Sábado, 27 de Agosto de 2011

tão poucos jogadores que podem presumir do curriculo que tem Samuel Eto´o que é dificil descartar o camaronês como um dos grandes jogadores da última década. No entanto o histórico dianteiro preferiu os milhões russos à competitividade da Serie A italiana para a surpresa de muitos. Uma mudança que no entanto se podia antecipar desde que Eto´o chegou à Europa para tornar-se na máxima estrela do futebol africano contemporâneo.

 

Eto´o é um jogador sem medo. Com a bola e com as palavras.

A sua saída do Barcelona, onde se tinha transformado no mais letal dianteiro da história do clube, deveu-se à falta de feeling de Guardiola, uma forma educada, como sempre, do técnico dizer que não apreciava a brutal sinceridade do camaronês num balneário onde durante os anos prévios teve fortes discussões com os pesos pesados do clube. Essa postura de Eto´o acompanhou-o durante toda a vida. Desde a sua chegada à Madrid até à sua coroação em Milão houve poucos jogadores tão genuinos como ele.

A sua mudança para o milionário Anzhi pode parecer aos mais puristas como uma opção oportunista e mercantilista. Afinal, o camaronês deixa uma das ligas mais respeitadas do Mundo - onde era uma das máximas figuras - para jogar no emergente (financeiramente) mas ainda desportivamente débil campeonato russo. E deixa-o por muitos milhões. Cristiano Ronaldo, Wayne Rooney e Leo Messi, os três mais bem pagos do Mundo ganham à volta de 13 milhões de euros ao ano. Eto´o vai ganhar 14 (inicialmente falou-se em 20) num contracto de quatro anos que o irá transformar no maior bilionário na história do jogo. O dinheiro que Eto´o ganhou com este último contracto vai de encontro à sua filosofia de vida, aquela que enunciou sem papas na lingua quando começou a afirmar-se na Liga espanhola. "Trabalhar como um negro para viver como um branco". Missão cumprida.

 

O avançado chegou a Barajas, Madrid, com 17 anos e muito frio.

Veio de África sem uma muda de roupa e enquanto esperava os directivos do Real Madrid no aeroporto sentiu pela primeira vez o peso do ar condicionado dos aeroportos espanhóis. E viu durante a sua adolescência na antiga Cidade Desportiva como era tratado de forma diferente por todos. Empenhou-se em triunfar pelo clube merengue e fez até parte da equipa que venceu a Champions League de 2000. Mas com a chegada de Florentino Perez e a sua politica de Galácticos as portas do Bernabeu fecharam-se definitivamente. Mudou-se para a solarenga Mallorca onde se impôs como um dos maiores dianteiros do futebol europeu e quando apareceu o Barcelona de Joan Laporta, Eto´o sentiu que estava na altura de começar a sentir o que era viver como um branco no duro mundo do futebol espanhol.

Aguentou de tudo, insultos, provocações, desqualificações e muitas criticas. Em Zaragoza, numa noite histórica na luta contra o racismo no futebol, teve o nobre acto de sair de campo quando La Romareda começou a entoar os habituais cantos simiescos que ouvia semana sim, semana não. Ganhou o respeito colectivo e no clube respondeu com golos e titulos. Muitos golos, muitos titulos.

Nunca gostou de ser segundo plano mas aguentou estoicamente o sucesso de Ronaldinho e depois o de Messi. Isso sim, foi sempre uma figura critica no balneário da vida nocturna do brasileiro e do argentino, no que o levou a chocar imediatamente com Guardiola, decidido a fazer da jovem estrela das pampas o eixo central do seu projecto. A saída de Barcelona coincidiu com a chegada a um Inter de Milão onde encontrar um técnico tão ambicioso e profissional como ele. Para Mourinho o camaronês tornou-se no joker perfeito, actuando até de defesa se necessidade havia, e com ele venceu a sua quarta Champions League (depois de ter sido o desbloqueador das duas vitórias do Barcelona em Paris e Roma) e mais uma liga, a quinta do seu historial desportivo. Mas os desafios começavam a escassear e o envelhecido plantel do Inter já não era, propriamente, o lugar ideal para ir mais longe na sua corrida contra o tempo. Chegou o Anzhi, os milhões que ele sempre quis desde os seus dias a jogar em Nkon e um desafio radical. Homem habituado a fazer o inesperado, Eto´o embarcou na viagem mais louca da sua carreira.

O curioso de tudo isto é que o Eto´o, como os seus colegas, vai viver e treinar em Moscovo, a 2000 mil kilómetros do Daguestão, onde está sediado o clube e onde só se deslocará no dia dos jogos. Uma aventura pensada até ao mais minimo detalhe e que leva a viagem do pequeno camaronês dos trópicos de África à estepe russa. Um longo cruzeiro de um homem que conseguiu cumprir todos os seus objectivos e que já pode pensar na vida de milionário que o espera quando a bola deixar de rolar...



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Quinta-feira, 25 de Agosto de 2011

Uma tradição que remonta aos dias de Matt Busby e que hoje, mais do que nunca, faz todo o sentido. O Manchester United voltou a demonstrar que é um clube diferente dos demais rivais na Premier League sob a batuta do sempre astuto sir Alex Ferguson. Uma terceira fornada de "Fergie Babes" está a caminho e deixa no ar a ideia que a próxima década do futebol inglês continuará a ser disputado sob o signo do diabo. 

Depois da categórica vitória por 3-0 frente ao Tottenham Hotspurs sir Alex Ferguson foi confrontado no flash interview com um dado inquestionável.

O onze que tinha acabado de derrotar, sem grandes problemas, um dos candidatos aos postos Champions, era o segundo mais novo  a disputar um jogo de liga desde que o escocês aterrou em Old Trafford. Há 25 anos atrás.

Ferguson sorriu, fez-se de surpreendido e aproveitou habilmente a dica para louvar os seus novos "filhos" futebolisticos. E com razão continuou a sorrir porque em Manchester a sensação generalizada é que o escocês, sem gastar o mesmo dinheiro que os seus rivais directos (dentro e fora das ilhas britânicas) está a montar uma equipa temivel para dominar o futebol inglês dos próximos dez anos. Soa familiar? Pois claro que sim.

Em 1991 quando o Man Utd de Beckham, Scholes, Giggs, Butt ou irmãos Neville se sagrou campeão de Juniores, a equipa de Ferguson vinha de ganhar uma Taça das Taças com alguns dos mais emblemáticos jogadores dos anos 80 ainda ao serviço. Em apenas três anos Fergie revolucionou a equipa, a quem adicionou a qualidade de Kanchelskis, Pallister, Schmeichel e Cantona, e lançou a primeira fornada dos Fergie Babes que ainda hoje é representada por Ryan Giggs, depois das saídas de Scholes e Neville, o último dos resistentes. Essa geração marcou um antes e um depois da história do futebol inglês mas a princpios da década seguinte começava a perder gás face a um Arsenal extremamente competitivo (e nada juvenil) e um Chelsea que começava a sentir o peso dos petrodólares de Abramovich. Foi então quando Ferguson sacou novas cartas da manga, apostando em jovens ingleses como Carrick, Hargreaves e Rooney e internacionais como Cristiano Ronaldo, Nemandja Vidic, Anderson e Patrice Evra. O esqueleto da equipa que ganharia anos depois a sua segunda Champions e que compõe hoje, ainda na sua maioria, o clube dos veteranos da nova guarda. Os novos filhos do diabo.

