Terça-feira, 28 de Junho de 2011

Não aterra num planalto desconhecido mas o plano de voo de André Villas-Boas certamente que sofreu mais de uma correcção desde que o técnico começou a desenhar o seu futuro. A sua chegada a Londres está marcada por lembranças pretéritas, traições mal explicadas e uma ambição tremenda. O português tem tudo para consagrar-se no futebol inglês como um treinador de excepção. Tudo menos o mais importante. AVB já corre contra o relógio.

 

Apesar da fama da Premier League de respeitar o trabalho do Manager acima de todas as coisas, o Chelsea não é o melhor exemplo a seguir.

Nos últimos sete anos o clube já contou com sete treinadores, com Avram Grant, Luis Filipe Scolari e Guus Hiddink a não completarem sequer uma só época. O israelita e o russo foram opções alternativas e chegaram para sanar as feridas deixadas pelas saídas inesperadas (ou talvez não) de Mourinho e Scolari. Mas não tiveram tempo, oportunidade ou vontade de continuar. O Chelsea consegue ser um projecto muito stressante.

Villas-Boas sabe-o e muito bem. Chegou em 2004 com o resto da comitiva anónima que seguiu com José Mourinho do Porto para Londres. Por essa altura chamava menos à atenção que o possante Silvino ou o inseparável número dois, Rui Faria. Mas o seu trabalho de prospecção revelou-se chave na preparação das três épocas de Mourinho, nas contratações de Essien, Diarra, Cole e companhia. Quando Mourinho saiu, a Villas-Boas não lhe teria incomodado ficar um pouco mais numa cidade onde se sentia em casa. Mas decidiu seguir o seu mentor. Por pouco tempo. Esse ano sabático de Mourinho permitiu ao portuense ver o seu futuro como treinador principal. E foi aí que o jovem olheiro começou a desenhar o seu futuro. Mas nem ele imaginaria que voltaria à capital inglesa tão depressa. Não fosse por Guus Hiddink e talvez o seu regresso nunca tivesse acontecido de todo. Uma questão de timing!

O holandês, actual seleccionador da Turquia, foi cortejado por Abramovich durante meses a fio. Nem o fracasso com a selecção russa retirou prestigio a um homem que já foi uma vez chamado pelo bilionário russo para tapar os buracos de gestão em Stamford Bridge. A Hiddink o projecto não lhe deve ter achado muita graça. Nem quis continuar ao leme do clube, abrindo caminho para a chegada de Carlo Ancelloti, nem sequer mostrou grande interesse em voltar. As negociações arrastaram-se até que o técnico disse finalmente não ao seu amigo Roman. O dono do Chelsea olhou para o mercado e viu poucas possibilidades em carteira. O relógio continuava o seu curso e o tempo escasseava. O timing era tudo e havia pouco por onde pescar. Decidiu sacar o livro de cheques e recuperar um velho conhecido, com quem falava alegremente no escritório de José Mourinho quando baixava ao centro de treinos para ver que tal ia a sua equipa. Villas-Boas conhece bem Abramovich e sabe o que o espera. Para ele sair do FC Porto era algo inevitável, por muito que tenha entretido os adeptos azuis e brancos com declarações de amor eterno que já nem se usam. Talvez não imaginasse que o salto fosse tão precoce. Nisso teve culpa própria, afinal a época azul e branca não passou desapercebida ninguém. Nem o timing da sua escolha.

 

O novo treinador do Chelsea saiu da sua cidade como um traidor e chegou à sua admirada Londres debaixo de muita suspeita.

Os adeptos do FC Porto dificilmente irão perdoar o inevitável. A Invicta, apesar de ser a sua cidade, tarde ou cedo acabaria por ficar pequena para as suas ambições, declaradas ou não. O seu problema foi esse maldito timing, a única coisa que não controlou ao longo do defeso. A oferta do Chelsea foi repentina (os contactos prévios que Pinto da Costa referia dizia apenas respeito a um trabalho como treinador de campo) e irrecusável. Tanto pelo dinheiro envolvido - e Villas-Boas, como qualquer outro, é um profissional - como pelo projecto. Tal como com Mourinho em 2004 (que recusou o Inter como Villas-Boas porque Abramovich prometeu muito dinheiro para reestruturar a equipa), o portuense chega com a ilusão de começar do zero.

Lampard, Terry, Cole, Cech, Anelka e Drogba estão mais perto do final das suas carreiras (ou do seu zénite, pelo menos) do que do arranque. A espinha dorsal sobre a qual Mourinho construiu o seu projecto começa a dar lugar a novos rostos. Torres, Bosingwa, Alex, Ivanovic, David Luiz, Obi Mikel, Ramires ou Benayoum já lá estão. Mas os muitos milhões que o russo promete colocar à disposição do seu novo técnico permitem imaginar um plantel totalmente reestruturado a que se podem juntar também os jovens que Ancelloti foi lançado (Sturridge, van Aaholt, McEachran, Kakuta, Bruma) e que foram sendo recrutados pelo departamento de prospecção, como o brasileiro Lucas Piazon. Para ele, em Londres, o timing é perfeito para começar uma nova era, sem o peso do passado nos ombros e com a expectativa de um futuro brilhante pela frente.

Villas-Boas seguirá os passos de todos os treinadores quando rumam ao estrangeiro e certamente levará consigo um ou dois dos seus ex-jogadores. Com isso enriquecerá ainda mais o seu ex-clube e saldará qualquer conta pendente. O seu karma foi talvez o optimismo (ou oportunismo) das suas declarações ao longo do ano. Que talvez fossem genuínas mas que condicionaram forçosamente qualquer decisão futura. Mas AVB não deixa de ser o mais significativo negócio na história do clube azul e branco e pode, com o seu poder de decisão em Londres, permitir ao seu antigo clube reestruturar totalmente o seu orçamento desportivo. Mérito da sua gestão como treinador e da sua saída.

Em Londres vai encontrar, sobretudo, desconfiança. Um Special Two sem sentido - até porque Mourinho e o seu Special One chegaram com o glamour de uma Champions debaixo do braço - mas que terá bem em cima a lupa de adeptos, gestores, imprensa e jogadores. Se com os primeiros Villas-Boas tentará emular a relação que tinham com Mourinho (e que perderam nos últimos quatro anos) com os restantes o braço de ferro será mais interessante. Particularmente com os nomes duros do balneário, Terry à cabeça, responsáveis da queda em desgraça do seu anterior mentor.

 

A dificuldade da Premier League - uma Premier League espicaçada com o fluxo de dinheiro do Manchester City, a renovação do Manchester United, a prometida nova politica desportiva do Arsenal e até mesmo o reforço dos projectos de Tottenham, Liverpool, Everton e Aston Villa - será muitíssimo superior do que Villas-Boas possa hoje imaginar. A isso junta-se uma Champions League dominada moralmente pelos colossos espanhóis, mais fortes do que nunca, depois da era dos clubes ingleses ter, aparentemente, chegado ao seu final. A Villas-Boas prometem tempo, dinheiro e paciências mas todos irão exigir títulos históricos (vulgo, Champions League) resultados imediatos (sem tempo para estados de graça) e futebol de primeiro nível. Seria uma missão temível para qualquer um, mais ainda para um treinador que, apesar de tudo, ainda é um rookie. Talvez por isso a sua chegada faça todo o sentido. Villas-Boas não tem nada a perder e tudo a ganhar. Se o seu projecto falhar continua a ter mercado um pouco por todo o Mundo e tempo para dar a volta por cima. Se vencer, supera todas as expectativas (outra vez) e cria um precedente histórico. Um desafio destes era impossível de recusar. Resta saber se é impossível de concretizar!

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 16:37 | link do post | comentar | ver comentários (5)

Sábado, 25 de Junho de 2011

A preocupante situação financeira do Barcelona levou Sandro Rossell a adoptar uma postura que vai totalmente contra o ideário desportivo que a filosofia de Guardiola tem implementado, com um sucesso inquestionável, no futebol do clube. Apadrinhada por Johan Cruyff, sempre omnipresente em assuntos de estado, a ideia de abdicar de alguns dos maiores talentos da Masia para mergulhar no complexo mercado de transferências é um sério ponto de inflexão na filosofia do clube blaugrana e afasta o clube do ideário romântico que tanto sucesso tem tido junto do público mundial.

 

Bojan Krkic parece ser o primeiro. Mas seguramente não será o último.

O Barcelona, segundo Cruyff, deixou de ser "Més Que un Club" no momento em que aceitou "manchar" as camisolas blaugranas com publicidade. Depois do truque publicitário - e algo hipócrita - chamado UNICEF (que permitiu à UEFA dobrar, uma vez mais, as suas regras em prol do clube blaugrana ao permitir que o clube tenha duplo patrocinio na próxima Champions ao contrário do que está nos seus estatutos) chegaram os petrodólares da Qatar Foundation, a mesma organização que pagou o apoio de Guardiola à candidatura mundialista do país que organizará o Campeonato do Mundo de 2022. Mas o buraco financeiro deixado na era Luis Nuñez (e engordado com a gestão de Joan Laporta) é tal, que nem esse negócio das Arábias se revelou suficiente.

Juntamos a essa vicissitude as incursões pontuais do clube no mercado de transferências e o quadro complica-se.  Em quatro anos o Barcelona gastou mais de 280 milhões de euros em contratações, com alguns flops consideráveis como foi o caso de Chygrinski (30 milhões), Zlatan Ibrahimovic (40 milhões mais o passe de Samuel Etoo) ou um conjunto de jogadores que mal vestiu a camisola da equipa principal (Henrique, Keirrison, Cáceres e Hleb). Ao mesmo tempo o clube não conseguiu sacar proveito das suas vendas (Henry saiu de forma gratuita, Etoo foi oferecido, Ronaldinho idem, Ibrahimovic chegou emprestado ao Milan que tem agora de pagar 24 milhões pelo seu passe, metade do que custou, ...) e agrandou ainda mais o buraco financeiro. A aposta pessoal de Guardiola na cantera que conhecia como ninguém resultou ser um brilhante negócio para a presidência do clube. A prata da casa não só permitia ao técnico manter a competitividade e filosofia do seu projecto como garantia, ao mesmo tempo, uma imensa poupança em gastos que a médio prazo poderiam salvar as arcas do clube. Mais do que uma filosofia desportiva, apostar na Masia foi sobretudo uma brilhante jogada de gestão. Guardiola evitava ter, como tem o Real Madrid, jogadores de primeiro nivel internacional com salários principescos sentados no banco, e o clube baixava o que gastava em salários e comissões e rentabilizava as suas instalações desportivas de formação como nunca tinha logrado no passado. Mas depois de três anos de máximo sucesso desportivo e algum reequilibrio económico, Sandro Rossell quer inverter a tendência. A Masia, mais do que funcionar como apoio à primeira equipa, ameaça em transformar-se num apoio para a conta bancária do clube.

