Sexta-feira, 30 de Abril de 2010

Aterrou este ano na fria Escócia e rapidamente começou a provar que os rumores que vinham do distante oriente tinham fundamento. Desde Park Ji Sung que a Coreia do Sul não produz um jogador tão excitante. Da mesma forma que esse teve de passar por um periodo de adaptação no europeu PSV, o destino de Sun Yong parece ser o mesmo. Os grandes esperam pacientemente a sua "explosão".

Para não complicar, que nisto dos apelidos orientais há sempre mais dúvidas que certezas, há quem o chame em Glasgow David Ki.

Mas o nome Ki Sung Yong começa a ganhar direito próprio de exibir-se nas mais altas esferas do futebol escocês. Foi a grande contratação da Liga Escocesa no último ano e, apesar da debacle dos históricos católicos esta temporada, é uma atractivo mais a um campeonato em constante desiquilibrio. Com 21 anos o jovem extremo nascido em Janeiro de 1989 em Gwanju, é já uma estrela no firmamento. A sua Coreia natal ficou demasiado pequena, demasiado cedo. E levou-o a emigrar em Janeiro. Depois de quatro anos ao mais alto nivel com o FC Seol, onde disputou 64 jogos e apontou 7 golos, a proposta do Celtic tornou-se irrecusável. Como a que, meses antes, tinha levado o seu colega e amigo, Lee Chung Yong até ao Bolton Wanderers. E com quem partilhava a carinhosa alcunha Ssang Yong (Dragão Azul).

 

O seu estilo de jogo, baseado na velocidade e precisão do passe, tornou-se fulcral nas transições ofensivas da mundialista Coreia do Sul - onde muitos esperam vê-lo ao mais alto nível - e também do conjunto escocês. Os 3 milhões pagos no Verão pela equipa de Parkhead revelaram-se uma verdadeira bagatela. Não foi por acaso que em Dezembro foi eleito o Jogador Jovem do Ano de todo o continente asiático. No seu primeiro desafio com o Celtic, a 16 de Janeiro, foi eleito o Melhor em Campo. Repetiu o feito por cinco vezes nas jornadas seguintes assumindo-se como um dos pilares da equipa. A 7 de Junho de 2008 tinha-se estreado pela equipa nacional da Coreia do Sul, depois de dois anos a brilhar na selecção sub-20. Precoce, como sempre, assumiu-se como um dos elementos mais destacados da nova geração coreana, herdeira dos guerreiros de Hiddink que há oito anos surpreenderam o mundo.

Rápido e forte no jogo fisico, tem quase 1m90, é um médio inteligente que descai na banda direita do ataque. O seu futuro, está escrito, é um dos grandes da Europa e no seu país Natal é já uma figura nacional. Tempo ao tempo, o dragão que agora é escocês certamente mudará de ares. E tomará o testemunho do homem que em 2002 silenciou Portugal e elevou à glória um país onde o futebol supera o fanatismo.



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Quinta-feira, 29 de Abril de 2010

Um equipamento de futebol é um forte vinculo entre a equipa e os adeptos. Um elemento de identificação que dá muitas vezes direito a alcunhas e associações que entram para a história. O Brasil canarinho nasceu muito depois do que se suspeita e a Azzurra Itália jogou muitas vezes de negro. Mas quem se lembra? O tempo vai deixando a sua marca mas nos últimos anos essa lembrança tem vindo a ser destroçada pelas grandes companhias desportivas. O que a Nike volta a fazer com o equipamento da selecção de Portugal é apenas mais um (triste) exemplo desta ditadura visual.

A FIFA não permite patrocinios nas camisolas das selecções.

Não por qualquer razão patriótica mas porque nos seus jogos oficiais só os patrocinadores do gigante administrativo estão permitidos. Até os estádios com "naming" oficial são rebaptizados. Tudo em nome do lucro de Blatter e companhia. Mas se esses ingressos, tão importantes para os clubes, estão vedados à Federações, então o dinheiro tem de vir de outro sítio. Não é dificil adivinhar portanto que as empresas de material desportivo são os principais candidatos. E nenhuma soube aproveitar tão bem essa circunstância como a norte-americana Nike. Foi a alemã Adidas a primeira a impor a sua marca. Na altura foram simplesmente três listas nos ombros. Pouca coisa mas que eram suficientes para identificar as equipas que seguiam a companhia. Hoje tanta subtileza é até nostálgica face aos brutais assassínios visuais que empresas como a própria Adidas, Umbro, Kappa, Puma e Nike são capazes de cometer para garantir o seu lucro. A sua quota parte do espectáculo visual.

Não é por mera curiosidade que cada selecção muda, de dois em dois anos, o seu lote de equipamentos. Não se trata apenas de mudar o equipamento. É todo o conceito visual. Onde antes havia tiras agora há um fundo liso. Onde antes havia uma cor agora há duas. Tudo está permitido desde que seja novo, fresco. Rentável. As selecções entregaram a sua identidade nacional às grandes multinacionais e desde então têm pago bem caro esse negócio de Judas. Os equipamentos das selecções mais importantes sofrem verdadeiros crimes de lesa majestade. Que vão aumentando quanto menor for o poder de negociação das respectivas federações. No caso português, nem é preciso dizer, esse é extramemente reduzido.

 

Só isso explica a aceitação da FPF dos novos equipamentos de Portugal para a campanha do próximo Mundial.

A Nike - responsável pelas constantes mutações de visuais dos lusos na última década - volta a rasgar e começar tudo do zero. Com o beneplácito de Madail e companhia. Ao vermelho do equipamento principal (que já foi grenã, vermelho vivo e um vermelho vinho e agora é um vermelho neutro) junta-se uma lista horizontal grossa de cor verde. Um verde picotado que atravessa o peito e rasga o coração. E o design do próprio equipamento numa amostra inédita no historial dos equipamentos lusos. Nada que a Nike não tenha feito. Desde os ombros verdes e amarelos de 1998 ás tiras amarelas do Mundial de 2002, sem esquecer o vermelho com logotipos da FPF de 2004 e o vermelho vivo do último Europeu, tudo lhes é permitido. Esta é apenas mais uma nova aberração visual.

