Quarta-feira, 29 de Setembro de 2010

Quem conhece a cor das águas do Mediterrâneo quando o sol bate na costa de Alicante pode duvidar sobre a viagem de um dos grandes avançados da última década. Trocar as montanhas geladas de Turim pela tranquilidade da costa alicantina parece mais uma prenda de aniversário surpresa do que um salto na carreira. Mas para o tranquilo David Trezeguet a viagem é muito mais do que isso...

Esteve nas grandes noites do futebol francês. No banco em Paris 98. No campo, a celebrar um golo de ouro, em Roterdão 2000.

Nunca atingiu o nível de excelência técnica do seu amigo Henry. Nem o protagonismo mediático de outras estrelas da geração de ouro gaulesa. Mas sempre foi tido como um killer. De respeito. Um verdadeiro cowboy, mais rápido que a sua própria sombra. Da jovem promessa no AS Monaco de Arsene Wenger resta pouco. A velocidade passou com os anos, a disponibilidade física já não é a mesma. Já lá vai uma década e meia desde que David Trezeguet, nascido na Argentina mas francês de cêpa, explodiu no pequeno Principado ao lado de Henry. O amigo viajou até Turim, mas não aguentou e encontrou o refúgio dourado em Londres, com o seu mentor de sempre. Trezeguet sempre se sentiu cómodo com os Alpes ao fundo. Durante uma década foi o goleador de serviço da Vechia Signora. Sobreviveu aos anos de Ancelloti e regressou em força sob o comando de Lippi. Fez com Nedved, Camoranesi e Alessandro Del Piero, um quarteto de respeito. Partilhou o balneário com o seu amigo Zinedine Zidane, que várias vezes se tornou no seu abono de familia. Venceu tudo com a França, ganhou pouco com a Juve. Mergulhou no desespero da descida de divisão mas recusou-se em partir. Ganhou o carinho eterno dos tiffosi e mesmo quando Iaquinta e Amauri lhe ganharam a corrida pela titularidade, sempre se manteve fiel. Aguentou o desplante do polémico Domenech e a suplência em Turim. Só não resistiu ao apelo da sua mulher. E com ela voltou às origens. Dela.

 

Natural de Alicante, Beatrice Trezeguet, convenceu o marido de que estava na hora de repensar a vida.

E David sentiu que o calor da costa mediterrânica seria o ideal. Sabendo da sua inevitável suplência, Trezeguet arriscou. E aceitou o convite generoso do recém-ascendido Hércules FC à liga espanhola. O clube de Alicante há mais de dez anos que não fazia parte da elite do futebol espanhol. Apesar da cidade ser um dos grandes pólos turisticos do país vizinho, futebolisticamente tem pouca tradição. Os donos do clube apostaram forte neste regresso aos grandes. Para além do francês recrutaram o paraguaio Nelson Hector Valdez ao Borussia Dortmund. Uma dupla de respeito, pese a quem pesar.

Trezeguet chegou envolto em alguma polémica. Muitos acusavam o veterano dianteiro gaulês de vir passar umas férias douradas à cidade onde todos gostam de passar...férias douradas. O avançado explicou as razões da escolha (havia ofertas de França, Inglaterra, EUA ou EAU) mas poucos quiseram acreditar. Até que chegaram os golos. Dois, para ser mais exacto. Numa equipa que surpreendeu o próprio Barcelona em pleno Camp Nou (cortesia de Valdés) o cartão de visita do "homem golo" por excelência não podia ter sido outro. Frente ao Valencia marcou o primeiro, de penalti. Mas se esse golo pouco contou, já os dois que levaram o Sevilla ao precipicio (trocando Alvarez por Manzano) tinham o seu selo matador. Um killer instinct que o coloca já na luta pelo Pichichi (ele que foi goleador- mor em França e Itália), superado apenas pelo brasileiro Nilmar.

Depois do seu inseparável parceiro Henry ter viajado rumo ao tranquilo campeonato americano (passando com pouco glamour pela liga espanhola), as suspeitas rodeiam "el francés" de Alicante. Mas os golos sempre apareceram ao longo da carreira de um goleador puro como sempre foi Trezeguet. Alicante poderá ser a última paragem na sua viagem profissional. Mas não será certamente um retiro dourado. Será mais do que isso, um verdadeiro regresso ao passado.


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publicado por Miguel Lourenço Pereira às 15:02 | link do post | comentar | ver comentários (3)

Sábado, 25 de Setembro de 2010

Rosto impenetrável e juvenil. Visual descuidado e longos braços e pernas, magros e elásticos. Da ribeira do Manzanares ao tapete verde do Calderón emergiu um "superportero". Poucos guarda-redes atingiram tamanho nível de excelência tão cedo. Com 19 anos, David De Gea é o homem do momento no futebol europeu. Um verdadeiro Don David...

Casillas, Cech, Buffon, Julio César e Lloris são, provavelmente, os cinco melhores guarda-redes do Continente. Agora.

Todos eles sabem que agora contam com um rival à altura. Não faltou pouco (se é que já não o é) e David De Gea estará nessa lista. Possivelmente no primeiro lugar. Muito possivelmente. Tem todas as condições para confirmar-se como o melhor guarda-redes do planeta. Com um ano apenas no futebol profissional o jovem internacional esperanças madrileño é já uma imensa certeza. Se fosse ponta-de-lança ou extremo o seu passe já andaria pelos 60 milhões de euros, cláusula de rescisão incluida. Mas é portero, o seu labor é outro. Tão ou mais importante. Mas infinitamente menos mediático. Não vale mais do que 25 milhões, segundo o último contrato assinado pelo Atlético de Madrid, clube do seu coração, clube que o formou e lançou aos leões no estádio do Dragão na passada edição da Champions League. Lançado por outro portero histórico do futebol espanhol, Abel Resino, o jovem David vinha só para cumprir com a baixa do colega. Um colega tido como a grande promessa das redes espanholas. Mas a lesão (e instabilidade emocional) do jovem Sergio Asenjo foram a porta de entrada que o jovem de 18 anos precisava. Quando chegou à titularidade, nunca mais a largou. Nem com Asenjo no banco a reclamar por minutos, nem com o Calderón desconfiado. Num ano onde a equipa oscilou entre o inferno e o céu, David de Gea tornou-se o rosto feliz da segunda etapa. Dos jovens sonhadores. Dos rostos imparáveis.

 

O impacto de De Gea no futebol espanhol podia comparar-se com a errupção do vulcão Leo Messi. Mas no extremo oposto.

Durante um ano o Atlético de Madrid teve no jovem o seu maior seguro de vida. Mais do que a dupla Forlan-Aguero, as suas exibições encheram o os olhos, semana atrás de semana. Foi fulcral na final europeia ganha ao Fulham e na épica vitória frente ao Inter de Rafa Benitez. No arranque da nova época fez do Atlético lider. Com defesas impossíveis como as da passada quarta-feira em Valencia, no Nuevo Mestalla.

