Segunda-feira, 31 de Outubro de 2011

Quando Guardiola emerge como figura máxima da expressão artística que define hoje o seu maravilhoso Barcelona atrás de si emerge sempre a figura na sombra de Johan Cruyff. Espelho de uma relação de admiração mútua que traça directamente a ponte entre o Dream Team e o Pep Team, olvidando pelo meio aquele herói que, ainda hoje, Can Barça teima em renegar. Sem ele o futebol moderno seria bem mais pobre e talvez o duelo entre Guardiola e Mourinho hoje fosse apenas uma mera utopia.

O elogio unânime ao futebol do Pep Team parte do principio que o técnico de Santpedor foi, provavelmente, o primeiro treinador a conseguir transformar o Camp Nou no santuário do futebol internacional recorrendo, sobretudo, à célebre cantera da Masia. Em Roma e Londres, palcos das suas duplas conquistas europeias, o Barcelona de Guardiola alinhou com oito jogadores da formação. Sete, se excluirmos Pedro Rodriguez, que chegou a Barcelona já com 17 anos e a formação realizada em Las Palmas. E, no entanto, desses sete jogadores, apenas um deve a sua presença no palco principal do futebol europeu ao técnico: Sergio Busquets.

Guardiola falou várias vezes da herança de Cruyff como elemento refundador do FC Barcelona moderna. Um discurso no qual alinham os seus jogadores, directivos e a esmagadora maioria da imprensa catalã contemporânea. É um reconhecimento natural de quem sabe que deve a sua carreira ao técnico holandês e quem se tornou, de certa forma, o símbolo dessa mutação desportiva em Can Barça que foi a valorização do producto interno. Até aos anos 90 o Barcelona era um espelho fiel do que é o Real Madrid de hoje, um clube mais gastador do que formador, clube que apostava em figuras incondicionais como Cruyff, Maradona, Liniker, Schuster, Simonsen, Romário, Laudrup, Stoichkov ou Ronaldo para paliar o seu imenso défice de produção própria. A cantera de Barcelona celebrizou-se na figura esguia e célere de Guardiola, criou o mito do número 4 - do qual Xavi, Fabregas e Thiago são sucessores - mas até à chegada de Guardiola poucos lhe prestavam a devida atenção. Talvez porque interessa à sempre facciosa imprensa catalã valorizar uma figura local, um homem que, se quisesse, seria hoje president da Generalitat, em detrimento de um passado vestido de laranja. E não o laranja de sant Jordi.

 

Cruyff, o homem que refundou a cantera do Barcelona com o seu ideário de "rondo, rondo, rondo", jogou a final do Wembley de 1992 com dois jogadores formados em casa. Guardiola era um. Ferrer, o lateral direito que passou pelo Chelsea, era o outro. Durante a sua estância em Can Barça o técnico holandês especializou-se a comprar, comprar e comprar o sucesso que obteve. Chegaram da liga espanhola os bascos Zubizarreta, Bakero, Goikotxea, Nadal, Sergi e Salinas. Da nata do futebol internacional Koeman, Stoichkov, Laudrup e Romário. À base de muito dinheiro o Dream Team venceu a Champions League de 1992 - a primeira do clube - e quatro ligas consecutivas, três das quais na última jornada. Depois de três anos de derrotas aos pés da Quinta del Buitre do Real Madrid, a última verdadeira aposta na formação do clube merengue. Quando Cruyff foi despedido, em 1995, a sua filosofia de cantera ainda fazia muito pouco sentido para a directiva do clube que preferiu apostar num inglês - Bobby Robson - que trouxe ainda mais estrelas para a equipa como Ronaldo ou Vitor Baía, que se juntaram a Figo, Hagi e Popescu, nomes que Cruyff tinha contratado para renovar as suas fileiras. Seguindo essa politica o Barcelona continuou a ignorar o producto bruto e só a figura, sempre criticada, de Ivan de la Peña, surgia como um náufrago de estrelas alheias.

Foi a chegada de Louis van Gaal que mudou, definitivamente, o rosto do clube catalão.

Hoje, mais de dez anos depois do seu ambicioso discurso, a maioria dos adeptos do Barcelona continuam a preferir esquecer a sua figura quase dictatorial e o seu génio desportivo. Depois de triunfar em Barcelona (só lhe faltou vencer a Champions League), van Gaal já se reinventou na Holanda (com o seu AZ Alkmaar) e na Alemanha (com o Bayern) e mesmo assim o mundo do futebol continua a olhar por cima do ombro quando o seu nome veio à baila. Nessa apresentação em 1998 o técnico que tinha levado o Ajax à glória europeia anos antes com base na formação local defendeu que o Barcelona, devido à sua idiossincrasia, devia apostar numa equipa formada, maioritariamente, com jogadores locais. Vencer a Champions League com uma maioria de jogadores da casa era o seu objectivo numa gestão a longo prazo. Não o deixaram estar tanto tempo mas houve outros que viveram da sua politica desportiva.

 

Van Gaal foi o primeiro treinador a convencer os directivos do Barcelona a lançar, à imagem e semelhança do Ajax, uma rede de olheiros em todo o Mundo para pescar, na mais tenra idade, as grandes promessas do futebol internacional. Assim chegou, em 2001, um tal de Leo Messi desde a Argentina, algo impensável sob o modelo de gestão anterior do clube.

O técnico holandês queria aplicar a filosofia de Cruyff a outro patamar e foi com ele que realmente todas as equipas do clube, desde os infantis aos seniores, começaram a jogar no mesmo desenho táctico que permitia para o futuro formar algo mais do que números 4. O "rondo, rondo, rondo" continuou a ser o modelo de jogo vigente, mas os conceitos de pressão, de preparação física e, sobretudo, mental, que não existiam na filosofia cruyffiana, tornaram-se objecto de estudo e aprendizagem na fábrica de La Masia. Enquanto a equipa principal vencia títulos com esse misto de holandeses, estrelas internacionais e estrelas em ascensão, começavam a formar-se as condições para que os Iniesta, Fabregas, Valdés, Piqué e companhia encontrassem um Barcelona muito diferente àquele que Guardiola conheceu no final dos anos 80.

O mal amado holandês, sempre criticado pela imprensa local, foi também o responsável directo pelo sucesso actual do clube catalão quando, contra indicações da própria direcção, lançou na primeira equipa a jovens como Xavi Hernandez, Charles Puyol (na sua primeira etapa) e mais tarde a Andrés Iniesta, Victor Valdés e Fernando Navarro (hoje no Sevilla) quando voltou a Barcelona, sem grande sucesso. O seu braço direito de então, José Mourinho, foi o responsável por algumas dessas apostas, já que era o técnico responsável de orientar os jogos na Taça Catalunya, onde Xavi, Puyol e companhia deram os primeiros toques na bola como profissionais do Barça.

Quando van Gaal saiu do clube - e o projecto de Gaspart entrou em espiral destructiva - o clube equacionou vender tanto a Xavi como a Puyol. O dinheiro da transferência de Figo foi gasto em jogadores de segunda linha e a formação continuou a ficar esquecida até que outro holandês, Frank Rijkaard, herdou a herança de van Gaal (com Valdés e Iniesta à cabeça) e seguiu as suas directrizes, juntando ao quarteto da casa - que se sagrou campeão europeu em Paris - o génio de Ronaldinho. E, no entanto, sob o seu mandato - e o de Laporta - tanto Piqué como Arteta e Fabregas foram forçados a emigrar para a Premier porque o clube continuava a olhar de outro lado para o producto da casa por muito que o técnico tentasse ir lançando jovens da cantera.

 

Guardiola herdou um esquema perfeitamente montado pelo ideário táctico de Cruyff e, sobretudo, a aposta clara de van Gaal na ideia de um onze da casa. Herdou sobretudo um esqueleto formado por quatro jogadores em quem só van Gaal acreditou durante larguíssimos anos e a figura omnipresente de um Leo Messi que, talvez, sem a politica de prospecção importada pelo mal amado técnico desde Amesterdam talvez nunca tivesse jogado de blaugrana. Desde a sua chegada, em 2008, que Guardiola já fez estrear a 19 jogadores da casa, o último dos quais a grande promessa Gerard Deulofeu. E, no entanto, só um deles, Busquets, encontrou um lugar à sombra na equipa principal. Entre os restantes 18 há jogadores que abandonaram o navio, outros que continuam a preparar-se na equipa B e um trio (Fontás, Thiago e Cuenca) que é utilizado como back-up de um plantel que continua a ser quase tão gastador como nos dias de Cruyff (Villa, Alves, Ibrahimovic, Abidal, Adriano, Maxwell, Keita, Afellay, Alexis Sanchez) e que mesmo assim consegue transmitir uma ideia totalmente desfasada da realidade na opinião pública. O génio táctico de Guardiola é inequívoco mas o seu rosto de Lancelot da formação blaugrana é uma das mais gritantes falácias do futebol actual. À distância, o mesmo homem que rejuvenesceu o Ajax, revitalizou o Bayern Munchen e quebrou a hegemonia do futebol holandês com o seu AZ continua a ver a sua criação recolher os mais rasgados elogios sem que nunca o seu nome saia à tona. Mourinho, outro dos seus discípulos, outro producto dessa sua formação obsessiva - até de treinadores - está no outro lado da barricada e não tem o mais mínimo interesse em seguir a filosofia de um dos seus mentores. Talvez olhando para o que se vive em Barcelona tenha razão. Afinal, se nem Xavi nem Puyol se lembram de onde vieram, porque não acreditar neste conto de fadas?



