizer-se que o brasileiro fez pelo lado direito o que o eterno número 3 do Real Madrid logrou com o esquerdo. O seu balanço ofensivo é compensado pela frieza posicional de um trio de ases - Puyol, lateral direito nos dias de van Gaal, Piqué e Abidal, um lateral esquerdo que é central e que às vezes nos lembra que foi lateral esquerdo. Com esses três homens (e com Mascherano), Guardiola sabe que a solução será sempre a mais fácil e, preferencialmente, com a bola a seguir tranquilamente no tapete verde. O trabalho de Victor Valdés, que se transforma nesse quarto defesa, num libero ao estilo de Rene Higuita, é igualmente fundamental para garantir uma defesa que se coloca preferencialmente equidistante entre o miolo e a grande área. E que encurta o campo como Guardiola aprendeu de Sacchi durante horas de conversas perdidas no tempo.

 

É no entanto o médio que se torna o protagonista. O verdadeiro, o falso, o interior, o exterior, o ofensivo, o destruidor, o constructor...

Com Guardiola o futebol de moda tornou-se no futebol dos médios. Hoje os miúdos continuam a encantar-se com golos e sprints mas há cada vez mais pequenos Xavis, Iniestas e Fabregas de futuro nos recreios das escolas. O médio total tornou-se tão ou mais apelativo que a figura do solitário dianteiro. Essa solidariedade colectiva de que vive o jogo do Barcelona, esse eterno rondo que continua até nas horas de sono, transforma os sete magníficos do miolo numa arma impossível de contrariar, pelo menos, até agora.

Alves é o homem que varre à direita, aquele em quem todos podem confiar que tanto pode abrir o campo ao máximo como, subitamente, realizar uma diagonal que desconstrói a defesa mais bem organizada. No lado oposto dançam Sanchez ou Thiago (ou Pedro, ou Villa, ou Afellay, ou Cuenca que a lista é interminável). Esse é o posto mais anárquico, o que varia conforme o interprete mas que, sobretudo, tem menos preocupações defensivas que o lado oposto, o que mais depressa encontra forma de surgir como falso avançado (como sucedeu com Sanchez no Bernabeu) ou pivot para o jogo de toque curto dos restantes cinco. No jogo contra o Santos, o tal que fará parte de qualquer lição de bem jogar a partir de hoje e até tempos imemoriais, Thiago exemplificou perfeitamente o que Guardiola idealizou para essa camisola rotativa. Um sacrifício pelo bem comum, um destelho para a alegria colectiva. Desde o seu primeiro ano que nos habituamos a ver os extremos de Guardiola junto da linha lateral. Tornou-se no seu habitat natural, da mesma forma que já o eram nos dias de Chapman e que, com o passar dos anos, se tornou num pálido reflexo do passado. Mas, sobretudo, esse posicionamento permitiu abrir um imenso quadrado no meio onde se desenham os triângulos que formam o esqueleto blaugrana. Esses são os homens que fazem funcionar a máquina. O que impedem que a bola não incomode demasiado os três (quatro com Valdés) atrás e que garantem que ela acabe, com o máximo número de toques possível, nas redes do contrário.

Dois vértices em baixo - Busquets e Xavi - dois vértices em cima - Cesc e Iniesta - e um joker livre pelo meio, Lionel Messi, e as palavras deixam de fazer sentido. A forma como a bola flutua pelos pés dos cinco jogadores em espaços tão exíguos relembra uma celebre cena de um dos mais icónicos dos filmes dos irmãos Marx, A Night at the Opera, onde o quinteto de irmãos consegue encher um compartimento de um cruzeiro das mais distintas personagens.

O miolo do Barcelona parece sempre sobrepovoado, o campo parece do tamanho de um ringue de futebol sala, e no entanto essa escola de toque que se fomenta desde a mais tenra idade na Masia transforma esse problema na verdadeira solução. Os rivais não sabem manobrar-se em tão pouco espaço, a bola perde-se com mais facilidade porque não há tempo para pensar e a tentação do lançamento largo só facilita a recuperação da posse de bola, esse credo do qual vive e respira qualquer equipa de Guardiola.

 

O 3-7-0 não será a táctica do futuro (o 4-6-0 não era propriamente uma novidade inédita, apesar da sua pontualidade ocasional) porque depende de tantas condições que é altamente improvável que volte a surgir uma conjuntura tão propicia. O futuro do futebol mundial dependerá sobretudo não dos Mourinhos, Ferguson ou Wengers, nomes consagrados fieis ao seu ideário, mas sim dos técnicos novos que estudem a maneira de pensar deste Barcelona e encontrem o antídoto certo, um antídoto que reclame a bola e o espaço como seu sem abdicar de um e de outro. Será complicado porque o esgar colectivo de assombro, esse aplauso generalizado provoca sobretudo uma falta de tempo e critério para a observação e estudo das falhas, que certamente existem, no planteamento de Guardiola. Até chegar esse momento, até assistir-mos a uma nova metamorfose, o futebol será desses magníficos. Mais do que títulos o grande logro histórico deste Barcelona foi superar os preconceitos do passado e transformar-se na vitória dos médios!



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Segunda-feira, 19 de Dezembro de 2011

poucas fotos que conseguem encapsular o sentido de um jogo tão brutalmente complexo como o futebol. Nenhuma o faz tão bem como este momento em que o mundo - a bola - pára aos pés de um dos jogadores que melhor a souberam entender. À sua frente, o caos. E não um caos qualquer, uma desordem organizada, uma concessão ao desespero de um segundo que logo desaparece sobre um manto de rigor absoluto. A Argentina do "Pelusa" perdeu o jogo frente à melhor Bélgica de que há memória, pioneira na organização defensiva na década que redefiniu o conceito, mas ganhou a história com uma foto que perdura na memória.

 

Maradona recebe a bola. Só.

Diante de si, seis jogadores belgas. Seis jogadores de elite, vice-campeões europeus, totalmente desorientados pelo seu movimento de corpo. Pendentes do seu próximo movimento, da decisão que pode mudar o curso do jogo, da história. A bola cola-se aos pés do jovem astro argentino, debaixo do olhar quase impotente de homens que sabem encontrar-se com algo a que os gregos antigos simbolicamente chamavam de semi-deuses. Poucos jogadores individuais tiveram tanto impacto no jogo como Diego Armando Maradona. Poucos jogadores deram a sensação de surpresa e terror num rival como o Pelusa nesta imagem. Curiosamente, como os não golos de Pelé em 1970, esta imagem tornou-se mais representativa do seu génio do que muitos dos seus golos. O poder do individuo contra o colectivo.

