Terça-feira, 30 de Novembro de 2010

Não é por acaso que o Real Madrid tem sentido cada vez mais dificuldades em jogar no Camp Nou. Neste tipo de duelos, em que a camisola se sente com paixão, é fundamental ter uma equipa mentalmente preparada. A táctica funciona muito pouco se não a acompanha a atitude. Barcelona e Real Madrid apresentaram o seu desenho e o seu onze de gala (salvo Higuain, por lesão). Mas diferenciaram-se totalmente no empenho que puseram no terreno do jogo. Aí, como no resultado final, a diferença foi abismal. Os números, inevitáveis.

Quando uma equipa tem oito jogadores formados desde pequenos no seu centro de formação, jogadores que sentem a camisola até ao tutano, é de esperar que num duelo como este dêm tudo por tudo.

Este Barcelona pode perder com o modesto Hércules numa tarde de despistes mas contra o eterno rival ninguém admite a minima falha. Mais do que o talento inato desta inesquecível geração blaugrana, o tapete molhado do Camp Nou sentiu a diferença do pisar com querer dos catalães contra as amedrontadas hostes merengues. Mourinho nunca ganhou no terreno do seu rival particular. Também nunca tinha sofrido tanto. Para ele, e para os mais cínicos, o jogo foi um duelo desigual. Um David contra Golias sem happy-ending. Não havia nada a fazer. A impotência do luso no banco, sem alternativas para mudar o rosto a um conjunto desfigurado, dictou o volume do resultado. O conjunto da capital espanhola chegou ao intervalo a perder 2-0, mas com uma leve reação. Voltou ainda mais descrente e descaracterizado e postulou-se diante de um pelotão de fuzilamento sem piedade. A morte foi agónica e lenta. Durou 90 minutos certos. Enquanto os cristãos caíam sob os golpes de gladiadores sedentos de sangue, a galeria aplaudia como nunca. Era a sua noite.

Xavi Hernandez, Andrés Iniesta, Pedro Rodriguez, Sergi Busquets e Leo Messi. O quinteto da Masia definiu o ritmo e espirito do jogo com uma mobilidade inalcançável por quem encarou o encontro com um desleixo pouco comum nas equipas de Mourinho. O técnico português quis usar o seu sistema habitual no desenho, mas no terreno o posicionamento foi bem diferente. O 4-2-3-1, com Marcelo muitas vezes a tornar-se num terceiro interior, desapareceu com o primeiro suspiro. Di Maria foi forçado por Dani Alves a actuar de falso defesa esquerdo (mas não tem o caracter de Etoo para o lograr com mestria) enquanto que Cristiano Ronaldo e Karim Benzema estavam isolados num oceano de jogadores azulgrana que controlaram sempre com a precisão de um relógio suiço as movimentações ofensivas dos merengues. Com o progressivo desaparecimento de Mezut Ozil, que continua a não aparecer nos jogos importantes (como em Bremen e como na semi-final da África do Sul), a equipa branca quebrou-se num 7-3 desorientado, perdido, knockeado. Os golos foram apenas a conclusão de um grave problema de posicionamento e atitude. Os catalães trocavam a bola com naturalidade, sem pressão, e tinham tempo para ler, pensar e executar com mestria. Os cinco golos surgiram assim, de lances ponderados e executados com precisão e aproveitando os erros posicionais dos rivais.

 

Guardiola venceu o duelo de xadrez sem inovar ou mexer nenhuma peça. Mantendo-se igual a si mesmo.

Todos os golos que não entraram contra o Inter em Maio chegaram ontem às redes de Casillas. A diferença não está tanto em Mourinho, que teve uma abordagem similar a ambos os encontros, mas sim na atitude dos jogadores. Se os cracks do Barcelona são de outra galáxia, Xavi Hernandez mais maestro do que nunca, a maturidade e garra dos neruazurri é ainda uma ilusão para um conjunto madrileño sem eira nem beira. Uma equipa demasiado jovem (Marcelo, Khedira, Ozil, Benzema, Di Maria), ou demasiado displicente (Ramos, Pepe, Xabi Alonso, Cristiano) acaba por ser presa fácil de um predador nato como é o conjunto azulgrana. Guardiola manteve-s fiel à filosofia cruyffiana e jogou como sabe, ao ataque declarado, mas controlando sempre os espaços. Busquets, Pique, Xavi e Iniesta cercaram o meio-campo do Madrid. E asfixiaram-no lentamente. Messi deambulava pelo centro, arrastando consigo marcações e ritmo de jogo e abriu o jogo para as penetrações letais de Pedro e Villa. O erro do Madrid foi querer jogar num campo curto quando o Barça aproveitou ao máximo cada centimetro do relvado imenso do Camp Nou. Villa e Pedro partiam sempre, encostados às linhas, enquanto o quarteto defensivo do rival actuava muito junto, basculando de um lado ao outro, deixando sempre um sector lateral sem marcação. E quando o rival tem passadores do nível de Iniesta, Xavi e Messi, está tudo dito. Os dois primeiros golos resultaram da paciência do futebol de toque blaugrana. O primeiro conclui-o Xavi, com destreza. O segundo foi apontado por Pedro. Em ambos os casos Marcelo, o pior da defesa do Madrid, viu-se superado pela velocidade do jogo rival. Os golos de Villa, já na segunda parte, significaram o culminar do oportunismo posicional dos jogadores azulgrana. No limite do fora de jogo, com uma defesa mal posicionada, o avançado asturiano beneficiou de duas assistências magistrais de um Leo Messi mais centrocampista do que nunca. O argentino não marcou (apesar do primoroso gesto técnico nos instantes iniciais), mas foi determinante no centro do terreno de jogo. Puxou e encurtou a defesa rival para si e abriu espaço para os demais. Tudo aquilo que Cristiano Ronaldo, que continua a desaparecer nos jogos a sério, foi incapaz de fazer. Messi tem-no mais fácil, joga numa equipa feita e pensada à sua medida, com a mesma filosofia e modelo de jogo. A Ronaldo faltam parceiros de baile. Tinha-os em Old Trafford e a cada dia que passa paga o preço de ter abandonado uma equipa feita à sua medida por querer jogar num clube que já foi o da moda mas que agora é mais um entre tantos. Ao português para ser Di Stefano separam-no 60 anos. Hoje, para ser estrela global, ser admirado e respeitado, é preciso ser-se jogador do clube azulgrana como sucedeu ao revés com o argentino nos anos 50. CR7 ainda não entendeu o seu erro e a inevitabilidade do mesmo, algo que o próprio Zidane sofreu na pele com a comparação directa com Ronaldinho no ocaso da sua carreira. E assim, uma vez mais, a força e o querer do português são algo insignificante quando do outro lado está uma escola de dança da qualidade dos blaugrana. Nem o penalty por assinalar, nem o teatro do bom, primeiro de Guardiola (indisculpável e desnecessária atitude) e depois de Messi, borraram a exibição perfeita, culminada com o golo de Jeffren, depois de mais um lance largo onde Sérgio Ramos, desastrado como quase sempre, desistiu do lance para depois procurar a cara de Puyol e as pernas de Messi. Era mais fácil.