 

Cruyff deu o tiro de saída num dos seus artigos semanais no El Periodico de Catalunya.

O holandês, que está a caminho do Ajax para reorganizar o futebol base do seu clube de origem, lançou o desafio à directiva e equipa técnica. Afinal o clube conta com mais de uma dezena de jovens "canteranos" com mercado e projecção de futuro e outra dezena com uma projecção menor mas que, com o rotulo de escola Barcelona, vale mais no mercado que muitos jogadores mais bem preparados. A notável temporada do Barcelona B, terceira na Liga Adelante, deu a conhecer ao mundo o génio de Thiago, Sergi Robert, Jonathan dos Santos, Rafa, Oriol, Jonathan Soriano e companhia. Esses nomes juntavam-se aos já habituais da primeira equipa, Bojan, Jeffren e às promessas Botia, Muniesa e Miño. Um onze titular praticamente com um potencial de primeiro nível assinalável.

A maioria treinou com a equipa principal durante o ano e muitos estrearam-se mesmo ao serviço de Pep Guardiola que sabe quais são as pérolas de maior projecção da sua cantera. Mas hoje em dia os próprios jogadores da Masia olham para si com outros olhos. Inspirados pelo sucesso do clube e, sobretudo, pelo impacto de Busquets e Pedro, todos querem a sua oportunidade junto a Messi e companhia. Mas nem todos a terão. Continuar na equipa B é um desafio cada vez menos estimulante para alguns e sair um risco, para eles e para o clube. Não segundo Cruyff.

O homem que criticou o Real Madrid por vender os seus melhores canteranos com direito a opção de recompra agora aconselha precisamente isso mesmo ao clube, para equilibrar as contas e investir no mercado de transferência. Negociar o futuro de Bojan, Jeffren, Thiago, Soriano, Muniesa e companhia parecia uma utopia há uns meses. Agora começa a soar como uma inevitabilidade.

No meio desta jogada aparece a figura de Sandro Rossell. O ex-directivo da Nike, responsável pela chegada do primeiro batalhão de brasileiros durante o mandato inaugural de Laporta, quer deixar a sua influência no projecto do clube. O seu medo de que Guardiola deixe o banco do Camp Nou no final deste ano estimula-o ainda mais a tomar controlo da situação. O caso Fabregas representa o primeiro confronto directo entre direcção e técnico. Guardiola quer o capitão do Arsenal, sente-o como um dos seus e quer repetir o processo de Piqué. Mas Rossel não está disposto a pagar o que o Arsenal pede (algo que a Nike, sua antiga empresa, não veria com bons olhos porque precisa do espanhol para aumentar as suas vendas com o merchandising dos gunners) e prefere gastar o mesmo dinheiro em jovens promessas sul-americanas. Alexis Sanchez e Neymar são sonhos seus, não de Guardiola, que preferia Fabregas e Rossi (por quem o clube ofereceu uns miseros 25 milhões, mais Bojan). 

Guardiola não quer perder o seu backup, a sua cantera, mas começa a ser dificil manter a jogadores como Jeffren e Bojan contentes com o facto de serem os eternos suplentes de Messi e Villa. O próprio Thiago, talvez a maior promessa do clube em muito tempo, sabe que se chega Cesc, como quer o treinador e o plantel, o seu espaço de manobra desaparece. E o técnico de Santpedor entende a situação financeira do clube. Por isso avalou a saída de Bojan para a AS Roma, onde está o seu anterior adjunto Luis Enrique, e ao jovem dianteiro podem brevemente seguir-se muitos mais. O jovem avançado que explodiu no último ano de Rijkaard pagou o preço do seu nervosismo e da mutação táctica de Leo Messi, um génio que nunca falha e raramente perde um jogo. Depois de três anos onde actuou muito pouco, Bojan precisa de jogos para demonstrar que o mais concretizador avançado da história da Masia pode repetir o feito junto dos mais velhos. A sua venda, por 10 milhões, é o principio do fim do romantismo ideológico de Guardiola. Utilizar a sua cantera como meio de reforçar as contas do clube - como fez o R. Madrid com Negredo, Albiol, Arbeloa, Granero, Soldado, de la Red, Mata, Parejo e companhia - significa que os back-ups da primeira equipa passarão a ser jogadores de fora, sem a cultura de base da escola que tanto tem encantado o mundo.

Com uma primeira equipa de sonho é fácil perceber que - salvo a posição de defesa-esquerdo - há pouco onde se possa melhorar o actual Pep Team. Qualquer entrada será, como a de Affellay ou Keita, para servir como apoio. Enquadrar nomes consagrados como Rossi ou Cesc ou promessas do nivel de Sanchez, Neymar ou Pastore nessa politica pode dar mais do que uma séria dor de cabeça a Pep Guardiola. Ao mesmo tempo, vender o melhor que a cantera de Barcelona tem para oferecer diminuiu o prestigio moral do clube ao mesmo tempo que também permite que o ideário blaugrana encontre refúgio noutros projectos que pretendem emular a filosofia do clube da cidade Condal. A Masia tem, desde já, ordem para voar. É uma decisão que financeiramente pode funcionar a curto prazo mas que num futuro pode multiplicar os casos como o de Cesc Fabregas e acabar por ser um erro de planeamento a médio e longo prazo. Com esta jogada, Rossell demonstra também que o presidencialismo também já chegou ao Camp Nou.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 00:06 | link do post | comentar | ver comentários (14)

Quarta-feira, 22 de Junho de 2011

Em 24 horas o FC Porto mudou de treinador. Pode parecer anedóctico mas é precisamente o contrário. A prova de que uma estrutura desportiva bem organizada está preparada para todas as circunstâncias, mesmo as mais imponderáveis. Ao contrário de 2004, o FC Porto não encerrou um ciclo desportivo. Mas a licção de então foi bem aprendida pelo grupo gerido por Pinto da Costa. A sucessão de André Villas-Boas não só foi imediata como, a frio, surge como algo absolutamente natural e que garante, com os devidos ajustes, que o projecto não começa do zero para a próxima época. O FC Porto demonstra, numa situação altamente complexa, que a chave do seu sucesso continua a ser a primazia da estrutura colectiva sobre a figura do individuo.

André Villas-Boas chega a Londres como o treinador mais caro de sempre.

É a oitava transferência mais alta do futebol português, um êxito que merece ser analisado com detalhe noutro momento. O portuense realizou uma época perfeita, a todos os títulos, e decidiu que o seu projecto de vida precisava de um salto de dois degraus. A saída de AVB era esperada por todos os adeptos e dirigentes portuenses. Como é habitual com Pinto da Costa, os ciclos dos seus treinadores ganhadores habitualmente ficam-se pelos dois anos (salvo Fernando Santos (três) e Jesualdo Ferreira (quatro) e as perspectivas para 2011/12 eram promissoras. Havia uma genuína onda de optimismo que não era exclusiva do estádio do Dragão. Por essa Europa fora muitos esfregavam as mãos com o duelo entre FC Porto e Barcelona em Agosto, no Mónaco, e com a presença dos azuis e brancos na Champions League. Os azuis de Villas-Boas, mas também de Falcao, Hulk e Moutinho. Esse projecto chegou ao fim no momento em que o individuo, Villas-Boas, entendeu que a estrutura não lhe oferecia armas suficientes para apaziguar a sua tremenda ambição. O técnico recebeu uma oferta fabulosa do Chelsea (perdido durante semanas em negociações com Guus Hiddink) e decidiu que era o passo certo no momento certo. Ai repete o percurso de Mourinho, com um pequeno, mas importante detalhe. O sadino chegou a Londres como um treinador maduro, com duas taças europeias debaixo de cada braço e uma aura única. Villas-Boas é visto, ainda hoje, como um clone e por muito que se queira distanciar do seu antigo protector, a verdade é que nem chega com os mesmos títulos nem a sua presença funciona como uma atracção de novidade. Terá muito trabalho pela frente.

O técnico que deu ao FC Porto um dos mais bem sucedidos anos da sua história deixou também atrás de si um problema gordo nas mãos dos dirigentes. Pinto da Costa apostou, e muito, no jovem portuense. Desportivamente venceu a aposta, financeiramente fez o negócio da sua carreira desportiva. Mas moralmente a sua conexão com o treinador, de quem várias vezes anunciou que não repetiria o comportamento de Mourinho (e de Robson, que também saiu do FC Porto pela porta pequena) e que o "portismo" do técnico garantia uma longa relação, talvez inspirada pelo modelo de Guardiola no Barcelona. Para Pinto da Costa o jovem Villas-Boas poderia ser uma reencarnação da imagem de Pedroto, aquilo que Artur Jorge e Mourinho, por diferentes motivos, não quiseram ser. A saída abrupta, silenciosa e quase hostil do treinador abriu uma ferida emocional que os adeptos terão dificuldade em sarar. Mas a estrutura do clube, habituado a esta necessidade do clube de vender para sobreviver, estava preparada.

 

Pinto da Costa manobrou o problema com mestria.

Sob o seu comando o FC Porto transformou-se numa das instituições mais bem sucedidas do futebol europeu. Um modelo presidencialista, inspirado no mandato de Santiago Bernabeu em Madrid e que levou um clube iminentemente regional ao estrelato europeu.  Um clube gerido de forma empresarial, muito similar à gestão do Bayern Munchen dos anos 80, com todos os prós e contras. Durante esses 30 anos passaram pelo clube da Invicta várias figuras individuais de inquestionável mérito desportivo. Treinadores do nível de Pedroto, Artur Jorge, Tomislav Ivic, Bobby Robson, José Mourinho ou André Villas-Boas. Dirigentes como Teles Roxo, Reinaldo Teles ou Fernando Gomes, actual presidente da Liga de Clubes. E uma imensidão de futebolistas de Oliveira e Gomes a Hulk e Falcao. No entanto, todos eles tiveram o seu ciclo - habitualmente curto - e o clube continuou a ganhar. Porque a aposta do staff presidencial sempre foi enfocada no poder da estrutura.