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Quinta-feira, 27 de Outubro de 2011

Ninguém espera que o ritmo se mantenha. Em algum momento o balão começará a perder ar e deixará de fintar as nuvens para voar rente ao chão. Mas enquanto deambula pelos céus, o Levante pode pela primeira vez sentir a sensação de olhar para baixo e ver todos os outros que o perseguem. Será um feito anedóctico, menos para os valencianos, mas este pobre Levante continua a mandar na liga dos mais ricos.

20 milhões de euros, nem um cêntimo mais, nem um cêntimo menos.

Um orçamento insignificante para os habituais padrões das ligas europeias. Mais ainda na espanhola, na chamada liga das estrelas, onde Real Madrid e Barcelona manejam, anualmente, orçamentos de 400 e 500 milhões de euros. Inferior ao que custou, para colocar apenas dois exemplos, Fábio Coentrão ao Real Madrid e Alexis Sanchez ao FC Barcelona. Mas o futebol é assim, um fenómeno previsivel repleto de pequenas surpresas. Isso sim, surpresas que não podem durar muito tempo. No final os davids sempre acabam vergados ao inevitável peso dos golias. E em Valencia sabem-no melhor do que ninguém. A sua guerra é outra.

O clube acabou a passada temporada num ritmo endiabrado. O promissor técnico Luis Garcia pegou na equipa já com um pé na Liga Adelante e graças a uma segunda volta espantosa quase que deixou os azulgrana de Valencia em postos europeus. O espirito de grupo de um plantel formado, sobretudo, por jogadores descartados por outros clubes ou sem contracto, tornou-se na grande arma de uma equipa sem um só nome sonante para o público mais desatento. As suas estrelas passam já a idade e não têm o perfil de vedetas. E no entanto tiveram capacidade para bater o Real Madrid e Villareal, duas equipas que marcam presença na Champions League deste ano, para à nona jornada seguir como lideres isolados da Liga BBVA. Um quarto de campeonato cumprido e com 23 pontos em 27 possíveis, os levantinos estão muito mais perto do seu objectivo real: a permanência.

 

Saiu Luis Garcia para o Getafe como seria de esperar e para o seu lugar a direcção do clube foi encontrar uma solução ainda mais surpreendente.

Antes de ser treinador de futebol, Juan Ignacio Martinez fez um pouco de tudo. Guarda-costas, vendedor de seguros, empregado numa gasolineira. Sabe o valor do trabalho como poucos e só este ano chegou ao futebol profissional. Na época passada treinava na 2º Divisão B e antes tinha andado pelos campeonatos regionais sem chamar demasiado à atenção.

Muitos suspeitavam da sua inexperiência mas Martinez fez disso uma força. É um dos técnicos que melhor estudo os rivais (os seus cadernos de apontamentos estão a ganhar fama de contornos miticos) e sobretudo, é um motivador nato. Numa equipa com muito coração mas pouquissimos recursos essa é uma arma que não pode ficar no coldre. Martinez, o "Guardiola dos pobres" como a imprensa espanhola o apelida, pegou nos veteranos Munua, Juanfran, Venta, Nano e, sobretudo, Salva Ballesteros, e transformou-os na defesa mais eficaz da liga. Cinco golos sofridos em nove jogos num quinteto cuja média de idade supera os 29 anos.

Se no final de 2011 os golos de Caicedo foram valiosos para garantir a permanência do clube valenciano na prova, em 2011-12 a equipa perdeu o seu dianteiro estelar mas ganhou, sobretudo, em eficácia. Juanlu é o rosto desse ar mais humilde e sincero de uma equipa em que os médios são tão eficaz diante da baliza contrária como os seus dianteiros.

Com estas armas tão modestas surpreende que o Levante não tenha perdido um só jogo até ao momento na prova. Depois de dois empates consecutivos contra rivais directos na luta pela permanência (Getafe e Racing), a vitória em casa sobre um apático Real Madrid abriu a corrida à liderança que inicialmente foi partilhada com Valencia, depois com Barcelona e por fim tornou-se num prazer pessoal e solitário. Rayo, Espanyol, Bétis, Málaga, Villareal e Real Sociedad foram as vitimas insuspeitas de uma história que nunca terá um final feliz. Pelo menos para os românticos que ainda acreditam em surpresas num mundo controlado do primeiro ao último minuto. O Levante sabe que necessita só mais 20 pontos, menos do dobro do que já acumulou, para cumprir o objectivo da permanência. Haverá quem sonhe no Ciutat de Valencia com um lugar europeu mas isso são contas de outro rosário. Poucos esperam que uma equipa com um plantel tão envelhecido consiga manter este ritmo durante muito tempo mas ninguém se atreve agora a subestimar o notável trabalho de Martinez no banco azulgrana.

 

No final do ano muitos certamente acabarão por esquecer-se deste brilhante arranque de época do Levante se a equipa acabar nos postos anónimos no meio da tabela classificativa. É a crueza de um desporto que vive dos resultados e que esquece, tantas vezes, a forma como são obtidos. Para este Levante dos 20 milhões qualquer coisa que não seja a despromoção é uma especie de titulo de liga. Qualquer coisa mais uma versão particular da sua Champions League. No final a missão heroica dos azulgrana de Valencia perduará na memória daqueles que não esquecem. Daqueles que sabem que o futebol é algo mais do que uma questão de bolas de ouro e titulos europeus.



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Segunda-feira, 24 de Outubro de 2011

Não deixa de ser curioso (ou preocupante) a infima quantidade de obras escritas que se debruçam sobre um desporto mais que centenário e um fenómeno global que hoje, mais do que nunca, é uma ferramente fundamental para perceber o Mundo. No entanto, entre as (insuficientes) grandes obras que versam sobre a magia que desprende o beautiful game não há um só livro que possa sequer ombrear com aquele que corre o sério risco de se tornar numa verdadeira biblia sagrada do jogo. Com Inverting the Pyramid o inglês Jonathan Wilson conseguiu muito mais do que um livro. Transformou a alma do futebol e plasmou-a no papel como da Vinci reinventou a pintura e Borges permitiu a todos sonhar um pouco mais...

Conta Jonathan Wilson que a ideia para Inverting the Pyramid surgiu num bar do Bairro Alto em Lisboa depois de uma acalorada discussão com os adeptos ingleses que acompanhou para presenciar o França-Inglaterra do Euro 2004. O jogo que definiu a classe dos gauleses e a falta de punch da Inglaterra de Erikson deixou o jovem escriba a reflectir sobre a verdadeira essência do jogo que o tinha capturado desde pequenos na cinzenta Sunderland. Colocou mãos à obra e como Tolstoi ou Miguel Ângelo, desafiou todas as leis.

Inverting the Pyramid é mais do que um livro, é um ser com vida própria.

Wilson analisa a evolução moral e estética do jogo através das suas metamorfoses tácticas. O titulo faz referência à mutação vivida do 2-3-5 do futebol desorganizado de principios de século ao 5-3-2 que algumas equipas, nomeadamente a Argentina de Billardo, aplicaram nos últimos anos como último recurso evolutivo num jogo que se dedicou a encontrar formas de anular a falta de ordem dos seus primórdios. Mas se essa mutação, factual e indismentível, é a base do trabalho, é no miolo das páginas que se encontra a verdadeira importância de uma obra que vale mais do que um manual de bolso para qualquer treinador de bancada.

A táctica, disposição das peças no tabuleiro, é o pretexto ideal para mergulhar nos ritmos, na evolução fisica e mental, na abordagem dos aspectos psicológicos e na emergência de nomes que a história preferiu esquecer, reciclando-se como lhe convém. O autor, hoje o consagrado colunista do The Guardian e editor do projecto online The Blizzard, utiliza a sua prosa eximia para chegar ao osso do esqueleto futebolistico quando a maioria dos autores se ficam pela superficie. Herrera, Michels, Lobanovsky, Cruyff e Chapman todos conhecem. Maslov, Zubeldía, Arkadiev ou Hogan nem por isso. E é nessas almas que o autor encarna a evolução real do jogo. Essa mutação em que a táctica foi forçada a acompanhar a sociedade contemporânea.

 

É dificil não ler Wilson - nesta ou outras obras - e não entender que ele é, hoje, provavelmente o autor mais esclarecido sobre os moldes em que se move e moveu o jogo durante o último século. A compreensão táctica é fascinante e certeira mas o estudo histórico e social transforma-se no verdadeiro vector da obra. Desde os dias em que os ingleses ainda exportavam o seu modelo de jogo até à formação de uma cultura intelectual futebolistica no centro de Europa que encontrou caminho rumo à América Latina e potenciou uma nova alma, mais genuina, somos convidados a conhecer épocas, personagens, momentos irrepetiveis.

O enfoque é dado, com naturalidade, aos elementos mais preponderantes do jogo de hoje. O pressing, erradamente atribuido ao Lobanovsky, o futebol total que a maioria dos estudiosos ainda acreditam ser obra e graça de Michels, o futebol directo da escola inglesa vs o futebol de passe da escola europeia, uma divisão que remonta a muito antes do que se possa imaginar e, inevitavelmente, a filosofia do não há nada mais a inventar de que tantos técnicos modernos se queixam.

Na evolução táctica do futebol o profissionalismo, a gritante melhoria das condições de treino, da alimentação e do próprio papel do jogador dentro de um desporto que passou do proletariado e colégios britânicos para as multinacionais e organismos internacionais há espaço para os acertos e os erros, as metamorfoses e e os passos atrás. Da magia de uma táctica que dependia sobretudo do individuo (como o Brasil de 70) para a cerebralidade de outra (como o Dynamo de Lobanovsky) que quase deixa de contar com o peso do individuo face ao poder colectivo, entendemos o porquê de ser tão legitimo falar de "futebóis" em lugar de "futebol".