 

A diferença de dois projectos futebolisticos paralelos mas em estádios de evolução bem distintos ficou patente. Não é de 5-0, todos sabem-no bem. Mas é ainda imensa. O Barcelona de hoje é o culminar do Barcelona que arrancou em 1988 e que há 20 anos que tem recuperado o atraso histórico com respeito ao eterno rival em titulos, prestigio e qualidade de jogo. Producto de uma filosofia própria que funciona e vive a sua idade de ouro e que merece todos os elogios do mundo. É a equipa dos estetas, dos amantes do futebol de toque e da precisão. Do outro lado Mourinho chegou com a pressão dos resultados e a necessidade de resgatar da depressão um histórico que há muito vive do passado glorioso. É uma equipa jovem com grande margem de progressão mas a que lhe faltam os veteranos e o caracter que habitualmente imprimem os conjuntos do português que terá de se medir com o rival ideal. Em Inglaterra Mourinho derrotou o "Invencible" Arsenal, já na sua fase descendente e em Itália não teve real competição. O mano a mano com o Barcelona só terminará em Maio e o português sabe até que pode perder os dois jogos e mesmo assim ser campeão. É o seu objectivo pessoal mas não o dos adeptos e da direcção merengue, assombrados pelo jogo do rival, que procuram algo mais. Talvez seja justo conceder que, agora mesmo, esse algo mais é demasiado utópico. Não se pode resolver em cinco meses uma equação para a qual o rival demorou 20 anos a encontrar a resposta. O Madrid de Mourinho, como o dos anteriores técnicos, paga o preço de uma ausência de politica desportiva em prol do marketing. Pode vencer no final, como venceu Schuster, Capello ou Del Bosque, mas o Mundo já sabe por quem se vai decantar. E essa, mais do que a goleada de ontem, é a grande vitória do Barça. Ser a equipa global de hoje como o rival foi nos anos 50. Sem contestação! 



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Segunda-feira, 29 de Novembro de 2010

Com todos os focos colocados num duelo que parece deslocado do calendário, numa gélida segunda-feira, há palpites e apostas para todos os gostos. Mas, como é hábito, Mourinho volta a ter razão. Longe do excitamento que provoca um duelo a eliminar, este confronto ligueiro pouco deixa antecipar sobre o final da liga. Afinal, passe o que passar, amanhã é sempre terça-feira...

Vendam-no como quiserem (Guardiola vs Mourinho, Messi vs Ronaldo, Valdés vs Casillas, cantera vs milhões, Catalunha vs Espanha, etc...).

Não há nunca um pretexto suficiente para escapar ao ritmo vertiginoso de um "Clásico" à espanhola. O duelo mais mediático da história do futebol arranca hoje com as vistas postas em Maio. Falta muito, demasiado talvez, mais de 25 jogos. E no entanto todos olham para o primeiro encontro entre o Real Madrid de José Mourinho, líder e invicta, com o Barcelona de Josep Guardiola, perseguidor directo e favorito da critica e público, como se fosse o fim do Mundo. Porque nestes confrontos mediáticos o que importa mesmo é a fatalidade dos duelos, o ritmo dos vencedores e o desalento dos vencidos. Um empate, resultado sensaborão, agradára mais aos técnicos do que à imprensa. Mourinho quer sair do Camp Nou invicto, líder e com a moral alta. Para isso não precisa de ganhar, apesar de ser um tónico único para um projecto que funciona de forma acelerada face ao previsto. O empate seria uma demonstração de igualdade impensável para muitos desde o arranque da sua aventura. Significava manter-se, uma semana mais, líder. E manter-se, uma semana mais, invencivel. Calculista como poucos, o portugês sabe que nesta liga espanhola tão bipolar, perder pontos é algo muito menos comum do que sucede em Inglaterra ou Itália. E por isso os duelos directos contam, e muito. No ano transacto o Real Madrid perdeu o titulo por 4 pontos porque perdeu os dois duelos com o rival de Barcelona. Equação simples portanto para o português resolver. Não perder é tão importante como ganhar. Porque amanhã é terça-feira e há tempo para recuperar (pelo menos um clássico para recuperar lá para Março).

 

Do outro lado da barricada o stress começa a deixar sequelas na imaculada equipa de Josep Guardiola.

Este Barcelona perdeu a eficácia e estética da equipa do primeiro ano de Pep e nota-se mais cansada do que na época transacta. Também é verdade que apresenta números imelhoráveis e está a apenas um ponto da liderança. Tal como há um ano, liderança ganha para não voltar a ser perdida num duelo contra o próprio Madrid. Valeu um golo tardio de Zlatan Ibrahimovic que hoje não está. Messi liderará o ataque contra um técnico a quem nunca marcou. Villa e Pedro seriam a aposta mais ofensiva, Iniesta e Villa a mais provável. Para asfixiar o meio-campo rival, Guardiola pode deixar espaço a Keita para ajudar Xavi no trabalho sujo e permitir a Busquets uma marcação mais cerrada a Ozil, o artifice do conjunto madrileño que oscila entre noites perfeitas e apagões inexplicáveis. Secar Ozil para o Madrid é quase tão grave como secar Xavi para o Barça. Aí movem-se as principais peças do jogo apesar dos médios concentrarem-se, uma vez mais, no duelo Messi e Cristiano, os dois rivais eternos por tudo o que é prémio individual, por muito que tentem não aparentá-lo.

Guardiola tem de ganhar porque isso significa dar um murro na mesa, recuperar a liderança e por o Madrid intocável em sentido. Se há um ano a equipa merengue já tinha vivido o "alconcornazo", o sofrimento na Champions e a primeira derrota na Liga, este ano a equipa do português transpira a confiança que o Barça quer para si. Vencer é defender o status quo. Empatar é o mal menor de não cair em casa com o eterno rival e manter as distâncias sabendo sempre que o Real Madrid ainda tem de defrontar os grandes da comunidade Valenciana e que há outro duelo, no Bernabeu, no mês de todas decisões. Por muito que a imprensa queira vender, também em Can Barça, o fim do Mundo, Pep sabe melhor que ninguém que ao contrário do duelo contra o Inter, onde foi subjugado até à medula pela estratégia de Mourinho, agora a margem de manobra é infinitamente maior. E que todos perderão pontos. Poucos, é certo, mas pontos perdidos ao fim e ao cabo. Que podem valer mais do que um duelo, cara a cara.

 

A história ensinou-nos que o Barça-Madrid é mais do que um jogo. Uma luta histórica entre filosofias, culturas, nações e mentalidades bem distintas. À parte do aspecto sócio-cultural, o caracter desportivo do confronto teve os seus altos e baixos. Este ano viverá, provavelmente, um dos seus pontos mais altos. A melhor equipa do Mundo contra a grande rival para usurpar-lhe o título em questão. Os melhores do Planeta nas suas posições (Casillas-Valdés, Marcelo-Alves, Pique-Pepe, Carvalho-Puyol, Xavi-Ozil, Ronaldo-Messi), onze campeões do Mundo em titulo, os últimos dois Ballon´s D´Or e os técnicos que fazem com que valha a pena deixar de lado as estrelas para concentarmo-nos nos cadernos de notas. Apetecível sem dúvida. Mas amanhã será sempre terça-feira.



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Quinta-feira, 25 de Novembro de 2010

De candidatos ao titulo a eliminados pela porta pequena. Uma campanha europeia para esquecer para um conjunto com muitas ambições mas sem qualquer capacidade de competir directamente contra rivais da mesma divisão europeia. A presença europeia do Benfica na Champions League resume-se a mais uma desilusão destroçando os sonhos de um clube que pensava ter encontrado o caminho mais rápido para ressuscitar.

Na Galileia a esperança era muita mas o milagre foi mesmo dos locais. Talvez homens de fé ao contrário dos discipulos, cada vez mais descrentes num Jesus que prometeu o Paraíso mas que está a mostrar-se incapaz de esquivar os enganos do Purgatório. Se o técnico encarnado prometia lutar pela maior prova europeia até ao final, relembrando que o Benfica da época passada só tinha o Barcelona como rival em qualidade de jogo, a verdade é que esta foi mais uma promessa vã. Sem hipóteses de repetir o titulo nacional, goleados pelo rival directo e sem os milhões que garantem os Oitavos de Final da Champions League a época começa a complicar-se em demasia para o conjunto da Luz.