 

No excelente jogo frente a um Tottenham notoriamente orfão da genialidade habitual de Luka Modric, o treinador escocês não teve problemas em apostar numa equipa com uma média de idades a roçar os 23 anos, bem diferente daquela que disputou em Wembley a final da Champions League frente ao Barcelona. Não significa, naturalmente, que o Man Utd 2011/12 seja sempre uma equipa repleta de juventude mas o plantel montado por Ferguson é, seguramente, um dos mais jovens da liga, mais ainda que o Arsenal de Wenger, um técnico habituado a recolher todos os louvores quanto ao que a formação diz respeito mas que, salvo casos pontuais, apresenta sempre um plantel com médias etárias bastante equilibradas, na casa dos 24-26 anos. 

Sem van der Sar e os seus 40 anos Ferguson conta com o promissor David de Gea e os seus 21 anos. Depois de ter sofrido na Community Shield e no primeiro jogo de liga, o espanhol demonstrou muita segurança no seu jogo inaugural em Old Trafford e deixou boas sensações. À sua frente jogaram Phil Jones, contratado por 15 milhões ao Blackburn, de 19 anos apenas - um central com uma margem de progressão imensa - e Chris Smalling, jogador que chegou na época passado proveniente do Fulham londrino e que, aos 22 anos, é já uma certeza. Com 23 anos, o lateral direito Jonhhy Evans (adaptado já que é central de origem) cumpriu como sempre e na esquerda o mais veterano em campo, o francês Evra (e os seus 30 anos, apenas superado por Ferdinand, com 31, no plantel da zona defensiva), voltou a ser igual a si mesmo. No banco ainda estavam os irmãos da Silva (20 anos) e de fora o central Vidic (29 anos), talvez um dos mais eficazes do futebol europeu.

Mas se a defesa do United já em 2010/11 parecia rejuvenescida, a grande metamorfose vive-se no miolo onde, sem Scholes e Hargreaves, o peso etário das novas incorporações se fazem sentir. Ao brasileiro Anderson (23) e ao português Nani (25) juntaram-se o teenager Tom Cleverley, a grande revelação da pré-época, e os seus 20 anos e o recém-contratado Ashley Young com 26 anos. Sem esquecer ainda que por ali passeiam Darren Gibson (24), Darren Fletcher (27), Valencia (26), Paul Pogba (18) e Ravel Morrison (19). A veterania não deixa de ser um posto para Ferguson e por isso haverá sempre minutos de jogo para Giggs (38), Carrick (30) e Park Ji Sung (30). No ataque a situação repete-se, com o titularissimo Wayne Rooney, outrora a grande promessa adolescente inglesa, a servir quase de veterano com apenas 26 anos, face aos 23 de Javier Hernandez, os 21 de Danny Wellbeck, os 22 de Kiko Macheda e os 24 de Diouf. Com pouco espaço de manobra (e talvez com o bilhete de saída carimbado) o veterano Dimitar Berbatov (30) e o eternamente castigado pelas lesões Michael Owen (32) são vitimas de uma revolução que outrora eles também protagonizaram.

Nesse onze a estrela mais cintilante acabou por ser Wellbeck, lançado há três temporadas mas, entretanto, emprestado ao Sunderland onde brilhou ao lado de Gyan numa das linhas ofensivas mais estimulantes da última edição da Premier. Mas também o recém-chegado Young (um velho sonho de Fergie) e o recém-promovido Cleverley. Sem querer gastar fortunas em jogadores como Sneijder, Etoo ou Modric, as pérolas do mercado, o escocês quer relançar a batuta de jogo em Anderson e dar outras opções ao jogo de ataque de Rooney com a velocidade de Nani, Valencia, Young ou Wellbeck. Como cereja no topo do bolo basta apontar a qualidade de jogo, inesquestionável, e habitual fome de titulos que tem feito do conjunto inglês - a par do Barcelona - a mais sucedida formação da última década.

 

No habitual esquema da Premier League, acente num 4-3-3 que se desdobra facilmente num 4-2-3-1 haverá muitos minutos para a força, rapidez e determinação da nova guarda, especialmente com o historial clinico de veteranos como Rio Ferdinand, Michael Carrick, Ryan Giggs ou Michael Owen. Nos jogos europeus, onde Ferguson prefere um 4-5-1 mais cauto, será mais provavel ver os veteranos em acção, mais curtidos em mil batalhas. Mas o certo é que o nivel do plantel que Ferguson montou nos últimos dois anos, a era pós-Cristiano Ronaldo, promete um novo desafio ao Manager que não sabe parar. E garante aos Red Devils uma continuidade que, nos últimos 30 anos, nem Liverpool, nem Arsenal, nem Chelsea souberam ter. Talvez por isso em Inglaterra vencer continue a ser uma questão dos diabos!



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Terça-feira, 23 de Agosto de 2011

Foram só três jogos, a frivolidade de 270 minutos. Mas foram suficientes para transformar a pacata vida de um dos mais históricos e modestos clubes ingleses num corropio mediático sem igual. Durante o Outono de 1975 o melhor jogador britânico de sempre parou em Stockport antes de arrancar a sua peregrinação americana. Foram só três jogos, mas o adeus de George Best ao futebol inglês por ali nunca será esquecido.

19 minutos. Não precisou de mais.

A bola escorreu pelo terreno de jogo até lhe chegar aos pés, lá bem no flanco esquerdo. Um drible e um desarme e a bola para canto. O terceiro provocado por Best. O terceiro marcado por Best. Mas desta vez a estratégia funcionou. O irlandês tinha tentado uma e outra vez colocar a bola directa na baliza. À terceira foi de vez. E o delirio tomou conta de Edgeley.

George Best chegou ao Stockport County com 29 anos. Era já seguramente o melhor jogador britânico da história. Mas também era um jogador acabado, a anos-luz dos seus dias de glória um pouco mais a norte, em Manchester. Do jovem que tinha chegado com apenas 15 anos da Irlanda depois de Bob Bishop, o olheiro de confiança de sir Matt Busby o ter acordado a meio da noite para falar-lhe de um génio, pouco sobrava. Best jogou dez anos no Manchester United e fez parte da celebre Holy Trinity com Law e Charlton que ajudou a redefinir o clube, especialmente depois do desastre de Munique. O jovem, que tinha apenas 10 anos quando o amaldiçado avião com os Busby Babes se despenhou em Munique, tinha-se transformado numa lenda viva, no primeiro sex-symbol e icone de moda associado ao beautiful game. Best foi para o futebol o que os Beatles foram para a música. Mas tal como a banda de Lennon e companhia, os seus momentos de glória ficaram presos à década de 60. Desde a sua estreia como profissional em 1963, com 17 anos, até ao seu triste e ágrio adeus, em conflicto directo com Tommy Docherty, uma década depois, Best ganhou tudo o que havia para ganhar. A final de Wembley contra o Benfica, com um golo seu a desbloquear o encontro no prolongamento, confirmou-o como o mais genial dos futebolistas europeus de então. Mas foi também o inicio do seu fim.