Contra o Barcelona, o super-Barça de Guardiola, esteve sublime. Evitou uma goleada histórica. Sempre com a mesma expressão de jovem traquinas a viver um sonho. A ele não lhe importa se é Messi, Ronaldo, Villa ou Torres que tem diante. A todos responde com a mesma autoridade. Aquela que nos habituamos a ver nos veteranos consagrados. Nunca num jovem flamante que não treme, não fraqueja, não cede.

No final do encontro foi ter com Victor Valdés, o seu idolo, apesar de ser do Barça. E foi o Zamora, o rival de Iker Casillas - o terceiro em discórdia - que se rendeu ao talento do jovem. Do já Don e senhor.

Se tanto Valdés como Casillas tiveram inicios tremidos, perdendo a titularidade depois das primeiras exibições (para Rustu e para César), e se Buffon, Júlio César e Cech demoraram também o seu tempo para se afirmarem como elementos fiáveis, que dizer de um guarda-redes que relembra o jovem Peter Schmeichel ou o imberbe Vitor Baía. O seu descaro é genuino e inocente, como cada estirada impossível a que dá forma. Sir Alex Ferguson, há anos sabiamente a patrulhar a melhor liga do Mundo para encontrar guarda-redes de primeiro nível (apesar de ter falhado com Ricardo, agora no Osasuna), está desesperado por resgatá-lo para render um Edwin van der Sar no ocaso da sua longa carreira. De tal forma que preferiu ir vê-lo in loco (sob o pretexto de observar o Valencia, o próximo rival da Champions, a treinar a sua equipa - onde se estreou a sua arriscada aposta chamada Bebé - no jogo da Carling. Inédito mas natural, o guardião do Atlético não encaixa no conceito da normalidade. De Gea tem todas as condições para suceder, em grandeza, ao gigante dinamarquês. Só alguém com um perfil forte é capaz de aguentar o inferno de Old Trafford, a loucura da Premier League. O seu rosto de manchego tranquilo diz tudo. Para ele o desafio é o de menos. O desfrute prevalece a cada segundo.

David De Gea poderá ter de penar até Iker Casillas (e Victor Valdés) deixaram de convencer os seleccionadores espanhóis que contam com um filão de ouro inesgotável. Mas tem todas as condições, fisicas e psicológicas, para se tornar num dos nomes obrigatórios na história do futebol. Mas já ninguém duvida ao observar o seu olhar felino que o jovem de Madrid tem tudo para ser o superportero do novo milénio.  



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Quinta-feira, 23 de Setembro de 2010

"Já sou seleccionador!". Uma frase dita, talvez, com o seu quê de incredulidade. Compreensível. Imaginar Paulo Bento como novo seleccionador nacional é um sério exercício à compreensão da estrutura débil que sustenta o periclitante futebol português.

Consumado o golpe de estado, a rei morto, rei posto. Paulo Bento assinou, cobrará bem menos, terá menos responsabilidades e chega quando mais ninguém queria. Melhor inicio, impossível. Certamente.

O antigo internacional regressa à selecção portuguesa, depois de ter saído deixando uma fraca figura na mitica meia-final do Euro 2000 onde acabou por entrar no lote de suspensos pela UEFA (junto com Nuno Gomes e Abel Xavier). Representante menor da "Geração de Ouro", como jogador foi um médio centro útil que vagueou pelo agora agónico Oviedo e que acabou no ressuscitado Sporting. Clube onde ficou, ligado à formação, onde se doutorou com o mérito de vencer com umas condições invejáveis para um país onde formar passou a ser palavra maldita. Promovido de surpresa à equipa principal, depois de um ano em que tudo se pôde ganhar e tudo se perdeu em Alvalade, começou um mandato de quatro anos aliado à supremacia interna do FC Porto. Incapaz de superar Co Adriaanse primeiro e Jesualdo Ferreira depois, contentou-se com quatro vice-campeonatos consecutivos, algo inédito no historial luso. Uma taça aqui, outra acolá, desastres europeus e vários problemas de balneário e com as estruturas arbitrais marcaram profundamente o final da sua passagem por Alvalade. Deixou de ser "forever" para passar a "prescindível", pagando o preço de estar num clube suícida. Saiu pela porta pequena e ficou à espera. Da lotaria. Da inesperada lotaria chamada Selecção.

 

Nem conciliador, nem disciplinador, nem empolgante, nem um génio da táctica.

Paulo Bento não reúne qualquer das caracteristicas fundamentais para suceder a Carlos Queiroz. Nem uma, quanto mais as (desejáveis) quatro.

A sua passagem pelo Sporting mostrou um técnico muito similar ao jogador. Conflictivo, constantemente em guerra contra o comité de arbitragem e a Liga de Futebol, foi suspenso e admoestado mais do que uma vez. Incapaz de deitar água na fervura, levantou os animos dos adeptos leoninos contra os rivais directos. Agora será o seleccionador de 10 milhões de adeptos. Nenhum deles entusiasmado com a sua chegada, conscientes de que foi uma escolha por eliminação. Sem dinheiro para um estrangeiro de renome, sem a possibilidade de usar a carta de efeito chamada Mourinho, a FPF escolheu o "desempregado" com mais reputação, passando ao lado dos veteranos (Manuel José, Jaime Pacheco, Manuel Cajuda) e optando por seguir o modelo, tão em voga nos últimos anos, de eleger como técnico um homem sem experiência. Fê-lo o Brasil com Dunga, a Holanda com van Basten, a Alemanha com Klinsmann e a Argentina com Maradona. Todos eles figuram mediáticas no seu país, ao contrário do português que chega ao cargo mais cobiçado com quatro anos como técnico principal. Nada mais.

Um técnico que traz fama de disciplinador mas que está longe de o ser. Castigar o elo mais fraco não é ser disciplinador, é ser oportunista. Foi esse o tratamento dado por Paulo Bento a Purovic, Vukcevic, Izmailov e Stoikjovic, os recém-chegados, trazidos pela direcção com o seu aval, que competiam directamente com os seus rebentos. Na hora de resolver problemas internos graves, Paulo Bento errou. Mais do que uma vez, como se viu à posteriori com o caso "Sá Pinto vs Liedson" e as acusações à volta de João Moutinho, incompreensiveis no próprio balneário leonino.

O seu perfil como técnico é, além do mais, baixo. Muito baixo. Ridicularizado vezes sem conta pelo seu vocabulário (escasso), Paulo Bento tentou passar a imagem de um técnico que trabalha com tranquilidade, mas o que deixa à mostra é um homem incapaz de lidar com a pressão dos holofotes sem perder o controlo. Não tem o gene motivador que manteve durante tanto tempo a popularidade de Scolari em alta, nem sequer é um homem que provoca a força do balneário como foi António Oliveira. Tem um perfil similar ao de Humberto Coelho, técnico contestado pelos jogadores desde o primeiro dia e que já estava despedido antes do Euro 2000, pela própria Federação que, na altura, não teve de inventar um processo para evitar problemas maiores.