Wilson desmonta teorias antigas, credos vigentes e fantasias assumidas por todos como realidades e demonstra que o jogo é hoje tão diverso como foi no passado e que as suas respectivas evoluções foram mais producto do momento do que, propriamente, inventos individuais absolutos. O futebol como modalidade social e colectiva ganha mais preponderância do que nunca numa obra que utiliza o individuo (e o seu génio) apenas como veículo narrativo, como se fosse a veia que faz circular o sangue por todo o corpo.

 

Ler Inverting the Pyramid é mais do que aprender o que levou o Brasil a imitar um 4-3-3 que já se utilizava anos antes na União Soviética ou pensar que a Inglaterra, o país que mais se agarrou à ideia dos extremos clássicos foi também o primeiro que acabou com eles de forma inequivoca. É olhar para o mapa mundi e saber ler como o único desporto que é capaz de parar o Mundo por completo cresceu, ganhou pernas e aprendeu a andar sozinho. A obra de Wilson, resumo perfeito do que é sentir as palpitações de uma qualquer final nos derradeiros instantes, agarra pelas entranhas o leitor e não o larga até que este chegue à conclusão que Sócrates estava certo. Cem anos depois continuamos a presumir muito e a saber muito pouco sobre o beautiful game...



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Sexta-feira, 21 de Outubro de 2011

Entre Baggio e Totti pareceu viver sempre. E nunca se mostrou verdadeiramente incomodado por isso. Mais do que uma lenda viva do Calcio quando este ainda era o Calcio, a verdade é que o génio bianconero nunca deixou de ser para o Mundo o pequeno "Pinturrichio" que durante anos embasbacou aos seguidores do futebol italiano. Como na obra de Dumas, vinte anos depois Alessandro Del Piero já não é o mesmo e o seu adeus talvez não doa tanto. Mas no ar ficou a ágria sensação que houve algo que ficou por fazer nessas décadas de magia. E agora já não há tempo...

 

Quando uma geração diz adeus parece fazê-lo quase de forma instantânea.

Del Piero era um resistente, um dos últimos. Deixará de sê-lo no final desta época e junta-se aos Scholes, Vieira, Ronaldo e outros contemporâneos que decidiram que este desporto não é para velhos. Sobram os Giggs, Raúl e Totti, esses que continuam a resistir à gravidade e ao peso do Mundo transformando o seu jogo e desafiando os tempos. O número 10 da Juventus fartou-se dessa luta porque há muito que deixou de sentir o mesmo apelo, a mesma ilusão. Talvez porque, ao contrário dos recém-citados, deixou de ser importante. Deixou de ser Alex Del Piero e passou a ser apenas isso, uma lenda viva em cera, como uma estátua do Madame Toussaud.

Em 2006, quando a Itália quebrou a malapata de outras duas gerações, Del Piero foi determinante. Na meia-final contra a Alemanha de Klinsmann, rejuvenesceu e destroçou os germânicos como não fora nunca capaz de fazer no passado nos poucos minutos que esteve em campo. Foi o seu jogo mais importante com a Azzura. É significativo que tenha sido assim aos 32 anos apenas. Um espelho de uma carreira confusa e profundamente intrigante. No final desse torneio, que nem foi dele nem de Totti, o seu grande rival, mas sim de Pirlo, Buffon e Cannavaro, os problemas da Juventus anunciaram um fim que se prolongou por meia década.

Del Piero acedeu descer com a equipa aos infernos. Como Buffon e Nedved manteve-se fiel à causa. Confirmou o que todos pensavam dele mas talvez o tenha feito porque, aos 32 anos, sabia que seria incapaz de render de acordo com o seu nome em qualquer outro sitio. Ficar em casa era mais popular mas também mais cómodo para um atleta cuja evolução já tinha estagnado um par de anos antes. A estrela que tinha despontado em 1993, ao lado de um imenso, imenso Roberto Baggio, tinha sido um verdadeiro pesadelo para rivais e próprios durante uma década. Mas depois da saída de Lippi, na sua segunda etapa, começou a perder o seu espaço no onze. O homem que sobreviveu a Baggio, Zidane, Nedved e Ibrahimovic foi perdendo contra ele mesmo. As fracas performances com a selecção tinham criado um sentimento de desconfiança nacional que se juntou rapidamente aos adeptos bianconeros quando souberam que alguns dos seus mais emblemáticos jogadores (incluindo o  Pinturrichio) podiam ter sido cobaias de tratamentos médicos ilegais durante o reinado de Lippi. O reinado do número 10.

 

Del Piero nasceu em Conegliano, uma aldeia perto de Turim, onde passou os primeiros anos de vida.

Com 17 anos a Juventus descubriu-o no Pádova e não hesitou a juntá-lo às filas da primeira equipa onde já militavam Baggio, Ravanelli, Vieri, Vialli e Inzaghi. O impacto do trequartista foi imediato. Estreou-se na segunda jornada contra o Foggia como titular e na seguinte já tinha marcado o seu primeiro golo. Quinze anos depois, em 2008, tornou-se no jogador da Juventus com mais golos e jogos disputados da história, superando a Scirea e Boniperti, dois mitos históricos do clube. No final desse ano a equipa venceu o Scudetto pela primeira vez desde os dias de Platini ao mesmo tempo que batia o AS Parma na final a duas mãos da Taça UEFA. O genial Roberto Baggio levou os prémios individuais mas os jornalistas pareciam realmente encandeados com o talento de um miúdo de 19 anos que nunca ninguém tinha visto. Começou a criar-se uma aura e genialidade que o acompanhou durante toda a carreira. E que nunca foi totalmente preenchida.

Fracos desempenhos com a Azzura (45 minutos contra a Rússia em 96, fracos Mundiais em 98 e 02 e muitas oportunidades falhadas nos momentos decisivos do Euro 2000) e a ascensão de Totti na capital começaram a deixar em evidência o jogador em quem todos pensavam depositar o futuro do futebol italiano. Com a Juventus, em contra-partida, Del Piero logrou tudo aquilo que um jogador pode desejar. Uma vitória na Champions League (quando formava o tridente ofensivo com Vialli e Ravanelli) e mais três derrotas, cinco scudettos (e dois retirados à posteriori) e vários prémios pessoais pareciam preencher de números e troféus uma carreira que se ia perdendo. O golo à Del Piero, movimento diagonal interior seguido de um forte remate colocado tornado famoso pela imprensa italiana por representar uma esmagadora percentagem dos seus golos com os bianconeri, espelhava a previsibilidade do seu jogo. Del Piero deixou de lograr surpreender, perdeu a capacidade de controlar as mudanças de velocidade e foi-se, de certa forma, vulgarizando. Ao seu lado passaram Zidane e Nedved, ambos Ballon´s D´Or ao serviço da Vechia Signora, um prémio a que o avançado italiano nunca esteve sequer perto de optar. Ninguém, no futebol europeu, era capaz de dizer mal do jogo de Del Piero. Mas também eram muito poucos os que o consideravam como um génio. Algo similar ao que passou a Raúl, em Espanha e na Europa, foi corroendo a sua carreira. Em 2006, com 33 anos, muitos imaginavam uma retirada imediata. Pouco havia mais por fazer, por ganhar, por surpreender. Capello tinha transformado o ídolo dos adeptos num suplente de luxo e a situação não parecia que se iria alterar. Mas chegou o Calciopolli, a debandada de técnicos e estrelas e a despromoção. Foi uma segunda juventude para o capitão que voltou a transformar-se, de forma insuspeita e inesperada, no líder do projecto da familia Agnelli. Como uma ressurreição, Del Piero voltou às capas de jornais pelo seu jogo mais do que pela falta dele.

 

No entanto o tempo, que em Itália respeita mais os jogadores do que se possa imaginar, passava e o surpreendente (e nefasto) estado físico de Alex continuava a dar azo aos rumores que falavam no seu surpreendentemente rápido desenvolvimento muscular numa era onde a Juve era suspeito de tudo por todos. Incapaz de agradar a Del Neri ou ao seu velho amigo Conte e sabendo-se incapaz de se reinventar no terreno de jogo, Del Piero anunciou o que estava escrito há quase uma década. Espera dizer adeus como disse olá, com um titulo histórico depois de uma longa travessia no deserto. No futuro os seus números continuarão a ser inquestionáveis mas o presente já lhe dictou sentença, uma sentença que será difícil de alterar com o tempo. Aquele que tinha todas as condições para ser o idolo do calcio italiano parece agora, talvez injustamente, como um elo pequeno de ligação entre as genialidades de Baggio e Totti.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 08:46 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Quarta-feira, 19 de Outubro de 2011

Tique, taque, tique, taque. Relógio pausado, tranquilo, sabedor que um minuto são sessenta segundos por muito depressa que se queira que o relógio corra. Tique, taque, tique, taque. A bola circula de um lado ao outro, respiro pelos céus, penteia a relva, sente-se querida, sente-se respeitada. Sabe que voa mas não corre e que, como qualquer explorador, será enviada a terras desconhecidas que só os mais ousados são capazes de contemplar, para lá do horizonte. Tique, taque, tique, taque...se o futebol fosse um relógio seria espanhol e não suíço. E chamar-se-ia Xabi Alonso.