Villas-Boas sai do Porto e para o seu lugar entre o treinador-adjunto. Em 24 horas uma mudança que noutros clubes seria um caos que duraria meses, ficou resolvida. A acreditar nas palavras do dirigente portista - e conhecendo-o é perfeitamente possível que assim seja - a sucessão do treinador jovem mais cobiçado do futebol europeu, há um mês que estava definida. Porque a estrutura directiva soube ler os astros e entendeu que o que parecia uma declaração de amor eterna afinal podia transformar-se num pesadelo.

Pinto da Costa jogou bem as suas cartas e a sua aposta pessoal em Vítor Pereira dá agora os seus frutos. Quando Villas-Boas foi apresentado, perante o incredulidade de muitos, poucos foram os que prestaram atenção à sua equipa técnica, escolhida pelo próprio presidente. Um ex-jogador e o ex-técnico principal dos açorianos do Santa Clara. O primeiro, Pedro Emanuel, responsável pelas tarefas de treino, partiu para Coimbra, onde tentará emular o que se passou com Jorge Costa, Domingos e o próprio Villas-Boas, todos portistas com passagem pelo banco da Briosa. O outro, Vitor Pereira, espinhense e formado pela universidade da cidade, foi escolhido a dedo para precaver, precisamente, uma situação de crise. Ou de fracasso na aposta Villas-Boas ou, no extremo oposto, de um sucesso em toda a linha. Durante o ano Vitor Pereira foi a mão invisível que ajudou a criar condições para a brilhante época. Villas-Boas, ele também com uma curtíssima experiência como treinador, encontrou no seu adjunto o braço-direito ideal, da mesma forma que Paisley e Fagan secundaram Shankly, quando este tomou o leme do Liverpool. Quando o escocês anunciou abruptamente a sua saída a direcção de Anfield não procurou outro treinador de prestigio e decidiu recorrer ao tranquilo assistente, que melhorou os registos do seu mentor. Não que Vitor Pereira tenha esse peso sobre os ombros, o mandato de Villas-Boas foi curto e beneficiou de um contexto concreto. Mas deixa entender que a estrutura directiva, uma vez mais, tinha antecipado a inconstância humana que rege a figura individual de um treinador.

Vitor Pereira conhece o grupo, conhece o clube e há muito que estava a ser preparada para este momento. Cresceu sob a asa protectora da direcção e sabe o que esperam dele. Pode ver-se sem alguns jogadores influentes, como Moutinho e Falcao, mas essa circunstância faz parte da história do clube. O próprio Villas-Boas perdeu Bruno Alves e Raul Meireles e soube reinventar-se com Moutinho e Otamendi. O dinheiro que o clube encaixará, provavelmente 80 milhões entre os três, garante liquidez suficiente para atacar o mercado com a habitual sabedoria que permite aos azuis e brancos transformar porcos em pérolas num fechar de olhos.

 

Villas-Boas emergiu como a figura individual indiscutível do ano, e no FC Porto sabiam-no bem. Mas também entendeu que num clube onde a estrutura sempre está por cima do individuo, o seu caminho seria breve. Saiu de uma forma que se enquadra com os mecanismos do futebol contemporâneo, mecanismo que privilegiam o aspecto financeiro como no mundo empresarial, entrando em confronto com a imagem que criou durante um ano, a imagem de um treinador-adepto, romântica e impossível de funcionar neste mundo do futebol. A sua ânsia de emular (e bater) os registos de Mourinho pregaram-lhe uma partida mas ao contrário de 2004, em que a saída de um José Mourinho mas bem sucedido e sem essa aura de adepto acabou por se revelar mais traumática, a estrutura directiva do clube soube antecipar-se ao lance e de um problema sacou duas soluções. O FC Porto tem um treinador da casa para um projecto estável e um encaixe milionário no banco. De uma derrota emocional aparente, Jorge Nuno Pinto da Costa transformou um evento traumático e surpreendente numa dupla vitória. O sucesso do FC Porto explica-se por momentos assim. No próximo ano não transmitirá certamente o mesmo sex-appeal, mas como fera ferida, será duplamente mais temível.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 12:07 | link do post | comentar | ver comentários (12)

Terça-feira, 21 de Junho de 2011

Champions League e Europe League, essas são fáceis. Também já devem ter ouvido falar da Supertaça Europeia e dos torneios de selecções, desde o Europeu para graúdos até às provas dos mais pequenos. Mas a UEFA tem uma competição europeia de que poucos ouviram falar. E que vai disputar-se em solo português a partir de hoje no Minho. A Taça Europeia das Regiões permite imaginar o futebol como outrora foi num ano de festa para o futebol minhoto.

Em 1996 a UEFA decidiu criar o primeiro Campeonato da Europa de Futebol Amador.

Desde os anos 70 que não existia um torneio oficial europeu que colocasse frente a frente equipas amadoras. O crescente profissionalismo rasgou por completo o ideário original do jogo e na década de 70 não subsistia na Europa uma liga exclusivamente dedicada a equipas amadoras. O torneio perdeu interesse e assim foi durante os vinte anos seguintes. No entanto, depois do Euro 96, a UEFA foi confrontada com a petição de várias organizações amadoras para potenciar um evento continental que devolvesse um pouco do protagonismo às equipas fora do espectro profissional. O torneio demorou três anos a acontecer. A grande dificuldade que a UEFA encontrou foi o formato a aplicar.

Inicialmente um torneio de clubes amadores, a ideia rapidamente perdeu força porque existia um crescente desequilíbrio entre os inscritos, maioritariamente representantes britânicos. Foi então que alguns dos directivos de Lennardt Johanssen propuseram a criação de um torneio de selecções nacionais, representadas por conjuntos regionais. A ideia foi bem aceite pelas federações nacionais e finalmente em 1999 o torneio teve lugar em Itália. Para representar os transalpinos a Federação Italiana criou um torneio de duas semanas. Saiu vencedora a região de Venetto que organizou e venceu o torneio frente aos espanhóis da Comunidade de Madrid. O sucesso da prova - com mais de 32 inscritos - garantiu que dois anos depois os melhores amadores da Europa se voltassem a encontrar, desta feita em terras checas Por essa altura a UEFA tinha alterado o critério de inscrição. Cada associação apresentava o conjunto que representava a região que tinha ganho o torneio nacional doméstico de futebol amador. No caso de não existir um torneio oficial como tal, era obrigatória uma ronda preliminar, supervisada pela Federação nacional, para dictar o representante oficial na prova. O torneio de 2001 disputou-se na Morávia e uma vez mais a equipa da casa triunfou, desta feita sob o conjunto representante do futebol amador português, a equipa de Braga.

 

Dez anos depois a cidade dos Arcebispos volta a fazer história no historial do torneio amador.

O jogo inaugural da edição 2011 arranca no Estádio 1º de Maio, antigo recinto do Sporting de Braga e hoje utilizado essencialmente por formações amadoras. Mas os jogos serão igualmente disputados noutras cidades minhotas. O Grupo A, que conta, para lá do conjunto bracarense, com os checos de Zlin, os alemães de Wurttemberg e os ucranianos da zona de Yednist, joga igualmente em Barcelos, Vila Verde e Fão. Os portugueses são favoritos para passar, como é habitual entre as equipas da casa, e seguir para a fase seguinte, a antecipada final. Do outro lado da poule de apuramento, o Grupo B inclui uma selecção do sul da Rússia, uma equipa dos arredores de Belgrado, um conjunto exclusivo da capital turca Ancara e um representante da região de Munster na Irlanda.

Se os bracarenses conseguiram o apuramento automático quando a UEFA anunciou, em 2009 o organizador da 7º edição do torneio, as restantes sete equipas tiveram de ultrapassar uma dupla fase de apuramento, resultado da crescente popularidade do torneio no Velho Continente.

Portugal foi inicialmente representado pelo Algarve, em 1999, uma equipa que não passou a fase preliminar, resultado que repetiu em 2003. Depois do brilharete do conjunto colectivo de Braga em 2001 o melhor resultado de um conjunto português foi conseguido pela equipa de Aveiro, terceira no Europeu de 2007. Para trás ficaram as eliminações precoces dos conjuntos de Portalegre e Braga em 2005 e 2009. É a terceira fase final para um conjunto luso e também o regresso do torneio ao sul da Europa desde a edição inaugural.

Desconhecido para o grande público, os organizadores do evento esperam atrair mais público do esperado com o apelo dos sucessos do Sporting de Braga nas últimas épocas para apoiar a equipa local. O conjunto orientado pelo ex-internacional Dito não utilizará o símbolo da FPF, afinal este torneio nacional está disfarçado como um torneio regional, mas certamente que tentará lograr um feito histórico para o futebol português, mesmo que seja ao nível do futebol amador. Afinal a magia do futebol amador tem o seu encanto. Que o diga Tony, que marcou presença na final de 2001 do torneio ao serviço da equipa de Braga para mais tarde ser repescado profissionalmente pelo Desportivo de Chaves. Em 2008, sete anos depois de se ter afirmado como um dos melhores futebolistas amadores europeus, cumpriu o sonho da sua carreira e disputou pela primeira vez a Champions League, ao serviço do Cluj. Foi o fechar de um ciclo perfeito, um ciclo que muitos dos atletas presentes neste torneio sabem que é muito complicado de repetir. Mas às vezes basta deixar cair o muito da frase, para ela ganhar outro sentido. E outra esperança!

 

Até aos anos 50 o futebol amador era, ainda, o motor do futebol europeu. À medida que o profissionalismo se tornou inevitável a atenção e curiosidade à volta dos amadores foi-se esmorecendo a ponto de que muitos nem sequer imaginam que exista uma competição internacional destas características. Certamente que em campo não se verá nenhuma cena que relembre o glamour dos grandes torneios da UEFA, nem os gestos técnicos de Messi, nem os ajustes tácticos de Mourinho. Mas a ilusão e diversão que o futebol amador consegue reproduzir permite-nos embarcar numa cápsula do tempo e contemplar o jogo, tal como era, quando tudo começou.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 11:08 | link do post | comentar | ver comentários (3)

Segunda-feira, 20 de Junho de 2011

Em 1983 o presidente Rafael Cabrera marcou uma reunião com os máximos dirigentes da Federação Argentina. Liderava um séquito dos principais clubes da liga local e estava preparado a boicotar o torneio nacional se a AFA não aceitasse a sua temerária proposta. Depois de uma dura ronda de negociações o dirigente do River Plate conseguiu o que queria. 38 anos os Milionários de Buenos Aires reencontram-se com o destino que iludiram há 38 anos. Só um milagre pode permitir ao River Plate fintar uma despromoção pendente há quatro décadas.

