Sábado, 31 de Julho de 2010

O país que apresentou ao mundo o Wunderteam há muito que agoniza. A sua liga perde, ano atrás ano, popularidade e carisma e a equipa nacional cometeu o feito de cair na primeira ronda do Europeu que organizou. No meio de tanto drama, uma boa noticia para alegrar o futebol austriaco: Yashin Pehlivan, o profeta dos descrentes.

A diáspora turca tem uma forte presença em Viena. Longe vão os dias do cerco, mas é inevitável caminhar pelas ruas arejadas da capital do centro da Europa e não sentir a presença de Istambul por todos os poros. Num país orgulhoso da sua origem, um país onde países nacionalistas de extrema-direita conseguem votações expressivas, não deixa de ser irónico que o futuro da sua equipa nacional esteja depositada num desses filhos de nenhum sitio, a meio caminho entre a Turquia e a Áustria.

Yashin Pehlivan nasceu em Janeiro de 1989 em Viena, filho de emigrantes de segunda geração vindos da Turquia nos anos 60 à procura de uma vida melhor. Para o jovem essa vida passa pelo futebol. Sempre foi assim. Desde os seus 10 anos que joga regularmente por clubes vieneses e pela equipa nacional de um país que tem em Krankl e Polster os seus últimos grandes heróis...de há mais de 20 anos. A Austria perdeu toda a importância que detinha no futebol internacional e, exceptuando o Euro 2008 que organizou, desde 1998 que não participa numa grande prova internacional. Muito pouco para um país com tanta história. Quando Pehlivan começou a jogar, o seu país despedia-se sem honra nem glória do Mundial de França. Dois anos depois começou a sua aventura no First Vienna FC, o clube mais antigo da Áustria. Passou aí os seus anos de iniciado, com breves empréstimos ao clube que originalmente o formou, o modesto Breteinse Wat 16.

 

Dono de um pé esquerdo espantoso, Pehlivan começou a sua carreira como médio ofensivo. Mas a pouco e pouco foi recuando no terreno de jogo até que se viu no miolo do relvado a pautar o ritmo das suas equipas. Transformado num pensador por excelência, o jovem Pehlivan tornou-se na grande sensação do futebol juvenil austriaco durante largos anos. Teve de esperar, no entanto, até cumprir os 20 para estrear-se na liga principal pelo Rapid Wien, clube que o contratou em 2003.

As notáveis exibições que logrou nas suas primeiras aparições foram uma verdadeira lufada de ar fresco num campeonato que vivia um duelo entre os grandes de Salzburg e Graz, bem longe do eixo central vienense. De tal forma que deu o salto à equipa de sub-21 austriaca, onde passou apenas três jogos antes que o seleccionador, Didi Constantini, o chamasse para a equipa principal. Pela Áustria disputou os últimos jogos de qualificação para o Mundial, a finais de 2009, e também os primeiros amigáveis de 2010, como titular no eixo do miolo austríaco.

A sua natural evolução dentro da liga austriaca começa a deixar antever que o futuro rapidamente passará por uma transferência para Alemanha ou Itália, local habitual de paragem da esmagadora maioria dos promissores austriacos. Poucos são os que, efectivamente, aguentam o ritmo competitivo de outra prova. Mas pouco também têm o dom de entusiasmar tanto um estádio como o jovem Pehlivan.

Ao contrário da Bélgica, outra selecção clássica em horas dificeis mas que conta com uma verdadeira geração de luxo, a Áustria depende muito do talento genuíno deste jovem para reestruturar a sua equipa nacional. A fase de apuramento para o próximo Europeu será a batuta sob a qual se medirá a sua real influência. A hora da verdade não está longe. 



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Quinta-feira, 29 de Julho de 2010

Os italianos popularizaram o "catenaccio", mas a essência do jogo defensivo de contenção e golpe remonta aos ensimentos de um mestre austriaco que viveu os anos dourados do Wunderteam para perceber que há equipas que só se podem travar com uma disciplina extraordinária. Nasceu assim o "ferrolho suiço", a mais polémica aportação táctica da história, obra e graça do maestro Karl Rappan.

Hoje chamam-lhe "estacionar o autocarro". Populariza-se uma forma de jogar que tem mais de 60 anos. O de jogar atrás. Sempre.

Muitos se queixaram que a recém-campeã do Mundo, Espanha, teve de defrontar várias equipas que se fecharam na sua área para aguentar o futebol de trocas de bolas sucessivas dos espanhóis. E curiosamente foi contra a Suiça que a Espanha abriu a prova. E perdeu. Os suiços, fieis à sua herança, souberam mostrar que, passados tantos anos, continuam a ser eles os maestros do ferrolho. Da contenção suprema. Do contra-golpe oportunista, cínico e eficaz.

Os amantes do futebol romântico desprezam os puristas do jogo defensivo. São os que ignoram os grandes defesas ou médios defensivos como alguns dos melhores do Mundo. Apenas porque a sua missão é destruir, evitar o golo. A regra básica do jogo. Até aos anos 50 as defesas eram, muitas das vezes, anárquicas e inofensivas. O jogo disputava mais no miolo, mas com o futebol de extremos, as oportunidades de ambas as partes multiplicavam-se. Os resultados eram outros e habitualmente prevalecia a equipa mais talentosa. Que era também, habitualmente, a mais rica e poderosa. O talento era a arma dos ricos. A defesa tornar-se-ia na arma dos mais pobres.

A mutação táctica do WM para o 4-2-4, durante a década de 50, assistiu a uma reorganização do sector ofensivo onde passaram a actuar, de forma fixa, quatro elementos. Nasceram os laterais, ofensivos ainda na sua génese, e os centrais de marcação passaram a contar com a preciosa ajuda do médio de contenção. Assim se deu um imenso salto qualitativo no jogo da década, com a Hungria, na primeira metade, e o Brasil, na segunda, como principais artifices desta mutação. Equipas de grandes avançados, com grandes defesas. Mas eram equipas balanceadas para a frente, com uma menor preocupação defensiva. Estavam ainda lolnge do modelo apresentado, anos antes, de Karl Rappan. Um homem que chegou para remodelar por completo o futebol mundial.