Por fim, Paulo Bento é, acima de tudo, um técnico limitado. Tacticamente. Durante o seu mandato de quatro anos em Alvalade nunca se soltou do eterno 4-4-2 em forma de losango, mesmo quando o sistema táctico estava ultrapassado, por demais conhecido dos rivais e quando o plantel sugeria outras opções. Num país habituado em excesso ao 4-3-3 (extremos como Varela, agora no FC Porto, não cabiam nas contas de Bento), a sua obsessão pelo 4-4-2 será um dilema de dificil resolução. Um verdadeiro, ou vai ou racha.

Paulo Bento sabe que é a última escolha. Sabe que é impopular. E sabe que não é um grande treinador. Tem consciência de que é preciso algo similar a um milagre para Portugal evitar cair no play-off, onde tudo pode passar. E que corre o risco de ser o treinador associado ao primeiro falhanço desportivo de Portugal desde 1998. Mesmo assim aceitou capitanear um navio cheio de buracos. A ânsia superou a razão. O navio é seu. Mas poucos acreditam que chegue a terra firme.



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Quarta-feira, 22 de Setembro de 2010

Muitos se perguntam como é que ainda é possível que uma liga onde habitam alguns dos mais talentosos futebolistas do Planeta continua a ser uma ilustre desconhecida. Uma liga pouco competitiva, incapaz de atrair os adeptos de além fronteiras. Parte da razão está em decisões como o despedimento de Dorival Júnior. O Santos espelha bem o Brasil de hoje, o Brasil de sempre. Um país com muito futebol nos pés e pouco na cabeça.

No último ano tornou-se moda seguir o renascido Santos. A equipa do Peixe foi rebaptizada graças ao talento emergente de vários jogadores da sua formação. Entre eles o trio a seguir, Neymar, Paulo Henriques e André.

A fama da equipa, reforçada momentaneamente com o empréstimo de Robinho, tornou-se num chamariz ideal para o Brasileirão. A equipa santista, um dos históricos do futebol canarinho, voltou a vencer. Voltou aos titulos. Algo que não se via desde os dias de Diego, Robinho e Elano. Muito tempo. Dorival Júnior foi o arquitecto da mudança. O técnico, um dos mais respeitados no grémio, organizou um onze atractivo e ofensivo e com as jovens estrelas como porta-estandarte, mudou o rosto do apagado clube da cidade portuária de São Paulo. Num ano venceu o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil, dois titulos que a equipa há muito que não tocava. Naturalmente os santistas partiam na linha da frente para atacar o Brasileirão, já rodeados pela polémica da não-convocatória dos "meninos da Vila" para o Mundial (algo que o Brasil nunca perdoou ao sempre contestado Dunga) e pelo assédio constante dos grandes da Europa. Um assédio com resposta negativa. Sempre.

 

E quando tudo parecia que ia de vento em popa, Dorival Junior é despedido.

Sem dó, nem piedade. À brasileira. Por fazer o seu trabalho bem. Por preferir o colectivo ao individualismo que continua a ser o trademark por excelência de um futebol habituado, cada vez mais, à exportação de talentos. O técnico santista, obreiro do santo e senha que pauta o jogo dos brancos, foi despedido por um motivo: Neymar.

A jovem vedeta tem acumulado polémica atrás de polémica. Primeiros foram os penaltys de paradinha que obrigaram a FIFA a rever a lei que permite esse jogo sujo com o guarda-redes. Depois foram as celebrações que revoltaram as equipas contrárias. O lado safado de Neymar ganhou ainda mais força nas passadas semanas. Já sem o seu parceiro de ataque, o lesionado Paulo Henriques, o médio criativo chamou a si todo o protagonismo da equipa. Recusou-se a passar a bola as colegas, recusou-se a jogar em grupo. Procurou, como sempre, resolver tudo sozinho. Falhou. E o Santos perdeu. E viu a diferença para com o lider da prova, o Corinthians dos veteranissímos Ronaldo e Roberto Carlos, ampliada para seis pontos. Os insultos do médio ao técnico, à frente de toda a equipa, foram a gota que colmou o vazo. Em véspera de derby paulista. Dorival Júnior ficou farto da atitude do jogador e multou-o por indisciplina. Mas não foi suficiente, Neymar reeincidiu. Revoltou-se contra colegas e técnico em pleno treino. Em pleno jogo. E aí entram as diferenças entre o Velho e o Novo Continente, entre a desorganização brasileira e a disciplina europeia. Num gesto tão habitual na "Velha" Europa mas criminal no Brasil, o treinador informou a direcção que não iria convocar o atleta para o jogo contra o Corinthians. E talvez para os seguintes, se a situação se mantivesse. Foi suficiente. Poucas horas depois era fulminado. Despedido. Humilhado.

Sem Dorival Júnior o Santos enfrenta um rival temível desarmado. Neymar ganhou a batalha, o controlo definitivo da equipa. Tal como um novo Romário, Edmundo e afins, demonstrou que, como sempre, no Brasil o safado do relvado vale sempre mais que o génio do banco. Um espelho digno e fiel da estagnação táctica e competitiva do futebol brasileiro actual. Os grandes da Europa tomaram nota e pensarão duas vezes antes de arriscar os seus milhões num "menino" que acha que é dono da "vila". Mas que dificilmente conquistará o mundo. 

 



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Terça-feira, 21 de Setembro de 2010

Sobreviveu a um sequestro da máfia bulgaro e às criticas dos adeptos de Old Trafford. Durante dez anos Dimitri Berbatov nunca foi um jogador consensual mas sempre emergiu como um sobrevivente. O seu letal hat-trick ao Liverpool de Roy Hogdson deu razão a Alex Ferguson. Pode não ser emocionante como Hernandez ou fundamental como Rooney, mas o Manchester United precisa do seu guerreiro búlgaro.

Foram três golos que revelam bem o espirito de Berbatov.

O oportunismo do cabeceamento, a poucos minutos do apito final, realça o timing com que Berba costuma aparecer. Nos momentos decisivos. O dianteiro que Old Trafford aprendeu a odiar, particularmente depois de Ferguson ter gasto 30 milhões na sua contratação, mostrou finalmente as suas credenciais. Já não é novo. Aliás, é já um avançado veterano apesar dos seus 29 anos. Longe do arranque do flamanteinicio na Bulgária natal, onde brilhou no CSKA Sofia. Nessa época o seu sonho era jogar como Marco van Basten e actuar na Premier League. Cumpriu o segundo sonho (apesar do seu clube de eleição ser então o Newcastle de Asprilla, Ginola e companhia) mas acabou por perder na comparação com o ilustre holandês. A principio prometia. Tanto que um gang da máfia bulgara, liderada pelo procurado Georgie Iliev, o raptou para que assinasse pelo seu próprio clube, o Levski Kjustendil. Berbatov recusou-se, sobreviveu ao rapto e rapidamente se tornou numa celebridade num país ainda orfão da sua geração de ouro. Já nada na Bulgária restava da equipa de Stoickhov, Letchkov, Iordanov, Kostadinov, Penev e companhia. O caos abriu as portas ao jovem dianteiro que esteve perto de rumar a Itália mas que acabou por cair em Leverkusen, uma pequena cidade onde despontava o Bayer local. O seu impacto não foi imediato - longe disso - mas rapidamente se tornou num elemento fulcral na equipa de Klaus Toppmoller. Tanto que acompanhou Ulf Kirsten e Michael Ballack no ataque da equipa à Champions League em 2002. Na final começou por suplente e entrou para dar mais contundência ao pressing final dos alemães. Perdeu a final mas deixou a sua marca. Era já uma certeza.