Claro que o lance acabou imortalizado e foi desactivado poucos instantes depois. Não foi um desmarque impossível mas sim um livre indirecto e os homens belgas tinham formado uma barreira que rapidamente se desactivou diante do argentino que, no meio da floresta de homens de vermelho, acabou por perder a bola. Travado várias vezes em faltas (que hoje em dia valeriam mais do que uma expulsão), a exibição do menino que falhou o Mundial de 78 e que no ano seguinte se transformou em estrela precoce no Japão, foi catalogada como desapontante. Era o seu primeiro jogo no Camp Nou depois de ter assinado com o Barcelona e, sobretudo, o primeiro jogo importante com a Albiceleste vestida e o 10 estampado nas costas, como uma cruz. Maradona tentou, jogou e fez jogar, mas a foto acabou por contradizer o que se viveu nos 90 minutos.

 

O poder de uma imagem muitas vezes é suficiente para dar uma imagem oposta ao real.

Nunca em nenhum momento isso foi tão verdade como este frame. O aparente desnorte dos jogadores belgas dá a ideia de uma equipa sem ideais, sem estilo, sem disciplina, submetida ao génio de um só homem, de um poeta de chuteiras. A imagem que melhor imortaliza o papel do individuo entra em choque com um jogo onde se reforçou um conceito que faria escola nos anos 80: o papel táctico do colectivo.

A Bélgica de Guy This tinha-se tornado, desde o final dos anos 70, no exemplo perfeito do que é o futebol de hoje. O talento individual foi colocado ao serviço do bem colectivo, as estratégias defensivas de contenção, pressão e - sobretudo - do jogo com o fora-de-jogo (algo idealizado pelo belga Raymond Goethels, treinador do Anderlecth, durante a década) como armas preferenciais para desactivar o rival. Kempes, Maradona e companhia viram-se superados por essa defesa sempre pronta a dar um passo em frente neutralizando as diagonais dos homens das pampas. Apesar de contar com génios individuais como foram Eric Gerets, Jan Ceulemans, Vandereycken ou Coeck, todos submergiram num só elemento, quase indistinto, que basculou durante os 90 minutos em linhas compactas que anularam o jogo mais lento e previsível de uns campeões do Mundo que (como em 1990) chegaram com a convicção de que a sua superioridade técnica natural seria suficiente.

Mas a Bélgica não era uma equipa qualquer, como César Menotti devia bem saber. Vice-campeões europeus dois anos antes, os belgas representavam a corrente mais conservadora e eficaz do futebol europeu de então, o oposto do futebol espectáculo protagonizado pela França de Platini. Só uma Alemanha tão bem organizada mas com um Bernd Schuster implacável foi capaz de superar a espantosa organização colectiva dos belgas em Itália e neste Mundial de Espanha os belgas acabaram apenas por cair diante da eficaz Polónia de Lato e Boniek na segunda fase de grupos depois de um arranque memorável. O golo de van den Bergh silenciou um Camp Nou disposto a prestar vassalagem ao seu novo ídolo e demonstrou que, apesar de uma imagem valer mais do que mil palavras, um individuo não deixa de ser um variante inferior ao poder de um colectivo durante longos 90 minutos.

Maradona, qual guerreiro cercado pelas tropas rivais, teria dois anos depois a sua desforra, apontando os dois golos que bateram os belgas nas meias-finais (a organização voltou a ser a sua grande arma contra soviéticos e espanhóis) mas aí o número 10 contava atrás de si com um colectivo cujo o ideário billardista se aproximava, mais do que nunca, ao dos homens de Thys. No lance imortalizado há metade da equipa argentina sem marcação e não sabemos se estão de braços no ar a pedir a bola ou se admiram, estáticos, como todos, o momento. Ao ver o jogo, no entanto, entendemos que a realidade é sempre mais complexa do que parece. Maradona recebe a bola numa posição complicada, abandonado, e todos os que se encontram na sua linha de visão estão bem presos pela teia defensiva belga. O passe mais óbvio torna-se presa fácil dos rivais que roubam a bola, a voltam a perder e depois logram armar de forma perfeita a ratoeira do fora de jogo que tão bem  aperfeiçoaram.

Num dos duelos mais apaixonantes do torneio ficou clara a tendência táctica de um jogo que se começava a preocupar cada vez mais com o aspecto defensivo e que via extinguir-se figuras individuais capazes de decidir, aproveitando os espaços, jogos por si só. Nesse momento Maradona representa o eclipsar de uma era que só ele saberia prolongar durante uma década onde o futebol de ataque, despreocupado e inconsequente, foi desaparecendo gradualmente. O grande público lembra-se melhor da derrota de um Brasil inocente frente a uma Itália perfeita mas foi no primeiro jogo do torneio, neste duelo de abertura, que se anunciou o futuro. Por muito que o olhar de terror de Coeck, De Schrivjer, Vercauteren, Gerets, Milecamps e Baeck nos permita imaginar o contrário. Nesse jogo de ilusões que é o futebol às vezes isso é tudo o que precisamos para sonhar.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:03 | link do post | comentar

Sábado, 17 de Dezembro de 2011

Sabia André Villas-Boas que trocar a cadeira de sonho por uma cadeira electrocutada tinha os seus riscos e apesar de parecer uma mudança fácil a decisão de trocar o FC Porto pelo Chelsea sempre pareceu mais complexa do que se possa imaginar. O projecto desportivo de Abramovich chegou a uma dessas encruzilhadas onde realmente se julga a condição de grandeza de um clube. O técnico português foi chamado mais por essa crença do magnata russo nesse futuro respeitável do que propriamente numa filosofia de resultadismo que orienta projectos onde o dinheiro fala sempre mais alto. Resta saber quanto vale a fidelidade do russo a uma ideia...

Pouco fica quando o dinheiro acaba e, mais tarde ou mais cedo, ele acaba mesmo.

Treinar um projecto desportivo que está assente no livro de cheques é um risco porque a cobertura pode um dia falhar e revelar uma realidade cheia de cinzentos escuros e negros. Hoje ninguém aceitaria treinar um Blackburn Rovers endinheirado e no entanto isso foi o que Kenny Dalglish fez quando os Rovers eram o Chelsea dos 90s e quebraram um mandato dictatorial do melhor United de Ferguson. Equipas como o Manchester City ou o Chelsea, por muito passado respeitável que tenham, sempre foram membros dessa classe média futebolística, irmãos pequenos dos grandes rivais urbanos e, portanto, perdendo o prestigio tinham de o compensar com algo. O dinheiro.