 

O técnico austriaco nasceu em Viena em 1905. Durante a sua juventude foi praticante amador no Rapid Wien, onde passou praticamente desapercebido. Em 1931 mudou-se para a Suiça, actuando durante cinco anos pelo Servette, onde venceu duas ligas. No final da sua carreira desportiva ficou pelos Alpes suiços. Rappan era um avançado móvel e conhecia bem as debilidades da organização defensiva da maioria das equipas. Nas suas primeiras iniciativas como técnico, no Grashoppers, Rappan começou a desenvolver um modelo táctico que explorava ao máximo o trabalho defensivo. Misturando o WM com o 2-3-5, Rappan defendia que a sua equipa devia posicionar-se toda atrás da linha de meio-campo, esperando pelo rival. Ocupando estrategicamente todos os pontos de ataque do rival, com extremos transformados em falsos laterais, o objectivo era evitar que a bola se aproximasse demasiado da baliza e recuperá-la no miolo, para depois provocar rápidos contra-ataques contra a descompensada equipa rival.

Nascia assim o "Ferrolho Suiço". Um nascimento que lhe trouxe sucesso imediato, quando venceu cinco ligas com o Grasshoppers em oito temporadas. Uma equipa sem nenhum talento individual, mas com uma disciplina férrea. Durante muito tempo o técnico defendeu que o WM, e mais tarde o 4-2-4, dependiam em excesso do talento do inviduo. Para ele isso era o de menos. O que valia era a força do colectivo, que marcava à zona na linha do meio-campo, e ao homem perto da grande área. Os jogadores rivais eram totalmente cercados, os espaços cortados e apesar da posse de bola pertencer quase sempre à equipa mais talentosa, esta pouco ou nada podia fazer com ela. Estava atada. O técnico deslocou um dos avançados para junto dos defesas, e criou assim a base do 5-3-2, quando o 4-2-4 era ainda uma miragem táctica.

 

A grande prova de ferro do sistema surgiu em 1938. Karl Rappan tinha sido nomeado seleccionador suiço, uma equipa sem grande tradição em competições internacionais. As expectativas eram baixas mas já antes do Mundial começar a Suiça tinha batido, de forma surpreendente, a Inglaterra em Basileia.

Até que chegou a poderosa Alemanha nazi, reforçada com alguns dos talentos austriacos do Wunderteam que Rappan tanto apreciava. A equipa germânica, patrocinada por Hitler, era uma das máximas favoritas para vencer o torneio. Mas foi incapaz de penetrar a dupla linha defensiva suiça. O jogo terminou com um 1-1 (o golo suiço marcado num contra-ataque, inevitavelmente) e no jogo de repetição, os suiços impuseram-se por 4-2 contra uma equipa alemã cansada do esforço fisico do dia prévio. Três dias depois a equipa suiça perderia por 2-0 contra a finalista Hungria, mas estava dado o sinal. Rappan voltou ao cargo em vários periodos, incluindo o Mundial de 1954, organizado na própria Suiça. Aí bateu a equipa italiana por 3-1, num duelo que acabou por se tornar na grande inspiração táctica para Nereo Rocca dar a primeira forma ao catenaccio que viria a pautar o modelo organizativo do jogo italiano nas décadas posteriores graças ao trabalho posterior de Herrera. O técnico continou a ganhar titulos na sua Suiça adoptiva e, progressivamente, as suas ideias começaram a conquistar admiradores. No entanto, para os puristas, o seu modelo roçava a blasfémia e as suas equipas eram categorizadas como formações menores. Durante anos foi assim. Hoje ainda é assim. Quando uma equipa aplica o "ferrolho" para defrontar outro conjunto, na esmagadora maioria das vezes uma equipa tecnicamente superior, é criticada de imediato. O futebol está aberto a várias interpretações. Saber defender é tão importante como saber atacar. Foi o que demonstrou a Suiça nesse jogo, em que soube neutralizar o estilo de jogo espanhol, conseguindo o golo num dos poucos lances de ataque que orquestrou. Chegou. Ao largo da prova outras equipas recuperaram o velho ideal suiço, mas sem o mesmo sucesso. Perdem em estética o que, muitas vezes, ganham em eficácia. Graças ao maestro Rappan.

Para muitos incluir Karl Rappan na lista dos melhores treinadores da história é algo impensável. No entanto o austriaco, que também esteve por detrás da invenção da Taça Intertoto nos anos 60, foi talvez o maior entendedor da organização defensiva pura. As suas equipas venciam a esmagadora maioria das vezes, precisamente porque sabiam defender melhor que qualquer outra equipa. O ataque era apenas uma consequência natural do organizado processo defensivo. Hoje o mundo do futebol vive encantado com a filosofia de ataque de Josep Guardiola ou da armada espanhola, criticando sempre técnicos tacticamente mais conservadores, como José Mourinho. Como em tudo, no futebol, tudo é passivel de ser aceite. E apoiado. Mas o génio é inegável. E se há algo que Rappan revelou ser, foi isso mesmo. Um génio visionário. O futebol agradece.



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Terça-feira, 27 de Julho de 2010

Vila Belmiro é mais do que o nome do estádio do Santos, o clube que Pelé eternizou na história do desporto mundial. Na sua imensa escola de formação de talentos o recinto baptizou também a nova geração de estrelas brasileiras que pede desesperadamente a oportunidade de reinvindicar-se. Oito anos depois da explosão do binómio Diego-Robinho, o clube do porto paulista está rendido aos novos "Meninos da Vila".

Neymar. Paulo "Ganso" Henriques. André. Wesley.

São os nomes e os rostos desta revolução mediática que assaltou este ano o Brasileirão. De tal forma que metade do país ficou estupefacto quando Dunga, o mal amado, rejeitou entrar na onda e levar os atletas ao último Mundial. Jogadores com meio ano de futebol internacional nas pernas mas com um fascinio que não deixa ninguém indiferente. Geração que sabe que o futuro é seu.

Desde que Robinho chegou ao Santos, por empréstimo do Manchester City, que o fenómeno mediático à volta do clube paulista triplicou. De isso aproveitou-se também a nova geração de talentos de um clube habituado a dar ao Brasil alguns dos seus melhores jogadores. Esta equipa santista, lançada por Dorival Jnr, rejuvenesceu-se por completo e aposta agora em atletas, todos eles menores de 20 anos, para voltar aos titulos que escapam desde que Diego, Robinho, Elano, Alex, Renato e companhia abandonaram o país rumo ao sonho europeu.