De regresso a casa a geração de veteranos de Busby, incluindo o próprio treinador, sentira ter cumprido uma promessa, um dever com os mortos de Munique. Best queria mais, queria continuar a vencer, establecer uma ditadura europeia como tinha visto fazer os jogadores do Real Madrid. Mas nem Charlton, nem Law, nem Stiles nem Busby tinham forças para ir mais além. Durante cinco anos o clube não voltou a vencer um único troféu e Best entregou-se à noite, às mulheres e, sobretudo, ao alcool.

 

Quando chegou a Stockport County ainda era um jogador na flor de idade. Mas o corpo já não o acompanhava e a mente, essa, parecia sempre estar noutro lado. Minuto 55. Um sprint louco de mais de trinta metros em que para trás vão ficando seis jogadores do Swansea e a bola novamente nas redes contrárias. "Simply the Best" podia ler-se em vários cartazes feitos à mão pelas adolescentes loucas pela estrela cadente. Cadente mas capaz de arrastar multidões. Aos habituais 2 mil espectadores semanais do clube juntaram-se 10 mil mais só para ver o irlandês. Nesses primeiros 90 minutos o festival acabou com um majestoso gesto acrobático que levou à êxtase os adeptos locais.

Esse foi o primeiro de três jogos de Best pelo clube.

Depois de dois empréstimos pelo Manchester United, com quem o irlandês tinha cortado qualquer relação, a experiência em Stockport foi um prelúdio do que viria a seguir. Sem clube o astro foi persuadido pelo técnico do conjunto local, Roy Chapman, a assinar com o Stockport um contrato de jogo a jogo, muito na moda então no futebol inglês junto dos jogadores mais veteranos. Quinze dias depois (Best só alinhava nos jogos em casa o que significava um profundo lucro para as arcas do modesto clube) o irlandês voltou a ser decisivo ao apontar, num pontapé de bicicleta, o golo do empate a 2 no duelo contra o Derby County. Antes do Natal, a 22 de Dezembro, o derradeiro encontro de azul e branco contra o Stunthorp. Vitória por 1-0, sem golo de Best desta vez, mas com um par de arrancadas fenomenais que eram a sua imagem de marca. Ao voltar a casa provavelmente os adeptos esperavam reencontrar-se com Best no Boxing Day mas o irlandês voltou a ter uma recaída natalicia e o clube preferiu não arriscar a pagar somas astronómicas por jogo se o rendimento estava em causa. Best jogou então outros três jogos na sua Irlanda natal pelo Cork City antes de partir para os Estados Unidos onde se tornou num dos maiores idolos da MLS ao serviço do Los Angeles Aztecs, Fort Lauderdale Strikers e San Jose Earthquakes. Uma experiência intercalada por um ano e meio ao serviço do Fulham londrino onde os seus problemas com o alcool e as drogas tornaram-se ainda mais evidentes. A carreira do génio irlandês já estava acabada quando chegou a Stockport mas prolongou-se ainda mais por uma década. O clube azul e branco lutou pela salvação até ao último dia. No final a vitória frente ao Swansea, com esse hat-trick de Best, foi fundamental porque ambos os clubes acabaram empatados em pontos e a diferença entre ambos acabou por ser esse encontro a finais de Novembro. Com marca do génio.

 

Depois da sua morte, em 2005, o mundo começou a reconciliar-se com o fenómeno de Best. Muito antes que Cristiano Ronaldo, David Beckham ou até mesmo Eric Cantona, o irlandês de Belfast foi o primeiro jogador simbólico do Manchester United a unir futebol, moda, sex-appeal e irreverência debaixo de uma só camisola, a mitica número 7. Se Charlton era o preferido do técnico, Law o homem que desbloqueava os jogos mais dificeis, a magia estava toda nas botas de um jogador que podia ter sido o maior futebolista da história, talvez noutro tempo, noutro lugar, noutra era...



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Sexta-feira, 19 de Agosto de 2011

Nas vésperas de marcar presença na terceira final da sua história, Portugal não sabe bem como lidar com o sucesso da equipa de Ilidio Vale. Sentimentos desencontrados, orgulho escondido, criticas disfarçadas e pouco entusiasmo têm vindo a pautar a campanha da selecção sub-20 portuguesa. Frente ao Brasil a equipa das Quinas pode fazer história e lograr um inesperado tricampeonato mundial mas as sensações de Riade e Lisboa esbateram-se no tempo. Realmente, o que importa mais, vencer o Mundial ou vencer o futuro?

Falou-se durante anos da Geração de Ouro do futebol português, a mesma geração que se sagrou bicampeã mundial de forma consecutiva entre 1989 e 1991. A de Rui Costa, Paulo Sousa, Figo, João Vieira Pinto, Fernando Couto, futuras estrelas mundiais. Mas também a de Jorge Couto, Paulo Madeira, Paulo Alves, Rui Bento, Capucho, Tulipa, Hélio ou Folha, jogadores de nivel médio que tiveram carreiras aceitáveis. E ainda a de Valido, Morgado, Abel Silva, Amaral, Cao, Toni ou Gil, atletas que, pura e simplesmente, nunca conseguiram dar o salto no futebol profissional. Todos eles podem gabar-se de serem campeões do Mundo mas muito poucos contribuiram, eficazmente, para o crescimento desportivo do futebol português.

O sucesso mediático de Figo e companhia só sucedeu muito depois, quase uma década, do seu triunfo, no Euro 2000, onde pela primeira vez Portugal deu provas de ter superado os seus complexos de inferioridade e começou a bater-se de igual com as restantes potências do Velho Continente. Um cenário que Espanha também viveu. Em 1999 os espanhóis venceram o troféu pela única vez numa selecção onde Casillas era suplente e Xavi, inevitavelmente, o eixo central do jogo da Rojita. Foram precisos nove anos para nuestros hermanos lograrem com a absoluta o êxito que a mesma geração tinha antecipado no torneio disputado na Nigéria. É muito dificil antecipar se um jogador que funciona bem nos moldes de um torneio etário dá o salto ao futebol profissional. Portugal sabe-o muitissimo bem e o sucesso posterior da geração dourada funcionou também porque houve vários jogadores que não foram campeões do Mundo, por ausência (Vitor Baía, Jorge Costa) ou porque despontaram mais tarde (Dimas, Vidigal, Costinha, Pauleta, Sérgio Conceição, Nuno Gomes), que se revelaram fundamentais no sucesso colectivo luso na última década. Em 2004 a estrutura do meio-campo, acente no jogo do FC Porto, incluia três jogadores que nem sequer tinham passado pelos escalões de formação da Federação. Vencer o Mundial de sub-20 amanhã não garante um futuro radioso ao futebol português. Gabor, Geovani, Bismark, Caio ou Oliveira são nomes de jogadores campeões do Mundo e, como Peixe, consagrados como o melhor do torneio que disputaram e nenhum deles deixou o mais minimo impacto no futebol profissional. Nessas mesmas competições andavam por lá Ronaldinho, van Basten, Protasov, Kostadinov, Boban, Suker, Sammer, ... mas claro, nem todos repararam neles.