A derrota em Tel-Aviv foi esclarecedora. O Hapoel local não precisou de ter mais posse de bola ou de ser melhor. Bastou com ser eficaz, palavra eliminada do vocabulário encarnado há demasiado tempo. Foram três golos sem resposta, resultados de falhos clamorosos do sector defensivo lisboeta, que condenam definitivamente o Benfica a penar um ano mais pela Europe League. Isto se o Hapoel não continuar na senda dos milagres galileios.

A equipa israelita, com um imenso Eneyema nas redes, pode ainda ambicionar ao terceiro lugar, mas preciso de muita ajuda à mistura. Ao Benfica cabe assegurar a honra de cair de pé, em casa, frente a um estádio que nunca se emocionou este ano com os seus. Contra os alemães do Schalke 04, renascidos ontem contra o Lyon e actuais lideres do grupo, um ponto pode até nem ser necessário. Mas uma nova imagem é fundamental para que o ano da reconquista da liga não termine num pesadelo sem fim. Jesus começa a perder o crédito, demasiado depressa para quem augurava o início de uma nova era.

 

Da equipa da época passada já não sobra nada. Nem espirito, nem velocidade, nem disciplina.

O Benfica em Tel-Aviv foi manso, inofensivo e medroso. Incapaz de apertar, ineficaz na hora de rematar, viu o conjunto rival controlar os acontecimentos e matar, em três estocadas, o sonho milionário. Zahavi e Douglas foram os autores dos golpes mortais mas em qualquer caso grande parte da culpa pode ser atribuida à defesa encarnada, passiva e permissiva, algo inadmissível a este nivel. Parece que há algo no onze encarnado que não se adapta ao ritmo de alta competição da maior prova europeia. A permissividade em casa frente ao Lyon que permitiu aos franceses passar de um claro 4-0 a um apertado 4-3. Os falhanços em Lyon, Gelsenkirchen e Tel-Aviv. E a incapacidade de poder gerir as oportunidades no duelo com os israelitas no encontro inaugural são demasiados sintomas para preocupar o técnico encarnado.

Jorge Jesus cometeu o pecado da soberbia e prometeu mais do que seria capaz de cumprir. Prometeu um novo ciclo interno e sofreu, em dez jogos, um severo correctivo por parte do rival portuense. Ambicionou devolver o clube à glória europeia (o Benfica não está numa final europeia desde 1990) e sai pela porta minuscula ruma a uma Europe League onde já o ano passado desiludiu no único jogo a doer (e contra o mais débil Liverpool da década). E as suas apostas mais pessoais, os argentinos Jara e Gaitán, são incapazes de fazer esquecer os seus antecessores. Se a isso justamos os ajustes tácticos que retiraram a qualidade de punch que apresentava o 4-4-2 da época passado e temos grande parte das respostas aos problemas encarnados. Cair na Europa não é grave a não ser que os objectivos proclamados sejam irrealistas. O ritmo baixo do campeonato luso deu a entender, na época passada, que a equipa encarnada jogava a alta rotação. A performance deste ano confirma que um campeonato tão débil como o luso pode perfeitamente enganar. E se o Braga lá cometeu a gesta, previsivelmente insuficiente, de vergar um Arsenal inconstante e arrogante, a verdade é que, ano após ano, se confirma que os projectos desportivos lusos têm cada vez mais dificuldade em sobreviver na mais alta roda europeia. O Benfica apenas confirmou a regra, a que o FC Porto tem sido a mais recorrente excepção.

 

Com o sonho da Champions pelo chão e a liderança da liga a dez pontos (que tecnicamente até são onze), a época parece que se eterniza na Luz. Lutar pelas duas taças é o objectivo mais natural mas que pouco tem a ver com a politica de crescimento e consolidação defendida durante todo o defeso. Um projecto com um imenso ponto de interrogação que pode tornar-se ainda mais complexo de resolver caso as previsiveis saídas dos activos mais valiosos no próximo defeso abram um buraco ainda maior para uma direcção deficitária e um técnico descreditado taparem. Um final de ano de pesadelo para um ano que arrancou dourado.



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Terça-feira, 23 de Novembro de 2010

Longínquo vai o dia em que um jovem Zinedine Zidane passeou o seu precoce talento contra o histórico Salgueiral. Vinte anos depois o Salgueiros continua submergido numa crise sem fim à vista. Perdeu o técnico e a possibilidade de abandonar os escalões regionais. Mas não perdeu a esperança. A "Alma Salgueirista" há muito que está carpida no sofrimento.

Os mais nostálgicos lembram-se da noite em que os franceses do Cannes foram derrotados por uma bola a zero no velho Estádio do Bessa (o saudoso Engenheiro Vidal Pinheiro não tinha para a UEFA condições para albergar o jogo).

Um resultado que não permitiria ao histórico Salgueiros ultrapassar uma eliminação precoce naquela que foi a sua única presença numa prova europeia. Na equipa contrária começava a dar de si um jovem de 19 anos, Zinedine Zidane, que anos mais tarde havia de ser o melhor do Mundo. Mas quem o poder adivinhar? Do outro lado lutava a legião de honra do clube mais popular da cidade Invicta, clube dos mais pobres e desfavorecidos face ao elitismo dos vizinhos da Boavista e das Antas. O trabalho de Pedro, Abilio e companhia não foi suficiente para travar os gauleses. Mas honrou o espirito lutador de um clube pequeno que passou a sua vida a lutar entre a subida e descida de divisão dos principais escalões do futebol luso.

Hoje, vinte anos depois, o Sport Comércio e Salgueiros já nem existe nas provas competitivas. No seu lugar, por culpa das dividas acumuladas pela megalómana gestão de José António Linhares, o clube compete com um novo nome- Salgueiros 08 - nos campeonatos distritais do Porto. Teve de começar do zero como se atrás não houvesse um passado centenário, uma massa adepta fiel e um coração que sofre.

O projecto Salgueiros 08 demorou a gestar-se, enquanto que o histórico "Salgueiral" definhava. Quando arrancou foi retumbante. Subiu em três anos os escalões mais baixos do futebol portuense, lutando contra rivais que nunca disputaram um só jogo nos estádios grandes de Portugal. Até este ano. Estancado na Divisão de Honra da AFP, o objectivo de subir finalmente aos campeonatos nacionais (III Divisão) está já comprometido, com menos de metade da prova cumprida. O técnico, uma velha glória do clube, Renato Assunção (ex-jogador também de Sporting e União de Leiria e irmão do notável cronista desportivo do jornal Público, Manuel Assunção) abandonou o projecto. Tinha rendido o histórico capitão Pedro Reis, arquitecto da dupla promoção dos encarnados. E deixa um cenário complicado de gerir, com o espectro da despromoção demasiado presente.

 

Este Salgueiros é um clube profissional num mundo amador. Mas sem dinheiro nem os mais profissionais dos amadores resistem.

O conjunto que compete na prova da AFP com equipas do Grande Porto (incluido o Felgueiras, que também passou pela I Divisão a meados dos 90) está agora no 15 posto, a três apenas da despromoção. E com menos 20 que o líder incontestado, o Infesta. Na última ronda, num relvado pelado, frente ao modestíssimo Vilarinho, a equipa salgueirista esteve a ganhar 2-0. Em quinze minutos deixou-se bater por um rival que luta para não descer. Golpe demasiado duro para um projecto que ambiciona estacionar num prazo de quatro anos na II Liga, de onde caiu há cinco anos por não ter condições financeiras para suportar os pagos que levaram à penhora de quase tudo o que tinha a ver com o clube.

Vendidos os terrenos do Vidal Pinheiro (estádio histórico do futebol luso hoje transformado em paragem de metro) e com o delirante projecto do recinto de Arca d`Água no papel, a equipa joga em terrenos emprestados na área metropolitana portuense. Sem casa, sem profissionais a corpo inteiro mas com alma, assim segue a luta.