Neymar e Paulo Henriques lideram a nova vaga. São cobiçados por mais de meia Europa e resta saber qual será o preço desorbitante que Chelsea, Real Madrid, Barcelona, AC Milan ou Inter estão dispostos a pagar para conseguirem os serviços das futuras estrelas brasileiras que o país quer ver à frente da selecção canarinha no "seu" Mundial, daqui a quatro anos.

 

Neymar é o mais atrevido de todos.

Médio centro ofensivo, é um jogador com uma técnica fora do vulgar. Domina a bola como se fosse parte do seu organismo. Não tem a destreza táctica de um jovem europeu mas joga com o espirito livre de um miudo que dribla os barcos e velas que albergam o porto santino.

Com 19 anos é a já uma estrela, mesmo antes de ser um jogador formado. Tem um pontapé demoniaco e um estilo pícaro, capaz de inventar uma "paradinha" sem piedade do guardião contrário, no momento mais angustiante de um jogo decisivo. Com 15 anos já era a grande sensação do futebol juvenil brasileiro. Agora deu um salto qualitativo que lhe permite ombrear com os melhores, sem receios. A sua arrancada explosiva, recortada com vários dribles sem direcção determinada, tornam-no tão imprevisível como perigoso. Dos rivais diz que não que ter piedade, que o futebol é mais bonito quando se marcam 15 golos em vez de 5. Um espirito competitivo admirável mas que pode virar-se contra o feiticeiro quando passar o resto dos seus anos em ligas onde o 0-0 dura, dura, dura...

Do outro lado do ataque surge o elegante "Ganso", uma das estrelas maiores do último Mundial de sub-20 que o Brasil perdeu na final contra a selecção ganesa. Paulo Henriques é um esquerdino com um olho de falcão. Joga descaído no flanco mas com a mente no miolo central. Dá, reparte, volta a dar e assim enreda o adversário numa série de movimentos de plasticina pura. Perito no último toque, o "Ganso", é provavelmente o mais completo dos pequenos fenómenos que brotam em Vila Belmiro. Talvez por isso seja, também, o mais comedido.

Para completar a "Santissima Trindade" do Peixe, alcunha histórica do clube portuário, está o jovem André, dianteiro de 17 anos e muitos sonhos. O seu estilo de jogo e aparência fisica lembram Robinho. E não lembrava Robinho um tal de Pelé? Chamam-lhe o "garoto" numa equipa de miudos, mas o seu faro de golo é de gente grande. Trinta golos em seis meses é sempre muito. Mesmo nas ligas estaduais brasileiras. É rápido, gosta de se associar com os seus dois parceiros de ataque, e joga bem longe da área, um defeito que por vezes acompanha muitos dianteiros jovens brasileiros. Para ele o Mundo só termina numa baliza.

Se estes são as estrelas que fazem capa dos jornais diários brasileiros, a verdade é que este plantel santista tem mais opções de futuro. Do jovem Wesley, um médio ala com critério e rapidez ou o guardião Felipe, que superou um controlo anti-doping positivo para voltar à sua melhor forma. Os tubarões europeus cercam, cada vez mais de perto, o peixe miudo da Vila Belmira. Resta saber se algum deles conseguirá evitar cair na mesma ratoeira em que mergulharam Diego, Robinho, Elano e companhia.  



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Segunda-feira, 26 de Julho de 2010

Durante anos o binómio Raul Gonzalez-Real Madrid fizeram parte da mitologia desportiva. O número 7 merengue sobreviveu à era dos Galácticos e manteve-se como o simbolo espanhol de um clube sempre à procura do melhor lá fora. Dezasseis anos depois, a eterna relaçao de amor chega ao fim. El Capitán vai procurar em Gelsenkirchen demonstrar que há vida para lá do Bernabeu. O estádio que nunca o esquecerá...

Nao foi o melhor jogador que passou por Concha Espina na longa história do Real Madrid, mas provavelmente é dele a mais longa relaçao de amor entre um jogador e o clube mais titulado do Mundo. Com a ajuda da imprensa da capital, Raúl tornou-se num simbolo incontornável.  Um simbolo espanhol numa equipa de Galácticos estrangeiros. Um simbolo da cantera, numa equipa que sempre apostou em productos feitos. Ao contrário de Butrageño, a quem sucedeu no ataque da equipa merengue pela mao de Jorge Valdano, sempre teve do seu lado a exigente afficion do Madrid. Marcou golos fundamentais na história recente do clube. O gesto em que mandou calar o Camp Nou fez dele um herói imortal, que nisto das rivalidades os adeptos nao perdoam. Venceu tres Champions League, duas Intercontinentais e um sem fim de Ligas. Sobreviveu a Figo, Zidane, Ronaldo e Beckham sem nunca perder o seu número 7. Uma associaçao única, glorificada em Espanha, respeitada na Europa. No entanto, e apesar de tantas glórias colectivas, sempre passou ao lado dos troféus individuais, exceptuando os atribuidos pelo jornal Marca. Por duas vezes esteve perto do Ballon D´Or, mas a sua fama de avançado letal, mas limitida, passaram factura numa era onde ser espanhol ainda nao estava na moda.

 

Perdido numa encruzilhada, Raul tomou a mais dificil decisao da sua carreira.

O avançado anunciou hoje o que já há semanas se sabia em Madrid. Parte para a Alemanha, rumo ao Schalke 04, um clube com ambiçoes próprias e com um nivel de exigencia alto. Ao contrário de Guti, o herói maldito do Bernabeu, que rumará para o Bessiktas, para nao falar em Beckham, Henry ou Cannavaro, velhas glórias da sua geraçao, o dianteiro espanhol quer demonstrar que a sua veia goleadora nao ficou em Madrid. Desde há dois anos para cá que Raul era cada vez mais um peso para o Real Madrid. O clube era incapaz de lidar com o seu natural envelhecimento. Os adeptos pediam a sua utilizaçao, as boas épocas de Higuain significavam uma inevitavel mudança de ciclo. As más relaçoes entre o histórico Capitán, dono da braçadeira desde 2002, com o presidente Florentino Perez, tornaram a sua saida inevitável. O jogador queria mais destaque, algo condigno com o seu estatuto no balneário. Mas Perez, o homem que tentou vender o avançado por várias vezes no passado, e Mourinho, querem começar do zero. Um projecto que nao conta com pesos pesados mas data de validade à vista como o 7 e o 14.