 

O caso mais sintomático desta realidade chama-se Espanha.

O país vizinho é, desde há 15 anos, indiscutivelmente a melhor cantera do Mundo. A RFEF apostou forte e bem num sistema de formação nacional, estruturado a nivel federativo e com cumplicidade com os principais clubes. A aposta no producto nacional - apanágio espanhol em tudo - e, sobretudo, num estilo de jogo que explorasse as condições dos jogadores espanhóis (baixos, dotados de técnico individual, jogo mais ritmado sem a constante busca do choque e da verticalidade da Fúria). Essa politica transformou a Espanha numa potência mundial indiscutivel e, no entanto, salvo esse ano de 1999, os espanhóis nunca estiveram perto de vencer o troféu da FIFA.

Parece uma incongruência mas está longe de sê-lo. Os espanhóis preferiram em apostar em formar jogadores para a selecção nacional em vez de conquistar titulos nas categorias amadoras. Desde 1999 para cá tem havido titulos, é certo, mas sobretudo tem havido fornadas e fornadas de jogadores preparados para dar o salto para a elite sem pestanejar. Talentos como Iniesta, Silva, Fabregas, Cazorla, Villa, Pique, Xabi Alonso, Torres, Ramos e companhia são filhos dessa filosofia mas representam a nata. A liga espanhola está repleta de casos de sucesso que só não vão mais longe porque há sempre alguém melhor a ocupar o seu lugar na elite. Essa aposta ficou evidente na qualidade de jogo da Rojita que foi eliminada nos Quartos de Final pelo Brasil. Talvez a melhor selecção do torneio, juntamente com a Nigéria e Colombia, a equipa espanhola não fez o seu melhor jogo mas não é dificil ver o talento de Bartra, Oriol, Rodrigo, Isco e companhia a brilhar na selecção principal espanhola nos próximos anos. O mesmo não se pode dizer do escrete canarinho onde, apesar do talento individual de alguns jogadores, o mais provável é que se repita o mesmo cenário de sempre e a esmagadora maioria daqueles que serão rivais de Portugal amanhã caiam no esquecimento ou numa liga obscura por esse mundo fora. Espanha não venceu o torneio, mas venceu o futuro, conservou o seu espirito, a sua filosofia, os seus automatismos e lançou um aviso aos mais velhos: aqui há gente com fome de mais. O Brasil, que jogou sem Lucas, Neymar e Ganso, as suas principais figuras no Sudamericano do ano transacto, tem em Oscar, Coutinho e Gabriel as suas principais figuras mas o resto é uma imensa incógnita. A este nivel, onde o futuro é o que conta, triunfar é realmente o mais importante?

 

No entanto, longe da ditadura critica em que parece viver o adepto português, o mérito da selecção de Ilidio Vale é inquestionável e deve ser valorizado, por cima de qualquer outra circunstância. Chegar à final de um torneio, seja ele qual seja, quando muitos nem acreditavam que a selecção pudesse passar a fase de grupos é um feito tremendo. Portugal não tem um único jogador de encher o olho, nenhum elemento que deixe antever que poderá tornar-se numa estrela de futuro (ou presente). Mas em 1991 quem imaginaria o futuro de Figo, Rui Costa ou João Pinto num contexto pré-lei Bosman em que jogar no estrangeiro (e brilhar) estava ao alcance de muito poucos?

O problema da selecção nacional está na politica de abandono de formação da FPF - que nem a dignidade de construir uma casa de selecções tem depois de tanto dinheiro embolsado na última década com a absoluta - e dos principais clubes portugueses, aliado ao final dos clubes de nivel médio que antes forneciam o futebol luso de alguns dos seus melhores interpretes. Ilidio Vale, um dos responsáveis pelo abandono da cantera do FC Porto, é o homem perfeito para esta estrutura federativa mas sem ovos não se fazem omeletes e não há em Portugal muitos jogadores com menos de 20 anos que possam ambicionar chegar à selecção. O nivel é baixo e isso não merece discussão. Num contexto individual há pouco que referir, num contexto colectivo o trabalho é espantoso.

Portugal perdeu para a Espanha esse condão de equipa capaz de manejar os tempos, a bola e de jogar bonito com uma vocação ofensiva, precisamente a imagem de marca da "Geração de Ouro". Hoje, sem jogadores com essa técnica, Portugal, como tantos outros, fecha-se na táctica. E nas armas tácticas que um conjunto sólido é capaz de oferecer face a equipas com melhor expressão individual. Viu-se no duelo com a Argentina, voltou a ver-se contra a França. Um por um, Portugal é inferior. Colectivamente soube impor-se com uma excelente noção dos espaços e, sobretudo, muita disciplina defensiva. Se algo deixa o Mundial sub-20 para o futuro do futebol português é a consciência dessa disciplina defensiva que tanto faltou no passado e que agora começa a ser trabalhada. Mika pode ser um novo Bizarro, Cedric e Mário Rui novos Paulo Torres ou Nélson e a dupla Nuno Reis-Roderick não passar de uma nova versão de Gil e Paulo Madeira, mas a forma como encararam o torneio e como chegam ao jogo decisivo sem um golo sofrido (inédito) é um registo espantoso. Portugal soube defender melhor que atacar (aliás, a esmagadora maioria dos golos surge como consequência de lances de bola parada) e olhando para Nélson Oliveira, Rui Caetano ou Sérgio Oliveira é fácil imaginar o porquê. Mas uma das exigências futuras do futebol profissional é precisamente essa mentalidade que tanta falta fez ao futebol luso no passado. Nesse sentido o trabalho da selecção, apesar de estar longe de ser espectacular, será fundamental.

 

Portugal e Brasil reeditam a final mais memorável da nossa história. Naquele fim de tarde no velho estádio da Luz o 0-0 final não fez justiça a um grande jogo. 20 anos depois é o resultado mais expectável face a um encontro disputado entre uma equipa especializada em defender e outra que se sente pouco cómoda em ter a iniciativa. Não se espera um jogo bonito ou espectacular e como sucedeu em 1991 provavelmente só quatro ou cinco dos 22 miudos que subam ao relvado cheguem a ser jogadores de impacto mundial. O trabalho de Nigeria, México, França, Colombia e, sobretudo, Espanha terá consequências evidentes. A Portugal cabe-lhe saborear o raro momento e desfrutar de uma noite histórica. O resultado é o menos importante, o futuro é uma incógnita, mas o mérito, esse é indiscutivel!

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 15:09 | link do post | comentar | ver comentários (23)

Quinta-feira, 18 de Agosto de 2011

A fome insaciável de Leo Messi ajudou a desequilibrar o mais equilibrado dos duelos até agora vividos entre o Barcelona de Guardiola e o Real Madrid de Mourinho. Os merengues foram melhor a equipa no conjunto dos 180 minutos mas viram o individualismo do argentino resolver o que o colectivo blaugrana nunca esteve perto de conseguir. No final repetiram-se as cenas da época passada e voltou a ver-se, de parte a parte, que nada mudou com o Verão.