 

O maravilhoso pontapé de bicicleta que neutralizou Reina leva-nos noutra viagem no tempo pela vida de Berba.

O único jogador a fazer sombra ao mitico Stoichkov (venceu por seis vezes o prémio de Jogador Bulgaro do Ano, uma mais que o polémico e genial Hristo) voltou a demonstrar a sua importância colectiva quando conseguiu o milagre impossível de fazer regressar a Bulgaria a um palco europeu. Foi no Euro 2004 e apesar da fraca prestação dos bulgaros, a sua presença em campo reforçou o seu estatuto de idolo no seu país natal. Dois anos depois, com muitas negociações atribuladas pelo meio, chegou a hipótese de concretizar o sonho. Berbatov assinou pelo Tottenham Hotspurs e provou finalmente o futebol da Premier League. Os seus primeiros golos traziam o perfume do leste da Europa. Conquistou rapidamente as exigentes bancadas de White Hart Lane numa parceria com o irlandês Robbie Keane que entrou na história do clube londrino. Marcou cinco golos num só jogo em Dezembro de 2006 confirmando a sua fama de goleador. Cada um dos tentos mais perfeccionista que o anterior. Ecos do que viriam a sentir os fãs do Liverpool quatro anos depois. Ferguson viu o jogo e apontou. O búlgaro tornou-se numa prioridade. A explosão goleadora de Cristiano Ronaldo e a emergência de Carlitos Tevez adiou a viagem. Em Setembro de 2008, quando Ferguson já sabia que tarde ou cedo perderia ambos os atacantes que dividiam o ataque com Wayne Rooney, os Red Devils avançaram com a contratação. Os adeptos esperavam uma máquina de golos, mas o dianteiro acabou por pagar as penas de uma época longa e sem grandes oportunidades. Rooney, Ronaldo e Tevez continuavam a ser a primeira escolha. A sua chegada era um objectivo a médio-prazo.

Mas sem Cristiano e Tevez para fazer-lhe sombra, Dimitri Berbatov continuou tão desaparecido como quando foi raptado. Marcou apenas 12 golos em 43 jogos em todas as competições. Muito pouco. A lesão de Rooney, em Março, abriu-lhe as portas. Era a oportunidade que precisava. Não a aproveitou e os adeptos não lhe perdoaram. No passado domingo fizeram as pazes. A metralhadora búlgaro parece já não estar encravada. Os adeptos suspiram por mais um renascimento do eterno sobrevivente.  



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 15:57 | link do post | comentar | ver comentários (6)

Domingo, 19 de Setembro de 2010

O circo montado á volta da possibilidade de José Mourinho orientar a selecção portuguesa traz, uma vez mais, o selo inigualável de Gilberto Madaíl. O presidente da FPF não percebeu que a expulsão forçada de Carlos Queiroz também era, indirectamente, um cartão vermelho á sua politica directiva e procurou agarrar-se ao prestigio do mais consagrado técnico mundial para sobreviver. Acabou por multiplicar um problema de fácil solução. O resultado da equação é o enésime ridiculo do seu mandato.

Inédito talvez na história do desporto-rei. O convite que nunca chegou a suceder de Madaíl a Mourinho (e ao Real Madrid) para que o setubalense orientasse dois jogos - dois jogos chave - de Portugal na corrida a um Europeu que se vê cada vez mais distante roça o épico do disparate. Mina automaticamente o prestigio de qualquer um que venha a seguir ao inigualável Mourinho. Se esse é Paulo Bento, um técnico sem prestigio nenhum que soube acumular apenas segundos lugares durante os seus quatro anos como técnico principal, a situação é ainda mais confrangedora. Portugal perde - se é que alguma vez podia ter ganho - a possibilidade de ser orientado pelo técnico mais capaz do Mundo, num biscate de uma semana, e acaba por ter de se contentar com um técnico mediocre e sem o respeito que tantos já criticavam a Carlos Queiroz de não ter no meio futebolistico e junto dos adeptos. Porque se Scolari emergiu em 2002 como o "salvador da pátria", desfeita pelo erro em repetir aposta em Joaquim Oliveira, perdão, António, numa situação igualmente dramática como agora se adivinha (mas sem Geração de Ouro para resolver em campo os problemas do banco), pedia-se um golpe de efeito. Mourinho seria esse golpe?

Certamente, mas nunca num exercício a recibos verdes sem cobrança, por muito louvável que o seu patriotismo tenha emergido para contrariar a turba de comentadores que olha com desprezo aquele que mais fez pelo futebol português cá dentro e lá fora. Optar por um modelo como o que se viu na Austrália e Rússia de Guud Hiddink poderia ser uma realidade, não estive The Special One num clube glutão e incapaz de perceber, como o técnico, que as paragens no calendário para os compromissos das selecções são um calvário para um treinador que fica com meia dúzia de miudos para orientar. Mourinho teria razão em ficar desesperado com o egoismo do Real Madrid. Mas se a FPF nunca o realmente convidou...

 

Gilberto Madaíl, como bom português que é, com ou sem bigode, gosta de se eternizar no cargo.

Depois do Euro 2008 e da saída de Scolari quis reinventar-se chamando para o cargo o homem que iria revitalizar o morto (homícidio em primeiro grau) futebol de formação luso. Saiu-lhe mal a jogada. Queiroz é um mal amado incompreendido em Portugal, a equipa nunca o respeito e aqueles que ainda se lembram da primeira passagem do técnico pela equipa das Quinas receberam-no com as garras afiadas. Era um caso com final previsivel antecipado por um esquema que só em Portugal vingaria. Como vingou.

O presidente que tanto finca pé fez no técnico está agora num beco sem saída. Portugal corre o sério risco de, pela primeira vez desde 1998, falhar uma prova internacional. E a sua posturua durante o caso Queiroz tira igualmente pontos á dupla candidatura ibérica para a organização de um Mundial onde, realmente, Portugal só faria figura de corpo presente, sem sequer ter direito a jogos que mereçam a pena ser vistos. Recorrer a José Mourinho - que já tantas vezes falou sobre o seu interesse em ser seleccionador luso - foi provavelmente o golpe mais baixo do presidente federativo. Baixo para os adeptos, que durante horas sonharam com o seu particular salvador da pátria, para depois terem de se contentar com uma qualquer segunda escolha (pior ainda se essa escolha é Paulo Bento). Baixo para o Real Madrid, que há poucos meses apostou mundos e fundos no técnico português e durante esta semana não foi tido nem achado no esquema delirante da FPF e de Jorge Mendes, omnipresente dentro e fora do balneário do conjunto português. E, acima de tudo, baixo para o próprio Mourinho ao colocá-lo numa situação impossível. Dizer que não ao seu país era algo que Mourinho nem queria nem podia fazer, ele que sempre se viu como o técnico capaz de superar a fasquia de Scolari: vencer. Dizer que sim a Portugal significava desrespeitar um clube que apostou forte nele e que vive uma etapa de crescimento que necessita concentração máxima por parte do seu mentor. A opinião público madrileña, liderada pela inefável Marca de Eduardo Inda tratou rapidamente de colocar a opinião mediática contra o técnico e a federação lusa, o que já de si dificulta a labor de um treinador que ainda desperta reações extremas nos adeptos. Ao mesmo tempo colocou a direcção do Real Madrid num beco sem saída, incapaz de poder confirmar ou desmentir algo que, realmente, nunca sucedeu. Madaíl e Portugal no seu melhor.