O mérito de Raul está, como sempre esteve, na sua ambiçao. O abutre de área quer demonstrar que continua a ser um atleta de alta competiçao. Estará na linha da frente entre os titulares dos germanicos, um dos mais fortes candidatos a vencer a Bundesliga. E voltará a jogar na Champions League, onde continua a ser uma das maiores referencias goleadoras. Com Inzaghi e van Nistelrooy faz parte do trio de goleadores máximos da prova rainha europeia que venceu por tres vezes, um palmarés que supera o de qualquer outro jogador de top em actividade. E que muito diz do seu passado goleador, ele que marcou em duas das finais que disputou.

 

Raul teve de sofrer de fora o sucesso do futebol espanhol. Forçado a sair da selecçao após o Mundial 2006, catalogado como o "problema de balneário" espanhol, viu de longe os triunfos recentes de La Roja. Mas em Madrid continua a ser o herói intocável, o capitao com mais trofeus conquistados dos últimos 50 anos. O seu primeiro golo com a camisola branca foi contra o Zaragoza. O último também. Uma história circular de um amor eterno. Raul pode rumar até ao coraçao do Rhur. Para os adeptos do Real, ele será sempre o seu capitán. E muitos sentir-se-ao incapazes de dizer-lhe adios...


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Domingo, 25 de Julho de 2010

Todos os anos somos presentados com o resume das temporadas nas ligas europeias. De Espanha chega-nos, invariavelmente, a noticia de que há um novo Pichichi. Anos de experiência já nos ensinou que estamos a falar do melhor marcador da prova. Mas porque Pichichi? Viajamos atrás no tempo para recuperar a carreira do mais prolifero avançado da história do futebol espanhol.

Rafael Moreno Aranzadi é um nome desconhecido no meio futebolistico. Pichichi é uma lenda.

São a mesma pessoa, carne e osso, e porque não, alma e espirito, do maior goleador espanhol da primeira metade do século XX. O homem que quebrou barreiras e instituiu recordes, alguns ainda hoje por bater. O facto de ter jogado nas primeiras épocas da história do futebol do país vizinho retira-lhe o protagonismo que teria, anos depois, Zarra. Muitos dos números que rodeiam a sua carreira estão envoltos numa aura de incerteza. Mas o seu talento, registado para a posteridade, foi inegável.

O dianteiro vasco nasceu em 1892 em Bilbao. Uma era onde o futebol ainda estava a dar os primeiros passos no continente. Bilbao foi essa porta de entrada em Espanha e por isso é acertado dizer que Aranzadi nasceu no sitio certo à hora certa. O seu tio, e mentor, foi o célebre escritor Miguel de Unamuno, um dos maiores génios intelectuais da transição de século. Foi o tio que, ao vê-lo jogar sempre contra rapazes mais velhos, nas ruas do porto de Bilbao, o baptizou como o "Pichichi", o pequenino. O nome ficou para a posteridade com a mesma certeza da prosa do autor de Niebla.

 

Em 1911, com 19 anos, o dianteiro estreou-se com a camisola da equipa principal do Athletic Bilbao.

Depois de anos a jogar pelas equipas de reservas, foi-lhe finalmente dada a oportunidade de brilhar. Nesse dia começou uma longa carreira de sucesso que só terminaria 10 anos depois. O clube basco venceu o jogo por 3-0 mas Pichichi não marcou. Uma raridade, como se veria.

Era habitual vê-lo jogar com um lenço branco, atado à cabeça, que o distinguia imediatamente dos demais. Dois anos depois de estrear-se, quando já se tinha celebrizado como goleador (chegou a marcar 10 golos por jogo em quatro encontros consecutivos), tornou-se também no primeiro jogador a marcar no mitico estádio de San Mamés, aquando da sua inauguração. Durante essa década o dianteiro apontou cerca de - e aqui entram as dúvidas estatisticas - 100 golos. Não existia então um campeonato nacional, só a Copa del Rey, e ao serviço do Bilbao, o dianteiro conquistou por quatro vezes o trofeu. Por cinco ocasiões ganhou o campeonato regional do Norte, disputado por equipas da zona do Pais Basco, Navarra, Asturias e Cantábria. Em 1920, Pichichi fez parta da expedição da selecção espanhola, então na sua primeira aventura Olimpica, aos Jogos de Antuérpia. Marcou o seu único golo internacional, contra a Holanda, e conquistou a Medalha de Prata, até 1992 o melhor resultado olimpico do futebol espanhol. No ano seguinte pôs um ponto final à sua carreira. Tinha 29 anos mas já começava a ser criticado pela afficion basca e decidiu dar inicio a uma carreira como árbitro. Não foi possível. Meses depois faleceu, surpreendentemente, de tifo, deixando orfão o ataque basco durante largos anos.

O último avançado a ostentar o titulo de Pichichi foi o argentino Leo Messi. O prémio com esse nome foi lançado pelo jornal Marca com a benção do ministro dos desportos de Franco, o general Móscardo, a partir de 1953. Ao longo da história houve jogadores que marcaram uma era e venceram o prémio bem mais do que uma só vez. Os golos de Zarra, Di Stefano, Hugo Sanchez, Quini ou Puskas ficaram para a posteridade. Mas a história decidiu ficar com o nome de Pichichi, o avançado que faz ecoar do passado a precisão do seu disparo.



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Quarta-feira, 21 de Julho de 2010

É impressionante a forma voraz como funciona a Comunicação Social portuguesa a pedido, a súplica, a necessidade. Depois de um ano louvando, com motivos, a genial época de Quim, um desses eternos mal amados, ninguém se pareceu preocupar com a sua dispensa e subsequente substituição por um guardião espanhol que está a anos-luz da média altíssima que exibem os "porteros" espanhóis na actualidade.

Se a fama actual do grande momento que vive o futebol espanhol se deve essencialmente ao génio dos seus "bajitos", é impensável negar o brutal aumento qualitativo que se está a verificar quando se analiza, detalhadamente, a evolução desportiva, fisica e psicoloógica do guarda-redes espanhol. O que há uns anos era uma dor de cabeça, agora é uma fonte inesgotável de talento.