Com a subida à III Divisão quase hipotecada, o esforço da direcção passa por garantir, pelo menos, a manutenção. Perder um ano mais entre descidas e subidas é algo que este projecto não consegue suportar. A fuga em frente para sofrer um abrandamento, nunca uma travagem em seco. Lembrando-se do que sucedeu ao Boavista, velho rival com quem disputou imensas lutas no Bessa e Vidal Pinheiro desde os anos 50, o Salgueiros sabe que os campeonatos amadores da FPF são mais um problema do que uma solução. Saltar divisões e etapas é fundamental numa equipa sem estrelas, com muitos jovens e sem experiência alguma.

Lembrando as origens do histórico Salgueiral é fácil que o caminho sempre foi feito com poucos tostões no bolso. Os fundadores da equipa cantaram cantigas de Natal para juntar dinheiro para comprar a primeira bola, em 1911, e escolheram vestir de vermelho para não serem confundidos com os rivais azuis da cidade Invicta. A partir daí os seus caminhos correram campos diametralmente opostos. Os mais velhos estão habituados ao sofrimento, os que cresceram com o clube como um fixo da I Divisão desesperam e os mais novos há muito perderam o conceito de identificação. Mas o mural da Alma continua de pé e a luta é algo a que não se renuncia em Paranhos.

 

Num clube por onde passaram figuras históricas do futebol luso como Sá Pinto ou Deco, talentos como os de Abilio e Edmilson, homens de luta da talha de Chico Fonseca, Pedro ou Alberto Augusto e guardiões internacionais como Silvino ou Pedro Espinha o passado conta e muito. Já não há o dedo táctico de Zoran Filipovic, Carlos Manuel ou Mário Reis mas o futuro continua a ser visto com uma dose de optimismo que só a fanática Alma encarnada é capaz de sentir. Ninguém sabe onde estará o Salgueiros daqui a dois ou três anos. Mas a memória de um clube popular como poucos em Portugal perdurará eternamente.



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Domingo, 21 de Novembro de 2010

Era inevitável. A caverna mediática portuguesa, apostada em viver longe das realidades que fazem Portugal um país mais pequeno ainda do que é, aproveitou a ressaca da humilhação histórica aplicada à selecção de Espanha para crucificar o cadáver já podre de Carlos Queiroz. Sem tocar nos méritos inequivocos da nova equipa técnica, utilizar um feito histórico para esmagar um seleccionador que continua a despertar sentimentos contraditórios é o perfeito exemplo do ajuste de contas à portuguesa.

 

 

 

A sensação que a exibição portuguesa deixou contra a Espanha deixou na boca (e mente) de todos os adeptos lusos foi apenas uma: porque não jogaram assim no Mundial?

A imagem da derrota com a equipa que viria a sagrar-se campeã do Mundo deixou imagens para a história do futebol luso. O discurso enrabietado de Cristiano Ronaldo, o olhar de desalento de Queiroz, as criticas à posteriori pouco oportunas de Deco e as lágrimas de Eduardo. Quatro estados de alma distintos que espelhavam bem o que era Portugal então. Tudo, menos uma equipa. Esse foi talvez a grande diferença entre aquela noite na Cidade do Cabo e a exibição de gala do estádio da Luz. Mais do que mudanças tácticas (houve poucas) e de rostos, a mudança esteve na atitude, talvez o grande problema na gestão de Queiroz. Mas, como sempre, na hora da critica em Portugal há quem tenha sempre pouco descernimento antes de disparar. A situação recebida por Paulo Bento é diametralmente oposta à que viveu Queiroz. O ex-seleccionador podia ter sido despedido no final do Mundial, como sucedeu a tantos outros que falharam os seus objectivos (quais eram, nunca o saberemos). Mas já a sua recepção despertou toda a podridão que sacude o futebol nacional. Com palavras azedas de dirigentes, com artigos feitos à medida na imprensa especializada e com o nariz torcido de todos aqueles que tinham saído beneficiados da politica praticada pelo clã Scolari, chegou Queiroz. Trazia um projecto, que logo se revelou impractivável a médio prazo e  nada compaginável com os resultados imediatos que uma selecção que tinha passado a década a viver de altos voos exigia. Queiroz sabia de todos os problemas estruturais do futebol luso. Os mesmos que padecerá Paulo Bento quando a situação assim o justifique. Se o actual seleccionador tem todo o mérito em dar um novo ar à equipa das Quinas, o seu curto mandato de três jogos apanhou Portugal numa situação de pior impossível. E a partir de baixo é sempre mais fácil construir.

 

Olhando para os dois Portugal-Espanha, com quase meio ano de diferença, percebe-se que há abordagens bem distintas.

Paulo Bento leva a palma. Estudou suficientemente a selecção espanhol (particularmente nos jogos com Holanda e Argentina) para perceber como se neutraliza a campeã do Mundo menos goleadora da história. Numa equipa onde a posse de bola é o credo fundamental o fundamental é recuperá-la. Queiroz não pensou assim. Deixou a Espanha jogar, trocar e brincar como tanto gosta, no miolo luso. Naquela noite Xavi estava tranquilo, Xabi Alonso e Busquets não tinham trabalho e Iniesta e Pedro deambulavam livres. Cinco meses depois nenhum deles conseguiu respirar. A cada bola recebida em área de choque surgia imediatamente um jogador luso na pressão alta para a recuperação e consequente transição ofensiva. Portugal deixou a politica de passe curto e inconsequente (que marcou a supremacia em posse de bola dos espanhóis, sempre bem longe da área) e apostou num jogo de três toques (recuperação, desmarcação, passe).

Se Cristiano Ronaldo e Hugo Almeida foram deixados aos abutres na Cidade do Cabo, na Luz Postiga, Nani e Ronaldo fizeram parte do acordeão que se estendia e esticava conforme a posição da bola. Um jogo vertical, veloz e determinado. Tacticamente o posicionamento no terreno era similar, mas a função do 6 (com Raul Meireles no lugar de um retraído e lesionado Pepe) fez a diferença ao anular o jogo do genial Xavi Hernandez. Foram esses os elementos tácticos que fizeram a diferença e explicam a goleada. Mas que não justificam, de por si, a comparação.

À parte do lógico e importante argumento que é a concentração e ambição espanhola, bem diferente naquela noite do que na Luz, há quem aponte o dedo a Queiroz na eleição dos mundialistas. O ex-técnico realmente cometeu erros de casting. Ricardo Costa, o mais grave, mas também um Deco inexistente futebolisticamente e um Liedson, cujo o processo de naturalização resultou mais da pressão mediática da imprensa lisboeta do que propriamente do talento do dianteiro leonino. Sem Bosingwa e Nani, lesionados, Portugal nunca podia ter aplicado a dose de velocidade do jogo de Quarta-Feira. Danny esteve presente na excelente segunda parte mas na África do Sul o próprio confessou o seu péssimo estado de forma. Ronaldo, nervoso com a pressão de ser o melhor, nunca existiu no Mundial. Agora, com Mourinho a dar-lhe confiança, é de novo um jogador de elite. E que dizer de Moutinho e Postiga, jogadores ostracizados em Alvalade e que agora recuperaram a confiança e a sua melhor forma. Em Junho seriam mais dois, agora fazem a diferença.

Talvez o pecado tenha estado em Carlos Martins, na forma de pensar o jogo. Mas o médio encarnado é tão inconstante como o medo e a sua visão vertical funciona como o lusco-fusco. Exceptuando estes nomes, os mundialistas estavam presentes em corpo e mente na Luz. Talvez no Mundial a mente tivesse ficado noutro sitio.