Até a eventual confusão de nomes próprios na sua versão local do Javier castelhano se enuncia já o problema. A Alonso aconteceu-lhe o mesmo que a Hidgkuti, que teve de jogar na era de Puskas. O basco joga na era de Xavi é difícil para todos, até para um Xabi. O médio de Terrasa é talvez um dos mais exímios pensadores da história do jogo. Apesar de largos anos passados na sombra, desprezado pelo próprio Camp Nou (quem ainda se lembrará dos assobios sempre que tocava na bola nos anos de Rexach e Antic), o futebol finalmente foi justo com ele e hoje, mais do que nunca, o seu estilo de jogo é referência mundial. Talvez por isso as pessoas parem menos a pensar no que seria se em vez da era de Xavi se vivesse agora a era de Xabi. Trajectórias diferentes mas a mesma relação com a bola, a mesma paixão pela geometria futebolística e, sobretudo, a mesma devoção à organização.

Quando o Real Madrid de Florentino Perez anunciou em questão de semanas um set de novas contratações poucos foram nos que repararam na viagem de um jogador que, em Liverpool, no mítico Anfield, começava a tornar-se tão fundamental como os pilares de sabedoria de Shankly. Como sempre sucede o enfoque foi dado aos Ballon´s d´Or mas da mesma forma que o outro Xavi, o com v de vitórias, continua à espera do seu (que o digam Laudrup, Coluna, Schuster, Cantona, Pirlos e companhia) nunca ninguém se lembraria do relógio de Alonso para este tipo de prémios. Dois anos e meio depois ninguém duvida que só há dois jogadores insubstituíveis no onze de José Mourinho: Iker Casillas e Xabi Alonso.

Quando o tolossara não está as camisolas brancas dos merengues emudecem, perdem a cor e esbotam a desorganização mental em que vive o clube sem o seu pensador. Sem o seu relógio.

Como uma artéria, Alonso coordena o batimento cardíaco da equipa de Mourinho com a mesma classe e certeza que um paciente escultor. Sabe quando mover os tempos, quando abrir e fechar o campo. Encontra espaços fantasmas e desdobra o tapete verde como um quadro de M.C. Escher , onde os labirintos parecem criações impossíveis. Para Xabi Alonso o impossível é apenas uma fantasia do cérebro traiçoeiro do Ser Humano. Ele vive na era dos passadores cerebrais e é talvez a sua versão mais pura, mais arreigada às tradições. Desde a sua origem basca à consagração inglesa, Xabi Alonso teve de demonstrar o que a Xavi nunca lhe pediram: adaptar-se a outras filosofias que a de berço. E isso tem o seu valor.

 

Filho de um dos mais célebres jogadores bascos dos anos 80 (essa era dourada), Xabi Alonso viveu entre Barcelona e San Sebastian à medida que a carreira do pai, Periko Alonso, se ia transformando num ícone social para os seus compatriotas. Por isso sentiu na pele - e nas pernas - a rudeza do jogo do norte e a finura exigida ao toque catalão. Com o seu inseparável amigo de infância, Mikel Arteta, sonhou em ser grande e trabalhou arduamente para isso. Longe do estereótipo de jogador vazio de ideias e alma, decidiu passar um Verão com 16 anos na Irlanda para estudar inglês e o futebol local. Começou a beber cedo o peso da tradição e, sobretudo, o valor da bola.

Quando voltou à bela San Sebastian explodiu perante a incredulidade local sob o comando de outro britânico, John Toshack, que viu nele as características de um médio passador nato, um certeiro jogador de baseball, capaz de colocar a bola onde e quando queria. O galês centrou o jogo da Real à sua volta (com o apoio de Karpin e De Pedro no miolo e os golos de Nihat e Kovacevic à frente) e contra todas as expectativas (e quando o outro Xavi era apupado em Camp Nou), Alonso levou o seu clube de infância a um segundo lugar que podia ter sido bem um titulo se o Real Madrid de Florentino Perez não tivesse gasto, no Verão anterior, mais uma soma milionário em Ronaldo.

 

Alonso foi coroado unanimemente como jogador do ano mas poucos entendiam bem a natureza do seu jogo. Apesar da sua qualidade no passe ele preferia jogar como médio mais recuado, com tempo nos pés para ler e estudar bem o jogo. Em vez de adaptar-se à posição de dez, transformou-se num seis com vocação de interior e a sua basculação lateral, com lançamentos beckhamianos tornaram-se em trademark registado. O tiki-taka curto dos Xavi e Iniesta ainda era uma ideia de laboratório, o seu jogo era mais puro. Por isso Rafa Benitez, que sofreu na carne o seu génio, cedo entendeu que em Inglaterra o valor de Xabi seria inquestionável. Juntou-o a um proeminente Gerrard, naquilo que se tornou numa relação de amor única, e como prenda teve direito a uma Champions League, uma FA Cup, uma outra final europeia perdida e muitos momentos inesquecíveis.

Em Anfield o jovem intelectual basco tornou-se lenda e à medida que Aragonés ressuscitava no país da fúria o futebol de toque a sua imagem começou a fazer mais sentido. Mas nesse Europeu que foi, mais que nada, um heróico tour de force, não havia espaço para o seu jogo mais directo no meio de tanto futebol rendilhado e curto entre os Silva, Cazorla, Fabregas, Iniesta e Xavi. A partir de então tornou-se evidente que enquanto o futebol espanhol seguia o caminho de Xavi, a utopia continuava nos pés do relógio basco.

30 milhões bastaram para fazer Alonso regressar a Espanha. Em dois anos passou a ser a máxima referência do jogo do Real Madrid, primeiro com Pellegrini e depois com Mourinho. O técnico português sabe que o basco é o único insubstituível no seu plantel e não é por acaso que em três meses de competição, Alonso seja o jogador de campo com mais minutos. Não é só referência fulcral no jogo de transição ofensiva que faz do ataque madrileño uma verdadeira máquina goleadora, como é também o único jogador em campo capaz de parar para pensar e temporizar os ânimos quando a fome de golos do quarteto da frente começa a estancar a fluidez de jogo colectiva. Ao contrário do alter-ego catalão, Alonso não vive rodeado de jogadores que partilhem o seu credo, o seu adn. Ele é no Bernabeu o extraterrestre e não a referência escolástica. O seu porte de viking, o seu ar tranquilo contradizem com o espírito de jogadores habitualmente aclamado no palco merengue e apesar de ser santo e senha de cada treinador que tem contado com ele (e del Bosque emendou a injustiça aragoniana e fez dele eixo central da selecção campeã mundial), o público parece ainda não ter tido tempo (ou paciência) para ignorar as corridas loucas, a bola veloz e as celebrações quase histéricas daqueles que o rodeiam. Hoje em dia ver um jogo de futebol em Espanha é sentir na pele a herança da filosofia destes Xav(b)is, dessa paixão pela bola e pelo espaço. Passar 90 minutos não só a contar os passes mas, sobretudo, a sentir como o relógio corre e o jogo flui, é um verdadeiro deleite dificilmente imitável em qualquer outra zona do planeta.

 

Xabi Alonso poderia sair tranquilamente do Bernabeu e com um gesto ordenar o trânsito caótico da Castellana. Poderia subir a Wall Street e com um movimento reordenar a loucura do mercado financeiro. Em vez desse reivindica o seu imenso génio dando corda ao seu relógio, fazendo respirar o tapete verde e sentindo nos pés o perfume da precisão...tique taque, tique taque!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:32 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Sábado, 15 de Outubro de 2011

No meio do deserto de ideias em que vive o futebol português a hipotética ideia de ressuscitar as equipas B num formato distinto ao seu modelo original é uma lufada de ar fresco. Insuficiente, dentro de um contexto muito mais lato, mas um passo correcto para uma realidade indismentível e que exige uma resposta imediata por parte de clubes e organizações directivas. No entanto a forma como se arranca o ideário deixa no ar algumas dúvidas pertinentes sobre um outro - e tão grave problema - do futebol luso como é o eventual fim de muitos projectos desportivos que até hoje sobrevivem por um fio.

 

Em 1999, quando a Federação Portuguesa de Futebol, através de uma equipa de trabalho que incluia Jesualdo Ferreira, apresentou a ideia das equipas B (um modelo já praticado em Espanha há décadas), capaz de emular a politica de equipas de reservas que existiram durante muitos anos no futebol português e que subsistem, ainda hoje, no futebol britânico, os aplausos foram generalizados.

Mas o projecto foi um fracasso imediato. A forma como se estruturou o projecto tornou-o imediatamente num nado morto. O impedimento das equipas serem promovidos a uma Liga de Honra a 18 equipas condenava no fundo os jovens futebolistas de FC Porto, SL Benfica, Sporting CP ou Maritimo a actuar eternamente contra jogadores amadores da 2º Divisão B. Perante esse cenário frustante tornou-se evidente que o projecto das equipas B era mais um encargo que uma solução. Os clubes acabaram por entender que era mais prático recuperar a velha fórmula do empréstimo, tão em voga desde finais dos anos 80, do que perder rendimento com um projecto sem futuro. Doze anos depois só a equipa do Maritimo sobreviveu, provavelmente devida à sua particular condição insular, e com um sucesso digno de menção honrosa.

Resgatar então o ideário das equipas B pode parecer um erro à primeira vista. Mas o contexto é outro. E a necessidade evidente.

