Quarta-feira, 31 de Março de 2010

Os adeptos não tiveram dúvidas e elegeram-no o melhor da sua história. E agora terbo de sofrer e vê-lo do outro lado. Um sofrimento mutuo. Thierry Henry ainda está apaixonado pelo Arsenal. Ponderou nem jogar esta eliminatória. Acabará por subir hoje ao relvado de um estádio que ajudou a pagar. Mas, mais do que alguém alguma vez esteve, o seu coração estará partido. Já não existe o amor eterno!

Há três semanas viu-se o rosto de Beckham ao voltar a Old Trafford. E o aplauso senhorial do público. Para hoje espera-se uma reacção ainda mais apoteótica para o homem que definiu o que é o Arsenal do novo milénio. Só que ao contrário de Becks, a verdade é que Henry nunca se foi. O jogador que recusou em 2006 uma oferta milionária do Barça apenas porque era incapaz de deixar os adeptos gunners precisamente após estes perderem a final da Champions frente aos blaugrana, estará de regresso. Mas magoado consigo mesmo. E com o cruel destino.

Se do lado do Arsenal a sua actual figura é um catalão de Arenys de Mar, formado na Masia, e que todos os anos sonha em voltar ao Camp Nou, é curioso que do lado do Barcelona esteja a estrela número 1 da constelação gunner. De todos os tempos. Oito anos (1999-2007) bastaram para os adeptos do clube londrino o elegerem como o melhor de sempre. À frente de qualquer elemento da equipa de Chapman, do irlandês Liam Brady, do férreo Tony Adams, dos goleadores Wright ou Bergkamp. O francês suplantou-os a todos. Naturalmente. Nunca os gunners jogaram tão bem. Nunca foram tão letais do que com o número 14. Em oito anos a equipa venceu duas vezes a Premier, foi a uma final da Champions e outra da UEFA. Venceu 3 FA Cups. E sobreviveu às constantes sangrias que, Verão após Verão, fustigava Londres. No meio de tudo isso Henry era o elo. Agora estará a sofrer, com a camisola do rival. Guardiola jogará com ele porque não conta com Iniesta. Mas a cabeça do francês, profissional como poucos, estará mais do que dividida. Em Barcelona encontrou os titulos europeus que o Arsenal não lhe podia dar. Esperou 10 anos pela sua Champions. O Arsenal ainda não ganhou a sua. Mas o seu coração ficou em Londres. Com a sua magia.

Foi no Verão de 1999.

O Arsenal tinha vendido o espectacular Nicolas Anelka ao Real Madrid por números inimagináveis. Começava a funcionar a politica de captação de jovens talentos posta em prática anos antes por Arsene Wenger. O técnico que em 1998 tinha devolvido os titulos ao clube gunner já tinha substituto. Foi a Turim resgatar um apagado Henry, um dos seus discipulos dos dias do AS Monaco. Em Itália o avançado, campeão do Mundo em 1998, tinha estagnado. Em Londres explodiu. Ao lado de Suker e Bergkamp tornou-se na chave do jogo do Arsenal. Venceu por três vezes o prémio de Melhor Marcador e Jogador da Premier. Marcou golos de antologia. Celebrou duas ligas, uma das quais, a dos Invencibles, consagrou-o como um dos melhores de sempre na história da competição. O Arsenal tornou-se o clube de Henry e mais 10. Os veteranos foram saindo, os mais novos iam chegando e partindo. Henry estava sempre aí. Parecia uma história de amor à antiga. Até que chegou Paris, 2006. O Arsenal perseguia a sua primeira Champions. O Barcelona a segunda. Dois clubes de futebol de ataque, ofensivo, mas sem grande palmarés europeu. Henry não marcou, o Barça ganhou. Aí o francês percebeu que a taça que todos queriam teria de ser ganha noutro sitio. Teve uma oferta milionária de Joan Laporta. Recusou. Conquistou o coração dos adeptos com a frase "Os fãs já perderam a Champions para o Barcelona, não merecem que eu também me vá." Ficou, um ano mais. Não ganhou nada. No final da época Laporta voltou à carga. Wenger não se opôs. O sonho era mais forte que a realidade. Henry partiu. Em Can Barça perdeu a magia do tempo. Aos 33 anos já não era a mesma gazela que cavalgava em Highbury. O posicionamento táctico, a relação com Ronaldinho. Tudo atrapalhou. Saiu o brasileiro e chegou Guardiola, admirador e amigo. Manteve-o num posto que não queria, mas deu-lhe liberdade. Henry foi o menos determinante do trio da frente. Mas conseguiu o que queria. Em Roma. Com a camisola maldita para os gunners.

Talvez Henry quisesse hoje estar do outro lado. É um atleta acabado em Barcelona, mais pela relação com a imprensa e a futura direcção - de um critico seu como é Sandro Rossell - do que com o técnico. Fala-se no seu sonho de ir para os Estados Unidos, conhecido que é o seu fascinio pela cultura yankee. Mas ao ver a casa que ele também ajudou a financiar com os seus golos, a nostalgia certamente entrará pelas entranhas. Beckham saiu de Old Trafford mas nunca manifestou o desejo em voltar. Henry sempre acalentou um regresso de filho pródigo. Volta, sim, mas como um guerreiro rival numa luta de vida ou morte. O amor pode ser mortal. Resta saber para quem.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 18:27 | link do post | comentar

Nenhuma equipa como o Manchester United sabe da importância que os minutos de desconto podem ter no desenrolar de um jogo. Ontem Alex Ferguson esteve amnésico. E o Bayern teve direito a uma doce desforra. Mais do que voltar a vencer o rival inglês (que só por uma vez logrou derrotar o clube bávaro), fê-lo nesse minuto mágico...90+2.

Barcelona está vingada. Uma vez mais. Na hora certo. Minuto pontual.