 

O fundamental para Portugal é agora continuar o trabalho de recuperação moral e psicológica que Paulo Bento tão bem iniciou. Um conjunto unido, tacticamente bem trabalhado e com um espirito colectivo é o primeiro passo para o sucesso. Os problemas de egos e a falta de algumas opções fundamentais dificultou sempre o trabalho do maldito Queiroz. O seleccionador não passou com glória pelo cargo e a sua saída em nada teve a ver com a sua prestação desportiva e sim com um velho ajuste de contas interno. Mas Paulo Bento, que andou por dentro e tanto criticou o futebol português, sabe que continua sem ter opções (citar Saleiro, Orlando Sá e Nelson Oliveira para o ataque é quase uma anedocta a estas alturas) e que basta uma derrota para a caverna portuguesa soltar os habituais sinais de alarme. Em Portugal nunca há tempo para nada e isso é um dos grandes males da nossa sociedade e do nosso futebol. Paulo Machado, Manuel Fernandes e Rui Patricio saem agora como opções de Bento quando já eram nomes selecionáveis por Queiroz. Limpar o passado não é a melhor forma de preparar o futuro. Mas certamente é a maneira mais certeira de vender jornais. Para alimentar a caverna.



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Sexta-feira, 19 de Novembro de 2010

Depois de anos de hegemonia do 4-4-2 e da época onde o 4-3-3 criava escola começa a tornar-se evidente que a táctica que mais convence técnicos e jogadores neste novo século passa pelo 4-2-3-1. Uma táctica de futebol total, equilibrada da medula às pontas e onde há espaço para as mais diferentes abordagens. Há resistentes, como sempre, mas é cada vez mais dificil escapar à hegemonia da táctica do novo milénio.

Do 3-5-2 ao WM. Do 4-4-2 ao 4-3-3. E agora consolida-se o 4-2-3-1.

Não é novidade. É mais, ao longo desta última década tem sido a mutação quase inevitável pelo que tem passado o futebol, como europeu à cabeça em particular. Não é espectacular a não ser que os interpretes tenham uma flexibilidade táctica que o permita. Mas é tremendamente eficaz e equilibrado, peça chave num mundo onde o não perder se tornou fundamental perante a politica resultadista que pauta a vida de qualquer técnico contemporâneo.

Se no arranque da década já Portugal e França surpreendiam em 2000 actuando de uma forma bastante similar (basta lembrar a medula lusa composta por Vidigal-Paulo Bento, Rui Costa, JV Pinto/Sérgio Conceição, Figo e Nuno Gomes, esquema em tudo similar ao esquema de Del Bosque) foi preciso esperar dez anos até ver outra selecção demolidora com essas caracteristicas. O desenho táctico que ostenta hoje a selecção campeã do Mundo promete marcar uma era. Mas não sem criticas. Há quem o apele de ultra-defensivo pelo uso do duplo pivot. A resposta parece ser inevitável. Mais uma vez, os interpretes fazem a diferença. Espanha é o caso mais paradigmático da aceitação geral do 4-2-3-1 como a táctica a seguir. Num país onde o Barcelona encanta como o último defensor do 4-3-3, a táctica impõe-se da selecção nacional aos principais clubes. Vicente del Bosque seguiu o modelo iniciado por Luis Aragonés que abandonou o esquema em árvore para optar por um futebol de toque. De forma a caber todos os seus artistas não teve outro remédio de alargar o terreno de jogo. Mas fê-lo de uma forma mais ofensiva, num falso 4-2-3-1 em que Xavi e Senna pautavam o ritmo e Iniesta, Silva e Villa se recriavam atrás de Torres. Chegado del Bosque ao cargo a filosofia manteve-se mas com um maior ajuste defensivo. Busquets entrou para o lugar do veterano Senna e Xabi Alonso trouxe mais equilibrio às transições. Xavi viu-se livre de labores defensivas e passou para o miolo do terreno de jogo com Iniesta e Villa como fieis escudeiros. De ambas as formas - com ritmos distintos mas resultados semelhantes - Espanha conquistou a Europa e o Mundo. E vulgarizou a ideia de que para vencer era preciso equilibrar, e que o equilibrio estava na conjugação perfeita das peças no tabuleiro. Nesse modelo de jogo pautado pela fluidez de jogo com a bola nos pés e pela contenção defensiva na ocupação dos espaços.

 

Se Espanha confirmou a tendência que vinha ganhando forma nos últimos anos, Mourinho tornou-se no técnico que melhor soube tirar partido do sistema. O seu Real Madrid resume parte da filosofia que já operava em Inglaterra, por detrás de um 4-3-3 que se tornou, progressivamente, mais conservador. Um miolo de força e critério (Khedira, Xabi Alonso), um trio capaz de intercambiar posições a altas rotações (Ronaldo, Ozil, Di Maria) e um ponta-de-lança fixo que tanto serve como pivot de ataque como de flecha apontado às balizas rivais. Lembrar a dupla Essien-Obi Mikel entrosados com Malouda-Lampard-Cole/Philips (e o pivot Drogba) é algo inevitável. Esse Chelsea, como este Real Madrid, era uma máquina de resultados perfeitos e de equilibrio sobre o terreno de jogo. Como um acordeão, as equipas de Mourinho sabem esticar-se e retrair-se sobre o terreno, encurtando ou alargando o espaço e o ritmo à sua vontade. O equilibrio base permite aos laterais subir e mesmo assim manter um bloco com 4 elementos de perfil mais defensivo transformando-se num 2-4-3-1 com a posse de bola e num 4-5-1 sem ela. Nenhum outro dispositivo táctico dá tanta margem de manobra ao técnico para, durante os 90 minutos, realizar tantos ajustes mudando tão poucas peças.

Como o clube merengue também o Valencia de Unay Emery (que aposta em Pablo Hernandez, Mata e Costa atrás de Aduriz ou Soldado) ou o Villareal rendem-se à popularidade do desenho de moda. Saltando os Pirinéus basta ver o ritmo frenético do Borussia Dortmund (um 4-2-3-1 ultra-ofensivo com excelentes resultados), Arsenal e AC Milan articulam o modelo à perfeição.

Como sempre os interpretes condicionam o ritmo de jogo e o disposito táctico no papel ganha vida própria. Se os "bajitos" espanhóis levam o 4-2-3-1 a um jogo de toque curto horizontal com a constante procura de aberturas nas diagonais de Iniesta e Villa, a formação de Mourinho, mais fisica, procura o jogo lateral dos seus arietes antes que a associação medular. Em Itália o Milan prefere um fluxo de jogo central, com Ronaldinho e Pato como falsos avançados interiores, e na Alemanha a velocidade dos falsos extremos do Dortmund contrapõe-se com a contemporização da medular de fino recorte técnico. Um modelo utilizado até à exaustão pelo próprio Low com Schweinsteiger-Khedira-Ozil a pautar o ritmo de Podolski, Muller e Klose. Inevitabilidades.

 

O velho 4-4-2 está, cada vez mais em desuso. O 4-3-3 depende, cada vez mais, do arrojo de um técnico com as armas certas para explorar uma táctica que tem de ser articulada na perfeição para não deixar demasiados espaços (vide Guardiola ou Villas-Boas). No meio de tudo isso o 4-2-3-1 emerge, cada vez mais, como o modelo a seguir. Menos riscos, mais esforço fisico, maior controlo do ritmo de jogo. Tudo aquilo porque se pauta o futebol moderno. Assim é dificil resistir.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 11:08 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Quinta-feira, 18 de Novembro de 2010

No futebol conta o talento, a intensidade, a disciplina e a dedicação. Mas, acima de tudo, a atitude. Portugal é um país de 8 e 80´s, de depressões incuráveis e de euforias sem controlo. Está no ADN luso. Frente aos melhores do Mundo Portugal foi muito melhor. Em talento, intensidade, disciplina, dedicação. Mas, sobretudo, em atitude. A mesma que falhou na depressão da África do Sul, a mesma que pinta a euforia do dia depois. Uma goleada para a memória. Futura.

 

Errar é humano, rectificar é de sábios. E Paulo Bento merece, hoje, uma rectificação.