Só que projecto assim normalmente têm prazo de validade. Se o dinheiro é curto - e quem se lembra de Peter Risdale? - acabam depressa quando o banco começa a exigir mais do que o que dá. Se o dinheiro dura vários anos é, habitualmente, quem o investe que se farta de mais do mesmo e procura uma noiva loira de mamas falsas, um novo iate de luxo, um clube nas Américas e um hotel nas Arábias. Quando o dinheiro se vai vai-se tudo com ele e só os clubes que apostaram no prestigio histórico - por muito mal que andem de dinheiro - conseguem sobreviver com dignidade em dias de penúria. Os outros - lembram-se do Matra Racing? - caem no esquecimento. Esses clubes vivem o momento, o sonho e precisam de homens que sintam essa necessidade de armar tenda em qualquer lado para triunfar. José Mourinho foi o homem ideal para Abramovich porque era um treinador com a vista noutro lado desde o primeiro dia. O seu impacto é imediato, o seu sucesso exprimido até ao tutano e depois, et voilá, o adeus a tempo e horas prevê a catástrofe. O Chelsea pós-Mourinho até fez melhor figura na Europa (foi a uma final da Champions, perdida pelo azar de Terry e a fraqueza mental de Anelka) e voltou a vencer a Premier, mas essa aura de projecto novo atractivo perdeu-se. Mais do que Abramovich se fartar - e o dinheiro começou a chegar em menor quantidade - foi o mundo que se fartou do Chelsea. Os adeptos procuraram outros ódios de estimação (olá City), os jogadores descobriram que havia destinos mais atractivos e os rivais perderam-lhe o respeito. Em quatro anos o Chelsea deixou de ser um ogre temido a ser mais um de muitos clubes de top que têm prazo de validade quando os cheques deixaram de chegar definitivamente. O iate de Abramovich já conheceu melhores dias.

 

No meio deste cenário de luxúria desportiva, chega com uma garrafa de Porto vintage um tal André Villas Boas a Londres.

Não é um Special One porque as imitações raramente funcionam e o seu sucesso no FC Porto deveu-se a muitos factores e só um deles lhe corresponde directamente. Cómodo no clube do coração, chegou a um momento da sua vida onde podia perspectivar um futuro repleto de titulos portugueses e alguns brilharetes europeus aqui e ali. Mas esse prestigio que é treinar o FC Porto não deixa de ser enganador num mundo de tubarões da alta finança e como o mais cínico dos Humphrey Bogarts podia presumir, isso não era suficiente. Londres atraía pelo passado mas sobretudo pelo futuro. O problema, está claro, era o presente.

Villas-Boas viveu na pele a era Mourinho. Sabe o efeito do sadino nos seus ex-jogadores e sabe que depois deste sair estes nunca mais voltam a ser os mesmos. Essa orfandade emocional, esse físico destroçado por anos de exigência máxima são difíceis de compensar e o Chelsea de Mou continuava a ser o mesmo cinco anos depois, anos em que Abramovich tentou vários modelos sem nunca se sentir satisfeito. O problema dos novos-ricos do futebol não é o dinheiro que gastam mas a sensação de que o fazem sem ter uma só ideia. O Barcelona gasta todos os anos verdadeiras fortunas mas, pelo menos, vive uma ideia de jogo à que é habitualmente fiel e que lhe permite dar continuidade à estrutura do clube. No caso de entidades como o Chelsea (olá City) vê-se o enfoque no imediatismo e nunca se pára para pensar o que se quer para o amanhã. O Chelsea é um clube de possessão ou de contra-golpe? De pressão alta ou de deixar jogar? De jogadores com uma entidade técnico-fisica evidente ou uma miscelânea? Ninguém, nem o próprio Abramovich, sabe ou pensa sequer nisso. Por isso os Mourinhos do futebol funcionam tão bem porque eles trabalham com o que há para o hoje. O amanhã é para os lorpas que vêm a seguir resolverem. Villas-Boas não quer ser o lorpa de turno, o novo Grant, Scolari ou Ancelloti mas para isso terá de medir os seus tempos com frieza e determinação.

Já na época passada se tinha começado a reestruturar o plantel do clube londrino mas, uma vez mais, sem ideias de futebol presentes. A contratação de Torres, David Luiz e Ramires deixaram a nu essa incerteza. Um avançado que joga em velocidade num plantel onde abundam os avançados. Um defesa de choque mas com propensão para o erro ocasional ao lado de uma dupla Terry-Ivanovic, de primeiro nível. E um médio pulmão sem critério com a bola que deixa antever que o toque não será uma prioridade. E no entanto, meses depois, chegam Mata, Meireles, Oriol e com eles Villas-Boas a defender o critério, a posse e o jogo entre-linhas. O 4-3-3 da era Mourinho, compacto, de jogo lateral e veloz transformou-se num 4-3-3 de defesa alta, linhas móveis e ataque continuado. Mas a filosofia no papel contrasta com a falta de critério no balneário.

 

As derrotas dos Blues frente ao Manchester United, Liverpool e Arsenal foram mais do que derrotas no plano futebolístico. O Chelsea perdeu contra equipas de prestigio, instituições que sabem ao que jogam e que, por muito mal que estejam no presente, têm um ADN a que são fieis e que sacam a reluzir em jogos de máxima importância. O Chelsea vive perdido nesse meio porque Villas-Boas ainda não teve habilidade para manobrar esses tempos de gestão fundamentais para que um blockbuster se transforme num êxito de larga duração. Mais do que reformular o plantel onde abundam jogadores em fim de carreira o que o português tem de lograr é persuadir Abramovich a esquecer o iate por um instante e pensar que a sua paixão de uma noite se transforme num longo casamento, cheios de dias rotineiros, jantares de família aborrecidos e sessões de sexo esporádicas e sem paixão. Villas-Boas sonha sobretudo em criar à sua volta o mesmo prestigio que logrou Wenger que soube manter longevos os homens do "boring Arsenal" como Keown, Adams, Dixon e Parlour ao mesmo tempo que ia imprimindo o seu cunho com Henry, Pires, Ljunberg, Vieira, Cesc e companhia. Vencer o Manchester City é um logro importante no imediato mas não deixa de ser um duelo de iguais, de duas equipas cheias de egos mas sem uma identidade. Mais do que disputar o titulo ao novo-rico do momento a liga do Chelsea deveria ser a do amanhã, a que lhe permita um dia sentar-se ao lado do trio histórico que define o futebol britânico e esperar a ser servido como um membro mais da família.



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Quinta-feira, 15 de Dezembro de 2011

Nas últimas semanas era um segredo mais ou menos bem escondido que a relação de David Villa com o FC Barcelona tinha conhecido melhores dias. A sua ausência para o que resta de temporada não só resolve um problema que ameaçava tornar-se sério em Can Barça como abre as portas definitivas à "barcenalização" definitiva da selecção de Vicente del Bosque.

A capa de quarta-feira do jornal Marca anunciava que Villa estava à venda. Guardiola declarou que o jornal da capital, com quem tem uma relação de ódio de largos anos, mentia. Mas a verdade é que o asturiano, peça fundamental na sua estratégia da época passada se tinha transformado num actor secundário neste blockbuster de sucesso com critica e público que é o Pep Team. Depois de co-protagonizar o último capitulo trilogia alguém esqueceu-se de avisar o dianteiro que no quarto filme o seu tempo em cena seria consideravelmente reduzido. Mas poucos pressagiavam que fosse quase nulo.