Uma evolução espantosa que não conhece clubes, regiões ou faixas etárias particulares. Do nada, ou como se fosse, foram brotando os pequenos grandes talentos que hoje garantem que a melhor escola de guardiões da actualidade é, sem dúvida alguma a espanhola. Um titulo que já pertenceu a alemães, italianos e soviéticos, hoje todos bastante distantes da sua era dourada. Imaginar que qualquer um dos três campeões do Mundo convocados por Vicente del Bosque seriam titulares em quase 90% das selecções presentes no Mundial é dizer pouco do alto nível de qualidade que se vive no país vizinho. Para isso é preciso ver quantos ficaram de fora dessa lista.

Mais do que Iker Casillas, Pepe Reina e Victor Valdés, verdadeiros génios entre os postes, é preciso não esquecer os Diego Lopez, Gorka Iraizoz, Manuel Almunia, David De Gea, Andres Palop, Sérgio Asenjo, César e afins que ficaram de fora. São eles o verdadeiro espelho desta geração. E nesta lista de 10 nomes não há espaço para Roberto Jimenez, o homem por quem o Benfica achou conveniente pagar 8,5 milhões de euros, uma cifra de recorde quando falamos do número 1. Particularmente deste.

 

Roberto Jimenez é herdeiro de uma celebre escola de guardiões, a do Atlético de Madrid.

À beira do Manzanares nunca houve espaço para si. A presença do argentino Leo Franco, do francês Gregory Coupet e depois de Sérgio Asenjo, uma das grandes promessas do futebol espanhol, foram sempre impedimentos para conquistar a afficion colchonera. Incapaz de mostrar aí o seu valor, Roberto teve de viajar por essa Espanha fora à procura de minutos. Esteve na triste campanha de despromoção do Recreativo de Huelva, onde passou sem grande brio. No ano passado, superado pelo jovem David De Gea, de apenas 19 anos, foi forçado a rumar emprestado ao Zaragoza, para disputar a segunda volta. Ajudou a equipa a manter a categoria, sofreu 17 golos em 15 jogos e não deixou particulares saudades. Nem aí, nem em nenhum lado. Este ano não tinha clube, nem destino. Até que apareceu Jorge Jesus, preparado para ordenar outro profeta.

Depois de um ano onde manteve na baliza um constante foco de instabilidade, sempre mostrando pouca confiança no trabalho de Quim, o técnico encarnado conseguiu um dos seus principais objectivos. Garantiu a dispensa do internacional e mandou vir do país vizinho um guardião com pouca aura e algum potencial. Depois de ter contratado Julio César ao Belenenses, de manter Moreira e de andar pelo mercado juvenil a contratar um jovem guardião esloveno (Jan Oblak), o espanhol torna-se no terceiro "portero" que o técnico encarnado decide levar para a Luz. Num posto onde, precisamente, o que se procura é longevidade. E segurança. Essa segurança que Roberto nunca deu no seu passado. Essa mesma (in)segurança que não tem dado no presente. Mais do que os golos sofridos, e a forma como foram concedidos, é o olhar inseguro que delata Roberto. Não tem a frieza dos dez nomes acima citados, muitos deles com um valor de mercado infinitamente menor do que o Benfica decidiu pagar pelo guardião. E no entanto está aí, camisola com águia ao peito, preparado para suster os ataques rivais. E se a liga portuguesa não é propriamente uma prova muito rematadora, particularmente com o sem número de equipas que gosta de rematar como quem controla as balas na camara da pistola, já o espectro europeu, onde este Benfica quer e deve fazer boa figura, o cenário muda claramente. E Roberto não parece ser, claramente, o homem certo para o trabalho.

Se a direcção e o técnico encarnado se mostraram hábeis no último defeso, com contratações cirúrgicas e acertadas, também é verdade que os erros de Jesus e companhia começam a subir de forma alarmante. Do lateral Patric que caiu rapidamente no desconhecimento, ao ineficaz Shaffer, sem esquecer Felipe Menezes, Kardec ou o próprio Júlio César, preterido uma vez mais, é fácil ver que a taxa de acertos e de falhos anda bastante mais equilibrada do que a tal Comunicação Social, cuja única missão é vender, custe o que custar, mais um jornal, nos quer fazer crer. Roberto até pode adaptar-se ao esquema encarnado, realizar uma época de sonho e ser vendido pelos muitos milhões que ninguém viu mas que muitos alardearam. Mas na era de ouro do desporto espanhol, no periodo mágico da vida dos "porteros", o seu nome não aparece por nenhum lado. Por algo será.



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Terça-feira, 20 de Julho de 2010

"Todos os dias da semana, das duas às três da tarde, Ponce centrava e Gottardi cabeceava. Todos os dias. Uma vez fomos jogar a Córdoba. Centro de Ponce, golo de Gottardi. Ao dia seguinte ao ler o jornal vejo: “Com um cabeceamento oportuno ganhou o Estudiantes” Oportuno? Há 4 meses que todos os dias, das duas às três, Ponce centra para que o Gottardi cabeceie!”

A frase de Carlos Billardo resume o fundamental que é o trabalho de preparação semanal de uma equipa.

Há adeptos ainda que imaginam que o jogo que presenciam ao fim-de-semana é resultado, muitas vezes, da pura improvisação do momento. Da simbiose especial entre dois jogadores, de um lance arriscado e nunca visto de um jogador ou de uma jogada táctica inédita de um técnico. É tudo isso, mas tabém é muito mais. Futebol é treino. Acima de tudo. Por cima de tudo. No final de tudo.

Desde que o jogo se profissionalizou que o treino passou a ser a base absoluta do jogo. Tudo o que se reflecte em 90 minutos surge depois de horas e horas de aperfeiçoamento. De reforço fisico, de noções tácticas, de rotinas tão simples como saber quando atrasar a bola, quando reter, quando lançar. Pequenos e subtis toques para a bancada que quer ver golos, emoção e sentir o prazer de voltar a casa com a vitória ao seu lado sentada no carro. Mas detalhes que decidam provas, ligas, épocas, vidas. O jogador que não treina, é o jogador que não cresce.

O talento de um futebolista pode ser inato, precoce e imenso. Mas não é por acaso que a maioria dos talentos que povoam as ruas deste Mundo chegam aos clubes, a base da organização desportiva, e são engolidos por um imenso buraco negro. Não foi pelo penalty que falharam no jogo. Foi pelas dezenas que não marcaram nos treinos. Grandes mitos do futebol como Maradona, Pelé ou Cruyff adoravam ficar no terreno de jogo depois do final das sessões e treinar por conta própria. Tinham consciência da sua limitação. Do seu corpo como prisão. O treino dava-lhes a liberdade de explorar outro lado seu, que parecia escondido. O treino dava-lhes uma força suplementar.