Em 1999 o futebol português ainda não tinha entrado na sua era de ouro. A selecção A estava prestes a apurar-se para o Euro 2000, apenas a sua quinta grande competição em 80 anos. Os clubes portugueses não marcavam presença numa final europeia há uma década e os grandes nomes lusos contavam-se pelos dedos das mãos. A vitalidade de clubes de médio nivel era evidente na figura do Boavista, Guimarães, Maritimo e Braga de então e a liga lusa, apesar da invasão brasileira, ainda era maioritariamente composta por jogadores da casa. Doze anos depois, o dilúvio, como diria Luis XV, é evidente.

Entre a ilusão de uma década imaculada da selecção A, de três titulos europeus (e dois finalistas vencidos) e da consagração mundial de Figo, Mourinho e Ronaldo esconderam-se os problemas graves e estruturais do futebol nacional. Do descontrolo das contas dos clubes, do desaparecimento das equipas médias, da redução de equipas do futebol profissional, dos excedentes de jogadores estrangeiros e, sobretudo, do abandono da formação, aquilo que, precisamente, ajudou a transformar Portugal numa nação periférica num país capaz de olhar nos olhos das grandes potências desportivas. O final da herança do projecto Queiroz, apoiado pelos clubes nas suas próprias estruturas internas e, sobretudo, alimentado pelos clubes médios, abriu um fosso tremendo que começa agora a ser evidente. Entre as decisões mais importantes para reverter o rumo a formação ocupa um papel fulcral num país sem rendimentos para competir com o poderio financeiro doutras ligas. As equipas B são uma das soluções possíveis. Não a única, não a mais importante mas, seguramente, uma das mais certeiras, especialmente com a confirmação da UEFA da utilização definitiva da regra 6+5.

 

Segundo o projecto que será levado à próxima reunião da Liga de Clubes, o projecto federativo propõe o ressuscitar das equipas B apoiado por seis clubes. Ao Maritimo juntam-se Braga, Guimarães e os três grandes. As equipas só poderiam inscrever por cada jogo a três jogadores com mais de 23 anos (para recuperar atletas fora de forma da equipa principal, como sucede nas ligas de reservas inglesas) e tinham de ter inscritos 22 jogadores de formação do próprio clube que nunca poderiam alinhar pela equipa principal num periodo minimo de 72 horas.

A grande questão das equipas B foi a sua colocação errada num contexto amador como é a 2º Divisão B. Por isso foi fundamental a ideia de abrir definitivamente as portas da Liga Orangina com o inevitável impedimento de promoção à Liga Sagres, como sucede em Espanha ou Alemanha, por exemplo (o Barcelona B, na época passada, não só alimentou os campeões da Europa com jogadores como Thiago ou Fontás como terminou em lugares de play-off a liga regular). No entanto a forma como se introduzem as equipas obriga às habituais soluções de compromisso das entidades lusas. Em lugar de estruturar a competição a Liga toma o caminho mais fácil e aumenta para 22 equipas a competição, insinuando que pode contribuir também para mudar o número de promovidos e despromovidos entre as ligas profissionais de dois para três conjuntos bem como a despromoção progressiva de mais uma equipa para a 2º Divisão B nos próximos seis anos até voltar a nivelar os seus números de participantes a um minimo de 18. 

Na prática esta medida revela condições importantes. Hoje clubes como Sporting, Benfica ou FC Porto têm listas de dezenas de jogadores emprestados por vários clubes lusos e estrangeiros. Esta medida permitirá a Domingos, Jesus e Pereira a possibilidade de trabalhar lado a lado com esses Miguel Rosa, André Almeida, Nuno Reis, Cedric, Atsu ou Diogo Viana que significam, de certa forma, o futuro dos grandes de Portugal. Uma medida que também permitirá aos clubes grandes aligeirar a ficha de gastos no plantel principal já que dispõem de uma equipa alternativa que pode alimentar o plantel principal. Para os jovens de 18 anos saídos dos juniores (ou alguns titulares menos usados) competir com Belenenses, Leixões, Santa Clara ou Oliveirense não será muito diferente do desafio de defrontar os Feirense, Olhanense ou Gil Vicente que irão encontrar na Liga Sagres. Enquanto competem com rivais de maior nivel estão às ordens da equipa principal em lugar de passar um longo interregno, longe de casa, muitas vezes passando desapercebidos dos directivos e técnicos. Assim acabaram os Paulo Machado, Helder Barbosa, Vieirinha, Fábio Paim, Danilo Pereira e companhia do passado.

 

Se essa medida é importante para reforçar o papel dos jovens de formação nos seus clubes base (recordamos o gritante exemplo do FC Porto que não conta com um só jogador da sua formação na equipa principal o que implicou a penalizou da UEFA de inscrever apenas 21 jogadores na Champions League) a verdade é que também tem o seu reverso da medalha.

Desde há vários anos para cá que a politica de contratações dos clubes lusos se tornou numa máquina de importação fora do controlo. Os grandes (mais o FC Porto e menos o Sporting com o Benfica a inverter, agora, a tendência) lideraram o processo mas os pequenos e médios rapidamente os imitaram e de certa forma abandonaram também a sua formação. Se Figo, Baía e Rui Costa sairam dos grandes, Pedro Barbosa, Sá Pinto, Nuno Gomes ou Costinha sairam de clubes médios e pequenos. Esse fenómeno tornou-se um oásis no Bessa, Restelo, D. Afonso Henriques, AXA, Bonfim, Municipal de Coimbra...desde há muitos anos. Os clubes passaram a limitar-se a importar de forma impulsiva e a depender dos empréstimos dos jovens (e erros de casting) dos grandes para fechar os planteis. Isso significava menos gastos e uma dependência politica que Porto e Benfica souberam aproveitar bem criando verdadeiras relações de dependência com várias instituições.

Sem dinheiro, sem jogadores da casa, muitos desses clubes irão passar graves problemas quando os grandes deixarem de emprestar jogadores, desviando-os para a sua equipa B. Terão de encontrar rapidamente soluções para não cair no erro do Boavista ou Belenenses, clubes que andaram anos na corda bamba até que a corda finalmente se rompeu.

Um problema que terá consequências em projectos que acabarão como os Salgueiros, Alverca ou Estrela da Amadora do passado mas que será inverso na Liga Orangina. Com rivais das equipas B as equipas da segunda liga terão mais atenção, mais espaço mediático e estarão mais expostos aos clubes de primeira que queiram observar as jovens promessas em acção. Um aumento do interesse pelas equipas da prova pode equilibrar, e muito, o equilibrio da balança desportiva de várias instituições até hoje relegadas para segundo plano.

No fim de isto tudo está o futebol nacional como tal. A presença de equipas B dinamiza uma liga profissional abandonada, fomenta a formação, especialmente entre os grandes e sobretudo dá espaço e minutos para jogadores jovens começarem a ganhar o seu espaço. Se essa foi a bandeira do futebol luso até 2002 - e a base do seu sucesso - esse terá de ser o ponto de partida desta nova etapa. Se Nelson Oliveira, Miguel Rosa, André Almeida, Mika, Nuno Reis, Cedric, Sanu, Atsu, Viana e companhia começarem a ter minutos nas pernas, chamadas às equipas principais e reconhecimento público pode ser que a renovação geracional que se adivinha tão dificil se transforme num processo menos turbulento.

Claro que a ideia no papel funciona sempre melhor do que na prática, especialmente se falamos num futebol como o português, cheio de ratoeiras, armadilhas e corrupção activa e passiva. O projecto tem todas as pernas para andar (o sucesso do Barça ou do Villareal B em Espanha e das equipas de reserva na Alemanha, Inglaterra e Holanda assim o diz) e pode ser uma alavanca económica e social para reinventar o futebol luso. Mas é apenas uma solução de base que necessita muito trabalho estrutural por trás e muita vontade para funcionar. As equipas B são parte de uma ponte para um futuro melhor mas a margem é longa e vai ser necessário muito mais cimento, pedra e alcatrão para chegar ao outro lado do rio...



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Quinta-feira, 13 de Outubro de 2011

Pode ser que T.E. Lawrence, na voz inesquecível de Peter O´Toole, tenha tentado fazer-nos crer que nada estava escrito mas a repetição do duelo entre um Portugal decadente e uma flamante Bósnia parece dizer todo o contrário. Em vinte anos um país que sobreviveu à maior catástrofe humana que o Velho Continente viveu em mais de meio século pode olhar olhos nos olhos no exemplo perfeito da desintegração europeia. Falamos de futebol, claro, desporto em que Portugal começa a perder argumentos e onde os bósnios encabeçam, com certa autoridade, a revolução de uma nova e pujante vaga.

Antes de que o ano acabe falaremos da Arménia, da Estónia e do Montenegro, selecções que hoje por hoje são mais interessantes e meritórias que as decadentes potências da Europa Ocidental perdidas entre elogios pretéritos e sonhos irreais. Potências como a França ou Portugal está claro. Mas entre todas essas selecções a que mais espanta, mais surpreende e, por outro lado, mais encanta, é sem dúvida a da Bósnia-Herzegovina.

Há momentos que marcam gerações. Ninguém que viveu os anos 90 com uso de razão pode esquecer as imagens de uma Sarajevo rasgada na pele, destroçada na alma. Hoje provavelmente a maior parte das ruas da cidade já não são construidas com tijolo e cimento. O mais seguro é que se sustenham com lágrimas e sangue.

Essa cidade, conhecida há séculos como a Jerusalem europeia, sempre foi a mais discriminada das capitais regionais da antiga Jugoslávia, discriminada por Tito e pelos seus seguidores em detrimento de Belgrado e Zagreb, cidades mais cosmopolitas e, sobretudo, mais eslavas. A herança muçulmana e judia fizeram da rainha das montanhas dos alpes dinários um primo pobre, olhado de lado. O mundo demorou a ter pena mas quando as imagens falaram mais alto do que todas as palavras dos corredores diplomáticos o mundo apaixonou-se por Sarajevo.