Mourinho tem razão, não há grandes incompatibilidades entre ser-se seleccionador e técnico. Ele que orienta três jogadores titulares dos lusos, que conhece como ninguém o futebol português e os portugueses que actuam lá fora (incluindo o esquadrão espanhol). Ele que seria o elemento motivacional que o descreditado futebol luso necessita. Mas a hora - que chegará - ainda não é esta, particularmente porque, uma vez mais, na FPF não se souberam fazer as coisas. Madaíl esquece-se que a forma trapaçeira e rasteira de trabalhar em Portugal choca com um certo profissionalismo que vigora para lá de Vilar Formoso. Portugal e a sua selecção bateram fundo, uma vez mais. Oito anos depois do descalabor de 2002 Gilberto Madaíl continua igual a si próprio. Infelizmente, o futebol português também.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 11:25 | link do post | comentar

Sábado, 18 de Setembro de 2010

Está um avançado em campo apenas para marcar golos? É assim tão redutora a função de um dianteiro? O futebol moderno diz-nos que não e os tempos foram deixando para trás aqueles dianteiros goleadores mas vazios de futebol nos pés. Em Madrid ainda sobrevive um elemento dessa casta, um ser que rema contra a maré da evolução do jogo. Goleador sem eficácia, incapaz de ser apenas mais um, Gonzalo Higuain confirma de jogo para jogo, de ano para ano, que é o verdadeiro paradigma da inutilidade...

Os mais cinicos olham para os números. E os números dizem bem de Gonzalo Higuain. Os números fáceis.

O dianteiro argentino, conhecido como "Pipita" pela alcunha que já davam ao seu pai, um flamanete futebolista argentino dos anos 80 que passou a carreira entre o seu país e França, terra onde nasceu há 22 anos o seu mais jovem rebento, sabe marcar golos. Apontou 27 golos em 32 jogos oficiais disputados na última época. No ano anterior participou em 34 jogos e marcou 22 tentos. E nos seus dois primeiros anos no Bernabeu apontou 10 golos em 43 jogos disputados. Um sinal que nos deixa antever uma clara evolução mas que também não esconde um problema que redondeia o futebol do argentino: a eficácia.

Há jogadores que dão prazer ver jogar. Outros que desperam. Higuain pertence ao segundo grupo.

O seu estilo baseia-se no "eu, a bola e o mundo". Um paradigma que fez escola numa era onde o jogo não era tão competitivo e organizado mas que hoje já não faz sentido. Higuain marca mas não convence. Porque falha mais, muito mais daquilo que realmente concretiza. Há jogadores que jogam verticalmente em direcção à baliza, apostando na velocidade e na associação na busca do golo. Outros que gostam de jogar de costas para o guarda-redes e entrar no espirito colectivo de ataque. Higuain é um jogador perdido nas duas definições. Gosta de estar de costas para receber e gosta de seguir uma linha vertical para marcar. Mas faz tudo só. Exasperadamente só.

 

Se José Mourinho é um técnico que gosta de manter um estilo ao que sempre é fiel, uma das principais caracteristicas das suas equipas está no uso de um avançado colectivo. Já sabemos a importância do bloco para o setubalense, mas nessa definição o avançado tem um papel primordial. É o primeiro a defender e o primeiro a atacar um lance. É a ancora para toda a circulação de bola do sector médio e muitas vezes o eximio assistente dos extremos e médios centros que procuram o necessário desiquilibrio ofensivo. Também são verdadeiros killers, homens capazes de decidir jogos com um golpe de génio, um coelho sacado da cartola, quando mais nada funciona.

Foi assim com Derlei, a sua primeira experiência em Leiria que funcionou tão bem que acabou transladada ao Porto. O brasileiro marcava e dava a marcar, defendia e nunca desistia. Um modelo que Drogba aperfeiçoou no Chelsea, tornando-se no imenso jogador que é hoje. E que o mais cínico Milito explorou até aos limites nesse jogo vertical e colectivo que acabou com a consagração do Inter em Madrid, onde o argentino abriu o livro e fez o que mais ninguém em campo conseguiu. Marcar. Duas vezes.

Higuain (e Benzema) não encaixa nesse perfil. Não encaixa aliás no perfil do avançado moderno. Não só porque nunca joga para a equipa mas, principalmente, porque joga mal quando joga para si. É o dianteiro do futebol espanhol (e talvez europeu) com menor média de acertos de golo a remates efectuados. É o elemento mais rematador da sua equipa (até por cima do igualmente desesperante Cristiano Ronaldo), mas raros são os lances aproveitados. Grande parte dos seus golos acabam por vir de ressaltos ou pequenas emendas à boca da baliza. Como sucedeu no duelo contra o Ajax. E outras vezes sem fim.

Higuain ataca o lance com ferocidade mas, assim que se faz com a bola nos pés, o resto do Mundo desaparece. É impensável vê-lo a seguir o exemplo de Villa, Messi, Etoo, Drogba, Torres, Fórlan, Rooney, Muller e companhia, que procuram rapidamente o toque, a tabela, a desmarcação do colega na progressão para a baliza contrária. Higuain não larga a bola, corre, dribla, tenta a finta, tenta o golpe, tenta o remate. Raras vezes acerta. Muitas vezes destroi um lance de superioridade numérica. Um conceito básico que para o argentino não existe quando tem a bola a roçar a chuteira. Os seus números como assistente numa equipa predominantemente ofensiva como é o Real Madrid são assustadores. Em quatro temporadas não chegam às quinze assistências para golo. E quando falamos em marcar em grandes jogos, a realidade é clara. Higuain tem 3 golos em quatro edições de Champions League (frente ao Zurich e Ajax) e ainda não sabe o que é marcar ao Barcelona. Um avançado de low profile. Demasiado.

 

Há jogadores que não procuram o futebol colectivo.

Homens como Mario Jardel, o histórico goleador de FC Porto, Galatassaray e Sporting, nunca apoiavam o carroussel de ataque das suas equipas, que eram feitas à sua medida. Mas esses, para sobreviver, têm de apresentar um ratio de eficácia elevado. Como foi o caso. No entanto são elementos incapazes de dar o salto a outras realidades. Jardel nunca sobreviveria numa grande liga, onde todos atacam e defendem. E nunca foi uma opção para o escrete canarinho, por muitos golos que marcasse. E como ele, dezenas de dianteiros.