Portugal humilhou a selecção espanhola, a meritória campeã do Mundo (afinal ganha sempre quem merece), graças a uma das melhores exibições da década. E tudo fruto de uma clara mudança de atitude do onze luso que não estava para homenagens, cerimónias e parcimónias. Fez o favor à La Roja de estrear o seu novo equipamento com estrelinha incluida apenas para dar-se o gosto de provocar a segunda derrota humilhante em coisa de dois meses para os espanhóis. Depois do 4-1 em Buenos Aires (onde a Espanha foi mais Espanha), nova goleada em Lisboa. Sem espinhas, como a giria popular bem aponta. E num jogo praticamente sem defeitos por parte do onze luso.

O talento e disciplina táctica que havia foi finalmente acompanhado por um jogo de intensidade e dedicação. O ferido onze luso engoliu a equipa espanhola desde o primeiro instante e passou os 90 minutos a digeri-lo com o prazer obrigatório para uma boa mesa. E a culpa não pode ser atribuida aos vizinhos. Vieram com o onze de gala, o mesmo que subiu ao relvado do Soccer City (com Silva no lugar do lesionado Pedro) e manteve a mesma estrutura e filosofia, a que fizeram da equipa espanhola a mais admirada do Mundo nos últimos dois anos. Inesqueciveis para o futebol do país vizinho. Mas o que Portugal fez foi o que nenhuma equipa ainda tinha conseguido. Com autoridade, pressão asfixiante e velocidade na transição ofensiva. A equipa das Quinas fez tudo aquilo que nunca foi feito na África do Sul (e na Áustria/Suiça também). Não empastelou o jogo no miolo, não recuou demasiado e não abdicou de ganhar. Todo o contrário. A mesma táctica, sensivelmente os mesmos interpretes, uma atitude diferente. Foi o que bastou para destroçar os melhores.

 

O trabalho de Paulo Bento começa também a dar nas vistas pela capacidade de recuperar jogadores dados como perdidos para a equipa das Quinas.

A maça podre de Alvalade, João Moutinho, é talvez hoje o jogador luso mais em forma (exceptuando o caso excepcional de um renascido Cristiano Ronaldo, e em muito aqui a labor é de Mourinho) e mais determinante no onze nacional. O pequeno hobbit que tem pautado o excelente jogo do Futebol Clube do Porto não deixou Xavi, ainda o melhor do Mundo apesar do jogo mais do que cinzento de ontem, pensar. Existir. Reagir. Sufocou o médio catalão e emperrou a máquina espanhola. Carlos Martins, outro recuperado, trouxe a garra que lhe é reconhecida para ajudar a destruir e começar o processo de construção que culminou no seu excelente primeiro golo. No sector mais recuado, Raul Meireles, no lugar onde Pepe nunca fez muito sentido, capaz de patrulhar as movimentações de Iniesta e Silva primeiro, e de Cesc e Cazorla depois. Nesse trio Portugal começou a ganhar o jogo. Anulou a máquina espanhola e deu asas ao jogo rápido e concreto dos lusos. O apoio de João Pereira (outro ressuscitado) e Bosingwa foi determinante para a supremacia no miolo, com Ricardo Carvalho (e depois Pepe) e Bruno Alves muito seguros, concedendo pouco espaço de manobra às movimentações do trio mais avançado dos espanhóis. A boa labor no miolo permitiu o uso da velocidade de um Nani em estado de grçaa e de um Cristiano Ronaldo hiper-motivado. O jogador do Man Utd deu o primeiro aviso antes do recital CR7. Primeiro apontou um dos golos do ano, mal anulado por um fora-de-jogo que existiria se a bola não tivesse já entrada, o que não foi o caso. Ronaldo destroçou Pique e Busquets antes de bater Casillas. Mal o árbitro, aí e sempre, claramente preocupado em evitar uma goleada que mancharia a noite onde se comemorava a boa nota da candidatura Ibérica e a glória dos campeões do Mundo.

Depois, nova maldade imensa ao médio centro do Barcelona, que tentou de tudo para lesionar o português com vista ao derby do próximo dia 29, o jogador do Real Madrid aplicou um remate indefensável que Casillas não podia agarrar e que Martins terminou com mais alma do que outra coisa. Portugal há muito que merecia estar a vencer (Pique tinha tirado já um golo feito na linha de golo) e os espanhóis, em clara inferioridade técnica, acusaram o golpe. Na segunda parte seriam presa fácil para o jogo de transições rápidas instaurado por Bento. Danny (no lugar de Ronaldo), Nani e Moutinho, imenso como sempre, pautaram a goleada. O último dos renascidos, Hélder Postiga, apontou os dois golos seguintes (o primeiro depois de um gesto técnico primoroso) e Hugo Almeida fechou a conta já aos 90, para desespero dos espanhóis que pensavam vir a uma festa de confraternização e que acabaram por sofrer a goleada das suas vidas. Nunca Portugal tinha ganho por tantas a Espanha. Nunca a Espanha tinha sido tão boa selecção. O que faz com que a selecção portuguesa seja, realmente, o quê?

 

Mais do que humilhar os campeões do Mundo (que começam a sentir o peso da responsabilidade nos ombros), o que ficou foi uma excelente imagem do conjunto luso que destoa dos jogos a sério que têm sido um verdadeiro problema nos últimos cinco anos. Portugal jogou com a atitude e eficácia de uma equipa campeã. Num jogo a feijões. O trabalho de Paulo Bento começa a dar frutos. O lote de selecionáveis tem-se alargado (apesar de continuar a haver algum défice de correcção urgente), as rotinas tácticas estão assimiladas e os problemas de egos parecem ter-se resolvido por magia. O fundamental é transportar essa atitude aos jogos com equipas sem o prestigio da Espanha. Jogos esses que são os que dão apuramentos e finais. Jogos que podem ser ganhos com a espectacularidade da noite passada, mas que têm de ser enfrentados com a mesma atitude e eficácia. Assim se moldam grandes equipas. A de ontem de Portugal foi uma das melhores da última década. Afinal, a esperança é mesmo a última a morrer.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:46 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Quarta-feira, 17 de Novembro de 2010

O peso da responsabilidade faz-se sentir sobre os ombros de Rafa Benitez. O técnico espanhol não consegue responder ao desafio de herdar uma equipa campeã da Europa e o seu Inter está a anos-luz das equipas orientadas nas últimas duas épocas por Mourinho. Um problema do ex-treinador do Liverpool com várias explicações possíveis. Mas a única cabeça que está em jogo é a sua...

Em 2004 José Mourinho confessou a Gary Liniker numa entrevista que tinha tido um convite de um clube italiano para sair do FC Porto mas que tinha preferido o Chelsea. Não disse o nome mas pouco faltou. "É fácil adivinhar, mudam de treinador todos os anos". Um epiteto que acenta bem no Internazionale da era Moratti, que precisou de quase 20 para voltar a ganhar um titulo e uns 20 mais para saber o que era triunfar na Europa. Coisa pouca.