Quanto aos calções, Portugal regressa aos anos 60 e adopta a cor branca. Não o verde que marcou o equipamento pós-25 de Abril até ao Euro 2004. Nem o vermelho que tentaram implementar nos últimos seis anos. Um branco a querer fazer lembrar Eusébio e companhia. Vale tudo para convencer o comprador (adepto) de que aquele é o simbolo do país. Será? Dificilmente.

O segundo equipamento é ainda mais inovador. A Nike já recuperou o azul e branco, o cinzento e até o inédito preto como cores alternativas de um país que dificilmente abdica de jogar de vermelho. Agora são duas listas verticas em verde e vermelho a rasgar uma camisola branca com os tais calções verdes que desapareceram há muito do primeiro equipamento. Porquê? Porque é diferente. E isso vende.

A Nike tem a sua quota de responsabilidade mas o seu negócio é vender. No entanto, nunca ninguém viu o Brasil com uma variação tão radical no seu equipamento principal. Porquê? Simplesmente porque a CBF tem um poder que a FPF não tem. E sabe dizer até que ponto se pode tocar na "canarinha". Como a selecção brasileira há poucas equipas que abdiquem dos seus traços nacionais. Argentina e as suas listas, Espanha e a sua "Roja" e Inglaterra e a dupla histórica azul e branca-vermelhe e branca são casos raros. Fora desse espectro o habitual é que as selecções abdiquem dos seus principios para agradar a quem injecta muitos milhões.

Mais uma vez o Mundial marcará um desfile de 32 novos equipamentos, muitos dos quais nada terão a ver com a nação que os utiliza. Os traços básicos de cor estarão aí, mas os desenhos flutuam na mente dos criadores de novidades. E, inevitavelmente, os adeptos correrão a comprar a última novidade. Assim vive o negócio, assim se perde a identidade. Só faltam lá mesmo os patrocinios. Mas realmente quem precisa deles quando o negócio corre tão bem?



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 22:58 | link do post | comentar | ver comentários (6)

De pensar que se é a melhor equipa do Mundo a ser a melhor equipa do Mundo vão alguma distância. 180 minutos para ser preciso. A hipocrisia cruficificará a equipa que mais golos marcou, melhor soube atacar e defender. O poder mediático define comportamentos e o gesto heróico de Mourinho, dedo no ar em pleno Camp Nou, será uma das imagens mais polémicas do ano. Na noite em que o português se fez "Divino".

Para uns o futebol são só remates à baliza, golos espectaculares, trocas de bola rápidas e artistas de rua.

Para esses ontem viveu-se uma blasfémia. Mas mesmo esses, vestidos do traje mais hipócrita, dariam tudo para que o seu clube tivesse tido a temperança de aguentar a posição como os legionários de José Mourinho. Porque o futebol, como qualquer desporto, é uma questão de vencer ou perder antes de ser um mero espectáculo. Espectáculo é no circo, dizia Helenio Herrera. Ontem José Mourinho ganhou, por direito próprio, direito a entrar no panteão dos deuses do calcio com o histórico chileno, um dos treinadores mais goleadores da história apesar da sua fama de defensivo. Tal como o luso. É preciso ter em consideração que nos últimos 25 anos só Arrigo Sacchi, Fabio Capello, Boskov, Marcello Lippi e Carlo Ancelloti lograram chegar à final da prova rainha do futebol europeu com uma equipa italiana. E que o Inter, esse gigante adormecido, não pisa uma final da prova desde 1972. Há 38 anos. E isso é um feito.

Mourinho mostrou uma vez mais que é um ganhador e desta feita, ao contrário da sua etapa com o Chelsea, não houve azares de última hora ou árbitros distraidos que o impedissem de tentar repetir o feito logrado com o FC Porto. O sadino resgatou das trevas a equipa azul e branca e deu inicio a uma hegemonia que só teve comparação no futebol português com a equipa de 60-62 do SL Benfica. Com o Chelsea acabou com uma sede de mais de 50 anos de história e deu um golpe na mesa no equilibrio da Premier. Em Itália, mesmo que perca os três titulos que ainda disputa, já entrou na história.

 

O jogo começou antes dos 90 minutos.

A lesão de Goran Pandeev no aquecimento mudou completamente o jogo. Já se sabia que ao Barcelona cabia a despesa do jogo e que o Inter ia aproveitar o contra-golpe. Vantagem de 3-1 para gerir é renda incerta contra uma equipa habitualmente ultra-ofensiva como é o conjunto catalão. A entrada de Chivu deixou coxo o lado esquerdo do ataque. A má forma fisica de Sneijder tirou força ao contra-golpe do meio campo. E o árbitro belga destacado pela UEFA resolveu todas as dúvidas. A ridicula expulsão de Thiago Motta - com direito a um teatro impróprio para menores tão bem adestrados como Busquets - cortou qualquer hipótese de defesa ofensiva a Mourinho. A partir daí era preciso defender. O melhor ataque da Europa. O Inter abandonou o 4-3-3 por um inevitável 4-4-1. Que, com o passar do tempo, se tornou em 4-5-0. No banco não havia opções neste plantel feito de remendos e espremido até ao limite.

O Barcelona viu então a oportunidade de entrar pela via verde. E preferiu tomar um desvio pela antiga nacional. Em 180 minutos Mourinho mostrou todas as debilidades de Guardiola como técnico. Algo que demorou dois anos a suceder. O técnico, cavalheiro como poucos até agora, deixou-se levar nos jogos mentais do português. E tacticamente esteve irreconhecível. Lançou Maxwell para o lugar do improvisado Milito, a defesa-esquerdo. Mas manteve Messi no centro do terreno, onde esteve, como sempre, irreconhecível. O "melhor do Mundo" não teve uma oportunidade contra o Inter. Mais uma licção do português que já tinha sabido parar várias vezes a Cristiano Ronaldo em Inglaterra. Sem nunca recorrer a uma marcagem ao homem.