 

A derrota frente ao modesto Lanús confirmou as piores expectativas no Monumental. O River terá de lutar até ao fim para não cair no poço da 2º Divisão do futebol argentino. Um feito impensável se tivermos em conta que não há campeonato do mundo onde os grandes estejam tão protegidos como o argentino. Por culpa do River Plate e agora, apesar deles.

A equipa de Buenos Aires liderou em 1981 uma rebelião contra o sistema instaurado nos anos 30 pela AFA, a federação argentina. A queda de outro histórico, o San Lorenzo de Almagro, na 2º Divisão, levou a que os directivos dos principais clubes (que incluíam o Boca Juniores, Estudiantes, Independiente, San Lorenzo, River e Racing Avellaneda) instigassem a federação a protege-los contra os mais pequenos. A perda de categoria do San Lorenzo significava um rombo nas contas do clube e era um sério aviso aos restantes grandes do futebol albiceleste. Depois de dois anos de duras negociações a federação capitulou. Foi instaurado um sistema de pontuação altamente complexo que protegia as costas dos grandes locais perante qualquer deslize pontual. As equipas seriam despromovidas não pelo resultado de um ano mas sim pela média das pontuações acumuladas nas três temporadas anteriores. Além do mais, para reforçar ainda mais esse conceito de liga fechada, só os dois últimos seriam despromovidos. Os penúltimos e antepenúltimos classificados podiam ainda jogar um play-off contra o 3º e 4º classificados da 2º Divisão. É nessa situação que se encontra o conjunto buenarense.

A negociação de Cabrera revelou-se fundamental para o clube. Precisamente em 1983, o ano em que o novo sistema foi inaugurado, a equipa terminou no 18º e antepenúltimo posto da tabela. Mas livrou-se de disputar o play-off porque, evidentemente, a sua classificação média das três épocas anteriores (onde contava com dois títulos conquistados com Alfredo Di Stefano no banco de suplentes) garantia a sua sobrevivência. O modelo revelou-se um sucesso para os clubes grandes de tal forma que nas décadas seguintes nenhum deles perdeu a categoria. Havia sempre um ano pretérito com a pontuação necessária para evitar males maiores. Até agora.

 

O descalabro desportivo do River Plate não é recente.

O clube começou a cair do trono a meados da década com a sucessiva venda dos seus melhores activos para o futebol europeu de forma a paliar a imensa divida acumulada nos anos de bonança. Depois da vitória no Torneo de Clausura de 2008 , com Diego Simeone no banco e o jovem Diego Buonanotte como estrela mais reluzente, o clube entrou numa espiral negativa que o levou à dramática situação com que se depara. Em 2009 a equipa somou apenas 14 pontos e terminou o ano no final da tabela depois de uma série de dez derrotas consecutivas. Mas salvou-se. Já sabemos porquê. Aliás, no topo da tabela classificativa por médias, o River ainda era líder, apesar do annus horribilis. Não seria assim por muito tempo. Um ano depois os fracos resultados repetiram-se. O clube, sob a gestão desportiva de Nestor Gorosito e com os veteranos Almeyda e Gallardo no onze titular, terminou o ano no 14º posto com apenas 25 pontos. Daniel Passarella, antiga glória nos anos 70 e 80, chegou à presidência e com ele trouxe dois velhos nomes, Leonardo Astrada e Angel Cappa. Apesar do arranque promissor - e do reforço do plantel - a equipa voltou a desiludir e a tropeçar na tabela.

Em 2010/11 a classificação final do Torneo de Clausura não foi tão má como se imaginaria. O clube, com as promessas Erik Lamella e Funes Mori em destaque, logrou terminar o ano no 9º posto. Mas a soma dos resultados dos anos anteriores atiraram com os Milionários para o 17º posto da tabela classificativa colectiva. E para o duelo desesperado contra o Belgrano. A duas mãos o River terá de evitar o destino. Juntamente com o Boca Juniores, Independiente e Arsenal de Sarandi é uma das poucas equipas que não sabe o que é jogar na 2º Divisão argentina. Conta com o maior estádio do país, o mais espectacular dos historiais mas também uma das dividas mais assustadores. O duelo contra o modesto Belgrano é apenas o primeiro passo que o clube de Buenos Aires tem de dar rumo a melhores dias. A partir da próxima época a posição do clube na tabela classificativa geral baixa ainda mais. O River começaria o próximo ano já despromovido e teria de lutar contra o inevitável. O espectro da descida.

Para muitos a situação actual do River Plate é apenas o espelho da desorganização institucional em que vive o futebol argentino. Num complexo sistema criado para proteger os grandes, o futebol argentino mergulhou numa letargia tremenda que se transformou, de certa forma, num peso difícil de suportar. Os clubes grandes hoje em dia lutam para não perder a sua supremacia moral mas são muitas vezes os pequenos projectos que levam para casa os títulos e as participações nas provas continentais. A liga argentina tem vindo a perder peso na própria América do Sul e os dirigentes têm consciência dessa crua realidade. Reformular o campeonato num país que prima pela desorganização institucional é um desafio que Julio Grondona, actual presidente da AFA, não está disposto a realizar. A longo prazo essa decisão pode significar o estrangulamento de um dos campeonatos que ensinou ao mundo a jogar futebol.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 08:52 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Sexta-feira, 17 de Junho de 2011

Contam à boca pequena nos corredores da Football Federation que os míticos leões do símbolo que a Inglaterra ostenta há mais de um século no peito há muito que se podiam ter transformado em gatitos. O peso da FA nas últimas duas décadas decaiu profundamente mas, apesar de tudo, o organismo que gere o futebol inglês ainda é um adversário temível. Michel Platini, mais diplomático que o seu mentor Sepp Blatter, entende isso melhor do que ninguém. A atribuição da final da Champions League ao estádio do Wembley para 2013, apenas dois anos depois de receber o evento, é precisamente uma manobra diplomática extremamente hábil do francês. Com esse gesto magnânimo a UEFA procura apaziguar os leões e transformá-los, uma vez mais, em dóceis gatitos.

 

 

Quando Sepp Blatter tomou o controlo da FIFA em 1998, conseguiu-o convencendo a influente FA de que o seu mandato beneficiaria o futebol inglês. Fugindo à disciplina de voto da UEFA, a Football Association ajudou a eleger o suíço e depois sentou-se à espera da recompensa.

Como tantas vezes acontece, Blatter fez precisamente o oposto e transformou os ingleses num do seu alvo preferencial. A derrota esmagadora na dupla candidatura mundialista - em 2006 e 2018 - em que os ingleses saíram sempre na primeira ronda de votações, a que se seguiram as habituais acusações de suborno, apenas reforçaram o afastamento entre FIFA e FA. Nada novo. Afinal os ingleses foram a única federação que ousou declarar guerra à máxima organização mundial. Um braço de ferro de duas décadas que nunca foi totalmente resolvido. Os ingleses sempre desconfiaram das organizações continentais e estes sempre afirmaram publicamente que a FA procurava sempre seguir um caminho distinto às restantes federações europeias. Mas o peso da FA, especialmente no Internacional Board - que promulga as leis do jogo - sempre convidaram à cautela. Até chegar Blatter, o incauto por natureza.

Se a FIFA sempre teve problemas com a FA, a UEFA não foi menos. Depois do duplo desastre de Heysel e Hillsborough, o máximo organismo europeu utilizou a Inglaterra como bode expiatório e castigou os clubes ingleses com uma prolongada ausência das provas europeias. Os ingleses não se esqueceram. Anos depois, a FA ajudou os clubes a criarem a Premier League, contra os desígnios da Liga, apoiada directamente pela UEFA. Os clubes venceram, a Premier League nasceu e as regras do jogo mudaram. Ao ver o sucesso do modelo inglês os restantes países da Europa perceberam que aquele era o modelo a seguir e começaram a afastar-se paulatinamente das suas federações nacionais. A longo prazo a Premier foi um golpe duro para a UEFA e foi também a base de partida para a formação do G14 que desafiou mesmo o destino do futebol europeu num longo braço de ferro. Michel Platini, então conselheiro pessoal de Blatter, tomou nota. Uns anos depois, quando o suíço o apresentou como candidato à presidência da UEFA, o francês procurou o apoio dos ingleses. Conseguiu-o. Meses depois das eleições colocou em prática as lições do seu mentor e de forma mais diplomática começou a tratar o leão inglês como um gatinho.

 

No meio deste contexto de conflictos pode surpreender o anuncio de que a final da Champions League 2013 volta a ser disputada em Londres. No mítico Wembley. Mas essa decisão faz parte da estratégia politica do presidente da UEFA. Ao contrário de Blatter, um dirigente muito mais autoritário, Platini segue o ideário de Maquiavel, divide e conquistarás.

Platini anunciou que o evento será mais do que uma final da Champions League. A final fará parte de uma homenagem da UEFA à própria FA, que nesse ano cumpre os 150 anos de existência. Parte de uma série de eventos de aproximação entre ambas as instituições que inclui um congresso extraordinário da UEFA na capital inglesa. O sucesso da final da passada época foi o pretexto logístico para os meios e adeptos europeus que não entendem como a UEFA pode permitir-se este tipo de atitudes e nem sequer  proceder a uma votação entre diferentes candidatos. Afinal, não foi a UEFA que defendeu o aumento da categoria de elite para os principais estádios do velho continente, as celebres 4 estrelas? E não foi Michel Platini que defendeu que o futebol europeu tinha de ser levado a todos os cantos do continente? 

Tudo isso é verdade mas Platini joga sempre com uma mão no bolso e outra na mesa.

O presidente da UEFA sabe que precisa de encontrar um equilíbrio entre as grandes potências e os pequenos países. O homem que defendeu a introdução da lei 6+5 (que minará os mercados das principais ligas), um modelo de salário inspirado na NBA, o fair-play financeiro e a redução de equipas das três principais ligas nas provas europeias tem-se afirmado como um defensor do futebol para todas as associações. Como Blatter, com os membros africanos, caribenhos e asiáticos da FIFA, distribuiu benesses, ajudas e apoio indiscutível às federações que não fazem parte da elite do jogo. Apoio a realização do Europeu de 2012 na Ucrânia e Polónia (apesar do risco que envolvia o projecto, como o tempo tem vindo a demonstrar) e há muito que declarou que gostaria de ver um Europeu na Turquia. Também aproveitou para anunciar que a Supertaça europeia, até agora um exclusivo do principado do Mónaco, passará para Praga, no coração da Europa. Uma jogada de charme que garante, de antemão, votos suficientes para uma terceira reeleição, em 2014. Ou, como todos suspeitam, uma base de apoio forte para suceder ao seu mentor, Sepp Blatter, nas próximas eleições da FIFA. 