 

O grande rival de Billardo na retórica do futebol argentino é César Luis Menotti.

São os dois campeões do Mundo com a albiceleste e são também os dois máximos profetas de duas correntes futebolisticas bem distintas. Mas ambos coincidem, hellas, num ponto. O treino é a base de tudo. Para o campeão do Mundo de 1978 "Uma equipa de futebol é como uma orquestra, quanto mais tempo de ensaio tenha, melhor toca!". Tal como Ponce e Gottardi, que aprenderam até à exaustão um simples movimento que se revelou decisivo, também o treino hoje define a maioria dos jogos. Os jogadores sabem-no, os treinadores sabem-no, até os directivos suspeitam-no. Os adeptos, muitas vezes, vivem na ignorância de saber que aquele remate do meio da rua só existe, porque no treino estava pensado, quando os restantes colegas abriram o espaço, puxaram a marcação e deixaram a via livre. Assim de simples!

Mais do que treinar esquemas tácticas, mais do que reforçar o aspecto fisico, a base do treino é a rotina. O jogador pode comportar-se como um actor no terreno de jogo, respeitando o guião até que um golpe de génio o faz improvisar. Mas o guião tem de estar aí. As compensações estão contabilizadas até ao milimetro. O médio que desce para permitir a subida do lateral. O avançado que flecte para dentro para puxar a marcação. O jogador que aparece ao segundo poste para receber o cruzamento. Tudo isso está idealizado na cabeça do técnico, plasmado no papel rabiscado do balneário e posto em prática pelos jogadores no terreno de jogo.

Os melhores treinadores não são só os que inventam e optimizam os sistemas tácticas. Nem aqueles que melhor sabem motivar os jogadores num momento de stress. São os que controlam a rotina de jogo ao minimo detalhe, os que potenciam os jogadores com base no treino constante. A aparição de Fábio Coentrão é o reflexo do trabalho rotinário imposto por Jorge Jesus, que transformou um extremo mediano num lateral de projecção. O trabalho musculado de Schweinsteiger e as penetrações na área de Thomas Muller não cairam do céu. Foram precisos meses de trabalho para Louis van Gaal conseguir que a sua mecânica funcionasse.

As semanas de pré-temporada são fulcrais para o sucesso desportivo de qualquer projecto desportivo. Não só porque definem a forma fisica que os jogadores irão apresentar nos picos de temporada, mas essencialmente porque é a única oportunidade que os treinadores têm de colocar em prática as suas rotinas. Sem pressão, sem resultados para obter, sem longas viagens para atrapalhar. Estes momentos definem uma época. Quando o capitão sobe ao palco, no final do ano, para receber o troféu, também esse lance foi treinado. É rotina pura. Pelo menos na mente de qualquer treinador.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:44 | link do post | comentar

Sábado, 17 de Julho de 2010

A 4 de Agosto o Sporting de Braga já saberá se o sonho europeu ainda faz sentido ou se o peso da realidade continua a ser maior que a ilusão dos sonhos. Um sorteio complicado, prova justa de forças para saber o real potencial de uma equipa que quer transformar o brilharete de um ano na rotina de uma vida.

De todos os rivais em cima da mesa, o Celtic de Glasgow era, certamente, o mais temido. A sorte é assim. Vai e vem quando quer.

A equipa que perdeu a final de Sevilla com o FC Porto em 2003, o conjunto que tem tido dois anos para esquecer na Scotish Premier League, a equipa que é um velho clássico do futebol europeu, com direito a titulo e tudo, será o fiel da balança para o projecto desportivo do clube bracarense pós-Carlos Freitas. O director desportivo abandonou o barco, depois do ano quase perfeito, mas deixou montada a estrutura que tem permitido aos arsenalistas um crescimento sustentado nos últimos anos. A ponto de estar aqui, a sonhar com o hino da Champions League.

Aceder à maior prova de clubes do Mundo é um desafio ao alcance de muito poucos. É talvez o torneio mundial com menor número de equipas participantes. A nata, e só ela, tem direito a entrar. E a sobreviver. O Braga nunca foi uma equipa sonante nos palcos europeus. O seu maior feito, que remonta a dois anos, foi vencer a última edição da Taça Intertoto. Ou, o mesmo é dizer, chegar aos Oitavos de Final da Taça UEFA. Nada mais. Muito pouco comparado com o rival que defrontará no estádio Axa, pela primeira vez, a 28 de Julho. Mas o historial não joga e o Braga é um projecto moderno, que nada tem a ver com o histórico clube da cidade dos Arcebispos. Depois dos mandatos de Manuel Cajuda, Jesualdo Ferreira e Jorge Jesus, o técnico Domingos Paciência logrou o melhor resultado da história arsenalista. Algo para relembrar ou para repetir?

 

A melhor época da história do Sporting de Braga começou com um fracasso europeu estrepitoso.

O conjunto foi eliminado pelo Elfsborg, equipa sueca de segunda linha, e lançou vários alertas. Eram as primeiras semanas do consulado Domingos e rapidamente se percebeu que foi uma derrota fundamental para o sucesso posterior. Diminuiu as frentes de combate. E fortaleceu o colectivo. Este ano o Braga foi forçado a arrancar, uma vez mais, cedo para a realidade doméstica. Quase um mês antes do arranque da Liga. E com muitas indecisões num plantel que perdeu o seguro de vida na baliza e vive à volta de um dilema sobre o seu substituto, já que Quim assinou e depois foi forçado a passar pelo pós-operatório. A perda de Evaldo, um seguro de vida constante (Silvio e Antunes parecem ser as opções), e de Hugo Viana, o fiel da balança, são dúvidas para as quais ainda não parece haver resposta clara à vista. Demasiados senões para um clube que almeja a elite. E que terá de se ver já com essa elite antes mesmo do circo começar.

Ao contrário do Braga, o Celtic de Glasgow está habituado a isto. A Escócia é um país com história no futebol mas, actualmente, sem grande cartel. Os seus clubes estão habituados a pré-eliminatórias e a terem de definir o plantel bem mais cedo do que é habitual. A equipa chegará a Braga perto da máxima força, com vários dias de preparação em cima, e com a ambição notória de voltar a um palco onde estão habituados a marcar presença. Têm o estatuto de favoritos e a mentalidade adequada para as grandes noites. Algo que o Braga nunca mostrou verdadeiramente.