Com Ibrahimovic parado no meio dos centrais, o Barça nunca procurou esticar o jogo. Esbarrou com um muro montado de forma perfeita. Um jogo imenso do conjunto italiano, sem um único erro defensivo. Sujeitos a imensa pressão, os italianos aguentaram firmes a mareante troca de bola de Xavi, Messi e Busquets. Só que estes não encontravam um milimetro de espaço. Isso também é futebol!

 

No segundo tempo Mourinho abdicou totalmente de atacar. Sabia não ter condições para encarar, nem que por breves momentos, o Barcelona.

Mas Guardiola voltou a errar ao lançar Jeffren e Bojan. Ou talvez não tivesse outra arma no banco? Erro de planificação de época que se começa a fazer agora que Ibrahimovic grita em silêncio contra um esquema onde não se enquadra, feito à medida de Messi e não do seu jogo de associação. O Barcelona tentava mas Julio César nunca teve realmente de se incomodar. A bola esbarrava na primeira linha defensiva. Tal como contra o Chelsea no ano passado, este Barcelona mostrou ser virtuoso apenas contra equipas que não sabem defender. Tal como Cruyff contra Capello, também Guardiola parece ser incapaz de superar o obstáculo italiano de um bloco bem montado e impenetrável.

Os dez minutos finais foram intensos. Pique, o melhor dos blaugrana, apontou um golo genial, ele que há largos minutos era já o ponta de lança improvisado. Não fosse a posição de off-side. Mais um de muitos erros caseiros de um árbitro que amarelou Julio César aos 30 minutos por atrasar um pontapé de baliza e que passou o encontro a marcar faltas estratégicas à frente da área italiana. Todas, sem consequência. Mas se em Can Barça se falou de "remuntada" toda a semana, a verdade é que nunca se viu esse espirito eléctrico nos jogadores e no seu técnico. A equipa não carregou "à inglesa", depois do golo de Pique e nunca esteve realmente perto do 2-0. O jogo acabou como se previa. Vitória do Barcelona. Apuramento do Inter. 

Haverá quem goste ou não goste de Mourinho e do seu jogo. No futebol tudo é permitido, tudo é legitimo. Mas a falta de cavalheirismo do Barcelona demonstrou que o clube que encandilou a Europa nos últimos 365 dias voltou a cair em velhos erros arrogantes do passado. Ligar os aspersores quando os jogadores italianos comemoram é indigno. Agarrar o pescoço de um treinador que celebra, também. De insultos e apupos, já nem se fala. O ano passado o Mundo delirou com o sprint de Guardiola em Stanford Bridge e com os festejos em Madrid, Valencia, Roma, Monaco, Bilbao e Abu Dhabi. Em nenhum momento ninguém impediu o Barça de celebrar as suas conquistas nem ninguém se lembrou de os acusar de arrogantes. Fazê-lo agora é a melhor prova de que o fair play e as camisolas da Unicef só enganam quem querem. Para se ser a melhor equipa do Mundo há que ganhar. Não basta com fazer videos promocionais e jogar um futebol rendilhado sem consequências. O Barcelona entrou nesta Champions convencido de que a ganharia por ser quem era. Sai pela porta das traseiras precisamente porque não soube ser outra coisa diferente. O futebol, como a vida, é evolução. E este Barcelona, ao contrário do Inter metamorfoseado, é uma versão muito inferior do ano passado. O Inter pode desfrutar agora do seu sonho. Il Divino merece-o.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 08:25 | link do post | comentar | ver comentários (6)

Quarta-feira, 28 de Abril de 2010

São dois nomes próprios os que definem a espantosa campanha do ressuscitado Bayern Munchen. No último jogo da fase de grupos os alemães estavam eliminados. E agora estão a marcar hotel em Madrid. O génio de Robben - sério candidato a MVP da prova - e o olfacto do irrepreensível Ivica Olic foram as armas secretas do mago van Gaal. Agora o céu é o limite...

Derrotado pelo Bordeaux, muitos pensavam que o novo projecto do gigante bávaro tinha chegado ao fim antes de começar.

Van Gaal não parecia muito popular, no balneários os problemas com as velhas glórias cresciam e na Bundesliga os sucessivos tropeções davam uma péssima imagem. Até que o técnico, um dos mal-amados do futebol contemporâneo, deu um murro na mesa e impôs as suas condições. A directiva aceitou. Os resultados estão aí. Uma época inesquecível.

Van Gaal é um dos melhores treinadores dos últimos 20 anos. E um mago a avaliar o potencial dos seus jogadores. Ao chegar a Munich percebeu que Toni e Klose eram cartas fora do baralho. Demorou a ultrapassar esse problema. Deu a titularidade a um sérvio sem curriculum, Ivica Olic, e aproveitou para lançar vários jovens das escolas de formação. Badstuber, Muller, Contento, Alaba...a nova seiva do tigre muniquês. Soube perceber também que Arjen Robben é, por direito próprio, um dos melhores do Mundo quando motivado. E também deu a volta ao problemático Ribery. Hoje o Bayern já não precisa dele, algo impensável há um ano. Mérito do holandês que apostou na força do colectivo com Schweinsteiger, van Bommell, Altintop, Tymosuchk com armas de apoio a um quarteto ofensivo de luxo. Montado o esquema, encontrada a táctica, posicionados os jogadores...inevitavelmente chegaram as vitórias.

 

Apurado com uma goleada das antigas em Turim, o Bayern teve de voltar a Itália depois de sofrer bastante em casa para derrotar uma Fiorentina com muitas queixas do árbitro norueguês que na época passada já tinha aberto as portas de Roma ao Barcelona. Os Quartos de Final pareciam o limite a que a equipa, então já lider da Bundesliga depois de uma notável recuperação, poderia ambicionar. Até porque vinha aí Rooney e o seu Man Utd. A partir daí começou a funcionar o binómio Olic-Robben, que foram resolvendo, tranquilamente, cada eliminatória.