Vinte anos depois a capital da Bósnia é uma cidade diferente. Os problemas continuam lá, ninguém se engane. A corrupção, a crise económica, o desemprego e as relações institucionais no caldeirão de pólvora balcânico continuam a ser um problema. Mas como em tantos outros sitios esquecidos do mundo uma bola pode mudar muita coisa. Pode transformar uma rua de lágrimas num poço de euforia. Uma bola que rola, no próximo mês, com um objectivo claro e histórico.

 

Desde a separação da antiga Jugoslávia que as várias repúblicas que fizeram parte do ideário nacionalista de Tito usaram o futebol como o meio preferencial de afirmação nacional. Excluidos pelo Ocidente do seu brinquedo, a croatas, eslovénios, sérvios, bósnios, montenegrinos e macedónios tiveram de recorrer ao futebol (e ao basket é certo) para não deixarem o Mundo esquecer-se que eles existiam.

Os croatas foram os primeiros a brilhar, bem alto, e rapidamente se seguiram sérvios e eslovenos. Dez anos depois da extinção da Jugoslávia as três nações já tinha marcado presença tanto em Europeus como Mundiais e de forma bastante satisfatória. No meio da euforia colectiva todos pareciam esquecer-se da Bósnia, da pobre, ostracizada e semi-destruida Bósnia.

Mas a metamorfose do futebol bósnio tornou-se evidente na última década. A sua liga nacional continua a ser, em traços gerais, a mais pequena das três principais da ex-Jugoslávia (a eslovena e montenegrina são ainda mais humildes) mas a sua selecção deu um tremendo salto qualitativo. A aposta na formação local tornou-se uma realidade quando os clubes entenderam que não havia dinheiro para competir com o exterior. As estruturas foram-se melhorando a pouco e pouco e a corrupção federativa, um habitué nos dias da Jugoslávia, tornou-se menos evidente. O último problema, a tripla presidência federativa, espelhava de certa forma a identidade partida de uma Bósnia ainda orfã da guerra. Com o fim dos clãs étnicos a pujança da equipa nacional tornou-se mais evidente do que nunca. Pela primeira vez a nação sentia-se verdadeiramente unida.

No meio de tudo isto a figura tutelar do mitico Miroslav Blazevic.

Um treinador que sobrevive, sobretudo, graças ao seu tremendo carisma e que nos anos 90 foi o grande responsável pela reestruturação de outra nação recém-criada, a Croácia de Boban, Suker, Prosinecki e companhia. Com Blazevic ao leme a Bósnia começou a melhorar os seus resultados nas fases de apuramento. A isso ajudou também a chegada de uma nova vaga de jovens valores como Edin Dzeko, Asmir Begovic, Miroslav Pjanic, Vedad Ibisevic ou Haris Medunjanin que se juntaram aos veteranos Spahic, Rahimic, Muzlimovic ou Misimovic. Um onze espalhado pelas principais ligas da Europa e que se tornou num adversário temivel para qualquer selecção europeia. Ao contrário do que se supõe, um onze repleto de pequenas grandes estrelas.

A transformação arrancou em 2008. A Federação transferiu a esmagadora maioria dos jogos em casa para o mais pequeno - mas mais "quente" e intenso - estádio de Zenica que se transfou num verdadeiro fortim. A equipa começou a olhar de igual para igual com as nações do seu nivel. Em 2010 falhou o apuramento directo para o Mundial depois de sofrer na pele a superioridade da Espanha (mas batendo no sprint a Turquia) e caiu diante de Portugal no play-off. Na passada terça-feira foi outra campeã do Mundo, a França, a garantir o apuramento directo num grupo onde os bósnios voltaram a superar outra selecção com mais tradição como é o caso da Roménia. E mais uma vez o destino, esse que afinal parece estar escrito, colocou Portugal no caminho dos bósnios. 

 

Exceptuando dois ou três jogadores (se muito) o onze base português não é substancialmente diferente do melhor onze bósnio.

Zenica pode ser um inferno tão intenso como a Luz ou o Dragão (e muito mais que Alvalade) e o novo seleccionador, Safet Susic, goza de muito mais prestigio e respeito dentro e fora de portas do que o próprio Paulo Bento. O prestigio recente parece indicar, aos mais despitados, que Portugal é favorito. Longe disso, a dinâmica do momento parece indicar precisamente o contrário e são os bósnios, feridos pelo empate em Paris, quem surgem como o alvo a abater. O seu 4-2-3-1, acente no jogo ofensivo de Pjanic, Dzeko, Medjunjanin apoiado na segurança defensiva de Begovic, Spahic, Misimovic e Rahimic, propõe um modelo de jogo equilibrado e com várias soluções para os momentos mais complicados. Da solvência de Pjanic nas bolas paradas à eficácia goleadora de Edin Dzeko sem esquecer uma das defesas menos batidas na fase de qualificação, liderada por um Begovic em plena maturidade desportiva, transformam o onze dos Lirios, como são popularmente conhecidos, num durissimo rival.

Num país de 3,8 milhões de habitantes, sem uma imensa tradição futebolistica e com uma liga que anda entre a terceira e quarta divisão europeia, o mérito desta campanha é imenso. Um espelho perfeito de uma nova Europa de que fazem parte várias nações do antigo bloco de Leste que começam a superar nações históricas do Velho Continente que vivem em perfeito estado de estagnamento desportivo.

Portugal provou em Copenhague que está num lento mas claro processo de desintegração, incapaz de manter-se já nos bicos de pés que aguentou durante uma década junto das grandes potências. Faltam-lhes as forças, faltam-lhe os argumentos, faltam-lhe as ideias. À medida que nações como a portuguesa (e a belga, e a austriaca, e a escocesa, e a hungara, e a norueguesa) vão perdendo competitividade, consequência de várias decisões erradas a distintos niveis, novas nações como a Bósnia representam aquilo que estes próprios países, no passado, chegaram a representar face às potências de sempre que ainda o são hoje em melhor (Alemanha, Holanda, Espanha) e menor (Inglaterra, Itália, França, Russia) medida.

 

Uma semana servirá de pulso para entender se o processo de crescimento bósnio é decisivo e irreversível da mesma forma que os portugueses acabarão por se ver confrontados, mais tarde do que cedo, com a inevitabilidade do final dos seus dias de ouro. Portugal surge como favorito para a imprensa internacional mas na Bósnia o amor a uma pátria que há vinte anos não tinham e a lembrança dos dias de Sarajevo podem fazer a diferença. Para os adeptos neutrais, quando esse conceito ganha sentido num desporto de amor e ódios, entre ambas as nações ficará evidente quem representa o passado e quem representa o futuro. E muitos deles se lembrem das lágrimas e sintam essa canção de amor, de amor a Sarajevo, a cidade de um povo que quer quer o futebol sirva - pela enésima vez - para transformar as lágrimas em gritos de genuina alegria. Para eles o destino de sofrimento também é algo que não está escrito...



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 22:17 | link do post | comentar | ver comentários (7)

Quarta-feira, 12 de Outubro de 2011

Qualquer adepto seria capaz de citar de memória um eventual top 3 do futebol holandês. Há Cruyff, há van Basten, há Gullit...mas, faz este pódio (ou qualquer outro) algum sentido quando não há espaço para aquele que foi, provavelmente, o jogador tecnicamente mais dotado da história recente do futebol europeu? Para Dennis Bergkamp o futebol era, sobretudo, uma questão de arte...

Não era ballet mas tinha traços desse movimento de pés súbtil e perfeccionista. Mas também não era propriamente futebol.

Certamente que a definição do jogo de Bergkamp estaria sempre a meio caminho de qualquer coisa. Na sua Holanda natal a vide mede-se em ângulos exactos, em regras rigidamente definidas pelo tempo, pela história e pelo espaço. Os holandeses aprendem desde cedo o que custa manter um país ganho ao mar, o que vale cada centimetro de erva. Um país sem montes, um país sem curvas que contornar, onde todos seguem em frente, onde todos podem olhar para lá do horizonte. Mas onde nem todos são capazes de ver tudo o que o horizonte é capaz de esconder.

Sem necessidade de correr, os holandeses aprenderam o valor de fazer as coisas andando. Bergkamp mais do que nenhum outro. Se Cruyff ficou célebre pelas suas arrancadas, se van Basten se posicionava com pequenos passos enquanto Gullit corria de um lado ao outro, o jovem Dennis sempre trabalhou a uma velocidade diferente de todos os outros. Nem demasiado rápido, nem excessivamente lento. E sempre entendeu o valor de uma linha recta.

Como um quadro de Piet Mondrian, esse revolucionário que os holandeses entendem melhor do que se imagina, o jogo de Bergkamp moldou-se sempre na simplificação do complexo. No poder do fácil. Cada gesto técnico era executado com a frieza e limpeza de um cirúrgião, de um verdadeiro profissional. Bergkamp não era um matador, o desfrute dele não fazia sentido num jogo pautado pelo conflito. A sua experiência falhada em Itália, ao serviço do Internazionale, espelhou bem o seu desencontro com um mundo onde a arte, a estética, eram relegados sempre para um apagado segundo plano. Tecnicamente, Bergkamp continuava a ser melhor do que todos. Mas os outros 21 jogadores, pura e simplesmente, estavam a jogar outro jogo. E só, como quase sempre se sentiu, o prazer perdia-se.