Só que para aplicar estas medidas impopulares junto das grandes ligas, Platini tem usado o jogo também como arma para as suas missões diplomáticas. O ano passado anunciou que a sua vontade era de que as finais da Champions League fossem exclusivas de estádios com mais de 70 mil lugares, enquanto que a Europe League poderia ser disputada em estádios entre os 50 e 60 mil lugares. Reforçando essa divisão, Platini entrega a gestão do principal evento desportivo às grandes potências - que são quem o sustenta financeiramente - e pisca o olho às grandes federações. Principalmente a FA. Nos últimos meses os homens da FA têm começado o seu próprio conflicto interno com a Premier League e as medidas da UEFA são bem vistas pelos leões de Wembley, para onde mudou a sua sede , para pressionar ainda mais os gestores dos principais clubes ingleses. Platini triunfa precisamente porque consegue, com estas simples medidas, dar à FA a sensação de grandeza que os directivos ingleses sempre gostaram de ostentar. Na realidade, na realpolitik do futebol, o que o francês consegue é desarmar a pressão britânica, desviando-a para confrontos internos e para a sua mediática luta contra a FIFA, enquanto continua a gerir o jogo do velho continente à sua maneira.

 

O fenómeno de Wembley será recorrente. A politica da UEFA, sob o mandato de Platini, garante que a Champions League é um feudo dos grandes e assim continuará. O que logrou com Londres repetirá, tarde ou cedo, com Madrid, Munique, Roma, Paris e Moscovo, que provavelmente serão anunciados como organizadores das finais dos anos seguintes. Com esse rebuçado, o francês aplaca as grandes potências continentais, afasta-os do ideário da Liga Europeia de Clubes e ganha margem de manobra para colocar em prática as suas medidas impopulares. Ao mesmo tempo continua a piscar o olho aos países mais pequenos e a cimentar a sua popularidade quando chegar a nova temporada de urnas. No meio deste jogo, como tem acontecido nas últimas duas décadas, a Football Association desembrulha um presente envenenado com a alegria de uma criança na véspera de Natal. O leão está apaziguado, a UEFA vence mais um round.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:46 | link do post | comentar | ver comentários (6)

Terça-feira, 14 de Junho de 2011

Trinidad está em festa. Mesmo que a família FIFA esteja mais entretida com as lutas de poder nos corredores de Zurique. Quando a bola comece a rolar pelo relvado - ou algo parecido - do estádio Malabar, o Mundial de 2014 arrancará oficialmente. O primeiro de 832 jogos antes da fase final, a disputar no Brasil. No entanto os fantasmas que rodeiam a organização do evento não permitem grandes festejos. Trinidad está em festa mas provavelmente eles serão os únicos com algo que celebrar.

 

Desta vez a figura omnipresente de Jack Warner, o homem mais corrupto do futebol caribenho e vice-presidente da FIFA suspenso de funções, não estará debaixo dos holofotes. Nem a do seu amigo, até à pouco, o presidente Sepp Blatter. Noutra ocasião os dois pesos pesados da organização que gere o futebol mundial estariam seguramente em Malabar para dar o pontapé de saída para o próximo Mundial. Não vai ser assim.

A FIFA quer esquecer, de momento, que a CONCACAF existe. A confederação de países que garantiu três eleições consecutivas para Blatter virou-lhe as costas e agora sofrerá as consequências, como sucedeu já com a UEFA no passado. O suiço não é homem de esquecer. A sua gestão - e a sua amizade com o presidente da CONCACAF e vice-presidente da FIFA, o tobaguenho Jack Warner - significou uma época de prosperidade para o futebol das Caraíbas. Mais dinheiro do que nunca, duas presenças num Mundial (Jamaica e Trinidad e Tobago), torneios juvenis e, sobretudo, um sério investimento nas infra-estruturas locais. Uma delas resultou no estádio Larry Gomes, construido de propósito para o polémico Mundial de sub-17, um torneio que funcionou como lavagem de dinheiro para a gestão de Jack Warner e que poucos paises participantes recordam com ilusão. O estádio recebe hoje um duelo sem qualquer importância no panorama internacional.

Montserrat, uma minuscula ilha caribenha que joga em "casa" por não ter ainda um estádio disponível no pequeno país com 40 kms de extensão que ainda pertence ao Reino Unido. E que é a 202º selecção do ranking FIFA. A antepenúltima. Dizemos que ainda não tem estádio , porque a FIFA já financiou a construção de um novo recinto, cujas obras estão por completar, cortesia do amigo Warner com ajuda do amigo Blatter, quando a amizade ainda fazia da CONCACAF um dos maiores recipientes do dinheiro gerado pela FIFA.  Belize, o país da América Central que surge como visitante, está um pouco melhor. É a selecção número 172. O jogo, aparentemente insignificante, reveste-se de importância porque significa que o Mundial de 2014 arrancará oficialmente. Claro que para o grande público o torneio em si só terá lugar em Junho de 2014. Mas até lá o mundo do futebol irá lutar até às últimas consequências para conseguir um bilhete milionário para o torneio. Há 32 vagas e 198 selecções que ambicionam participar (as selecções do Butão, Mauritânia, Guam e Brunei preferiram não inscrever-se). Claro que nenhuma delas estará amanhã em Trinidad.

O jogo significa que arranque a pré-eliminatória da fase de qualificação da CONCACAF, a confederação com a série de apuramento mais larga. Da qual resultarão apenas três participantes. O jogo de amanhã abre a série de pré-qualificação que seguirá durante os próximos dois meses entre as selecções que falharam o apuramento para a Golden Cup. A partir de 30 de Julho começa a segunda etapa da qualificação, já aberta a todas as confederações. CONCACAF, CAF e AFC contam com várias fases prévias até chegar à definitiva fase de grupos, a disputar entre o final de 2012 e todo o ano de 2013. A partir de Setembro de 2012 começam igualmente a jogar as selecções da UEFA, CONEMBOL e OFC. Só em Dezembro de 2013 serão conhecidos os 32 finalistas, 832 jogos depois.

 

Mas o ambiente não está para festas.

A FIFA nunca viveu dias tão negros e a percepção geral é que o organismo vive a maior crise de credibilidade da sua história. Desde a eleição de Sepp Blatter que os problemas se têm multiplicado. A compra de votos nas eleições presidenciais e votações para organizar o Campeonato do Mundo foram os temas mais debatidos nos Media. Mas havia muitos esqueletos guardados no armário do suiço que nos últimos anos têm visto a luz do dia. O escândalo financeiro da ISL, os contratos com as empresas Visa e Mastercard, a venda de bilhetes do organismo no mercado negro e os contratos televisivos foram, a pouco e pouco, deixando a nu todas as manobras que se cozem em Zurique à medida que as equipas vão disputando as eliminatórias de acesso ao torneio de maior apelo popular do mundo.

E no entanto os problemas de Blatter não se limitam à sua gestão presidencial. O seu "Mundial" no Brasil, uma aposta tão pessoal como a entrada no mercado asiático em 2002 ou a recompensa à fidelidade africana em 2010, está a dar-lhe mais dores de cabeça do que imaginava. A três anos de arrancar o torneio, Ricardo Teixeira, enteado de João Havelange, vice-presidente FIFA e eterno dono da CBF, continua sem ter uma estrutura organizativa hábil capaz de manejar os muitos problemas que lhe vão aparecendo. O mais grave de todos é a possível exclusão de São Paulo do torneio. A maior cidade da América Latina, sede de alguns dos clubes mais exitosos do Mundo, recusa-se a endividar-se para beneficio exclusivo da FIFA e o estado de deteriori em que sobrevivem alguns dos seus estádios mais emblemáticos pode significar que os paulistas terão de ver o seu Mundial através da rede Globo. Um problema de sensibilidade politica, de profundo endividamento autárquico e das guerras internas entre cariocas e paulistas dentro da própria CBF tem deixado o problema aumentar como uma bola de neve. Em vez de contribuir para o apaziguamento, tanto a FIFA como Ricardo Teixeira têm devotado os últimos meses a criticar a federação paulista e a sua eterna indecisão de avançar, ou não, para a construção de um novo estádio no estado. 

O problema de São Paulo é o mais mediático mas em nenhum outro estádio brasileiro as obras seguem de acordo com o previsto. E muitos têm encontrado sérios problemas de financiamento. E o pior nem está na construção dos recintos. Quinto maior país do mundo em extensão, o Mundial do Brasil depende fortemente da facilidade de deslocação de equipas, adeptos, imprensa, patrocinadores e directivos. E aí o drama é ainda mais significativo. A organização do certame já assumiu, de cabeça baixa, que a maior parte dos aeroportos não estarão preparados a tempo do torneio. E os que estejam funcionarão a meio gás. A revista Veja publicou no passado mês uma reportagem especial em que denuncia que só 7,5% das obras nas infra-estruturas estão completas e que a este ritmo o Brasil estará pronto para receber o Mundial...em 2038.

Entretanto o dinheiro investido pela FIFA e pelo governo de Dilma Roussef, que está pessoalmente empenhada em mudar o curso dos eventos, na organização começa a desaparecer e muitos olham já com severa suspeita para o próprio Ricardo Teixeira, homem já levado aos bancos dos tribunais várias vezes por desfalque financeiro com fundos do organismo que gere o futebol mundial. O Brasil há muito que solicitava o Mundial e Havelange e Teixeira forçaram Blatter a optar pelo país e assim romper com a habitual rotação de sedes entre a Europa e o resto do Mundo. Mas as suspeitas de que o país se iria transformar num possível pantanal para os interesses da organização (já para não falar do futebol em geral) começam a ganhar contornos de crua realidade. Não só o Brasil está muito atrasado para organizar um Mundial de alto nível como há uma série probabilidade de que não o consiga fazer dentro do prazo. O Mundial não estará em causa, mas a sua qualidade e o nome da FIFA sim.