Villa viu a sua margem de manobra reduzida pelas chegadas de Alexis Sanchez e Cesc Fabregas, jogadores que, somados, custaram 80 milhões ao clube que só aposta pela formação como imagem de marca. Apesar do excelente ano 2010 atrás das costas - incluindo golos decisivos na final da Champions League, na Supertaça contra o Real Madrid e durante a campanha ligueira que permitiu o tri a Guardiola, o seu lugar no onze titular evaporou-se. Em dezoito jogos disputados pelos blaugrana a Villa coube-lhe apenas oito no reparto num sexteto onde também estão Alexis (lesionado dois meses), Pedro, Cuenca, Thiago, Iniesta e Cesc. Claro que, no meio disto tudo, Messi e o seu papel de intocável jogaram um papel fundamental. A má relação do argentino com Samuel Etoo marcou o fim de feeling entre Guardiola, que elegeu centralizar o seu projecto desportivo à volta do argentino, e o camaronês. Depois foram os problemas com Ibrahimovic, despeitado porque Messi entrava demasiado na sua zona de acção e só a ele é que lhe apontavam o defeito contrário, de ocupar espaços da estrela culé. E por fim Villa. O melhor marcador da história da Roja sempre foi um dianteiro que fez do arranque nos últimos metros a sua melhor arma, tal como sucede com o goleador Messi. A sua chegada ao Camp Nou obrigou-o a bascular pelos extremos, jogando no limite do fora de jogo mas demasiado longe da área para poder manter os seus níveis de eficácia goleadora das épocas em Zaragoza e Valencia. Com menos golos, Villa foi perdendo protagonismo, ilusão e magia. Mas também ganhou um inesperado problema no balneário com Messi, que sentiu que algum do protagonismo do asturiano frente à baliza lhe roubou a possibilidade de voltar a bater Cristiano Ronaldo na luta pelo Pichichi, e por consequência, na Bota de Ouro, hoje por hoje o único troféu que o português ainda supera o argentino. Essa má relação ficou evidente já esta época entre ambos nos poucos jogos onde coincidiram e depois de um duelo contra o Viktoria Plizen a própria imprensa de Valencia fez eco das queixas do seu antigo ídolo. A suplência no duelo com o Real Madrid (onde Alexis Sanchez foi brilhante) agudizou o problema, levou ao duelo dialéctico Marca-Guardiola e ameaçou tornar-se num problema sério. Até à lesão em Tóquio.

 

O Barcelona será certamente quem menos sofrerá com o afastamento previsível do asturiano até ao final da época.

Dentro de portas é expectável até que Guardiola sinta que um peso lhe saiu de cima porque não só tem margem de manobra suficiente para essa posição (especialmente com o lançamento de Cuenca) mas também porque gerir o ego de um avançado de top não parece ser algo que se lhe dê bem. Etoo e Ibrahimovic foram pesadelos do dia a dia, Villa será um fantasma distante, longe suficiente para não incomodar mas presente o suficiente para reforçar a ideia de união de um balneário cujos egos são tão complexos como o de qualquer outro clube. Provavelmente, como sucedeu com o Ajax dos anos 70, os problemas do dia a dia só cheguem mais tarde, nas memórias dos seus protagonistas e os mitos caiam inevitavelmente por terra.

O problema tem-no sobretudo Villa. Aos 31 anos o seu ocaso profissional está cada vez mais perto e uma lesão desta gravidade, na tíbia, onde já tinha sofrido moléstias durante grande parte da época passada, pode passar uma pesada factura. E claro, à parte da questão interna do Barcelona e até mesmo uma eventual venda no final do ano a um clube da Premier (falou-se em Chelsea e Liverpool) está o Euro 2012. Para o melhor marcador do anterior torneio esta seria provavelmente a sua última grande prova internacional. Ele que sempre esteve na lista de fundamentais de Vicente del Bosque e que, sobretudo, mostrou ser fundamental a partir do momento em que o estado de forma de Fernando Torres decaiu enormemente. Sem um Torres em forma - como continua a ser o caso - e Villa a verdade é que Del Bosque parece ter um sério problema nas mãos, sabida que é a sua má relação com Roberto Soldado e tendo em conta que tanto Llorente como Negredo ou Adrián são demasiado inconstantes para ser vistos como última solução.

A lesão de Villa pode acabar por ser redentora e permitir ao seleccionador campeão do Mundo aproximar ainda mais o seu modelo ao do próprio Barcelona, que entre Guardiola e Aragonés, definiu esta simbiose Espanha-Barça tão inesperada como certeira. Na falta de um Messi mas com o coração dos blaugrana (Pique, Puyol, Busquets, Xavi, Iniesta, Cesc, Pedro) presente, podemos ver no próximo Europeu uma Espanha a apostar claramente pela ideia do falso 9, a que revitalizou Messi. Um ideário táctico já testado nos últimos jogos da Roja mas que pode ser aperfeiçoado agora que Cesc se encontra muitas vezes nessa situação de jogo no Camp Nou. Sem um avançado puro e com uma lista de médios quase perfeitos infindáveis, a Espanha que viajar à Polónia poderá ser talvez a mais forte de que há memória. Ao lado de Busquets e Xabi Alonso (imprescindíveis na biblia delbosquiana) podem jogar ao mesmo tempo Xavi, Iniesta, Silva e Fabregas, levando ao extremo o jogo dos "bajitos" que Aragonés idealizou na Áustria há quatro anos. Com Pedro, Llorente, Negredo, Thiago e Torres como alternativas, esta ausência de Villa pode significar o empurrão que Del Bosque necessitava para evitar a imagem estagnada de uma campeã mundial e europeia que começa a perder gás face ao jogo mais dinâmico e mais atractivo da Alemanha de Low.

 

Se o Barcelona tem em Messi o seu santo e senha é também porque Guardiola soube instruir o argentino a comportar-se como um centro-campista mais. Para o técnico de Santpedor o futebol perfeito seria jogado com onze centro-campistas e a vitória no Bernabeu, com uma espécie de 3-6-1 reforçou ainda mais a sua crença. Uma visão ondes os avançados como Villa ou Torres não têm espaço e que sempre gerou dúvidas no coração de uma selecção que sempre foi vista como o "Barcelona sem Messi". Sem o eficaz dianteiro asturiano Del Bosque tem a possibilidade de ir ainda mais longe que Guardiola e levar o culto do centrocampista espanhol a outro nível, algo que pode ser fundamental para os espanhóis fecharem com chave de ouro o mais brilhante capitulo desportivo da sua história. Um mito que Villa ajudou a criar mas no qual pode acabar por revelar-se prescindível!



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Terça-feira, 13 de Dezembro de 2011

Na sociedade actual o pensamento único é uma tendência dominante e, ao mesmo tempo, preocupante. O diferente, o alternativo, o original, o ancestral é deixado de parte em prole de uma linha comum, de um politicamente correcto que corrói até à medula os alicerces da nossa sociedade. O futebol, que funciona sempre como espelho sincero desse mundo interior, vive o mesmo dilema. A ditadura futebolística de um Barcelona único, respaldado pelo sucesso internacional da selecção espanhola transformou em vaca sagrada o futebol de posse mas como a experiência de Luis Enrique vem provar, o sucesso de cada estilo depende, como dizia Gassett do "eu", das circunstâncias.