A grande diferença entre Ronaldinho e Messi é a fome. A fome de vitórias.

O brasileiro foi sem dúvida o melhor jogador da última década, tanto a nível das habilidades individuais como no entendimento do jogo colectivo, muitos furos por cima de qualquer outro. Mas desde o principio da carreira que lhe faltou a fome de vencer a todo o custo. Por isso hoje o genial número 10 deslumbra no Flamengo enquanto que Messi, que dele tanto aprendeu, decide jogos de máxima tensão como os de ontem com um sorriso nos lábios. A metamorfose táctica do argentino mudou o modelo de jogo do Barcelona mas só foi possível porque Messi pertence a um tipo de jogadores que não olha a meios para obter fins, e para ele o fim último é a vitória, sempre. Nunca existe uma bola perdida, nunca um lance dividido termina até a bola estar longe, nunca a baliza encolhe no momento errado e, sobretudo, nunca a cor da camisola adversário lhe muda o estado de espírito. Em Madrid foi um golo, em Barcelona dois (e lá vai o recorde de Raúl em Supertaças ao ar) e ainda uma assistência maravilhosa para Andrés Iniesta que o define, igualmente, como um jogador profundamente colectivo.

Depois dos seus falhanços sucessivos com a Argentina não cabe a menor dúvida de que Messi é, como foi Pelé no Santos, o exemplo perfeito do jogador enquadrado num sistema colectivo que o potencia e por ele é potenciado ao máximo. Messi cresceu com a filosofia blaugrana e entende-a como ninguém e por isso saca dela o máximo rendimento no seu estilo de jogo. Por outro lado o clube encontrou forma de o entender também como nunca a nenhum outro jogador (nem Cruyff, nem Romário, nem Rivaldo, nem Ronaldinho lograram o mesmo efeito) e aproveita-se do argentino para ir onde nunca ninguém foi. Messi sem o Barcelona não seria o mesmo Messi, nem de longe nem de perto, e o Camp Nou sabe que quando o argentino perder a chama ou partir haverá um vazio de poder impossível de remediar. O seu génio individual decidiu um jogo de máximo equilíbrio colectivo onde primou, sobretudo, o desastrado jogo ofensivo do Real Madrid que teve várias oportunidades para lograr um triunfo histórico. Do primeiro ao último segundo os merengues foram melhores mas José Mourinho terá de rever os seus processos ofensivos porque é preocupante que uma equipa crie tantas oportunidades para marcar tão poucos golos. Os de ontem, de Ronaldo e Benzema, nasceram de lances confusos na área, nunca um bom indicativo. Mais um golo e o Real Madrid teria vencido, merecidamente, o troféu. Mas a eficácia blaugrana, a eficácia de uma equipa que sabe guardar a bola e que só remate quando tem a certeza de que pode realmente marcar, foi determinante e porque o futebol são golos, o torneio ficou em Can Barça.

 

Se Messi foi genial e decisivo, o jogo colectivo do Barça deixou muito a desejar.

Guardiola queixa-se - no que começa a tornar-se uma recorrente na prosápia de um treinador que ontem somou mais um recorde - de que teve pouco tempo para preparar-se (menos cinco dias que o rival) e que não esperava vencer. É habitual nele o discurso defensivo mas mesmo com menos uma semana de preparação esperava-se muito mais da sua equipa. Depois de alinhar uma equipa alternativa no Bernabeu o técnico de Santpedor preferiu a formação de gala, a que venceu a Champions League em Maio deste ano. Mas a palidez colectiva foi uma constante especialmente face a um Real Madrid a jogar em pressão alta de forma constante durante os 90 minutos. Nem Xavi soube pautar o ritmo, nem Villa e Pedro souberam aproveitar o desajuste da linha de fora de jogo (má exibição de Coentrão no seu primeiro jogo a lateral), e acabou por ser a defesa (Alves, Mascherano e Abidal) a que melhor se mostrou sobre o terreno de jogo.

A pressão asfixiante dos merengues surgiu logo no primeiro toque de bola e ao minuto 2 o Real Madrid já tinha tido duas oportunidades de golo. Foi a tónica. O desperdício ofensivo de uma equipa que contou com um Di Maria eternamente egoísta, um Ozil inexistente, um Benzema demasiado ocupado a adornar o seu jogo e, sobretudo, um Cristiano Ronaldo decepcionante. Se a Messi a cor da camisola do rival não incomoda (principalmente a branca do Real), a Cristiano parece suceder o contrário. É verdade que marcou o seu primeiro golo no Camp Nou mas o seu jogo foi miserável, com sucessivas perdas de bola na linha lateral, escasso jogo colectivo e, sobretudo, uma profunda incapacidade de livrar-se, ora de Alves, ora de Mascherano, que souberam sempre neutralizar o perigo que podia significar o português. No único lance que logrou escapar à marcação contrária, CR7 teve o momento individual do jogo mas Valdés - imenso - soube parar a custo um remate envenenado que podia ter alterado o curso do jogo. Ronaldo foi o espelho da inoperância ofensiva merengue mas o colectivo madridista funcionou bem melhor que o contrário com Xabi Alonso e Sérgio Ramos numa forma impressionante, situação que melhorou com a troca de Khedira por Marcelo, com Coentrão a subir no terreno de jogo como foi ensaiado durante a pré-temporada. O golo de Benzema, empatando a poucos minutos do fim, devolvia justiça ao resultado e deixava antever um prolongamento onde o físico do Madrid ameaça impor-se ao do contrário. Até que surgiu Messi para impedir o sofrimento do Camp Nou. Como sempre!

 

No final do jogo reviveram-se os momentos de tensão dos jogos da época passada. Depois da correcção do jogo de Madrid ficou claro que ambos os clubes mantêm-se nas suas trincheiras. A entrada brutal de Marcelo a Cesc Fabregas - inadmissível mas profundamente exagerada pelo banco de suplentes do Barcelona, que se encontrava junto ao lance, e que precipitou uma invasão de campo do staff da equipa da casa, como tem vindo a ser recorrente - levou a um burburinho que acabou com Villa a agredir Ozil (ambos foram expulsos), Pinto a agredir Higuain, Mourinho a enfiar o dedo no olho de Tito Villanova, adjunto de Guardiola, que lhe responde com um soco nas costas, Marcelo e Messi a encararem-se cara a cara e muita, muita confusão. Foi mais uma vez o espelho da falta de serenidade que os confrontos Barça-Madrid têm tido nos últimos anos. Se já durante o jogo tinha ficado claro que os jogadores do Madrid voltariam a jogar no limite, ficou também evidente que os atletas blaugranas continuam a sua campanha particular de exagero teatral a cada lance contrário. Duas posições tão distantes que, inevitavelmente, acabam como acabam. O Madrid continua com a sua besta negra por cima e o Barcelona vê o rival cada vez mais próximo. O ano que só agora arranca promete ser, uma vez mais, electrizante.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 08:22 | link do post | comentar | ver comentários (10)

Terça-feira, 16 de Agosto de 2011

O futebol vive de momentos como este. Em meia hora Sergio Aguero redefiniu totalmente o jogo do Manchester City e consagrou-se como a grande figura individual do arranque mais morno de uma Premier League no que vai de década. O seu estilo de jogo eléctrico encontrou em Silva o parceiro perfeito e os adeptos citizens podem, legitimamente, sonhar com grandes noites. Aguero, talvez a contratação do Verão, tem tudo para levar o clube azul celeste às estrelas.