Injusta afirmação para uma equipa de muitas estrelas que vive, acima de tudo, da força do colectivo. Mas foi o letal croata quem se aproveitou do deslize defensivo inglês nos últimos segundos para dar uma preciosa vantagem para o jogo de Old Trafford. E foi o holandês, com um golo memorável, quem garantiu o apuramento dos alemães depois de estes terem estado a perder por 3-0. Três semanas depois o Olympique de Lyon voltou a perceber que Robben está em estado de graça. Num jogo de um só sentido o holandês concretizou o único tento. E deixou a porta escancarada. A mesma porta que abriu a pontapés Ivica Olic com um hat-trick repleto de garra e oportunismo em pleno Gerland. E se o Bayern tinha garantido o seu apuramento com os resultados em casa (perdeu em Bordeaux, Florença e Manchester), em Lyon os bávaros pareciam em casa. Não porque o Lyon foi o que sempre foi - uma equipa séria, sólida mas pouco mais - mas porque van Gaal sabe bem o que faz. E está perto de fazer um campeão europeu.

Longe de qualquer lista de apostas, este Bayern tornou-se inevitavelmente uma das equipas do ano. Não só porque pode conquistar uma tripla histórica no seu largo historial. Mas porque joga com solvência, inteligência e classe. Van Gaal voltou a dar uma licção e quatorze anos depois regressa a uma final europeia. Vem acompanhado de um exército preparado para tudo e para todos. Que ninguém os subestime. Pode levar uma boa surpresa.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 13:17 | link do post | comentar

São as visões opostas do futebol. Um técnico que gosta de ser o centro das atenções contra um homem que se recusa a dar entrevistas e fala só no colectivo. Um amante do jogo de toque, disciplina, herdeiro da tradição holandesa do "Futebol Total". Um técnico que sabe como ninguém ocupar os espaços, controlar o cronómetro, escolher o ritmo, fatigar para ganhar. São os dois melhores generais do futebol e só um deles poderá seguir para a batalha final.

Não houve na história do futebol um conto de ascensão vertiginosa tão súbita como Josep Guardiola.

Um dos melhores jogadores espanhóis da história, o médio centro lançado aos 18 anos por Johan Cruyff, tornou-se no treinador da moda. Todos gostam dele. Do seu estilo despreocupado. Da sua honestidade face aos rivais. Da forma como encara o jogo e como procura sempre algo mais do que a vitória: o espectáculo. No seu primeiro ano como treinador orientou a equipa B do Barcelona e levou-a da III para II Divisão B. No Verão, acossado pelos criticos e com Rijkaard a sair pela porta pequena, Joan Laporta ofereceu-lhe o posto de técnico. "No tendrás cojones", disse-lhe Pep. Mas teve. Depois de um Verão repleto de polémica e de uma derrota no jogo inaugural nasceu o Pep Team. Aproveitando duas pérolas do emergente Sevilla, o defesa Dani Alves e o médio Keita, e a cantera da Masia que o técnico conhecia tão bem, Guardiola incutiu um espirito ganhador numa equipa que já tinha vencido tudo e tinha caído na mais pura decadência. Foi um ano inesquecível coroado com a vitória em Madrid por 2-6 frente ao eterno rival e em Roma, onde o Barça voltou a sagrar-se campeão da Europa. Guardiola era o homem do momento.

Agora, um ano depois, muitas coisas mudaram.

O simpático Pep está mais cinico nos comentários. Utiliza a tipica jerga dos técnicos, falando de árbitros, teorias da conspiração e queixando-se de tudo e nada. Messi, convertido em falso avançado, acapara os titulos do melhor do Mundo mas continua a ser Xavi quem pauta o jogo. A equipa abandonou o 4-3-3 por um 4-2-3-1 mais flexível. E de ter ganho todos os trofeus (6) num só ano, o Barcelona está perto de ficar a zero. Os nervos estão à flor da pele e o Camp Nou contém a respiração. O "Principe" do futebol de toque, o homem que recuperou o jogo bonito e deu-lhe uma consistência defensiva que nem nos dias do Dream Team Cruyff ou do Brasil de 82 chegou a ter, está numa encruzilhada. Já nem tudo brilha no horizonte.

 

Do outro lado da barricada atravessa o mar um exército disciplinado, férreo e disposto a morrer pelo seu general.

Um estatuto que Mourinho ganhou nas suas diversas campanhas de guerra. Desde que irrompeu no União de Leiria que Mourinho mostrou ser especial. Com aquela equipa de remendos montou um conjunto espantoso. Transformou o decadente FC Porto em rei da Europa em dois anos, perdendo menos do que qualquer outro técnico. Em Londres fez história, levando o Chelsea a um titulo que há 50 anos que não saboreava. E em Milão, bem, em Milão outro tipo de história espera-o. Mourinho é provavelmente o melhor treinador da última década. Falta-lhe talvez uma segunda Champions para o fazer destacar dos seus rivais. Uma Champions que procura desesperadamente. Para ele o único verbo que sabe conjugar é o ganhar. Na época passada o Inter venceu o Calcio mas caiu logo na Champions. Não havia ali um ADN ganhador. O sadino sabia-o. Mas esperou. No Verão fez negócios cirúrgicos. Sneijder, Motta, Milito, Etoo, Lucio, todos eles chegaram em boa hora. Pandev e Mariga vieram ajudar no Natal. Mas o colectivo já estava montado. Acusado de técnico resultadista e defensivo, a verdade é que Mourinho não procura o espectáculo. Procura ganhar. Não admite vencer um jogo por 5-0 e empatar o seguinte quando pode ganhar os dois por 1-0. Assim se fazem os campeões. Mas também os vilões.

O português, um pouco à imagem e semelhança de Cristiano Ronaldo no terreno de jogo, sina nossa, é o técnico mais odiado do Mundo. O outro lado do espelho de Guardiola. O lado que ninguém gosta de ver. Mourinho fala no "eu" em vez de centrar-se no "nós". Domina o espaço do terreno de jogo de tal forma que extende e comprime um encontro com um ligeiro ajuste. Ninguém muda três vezes de modelo de jogo em 90 minutos. Só ele. E só ele pode travar a irresistível campanha de dominio de um Barcelona que se assemelha muito ao AC Milan de Sacchi, a última formação a vencer por dois anos consecutivos a Taça dos Campeões. O Rei dos bancos tem a sua prova de fogo. Com o Chelsea caiu duas vezes nas meias-finais por erros arbitrais e puro azar. Agora leva para o estádio que o despreza uma vantagem curta mas que terá de saber manobrar. Quem não conhece Mourinho poderá pensar que irá defender. Mas o português quer ganhar. Sempre. E se perder, será com golos. Essa é a sua filosofia.