 

O sucesso espantoso do Barcelona de Guardiola escondeu, na passada época, um fenómeno ainda mais atraente. O êxito da equipa B dos catalães. O projecto que liderava Luis Enrique foi, durante largas semanas, uma das grandes sensações do futebol europeu, demonstrando uma classe e superioridade que permitiam imaginar uma posição cómoda na tabela em muitas ligas europeias. E estes, maioritariamente miúdos, eram apenas a segunda versão do conjunto blaugrana, aquela a que Pep recorre quando sente necessidade de expandir o plantel principal, controlado até ao último ego.

Seguindo a filosofia de toque da escola cruyffiana, imitando o modelo de jogo dos titulares, o jogo do Barça B encantava pela fluidez, pelo controlo e pelas dimensões ofensivas. No cálculo do espaço, no tempo com a bola e na aptidão pela surpresa. Com Nolito, Soriano, Robert, Oriol, Montoya, Bartra, Thiago, Fontás e companhia, estava claro que só com esse pensamento único na bola como filosofia a equipa podia funcionar. E como um relógio suiço, preciso e mecânico, o projecto foi transformando-se de anedota a realidade e terminou o ano em posições de disputa de um play-off de acesso a que teve de abdicar por questões lógicas de regulamento. Era evidente que o papel de Luis Enrique fazia todo o sentido nesse micro-cosmos onde a posse, o passe e o “rondo” são santo e senha e muita foi a expectativa que se gerou quando o asturiano – um dos que trocou Madrid por Barcelona, no caminho inverso que fez Laudrup na mesma época – anunciou que iria procurar um novo desafio, talvez sabedor que viver à sombra de Guardiola é complicado.

 

Por muito paradoxal que aparente a escolha de Luis Enrique pela AS Roma no inicio parecia fazer sentido.

O clube gialorosso tem uma tradição dentro do Calcio de ser uma equipa que preza a bola mais do que o espaço. O clube que glorificou Conte, Falcão e Totti gosta de sentir-se importante a fazer o esférico circular e o projecto milionário que pretendia revitalizar a vida de um dos poucos clubes a desafiar a hegemonia do Inter durante os mandatos de Mancini e Mourinho parecia ter encontrado a sua alma gémea.

Só que Luis Enrique, destemido mas sempre incauto, esqueceu-se das celebres e certas palavras do seu amigo Guardiola sobre um futebol italiano que ele aprendeu a amar durante as suas passagens por Brescia e pela própria Roma. Numa das suas dissertações, quando ainda bebia futebol como aluno, Pep falou da sua relação com um célebre dirigente do Brescia enquanto discutia à mesa sobre a supremacia do futebol de toque e o jogo de espaços que sempre caracterizou o giocco a la italiana. Depois de horas a debater Pep levantou-se, beijou a testa do seu contertulio e exclamou, “tens razão, é impossível discutir a essência de um povo”, e deu por terminado o assunto. Com essa afirmação ficou claro que Guardiola se deu conta que enquanto o futebol de toque funciona bem dentro da filosofia centro-europeia – exportada fielmente para Barcelona e só para Barcelona – no resto do mundo encontra sempre resistências face à cultura local. Em Itália, como Mourinho provou, ter a bola é o de menos quando se controla o espaço. No país da bota o sucesso do Barcelona é visto à distância com admiração mas, também, com esse dose de profundo realismo de um futebol diferente que não é nem melhor nem pior no mesmo que consagrou o AC Milan ou a Squadra Azzurra na última década. Esse olhar arrogante que a maioria dos apologistas da posse têm sobre os demais esta habitualmente ausente quando se olha a partir de outras filosofias, incapazes de aceitar o dogma da verdade institucional.

A campanha de Luis Enrique numa Roma reforçada a seu belo prazer (Bojan, Osvaldo, Lamela, Jose Angel) demonstra bem esse olhar de superioridade frustrado. Entre adaptar-se a uma filosofia local e depois explorar o seu ideário e impor a sua mentalidade, Luis Enrique optou pela segunda abordagem, desafiou os adeptos, encarou-se com Totti e em troca não conseguiu apresentar nada. A sua equipa tenta jogar como os projectos blaugranas pretéritos mas o ADN italiano parece vir ao de cima quando a bola deixa de fluir com normalidade e a velocidade e o recuo de linhas convida a pensar que desastrada é este mistura de ideários. Como se um violinista clássico tentasse entrar numa rave, Luis Enrique é incapaz de entender que antes da sua Roma poder jogar como o Barcelona, primeiro tem de assimilar todos os conceitos sociais, politicos e individuais que fizeram do clube catalão o clone perfeito do ideário holandês. A singularidade do espírito catalão tornaram-no num laboratório perfeito para este sistema de jogo mas, ao mesmo tempo, deixaram-no ainda mais isolado do resto do Mundo onde o jogo directo (no Norte), o jogo de espaços (no Mediterrâneo), a desordem táctica assente no génio individual (em grandes partes da América e África) e, sobretudo, um jogo muito mais estruturado e muito menos fluido são santo e senha. O técnico que abdicou de Isaac Cuenca (emprestado ao Sabadell) por entender que a equipa B deveria emular o jogo da principal, repleto de falsos 9 em lugar de extremos puros, voltou a deixar em evidência a sua incapacidade para ver mais além do velho ditado que nele se aplica tão bem.

 

O fracasso do técnico espanhol no projecto romano é evidente e consequente com tudo aquilo que Luis Enrique preconiza. Um dos grandes defeitos dos treinadores quando migram é o autismo que demonstram face à nova realidade que os rodeia. Esse insularismo mental consegue sempre que se suspeite de técnicos que são bem sucedidos num só laboratório de provas (daí as suspeitas de muitos com Guardiola, suspeitas que não partilho) porque mais do que manejar as tropas, conhecer a bíblia táctica e lidar bem com a imprensa um técnico é, sobretudo, um antropólogo e sociólogo, capaz de reconhecer o mundo onde entra e onde pretende triunfar. Se faz da sua vida profissional um doutrinário das ideias únicas, do politicamente correcto, o seu destino está traçado desde o primeiro dia. O sucesso de uma ideia não faz com que seja, forçosamente, a única ideia a seguir.



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Domingo, 11 de Dezembro de 2011

Madridamanheceu mais triste, fria e cinzenta do que nunca. Um despertar que se repete no tempo, no espaço, na memória...um dia que se repete, uma realidade que não se muta. A ressaca de uma noite de profundo realismo transformou a expectativa em depressão. Um fantasma que, Natal após Natal, aparece nos céus da capital de Espanha voltou para repetir-se, ano após ano, num dia da marmota futebolístico sem igual na história do futebol europeu. A superioridade técnico-táctica, moral, psicológica e desportiva do FC Barcelona de Guardiola funciona para o Real Madrid como a marmota para Bill Murray. Nunca se vai embora...

Há grandes equipas de futebol e depois há as equipas de contornos míticos.