Não foi apenas o facto de ontem o Bayern e Man Utd terem trocado de papéis. Os cinicos alemães tornaram-se em fantasistas de teor ofensivo e os românticos ingleses foram os cruéis defensores do jogo de táctica e ferrolho. Foi o doce grito de revolta de uma angústia que leva mais de uma década apertada no peito do adepto alemão. Ontem cada adepto do Bayern Munchen teve de reler e rever as dolorosas imagens da quente noite de Maio barcelonesa. Só eles perceberam o grito de Olic, camisola arrojada ao chão, delirio no olhar. Um golo justo. Pela história. E pelos 91 minutos anteriores. O jogo abriu com um golo e fechou com outro. Pelo meio só houve uma equipa a querer jogar. Querer ganhar. E não foi o Manchester United. Ao marechal Ferguson ontem faltaram-lhe todos os generais. Os mais veteranos esconderam-se atrás dos batalhões. Gary Neville cometeu uma falta de juvenil e abriu caminho a um fortuito empate, cortesia de Rooney. O médio Paul Scholes, que nem jogou essa mitica final, nunca se encontrou no relvado. Há anos, muito provavelemnte, que o 18 falhava tantos passes numa só noite. Destruiu o jogo de construção do United. Carrick e Fletcher, mais preocupados em destruir e perder tempo, também não ajudaram. E o jogo estancou aí. Nem Nani, demasiado verde, nem Park, pendente de recuar para formar o tampão, souberam estar à altura. E o gigante Rooney abriu as hostilidades com um golpe oportuno de cabeça para depois desaparecer. Por duas vezes teve o golo. Por duas vezes falhou. E no final saiu com dores no pé, colocando em risco tudo. A Champions, a Premier e até o Mundial. Noite negra.

 

Mas se houve ontem futebol ele saiu do conjunto bávaro. Ribery foi atrevido e van Bommell activo. Foram dando forma ao ataque alemão que Klose e Olic teimavam em não aproveitar. Com Robben e Schweinsteiger na bancada os adeptos desesperavam por mais contundência. O golo do United, madrugador como poucos, doía bastante. Até que o francês remata num inocente livre contra a barreira e o destino faz-lhe um favor. Tudo igual outra vez. E justiça no tapete verde. Ao contrário do que seria de esperar, o balneário fez muito mal ao Man Utd. A equipa voltou ainda mais conservadora e defensiva, se cabe. E o Bayern atacou com tudo. Com a entrada de Gomez o massacre tomou outras proporções e a defesa inglesa era incapaz de estancar a hemorragia. O Bayern jogava já num 4-1-3-1 declaradamente ofensivo pensando apenas na vitória. Ferguson tentou ludibriar van Gaal lançando Valencia e Berbatov, dois homens de ataque. Mas que se limitaram a refrescar o tampão. Nunca o United voltou a mostrar querer vencer. O empate era cómodo para a segunda mão. Assim pensavam os germânicos há 11 anos atrás. E o destino enganou-os. Desta feito o árbitro deu 2, não 3 minutos de desconto. A bola pelo corredor direito do Bayern, um erro garrafal de Patrice Evra, uma desatenção do veterano Ferdinand. Um golo de raiva contida nas entranhas.

Confirmada a malapata do United frente ao Bayern, a vitória dos alemães deixa antever uma noite inesquecível para Old Trafford. No seu castelo Ferguson é rei na Europa mas o reforçado conjunto alemão tem mais armas das que as necessárias para marcar e anular a desvantagem do golo fora. Isso obriga o United a abdicar por uma vez do seu cinismo europeu e atacar. Com todas as forças. Sem Wayne Rooney a equipa dependerá, mais do que nunca, do militarismo eficaz da segunda linha. Terá de marcar. Terá de lutar pela vitória. E não esquecer que os deuses da fortuna são traiçoeiros.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 12:26 | link do post | comentar

meses escrevi neste espaço que em Portugal não se gosta de futebol. Fui criticado por todos os lados. Sem razão. O país não muda e continua a bailar ao mesmo ritmo. Numa semana europeia, repleta de desafios que prometem encontrar espaço para entrar na história, o futebol português pára para uma guerra de audiências televisivas bem longe dos relvados. Pode chegar-se mais longe. Mas não mais fundo.

Os estádios vazios em Portugal são já uma triste realidade que nem as cadeirinhas a cores conseguem escamotear. A Liga Sagres é uma chacota fora de portas em qualquer publicação desportiva de renome, já habituada a tratar Portugal por debaixo de provas do nível da Liga Jupiter Belga, da Liga Suiça ou da Liga Escocesa. Potentados do futebol, portanto. Mas se futebolisticamente esta década foi confirmando o naufrágio do nosso futebol, mediaticamente o cenário não podia ser mais lamentável. Campeões a agonizar por dividas em divisões secundárias, históricos forçados a fechar as portas, estádios com uma centena de pessoas e a formação, outrora o nosso simbolo no Mundo, deixada ao abandono. E tudo isso não merece nem uma reflexão. Mas pegue-se num túnel escuro, numa liga voltada do avesso e decidida nos escritórios da Liga de Futebol, e temos um espectáculo como ninguém é capaz de oferecer.

 

O futebol português é latino e mediterrânico na sua natureza. Ou seja, um futebol tremendamente impaciente, com um universo mediático que gira à volta do jogo e onde a figura tutelar do presidente absorve tudo à sua volta. Salvo raras excepções o adepto lembra-se mais depressa do presidente campeão do que do técnico. E assim nascem os falsos mitos do nosso futebol. Para o bem e para o mal. Mas mesmo em Espanha e Itália, onde o presidente continua a ser o santo e senha do jogo, seria impensável ver o que se produziu ontem. Dois presidentes, dos clubes com maior massa adepta, frente a frente à distância. E à mesma hora. Num horário onde em Munique se vivia um vibrante choque com sabor a desforra para os adeptos do Bayern. Onde no Gerland o Lyon parecia acabar com a malapata dos Quartos. Tudo isso pura insignificância. O futebol vivia-se nos estúdios da RTP e SIC. No duelo dialéctico entre Pinto da Costa e Luis Filipe Vieira. Na troca de ataques, insultos e desculpas de mau pagador de uns e outros. Com o bónus do tempo regulamentar na figura sinistra de um jurista de pouca lei para a sobremesa. E durante ambas as entrevistas o futebol foi algo que passou ao lado. Falou-se de arbitragem. Falou-se de relações pessoais. De apitos de várias cores. Mas não se falou de jogadores. De tácticas. De lances. De movimentações de jogo e de noites épicas. Em Portugal não se fala nunca do beautiful game. As tertúlias, as entrevistas, os colóquios, as análises falam de tudo, menos do que tem a ver com o jogo. Ontem, uma vez mais, o futebol nacional mostrou o seu rosto habitual neste clássico sem valores. Um verdadeiro derby à portuguesa. E sem futebol está claro!