O Swansea começou de forma brilhante o seu primeiro jogo na Premier League.

Ser o primeiro conjunto galês na história a jogar na máxima competição britânica trazia uma aura especial ao encontro que fechava a jornada inaugural da Premier. Mas se deixarmos de lado esse simbolismo histórico, o duelo entre Swansea e Manchester City tinha um significado bem mais profundo e futebolístico. Mancini tinha a oportunidade de apresentar ao mundo, pela primeira vez longe da neurose humana que é o Vicente Calderón, o génio de um argentino que parece bem mais tranquilo do que o temível "Apache" Tevez. Fiel ao seu hermetismo, Roberto Mancini preferiu esperar. Aguero, esse pequeno guerreiro com pés de seda e mente de génio prodigioso, sentou-se no banco e começou a perceber que a na Premier é preciso tempo para singrar. O jogo decorreu contra as expectativas, especialmente pela surpreendente réplica dos debutantes, e quando teve de mexer pela primeira vez no onze (um onze com Dzeko, Touré, Johnson e Silva e sem Tevez e Balotelli) o técnico italiano elegeu Aguero. O momento foi determinante. A equipa tinha acabado de marcar o primeiro golo (excelente trabalho do avançado bósnio) e o argentino entrava sem a pressão de ter de decidir o resultado. Mas talvez nem o italiano imaginasse a rapidez com que a sua nova estrela iria deixar a sua marca no jogo de uma equipa que pelo orçamento e plantel tem de se assumir como candidato a um titulo que escapa há mais de quatro décadas. Aguero chegou, viu e venceu e deu uma profundidade de jogo ao Manchester City que nenhum outro jogador do City of Manchester pode oferecer. Foi um momento de redefinição de tempo e espaço.

 

Quando Aguero entrou em campo, David Silva sorriu.

O jovem espanhol há muito que se sente desacompanhado em Inglaterra. Ao seu modelo de jogo rendilhado e cuidado, esse trademark da Espanha moderna, supera-o sobretudo a verticalidade e fúria dos seus colegas de ataque, de Balotelli a Tevez, passando mesmo por Touré e Dzeko. Sem parceiros à sua altura, Silva tem sofrido bastante e há muito que a chama de magia do astro canário se vem apagando. Mas Aguero significa para ele uma nova oportunidade. Habituado ao jogo espanhol, o homem que andou na passada época, literalmente, com o Atlético de Madrid às costas, percebe bem a importância de um modelo de jogo de toque curto e associação. A química entre ambos foi inevitável e deu um novo perfume ao jogo vertical e incontrolado dos citizens. Sem De Jong em campo, o técnico italiano colocou Touré ao lado de Barry, o que permitiu à equipa conservar a bola, e deixou o seu dueto hispânico à solta. O espectáculo estava garantido.

Mais do que os dois belos golos e a assistência para o tento de Silva, que foi outro nos segundos 45 minutos, foi essencialmente a forma como Aguero encontrou o meio caminho entre a raça do futebol inglês e a classe do futebol espanhol que impressionou. Poucos jogadores sul-americanos encontraram esse ritmo no historial do futebol inglês desde os dias de Villa e Ardilles. O "Kun" parece feito dessa madeira, um atleta que também é futebolista, um artista com corpo de potrero selvagem, filho da dureza que marca os calos nas mãos de tantos pamperos. Aguero não tem um corpo de gladiador mas atrás de si há um historial de dureza que lhe permite enganar o defesa mais duro. A obsessão que tem com o golo permite-lhe chegar mais depressa onde outros só conseguem imaginar que é possível por os pés. Durante o Verão especulou-se com a sua ida para o Real Madrid. Teria sido o jogador perfeito nas mãos de José Mourinho. Mas o ódio visceral entre clubes impediu o negócio (o Atlético exigia que o IVA da operação ficasse a cargo do clube merengue, mais 30 milhões do que pagou o City) e talvez uma parceria histórica entre o argentino e Cristiano Ronaldo. Em Manchester, cidade onde brilhou o português, com quem Aguero tem mais semelhanças do que diferenças, esperam ansiosamente pela melhor versão de um jogador que pode definir uma era no clube azul celeste. Longe de ser uma alma rebelde e conflictiva como Tevez ou Balotelli, em Aguero o técnico Mancini sabe que pode encontrar a âncora perfeita para o seu projecto.

 

Tempo ao tempo, Sergio Aguero está chamado a ser uma das máximas figuras deste ano desportivo. Provou-o num clube que vive numa profunda cápsula de pequenez mental, provou-o numa selecção argentina constantemente à deriva e agora tem todas as condições para ser a figura individual da próxima Premier League. Com um plantel milionário e um parceiro perfeito para o argentino na figura de Silva, o City este ano não tem desculpas. A dupla Aguero-City promete fazer estragos!

 

 

Depois de três semanas de férias em que o Em Jogo funcionou a meio gás, espero a partir de hoje voltar ao ritmo habitual deste espaço. A todos os fiéis leitores que mantiveram os índices de visitas em alta, mesmo na minha ausência, e aos que esperaram pacientemente pela minha tardia resposta aos comentários que foram colocando, um especial agradecimento!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:13 | link do post | comentar | ver comentários (7)

Sexta-feira, 12 de Agosto de 2011

Longe vão os dias dos golos de Silvio Piola. A era dourada do "Quadrilatero Piedmontese". Os dias em que Novara era um dos centros periféricos do calcio italiano. Durante 55 anos o seu clube de futebol viveu uma profunda letargia emocional e a reputação desportiva da pequena localidade virada para os Alpes limitou-se aos sucessos da equipa de hockey em patins. Até agora. Mais de meio século depois, os Biancoazzurri voltam à elite desafiando o peso da memória.

Ninguém marcou tantos golos em Itália como o histórico Piola.

O seu nome continua na memória dos locais, estampado com orgulho na entrada principal do estádio do seu Novara. O dianteiro italiano foi a grande figura da selecção orientada por Vittorio Pozzo durante as duas Guerras Mundiais. A primeira bicampeã do Mundo. O capitão era Meazza mas os golos eram de Piola. Depois da Guerra o mitico goleador assinou pelo modesto clube piemontês. Por essa altura muitos corriam às bancadas do velho estádio Comunale da pequena cidade alpina. Novara, que nos anos 20 tinha feito parte de um quadrado mágico que definiu a natureza do futebol italiano, renascia. Na década de 20, quando Piola começou a brilhar, o peso do Piemonte, eixo onde o jogo cresceu e entrou na sua era profissional, era reconhecido pelo sucesso de Alessandria, Casali, Pro Vercelli e Novara. Quatro equipas que disputavam ao duo de Turim, Juventus e Torino, a supremacia regional. Com o final da carreira do histórico goleador a memória de Novara foi tornando-se profundamente difusa com o passar dos anos. O adeus de Piola deixou marcas no clube. Em 1956 a equipa caiu no poço da Serie B.