Em Trinidad poucos se importarão com todos estes problemas, para eles o jogo de hoje é uma pequena festa que anuncia o Verão. O Belize é favorito, afinal o ranking da FIFA impõe uma significativa diferença de mais de 30 posições entre os centro-americanos e os homens de Montserrat, todos atletas amadores locais. Mas amanhã ninguém no mundo se importará com o resultado final ou sequer com o destino de ambos os países nesta corrida de loucos aos milhões e à glória que um Mundial oferece. A crueza do mundo do futebol é apenas um espelho da sociedade e enquanto Ricardo Teixeira e Sepp Blatter trocam emails preocupados, alguém em Trinidad estará feliz. Afinal, é através deles que o futebol, na sua vertente mais pura, sobrevive.


Categorias: , ,

publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:00 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Sexta-feira, 10 de Junho de 2011

André Villas-Boas transformou o ano desportivo num regresso ao futuro. A sua juventude, questionada ao principio, deixa antever um futuro brilhante para o técnico portuense. A forma como se instalou, confortavelmente, na cadeira dos seus sonhos, permitiu recuperar os sinais de identidade do passado. Com Villas-Boas ao leme o FC Porto voltou a ser rei de Portugal e da Europa, sob aplauso generalizado e admiração genuína. AVB tornou-se, por direito próprio, no treinador de moda do futebol europeu. E no Homem do Ano para o Em Jogo.

 

Aprendeu muito com Mourinho mas agradeceu a Guardiola a inspiração. E certamente não se esqueceu de beber um bom copo de vinho à saúde de Bobby Robson. Onde tudo começou. Para ele. E não só. No momento da consagração, André Villas-Boas podia sentir-se um homem completo. Logrou o inédito a uma idade precoce e no lugar onde sempre quis estar. Aí, sem dúvida alguma, traça um precioso paralelo com o treinador do Barcelona. Ambos voltam a casa, antes do tempo prevista, para ganhar tudo o que havia para ganhar e com uma filosofia e um estilo próprio que os afastam da figura em comum que os une, mas também, que os separa, José Mourinho.

Villas-Boas aprendeu do técnico sadino muito mas o seu talento precoce vinha já das suas conversas com Bobby Robson, dos seus relatórios adolescentes e das muitas horas perdidas a ver jogos atrás de jogos. Durante essas tardes, no velho estádio das Antas, sonhou com a cadeira de Pedroto, de Artur Jorge, de Ivic, Carlos Alberto...de Robson. Deu sempre passos mais longos que as pernas mas pensados ao mais minimo detalhe. E mesmo quando embarcou na cosmopolita viagem europeia com Mourinho nunca perdeu a Invicta de vista. Fez um desvio por Coimbra (por onde passaram também Pedroto e Artur Jorge) antes de aterrar no Dragão para por ordem na casa. Manteve os jogadores, mudou os principios. E ganhou a aposta. Em 365 dias mudou o rosto do futebol português. Os seus quatro titulos colocaram um ponto final na ambição do Benfica de emular algo que não consegue desde 1984, vencer dois titulos consecutivos. Numa especie de O Império Contra-Ataca, restaurou a normalidade na Liga Sagres com registos impensáveis na era moderna. 30 jogos, 27 vitórias, 3 empates, 73 golos marcados e 16 sofridos não caem do céu. Definem sim uma época.

 

O sucesso de Villas-Boas recai também na sua atitude.

Não é só um técnico que domina os distintos aspectos do jogo - do conhecimento táctico à gestão de balneário - mas é também um homem que sabe controlar todos os aspectos que rodeiam a vida do clube. Essa lição foi bem aprendida com Mourinho, o mentor de quem se afastou, e que soube colocar em prática durante todo o ano, tanto dentro como fora de portas. O sucesso interno do clube - em três provas, sempre à custa do Benfica - teve mais eco no futebol europeu pela caminhada vitoriosa até Dublin. Como sucedeu em 2003 os grandes da Europa ficaram prendados com o talento de gestão de um treinador mais novo do que o próprio capitão de equipa, mais novo ainda de que os precoces Mourinho e Guardiola, os dois rostos que comandam hoje em dia as hostes quando se fala em gestores de primeiro nível.

Villas-Boas não se limitou a bater recordes de precocidade. Definiu um estilo. Num FC Porto habituado nos últimos anos a um jogo temeroso, dependente em excesso do contrário ele manteve apenas o desenho táctico. Trocou os lançamentos rápidos pelo futebol pensado no miolo, recuperou principios da mistica azul e branca dos dias de Artur Jorge e a eterna fome de golos que fez parte dos ensinamentos de Bobby Robson. Uma equipa com tracção à frente mas com uma defesa segura e fiável. Uma equipa sem medo de ter a bola nos pés e com a clareza de mente suficiente para saber o que fazer com ela. E, sobretudo, uma equipa repleta de valores individuais imensos com uma forte dimensão colectiva. Esse espirito de pastor de homens - de que o Dragão estava orfão desde a debandada de Mourinho - significou um profundo regresso à filosofia do passada, cultivada desde a chegada do duo Pedroto-Pinto da Costa. Um FC Porto autoritário, ofensivo e profundamente carismático.

 

Não é casualidade que os grandes da Europa tenham o nome de AVB no topo das suas listas. Muitos lembram-se do que sucedeu da última vez que um jovem e desconhecido técnico despontou ao serviço dos dragões. Por muito que Villas-Boas se queixar distanciar dessa imagem, a verdade é que o jovem técnico já superou o registo ganhador do seu mentor e essa realidade está bem presente  tanto em Portugal como para lá da raia fronteiriça. O treinador tem possibilidades de emular o trajecto de Artur Jorge e José Mourinho mas há algo no seu caracter tripeiro que deixa antever que se prepara para inverter a tendência. Sente-se cómodo na sua cadeira de sonho e não vê motivos para sair. Já viu o Mundo uma vez agora quer que seja o Mundo a vê-lo a ele. Este ano conseguiu-o e transformou a cidade Invicta - com autorização de Barcelona, que vive ainda noutra dimensão - na capital do futebol europeu.  



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:47 | link do post | comentar

Quinta-feira, 9 de Junho de 2011

Um ano depois, Em Jogo volta a divulgar o nosso particular Top 10 de jogadores que marcaram a última temporada. Uma análise dos dez nomes mais marcantes que definiram o rumo das principais ligas e provas europeias. Um top baseado não só nas exibições mais estelar mas sobretudo na sua constância e evolução demonstrada desde o arranque da temporada, no passado mês de Agosto até ao passado mês de Maio. Uma lista, como não podia ser de outra forma, liderada pelo astro argentino Lionel Messi, o jogador mais influente de 2010/2011.

 

1. Lionel Messi

 

Aos 23 anos, Leo Messi sabe perfeitamente conjugar o verbo ganhar.

Depois de três Champions League (duas das quais onde foi determinante), cinco Ligas, 1 Taça, várias supertaças, 1 Mundial de Clubes e dois Ballon´s D´Or cabe perguntar como é que um jogador tão novo encontra motivação para melhorar de ano para ano. Os números de Messi, a sua precocidade, só encontram paralelo nos de Pelé, que à sua idade já tinha ganho dois Mundiais e várias provas nacionais e internacionais com o seu Santos. O argentino já meteu a velocidade de cruzeiro nessa corrida por entrar na história e o seu papel na definição do futebol contemporâneo está suficientemente documentada. Em 2010/11 conseguiu o impossível, melhorar. O seu posicionamento táctico na estratégia de Pep Guardiola como o falso nove que era quando chegou a La Masia ajudou a aperfeiçoar o seu estilo de jogo e deu-lhe de novo o protagonismo absoluto na época memorável dos blaugrana. As suas arrancadas, o jogo de tabela e a precisão do remate são já imagens de marca mas na época que finda Messi afirmou-se igualmente como um assistente de primeira. Perdeu a Bota de Ouro no seu duelo pessoal com Cristiano Ronaldo mas bateu-o claramente em assistências, o que o confirma, sobretudo, como uma dessas individualidades que aposta, sobretudo, no jogo colectivo. Com ele o modelo do Barcelona, com todo o seu academismo perfeccionista e geométrico, ganha esse toque de improvisação potrera que o torna ainda mais grande. Messi ajudou a decidir a Liga, levou a equipa às costas durante a reconquista europeia e agora só lhe falta fazer as pazes definitivas com o povo argentino. A Copa América, que arranca daqui a nada, será a ocasião perfeita. Cruyff, Di Stefano, Eusébio, Puskas, Baggio, van Basten, Platini e Zico não precisaram de um Mundial para entrar na história. Messi também não, digam o que disserem, ele já é a história!

 

2. Cristiano Ronaldo

 

A grande frustração de Cristiano Ronaldo chama-se Messi.

Se no mundo do faz de conta o argentino não existisse (ou pelo menos, não tivesse aterrado na realidade blaugrana), o português podia reclamar para si o titulo de melhor do mundo. Individualmente é um dos jogadores mais desequilibrantes das últimas décadas. Tem todas as condições para brilhar e a sua faceta goleadora, uma nova obsessão, marcou a letras de ouro a sua temporada passada. Cristiano Ronaldo marcou 41 golos na liga espanhola, 53 no total de todas as provas. Números espantosos para um jogador que nem joga como avançado mas que sabe que tem um esquema táctico desenhado à sua medida. O português conquistou a sua segunda Bota de Ouro (igualou Eusébio e Fernando Gomes como o português com mais vitórias no troféu) e marcou ainda o golo decisivo na final da Copa del Rey, a única ocasião em que o Real Madrid soube bater o Barcelona. Mas acabou por ter de viver à sombra da grande época blaugrana.

Se a sua veia goleadora reforçou o seu estatuto de estrela, a verdade é que a cada ano que passa, Cristiano Ronaldo torna-se um jogador cada vez mais individualista, num duelo contra o Mundo, contra a história e, forçosamente, contra Messi. Enquanto o argentino faz da associação colectiva a arma que potencia a sua individualidade, Ronaldo é a negação do jogo conjunto, apesar de ter encontrado em Ozil e Benzema parceiros dispostos a dar-lhe o ar que precisa. Assinatura pendente para o próximo e intenso ano em que se espera muito (e melhor) de um jogador que também já entrou na história do beautiful game.

 


 

3. Falcao

 

Bater o recorde de Jurgen Klinsmman não é tarefa para qualquer um. Não o digam a Falcao.