Os benfiquistas elogiarão o novo sentido de estado de um presidente que mais se assemelha a uma figura carcelária. Os portistas focarão a resistência e rebeldia do decano do futebol europeu. Os neutros, se é que os há, falarão de tudo o resto. E a bola? E o relvado? E as redes? Ao português isso não interessa. À imprensa porque não vende, aos presidentes porque destapa os seus erros de gestão. Aos adeptos porque, pura e simplesmente, não gostam de futebol. Se houvesse uma genuína paixão pelo jogo, talvez a audiência de ambas as entrevistas tivesse sido minimo, pelo menos enquanto que a bola europeia rolava noutros campos. Mas não. Portugal continua a ter o jogo que merece. Um futebol descrediblizado, amargado pela justiça (ou falta dela) e sem perspectiva de futuro. Um futebol de caciques para uma sociedade de cordeiros. Todos a caminho do matadouro.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:07 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Terça-feira, 30 de Março de 2010

Podem escrever-se tratados e livros da mais pura e cientifica investigação. No entanto, nunca o futebol será tão facilmente explicado aos descrentes se for seguido exibido o pequeno compêndio de três minutos de desconto que decidiram a final da Champions League de 1999. Onze anos depois os guerreiros de Munique voltam a defrontar-se à sua besta negra. Numa cidade dramática para os Red Devils.

A conjunção Bayern Munchen e Manchester United é histórica e faz parte das lendas do futebol europeu.

Porque foi na capital da Baviera que a melhor geração do conjunto inglês conheceu o seu trágico fim. Porque foi precisamente contra os alemães que, 41 anos depois e sob o olhar emocionado de Bobby Charlton, que começou o reinado europeu de Alex Ferguson. E porque, exceptuando essa noite mitica, os alemães sempre bateram o conjunto inglês. São ses a mais numa conjuntura imprevísvel, num jogo onde se defrontam duas filosofias bem distintas que pautam o ritmo de dois gigantes que, juntos, ostentam sete trofeus da máxima prova europeia. Por um lado os temiveis ingleses, à procura de emular um feito que ninguém consegue lograr desde os dias da Juventus de Marcello Lippi. Do outro os furiosos alemães, com o metódico van Gaal a tentar dissimular as falhas ainda visiveis nas suas hostes. Um conjunto fortemente ofensivo que acenta num 4-2-2-2 que realmente se transforma, com a bola nos pés, num 4-2-4. Com Ribery confirmado e Robben em dúvida, o Bayern vai tentar aproveitar o jogo pelos flancos utilizando os espaços deixados por Patrice Evra e Gary Neville. No meio Gomez e Muller farão a dupla ofensiva com van Bommell a pautar o jogo no miolo. O Bayern sabe que deve ter cuidado em não sofrer golos, mas a verdade é que a defesa é o calcanhar de Aquiles de qualquer equipa de van Gaal. E com este Bayern o cenário repete-se. Especialmente se em frente está um recuperado Wayne Rooney, que descansou nos últimos jogos da Premier para dar a estocada à defesa alemã. O United volta a apresentar o seu estilo de jogo europeu, mais cinico, acente num 4-5-1 de rápidos contra-ataques com Rooney como ponta-de-lança. O espectáculo está garantido. Mas dificilmente será tão emocionante como naquela quente noite de Maio.

O jogo foi dominado pelo Bayern Munchen.

A equipa treinada por Ottmar Hitzfield tinha empatado os dois jogos com o United na fase de grupos. Depois tinha galopado de forma convincente até à final. Nas meias-finais tinham batido o ousado Dynamo Kiev. Naquela noite em Barcelona pareciam invenciveis. Basler abriu o marcador com um livre estudado. Schmeichel, o gigante dinamarquês, protestou em vão. Depois disso foi um autêntico massacre. Bolas na barra, remates defendidos in extremis. E a bola teimava em não entrar. Os adeptos alemães, no entanto, já faziam a festa à medida que os minutos transcorriam no marcador. Ferguson desesperado trocava de avançados. O seu olhar dizia que a crença era infima. E o próprio Hitzfield já não imaginava outro cenário. Tirou Lothar Matthaus, o gigante a quem só a Champions lhe escapava. Saiu tranquilamente, aplaudindo os adeptos e sentou-se, preparado para celebrar. Uma bola para canto despertou o alarme. A eficácia do United em bolas paradas era conhecida por todos. Mas durante o jogo tinham sido ineficazes até aí. Beckham correu para a linha de fundo. Schmeichel veio a correr da sua área. Era a última esperança. O árbitro olhou para o assistente, levantou 3 dedos. Estavamos no minuto 90. O ar escasseava nos pulmões ingleses. A bola voa para a área, Schmeichel atrapalha as marcações alemãs que não conseguem afastar a bola. Giggs recebe-a e remate, sem olhar. A bola vai para fora, desesperada. Encontra o pé do pequeno Teddy Sheringham. Um beijo subtil desvia-a perante o olhar aterrado de outro gigante, Oliver Kahn. Segundos depois os adeptos ingleses explodem de euforia. O jogo ia para prolongamento. Mathaus tapava a cara, Ferguson saltava. O árbitro dava o pontapé de saída e os alemães perdiam, infantilmente, a bola. Contra-ataque e desvio inocente para novo canto. Beckham corre entusiasmado. Acredita. Centra, tenso. Sheringham volta a beijar a bola. Foi amor à primeira vista. Um toque súbtil com destino incerto. O pé de um bebé treinado para matar. O norueguês Solksjaer desvia o cabeceamento. Kuffor grita de dor. A reviravolta é completa. O futebol explica porque é único.