O sonho da Champions League pode nascer morto. Terminar no céu cinzento de Glasgow, com um copo de whiskey ao lado para afogar as mágoas. Seria o resultado natural de um duelo entre um velho experimentado e um jovem em crise existencial. Mas também pode ser que toda a lógica e retórica em que consiste o rodopiar da bola sob o tapete verde se rompa definitivamente num golpe do destino, e que Glasgow seja a porta de embarque para um sonho maior. A Europa, afinal, está cheio de sonhos cumpridos.  



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:01 | link do post | comentar

Sexta-feira, 16 de Julho de 2010

pessoas que marcam épocas. Definem filosofias. No Maciço Central francês a pequena cidade rocosa de Auxerre cresceu desportivamente à sombra de um abade filho de um anarquista que cedo percebeu que o futebol era a melhor forma para captivar a juventude gaulesa. A história de um clube de futebol muitas vezes une-se à de uma personagem. Em Auxerre isso não poderia ser mais certo.

Ernest-Théodore Deschamps.

Um nome que hoje é desconhecido por tudo e todos. Mas este homem, religoso convicto, apaixonado pela vida, foi uma das grandes figuras paternais do futebol francês. Durante a primeira metade do século XX a sua imagem tornou-se no espelho da rectidão humana e desportiva. Um abade num país laico, como poucos, dificilmente teria ganho o respeito do público se não tivesse entendido que o novo ópio do povo, quando o século XX se prepara para arrancar, era já então o futebol.

Filho de um anarquista, Ernest Dechamps nasceu em 1868 em Villiers sur Tholon, pequena cidade da Borgonha, em pleno rebulíço politico. O pai, um activista radical e anti-clerical, escondia por detrás do seu trabalho como carniceiro o rosto de uma organização anárquica de implantação nacional. O jovem Ernest seguiu o caminho oposto e decidiu seguir a via religiosa, rompendo com a familia. Rumou para sul, para Auxerre, onde se formou em Filosofia e tomou os hábitos. Se não herdou o ódio pela igreja do seu pai, certamente que a sua infância lhe fez perceber o valor da acção social já que durante anos se tornou num dos grandes benfeitores dos mais desfavorecidos da zona. Em 1900, depois da morte do pai, que muito o afectou, e de passagens pontuais por outras cidades, é nomeado definitivamente como Abade de Saint-Etienne de Auxerre. O século tinha virado e com ele muitos aspectos da sociedade gaulesa. O futebol emergia de forma inesperada e, rapidamente percebendo o seu potencial, o abade Deschamps abraçou-o e decidiu fazer dele a base do seu trabalho social.

 

Em 1905, depois de largas negociações com a Igreja e com o Municipio da pequena cidade, finalmente fundou a Association Pour La Jeunesse Auxerrois. O nome foi reduzido a AJ Auxerre (Associacion Jeuness Auxerre) e tornou-se num caso único de uma equipa desportiva suportada por uma instituição religiosa, ainda que oficiosamente.

O clube arrancou com mais secções para lá do futebol (ginástica, tiro e uma secção musical) e o seu afã era menos competitivo e mais de formação juvenil. Depois de vários problemas para inscrever-se na Federation Française du Foot, numa década em que a questão da separação entre Estado e Igreja estava constantemente na ordem do dia, finalmente a equipa logrou estrear-se num encontro oficial. Foi em 1906 contra uma formação modesta de Migennes. A partir desse momento, e até ao inicio da I Guerra Mundial, a AJA venceu todos os campeonatos regionais da Borgonha. Por uma vez, em 1909, chegou à final do Campeonato Nacional, num duelo contra o Bons Gard de Bordeaux, perdida por 5-1. A morte da maioria dos jogadores da equipa, na guerra das trincheiras, coloca em causa o próprio projecto. Uma vez mais, o presidente Deschamps, pega no projecto e mantém-no vivo, mesmo quando em anos de grandes dificuldades económicas a equipa é forçada a não participar na prova nacional, remetendo-se aos duelos regionais. No pós-guerra, a semi-profissionalização do clube começa a ganhar forma. A chegada do primeiro treinador oficial, Pierre Grosjean, escolhido pelo próprio presidente depois de uma conversa filosófica numa mesa de chá, é o ponto de partida para a nova etapa da vida do clube. Um periodo que Ernest-Theodore já não vai viver. Com 81 anos, o eterno presidente e inspirador da AJ Auxerre, falece a 1 de Dezembro de 1949, deixando consternado todo o futebol gaulês. O clube rapidamente substituiu o nome do velho estádio pelo seu e começa as obras de melhoramento que terminaram com o recinto que ainda recebe os jogos da AJA. Dez anos depois entra pela porta de entrada do estádio um jovem de nome Guy Roux. Tornar-se-á treinador do clube durante meio século. Sempre respeitando os mesmos ideais que levaram um determinado abade a mudar a face do futebol do imenso massiço central francês. 

Ainda hoje há poucos clubes com o espirito do Auxerre. Especializado na formação, hoje como sempre, é um clube modesto mas com um historial de respeito. Em França é venerado pelos românticos e respeitado até pelos mais cinicos, como um clube diferente. O próprio Eric Cantona, que por lá passou nos principios da sua carreira, declarou que França não merecia uma instituição como a AJA. Um trabalho de décadas que brotou da mente de um homem, que viu para lá do hábito, a necessidade de utilizar o jogo como tábua de salvação para os mais desfavorecidos. A sua aura ainda ilumina o estádio com o seu nome, sempre que a sua equipa sobe ao relvado para recordar dias tão distantes.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:37 | link do post | comentar

Quarta-feira, 14 de Julho de 2010

ninguém se lembra de Tshabalala. É assim, a bola deixa de rolar e as memórias tornam-se selectivas. Cada um terá o seu Mundial na cabeça, desde o golo de Lampard que não entrou ao disparo fulminante de Iniesta. Horas depois da África do Sul ter dito adeus às últimas equipas já todos têm a cabeça em 2014. O Brasil espera e desespera, o Mundo sincroniza os relógios. O tempo vale bem mais do que parece...

É a inevitável despedida, a vida não dá nunca outra opção.