 

A sua fama de filósofo moderno dos relvados embate com a crença actual de que um jogador de futebol pode ser tudo menos um artista culto.

Bergkamp pode sentar-se num qualquer café de Amesterdam e debater sobre o mais erudito dos temas sem que deixe transparecer que foi na verdade um futebolista de elite. Entre todos os seus treinadores só Arsene Wenger o entendeu, só ele soube falar o mesmo idioma.

Nem Cruyff, o seu primeiro técnico, dono de um vocabulário e uma mente própria, nem Hiddink, o seleccionador que não o soube aproveitar da melhor forma ao serviço da Orange, souberam decifrar o seu eterno enigma. O do homem que não voava por pavor a morrer numa queda violenta mas que era capaz de adentrar-se na selva de pernas dos defesas napolitanos num derby quente no San Paolo.

Quando chegou a Inglaterra, em 1995, a Premier League ainda não era no que se tornou e salvo Eric Cantona e David Ginola, dois franceses desterrados, os estrangeiros continuavam a ser olhados com desconfiança. Com ele o "boring Arsenal" transformou-se numa ópera clássica de requinte especial. O seu jogo de pés, a sua visão e, sobretudo, a parceria que estableceu com o cosmopolita Ian Wright, mudaram a face do jogo nas ilhas britânicas e transformou radicalmente o rosto de um clube adormecido.

Ao serviço do Arsenal o genial holandês executou as suas maiores obras de arte. Para Bergkamp um golo não era mais do que uma tela nua, preenchida com o seu apurado pincel e depois exposto com orgulho diante dos olhares atónitos do mundo. Essa falta de espirito killer provocou-lhe demasiadas criticas mas, por outro lado, reforçou ainda mais a sensação de grandeza cada vez que Dennis se transformava em Bergkamp.

Perder a conta aos golos, passes, desmacarcações ou sublimes remates de Bergkamp tornou-se num hobby tão respeitável como o de passar horas sentados no Louvre a contemplar, em adoração, as obras mais ousadas de da Vinci. A forma como abria e fechava o campo com um só gesto, autoritário como um general, diletante como um pintor da rive gauche parisina, tornaram-no num jogador especial. Wenger posicinou-o atrás do ponta-de-lança, primeiro Wright e depois Henry, dois jogadores que falavam o mesmo idioma intelectual e refinado que o holandês. Emulou assim a Cantona, que então se retirava, num gesto táctico que significou a morte definitiva (mas não imediata) do histórico 4-4-2 britânico. Esse posicionamento, que não repetiu numa Holanda repleta de outros artesões com egos muito maiores que o seu, permitiu ao Arsenal voltar a saber o que era ser campeão e durante meia década tornou-se igualmente no santo e senha dos amantes do futebol champagne, que os gunners herdavam do Milan de Sacchi com uma tremenda e insuspeita naturalidade.

 

Como muitos dos grandes génios, o seu reconhecimento passou ao lado dos grandes momentos. Com a sua Holanda falhou um Mundial que lhe parecia destinado, especialmente depois de, com três movimentos astairianos, desmembrar a jugular da nação argentina. Com os "gunners" faltou-lhe a consagração europeia que tinha servido à santa trindade holandesa que citamos ao inicio para confirmar o seu papel como estrela absoluta do jogo. Num desporto baseado em números, os de Bergkamp parecem efectivamente menos impressionantes que os dos seus compatriotas. Mas como a arte, essa revolta interna de um homem contra o mundo, ainda não se pode medir, é possível que haja sempre alguém corajoso o suficiente para proclamar Bergkamp como a tulipa mais resplandecente que o horizonte pode contemplar...



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:23 | link do post | comentar | ver comentários (10)

Segunda-feira, 10 de Outubro de 2011

Pode um país de 10 milhões de habitantes, com uma economia decadente, uma sociedade congelada no tempo e sem um projecto de futuro definido ambicionar a ser potência de alguma coisa? Portugal continua a pensar que sim. Em véspera do derradeiro duelo de qualificação directa para o Euro 2012 voltam a assombrar os fantasmas da calculadora sem que adeptos e analistas entendam a crua, dura mas certeira realidade. Esta selecção é apenas o espelho de um país. Talvez por isso, futebolisticamente, valha menos e moralmente, hoje em dia, valha tão pouco.

 

Antes da última noite de qualificação só cinco potências europeias garantiram o apuramento automático para o Europeu organizado no próximo mês de Junho pela primeira vez na Europa de Leste. Nas já apuradas Ucrânia e Polónia.

Cinco países que definem a história do jogo, de Itália e Alemanha a Espanha e Inglaterra sem esquecer a omnipresente Holanda. Cinco realidades desportivas e sociais que espelham bem como se pode analisar de forma objectivo o fenómeno futebolístico no Velho Continente. A imprensa "especializada" volta a falar em nações com tradição, tentando enxotar Portugal para uma lista que vive num universo à parte, como quem exige notas de excelência quando as condições de trabalho são inexistentes. Há algo (não, há muito) nesses cinco países que explica o seu papel na evolução e na estruturação do futebol europeu. E por isso, sobretudo por isso, não é casualidade que sejam eles os primeiros a carimbar o passaporte para o torneio estival que nos espera em 2012.

O futebol é, hoje mais do que nunca, um fenómeno económico e social. Um espelho profundo onde as grandes diferenças se acentuam mais do que nunca. Em campo já não entram apenas 11 contra 11 jogadores. Apesar de ser um jogo, onde tudo pode suceder (que dizer da Grécia em 2004) em cada jogador entra também um símbolo da evolução do seu país no esquema politico, social e económico. Na aposta feita no desporto mas, sobretudo, na mentalidade incutida na sociedade que dá ou tira o grau de importância que se atribuiu a cada evento.

É uma mistura curiosa onde vários factores entram em jogo. Mas se há elementos que unem de forma inequívoca os cinco qualificados são a sua aposta na formação, o seu poderio económico e o leque de opções que o seu campo de recrutamento possibilita.

 

Portugal há muito que se distanciou das principais selecções europeias por muito que o brilhante registo logrado na última década diga o contrário.

Um país de 10 milhões com uma economia débil tem pouco que dizer quando se fala num contexto mais alargado e profundamente profissional como o que defendem as federações holandesa, alemã, italiana, espanhola ou inglesa. Mesmo o caso francês resulta paradigmático porque espelha um verdadeiro ponto de inflexão num país que tem os seus próprios fantasmas, espelhados pela polémica à volta das declarações de Laurent Blanc sobre o futebol de formação gaulês. Um país órfão da sua melhor geração sabe que tem de passar por um período de sofrimento que se acentua quando a escolha de excelência formativa ao mais alto nível mundial também acaba por se ver questionada dentro e fora das fronteiras do hexágono.

No meio desta salada de frutas, Portugal é um dos productos secundários por excelência. Não tem o campo de recrutamento da Rússia ou Turquia por exemplo. Nem a solidez económica dos países nórdicos (habitualmente mais interessados noutros desportos onde valem a sua condição para serem verdadeiras superpotências) ou a consciente aposta no futebol de formação de suíços, croatas ou gregos. Portugal, pura e simplesmente, transformou-se numa nação sem um trunfo na manga mas com muito prestigio.

Finalista de um Europeu, semifinalista de outro, quarto finalista em 2008, semifinalista de um Mundial e nono classificado no último campeonato do Mundo são números de uma potência que Portugal não é. O futebol luso tem vivido muito por cima das suas reais possibilidades, consequência directa de uma forte aposta na formação que deu os seus frutos durante 15 anos, da bonança económica que permitiu nos anos 90 esse salto de qualidade e, sobretudo, do peso mediático de figuras individuais que, de certa forma, taparam buracos graves que seriam imperdoáveis em nações de outro pedigree. Portugal passou a última década desportiva sem um guarda-redes e um dianteiro de nível mundial, algo impensável para quem aspira a algo mais do que picar o ponto. Viveu uma eterna orfandade de laterais esquerdos, um excesso de extremos e uma profunda carência de criatividade no miolo. No último Mundial actuou com um central de raiz como médio defensivo por não existir nenhum jogador capaz de dar a mesma segurança num lote de 23. Muitos dos jogadores convocados pelos últimos três seleccionadores actuam em equipas de nível médio-baixo e tudo isso tem um preço real. 

Portugal abandonou há uma década atrás o seu papel de referência na formação. O mesmo que devolveu à Espanha uma hegemonia que deteve a nível de clubes mas que nunca se viu plasmada na selecção nacional. O mesmo projecto que permite a um país como a Holanda, mais rico mas com menos população, manter-se eternamente no topo. Os holandeses são, de certa forma, tudo o que Portugal não é e devia ser. Aproveitamento dos emigrantes e imigrantes, desenvolvimento do futebol de formação nos clubes de média e baixa dimensão, fortíssima aposta na estrutura federativa e, sobretudo, a criação e perpetuação de uma identidade de jogo.Condimentos suficientes para garantirem que em Junho eles estarão na linha da frente, com espanhóis e alemães (que aplicam a mesma fórmula), para disputar o ceptro continental.