É impossível retirar este Barça deste segundo grupo. Já o Real Madrid de Mourinho ontem nem sequer parecia fazer parte do primeiro. O profundo complexo de inferioridade dos jogadores merengues com os rivais blaugranas, de Mourinho com Guardiola, dos adeptos e imprensa de Madrid com os de Barcelonacomeçam a tornar-se numa patologia crónica, sem cura, sem solução a não ser o inevitável (mas aparentemente distante) desmantelamento de um projecto desportivo a todos os títulos superior ao do histórico clube da capital.

No pior clássico que vimos disputar ao Barcelona a sua superioridade foi tal que a muitos se lhes podia ocorrer que este Real Madrid hoje é mais um bálsamo que um problema para o clube da cidade condal. Incapaz de dominar equipas pequenas fora de casa, no Bernabeu, com mais complexos que um conceito freudiano, o Barça sente-se em sua casa. Explora o seu jogo com autoridade, enerva o rival á mínima e provoca o caos com um suspiro ténue mas determinado. O festival de futebol da passada noite não foi só um repetir sem fim de uma realidade que já leva quatro anos. Foi a confirmação de uma clara superioridade a todos os níveis do campeão europeu. Nem vendo-se a perder desde os 27 segundos o Barcelona mudou uma virgula do seu esquema. O prémio, mais do que a vitória, foi o triunfo da sua ideia, ontem mais posta á prova do que nunca. Talvez não o assuma, mas para Guardiolaa vitória da passada noite tem mais méritos do que os históricos 5-0 do ano passado. A conjuntura parecia favorecer os astros de Madrid mais do que nunca. Não havia queixumes, não havia medos, o primeiro jogo no Bernabeu (pela primeira vez na era Guardiola) parecia afastar o fantasma do Camp Nou. Mas a assombração não conhece cidades e lá se apresentou, pontual, para amargar o enésimo natal aos merengues que sonham ainda com uma liderança que nunca pareceu tão frágil.

 

Guardiola tinha prometido atrevimento e Mourinho fidelidade aos seus conceitos.

O problema do técnico português, de há uns anos para cá, está na própria natureza do seu modelo de jogo. O jogo directo tem tanta validez como o jogo de posse - por muito que os talibans de Barcelona insistam no contrário - mas ontem Guardiola nunca permitiu sequer um atisbo desse modelo que fez do Madrid uma equipa letal. O seu 3-6-1 destroçou por completo uma equipa incapaz de trabalhar como uma unidade, visivelmente dividida entre secções onde o trabalho se reparte em partes desiguais e provoca inevitáveis desequilíbrios. Cesc e Messi, os dois homens mais avançados á priori, trabalharam durante todo o jogo como dois médios mais, juntando-se a Iniesta, Busquets, Xavi e Dani Alves para cercar e matar qualquer posse de bola do rival. O Real Madrid alinhou com uma linha ofensiva de quatro contra três defesas rivais (Busquets recuava quando a equipa perdia a bola), mas foi incapaz de se valer dessa superioridade salva na ocasião do golo (um tremendo erro de Valdés, tremendamente corajoso depois a continuar a jogar com os pés todos os lances sem medo) e no falhanço clamoroso de um Cristiano Ronaldo que ontem voltou a demonstrar que está a anos-luz de ser um atleta digno de entrar na história. A sua inoperância defensiva, tristemente habitual, contrasta com o árduo trabalho de Messi no miolo. O argentino também não marcou mas sua foi a assistência para o golo do empate (genial jogo de Sanchez) e, sobretudo, em instalar o caos no meio-campo merengue. Ronaldo das duas vezes que teve a história ao seu alcance mostrou o seu rosto habitual, acobardado pelas circunstâncias, nervoso e profundamente complexado com o jogo rival. Foi a sua pequenez o sinal mais evidente da impotência de uma equipa que viveu dos sprints de Di Maria e a insistência de Benzemaface a um jogo colectivo profundamente medíocre.

Se Guardiola tem o mérito de soltar os seus maiores artistas, Mourinho terá sempre a culpa de os prender a conceitos conservadores e estáticos. Xabi Alonso, a bússola do Real, viu-se atado de pés e mãos pelo circulo formado á sua volta entre Busquets, Xavi, Messi e Cesc e o Madrid não encontrou alternativa. Ozil não tinha com quem associar-se,Diarra limitava-se a correr e a defesa, demasiado medrosa para pressionar mais perto do miolo, deixou espaços em abundância para o jogo de toque do rival florescer. Assim nasceram os três golos do Barcelona, trocas de bola rápidas a aproveitar espaços vazios e jogadores estáticos. Mourinho optou por Coentrãocomo defesa direito e deu razão aqueles que entendem que algo de muito podre se vive em Concha Espina. O caso do jovem Pedro Mendes desatou a polémica na semana anterior (e como habitual, cobardemente, Mourinho mandouKarankafalar em seu nome) e começa a ser evidente que no onze titular estão, sobretudo, os homens de confiança do treinador e do seu agente. O desnorte do habitual lateral esquerdo foi evidente, a falta de uma solução no meio-campo gritante (foi Mourinho quem preferiu Khedira a David Silva) e quando a equipa precisava de um sinal do banco este nunca chegou. Kaká não trouxe nada de novo numa substituição fácil,Khedira por Diarra deu um sinal de profundo conformismo e a chegada de Higuain por Di Maria, quando o argentino era o mais atrevido, deixou claro que Cristiano Ronaldo (que voltou a falhar três livres, e vão 23 na época sem golo) não sai nem que esteja sem uma perna. No jogo de ontem a aposta em Callejonfazia muito mais sentido, jogador com espírito de sacrifício para defender e garra a atacar.Guardiola entendeu isso e deixou a Villa no banco sem piedade. Mourinho vive demasiado pendente dos seus e com isso, como sempre, é o colectivo que sai prejudicado. Ontem a derrota táctica foi mais evidente do que em nenhum outro jogo.

 

No meio desta imagem doloroso ficou evidente que o Barcelonasó perde este liga se quiser e que aos madrileños lhes espera mais um ano de azia profunda. O que a equipa tem feito tem os seus méritos mas não diverge em muito do que se via com Schuster, Ramos ou Pellegrini apesar do brutal investimento e do mediatismo que rodeia o mandato de um Mourinhoincapaz de ganhar de tu a tu ao Barcelona desde que chegou a Stanford Bridge. O seu complexo com o clube que uma vez o rejeitou parece ser superior ao seu inegável talento e também disso se aproveita Guardiola,jogador que cresceu martirizado com o espírito do Bernabeu mas que encontrou o antídoto sendo fiel a si mesmo (algo queCruyffnunca foi) e á sua mentalidade profundamente ofensiva. O dia da marmota merengue parece que continuará até que o Barcelona o queira e os jogadores blaugranas aterram hoje em Tóquio com a sensação de que o seu rival há muito que deixou de ser o Real Madrid. O seu rival é a própria história!



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Sexta-feira, 9 de Dezembro de 2011

Numa semana em que a gestão da UEFA de Platini deveria estar debaixo de um sentido coro de aplausos, o organismo que gere o futebol europeu voltou a demonstrou o seu autismo na relação directa com os escândalos arbitrais que gerem a sua prova rainha. O apuramento "histórico" do Olympique de Lyon abre de novo as portas a todos aqueles que acreditam que a Champions League há muito que deixou de ser uma competição limpa.