Não é um adeus doloroso, não foi para tanto. O Mundial de 2010 chegou ao fim, a ressaca da festa em Madrid, Amesterdam, Montevideo, Berlim e onde quer que estejam aqueles que vibraram com o espectáculo, também. Com o fantasma da nova época a ganhar forma, as contas para o próximo Europeu ou Copa América a ocuparem a mente de Federações e seleccionadores, durante uns dias ninguém pensará em Mundiais. O próximo, o de 2014, sob a vista maravilhosa do Pão de Açucar, parece a anos-luz de distância. Como o tempo voa. Há quatro anos Thomas Muller estava com os amigos na Fanzone de Munique a seguir o Mundial da Alemanha. Quatro anos depois foi uma das estrelas máximas do torneio. A vida é assim, repleta das mesmas surpresas que sempre nos reserva a FIFA com os seus jogos de bastidores, as suas politicas desportivas e, acima de tudo, o seu mutismo. A máxima organização futebolistica fez mais um bom negócio. Durante um mês teve o Mundo em suspenso, teve um lucro aproximado de 200 milhões de euros e a garantia de que aqueles que rogaram pragas e feitiços terão de esperar. Para eles o Mundial foi um sucesso. Financeiro, está claro. O resto sempre pareceu importar menos. Ora a Jabulani, ora as equipas de arbitragem desastradas (e até foram os europeus a ficarem pior na fotografia, antes que se fale nos árbitros do Terceiro Mundo), ora a incapacidade de oferecer um espectáculo visual interessante. A FIFA deixou o futebol de parte e desfrutou. Do som das vuvuzuelas, do desespero dos africanos com a mão de Luis Suarez - que tantos quiseram cruficiar da mesma forma que antes quiseram divinizar outra mão proíbida - ou da violência da tropa holandesa na final contra a merecida campeã.

 

Se a Espanha venceu o Mundial, e quem vence é sempre merecedor da glória, foi porque transformou totalmente a sua forma de estar.

La Roja sempre enviou equipas fortíssimas para as grandes competições, resultado directo de ter uma das melhores ligas e um dos mais sofisticados programas de formação do futebol mundial. Mas mentalmente eram equipas débeis. Até agora. A fúria deu lugar ao "tiki-taka" cansativo, para os rivais, pausado e cerebral. A equipa ganhou fortaleza na mente para aguentar as cargas dos rivais sem que as pernas tremessem. E para rematar os jogos no momento decisivo. Todas as vitórias da campeã foram logradas perto do fim. Quando os outros estavam cansados, distraídos, fartos de ver a bola circular de um lado para o outro, aparentemente sem sentido. Mas a frescura mental espanhola durou sempre 90, 120 minutos. O que fosse necessário. Tinham uma missão a cumprir. Não olharam a meios. Abdicaram de um médio criativo pela organização defensiva e fizeram de Sérgio Ramos um quinto médio. Não sofreram nenhum golo na fase a eliminar. Abdicaram do jogo vertical com extremos (Navas foi utilizado pouco, Pedro foi um revulsivo fundamental, mas doseado, Mata nunca contou) e horizontalizaram a bola. Até à exaustão. Até ao triunfo final. Perderam o glamour de 2008, dos cinco bajitos, ganharam a eficácia dos grandes campeões. Por isso, por terem uma geração espantosa e uma atitude irrepreensível, venceram. Não se lhes podia pedir mais.

E no entanto, fosse o Mundial um concurso de beleza, de estética, de paixão, e o titulo tinha mudado facilmente de mãos, tal foi a forma entusiasmante como a Alemanha sofreu uma metamorfose kafkiana. Se Low foi o grande responsável pela derrota no jogo decisivo, também é verdade que foi o arquitecto daquela que foi, talvez, a melhor equipa a pisar um palco mundial desde a França de 1998. Uma equipa refrescante, hábil no contra-golpe, jovem, disciplinada e letal. Humilhar duas equipas, sobrevalorizadas é certo, como a Inglaterra e Argentina, não está ao alcance de qualquer um. Ozil, Muller, Khedira, Neuer, Boateng, Kiesling, Marin, Kroos e Schweinsteiger sabem que têm tempo. A sua hora ainda não tinha chegado, mas ninguém duvida que aqui há matéria prima para dominar o futebol europeu da próxima década.

Num Mundial onde as individualidades desapareceram à minima sombra, de onde só Messi pode gabar-se de ter tido momentos futebolisticos de qualidade, entre as estrelas dos anuncios e campanhas publicitárias, os anónimos e subvalorizados, foram as verdadeiras estrelas. De Fórlan a Honda, de Vera a Lugano, de Salcido a Coentrão, jogadores sem pedigree de vedetas mas com o estofo de futebolistas que faltou às expedições francesa, inglesa ou italiana, por exemplo.

Um Mundial que também foi dos técnicos, sem no entanto ter sido uma prova de revoluções tácticas significativas. Tabarez era o técnico que menos recebia (menos só mesmo o fantasma da Coreia do Norte) e o que mais conseguiu, recuperando o prestigio histórico de uma selecção que os mais novos desconhecem por absoluto. Vicente del Bosque soube fazer, como Roger Lemerre em 2000, uma transição tranquila e eficaz como sucessor de um polémico mas visionário técnico. E "el loco" Bielsa provou que morrer agarrado aos seus ideais não deixa de ser uma morte triste e dolorosa. Maradona e Dunga também souberam o que isso é, voltando para casa pela porta pequena, mais o brasileiro do que o argentino, e deixando antever as grandes dúvidas que assaltam a próxima edição da Copa América. Torneio que parecia que ia dominar um Mundial que acabou por coroar o futebol europeu. Pela primeira vez desde o pós-guerra, duas finais consecutivas só com representantes do Velho Continente. Por muito pobre que tenha sido o jogo da maioria das equipas, a elite provou que está aí, no topo.

Talvez Tshabalala nunca mais seja recordado. Iniesta, esse, à muito que está imortalizado. Dois golos que abrem e fecham um prova que teve poucos grandes momentos de êxtase. Um torneio sui generis como poucos, hibrido e sem direito próprio a entrar na galeria dos inesquecíveis. Mas não deixou de ser um Mundial e, como são sempre insuficientes, eternizar-se-á na memória de quem o viveu e na mente de quem sonhará no futuro com as cores do arco-iris sul-africano sob o olhar atento de um menino espanhol a dançar o waka-waka ao ritmo do movimento de corpo de Xavi Hernandéz.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:55 | link do post | comentar | ver comentários (2)

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