 

Se Portugal cair diante de uma Dinamarca que até aos anos 70 ainda era uma nação eminentemente amadora será tudo menos surpreendente. Os dinamarqueses estão longe da excelência técnico-táctica da selecção dos anos 80 mas continuam a ser um país economicamente forte e com uma aposta na formação local respeitável. Têm há largos anos o seu ideário de jogo e o que podia ser uma fraqueza transforma-se numa arma de ataque. Sabem que apesar de serem campeões europeus pretéritos (algo que nem Portugal logrou) não podem viver, como os lusos, das ilusões do passado e encaram cada fase de qualificação com tremenda seriedade. Talvez por isso tenham falhado tão poucos torneios nos últimos 30 anos. Apesar dos melhores resultados recentes de Portugal, lusos e dinamarqueses estão ao mesmo nível no panorama futebolístico e não fosse o capricho dos rankings FIFA e UEFA e talvez ambas as selecções tivessem defrontado rivais bem mais fortes nos seus respectivos grupos, como sucedeu com a Suécia (com a Holanda), como a Suiça (com Inglaterra) ou com a Turquia e Bélgica (com Alemanha). 

Num grupo com um cabeça de série sonante ninguém exigiria que Portugal lograsse o apuramento directo para o Europeu mas nesse ar armante bem luso, os dinamarqueses são uma nação menor. Nem vale que tenham sido eles a garantir o bilhete directo para o último Mundial mandando Portugal para um duelo agónico com uma Bósnia que representa perfeitamente o melhor da nova Europa a quem poucos prestam a devida atenção. Essa ideia de um Cristiano Ronaldo mais dez, de uma selecção de Figos pretéritos, tapam a realidade de uma nação que não pode ambicionar a mais do que ser nona num Mundial ou sexta num Europeu, como sucedeu nos últimos dois torneios. Esses são os limites reais de Portugal.

Paulo Bento sabe-o mas de certa forma ele também é o espelho desse Portugal dos pequeninos que acredita que vale mais do que realmente vale. Os erros contra a Islândia foram só um reflexo de todos os erros de todas as qualificações portuguesas da última década onde a solvência e o saber estar nunca foram recorrentes. Podem Rui Patricio, João Pereira, Rolando, Eliseu, Carlos Martins, Ruben Micael, Helder Postiga, Ricardo Quaresma, Hugo Almeida, Miguel Veloso, Beto ou Nuno Gomes ser parte importante numa selecção que aspira a tanto mas que continua a valer tão pouco? Olhamos para os centro-campistas espanhóis, ingleses, alemães, holandeses, franceses ou italianos sentados no banco de suplentes e entendemos esse abismo que separa hoje, mais do que nunca, o futebol luso, abandonado às urtigas, do futebol da elite europeia.

Países como Dinamarca, Suécia, Croácia, Bósnia, Montenegro, Sérvia, República Checa, Turquia, Bélgica, Escócia, Eslovénia ou Irlanda, não possuem nomes globais como Ronaldo, mas como selecções hoje por hoje valem tanto como a equipa das Quinas. É perante eles que o futebol português tem de medir a sua bitola em vez de continuar com sonhos quixotescos de olhar olhos nos olhos com nações que fizeram o trabalho de caso a tempo e horas.

Dito isto e Portugal até pode qualificar-se de forma directa para o Europeu mesmo perdendo. Seria o pior que podia passar ao futebol luso porque, uma vez mais, o apuramento directo, sem vencer sequer o grupo, taparia todos os problemas reais e graves do futebol português. Talvez seja necessário para Portugal passar por um período de hibernação, como sucede com países com a Bélgica, Irlanda, Roménia ou Escócia, para entender qual deve voltar a ser o caminho a seguir. O problema é que a ampliação a 24 equipas dos próximos Europeus, uma vez mais, enganará tudo e todos e continuará a funcionar como desculpa perfeita para quem continua a adentrar-se no mar sem remos nem velas.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:34 | link do post | comentar | ver comentários (5)

Quinta-feira, 6 de Outubro de 2011

Numa sondagem recente os adeptos ingleses consideraram a contratação de Juan Sebástian Verón pelo Manchester United como a pior transferência da história do futebol inglês. Normal. O filho de um dos heróis do maldito Estudiantes estava destinado a uma passagem pelo purgatório nos palcos britânicos. Talvez esse momento tenha marcado um verdadeiro antes e depois. Verón nunca foi um jogador verdadeiramente respeitado porque ele é, de certa forma, um dos últimos de uma estirpe que olha para o jogo mais como uma profunda diversão do que um negócio cínico e calculista. E no entanto a magia da Brujita fará certamente mais falta do que muitos possam sequer supor...

O corpo não aguenta mesmo que o cérebro esteja sempre preparado para mais.

Uma sina, não triste mas inevitável, que acaba com todas as carreiras, dos anónimos às estrelas, dos génios aos vulgares. Verón diz adeus da mesma forma silenciosa que penteia a bola sobre o relvado. Com a mesma certeza de quem se especializou em colocar o esférico com uma precisão geométrica em qualquer espaço livre. Para homens como Verón um campo de futebol não é só um tapete verde de medido em metros. Ele, como Riquelme, talvez o outro espelho perfeito desse lado do futebol que só a América do Sul é ainda capaz de cultivar, joga em milímetros. Milímetros de espaço são verdadeiros oásis que o seu olhar cirúrgico analisa e explora com a determinação de um Colombo.

O futebol nos pés de Verón sempre foi algo mais e no entanto isso só sucedeu porque o argentino olhou para o jogo precisamente como um jogo. Esqueceu-se das dimensões externas, recusou-se a ser um profissional exemplar e nunca perdeu tempo a pensar nos prós e nos contras das suas mudanças pontuais de equipa. Seguiu o seu instinto, o mesmo que fez dele um astro em Itália, um mal amado em Inglaterra e um eterno incompreendido na Argentina.

Quando guiou o histórico Estudiantes de la Plata, a reencarnação da equipa maldita que fez do seu pai uma figura de referência nos anos 70 do futebol argentino, ao titulo continental, muitos eram incapazes de entender que a linguagem de Verón no campo se media numa gramática diferente à dos restantes 21 jogadores. Aquele duelo com o Cruzeiro foi a prova viva de que, com 34 anos, o médio tinha mais critério e sabedoria com a bola de que a maioria das jovens e flamantes estrelas de um futebol mundial órfão de figuras como ele.

 

Verón nasceu num dia em que o seu pai Juan Ramon "La Bruja" Verón marcou o golo da vitória no derby de la Plata.

Só quando chegou ao balneário é que soube, pelo seu técnico, o polémico Billardo, do nascimento do filho. A celebração entrou para a história do outro mundo do futebol argentino e foi com essa condição, quase régia, que o jovem Juan Sebástian cresceu. Talvez esse peso, inesperado, o tivesse moldado de uma forma particular para aguentar o peso de ser a "Brujita".

Em 20 anos de carreira profissional disputou três Mundiais, três performances desesperadamente tristes da albiceleste. Na primeira era a grande promessa, na última o veterano em que ninguém, a não ser Diego Maradona, depositava a mais mínima confiança. Ao contrário de Riquelme nunca disse que não à pátria, nunca se negou, nem nos piores momentos, ao calvário de envergar a "albi". Quando se mudou para Itália, depois de forjar-se na masculinidade profunda do futebol argentino, aterrou num clube repleto de egos mas longe dos seus melhores dias. Ao serviço da Sampdoria passou o duro teste da Serie A e ganhou direito de juntar-se ao grande clube de estrelas de então, o Parma por onde já andavam Cannavaro, Thuram, Buffon, Asprilla, Chiesa e o seu amigo Crespo. No miolo cabia a Verón dictar o tempo, as pausas, o ritmo, as pulsações do jogo. Esse histórico Parma, último suspiro de uma ideia da Parmalat, culminou na vitória histórica em Moscovo, frente ao Olympique Marseille, da Taça UEFA de 1999. Verón, inevitavelmente, foi coroado como um dos mais determinantes jogadores do futebol mundial e quando o dinheiro em Parma acabou surgiu a Lazio e o dinheiro de Cragnotti em Roma para aliciá-lo a mais uma ideia onírica e profundamente anti-sistema.

Nesse Verão todos os grandes da Europa tentaram contratar o argentino mas para Verón era mais importante o desfrute de alinhar num projecto ambicioso mas sem a pressão mediática (e as exigência profissionais) de um dos gigantes do Velho Continente. A aposta de Erikson deu os seus frutos e no ano seguinte a malapata de duas décadas e meia do clube romano chegou ao fim. Verón venceu esse Scudetto a um ritmo diferente dos demais numa equipa não feita à sua medida mas onde todos entendiam que a bola só se movia quando Verón realmente queria.

 

A mudança para Old Trafford, em 2001, quando Ferguson tentou de tudo para recuperar o prestigio europeu abalado por dois anos irreconhecíveis, gastou o crédito de Verón na Europa. Na cinzenta cidade inglesa os seus bruxedos não encontravam aquele olhar extasiado do público e a sua motivação, o verdadeiro motor da sua carreira desportiva, desapareceu. Nem Chelsea, nem Inter conseguiram recuperar o sorriso de um astro que não se sentia cómodo já neste mundo de muitos milhões. O seu regresso a casa, ao Estu, foi tão inevitável como bem sucedida e a forma como recuperou o prestigio de um clube longe dos seus dias de glória deixou a nu, uma vez mais, que no futebol Verón sempre era capaz de sacar um coelho branco da cartola. O adeus de um mito profundamente ostracizado do futebol mundial é alvo de breves apontamentos na imprensa desportiva um pouco por esse mundo fora. Talvez porque a memória é traiçoeira, porque os seus maiores dias já passaram há mais de dez anos. Com a perspectiva do tempo, esse sempre sábio conselheiro, muitos chegarão à conclusão que o futebol sempre será mais futebol enquanto espíritos livres como Verón caminhem tranquilamente com a bola colada aos pés pelos campos verdes desse mundo fora...


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publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:55 | link do post | comentar

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