Essa é a mentalidade, por defeito, de um clube como o actual campeão europeu. Mancini rompeu a tendência principalmente porque não havia concorrência real aquela sua equipa sem sal. Quando a exigência subiu, o técnico não correspondeu. Afinal tinha feito mais do que todos os que o tinham antecedido desde 1989. Mas em San Siro isso é pouco. Talvez por isso Helenio Herrera e José Mourinho tenham construido essa aura eterna que nunca desaparecerá da mente dos adeptos e dirigentes. O primeiro ainda hoje é invocado pelos mais nostálgicos. O segundo quebrou a maligna profecia e tornou-se no messias dos espectadores pós-anos 60. Hoje, e sempre. Vencer dois anos quase tudo é algo pouco habitual para o adepto neruazurri. Fazê-lo com uma equipa com um plantel reduzido e sem grandes individualidades, um feito. Inigualável provavelmente. E por isso a saída de Mourinho criou um problema maior do que o habitual sentimento de perda. O FC Porto precisou de um ano no débil campeonato luso. O Chelsea esperou dois. E em ambos os casos Mourinho tinha deixado as sementes do futuro prontas a germinar (Meireles, Pepe, Carlos Alberto, Kalou, Essien, Mikel, ...). Em Milão cruzam os dedos não seja a tendência algo matemático e inevitável. O facto é que Mourinho é expert em sacar o melhor dos seus jogadores. De fazer jogadores vulgares em iminentes talentos. Explorou o melhor de Milito e fez dele rei da Europa. Deu liberdade ao avançado que havia dentro de Maicon e reforçou a disciplina ferrea que tanto encanto ao esquadrão argentino. Tudo isso sabendo que o plantel estava cada vez mais envelhecido e que os seus homens tinham uma última oportunidade. E que o futuro seria negro.

 

Benitez foi o eleito para suceder ao rei da Europa.

A sua experiência passada estava misturada entre luz e sombras. Fez maravilhas com o seu Valencia (duas ligas e uma Taça UEFA em três anos) mas com o Liverpool foi de mais (venceu a Champions no seu primeiro ano) a menos (acabou com o pior resultado desportivo da década dos Reds). Um risco, sem dúvida, até porque as debilidades do espanhol são reconhecidas. Bom na táctica, péssimo no trato com os jogadores, seria ele o homem certo para lidar com um balneário de veteranos campeões da Europa habituados ao ombro de Mourinho? A resposta torna-se evidente a cada jornada que passa.

Rafa perdeu o controlo do balneário do Liverpool e ainda não ganhou o do Inter. Teve problemas com vários jogadores e não tem capacidade para agir como "olheiro" capaz de reabastecer um plantel sem gasolina para repetir feitos. Um plantel farto de ganhar em Itália e saciado na Europa. Um plantel que exigia uma transformação total mas que não sofreu o mais minimo ajuste. Os soldados são os mesmos, a ânsia de dar guerra não. Com Milito sem ver a baliza (o caso mais flagrante do aproveitamento cirúrgico de Mourinho depois de Maniche), salva-se o ressuscitar de Samuel Etoo, rei dos golos na Europa e um dos mais firmes candidatos a revelação do ano, depois de ter passado um ano a servir nas galeras do centurião Mou. Sneijder está estourado por um ano perfeito e sem ele não há magia no meio-campo neruazuri. Os gladiadores lutam, mas sem necessidade de agradar ao novo general. Benitez queria trazer homens de confiança (Kuyt, Mascherano, Torres) e agora tem em mãos uma turba incontrolável. E se o Liverpool está ainda a pagar o preço da sua péssima gestão desportiva (desprezou sempre a Premier e nunca soube montar planteis equilibrados) o Inter entra na mesma espiral. Plantel desiquilibrado, sem sangue novo (e na formação interista há alguns talentos bem promissores) e sem um sistema táctico assumido, o Inter navega sem rumo. A derrota frente a um AC Milan menor não surpreendeu, mesmo que o golo tivesse sido de penalty. Contra 10 nunca souberam dar a volta. Na Europa foram vulgarizados pelo Tottenham em Londres e terão de esforçar-se um pouco mais para não sofrer para conseguir entrar na fase a eliminar (onde Benitez é um expert). E com a Serie A em profunda mutação, resta saber se o manchego terá força suficiente para dar a volta à situação. Ou melhor, se aguentará até ao final de curso.

 

O posto era apetecivel mas também um presente enveneado. Benitez ainda não demonstrou, como seria de supor depois de ver a sua evolução em Anfield Road, ser capaz de desviar o Inter de uma espiral forçosamente auto-destructiva. Será necessário algo mais que um ajuste táctico e uma incursão no mercado de Inverno para ressuscitar o campeão europeu. O espanhol terá forçosamente de mudar e com ele mudar toda a estrutura de um clube complexo até à medula. Terá tempo para isso? Dificil de imaginar, porque todos sabemos que depois de Mourinho sempre há um dilúvio...  



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:00 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Segunda-feira, 15 de Novembro de 2010

O eterno duelo minhoto há anos que ganhou outra preponderância no futebol português. O fim abrupto do Boavista e o desafinar constante da orquestra sportinguista abriu as portas à emergência de um novo centro de poder. Se o Minho tivesse só um clube, hoje talvez seria a terceira força nacional. Mas mesmo divididos em dois os minhotos sentem que sopra uma brisa favorável ao futebol nortenho. Vitória e Braga dizem presente.

A vitória dos vimaranenses no duelo minhoto não é uma novidade. O ano transacto coube à equipa então orientada por Paulo Sérgio quebrar a invencibilidade do rival de Braga. Três pontos que decidiram, a longo prazo, o titulo a favor do Benfica. Este ano o Braga não está a exibir-se com a mesma fluidez, vitima do natural desgaste de ter várias frentes abertas, mas o Minho continua a lutar pelo titulo. Ou pelas migalhas deixadas pelo FC Porto. O triunfo do Vitória de Guimarães permitiu à equipa de Manuel Machado continuar a liderar a perseguição à frente do pelotão da capital. Tal como há dois anos atrás, quando os vimaranenses só tropeçaram nas jornadas finais, depois de estar perto da glória lograda pelo eterno rival, o ambiciado segundo lugar. A média de resultados dos dois grandes clubes minhotos há muito que deixou de ser uma novidade. O Braga tem um projecto consolidado desportivamente e desde há cinco anos para cá que é uma força a ter em conta. 2009/2010 foi o culminar de uma politica desportiva pensada ao mais minimo detalhe e apesar da nova época não apresentar o mesmo Braga, a verdade é que a equipa segue nas várias frentes que o calendário impõe. Taças a tiro, Champions League de bom nível com presença europeia garantida para Fevereiro, onde quer que seja, e o segundo lugar na Liga Sagres (que lhe permite reeditar o melhor resultado da sua história) a uns significativos sete pontos. Os mesmos pontos que o separam do seu eterno rival vimaranense. Há muito que o Minho deixou de ser apenas pasto para os adeptos encarnados do Norte que jogavam em casa a cada visita do SL Benfica a Braga, Guimarães, Barcelos e arredores. Hoje os dois clubes têm atrás de si uma massa adepto involucrada, uma politica desportiva pensada e uma atitude de grande. Os resultados não surpreendem.

 

Sem Boavista, vitima do risco da sua politica desportiva, e com um Sporting incapaz de conseguir mais do que 3 titulos em 3 décadas de campeonato, é legitimo pensar que o terceiro posto no ranking do futebol português está em aberto. O Sporting passou os últimos oito anos a destroçar o que construiu em apenas três. Titulos perdidos no principio ou no fim da Liga, técnicos que vão e vêm, jogadores veteranos e jovens misturados sem critério e uma politica presidencial que destroça qualquer projecto desportivo a médio prazo. Imaginar hoje o Sporting a meio da tabela classificativa já não é tão complicado como há uns anos. É até mesmo natural ver o sofrimento dos adeptos sportinguistas jornada após jornada. Os leões conseguiram nas últimas jornadas recuperar a face e seguem já no quinto posto da classificação (a 14 do lider) mas o ano parece perdido, mais um. E a paciência de Job que caracterizou o sofrimento de uma massa adepta que viveu 18 anos (de 1982 a 2000) sem títulos parece ter voltado. A grandeza dos verdi-brancos começa a ostentar-se mais no nome do que no poder desportivo e mediático. Uma verdadeira quebra moral.