No rescaldo da conferência de imprensa, a polémica conferência de imprensa, de José Mourinho depois da derrota por 0-2 diante do Barcelona, nas meias-finais da Champions League, um coro de virgens histéricas condenaram o técnico português por questionar a honestidade da UEFA. Defenderam que a prova europeia por excelência era mais limpa que um lençol por estrear e que só aqueles que viviam em cápsulas submergidas debaixo da terra podiam acreditar que os árbitros nomeados pela UEFA e a direcção do organismo, presidido por Michel Platini, tivessem alguma agenda escura com outros interesses por detrás. Claro que a Mourinho, sancionado por cinco jogos lhe retiraram um depois deste alegar, com provas na mão, toda uma colecção de erros intencionados que tiveram lugar na prova nos últimos cinco anos. O eco foi infinitamente menor mas deixou claro que a própria UEFA sabe com que teia se cose o seu grande troféu.

Esse mesmo coro talvez pense agora duas vezes depois de assistir a um jogo que nos faz voltar atrás no tempo, aos dias difíceis da ditadura militar argentina que, com o apoio de João Havelange, organizaram o Mundial de 1978. Na segunda fase de grupos - passo prévio à final - a equipa da casa, neutralizada pelo Brasil, precisava de vencer por cinco golos ao excelente Peru de Teófilo Cubillas. E venceu por seis. Num dos jogos mais tristes da história dos Mundiais ficou claro que tinha havido mais de uma mão a manobrar o resultado. Poucas duvidas ficaram também ao final dos 90 minutos de Zagreb e Amsterdam, por muito que Platini defende, uma vez mais, o indefensável.

Não está em causa a debilidade evidente demonstrada pelo Dinamo Zagreb - que contra o Real Madrid efectuou, em casa, um jogo impecável perdendo apenas por 0-1 - que ainda para mais não jogava nada a não ser a sua honra e prestigio. Nem sequer o potencial do Olympique Lyon, uma equipa com um historial europeu imaculado na última década e que, com este apuramento, consegue a sua nona classificação consecutiva para a próxima fase. E no entanto quando uma equipa necessita recuperar uma diferença de sete golos num goal-average para se qualificar e o consegue, o futebol entra numa espécie de twlight zone.

 

Nunca nenhuma equipa tinha marcado sete golos fora num duelo da Champions League.

Aliás, nunca nenhuma equipa tinha recuperado de um goal-averege desfavorável de quatro golos na última ronda, quanto muito sete, quase o dobro. E no entanto, ela move-se, pensaram os jogadores do Ajax quando souberam do que se passava à distância de um pesadelo. Claro que os holandeses sentiram na pele e em primeira pessoa o tratamento de luxo que a UEFA costuma aplicar nestes casos. Numa arbitragem lamentável, dessas que definem uma carreira, o árbitro português Jorge Sousa anulou dois golos perfeitamente válidos ao conjunto ajaccied que teriam significado, primeiro o empate a 1 e depois o 2-1 frente ao Real Madrid, versão low cost, que se apresentou no Arena. Um resultado que podia ter significado muito e que acabou por fazer muito mais sentido quando o outro duelo terminou.

Estes dois golos anulados que garantiram a validez de uma reviravolta a todos os títulos histórica e, sem nenhuma dúvida, suspeita desde o primeiro ao último segundo. O Zagreb, a tal equipa que não jogava nada mais que a honra, até ia a vencer por 1-0 ao intervalo, dando a entender que as contas do apuramento estavam fechadas a favor dos holandeses. Mas um piscar de olhos matreiro e sete golos em vinte e oito minutos (uma média de um golo cada quatro minutos) permitiram aos Gonnes relegar o tetracampeão europeu para a Europe League. Claro que poucos se lembraram que o clube croata já esteve sob suspeita em 2009 por vender o resultado num duelo também na Champions frente ao Arsenal. Ou que o seu presidente, o sempre polémico Zdravko Mamic, seja uma conhecida figura do submundo croata, ligado às máfias de Zagreb e a uma rede de apostadores ilegais que controlam todas as apostas desportivas do país. Talvez isso soe estranho a tantos, menos a Platini que chamado a intervir pelo Ajax se prenunciou, como sempre, a favor de respeitar com o que se passa no terreno de jogo, justificando mesmo a reviravolta dos seus compatriotas como uma consequência natural da imprevisibilidade que faz do futebol um desporto mágico.

E no entanto nunca ninguém logrou sequer algo similar ao conseguido por um Lyon que é, a todos os títulos, o mais fraco da última década. Não se tratam apenas dos sete golos marcados (algo que só o Liverpool, Valencia, Marseille, Arsenal, AS Monaco, Real Madrid e Juventus lograram nesta fase da competição) mas o time frame em que os eventos se desenrolaram. Dos dois golos anulados em Amesterdam ao séptimo, e decisivo tento, apontado em Zagreb vai meia hora. Nunca em tão pouco tempo se decidiu algo tão complexo. A atitude dos franceses lembrou, e muito, a dos alemães naquele mítico acordo de cavalheiros contra a Áustria em 1982. Não se tratou de um ou dois erros pontuais que podem passar em qualquer jogo (mas que nas provas da UEFA curiosamente passam sempre aos mesmos) mas sim de uma clara manipulação de resultados que pelo caminho deve ter feito alguns homens bastante mais ricos. Nas casas de apostas online o apuramento do Lyon era o mais improvável de todos aqueles ainda em disputa à entrada da última ronda. E claro, o que provocou mais dividendos.

 

Conhecendo a UEFA é fácil perceber que o dossier Zagreb-Lyon será guardado habilmente numa caixa de cartão, escondido na arrecadação da sede da organização e atirado para o esquecimento como tantos outros jogos suspeitos nas provas europeias. No final do ano poucos se irão lembrar deste curioso caso que no entanto deixa a nu a relação entre o organismo que gere o futebol europeu e o submundo que rodeia a sua principal prova. Os franceses seguem em frente, os holandeses têm forçosamente de se resignar e os croatas limitam-se a despedir um técnico condenado e a piscar o olho, de bolsos cheios. Ninguém, fora do mundo do futebol, tem legitimas dúvidas de que entre Zagreb e Amsterdam houve mais do que um jogo de futebol. Infelizmente por isso mesmo a UEFA Champions League continua o seu penoso via crucis, um caminho árido, triste e cinzento que desde a chegada de monsieur Platini tem levantado mais do uma boa suspeita.