O argentino Higuain beneficia de uma crónica falta de concorrência. Na Argentina funciona como o homem certo no lugar certo para aproveitar o trabalho árduo de Tevez e Messi, os reais motores de ataque da equipa. No Santiago Bernabeu não tem concorrência. As lesões de Raul e Ruud van Nistelrooy abriram-lhe a titularidade. A implosão de Karim Benzema fez o resto. A decisão de Florentino Perez de não dar a Mourinho o avançado que realmente precisa, funcionou como a cereja no topo do bolo. Hoje Higuain sabe que joga porque não há ninguém para jogar na sua posição. Pensa que, ao marcar mais, legitima a sua posição. Engana-se.

Mourinho é um homem de ideias fixas e nesse aspecto sabe que tem um problema. Um problema para que ambiciona ganhar algo importante. Uma equipa com um duo ofensivo composto por Higuain e Benzema, dois verdadeiros paradigmas de inutilidade táctica e colectiva (no caso do francês agudizado por um problema de adaptação pessoal a lo Anelka) é uma equipa com pouco poder de fogo. E menor ritmo ofensivo.

Se Di Maria, Ronaldo, Ozil, Canales e Leon criam, Higuain deveria ser capaz de marcar. Mas o argentino nem entra no jogo criativo, nem resolve os jogos quando se lhe pede. Marca sim, mas marca pouco. E esse é o seu calcanhar de Aquiles. O simbolo máximo da inutilidade

Para o técnico português um avançado tem de fazer muito mais do que marcar golos. Tem de saber prender os defesas, libertar os colegas, sofrer na pele o jogo do rival e defender a posição até à morte. Um jogador macio, egoista e obcecado com a baliza não encaixa nesse perfil. É um jogador inutil. Para o seu natural desespero é com esse jogador que tem de atacar a época. Que tem de responder às altas expectativas levantadas à sua chegada à Casa Blanca. É com esse paradigma de inutilidade que é Gonzalo Higuain que José Mourinho tem que vencer. Se o fizer, o mérito será a dobrar. Por mudar o dianteiro ou por sobreviver ao seu hara-kiri semanal que dura largos 90 minutos...



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 12:02 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Quinta-feira, 16 de Setembro de 2010

que dar por vezes um passo atrás para depois conseguir dar dois em frente. Um cenário duro e cru que servirá de licção ao Sporting de Braga e de aviso às entidades que controlam o futebol português. Se as equipas grandes têm manifestado uma crónica dificuldade em ombrear com os grandes da Europa, o Braga é o espelho de um projecto ambicioso que se consolida no foro interno mas que tem muito caminho que percorrer lá fora...

O FC Porto saiu, na época passado, vergado por um 5-0 do Emirates Stadium. Anos antes tinha já sofrido um correctivo similar, tanto no recinto do Arsenal como em Anfield Road, casa do Liverpool. O Sporting, na sua última participação na prova maior do futebol europeu, foi humilhado de forma vergonhosa tanto por Barcelona como por Bayern Munchen, duas equipas claramente de outro mundo para a realidade lusa. E o Benfica, cujo sonho europeu acabou destroçado pelos quatro golos do Liverpool na época passada (depois de outros resultados humilhantes nas duas épocas anteriores contra rivais menores), também não escapa a essa realidade. Hoje por hoje o futebol português tem um grave problema competitivo para lidar com equipas rodadas, experimentadas e com outras ambições. Equipas como o Arsenal.

O conjunto de Arsene Wenger tem ainda uma natural agravante. Ao contrário de outros "gigantes", mais calculistas, como o Real Madrid, AC Milan ou Manchester United, o Arsenal é um conjunto que nunca tira o pé do acelerador. Joga sem piedade do rival mesmo que isso significa um maior desgaste. Uma abordagem mais romantica que tem os seus adeptos encantados (e que faz escola, como sucede com Barça, Chelsea ou Bayern Munchen, por exemplo) e que se torna num pesadelo para as equipas rivais. Equipas como o Sporting de Braga.

O repasso sofrido pelos bracarenses em Londres não é, de todo, algo inesperado, caído do céu, sem aviso. A goleada em Sevilla, e o apuramento histórico para a fase de grupos da Champions League, foi reflexo da atitude competitiva dos "Guerreiros do Minho", mas também da péssima abordagem ao jogo dos hispanelenses. Não por acaso o Sevilla conseguiu marcar apostando no erro do rival. Mais do que uma vez. Erros que em jogos a sério se pagam caro. Como ontem.

 

O Braga entrou com medo. Um medo natural de quem se enfrenta, pela primeira vez, a este mundo.

É uma realidade que nos toca mais de perto mas que sofrem todas as equipas que se estreiam neste universo onde o hino da Champions ganhe uma dimensão estratosférica. O Zilina, campeão da mundialista Eslováquia, sofreu ontem em casa outro correctivo às mãos do Chelsea. No ano passado o APOEL ou o Maccabi Haifa também tiveram os seus momentos negros. A Champions é uma prova repleta de desigualdades e Portugal continua a estar do lado de lá da barricada.

Os sucessivos erros defensivos que foram dando passo à merecida goleada dos gunners foram um claro exemplo do diferente ritmo competitivo com que ambos os conjuntos abordaram o jogo. O Braga sem Leandro Salino e com Hugo Viana é uma equipa claramente macia. Com Silvio à esquerda, a equipa ficou manca no lado direito e descompensou as transações ofensivas. Domingos continuou a apostar numa equipa com a defesa demasiado recuada, apostando no contra-golpe. Contra este Arsenal não se pode jogar na expectativa já que o seu ataque é, precisamente, a sua grande arma. O Braga recusou explorar as debilidades defensivas dos rivais e Vandinho nunca conseguiu acompanhar o ritmo imposto por Cesc Fabregas. O resto tornou-se em algo inevitável, a partir do 3-0, quando ambas as equipas já percebiam que o resultado final era o de menos. O Arsenal quis exibir-se diante dos seus. O Braga não teve força psicológica para aguentar o ritmo até ao fim. O desnível no resultado tornou-se inevitável.

A vitória londrina confirma o conjunto inglês, um ano mais, como uma das equipas obrigatoriamente a ter em conta na disputa pelo ceptro europeu. Mas o Braga foi um rival demasiado macio para dar a entender o real valor dos Gunners que no ano passado em casa deram réplica ao Barcelona antes de cair esmagado em Camp Nou com uma equipa que actua com as mesmas armas e os mesmos principios, mas como uma imensa dose de superioridade colectiva e individual.

Domingos terá agora a mais dificil tarefa do seu consulado em Braga. Depois de duas derrotas dolorosas contra FC Porto e Arsenal, duas equipas claramente superiores a vários niveis, o Braga percebeu que o seu projecto está no principio e ainda não pode ombrear de igual para igual com um grande doméstico e um grande europeu. O seu duelo será contra Shaktar e Partizan, sobretudo este último, e os jogos que faltam disputar funcionarão como uma importante aprendizagem futura. Também o Boavista começou na Europa assim, antes de se consolidar durante quatro anos como um clube mais maturo e preparado para os palcos europeus. Recuperar psicologicamente de um primeiro dia de aulas arrasador terá mais mérito de que qualquer vitória europeia. O Braga tem de entender que o projecto é para continuar, independentemente das pedras que o caminho vá deixando à sua passagem. Aí é onde se cria uma entidade de primeiro nível. E Domingos Paciência, melhor do que ninguém, sabe-o bem. 