Onze anos é muito tempo. Depois dessa noite o Bayern Munchen voltou ao seu historial de imbatilidade. Já se vingou mais de uma vez do Man Utd. Mas aquela dor é permanente. O velho Olympiastadion deu lugar a uma majestosa Arena. O sério Hittzfield já não está. Já nem Kahn se encontra no relvado. Outra geração, de um lado e de outro. Neville, Giggs e Fergie sim. Eles lembram-se. E partilham a mesma ambição. A final, curiosamente, é de novo em Espanha. Mas só um pode chegar ao último dia. Ferguson sabe que a eliminatória dura 180 minutos e hoje será paciente. Os alemães aprenderam que afinal Liniker estava errado. Nem sempre ganham os alemães. 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:29 | link do post | comentar | ver comentários (3)

Segunda-feira, 29 de Março de 2010

Em Portugal o trabalho de Lazlo Boloni foi muito para lá da conquista do último título conquistado pelo Sporting. Preparou uma nova geração de talentos que foram posteriormente lançados pelos seus sucessores. Na Bélgica o romeno repetiu o feito. Resgatou da mediania um histórico como o Standart de Liege e explorou ao máximo a sua cantera. Entre as estrelas que foi lançando para a arena está o promissor Medhi Carcela.

Ao viajar ao mundo dos jovens talentos belgas o fácil seria ficar pelas duas grandes estrelas com idade ainda de júnior do actual campeão belga. Alex Witsel e Stefen Defour foram, efectivamente, peças-chave no estilo de jogo ofensivo instalado por Boloni no clube de Liege. E determinantes na reconquista de um título que escapava há demasiados anos. Mas este ano Defour esteve quase sempre lesionado e uma entrada violentíssima de Witsel valeu-lhe uma larga suspensão. Sem o seu fiel de balança, e com a concentração quase exclusivamente colocada na Champions League, a época do clube de Liege foi de mais a menos. De tal forma que Boloni acabou por pagar na pele o péssimo lugar na Júpiter Pro League. O técnico que encetou a revolução do clube e que lançou algumas das mais excitantes promessas do futebol europeu pagou cara a falta de resultados. Mas, tal como sucedeu em Alvalade (onde fez estrear, entre outros, Cristiano Ronaldo) a semente do seu trabalho ficou. Para além de Kevin Miralles (agora a jogar em França) e dos já citados Witsel e Defour, fica na retina o notável médio de origem hispano-marroquina. Carcela é o verdadeiro produto do “melting pot” em que se está a converter a Bélgica. Filho de pai espanhol e mãe marroquina, o jovem deu, num espaço de meses, o salto entre a equipa júnior do Standard até à selecção principal dos Diabos Vermelhos.

 

Carcela é um médio extremamente ofensivo. Jogando pelo eixo ou descaindo ligeiramente para o flanco esquerdo, utiliza a velocidade e o remate como principais armas. Joga habitualmente atrás de um ponta-de-lança mais fixo – Mbokani – e com a dupla Defour-Witsel nas suas costas. Na selecção compete directamente com outra das mais requisitadas promessas do futebol europeu, o jogador do Lille, Éden Hazard. Esquerdino, flecte habitualmente em diagonais perigosíssimas como pode perceber a defesa hábil do Arsenal no épico encontro entre ambos os colectivos na fase de grupos da Champions League. Por essa altura já Boloni tinha confirmado o médio de apenas 20 anos como titular indiscutível, chamando à atenção do novo seleccionador belga, o holandês Dick Advocaat. Semanas depois foi a vez de este dar a oportunidade a Carcela estrear-se pela selecção principal sem nunca ter passado pelas equipas de formação.


Até agora o médio apontou já seis golos na prova principal do futebol belga e dois mais na taça local. Na Champions League fez parte do onze base do conjunto belga mas foi na passada edição da Supertaça, com dois golos certeiros, que começou a coleccionar galões junto dos adeptos.

O seu futuro, aliado ao dos seus inseparáveis colegas de formação, está inevitavelmente longe de Liege. Os grandes da Europa têm o trio debaixo de olho e a ausência das provas europeias que ameaça o Liege poderá obrigar o clube a vender as suas pérolas. Mais importante ainda, o trabalho revolucionário de Advocaat à frente da selecção belga poderá reservar-lhe um papel importante no ressurgimento desportivo de uma das grandes potências futebolísticas do Velho Continente há muito adormecidas.



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Domingo, 28 de Março de 2010

A escolha não foi inocente. Desde que Stanley Rous assumiu a presidência da FIFA que tudo estava a ser encaminhado para organizar o primeiro torneio em solo britânico. No ano que comemorava o centenário da instalação definitiva do jogo nas ilhas, a Inglaterra montou um torneio à sua imagem e semelhança. Emotivo, polémico, intenso e com o caminho do título feito à sua medida.

 
Quando ainda não se sabia se o Chile iria organizar o seu torneio já a FIFA anunciava que a Inglaterra organizaria o oitavo Mundial de Futebol. Todos os detalhes estavam a ser cuidados à mínima. A faustuosa cerimónia de abertura, com o discurso real de Isabel II abriu a tónica de uma prova repleta de casos e figuras. E com muita polémica à mistura. Antes do torneio sequer ter arrancado já os africanos se tinham recusado a entrar no esquema de qualificação da FIFA. Rous, um presidente pouco amigo das novas nações africanas, ditou que o vencedor da fase de qualificação africana teria de defrontar um rival asiático. Os africanos recusaram e a Coreia do Norte seguiu assim, pela porta pequena, para a fase final. Dias antes do discurso real o mítico troféu, devolvido pelo Brasil, foi roubado. A Scotland Yard tentou tapar o caso mas foi um cão, Pickles, quem acabou por salvar o organizador do embaraço final. E quando a bola arrancou já ninguém se lembrava do caso mas sim da surpreendente derrota da Itália diante dos norte-coreanos ou de mais uma lesão de Pelé numa fase final. A estrela brasileira lesionou-se no duelo contra a Hungria e só voltou para o jogo final, diante Portugal. O escrete canarinho precisava de vencer para seguir em frente mas encontrou-se com uma marcação defensiva perfeita e um Eusébio inspirado. A vitória por 3-1 dos lusos marcou a primeira fase. A equipa do “Pantera Negra” conquistou o público e tornou-se na grande sensação do torneio, particularmente depois de recuperar de uma desvantagem de 3-0 frente à Coreia do Norte. O duelo das meias-finais, em Liverpool, face à Inglaterra, seria o encontro por excelência do torneio.
 