Com todo o respeito que o Lyon e Bayern merecem, a final da Champions 2009/2010 desenrola-se hoje à noite. Em Barcelona e não em Madrid. Num ambiente de euforia e loucura onde se define o estilo do ano. Haverá quem aposte tudo no futebol espectáculo do Barça que em Milão se viu asfixiado pela teia de aranha neruazzura. Haverá quem acredite que o cinismo no futebol compensa e que Mourinho fará este ano o que ao Chelsea pouco faltou para lograr na época passada. Será dificil que o futuro campeão europeu não esteja hoje no relvado, nessa luta entre o Principe e o Rei à procura de levar para casa o manto de Imperador. Da Europa! 

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 04:08 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Terça-feira, 27 de Abril de 2010

poucas equipas com tanta história no futebol germânico como o mitico conjunto do FC Kaiserlautern. O clube fundado fez parte do período aureo do futebol germânico mas há quatro épocas que agonizava na segunda divisão. Até agora. A dois jogos do fim os guerreiros do Rhur estão de regresso à elite.

Kaiserlautern é uma cidade pequena no sul da Alemanha de apenas 100 mil habitantes que deve o seu nome ao simples facto de que o imperador Frederico Barba-Roxa gostava de se retirar nas suas terras a caminho de caçadas.

As bandeiras norte-americanas são ainda omnipresentes, resultado directo das várias bases da NATO na zona tão antigas como a Guerra Fria. Mas com o passar dos anos as bandeiras foram diminuindo e hoje são poucos os marines que se referem à cidade com K Town. Os mesmos que faziam vibrar as bancadas do Fritz Walter Stadium, o único recinto na história dos Mundiais que recebeu uma prova enquanto o seu clube militava numa divisão inferior. Essa é a importância do Kaiserlautern para o futebol alemão.

Tetracampeão da Bundesliga, o último titulo de liga remonta a 1998, precisamente na época que se seguiu à sua primeira despromoção. A equipa que viu nascer para o futebol várias estrelas, dos irmãos Walter, heróis de Berna, a Miroslav Klose, goleador-mor da Mannschaft da última década, depois caiu na penumbra. E só agora se ergueu. Definitivamente. E com um sabor agridoce. A equipa tinha perdido na sexta-feira por 1-0 contra o Hansa Rostock, outro histórico a lutar para não cair nas ligas regionais. Uma derrota que parecia adiar o inevitável. E assim foi. Dois dias depois o empte do Augsburg e o FSV Frankfurt, confirmou o que só a matemática tinha teimado em adiar. A subida de divisão. Os sete pontos de vantagem sobre o terceiro a dois jogos do fim garantem que, pelo menos, o segundo lugar pertence aos Diabos de K Town. O titulo de campeão está à mera distância de um empate. Para confirmar no fim de semana que vem.

 

A época do histórico Kaiserlautern correu de feição. Apesar dos pontuais tropeções parecia que os adeptos acreditavam que a subida de divisão era apenas uma questão de números. Nos últimos anos o histórico conjunto tinha deixado sempre a sensação de não estar preparado para atingir a elite. Este ano tudo foi diferente.

É uma equipa sem estrelas ou nomes sonantes. Maioritariamente germânica com o ascedente do leste europeu que sempre atraiu os alemães. Sippel defende as redes com invulgar eficácia. A linha defensiva de Dick, Schulz, Amedick e o brasileiro Rodnei cumpre serviços minimos mas é no meio-campo onde está a força do conjunto vermelho. O veterano Fuchs, o bósnico Paljic, Bugera e Mandjkec, jovem promessa emprestado pelo Sttutgart, surgem em apoio da dupla ofensiva Nemec-Jendrisek. Sem nomes, mas com a raça do técnico Marco Kurz. Assim se moldou a campanha ganhadora do histórico conjunto. Desde cedo nos lugares de topo, quase nunca com dúvidas onde antes pululavam incertezas. O título está perto, para garantir um regresso à elite em estilo. Mas há muitas dúvidas no ar. Depois da péssima gestão desportiva que obrigou a actual direcção a vendar o mitico Fritz Walter, remodelado para o Mundial, há pouco dinheiro em caixa. E muita expectativa. Cumprir com as exigências de uma liga de elite como se está a tornar a Bundesliga é um exercicio complexo. Que o diga o Hertha de Berlin, há poucos anos a disputar a Champions League e que agora se prepara para fazer o caminho inverso. Ou o Karlsruher, finalista vencido de uma Taça UEFA nos anos 90 e que há vários anos se afoga em cada tentativa de voltar entre os grandes.

A festa na pequena localidade faz eco com todos os nostálgicos dos clubes de elite. Até há dez anos atrás só havia quatro clubes alemães que nunca tinham conhecido o sabor amargo da despromoção. Hoje só sobrevive o histórico Hamburg SV. Um fenómeno que começa a transladar-se a outras ligas da Europa. Cada vez mais a competetividade do futebol actual não dá oportunidade a argumentos nostálgicos de um passado distante. Talvez por isso o projecto FCK 2010 mereça uma atenção especial. Por uma vez a equipa esqueceu-se de quem foi e cumpriu com o seu sonho. O coração dos adeptos pode voltar a bater com tranquilidade. 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:47 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Segunda-feira, 26 de Abril de 2010

2003-2004. 38 jogos. Uma liga inteira. Sem serem batidos. Um registo histórico que poucas equipas alcançaram. Fazê-lo na ultra-competitiva Premier League torna a gesta ainda mais memorável. Não é por acaso que lhe chamam, ainda hoje, "The Invincibles". Poucas equipas jogaram com a pura magia daquele conjunto gunner do marechal Wenger.