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 17:43 | link do post | comentar

Nos jogos mediáticos que dão o pão aos milhares de jornalistas desportivos que sobrevivem para lá dos 90 minutos, a voz dos treinadores é fulcral para abrir ou fechar uma polémica sem sentido. Há os técnicos que apostam nesta guerra diária para manter os seus soldados firmes e outros que optam por responder em campo. Guardiola, talvez pela primeira vez, passou a linha e optou por entrar no confronto mediático. Acabou-se a "inocência" em Can Barça.

Quando irrompeu em Barcelona poucos davam algo, o que fosse, pelo sucesso de um treinador de 37 anos que tinha sido um brilhante jogador mas que no banco apenas passara uma época ao serviço da filial azulgrana. Três anos passaram e hoje esse mesmo treinador, Josep Guardiola, é uma das referências máximas nos bancos europeus. O seu Barcelona recuperou o fulgor do Dream Team de Johan Cruyff e a magia vertical do conjunto orientado por Frank Rijkaard. Aperfeiçoou o método e criou escola. Serviu como a base da equipa espanhola que se sagrou campeã europeia e mundial e criou um novo paradigma de jogo bonito.

Para lá dos seus indiscutiveis méritos tácticos - especialmente na relação de transições defesa-ataque onde explorou a defesa alta graças ao talento de Pique e à velocidade de Alves, sobretudo este, e Abidal - o catalão de Sant Pedor ganhou também a merecida reputação de gentleman dos bancos. Ao contrário dos seus rivais directos sempre procurou afastar-se de debates estéreis, desses que vendem jornais, criam egos, facilitam as campanhas de marketing mas que, para o jogo em si, têm pouca ou nenhuma importância. Escapou às discussões sobre Ronaldinho, vendido antes da sua chegada, e lidou com um silêncio sepulcral com a falta de "feeling" que teve com o camaronês Samuel Eto´o. Mimou sempre os seus jogadores, productos muitos deles da cantera que orientou, mas com uma profunda dose de realismo que não dava margem para grandes debates. E quando teve de defrontar-se nos jogos mentais dos rivais, predominantemente com José Mourinho, sempre se manteve à margem dos truques e dardos que poderiam ter beliscado a sua imagem quase esfingica. Mas o inocente Guardiola é já um rastro perdido do passado.

 

Para alguns é a presença de Mourinho - amigo mas eterno rival, nas disputas de paradigmas, métodos de trabalho e no duelo de génios criativos - que contribui para este novo Guardiola, mais arisco e menos conciliador. Para outros é a mudança na equipa directiva. Homem de confiança de Joan Laporta, a quem disse num principio que "no tendrás cojones" para o elevar a técnico principal do Camp Nou (falhada a contratação de...Mourinho) o técnico terá agora de trabalhar com uma nova direcção. Sem o seu amigo Txiki Begiristain como director-desportivo (substituido por outro velho colega, Andoni Zubizarreta), Guardiola sente-se mais distante do que nunca da direcção presidida por Sandro Rossell, o homem forte da Nike na Europa, valedor da chegada de Etoo e Ronaldinho e um homem que procura sempre o beneficio económico antes de qualquer coisa. A não-contratação de Cesc Fabregas, petição expressa do técnico, foi reflexo da politica de Rossell, de gastar pouco e manter boas relações com clubes patrocinados pela Nike, como é o caso do próprio Arsenal. Presidência essa que se manteve muda e calada durante a guerra de quase um mês que o treinador manteve com Zlatan Ibrahimovic. O sueco deixou de ser opção para Guardiola quando este teve de escolher entre Ibrahimovic e Messi. O primeiro foi relegado ao banco, o segundo ganhou a batuta ofensiva da equipa. Os problemas começaram no burburinho de um balneário composto por catalães e homens de confiança do treinador (Puyol, Xavi, Valdés, Pique, Iniesta, Messi, ...) e saltaram cá para fora quando o agente do avançado sueco começou a atacar pessoalmente o técnico. Guardiola estava isolado e teve de sair na sua própria defensa. E entrou no jogo. Para não mais sair.

O seu erro com Ibrahimovic (depois da saída de Etoo) deixou claro que Guardiola trabalha melhor com os seus homens de confiança do que com as suas apostas no mercado (Henrique, Keirisson, Chrygrinski que o digam). E entre todos, a sua debilidade é Leo Messi. Apesar de saber que conta com Xavi (um upgrade seu superlativo) e Iniesta (o médio avançado perfeito que nos anos 50 e 60 seria uma estrela mundial), a sua opção para número um é o argentino. Com ele no banco, Messi soltou-se da sombra de Ronaldinho e de Etoo, tornou-se no protagonista da orquestra, associou-se com Xavi e Alves e é o santo e senha do clube blaugrana. Uma debilidade tal que levou mesmo Guardiola a abdicar do seu papel neutral, onde se manteve durante dois longos anos com breves declarações repletas de desportivismo, e afirmar categoricamente que Messi "É o maior de todos. O segundo, seja ele qual for, nunca o alcançará". Palavras para quê.

Apesar dos inúmeros candidatos a "segundo", desde os flamantes holandeses Robben e Sneijder aos geniais espanhóis Xavi e Iniesta, supondo que Messi é, realmente, o primeiro, a ninguém lhe escapa que esta frase tem um destinatário: Cristiano Ronaldo. E com ele, José Mourinho.

Guardiola sempre escapou do duelo verbal com a entidade madrileña. Foi respeituoso com Schuster, Ramos e Pellegrini como poucos em Espanha souberam sê-lo. Nunca comentou as prestações de jogadores rivais nem os comparou directamente com os seus. Nem nas atribuições de prémios individuais, nem na antevisão de duelos directos. Mas agora, cercado por uma imprensa impactada com um José Mourinho mais cordial do que imaginavam, Guardiola teve a necessidade de reinvindicar o jogo do seu astro, e com ele, o do colectivo que orienta. Declarar Messi como o indiscutível número 1 - inalcançavel, intocável - é também atirar mais lenha à fogueira do eterno debate entre o argentino e o português. Um debate que agora perde força, essencialmente porque o novo número 7 do Real Madrid há muito que perdeu o ritmo e capacidade de surpreender que fizeram dele uma estrela em Old Trafford. Entre ambos é evidente que, hoje por hoje, Messi é mais completo, mais certeiro e mais constante. A Ronaldo falta-lhe a capacidade de surpreender, de improvisar e a regularidade que fez dele o número um indiscutivel em 2008. Mas se Messi está por diante de Ronaldo, a verdade é que o Mundial da África do Sul demonstrou que o argentino é um melhor interprete quando a orquestra que o rodeia (Pedro, Xavi, Busquets, Iniesta e agora também Villa) o potencia como um notável solista. Com uma equipa feita à sua medida - ao contrário dos seus "rivais", a sua superioridade perde força.