No entanto tudo mudou rapidamente. A prova tinha sido desenhada a pensar exclusivamente na consagração do futebol britânico. E se Alf Ramsey tinha tido o mérito de montar um notável onze, onde pontificava Bobby Charlton, a verdade é que a selecção Pross não entusiasmava. Enquanto alemães e soviéticos – eliminando húngaros e uruguaios respectivamente – se mediam numa meia-final equilibrada, os ingleses temiam verdadeiramente o rival por quem ninguém dava nada antes do arranque da prova. O polémico jogo dos Quartos de Final, contra a Argentina, tinha levantado algumas dúvidas no jogo inglês. El Robo del Siglo, como apelidaram os argentinos então, marcou claramente a campanha inglesa. Os argentinos dominavam o jogo quando o árbitro, surpreendentemente, expulsou o capitão albiceleste, António Ratin. O jogador recusou-se a abandonar o relvado e durante largos minutos o jogo foi interrompido enquanto os seus colegas protestavam com a polémica decisão. Foi necessário um membro da polícia para escoltar Ratin para os balneários debaixo dos apupos das bancadas. O golo solitário de Geoff Hurst selou o resultado final mas deixou claro que a armada inglesa era menos poderosa do que parecia. E com Eusébio pela frente, muitos julgavam que os ingleses voltariam a falhar o assalto à final. Até que a FIFA entrou em cena. Reuniu-se com as duas federações e tomou a decisão de transferir o jogo de Liverpool – onde estava Portugal instalado – para o Wembley, sede da equipa inglesa. Tal como quatro anos antes. Os portugueses não reclamaram o suficiente e o jogo transferiu-se obrigando o quadro luso a uma longa viagem enquanto Charlotn e companhia tinham um dia de folga. Foi determinante. O cansaço português e o óptimo exercício táctico dos ingleses ditou um jogo onde Eusébio teve nos pés o empate. Falhou e a Inglaterra estreou-se numa final frente ao público eufórico. Portugal teve de se contentar com o terceiro posto e os nove golos de Eusébio, recorde do torneio.
 
Quase 100 mil pessoas se juntaram, três dias depois, para o duelo mais desejado. Os eternos rivais discutiam o título mundial debaixo do atento olhar de Stanley Rous e a rainha Isabel II. Os alemães, capitaneados por Franz Beckambauer – determinante no jogo das meias-finais – começaram por ter o domínio do jogo. Aos 12 minutos Haller gelou o Wembley com um golpe fulminante sem que Banks pudesse sequer reagir. Ramsey pediu calma aos jogadores e a equipa recompôs-se. Hurst e Peters deram a volta ao marcador. Quando parecia que tudo estava terminado, um livro no último instante deu o empate à RF Alemanha. Os ingleses reclamaram mas, pela primeira vez na história, a final ia para tempo extra. A partir daí o mito supera a realidade. A polémica da bola que não entra, os protestos junto ao fiscal-de-linha do Azerbeijão que hoje dá nome ao estádio nacional e que anos mais tarde responderia apenas com um enigmático “Estalingrad”, e a celebração inglesa. O Mundo do futebol pagava a sua divida para com os fundadores. Com as contas saldadas a Inglaterra nunca mais voltou a pisar uma final de um Mundial.


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Sábado, 27 de Março de 2010

Se houve um homem que marcou a primeira metade do século XX nos bancos foi o inglês Herbert Chapman. Desde os anos 20 que o técnico começou a questionar o estilo de jogo demasiado ofensivo praticado nas ilhas britânicas e copiado pelo resto do Mundo. O nascimento da regra de fora-de-jogo deu-lhe o pretexto que precisava e permitiu fazer do Arsenal a grande equipa dos anos 30. Mas antes da sua revolução a verdade é que as suas teorias já tinham sido testadas. Em Huddersfield.

 

Hoje todos sabem o que é o WM.

Foi a maior revolução táctica dos primeiros 50 anos do século XX. Manteve-se até aos anos 50 em muitos países como o principal sistema táctico. Caiu em desuso com a popularidade do 4-2-4 hungaro e brasileiro (que depois passariam ao formato 4-4-2 e 4-3-3 a partir dos anos 60). E resultou obra de uma mente privilegiada que resultou como peça chave na evolução táctica do jogo. Herbert Chapman morreu no zénite da sua carreira e não teve tempo para ver a real consequência da sua inovação. Quando, em 1934, caiu fulminado após uma pneumonia, o seu Arsenal era a melhor equipa britânica. E provavelmente do Mundo. Faltavam 20 anos para que nascesse a Taça dos Campeões Europeus mas se a prova tivesse sido realizada nessa década seria provavél que o clube londrino tivesse aplicado o mesmo monopólio que o Real Madrid. A aplicação do WM era a chave do sucesso gunner. Isso e a insistência de Chapman em rodear-se dos melhores. O técnico tardou alguns anos em fazer do seu modelo vencedor. Mas quando deu na tecla certa a equipa nunca mais o desiludiu. Contratou os melhores, montou uma geração de talentos únicos como Highbury Park não voltaria a conhecer. E dominou a First Division anos a fio. Para a história ficou o seu papel como treinador do Arsenal. Mas a vida de Chapman deu muitas voltas. E o seu mágico WM não começou na cinzenta Londres. Foi antes no verdejante Yorkshire, numa pequena localidade chamada Huddersfield. 10 anos antes.

 