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Terça-feira, 6 de Dezembro de 2011

Seguramente que qualquer leitor do Em Jogo conhece James Will. Seguramente que muitos o viram jogar, a parar remates indefensáveis, a realizar defesas impossíveis no último minuto debaixo de um imenso temporal. Ou a comandar a área com a destreza dos mais hábeis e o espirito dos mais guerreiros. Seguramente que James Will é um nome tão familiar para qualquer um como seria Luis Figo...certo? Errado. James Will é o paradigma do erro, o exemplo da abordagem do futebol profissional ao futebol de formação que tem alimentado e destruido carreiras vorazmente durante os últimos 30 anos. Will é o anonimato da mesma forma que Figo representa o sucesso máximo. Cruzaram-se no caminho e pareciam ir por caminhos similares. Mas um continuou e o outro ficou para trás. E não foi o único.

Poucas pessoas realmente viram jogar James Will.

Uma das razões mais evidentes foi a curtissima carreira do jogador. E Will seria um de muitos anónimos que não singraram no jogo não fosse por um mero detalhe: em 1989 a FIFA achou por bem otorgar-lhe o prémio de Melhor Jogador do Mundial de sub-17, realizado na sua Escócia natal. Torneio que perdeu, na final, contra a Arábia Saudita. Nessa prova brilharam grandes futuros craques do futebol mundial como Fode Camara, Khalid Al Romahi ou Gil. Claro que, no meio deste talento que os olheiros da época se prestaram a encumbrar como estrelas futuras, havia um tal de Luis Figo, então ainda um mero júnior do Sporting CP que anos mais tarde se convertiria no simbolo do futebol mundial, depois de Florentino Perez fazer dele o primeiro "Galáctico". No dia em que assinou o contracto com o Real Madrid é dificil saber se algum dos anteriores jogadores ainda eram futebolistas profissionais. Will desde já não o era.

O guarda-redes escocês foi a grande figura do conjunto da casa e exibiu-se a alto nível. Mas nunca chegou a assinar um contracto profissional. Fartou-se das exigências do futebol de elite e seguiu a sua vida como policia de trânsito na sua pequena localidade. O futebol pode ter perdido um grande guarda-redes - como a FIFA sugeriu e muitos olheiros comprovaram - mas a sua experiência tornou-se no paradigma futuro de uma politica incapaz de entender as gigantescas diferenças entre o futebol de formação e o futebol profissional.

Com a globalização os clubes (e alguma imprensa) dedicam esforços à procura de prodigios cada vez mais precoces. Contratam jogadores imberbes, imaginam que em cada miudo de bairro está o próximo Messi e suspeitam a cada simples demonstração de talento os milhões que podem estar ali no futuro. E no entanto a maioria dos jogadores aos 17 anos (e aos 15 e aos 19) é um potencial Will mais depressa do que um potencial Diego Armando Maradona, que dez anos antes venceu o mesmo troféu que o escocês, mas que precisou de meia dúzia de anos para realmente "explodir" como futebolista.

 

A lista de "Wills" do futebol moderno não tem fim.

A cada torneio UEFA e FIFA surgem nomes que depois caem no esquecimento. Demasiadas expectativas, um torneio bom de um jogador com condições medianas, a performance colectiva capaz de exaltar o individuo, o peso do rival ou, simplesmente, a falta de comportamento profissional de um jogador que é ainda um miudo...tudo são factores que muitos esquecem na ânsia de ser os primeiros a descobrir a grande novidade a seguir. A maioria dos jogadores jovens sucumbem à pressão de serem exibidos como bandeiras. Muitos desistem como James Will. Outros são atraidos pelos milhões dos grandes clubes europeus para acabar por jogar em equipas de escalões inferiores, lamentando-se do que podia ter sido e não foi. E outros, pura e simplesmente, colapsam.

Arsene Wenger inaugurou a corrida às jovens promessas mundiais mas teve o savoir faire suficiente de seleccionar jovens que correspondiam a comportamentos padrão que definiam uma margem de sucesso considerável. Qualquer manager ou olheiro de elite sabe que um torneio curto é a pior forma de conhecer o valor real e potencial de um jogador. Normalmente aqueles que mais brilham neste tipo de competições são os que menos longe chegam como profissionais. Estrelas cadentes de um mundo sem perdão.

É no estudo continuado, na análise estatisticas de comportamentos, exibições e atitudes durante um largo periodo de tempo que se descobrem as verdadeiras pérolas do futuro. Muitos deixam-se levar pelo comportamento mediático das estrelas de domingo. Figo nesse torneio não brilhou talvez ao mesmo nível que Will. Mas profissionalmente a sua carreira foi ascendente, em todos os sentidos e beneficiou, de certa forma, dessa pressão ausente que sofreu o escocês e também nomes tão familiares como Nii Lamptey, Daniel Addo, Mohammed Kathiri ou Sergio Santamaria, todos eles detentores do mesmo troféu. Mesmo as consagrações de Landon Donovan, Sinama-Pongolle ou Anderson acabaram por ser mais prejudiciais do que benéficas para os jogadores e nos tempos recentes talvez só mesmo Cesc Fabregas (já então pupilo de Wenger) tenha escapado a uma maldição repleta de lógica e disfarçada de preconceito. O futebol de formação de hoje é cada vez mais uma escola de resultados e imediatismos. Os clubes e as federações procuram productos para vender agora e não estão dispostos a formar jogadores e profissionais para cinco anos. No último Europeu de sub-20 as selecções mais prometedoras, Espanha e Colombia, ficaram pelo caminho. E no entanto é fácil ver que daquele grupo sairão mais desportistas de elite do que das selecções finalistas, Brasil e Portugal.

 

A abordagem em modelos de jogadores mais fisicos e menos técnicos - e o caso francês é evidente - pode dar resultados no momento mas, a longo prazo, não dá frutos. Por cada Figo haverá sempre 100 James Will, jogadores de consumo imediato e precoce que, como as estrelas pop juvenis, se tornam em one hit artists superados facilmente pela fornada que vem já a seguir. O paradigma do erro, em que Portugal apostou recentemente, acreditando que o futebol de formação se faz de titulos e não da preparação de futebolistas de futuro não é caso único e no entanto não deixa de ser um erro repetido vezes sem conta. O projecto de formação do FC Porto, onde tanto dinheiro se investiu, foi coroado de titulos e no entanto não há a perspectiva de nenhum jogador da cantera estar agora ou no amanhã nos quadros da equipa principal. Se o sucesso espanhol mede hoje tudo, deveria ser óbvio para todos que apostar em futebolistas é mais rentável do que apostar em ganhadores, por muito que demore dez anos até que os génios de Xavi, Xabi Alonso ou Andrés Iniesta sejam devidamente reconhecidos. Pérolas individuais existirão como sempre, jovens potreros de bairro encandilarão olheiros atentos mas essa fome de descobrir the next big thing será sempre mais um handicap do que o caminho a seguir. O futebol de formação, como qualquer projecto educativo, precisa de tempo, espaço e ar para respirar. James Will sentiu na pele a asfixia de ter de ser alguém antes do tempo. Há 22 anos o paradigma do erro estava aí e poucos quiseram ver. Hoje há muitos como ele quando a sua história - e a de tantos outros - devia, a pouco e pouco, converter-se na excepção que faz a regra!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:40 | link do post | comentar | ver comentários (2)

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