Sem Belenenses e Boavista, únicas equipas capazes de sagrar-se campeãs numa liga pautada pelo poder dos chamados "3 Grandes", cabe ao Minho reclamar a sua quota de destaque. O Vitória de Manuel Machado, equipa sem dinheiro mas com muita imaginação, é o perfeito exemplo dessa atitude. Poucos se relembram da notável campanha de 2008 dos vimaranenses, que ficaram às portas de disputar a Champions League no ano seguinte, e talvez por isso muitos se surpreendam com o notável arranque de época de um conjunto que não perdeu com os rivais directos Porto, Benfica, Braga, Sporting e Nacional na sua ambição por superar o seu melhor registo histórico. Com os milhões deixados nos cofres por Bebé e com uma equipa montada quase a custo zero, os vimaranenses revelam-se um conjunto sólido e estruturado, capaz de reviravoltas com truques sacados da cartola, e com estomago para aguentar a pressão de rivais tecnica e financeiramente muito superiores. A viagem à Madeira, terreno do rival que roubou o sonho europeu na última ronda da época passado, será uma boa prova (mais uma) do estofo do conjunto vimaranense.

Uns kilómetros a norte o Braga olha com desconfiança para a época que se vai desenrolando a pouco e pouco. A margem de manobra no campeonato é cada vez mais curta para não perder a ligação com o pelotão da frente e um duelo com o Nacional da Madeira o confronto menos apetecível. A gesta europeia frente ao Sevilla teve o seu preço e apesar das primeiras duas derrotas nos duelos da prova rainha europeia, a dupla vitória frente ao Partizan Belgrado confirmou a presença europeia dos bracarenses em 2011. Um verdadeiro sucesso europeu que teve as suas consequências na liga, onde a falta de concentração e atitude custaram pontos preciosos. Domingos Paciência sabe que o brilharete europeu não pode destroçar o bom trabalho ligueiro e o mais seguro é pensar que a equipa arsenalista passará a ter a prova nacional como máxima prioridade, pelo menos até Fevereiro. Tempo de sobra para recuperar o atraso com o grupo da frente com o qual já não tem duelos pendentes a disputar.

 

Sem um Hugo Viana na melhor forma e com um ataque em baixo de forma, o Braga perdeu o rótulo de equipa de máxima eficácia. Mas, mesmo assim, não deixa de ser um rival sério à luta pelos postos europeus (Champions League incluida) e apesar do arranque de época tremido, os bracarenses partilham com os vimaranenses uma legitima ambição a trepar um escalaão no pódio do futebol nacional. Esse lugar que o Sporting, entre crise financeira e desnorte desportivo, parece determinado a querer abandonar.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:16 | link do post | comentar

Quinta-feira, 11 de Novembro de 2010

Na época dourada do futebol alemão e das taças europeias conquistadas pelo Bayern Munchen do torpedo Muller e do kaiser Beckenbauer havia uma figura que brilhava por direito próprio numa constelação só sua. Gunter Netzer, profeta do futebol estético, foi a resposta germânica ao génio de Cruyff e um verdadeiro marechal do bom gosto na ponta dos pés.

Conta-se muitas vezes que um dia o Borussia Monchenlagdbach foi jogar ao Estádio Chamartin contra o poderoso Real Madrid. Os directivos do clube merengue tinham ouvido maravilhas de um tal Netzer, alemão alto e loiro, com um talento fora do normal. Na bancada presidencial tornavam-se os directivos ao lado do imponente Santiago Bernabeu para lhe dizerem maravilhas do homem que jogava com o número 4, o que tinha sido atribuido na ficha a Netzer. O presidente, que gostava pouco de conselhos alheios, no final do jogo virou-se para os dirigentes merengues e rematou a tarde com um "O vosso número 4 é uma boa merda mas quero contratar o tipo que joga com o 6, encantou-me". Era Netzer, com a camisola trocada. O seu talento, como o algodão, nunca enganou ninguém.

Para muitos, a quase quarenta anos de distância, o seu génio nunca teve comparação no futebol germânico. Nem Seeler, nem Walter, nem Muller, Rummenige, Mathaus ou o próprio Kaiser. Nenhum parecia ter o toque de classe que o organizador de jogo que deu o pontapé de saída à equipa mais exitosa do futebol alemão (que durante 12 anos só falhou a final de um torneio, a do Mundial de 78). Quando a guerra dava os seus últimos suspiros, o jovem Netzer nascia num dia de bombardeamentos em Monchenlagdbach. Viveu as agruras do pós-guerra e o fausto da reconstrução. Com 18 anos foi chamado à primeira equipa do F.C. Monchenlagdbach, onde chamou à atenção do grande clube da cidade, o Borussia. Com 20 anos era já titular absoluto na formação verde-negra do oeste da RFA. E muito cedo começou com os seus recitais de pura música clássica.

 

Chamado pela primeira vez à Mannschaft com 22 anos, em vésperas do Mundial de 66, o então jovem médio centro falhou a lista dos eleitos finais, preterido então por outra estrela em ascensão, Franz Beckenbauer. Alheio às disputas estelares tão do agrado do "kaiser", Netzer continuou a dar os seus festivais no relvado. Quatro anos depois fez história ao capitanear o Borussia ao primeiro titulo na Bundesliga. No ano seguinte repetiu o triunfo, no primeiro clube a vencer a prova sem derrotas. Numa equipa onde deambulavam génios como Jupp Heynckhes, Berti Vogts e Herbert Wiemer, Netzer encaixava como uma luva. A equipa orientada por Hennes Weisweiler era o reclame perfeito do futebol atractivo que inspirava a Europa. O rival estético do ascendente Ajax Amsterdam, os de Monchenlagdbach tiveram as provas europeias como assinatura pendente. Netzer, por outro lado, começava a ganhar o seu espaço no futebol alemão. Depois da ressaca do Mundial de 70 tornou-se na trave-mestra da equipa formada por Helmut Schon que dois anos depois venceria o primeiro Europeu de Futebol para os alemães. Melhor jogador do torneio, Netzer vencer pela primeira vez o prémio de Melhor Jogador Alemão (repetiria no ano seguinte), perdendo para Cruyff o Ballon D´Or da France Football (tal como sucederia um ano depois). Quando os problemas pessoais com o técnico Weisweiller se tornaram incontroláveis, o médio, pura e simplesmente, decidiu partir. Despediu-se com uma exibição épica saindo do banco, frente ao FC Koln, na final da Taça da Alemanha de 73 (2-1, com dois golos seus) e partiu para Madrid. Aí esperava-o um público desconfiado e um presidente autoritário que vivia o ocaso da sua grande carreira. Resposta do clube madrileño à contratação de Cruyff pelo Barcelona, num duelo estético e mediático que hoje se podia perfeitamente equiparar ao que existe entre Messi e Ronaldo, o médio tornou-se elemento nuclear na equipa merengue. Perdeu o primeiro titulo para os blaugrana, numa noite inesquecível do holandês, mas desforrou-se conseguindo os dois titulos seguintes numa equipa que já contava com Paul Breitner e que viria a receber outro alemão, Ule Stilike. Mas nenhum deles deixou tantas saudades como o marechal louro da chuteira de tamanho 47, tão estranho para os espanhóis que todo o seu calçado vinha importado da RFA.

Relegado pelo seu amigo Overath para um segundo plano no Mundial de 74, o génio alemão fartou-se da fria Madrid dos últimos suspiros do franquismo e quando acabou o contrato rejeitou a renovação e partiu para a tranquila Suiça onde rematou a carreira ao serviço do Grashoppers. Quando acabou a carreira pôs o seu talento ao serviço do Hamburg SV tornando-se no Director Desportivo responsável pelos três titulos e pela Taça dos Campeões ganhos pela equipa do Norte. Depois reciclou-se em comentador televisivo e cronista num dos principais diários germânicos. No papel, como no relvado, continua a destilar as suas memórias e pensamentos, relembrando os dias em que cirurgicamente decidia jogos, ligas e taças com a precisão de um marechal que não gostava de ganhar se não o fazia com um toque de classe.



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