No mitico Wembley poucos perceberam que estavam a assistir a um marco da história. Naquela tarde onde uma chuva miudinha ia irritando a cabeça dos adeptos, Chapman percebeu que tinha encontrado a fórmula ideal para equilibrar o jogo. O futebol mantinha-se sob a velha base do 2-3-5, com as equipas viradas constantemente para o ataque sem nenhuma organização na defesa e meio campo. Os extremos jogavam bem abertos, com mais três jogadores no centro, no qual um descaía para recuperar bolas. Os três médios jogavam como interiores e os dois centrais limitavam-se a colocar-se diante da grande área. Não existia ainda o fora de jogo pelo que o seu trabalho era, muitas vezes, simplesmente inútil. Chapman não gostava do modelo. Dizia que a equipa perdia muito tempo jogando sem sentido e que isso implicava uma reduzida eficácia. Para ele vencer significava marcar mas também não sofrer. Foi o primeiro técnico que manifestou essa consciência defensiva que iria marcar o jogo daí em diante. Nesse modesto Huddersfield, Chapman começou a desenvolver a sua teoria. O técnico tinha chegado até à pequena localidade depois de ter sido banido, junto com toda a equipa do Leeds, pela FA. Foi um negócio de risco para o clube mas também para ele. A união funcionou. Chapman entrou ao serviço em 1921. Nos três anos seguintes tornou a equipa na primeira da história a vencer três ligas de forma consecutiva, algo que só Liverpool e Manchester United lograram no futuro. A isso juntou uma vitória na final da FA Cup. Foi precisamente nesse jogo contra o histórico Preston North End, que o técnico colocou a sua inovação em prática. Chapman fez recuar um médio para a zona defensiva, colocando-o no eixo da defesa. Os outros dois centrais deslocam-se para as linhas laterais. Da mesma forma, dois dos jogadores do centro da linha ofensiva recuavam no terreno para assumir o papel de interiores ofensivos jogando à frente dos dois médios mais recuados. O desenho táctico podia descrever-se como duas letras bem desenhadas no rectangulo de jogo: um W e um M. Nascia a táctica mais revolucionária do jogo.

 

Nesses anos em Huddersfield muitas vezes Chapman teve de jogar com um 2-3-5 adaptado. A falta de uma regra de fora de jogo dificultava a sua inovação porque dava muitas liberdades aos avançados e extremos. Em 1925 a FIFA (e a FA) aplicaram de forma definitiva a regra que iria revolucionar o jogo. A partir daí a defesa de três podia jogar na mesma linha e apanhar o trio de avançados rivais na ratoeira. O modelo funcionou. O clube tornou-se no perfeito laboratório para que o técnico ensaiasse as suas inovações. Chapman tinha um desprezo supremo pelo jogo com extremos que se limitavam a centrar para a área. Obrigou os seus quatro elementos do quadrado de meio campo a trocar a bola em passes rápidos de apoio continuado. Os dois extremos abriam e fechavam conforme a equipa defendia e contra-atacava. Muitas vezes a sua função limitava-se a arrastar consigo os defesas rivais abrindo a porta aos avançados interiores. A eficácia defensiva permitia à equipa organizar rápidos contra-ataques. Em 1925 o Huddersfield tornou-se na primeira equipa da história a não sofrer mais de 2 golos por jogo em médio na First Division. Para a época era um feito. O técnico sempre dizia que a melhor oportunidade para marcar resulta sempre de um contra-ataque porque apanha o rival desprevenido.

Por essa altura o bicampeão tinha continuado sem o seu técnico. Chapman não resistiu aos encantos de Londres e mudou-se para o modesto Highbury Park. O Huddesfield manteve o rumo e voltou a ser campeão enquanto Chapman começava do zero com o Arsenal. Além da inovação táctica, Chapman foi o primeiro Manager profissional. Obrigava as equipas de reservas e juvenis a jogar com a mesma táctica que a formação principal. Supervisionava o treino de jogadores que, apesar de falsos amadores, eram já tratados como profissionais pelo seu staff técnico. Insistiu no jogo de passe, aperfeiçoou o trabalho dos avançados interiores e montou uma equipa perfeita baseada em contratações cirurgicas entre jogadores desconhecidos e estrelas de clubes rivais. Demorou quatro anos a vencer uma liga. Quando o Arsenal finalmente se sagrou campeão, em 1931, o seu modelo de jogo já estava consagrado na maioria dos clubes rivais. Mas nenhum o tinha aperfeiçoado como ele.

 

Durante 4 anos o Arsenal mandou no futebol inglês. À medida que o Huddersfield ia definhando, as estrelas que Herbert Chapman reuniu em Highbury iam fazendo história. Em quatro anos vencerem três ligas. No final da última época a morte de Chapman representou um duro golpe. Progressivamente o Arsenal foi perdendo impacto na prova e as restantes equipas começavam a jogar nos mesmos moldes que o técnico tinha idealizado. Mais, por essa altura, já quase toda a Europa alinhava equipas tendo por base o WM chapmaniano. Foi a revolução que pautou as grandes equipas europeias até que os mágicos hungaros destroçaram o quadrado inglês em Wembley e colocaram um ponto final à popularidade do WM. O mesmo sistema que nasceu nas verdejantes planicies de Huddersfield.



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Quinta-feira, 25 de Março de 2010

O mundo de hoje cai rapidamente no facilismo. O mundo do futebol não é diferente. A chicotada psicológica dificilmente o chega a ser e não deixa de espelhar essa opção mais simples de eliminar o alvo de todos sem procurar entender a raiz do problema. No caso do Sevilla, o problema nem existe. Apenas uma incrível falta de coerência por parte de um clube que se orgulhava de ser, até agora, o mais estável da última década em Espanha.

No final de um patético empate com o Xerez, fruto puro da distração da equipa, Jose Maria del Nido - que gosta de dizer que é o presidente do maior clube do Mundo - baixou ao balneário, encarou Manolo Jimenez e informou-o que estava despedido. O contestado técnico não queria acreditar. A equipa tinha caído na semana anterior nos Oitavos de Final da Champions League. Depois de empatar a 1 em Moscovo perdeu por 1-2 contra o CSKA no seu próprio estádio. Por culpa de um golo concedido pelo experiente Palop. A equipa seguia a dois pontos do quarto posto, o último que garante a presença na Champions, e estava a cinco do terceiro lugar, o objectivo previsto para a época. A dez jogos do fim.

Mesmo assim Del Nido optou pelo caminho mais fácil e despediu um técnico que sempre foi mais do que isso. Chegou com 17 anos ao Sevilla e aí passou toda a vida. Até aos 35 como jogador da primeira equipa e depois como treinador das camadas jovens até subir à equipa B, o Sevilla Atlético. Quando Juande Ramos, o técnico mais bem sucedido da história do clube, bateu com a porta, del Nido recorreu a ele.  Uma herança dificil mas que, como andaluz de cepa, Jimenez soube pegar pelos cornos.