O colombiano do FC Porto é o avançado de moda do futebol europeu. E quem duvida disso? Depois de um primeiro ano de adaptação em que superou as expectativas, o ex-avançado do River Plate realizou a sua melhor época profissional ao serviço dos dragões de Villas-Boas e tornou-se na peça fundamental para o FC Porto conquistar um poker inédito no seu historial. Melhor marcador da Europe League (15 golos em tantos jogos), segundo melhor marcador da Liga Sagres, apesar da sua prolongada ausência por lesão, Falcao voltou a demonstrar o bom olho de Pinto da Costa para avançados com fome de golo e deixou os departamentos de observação de vários clubes de top a pensar como deixaram escapar tamaha pérola. Aos 24 anos o colombiano está em plena forma e será, sem dúvida, um dos grandes atractivos da próxima Copa America. O Dragão deverá começar a preparar-se para a despedida porque não é provável que os grandes da Europa o percam de vista no próximo ano.

 

4. Eden Hazard

 

Zidane já o tinha anunciado e quem segue a espantosa evolução do futebol belga não podia deixar de pensar o mesmo. Eden Hazard está chamado a fazer história. Aos 20 anos tornou-se no mais jovem jogador a ser eleito Jogador do Ano pela Ligue 1. Não é por menos. Depois de formar-se em Lens, tornou-se no patrão de jogo, alma e génio, do modesto Lille que rompeu com os prognósticos e sagrou-se campeão francês pela primeira vez em 56 anos. O talento criativo de Hazard relembra, mais do que o génio gaulês que o apadrinha, o estilo de jogo do dinamarquês Michael Laudrup. Rápido, ágil e com golo nos pés, o belga é igualmente o lider de uma geração que se propõe a recolocar o futebol belga no lugar de onde há muito está afastado. O Lille fará de tudo para o segurar com o atractivo da Champions League (um pouco como farão FC Porto e Dortmund com as suas estrelas), mas é fácil imaginar que muito brevemente a classe de Hazard esteja a desfilar pelos grandes palcos europeus.

 

5. Xavi Hernandez

 

Quando Xavi Hernandez recebe a bola, o Mundo pára. Na sua cabeça. Como um axedrezista sobredotado, o número 6 do Barcelona sabe antever todos os lances que irão suceder nos instantes seguintes. E molda-os a seu belo prazer. Ele é a base deste modelo de jogo que tanto encandila ao mundo. Se Messi traz o rasgo individual, Xavi pauta a coordenação colectiva. Herdeiro da filosofia cruyffiana, que começou com Milla para depois confiar-se a Guardiola, ele define o modelo de jogo. Recuado, lê nas entrelinhas, traça a régua e esquadro e depois contempla a sua criação. Se o futebol do Barcelona é milimétrico, estudado até à perfeição pelos aplicados alunos da Masia, Xavi é o professor catedrático por excelência. A cada jogo, um novo curso, um novo gesto de superioridade mental. Com Messi cada vez mais recuado, Xavi cedeu o protagonismo do último passe, recuou dez passos no terreno e aprendeu a controlar à distância. Mas continua a ser ele, e só ele, quem mantém a máquina blaugrana perfeitamente oleada.

 

6. Carlos Tevez

 

Na problemática realidade chamada Manchester City é dificil encontrar um elemento que consiga deixar para segundo plano os (muitos) milhões gastos para formar uma equipa campeã que continua sem ganhar o titulo da Premier. O argentino Tevez logrou com o City uma das suas melhores épocas e levou às costas o conjunto citizen ao apuramento directo para a Champions League, algo inédito na sua história. Apesar do investimento milionário em Balloteli, Dzeko, Silva, Touré e companhia, foi a raça do "Apache" e o seu espirito de liderança nos meses mais complicados da gestão de Mancini que mantiveram o clube nos lugares de topo da tabela classificativa. A sua saída do City of Manchester podia provocar mais um terramoto emocional num clube que gastou muito mas nunca tão bem num jogador como naquele que foi, sem dúvida, o homem mais em forma da última Premier League.

 

 

7. Jack Whilshire

 

Foi uma aparição estelar, mais uma na lista de lançamentos relampagos patrocinada por Arsene Wenger. Se em 2010 o jovem Whilshire já deixava sensações especiais, a sua época em Londres foi absolutamente memorável. Num ano em que, mais do que nunca, Cesc Fabregas passou ao lado dos grandes momentos, foi o jovem internacional inglês que emergiu como lider e figura de um Arsenal que esteve perto da glória mas que acabou, como tem sido habitual, mergulhado no desespero. A explosão de Whilshire chegou também aos Pross e ajudou Capello a decidir-se finalmente por outro modelo de jogo, bem distinto ao apresentado na África do Sul. No duelo contra o Barcelona viu-se o melhor de Whilshire, um miudo com a eternidade à sua espera.

 

8. Javier Pastore

 

Ver jogar a Pastore é um delicioso requinte que convida a constantes repetições. Com uma técnica sublime e o mapa mundi da filosofia de futebol menotiano na cabeça, Pastore foi o sol que brilhou na Sicilia durante a última temporada dando sentido a uma época convulsa e problemática do Palermo. Não surpreende que meio mundo suspire pelo talento cirúrgico do jovem argentino, apenas ultrapassado em mediatismo no seu país natal pelo fenómeno Messi. O genial médio tem todo o potencial para tornar-se num dos jogadores mais importantes da década e a forma como move o jogo, qual axadrezista de primeiro nível, permite imaginá-lo nas grandes noites europeias nos próximos anos. Poucos jogadores podem sonhar com um futuro tão promissor.

 

9. Nuri Sahin

 

Aos 16 anos já era a maior promessa do futebol de formação na Alemanha. Precisou de cinco anos para explodir verdadeiramente mas a sua evolução confirmou todas as boas sensações que deixou quando foi lançado às feras da primeira equipa em plena adolescência. Nuri Sahin foi a bússula do entusiasmante Borussia de Dortmund, o braço direito de Jurgen Klopp no terreno de jogo e o idolo do Westfallenstadion na época que significou uma profunda viragem na história do clube mitico da Vestfália. Menos vertical que o seu amigo Ozil, outras das precoces promessas alemãs que deu o salto recentemente, o estilo de jogo de Sahin é mais pausado mas não menos determinante. O jovem que preferiu alinhar pela Turquia dos seus pais do que pela Alemanha adoptiva terá no projecto de Mourinho em Madrid a dificil tarefa de ordenar a casa. Especialista em tranquilizar quando os demais se entusiasmam, Sahin terá um desafio à altura do seu talento precoce. Emular uma época como a que agora termina será o seu grande desafio.

 

10. Edison Cavani

 

Quando a cidade de Napoles começou a sonhar com os dias de glória de Diego Maradona, quando o titulo se tornou uma realidade, os napolitanos trocaram as suas rezas habituais ao “dios” argentino e viraram-se para um jovem profeta uruguaio que levava as bancadas do San Paolo à loucura. Edison Cavani confirmou todos os predicados que o acompanham desde os seus dias como jovem estrela do futebol uruguaio. Durante largos meses pareceu ser o hércules que os napolitanos necessitavam na sua luta contra os grandes do norte. E mesmo que no final da corrida o Napoli se tenha ficado “apenas” pelo terceiro lugar, a época de Cavani foi um dos grandes atractivos da Serie A 2010/11.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:40 | link do post | comentar | ver comentários (3)

Quarta-feira, 8 de Junho de 2011

 

Guarda Redes

Samir Handanovic

 

Não tem o carisma de Buffon nem a popularidade de Julio César, mas a época realizada pelo esloveno Samir Handanovic é uma das mais impactantes que a Serie A se recorda em muitos anos. Num país habituado à excelência dos seus guarda-redes, Handanovic sempre jogou com a suspeita de adeptos e rivais mas com o tempo tornou-se numa das figuras indiscutiveis da equipa de Guidolin. Igualou o recorde de penaltis parados numa só época (seis) com a frieza que o caracteriza e acabou por ser um dos guarda-redes menos batidos do ano, apenas batido por Abbiati.

 

Outros: Época de confirmação em Palermo para o jovem Salvatore Sirugu, um dos nomes mais fortes para o futuro da Azzura com a eminente retirada de Buffon. Já substituiu o mitico guardião no passado Mundial e depois de um ano ao mais alto nivel a sua mudança para um grande não está descartada. Em Napoli ressuscitou Morgan De Sanctis, grande promessa há meia dúzia de anos que passou desapercebido na sua estância em Sevilla e que se reencontrou com o futebol num ano para não esquecer à sombra do Vesuvio.

 

 

Defesas Laterais

Christian Maggio e Federico Balzaretti

 

Imenso na época surpreendente do Napoli, Christian Maggio foi um dos jogadores mais determinantes da última época. Fundamental no jogo de transição dos homens de Mazzari, Maggio assenhorou-se da ala direita, tornou-se no melhor sócio de Cavani e companhia no ataque e manteve-se seguro e fiável em tarefas defensivas. Um imenso salto de qualidade para o ex-jogador da Samdporia. Do outro lado da defesa trabalho superlativo de Federico Balzaretti que, aos 29 anos finalmente se consagrada como um dos grandes laterais do futebol europeu. Com Cassani formou duas alas demolidoras que ajudaram, e muito, a definir o estilo de jogo ofensivo do Palermo.

 

Outros: Mattia Cassani em Palermo e Maurico Isla ao serviço da Udinese foram dois dos jogadores mais regulares do torneio. O primeiro conseguiu finalmente chegar à azzura depois de realizar uma época superlativa ao serviço dos rosanero enquanto que o chileno foi um verdadeiro pesadelo no sector esquerdo do conjunto de Friuli. Por fim destaque especial para Sorensen, lateral direito da Juventus lançado por Del Neri e uma das revelações positivas do ano numa época para esquecer da Vechia Signora.

 

 

 

Defesas Centrais

Thiago Silva e André Dias

 

O titulo do AC Milan confirmou também a maturidade competitiva do brasileiro Thiago Silva. Aquele que há sete anos passou pela equipa B do FC Porto antes de rumar ao Dynamo Moscow graduou-se finalmente como lider da defesa rossonera. Foi o mais regular e determinante defesa dos campeões e ganhou também um lugar no eixo defensivo do escrete canarinho. Ao seu lado neste nosso onze outro brasileiro, André Dias, que ao serviço da AS Lazio confirmou todo o potencial que trazia desde a sua etapa no São Paulo. Uma época para relembrar do veterano central.