Não foram os primeiros. Mas a diferença histórica que separa o Arsenal de 2004 com o Preston North End de 1888 é esmagadora.

Naquela época, uma das primeiras da história do futebol associado inglês, o conjunto dos subúrbios de Manchester conseguiu um registo impecável de 18 vitórias e 4 empates em 22 jogos oficiais. Um titulo cómodo a que se juntou a vitória na FA Cup sem conceder um só golo ao longo de toda a campanha. Foi a primeira dobradinha da história do futebol. Mas, com as devidas distâncias bem medidas, mesmo assim parece pouco comparada com a saga dos gunners do novo milénio.

Frente a uma legião de rivais de elite, o Arsenal provou ser a equipa perfeita. Falhou nas provas a eliminar, é certo. Mas a regularidade espantosa ao longo da Premier League é algo que, muito dificilmente, se voltará a ver. Nessa época a 38 jogos a equipa não perdeu nenhum. Conseguiu 26 triunfos e 12 empates. Uma racha que se estendeu durante 49 jogos, os primeiros onze da época seguinte que, curiosamente, viria a significar uma mudança histórica de ciclo, com a chegada a terras de sua Majestade de José Mourinho.

 

Nessa época histórica Arsene Wenger montou talvez a sua melhor formação até à data.

O francês tinha chegado em 1996 a Londres e rapidamente mostrou ser um técnico especial. Fez a equipa vencer a Dobradinha de 1998, mudou por completo o estilo do jogo do até então "boring Arsenal" e reformulou a politica de prospecção do clube. Cinco anos depois o projecto começava a dar lucro e a equipa vencera a Liga de 2002 com autoridade. Na época anterior, no entanto, o conjunto gunner tinha caído diante dos Red Devils. Mas a máquina estava já oleada. Aos notáveis internacionais que Wenger tinha recrutado a preço de saldo começavam a juntar-se as pérolas formadas no centro de estágio do clube. Ainda não era preciso vender anualmente as mais requintadas jóias e o sonho da Champions estava lá, incolume. Pelo menos isso não mudou. Nessa época, aliás, foi a grande desilusão europeia. Muitos davam em Fevereiro o conjunto londrino como o máximo favorito a vencer a prova. Mas a equipa caiu em Highbury com o eterno rival londrino nos Quartos de Final e disse adeus ao sonho europeu que isso ano se escreveu com azul e branco. Na FA Cup a equipa perdeu com outro dos seus rivais mais directos, o Manchester United. Duas derrotas que mancharam uma época a todos os titulos única. E que começou numa tarde de Verão em Londres num duelo contra o Everton do jovem Wayne Rooney. Um triunfo por 2-1 que seria o prenuncio da mágica série que se iria seguir. A vitória diante do Chelsea ajudou a apagar a imagem de um sério empate a zero em Old Trafford em Outubro. A 21 de Dezembro o conjunto empatou com o Bolton e perdeu a liderança. A 18 de Janeiro uma categórica vitória em Villa Park devolveu o clube ao primeiro posto. De onde não voltaria a sair entrando numa série de nove vitórias consecutivas. A goleada por 5-0 frente ao Leeds United, a 16 de Abril foi a confirmação de que o título voltava a Londres. Uma tarde de gala para uma equipa inesquecível.

 

O técnico tinha estado pouco activo no mercado, substituindo David Seaman pelo alemão Jens Lehman e contratando ao Sevilla a então promessa espanhola Juan Antonio Reyes. Anónima foi a aquisição ao Barcelona de um jovem chamado Francesc Fabregas que teria a oportunidade de se estrear na Carling Cup meses depois.

A equipa manteve o seu registo de bom futebol durante todo o anol Apoiando-se numa sólida defesa onde Lauren, Campbell, Touré e Cole punham a nota máxima de eficácia, dando uma imensa liberdade ao restante colectivo para porem em marcha um modelo de jogo que durante 365 deixou a Europa encandilada. Vieira como pivot do trio Ljunberg, Pires e Gilberto Silva, fez uma das suas mais espantosas temporadas. Os golos do sueco e as assistências do francês marcaram a caminhada final rumo ao titulo. E o brasileiro confirmou a sua espantosa evolução e adaptação ao futebol britânica. Na frente a mágica dupla Bergkamp-Henry. Uma parceria irrepetível que marcou uma era exibindo nessa época um registo espantoso de 45 golos entre ambos. Num banco de suplentes recheado de talento o técnico francês soube montar um plantel equilibrado. Os contributos de Edu, Pascal Cygan, o veterano Ray Parlour, o espanhol Reyes, o recém-chegado Clichy, o avançado francês Sylvan Wiltord ou o inesquecível Kanu foram fulcrais.

A época seguinte apresentava-se a ocasião perfeita para a equipa de Wenger fazer história. E nos dez primeiros jogos a equipa permaneceu invencível. Mas uma derrota frente ao Manchester United e uma série impecável de vitórias consecutivas do Chelsea de Mourinho ditaram o nascimento de uma nova ordem. Ao mágico conjunto dos Invencibles ficou a lembrança de um ano que provavelmente será irrepetível.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 11:41 | link do post | comentar

Domingo, 25 de Abril de 2010

Poucas vezes uma equipa logrou atingir tal patamar de empatia com o público. A cada troca de bola daqueles onze diabetres o Mundo sorria e bailava ao ritmo do seu samba. Um sonho com final triste aos pés de um cínico dianteiro com ouvido para óperas trágicas. Nunca o samba brasileiro pareceu tão triste como no final de um jogo que definiu o futebol de hoje.