Sem o mediatismo de Josep Guardiola, o técnico sevillista era um exemplo perfeito de um técnico precoce e ambicioso que encontrava o espaço no seu clube. Mas em Sevilla alguém se esqueceu das limitações do clube. E começou a exigir ao técnico resultados nunca antes logrados. Nem mesmo pelo vencedor de duas Taças UEFA. O estilo de jogo atractivo de Ramos era constantemente comparado com a eficácia de Jimenez, que preferia um meio-campo de musculo a uma equipa assumidamente criativa. E os adeptos, embriagados pelos exitos pretéritos, começaram a contestar o treinador dia sim, dia sim. Até o presidente, que alardava da estabilidade do Sevilla face a qualquer outro clube espanhol, deixou-se levar. E optou pelo caminho mais fácil.

 

Poucos lembram-se de que no inicio da década o Sevilla andava pela Segunda Divisão com um passivo asfixiante. Depois de uma direcção de gestão de Roberto Alés que limpou as contas do clube emergiu a figura de Jose Maria del Nido. O polémico advogado tornou-se na figura central do clube de Nervion e emergiu como o lider natural de um conjunto histórico renovado. Com Joaquin Caparrós moldou uma equipa para voltar à ribalta e disputar os postos europeus. O técnico, hoje no Athletic Bilbao, montou uma equipa dura mas tremendamente eficaz onde brilhavam, entre outros, Manolo Jimenez. Quando este se retirou foi-lhe oferecido um posto de treinador nos juvenis. Aí começou a sua saga particular enquanto que Juande Ramos, sucessor de Caparros, colhia os frutos do trabalho deste e de Monchi, o popular director desportivo. A sua labor permitiu ao clube recrutar várias promessas, dentro e fora de Espanha, e moldar uma equipa rejuvenescida e com sede de titulos. A Sevilla chegaram Luis Fabiano, ferido por uma experiência para esquecer no FC Porto, o argentino Javier Saviola, o francês Frederic Kanoute, o espanhol Andrés Palop, dispensado do Valencia e os brasileiros Julio Baptista e Dani Alves. A estes juntou-se uma nova fornada de talentos jovens como Sergio Ramos, Antonio PuertaJesus Navas. Em três anos o Sevilla voltou à Europa, venceu duas Taças UEFA e conquistou uma Copa del Rey. Depois de um polémico Verão o técnico foi embora. Amargado com a direcção. Com a época em curso e sem um nome forte para o lugar Del Nido arriscou. Chamou Jimenez. O sevillista aceitou.

A chegada de Jimenez não significou uma mudança de estilo. Pelo contrário, Jimenez aperfeiçoou o modelo de Ramos e explorou ainda mais o jogo pelos flanco utilizando os jovens Navas e Capel. A pouco e pouco foi introduzindo outras promessas que já tinha orientado na equipa B. Os argentinos Fazio e Perroti entraram no onze. A morte de Puerta abriu uma brecha sentimental que feriu a equipa. Teve de ser Jimenez a tapar os remendos. Contra todas as expectativas o treinador recuperou um conjunto destroçado. As sucessivas vendas de Ramos, Baptista, Alves e Keita fragilizaram o onze andaluz. Os reforços não eram do mesmo nível. Mas mesmo em esforço, e com muita juventude à mistura, Jimenez logrou colocar a equipa na luta pelos primeiros lugares. Na Europa, naquela que era a primeira participação na Champions, logrou bater o Arsenal quebrando um recorde de 18 jogos dos gunners sem perder. Qualificou-se como primeiro de grupo mas nos Oitavos de Final caiu diante dos turcos do Fenerbache nas marcações de grandes penalidades. Uma fatalidade que se repetira dois anos depois. Jimenez falhou no final da época 2007/2008 o quarto posto, de acesso à Champions, o grande objectivo da equipa por um ponto. Mas montou um conjunto sólido. E no ano seguinte demonstrou-o terminando no terceiro lugar, o melhor lugar logrado nos últimos 50 anos pelo clube. Esta época, com Negredo a juntar-se ao duo de ataque, a equipa arrancou bem e logrou eliminar o Barça da Taça do Rei, depois de se qualificar para os Oitavos da Champions pela segunda vez. No meio de um clima de crispação interna, um mês de Janeiro surpreendente atirou o clube do terceiro para o quinto posto. A queda frente ao CSKA, de novo no Sanchez Pizjuan, de novo de forma fortuita, cobrou a sua vitima. Del Nido esperou um pretexto. Teve-o no golo nos últimos segundos do Xerez, o último. Demitiu o técnico que manteve o clube na alta roda. Contra tudo e contra todos. Seguiu o mais fácil.

Jimenez deixou a equipa a lutar pelo objectivo de época e na final da Copa del Rey. A isso juntou uma boa prestação europeia e um imenso carinho no balneário. Mas não resistiu a uma ambição desmedida. Numa época em que Barcelona e Real Madrid batem recordes jornada após jornada, qualquer êxito parece demasiado insignificante. Assim foi o seu destino. Suceder-lhe-á um dos seus adjuntos, que tem a dificil missão de manter o rumo. Longe do relvado, no lugar cativo que sempre manteve em Nervion, Jimenez promete torcer, de cachecol, como um adepto mais. Era mais fácil devolve-lo ao meio dos adeptos. O dificil é entender porquê. 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:20 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Quarta-feira, 24 de Março de 2010

Na Suiça sonham com um novo Chapuisat. Em Wolfsburg pensam já no sucessor de Edin Dzeko. Expectativa máxima por um jovem dianteiro de apenas 18 anos que deixou a Europa encandeada. Afinal, a eficácia e classe de Ben Khalifa não se encontra todos os dias.

 

O Mundo do Futebol ouvi falar dele pela primeira vez no último Europeu de sub-17. Contra todas as expectativas possíveis e imaginárias a selecção Suiça emergiu como a ganhadora. E entre uma boa meia dúzia de jovens de grande talento, emergiu de forma imediata a figura franzina de Nassim Ben Khalifa. O jovem dianteiro cumpriu há dois meses os 18 anos. E no entanto já lhe exigem coisas de graúdos. Desde a sua explosão nas equipas juvenis helvéticas até agora viveu-se na expectativa para saber qual é o seu próximo malabarismo. Em 2007 surgiu como a estrela dos sub-15 suiços, ainda jogava na equipa de juvenis do seu clube de sempre, o Grashoppers. Durante dois anos foi progredindo de forma mais rápida na própria equipa nacional do que no seu clube. Já com o título de estrela juvenil europeia foi a vez de dar o salto ao mundo dos adultos profissionais. E fê-lo com brio. A finais da época passada começou a fazer parte das convocatórias da equipa sénior. A sua estreia foi a 7 de Março, num jogo contra o Sion. Disputou apenas 17 minutos mas tornou-se no mais jovem atleta de sempre a jogar pelo histórico conjunto suíço. O público tinha encontrado o seu novo ídolo. Curiosamente foi contra o Sion, já em Julho com a nova época em curso, que marcou o seu primeiro golo oficial. Agora conta já com 14 jogos oficiais e dois tentos apontados na liga. Mas mais que a eficácia dos números foi o estilo natural com que acompanha cada lance que chamou a atenção de meio mundo.