 

Outros: Continua o processo de maturação de Chiellini, erigido em novo lider espiritual da defesa da Juventus. O central cada vez mais assume o papel de herdeiro de Cannavaro e dentro dos erros individuais dos turineses, os seus foram uma imensa minoria. Em Friueli o colombiano Cristian Zapata foi um dos seguros de vida da Udinese, realizando uma época absolutamente espantosa e confirmando o olho de Guidolin para lançar jogadores desconheciso. Por fim, Walter Samuel continuou a demonstrar em Milão que é um dos duros do jogo, mas foi também a sua fortaleza psicológica que ajudou o Inter a encetar a sua quase milagrosa recuperação.

 

 

Médios

Danielle De Rossi, Antonio Nocerino e Javier Pastore

 

A dupla do miolo do Palermo, composta pelo italiano Antonio Nocerino e o argentino Javier Pastore, foi um dos grandes aliciantes da temporada. Nocerino explodiu finalmente depois de épocas perdidas entre Genoa e Juventus. Na Sicilia transformou-se no patrão de jogo que o Palermo necessitava e a sua associação com o superlativo Pastore foi determinante para a boa época dos insulares. Pastore, por outro lado, foi um dos nomes individuais próprios do torneio. O argentino é indiscutivelmente um dos melhores do mundo no seu posto e a titulo individual talvez só Alexis Sanchez e Edison Cavani tenham estado à sua altura na competição de este ano. Também em grande esteve o vice-capitão da AS Roma, Daniele De Rossi. Já não é novidade, mas De Rossi foi fundamental na recuperação dos romanos face à habitual intermitência de Totti à frente do conjunto da capital. Uma excelente temporada.

 

Outros: Parte da solidez defensiva do Napoli de Mazzari passou pelo trabalho de Walter Gargano. O uruguaio foi pedra angular na estratégia de jogo dos napolitanos, soltando Marek Hamsik – outro dos nomes próprios do ano - na transição ofensiva enquanto cobria as habituais subidas de Maggio. Em Parma a grande estrela jovem do Calcio, Sebastian Giovinco voltou a fazer das suas. Destroçou a “sua” Juventus e voltou a demonstrar aos mais cépticos que é um nome com um futuro tremendo. Por fim uma palavra para Kevin-Price Boateng. O titulo do AC Milan começou a ganhar forma quando Allegri apostou, definitivamente, no ganês como trequartistas rossonero, dando equlibrio e tranquilidade a uma equipa até então demasiado partida em dois.

 

 

Avançados

Edison Cavani, Antonio Di Natale e Alexis Sanchez

 

Tridente de luxo que define bem o poder dos clubes mais pequenos em recrutar jogadores de grande classe que passam debaixo do radar dos grandes da prova. O Napoli apostou forte em Edison Cavani e ganhou a aposta com juros. Juntamente com Hamski e Lavezzi, o uruguaio explodiu como goleador e homem chave na corrida dos napolitanos a um scudetto que acabou por não suceder. Foi um dos melhores marcadores do torneio, sobretudo com golos chave que mantiveram vivo o sonho do titulo até bem perto do fim da época. Também com bilhete para a Champions, a Udinese contou com um duo espantoso no ataque. O italiano Di Natale voltou a confirmar-se como um goleador nato, vencendo o prémio de Capocanonieri com 28 golos, apesar dos seus já 33 anos. Ao seu lado o jovem chileno Alexis Sanchez foi o parceiro perfeito desta dupla, tanto pelos golos como pelas assistências, transformando-se num dos nomes mais cobiçados do futebol mundial. Certamente que será uma baixa de luxo para a campanha do próximo ano em Friuli.

 

Outros: Solto dos espartilhos tácticos de José Mourinho, o camaronês Samuel Etoo foi mais decisivo do que nunca ao serviço do Inter. Durante largos meses marcou com espantosa regularidade e face às lesões de Milito e Pandev, emergiu como o único dianteiro dos neruazurri. Com a chegada de Pazzini, autor de uma boa primeira volta com a despromovida Sampdoria, perdeu em protagonismo e espaço que o italiano aproveitou para conseguir marcar algumas gestas impensáveis. Destaque também para Alessandro Matri que saltou do Cagliari para a Juventus sem deixar de fazer o que melhor sabe, marcar.

 

 

 

Treinador

Walter Mazzari

 

Pegar numa equipa tão modesta como o Napoli e fazer dela candidata ao titulo é algo quase impensável para a maioria dos técnicos. Mas Walter Mazzari superou as expectativas e confirmou o que já deixava antever desde os seus dias como técnico da Sampdoria. Ele é, provavelmente, um dos mais completos técnicos italianos e a forma como montou o esquema de jogo do Napoli, num falso 3-5-2, com Cavani e Lavezzi como elementos mais adiantados e Hamsik como pensador de jogo, surpreendeu pela agressividade do planteamento. Mazzari desafiou os grandes de Milão como nenhum clube modesto foi capaz nos últimos 20 anos e tarde ou cedo será campeão, possivelmente ao leme daqueles que esteve perto de bater.

 

Outros: Primeiro ano no banco do AC Milan e primeiro titulo. Massimiliano Allegri foi uma das revelações da época passada ao serviço do Cagliari e com um Milan montado e reestruturado em detalhe não teve grandes problemas em conquistar o scudetto. Mesmo assim ficou a sensação de que Allegri poderia ter sido campeão com mais solvência se tivesse apostado, desde o inicio, por um esquema de jogo mais coerente e menos mediático. Grande época a realizada por Francesco Guidolin que conseguiu o êxito histórico de qualificar a Udinese para a prévia da Champions League. Fica o aviso do que sucedeu à Sampdoria mas é de esperar que o técnico mantenha as suas grandes armas, com a inevitável excepção de Sanchez. No outro extremo de Itália, nota mais para Delio Rossi. Apesar de ter sido despedido em Fevereiro – inexplicavelmente – o técnico acabou por ser “recontratado” dois meses depois para garantir um final de época tranquila a uma das equipas que melhor joga em Itália, o Palermo de Pastore e companhia.

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:27 | link do post | comentar | ver comentários (3)

.O Autor

Miguel Lourenço Pereira

Novembro 2014
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
12
13
14
15

16
17
18
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30


Ultimas Actualizações

Toni Kroos, el Maestro In...

Portugal, começar de novo...

O circo português

Porta de entrada a outro ...

Os génios malditos alemãe...

Últimos Comentários
Thank you for some other informative web site. Whe...
Só espero que os Merengues consigam levar a melhor...
O Universo do Desporto é um projeto com quase cinc...
ManostaxxGerador Automatico de ideias para topicos...
ManostaxxSaiba onde estão os seus filhos, esposo/a...
Posts mais comentados
69 comentários
64 comentários
47 comentários
arquivos

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

.Em Destaque


UEFA Champions League

UEFA Europe League

Liga Sagres

Premier League

La Liga

Serie A

Bundesliga

Ligue 1
.Do Autor
Cinema
.Blogs Futebol
4-4-2
4-3-3
Brigada Azul
Busca Talentos
Catenaccio
Descubre Promesas
Desporto e Lazer Online
El Enganche
El Fichaje Estrella
Finta e Remate
Futebol Artte
Futebolar
Futebolês
Futebol Finance
Futebol PT
Futebol Total
Jogo de Área
Jogo Directo
Las Claves de Johan Cruyff
Lateral Esquerdo
Livre Indirecto
Ojeador Internacional
Olheiros.net
Olheiros Ao Serviço
O Mais Credível
Perlas del Futbol
Planeta de Futebol
Portistas de Bancada
Porto em Formação
Primeiro Toque
Reflexão Portista
Relvado
Treinador de Futebol
Ze do Boné
Zero Zero

Outros Blogs...

A Flauta Mágica
A Cidade Surpreendente
Avesso dos Ponteiros
Despertar da Mente
E Deus Criou a Mulher
Renovar o Porto
My SenSeS
.Futebol Nacional

ORGANISMOS
Federeção Portuguesa Futebol
APAF
ANTF
Sindicato Jogadores

CLUBES
Futebol Clube do Porto
Sporting CP
SL Benfica
SC Braga
Nacional Madeira
Maritimo SC
Vitória SC
Leixões
Vitoria Setúbal
Paços de Ferreira
União de Leiria
Olhanense
Académica Coimbra
Belenenses
Naval 1 de Maio
Rio Ave
.Imprensa

IMPRENSA PORTUGUESA DESPORTIVA
O Jogo
A Bola
Record
Infordesporto
Mais Futebol

IMPRENSA PORTUGUESA GENERALISTA
Publico
Jornal de Noticias
Diario de Noticias

TV PORTUGUESA
RTP
SIC
TVI
Sport TV
Golo TV

RADIOS PORTUGUESAS
TSF
Rádio Renascença
Antena 1


INGLATERRA
Times
Evening Standard
World Soccer
BBC
Sky News
ITV
Manchester United Live Stream

FRANÇA
France Football
Onze
L´Equipe
Le Monde
Liberation

ITALIA
Gazzeta dello Sport
Corriere dello Sport

ESPANHA
Marca
As
Mundo Deportivo
Sport
El Mundo
El Pais
La Vanguardia
Don Balon

ALEMANHA
Kicker

BRASIL
Globo
Gazeta Esportiva
Categorias

a gloriosa era dos managers

a historia dos mundiais

adeptos

africa

alemanha

america do sul

analise

argentina

artistas

balon d´or

barcelona

bayern munchen

biografias

bota de ouro

braga

brasileirão

bundesliga

calcio

can

champions league

colaboraçoes

copa america

corrupção

curiosidades

defesas

dinamarca

economia

em jogo

entrevistas

equipamentos

eredevise

espanha

euro 2008

euro 2012

euro sub21

euro2016

europe league

europeus

extremos

fc porto

fifa

fifa award

finanças

formação

futebol internacional

futebol magazine

futebol nacional

futebol portugues

goleadores

guarda-redes

historia

historicos

jovens promessas

la liga

liga belga

liga escocesa

liga espanhola

liga europa

liga sagres

liga ucraniana

liga vitalis

ligas europeias

ligue 1

livros

manchester united

medios

mercado

mundiais

mundial 2010

mundial 2014

mundial 2018/2022

mundial de clubes

mundial sub-20

noites europeias

nostalgia

obituário

onze do ano

opinião

polemica

politica

portugal

premier league

premios

real madrid

santuários

seleção

selecções

serie a

sl benfica

sociedade

south africa stop

sporting

taça confederações

taça portugal

taça uefa

tactica

treinadores

treino

ucrania

uefa

todas as tags

subscrever feeds