O que parecia um periodo de transição curto transformou-se num longo pesadelo. Cinco anos depois de lutar por voltar à elite o Novara voltou a cair, desta vez nas trevas da Serie C. Desta vez a reacção foi rápida e a equipa demorou apenas duas temporadas a voltar à Serie B. Mas como as restantes equipas do "Quadrilatero" a Serie A tornou-se numa longa e sofrida utopia. Em 1977, com o futebol italiano prestes a entrar numa das suas etapas mais negras o clube voltou a cair à Serie C e três anos depois perdeu mesmo a condição de clube profissional quando aterrou na liga amadora da Serie C 2. Parecia que o mitico Novara, o clube de Piola, estava perto do fim. Até que um milagre mudou por completo a vida do clube.

 

Em 2009/2010 o Novara surpreendeu tudo e todos ao conseguir a promoção para a Serie B.

Foi um ano sofrido, cheio de problemas financeiros, mas com um final feliz. Ninguém imaginava que o clube conseguisse manter a categoria na segunda divisão do Calcio e as expectativas dos locais estavam longe de imaginar o que sucederia no final da temporada.

A chegada de um novo director desportivo, Pasquale Sensibile, e de um novo técnico, Attilio Tesser, mudou por completo o rosto de uma equipa que tinha terminado as duas temporadas anteriores no oitavo posto da Serie C. O sucesso da dupla na promoção à Serie B continuou com um arranque de época estupendo, rompendo com todos os prognósticos mais pessimistas. Liderados por Marco Rigoni, o Novarra rapidamente tomou para si o primeiro posto da tabela classificativa onde se foi mantendo, mês após mês. Quando chegou o mês de Dezembro a gasolina começou a faltar e o clube, até então invencivel, perdeu os primeiros pontos permitindo a Atalanta e Siena uma rápida aproximação na tabela classificativa. Em Fevereiro a equipa já tinha caído para o terceiro lugar e muitos imaginavam que a queda livre continuaria nas jornadas seguintes.  A equipa levava sete jornadas consecutivas sem ganhar mas Tesser encontrou forma de reajustar uma defesa em horas baixas e os bons resultados voltaram. Depois de um triunfo frente ao Ascoli, sofrido, a equipa voltou aos bons resultados e chegou ao final da época regular no terceiro posto. Um lugar perigoso porque obrigava a um duplo confronto em modo de play-off. O primeiro duelo duplo foi disputado com a sexta classificada, a Reggina. Duplo empate, primeiro 0-0 em casa e depois 2-2 fora garantiram o apuramento para a final do play-off onde a equipa biancoazurri teria de bater o Padova.

O primeiro jogo disputou-se a 9 de Junho na cidade de Padua e o empate a zero foi um resultado lisonjeiro para o conjunto visitante que tinha precisamente garantido o apuramento na ronda anterior graças aos golos marcados fora. Mas três dias depois, com o estádio Silvio Piola lotado, a equipa local superou-se e venceu categoricamente por 2-0 confirmando assim uma promoção, a todos os titulos inesperada. 55 anos depois a magia da Serie A voltava a ecoar na memória dos locais.

 

Não é dificil, pela trajectória recente, que todos olhem para o Novara como o primeiro candidato a cair de novo na Serie B quando a próxima edição da Serie A chegue ao fim. Mas é precisamente esse espirito de luta e a capacidade de superar as expectativas que transforma o regresso deste modesto histórico num dos pratos mais apeteciveis do Calcio para a época que agora arranca!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 00:21 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Sábado, 6 de Agosto de 2011

Em Pristina estão cansados de esperar. Mais de dois anos depois continuam num beco sem saída. A bola não rola, espera pacientemente uma decisão. Depois de tantos nãos, esperar é mesmo tudo aquilo que têm. O Kosovo quer ser independente. Os kosovares querem jogar futebol. Com a sua bandeira ao peito. A FIFA e a UEFA dizem que não é a hora mas a bola está farta de esperar...

Em Fevereiro de 2008 o Kosovo declarou unilateralmente a independência da Sérvia.

Foi, talvez, o derradeiro capitulo de um conflicto nos Balcãs com 17 anos de história. A Sérvia, destroçada por dentro depois de tantas guerras e sanções, fez um ultimo esforço diplomático e rejeitou aceitar a existência dessa República do Kosovo. Por uma vez o Mundo teve paciência e decidiu ouvir Belgrado antes de tomar uma decisão. De tanto ouvir as palavras ficaram presas no ar e a rápida decisão prometida pela ONU eternizou-se. E eterniza-se ainda hoje para desespero dos quase dois milhões de kosovares. O país não conseguiu a unanimidade necessária para ser considerado oficialmente um país - que conceito mais repelente esse de depender da vontade alheia para ser alguém - e procurou desfraldar a recém imaginada bandeira por outra via. O futebol, como sempre, era o caminho mais rápido. E eficaz.

Um mês depois da declaração unilateral representantes kosovares apresentaram-se na Suiça para convencer os executivos da FIFA e da UEFA a deixá-los entrar nas suas "célebres" familias. Futebolisticamente o Kosovo pertence à última divisão europeia, a mesma por onde andam as Ilhas Faroe, Malta, Lieschtenstein ou São Marino, por exemplo. Só um clube kosovar, o FC Pristina, passou pela primeira divisão sérvia. A maioria dos jogadores que podiam fazer parte de uma hipótetica equipa nacional kosovar estão divididos entre Albânia, Finlândia ou Suiça. E nenhum deles mostrou um exacerbado patriotismo que os fizesse sequer considerar a possibilidade de abdicar das regalias que têm hoje para cantar o novo hino nacional. A sua estrela mais cintilante, Lorik Cana, jogador da Lazio joga actualmente pela Albânia e não parece ter pressa para mudar. Ele, como muitos, vive também na sua encruzilhada particular.

 

Blatter e Platini foram peremptórios. Enquanto o Kosovo não for reconhecido pela ONU os kosovares têm de pensar noutras opções para jogar futebol. Oficialmente eles são uma não-nação, seja lá o que isso for. Irritar os russos e espanhóis é um preço que os dirigentes desportivos não estão dispostos a pagar. Os kosovares não têm culpa, afinal às restantes repúblicanas balcânicas houve até uma pressa ensurdecedora para dizer que sim antes do tempo. Eles pagam a factura de tempos pretéritos e sensibilidades agudas.

Mas a federação kosovar não desistiu. Os contactos com a Albânia, o país que mais apoiou o recém-constituido estado kosovar, levaram à realização do primeiro jogo amigável - que não oficial - para a selecção do Kosovo. Claro que os albaneses ganharam (3-1) mas isso importava muito pouco. Mas, mesmo assim, o Kosovo continuou a ser visto por tudo e todos como um desses estados malditos condenados a jogar entre si vezes sem conta. Estados como o Chipre do Norte, Monaco, as comunidades autonómicas espanholas, Sapmi, Greenland, Crimeia, Padania, Ocitânia, Gibraltar ou as ilhas de Man e Guernsey.