Foi a última vez que uma equipa assumidamente ofensiva brilhou num Mundial de Futebol. A sua queda, esperada pelos mais cinícos, definiu a evolução futebolistica dos 30 anos seguintes. Defesas sólidos, guarda-redes de alto nível, um meio-campo mais físico e um killer na área. A fórmula de Enzo Bearzot não se limitou a dar o inesperado Tricampeonato do Mundo à Itália, equipa por quem ninguém - nem os italianos - se atrevia a apostar. Foi uma fórmula que destroçou o samba mágico que saía dos pés dos homens de Tele Santana, o último dos românticos. Quatro anos depois o Brasil foi uma sombra de si mesmo. Oito anos depois tornou-se numa equipa irresponsável. Doze anos depois viria o esperado Tetra. Com um futebol ainda mais cínico que o italiano. O escrete canarinho aprendeu a licção e nunca mais voltou a bailar ao ritmo do seu futebol de toque e corre, cortesia de pequenas grandes genialidades de um tridente de luxo como nunca mais se viu para aquelas bandas. Depois de perder por 2-1 face à Polónia em 1974, no jogo do Terceiro e Quarto lugar, o Brasil não tinha conhecido o sabor da derrota num Mundial. Foram precisos 8 anos e 10 jogos para cair o pano. Numa quente tarde de um Mundial apaixonante até à última noite.

 

A 5 de Julho Itália e Brasil encontraram-se no calor tórrido de Barcelona. O desaparecido Sarriá cheio esperava um embate de titãs. Ao Brasil bastava um empate, fruto da vitória por 3-1 face à Argentina (os italianos tinham vencido apenas por 2-1). Eram favoritos. Tinham passado incólumes a primeira fase com duas vitórias por 4-0 frente a Escócia e Nova Zelândia e um triunfo por 2-1 face à URSS. O jogo de toque de Sócrates, Eder, Falcão e Zico enebriava qualquer adepto. Era a equipa mais forte do gigante sul-americano desde 1970. E tinha consciência disso. O público esperava que o jogo fosse um mero trâmite para o embate contra os polacos nas Meias-Finais. Mas do outro lado estava a ferida Itália. Uma equipa que chegou a Espanha marcada pelo fantasma da corrupção desportiva e que tinha sido apurada graças a três empates. A vitória sobre os argentinos chegou depois de um jogo violento com Maradona como único objectivo. E Rossi, o avançado repescado por Bearzot, ainda não tinha marcado. Até então.

O encontro teve sempre uma direcção. As redes de Dino Zoff sofreram um largo acosso do ataque brasileiro. Mas aos 5 minutos, no primeiro ataque italiano, Rossi surgiu do nada e abriu o marcador. Os brasileiros nem se imutaram e continuaram a sua dança. 10 minutos depois o professor Sócrates empatava. Os jogadores sorriam e dançavam, ecos de uma equipa que jogava, acima de tudo, por prazer. Nem contemplavam a hipótese de perder. Mais tarde Zico confessaria que esse foi o seu problema. Nunca mataram o jogo, trocando a bola por diversão quando podiam ter procurado o golo da vitória mais cedo. Oportuno como poucos, Rossi voltou a marcar, aos 25. E depois a Itália colocou-se toda na linha defensiva. E começou o massacre. Remates de Junior, Serginho, Zico, Eder, Socrates e, sobretudo, Falcão. Um deles rasgou as redes de Zoff ao minuto 68. Havia tempo. O Brasil abrandou o ritmo, confiante de que o golo era algo inevitável. O futebol não podia ser tão ágrio. Mas foi. Um toque subtil de Paolo Rossi, um coro de lágrimas perdidas no tempo. Uma celebração histórica. Ao minuto 74 o futebol moderno começou. O romantismo tinha acabado.

 

A Itália na sua versão mais racional foi poupando esforços até rasgar uma cansada Alemanha na final. Pelo caminho ficaram momentos históricos como o duelo franco-alemão, a péssima performance da anfitriã Espanha, a polémica argelina ou o ocaso de Maradona. Uma Inglaterra eliminada sem perder um jogo e uma Polónia que devolvia a ilusão aos que já não acreditavam no marechal Lato. Um Mundial histórico que definiu um antes e depois da história do torneio. Os fracassos sucessivos da Laranja Mecânica e do Samba brasileiro deram passo a outra mentalidade desportiva. Nunca mais o futebol seria visto como uma alegre diversão. Os cinicos competitivos tinham pregado o último caixão no futebol jovial.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:22 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Sábado, 24 de Abril de 2010

O que pode levar um dos mais sérios técnicos do futebol europeu a abandonar um projecto tão promissor em seis meses? Uma pergunta misteriosa que só Dick Advocaat saberá responder. O técnico holandês anunciou a sua saída do cargo de seleccionador belga, meio ano depois de tomar controlo dos Diabos Vermelhos. Com uma das melhores gerações da sua história, qual é o real futuro da Bélgica?

A quarta posição obtida na qualificação para o próximo Mundial diz muito sobre o actual momento da selecção belga.

Uma das históricas do futebol europeu vive há mais de uma década momentos complicados. Sem uma grande geração capaz de suceder aos Scifo e Wilmots dos anos 90, os belgas foram perdendo importância na cena internacional. E cairam posições no ranking da UEFA até tropeçarem com a mediania. Atrás de Turquia, Bósnia e Espanha, a Bélgica adormecia no meio do nada. Mas com os olhos postos no futuro. A escolha de Dick Advocaat para seleccionador era uma boa nova. O holandês, técnico de primeiro nivel, deixava o Zenith para encabeçar o processo de rejuvenescimento dos Diabos Vermelhos. Afinal, há poucas selecções no Mundo com um potencial tão grande para a próxima década. Olhando por alto para os seleccionáveis do conjunto do oeste europeu, há cerca de 20 jogadores que já são ou estão muito perto da elite. Um vácuo geracional que gerou uma colheita de primeira. Mas será suficiente?

 

Perdemos a conta aos nomes. Da baliza ao ataque há poucas posições onde a futura Bélgica não tem várias opções de primeiro nível.