 

O Europeu de sub-17 em 2008 na Turquia foi o seu cartão de apresentação. No ano seguinte foi a grande estrela da prova, agora disputada na Alemanha. A Suiça foi a estrela e o seu nome surgiu de imediato. Alto, rápido e com bom jogo de pés, Khalifa joga habitualmente com segundo avançado. Nas transições é hábil no jogo de costas para a baliza e funciona melhor quando complementado por um goleador letal. Mesmo assim os seus números na equipa Suiça são de primeiro nível. 20 golos em 40 partidos oficiais e um troféu de Melhor Marcador do Mundial Sub-19 na Nigéria confirmam-no.

De tal forma que o Wolfsburg, que já sabe que este Verão deixará de contar com a sua jovem estrela bósnia, Edin Dzeko, começou a procurar o seu substituto. E encontrou-o no suíço. O contrato assinado em Fevereiro garante a Khalifa um contrato de cinco anos no conjunto alemão. Possibilidade de crescer numa equipa com ambição mas sem a pressão dos grandes conjuntos que irão esperar para acompanhar a sua evoluaçao como já fazem com Iker Muniain e Romelu Lukaku, que com ele compõe o trio de ases das jovens estrelas europeias.

 

O sonho do dianteiro é estar na lista para o próximo Mundial mas terá de esperar. Desde 1994 que a Suiça não marca presença num Campeonato do Mundo. Nessa época a equipa contava com as estrelas Alain Sutter, Kubilaz Turkkylmaz e Stephane Chapuisat. Para a geração de futuro o nome de Ben Khalifa tornou-se numa esperança de um regresso aos melhores dias do futebol helvético.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 18:24 | link do post | comentar

Tenho saudades. Daquelas noites frias do Marão com os olhos postos nos homens de azul e grenã, nesses insuspeitos heróis de uma zona cada vez mais deserta de gentes, de esperança. Depois de largos anos entre a elite, caíram para o esquecimento. Ontem, por 90 minutos, lembraram-nos de tempos pretéritos. E confirmaram o velho dito popular. Por 90 minutos o Desportivo de Chaves voltou a ser o dono e senhor do Marão.

A Federação Portuguesa de Futebol fez o fraco favor ao futebol português de terminar com as meias-finais a um só jogo. Um modelo histórico que sempre vigorou até há poucas épocas atrás, quando se passou ao modelo "europeu" de jogos a duas mãos. Uma decisão que favorece sempre o mais forte e impede que se alinhe, no estádio do Jamor, uma equipa de menor gabarito. Se não impede, pelo menos dificulta. Esta manhã, pelo menos, é isso que se sente nas ruas de Chaves. A sua equipa voltou a cometer uma proeza, largos anos depois de ter abandonado a elite do futebol luso. O Desportivo é um icone de Trás-os-Montes. A equipa da zona mais pobre do país que mais tempo se aguentou entre os maiores. Os problemas financeiros de um clube localizado numa zona constantemente penalizada pela migração interna e pela falta de desenvolvimento local ditaram sentença. Foi há dez anos. O Chaves foi tropeçando e caindo. Como outros históricos do nosso futebol bateu fundo. E começou a levantar-se lentamente. Ontem mostrou que já está bem vivo. Um golo no suspiro final do jogo decidiu um encontro onde a lógica se deteve diante da obstinação. A vitória não garante ao conjunto flaviense um regresso aos grandes palcos. Nem que seja por um dia. Falta a prova de fogo da Figueira da Foz, onde a Naval também tem o seu sonho particular. Mas permite ao pequeno clube voltar à ribalta, por muito que a imprensa lusa, sempre com as suas palas nos olhos, não pense noutra coisa senão no clube dos "6 milhões".

 

O jogo foi equilibrado. A Naval entrou bem e tentou controlar o jogo mas encontrou-se com uma equipa rival em constante movimentação. Rápidos contra-ataques iam colocando em sentido a equipa primodivisionária. Mas os lances escasseavam, as oportunidades eram escassas e o golo teimava em não chegar. O segundo tempo voltou a ter a mesma tónica, desta feita com o Chaves a tomar a iniciativa. Os jogadores de Tulipa, que há bem pouco tempo andava na Liga Sagres com o modesto Trofense e que ontem se estreou pela equipa flaviense, foram cercando os figueirenses com uma pressão que chegou a ser asfixiante. A expulsão de Samson, aos 81 minutos, muda a dinâmica do jogo. Até que chegam os descontos. Quatro minutos dados por Paulo Costa. No terceiro depois dos 90 Diego Angelo, defesa navalista, coloca a bola nas redes de Rego, mas estava em fora-de-jogo. Golo anulado. Protestos e desatenções. Fatais. O contra-ataque dos flavienses arranca ainda há jogadores verdes a reclamar. O lance resulta em canto, Castanheira, antigo médio do Sporting de Braga, coloca a bola no coração da área e Ricardo Rocha desvia para dentro das redes. Um golo tardio mas justo. Que vale meia eliminatória.

Enquanto luta por não descer de divisão na Liga de Honra (está no posto imediatamente acima da linha de água), o Chaves prepara-se para uma noite que pode ser histórica. Defender a vantagem é perigoso e Tulipa sabe-o melhor do que ninguém. Depois de cometer o feito histórico de chegar às meias-finais, o Chaves espera escapar à rasteira da FPF e carimbar o passaporte para a sua primeira final. Um prémio justo para uma formação que resiste ao tempo e que continua a reinar para lá do longínquo Marão.

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 08:14 | link do post | comentar

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