No último ano e meio os kosovares têm tentado organizar amigáveis com a maioria das federações mas a complexa situação politica tem sido, até a esse nivel, um sério impedimento. O apoio da Arábia Saudita (o Kosovo, como a Albânia, é um país iminentemente muçulmano) e da comunidade emigrante na Suiça deram a possibilidade ao seleccionador Albert Bunjaku de começar a fazer rodar alguns dos jogadores que decidiram assumir a sua condição de kosovares desde o principio. Jogadores como o guardião do Novara, Samir Ujkani, o lateral do Tottenham Ajet Sehu ou o médio do Hannover 96, Valdet Rama, jovens promessas que há dois anos teriam sido repescadas pelas selecções dos países onde cresceram (e o caso albanês continua a ser o mais evidente) e que agora começam a desenhar o futuro do futebol kosovar.

 

Parece impossível que o Kosovo possa estar na linha de partida para a qualificação para o Europeu de 2016 em França. Os timings das principais instituições não facilitam e a burocracia a essas estâncias é ainda mais gritante. Mas o sonho do futebol kosovar está bem vivo. Uma nação que espera por um milagre para não cair no esquecimento a que o futebol internacional muitas vezes devota os países de onde não saem os Messis do futuro.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:59 | link do post | comentar | ver comentários (7)

Quarta-feira, 3 de Agosto de 2011

O nunca visto. Madrid surge como o eixo central do futebol espanhol. E não é pelos sucessos do seu clube mais emblemático. Pela primeira vez na história a província autónoma de Madrid conta com quatro equipas na primeira divisão do futebol espanhol. Tantas como a Andaluzia mas com uma diferença importante, a diferença abismal de tamanho de cada comunidade. Madrid multiplica-se por 4 num ano em que se espera muita emoção em todas as frentes.

 

Durante dois períodos históricos a comunidade de Madrid conseguiu o feito de juntar três equipas na Liga espanhola.

Um feito para um centro urbano num país onde, historicamente, o futebol era um fenomeno de forte pendor regional e onde as grandes cidades ocupavam menos espaço do que se pode imaginar. Quer nos anos 90 com Real Madrid, Atletico de Madrid e Rayo Vallecano, quer nas últimas edições da prova com o Getafe, uma cidade dormitório mesmo a sul da capital, Madrid fazia-se representar ao mais alto nível. Nem Barcelona (com FC Barcelona e Espanyol), nem Valencia (com Levante e Valencia FC) nem Sevilla (com Bétis e Sevilla FC) alguma vez chegaram ao mesmo patamar que a capital espanhol. Mas agora a diferença é ainda mais abismal. Madrid conta com quatro equipas na primeira divisão e juntamente com as outras três grandes cidades do país vizinho compõe metade das equipas em prova (10 de 20). O futebol espanhol abandona progressivamente o seu pendor regional (Galiza, Canárias, Soria e as duas Castillas não estão representadas na elite futebolistica) e centraliza-se.

O fenómeno da capital é ainda mais evidente porque é complicado viver à sombra de um clube como o Real Madrid.

Os merengues são, claramente, o clube que mais dinheiro e adeptos mobiliza na liga espanhola e a sua macrocefalia regional podia provocar um efeito eucalipto nos clubes que o rodeiam. Mas não. Enquanto o clube merengue se torna cada vez mais rico e mais mediático (apesar dos títulos escassearem há vários anos) os restantes clubes da Comunidade sobrevivem da melhor forma possível. Entre as duas ligas profissionais são cinco (a estes quatro há que juntar o Alcorcon, outro subúrbio a sul) o que não deixa de ser significativo para uma província regional que só ocupa um 1,8% do espaço geográfico espanhol, a 12º comunidade autonómica (apenas à frente das ilhas, Cantabria, Soria e o Pais Basco).

 

A Liga que arranca no próximo mês terá um fortíssimo sotaque da capital e será também um teste de força à progressão desportiva de uma comunidade historicamente dominada por Real e Atletico.

O clube do Manzanares tem sabido sobreviver ao peso emocional que representa o clube merengue e os títulos europeus mais recentes dão conta de que o projecto tem base para sonhar com voos mais altos. O problema do Atlético, como sucede habitualmente com os segundos clubes da cidade, está nesse complexo de inferioridade emocional que acaba por impedir de dar um passo mais concreto face ao seu rival local. Há mais de dez anos que os colchoneros não vencem os merengues e a instabilidade directiva e os problemas financeiros, herdados da gestão de Gil y Gil, empalidece em comparação com a bonança financeira do rival. O Atlético de Madrid tem por objectivo manter-se na luta pelos postos europeus, onde tem sido um habitué nos últimos anos, mas até nessa luta pode encontrar um rival regional inesperado.

O Getafe é o fenómeno futebolístico mais curioso da capital. Há quinze anos era uma equipa das ligas distritais sem historial. Clube de um subúrbio recente, os Azulones funcionaram durante anos como uma sucursal do Real Madrid e ainda hoje o seu presidente, Angel Torres, é um reconhecido sócio dos merengues. Jogadores e técnicos do clube de Concha Espina vão passando pelo Coliseum Alfonso Perez (avançado merengue da década de 90) transformando um modesto clube de subúrbio numa força a ter em conta. Apesar de ser um dos estádios com menor assistência da prova, as equipas que o Getafe tem vindo a apresentar surpreendem pela qualidade de jogo e espírito de luta. A histórica presença na final da Copa del Rey em 2008, as boas campanhas europeias e a rotação de alguns dos jogadores espanhóis mais promissores dos últimos anos reforçam um projecto que na época passada esteve bem perto de precipício e que agora, sustentada com os milhões de um fundo do Dubai, tem um tremendo potencial de crescimento. Uma realidade bem diferente à que vive o sempre problemático Rayo Vallecano.

A terceira equipa de Madrid, com sede na zona sul e obreira da capital, vive uma época de interrogações financeiras e bonança desportiva. Depois de quase uma década os "rayos" regressaram à elite por onde andaram regularmente nos anos 90 e tudo isso com uma equipa que levou todo o ano sem receber um único salário em dia. A venda do clube parecia adivinhar melhores dias mas a nova direcção tem sido incapaz de resolver os problemas da mítica equipa de Vallecas (que equipa como o River Plate porque não tinha dinheiro sequer para equipamentos e aceitou um presente de emigrantes espanhóis a viver em Buenos Aires com as cores dos "milionários"). O Rayo terá um ano muito complicado pela frente e a solvência financeira passa por manter a categoria, algo sempre complicado numa liga bastante nivelada por baixo, com uma dezena de equipas a lutar, desde o primeiro dia, pela permanência.

 

Ao contrário de cidades como Londres (com cinco equipas este ano na Premier League), Lisboa ou Buenos Aires, a capital espanhola nunca foi uma cidade de mais de dois clubes. Uma realidade nova que espelha o crescimento económico da Comunidade em contraste com a difícil situação do país. O peso histórico do Real, a herança popular do Altético, o fenómeno suburbano de Getafe e o espírito de sobrevivência do Rayo apresentam quatro visões que explicam bem a complexidade de uma urbe que renasce rapidamente de uma longa letargia. Madrid vale bem um jogo de futebol!


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publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:08 | link do post | comentar | ver comentários (1)

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