Desde Logan Baily e Silvio Potro nas redes a uma defesa que conta com Kompany, van den Borre, Dedryk Boyata, Vertonghen, Alderweirld, Vermaeelen, Van Buyten, Lombaerts ou Pocognoli. Lembrando a força ofensiva de Lukaku, Dembelé e Mirallas e o talento do meio-campo de Hazard, Witsel, Defour, Fellaini, Radja Nainggolan, Carcela ou Marteens. Uma colheita de inveja com uma média de idades que ronda os 23 anos. Ou seja, com toda a década pela frente. Um projecto saboroso, sem dúvida, que muitos técnicos invejariam. E no entanto, meio ano depois de pegar no leme desta equipa de jovens lobos, Advocaat decide partir. Fala-se numa oferta milionária da Federação Russa, interessada em repetir com o holandês parte do sucesso logrado pelo seu compatriota Hiddink. Afinal Advocaat é bem conhecido em terras russas e deixou saudades. Mas será isso justificação? Será a Rússia uma formação com o mesmo potencial que esta equipa belga? Provavelmente não. Há, certamente, algo mais atrás desta decisão que deixa aberta uma apetecida vaga que agora começa a soar a prenda envenenada.

Não foi por acaso que numa das suas convocatórias o agora ex-seleccionador se tenha queixada de Fellaini, um dos simbolos desta nova vaga, estrela em tons afro do Everton. Como também haveria queixas sobre o comportamento violento de Witsel, a falta de compromisso de Lukaku ou até mesmo do exemplar Hazard. A geração de talentos belga, apenas similar à colheita espanhola de 99 (por onde andavam Xavi e companhia) ou à Sérvia de 2005, tem uma cara oculta. Uma das caras mais rasteiras do mundo do futebol. E isso pode cortar pela raiz um projecto que tinha tudo para ser ganhador. Verdadeiramente ganhador.

Desde 1986 que a Bélgica não logra as meias-finais de uma grande competição. No México viveu o culminar da sua geração de ouro que começou com van Himst e terminou em Scifo. Depois de uma longa seca (1 Europeu desde 1984 e 1 Mundial desde 2002), parecia que os jovens lobos e o experiente Advocaat tinham tudo para formar uma equipa de primeira. Não será assim. E de grandes esperanças, agora os jogadores belgas passarão a ter uma perigosa sombra sob as suas cabeças. Uma sombra de irresponsabilidade que terão de emendar no relvado. A partir de Setembro começa a corrida contra o tempo. Contra a história. Contra as versões mal contadas. Uma corrida que terão de ganhar. Seja com quem for.  



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 03:33 | link do post | comentar

Sexta-feira, 23 de Abril de 2010

Ser vizinho de um dos clubes mais bem sucedidos da história é sempre um problema. Para o Atlético de Madrid tornou-se numa maldição. A equipa que já foi filial do Athletic Bilbao na capital é hoje um terceiro grande que procura encontrar o seu espaço num futebol espanhol cada vez mais bipolarizado. Poucos são os que se lembram da sua época aurea, quando começaram a ser conhecidos como os "colchoneros".

Entre a imprensa indefectível do Real Madrid o Atlético ganhou a alcunha de "Pupas", um termo espanhol similar ao infantilismo luso "doi-doi".

Uma picada ao orgulho dos atléticos, essencialmente porque o clube nos últimos trinta anos passou a maior parte das temporadas a queixar-se e a lamber as feridas de sucessivos erros de gestão. Não é por acaso que desde os anos 70 que a equipa só venceu um titulo de Liga, em 1996. Muito pouco para o segundo conjunto da capital espanhola e, historicamente, o terceiro grande de Espanha. Há muito que o deixou de ser. Não só para o mais titulado Athletic Bilbao, o constante Valencia ou o emergente Sevilla. Até mesmo perante equipas de menor historial mas com projectos desportivos sustentados e que têm demonstrado no terreno e fora dele, a sua superioridade.

A presença nas Meias-Finais da Europe League, que começam a disputar-se esta semana, é o grande êxito desportivo da década para o clube rojiblanco. Desde o afastamento do polémico Jesus Gil y Gil que os seus sucessores, o filho Miguel Angel Gil e o productor cinematográfico Enrique Cerezo, têm sido incapazes de inverter o rumo. Os adeptos afastam-se da equipa e nem o forte investimento realizado este ano - não vendendo nenhuma das estrelas e contratando vários jogadores nos mercados de Verão e Inverno - mudou a fraca prestação doméstica. Salva-se a Europa e a lembrança de outros tempos.

 

A história pregou ao conjunto atlético o termo colchonero.

A origem remonta aos anos 20. Por essa época o clube começou a estabelecer-se como um dos grandes de Espanha, depois de ter sido largos anos apenas a filial do Athletic Bilbao na capital. Ao funcionar como equipa satélite do conjunto basco, os madrileños importavam os seus equipamentos de Bilbao. As celebres camisolas às listas brancas e vermelhas tornaram-se num icone da entidade. E, curiosamente, deram origem ao seu apelido. Por essa altura a maioria dos colchões comercializados em Espanha tinham a mesma origem. O desenho era funcional e exactamente igual à camisola atlética. Um colchão branco com quatro tiras vermelhas bem identificativas. A comparação foi inevitável. A alcunha ficou da mesma forma que o conjunto acabou intimamente ligada à praça Neptuno, recém-construida, para comemorar os seus triunfos. E ao rio Manzanares, que passa pelo oeste madrileño, e onde construiu o seu estádio, antecessor do actual Vicente Calderon. Ao contrário do rival Real, clube das gentes ricas do centro e norte da cidade, o Atlético ficou intimamente associado ao povo da zona sul. E assim seria.

Durante a Guerra Civil o conjunto mudou de nome para Atlético Aviacion, já que a designação Athletic Madrid fora proibida por Franco. Depois da fusão definitiva entre o clube e o Aviacion Nacional, em 1947, o clube passou a utilizar a designação de Atlético de Madrid.  E viveu então uma das suas melhores épocas que terminou nos anos 70, com uma final da Taça dos Campeões e a subsequente conquista da Taça Intercontinental. A partir daí o oásis. O fim do sonho colchonero!

Cercado por todos os lados, o conjunto colchonero procura rever a sua identidade. Tem um estádio novo à espera e uma equipa jovem com grande potencial. No entanto a divida acumulada pela direcção e a falta de competitividade do plantel tem levado a massa adepta à beira do desespero. Ser colchonero, hoje, é cada vez mais um sacrificio a que poucos se sujeitam. Mas, os que o fazem, levam as cores no peito até ao fim!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 11:01 | link do post | comentar | ver comentários (5)

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