Mesmo perante essa evidência, a opção de Guardiola espelha, essencialmente, o final da tranquilidade em Can Barça. Adivinha-se um ano quente, com um ambiente de cortar à faca, entre Mourinho e Guardiola, entre Madrid e Barcelona. No meio dessa luta, dois artistas que se expressam melhor em campo que fora dele, são eleitos porta-estandartes dessa luta. Nem Messi reclamou para si esse protagonismo, nem Cristiano Ronaldo abriu um debate que não faz sentido. E quando todos imaginavam que sairia de Mourinho o primeiro dardo envenenado, eis que surge Guardiola como o "vilão desbocado", a abdicar dos seus principios de "gentleman", para ganhar o foco mediático. O técnico catalão ganhou a pulso o direito de exprimir a sua opinião como uma autoridade, mas a redundância do seu discurso implica, acima de tudo, um grito de guerra contra o eterno rival. Um grito disfarçado que vem em consequência de uma clara mudança de atitude desde o arranque da nova época.

 

O Barcelona continua a ser a avassaladora máquina de fazer futebol que tem marcado os últimos três anos do planeta futebol. Uma equipa que criou um paradigma de jogo, uma equipa que conta com um onze tipo perto da perfeição e que é orientado por um treinador que, apesar de não ser revolucionário, é alguém que soube interpretar com acerto a mutação genética que este Barça necessitiva. Mas o discurso de superioridade que chega de Barcelona deixa adivinhar que a humildade e o racionalismo que pautaram os dois primeiros anos do consulado de Guardiola têm os dias contados. O Barça de Guardiola (e de Messi, e de Xavi, e de Iniesta, e de Villa, e de....) quer-se agora acima dos demais. Mas no campo já se provou que a sua superioridade natural é contrariável. Nas conferências de imprensa, há uma guerra paralela que vai começar agora e que se estenderá até Junho. Sem inocência. E sem piedade.

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 05:11 | link do post | comentar

Quarta-feira, 15 de Setembro de 2010

Durante a última década o Atlético de Madrid viveu num constante dilema interno. Cada vez que se aproximava dos seus objectivos parecia que uma qualquer fatalidade deitava tudo a perder. A alcunha de "Pupas" foi ganhando força entre os adeptos mais descontentes incapazes de imaginar que em pouco mais de meio ano o clube que Madrid às vezes esquece daria uma volta de 180 graus.

Ainda hoje é uma imagem impactante.

No estádio Camp Nou de Barcelona, meia hora depois da equipa da capital espanhola ter perdido a final da Copa del Rey frente ao Sevilla, a afición colchonera continuava no seu sitio. De pé. Aplaudindo. Gritando. Saltando. Um sentimento de orgulho numa equipa que meio ano antes parecia destinada ao abismo e que se soube reconverter no momento exacto. Os jogadores, deitados no relvado, não paravam de contemplar as hostes que tinham feito mais de seis horas de viagem para os apoiar. Ninguém prestava atenção ao palco, onde os campeões andaluzes celebravam o novo titulo. A força do Atleti estava ali, nas bancadas.

A equipa madrileña, eterna segunda força da capital desde a explosão definitiva do Real Madrid durante os anos 50, tinha acabado de vencer, dias antes, a Europe League. Um triunfo europeu que matava uma fome de mais de quatro décadas, a maior da história do futebol espanhol nos palcos europeus. Um triunfo sofrido, é certo, contra um inesperado rival, o Fulham inglês, mas que culminou numa noite inesquecível na praça Neptuno, no coração do paseo del Prado. Para inveja da sua vizinha Cibeles.

A vitória europeia do Atlético de Madrid e a presença na final da Copa del Rey ajudou a remendar um ano que arrancou desastroso. Sob o comando de Abel Resino, histórico guardião do conjunto rojiblanco, o Atlético fracassou estrepitosamente na Champions League e navegava em águas perigosas na Liga BBVA. A direcção optou por substituir o técnico pelo mais jovem e mediático Quique Sanchez Flores, com um passado reconhecido em Getafe e Valencia. Uma opção que fez tod a diferença.

 

Quatro meses depois a nave segue orgulhosa o seu caminho.

Dois jogos, duas vitórias no arranque da liga espanhola o que permite ao clube colchonero desfrutar de uma liderança utópica há anos atrás. A isso pode juntar-se a dupla consagração nos palcos europeus, com a vitória sobre o Inter de Rafael Benitez no palco monegasco onde se disputa a Supertaça Europeia. Um ano que arranca em grande e que promete grandes feitos para uma equipa que vive constantemente entre o céu e o inferno.

Diego FórlanSérgio Aguero, as traves mestras do 4-4-2 que mais se parece a um 4-2-4 ultra-ofensivo que Quique Sanchez Flores implementou a partir de Fevereiro passado, continuam aí, como as grandes referências de uma entidade que parecia ter perdido um lider quando Fernando Torres, o precoce capitão, rumou desalentado a Liverpool para esquecer as penas de anos de frustrações sucessivas. Com Torres (e Maxi Rodriguez, e Petrov e tantos outros), o Atlético pareceu sempre um bom projecto de equipa que nunca saiu do papel. Apuramentos europeus inconstantes, muitas jornadas de sofrimento e derrotas quase inevitáveis nos duelos com o eterno rival da capital foram desalentando os adeptos. A imprensa, afecta ao Real Madrid, começou a catalogar os adeptos do clube que não celebra um titulo de liga desde 1996 (ano em que conseguiu o "Doblete" com um onze fora de série), de "Pupas", ou seja, os eternos "doi-dois" infantis, sem estofo para uma prova de adultos. Um rótulo que foi ficando e que levou mesmo a direcção a arrancar uma campanha de marketing para os mais novos que começava sempre com a frase "Papá, porque soy del Atleti?". Anos depois das frustrações acumulados, os mais pequenos já o sabem. O Atleti voltou a ser a equipa de moda, levando os principais analistas a considerar o onze do Vicente Calderón a única equipa capaz de fazer frente ao excessivo poderio que continuam a demonstrar Barcelona e Real Madrid numa liga de estrelas demasiado bipolarizada.

Nem a saída de Jurado, no último dia de inscrições para o Schalke 04, parece esmorecer as ambições dos adeptos. Com o flamante De Gea nas redes, Perea reconvertido num defesa fiável, Ujfalusi e Dominguez certos nas alas e Camacho, Gomez, Mérida, Assunção, Reyes, Simão e Tiago no apoio ao "duo-dourado" do ataque, o Atlético pode, realmente, ambicionar a tudo. 

Num clube com uma história tão grande amor e ódio com o sucesso tudo é possível. Haverá sempre o cínico que pense que no final do ano os foguetes da festa colchenera à muito que estarão no longinquo esquecimento de mais um ano de desilusões. Mas dois triunfos europeus e uma final perdida em três meses é mais do que a maioria dos adeptos e dirigentes seriam capazes de imaginar. Voltar à Champions, repetir o brilharete europeu e bater-se de igual com os dois grandes de Espanha são os desafios do ano. Não são pequenos, mas o Atleti tão pouco o é... 

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:00 | link do post | comentar | ver comentários (3)

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