Domingo, 28 de Fevereiro de 2010

quem se lembre do Mundial de 1950 simplesmente pelo grito mais silencioso da história do jogo, como se lembrou de escrever o genial Nelson Rodrigues. O golo de Ghiggia definiu um antes e um depois na história do futebol brasileiro. Mas os ingleses terão outra recordação dessa longa e angustiante viagem. Na tarde de 29 de Junho um remate certeiro rasgou o orgulho dos criadores do beautiful game. E mostraram que o futebol tinha crescido e saído de casa dos pais para procurar o seu lugar no Mundo.

O Brasil recebe a festa. Com a Europa destroçada pela II Guerra Mundial era inevitável que o quarto Mundial fosse organizado longe do Velho Continente. Jules Rimet tinha sido forçado a cancelar as edições de 1942 e 1946, e durante os anos da guerra dormiu com o sagrado troféu debaixo da cama. Com a paz chegou a reorganização e sem grandes dificuldades o presidente francês aceitou voltar à América do Sul. O Brasil seria o anfitrião de um torneio que seria também o da sua consagração. Para tal construíram vários estádios novos, incluído o mítico Maracanã, o maior do mundo à época. Os brasileiros queriam um torneio com os melhores e foram fundamentais nas negociações entre a FIFA e a FA inglesa. Depois de 17 anos de afastamento, as federações das ilhas britânicas aceitaram voltar a juntar-se à FIFA. A Inglaterra preparava-se assim para o primeiro Mundial da sua história. E até então ninguém tinha verdadeiramente mostrado ser superior ao onze britânico. Parecia que os brasileiros tinham encontrado um rival à altura. No entanto, tal como em 1930, as longas viagens atrapalharam o projecto de Rimet. O presidente da FIFA abandonou o modelo em play-off e apostou pela criação de quatro grupos de quatro. Mas, como sempre, houve desistências de última hora. A Índia recusou viajar se fosse obrigada a jogar com chuteiras. A Turquia também recusou pagar os elevados gastos. França e Portugal, eliminados, foram convidados pela FIFA e pela CBF a ocupar os seus lugares. Falta de dinheiro e interesse levou ambos os países a rejeitarem o convite. A Itália, num grave processo de reconstrução depois do desastre de Superga, tinha direito a um lugar por ser campeã em titulo. Mas só com Rimet a pagar a viagem de barco do seu bolso - os jogadores recusaram subir a um avião - a Federação aceitou viajar até ao Brasil. Sairia do torneio pela porta pequena. No total havia só 13 selecções para a festa.

O torneio teve lugar no final de Junho, em pleno Inverno tropical. O Brasil era favorito e no primeiro jogo goleou por 4-0 o México. Mas o empate contra a Suiça deixou os brasileiros inquietos pela primeira vez. Era um aviso. No decisivo jogo com a Jugoslávia a vitória por 2-0 garantiu um lugar na final mas deixou no ar muitas dúvidas. O Uruguai, de regresso depois de 20 anos de ausência, beneficiou de ter de disputar só um jogo. A goleada por 8-0 à Bolívia deu tempo aos uruguaios para preparar a segunda fase onde surgiriam muito mais frescos e preparados que os rivais. A Suécia, que batera a Itália de forma surpreendente, e a Espanha de Zarra.

E a Inglaterra? A mesma Inglaterra que um mês antes tinha derrotado por 6-0 a selecção do Resto do Mundo? Depois de uma longa viagem os ingleses chegaram a 20 de Junho ao Rio de Janeiro, onde teriam a sua sede. A época doméstica tinha acabado há mais de um mês e muitos dos ingleses estavam excessivamente confiantes. De tal forma que enviaram uma "outra" selecção numa digressão paralela ao Mundial onde havia alguns jogadores de primeiro nível. O grupo parecia acessível e muitos já se imaginavam a calar o lotado Maracanã. No primeiro jogo, a 25 de Junho, o conjunto inglês dominou e bateu o Chile, no Rio de Janeiro. A vitória da Espanha sobre os Estados Unidos deixava antever um duelo quente entre europeus.

 

Foi já a pensar no encontro com os espanhóis que os ingleses apanharam um avião para Belo Horizonte onde defrontariam os Estados Unidos. Parecia um mero trâmite. De tal forma que a estrela da equipa, Stanley Matthews, ficou na bancada a descansar para o jogo com os espanhóis. Era um jogo desigual, uma equipa de profissionais de primeira linha contra outra de amadores. E no entanto assim é o jogo. Assim foi o “milagre de Belo Horizonte”, como baptizaria depois a imprensa. Aos 20 minutos de jogo já a Inglaterra tinha tido dez claras oportunidades de golo. Mas todas esbarravam nas mãos de Frank Borghi. Os americanos nem tinham tido uma só oportunidade. Até que ao minuto 37 um centro-remate de Walter Bahr encontrou Joe Gaetjens – que era haitiano e acabaria por ser executado pelo governo do Haiti quinze anos depois - que desviou para as redes de Bert Williams. O público entrou em delírio nas bancadas e os jogadores americanos abraçaram-se euforicamente. Billy Wright, o histórico capitão inglês, nem conseguia acreditar. A segunda parte transformou-se num massacre mas, por uma razão ou por outra, a bola parecia fadada a terminar longe das redes americanas. E assim terminou o sonho de superioridade inglês. O Maracanazo. Curiosamente os americanos seriam goleados pelos chilenos (5-2) enquanto que os ingleses voltariam a cair, por 1-0, às mãos dos espanhóis.

A imprensa inglesa tentou justificar a derrota com o clima tropical mas o mito da superioridade britânica tinha-se desfeito como um castelo de cartas. Durante semanas em Inglaterra ninguém parecia acreditar na precoce eliminação e houve mesmo quem pensasse que o título do jornal era um erro e que o jogo tinha acabado 10-0 a favor dos ingleses. A equipa voltou a casa enquanto a prova entrava na fase derradeira e dramática que daria origem a livros e histórias sem fim. O remate de Ghiggia consagrou o segundo bicampeão da história e prolongou a agonia brasileira. Mas nada marcou mais o Mundial do “Maracanazo” do que o semblante derrotado da “Armada Invencível".



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Sexta-feira, 26 de Fevereiro de 2010

Apesar de ter passado desapercebido da maioria dos observadores, no último ano houve poucos jogadores que dessem um salto tão grande na sua carreira como o ganês Samuel Inkoom. A águia que domina o flanco direito de uma selecção recém-sagrada campeão do Mundo de sub-20 e dos suiços Basel FC tem todas as condições para se tornar numa estrela mundial.

O nome Inkoom significa "Rei Guerreiro". E acenta que nem uma luva no jovem lateral de 20 anos. Samuel Inkoom é um dos nomes próprios de 2009. E para ele o ano de 2010 anteve-se ainda mais risonho. Começou o ano passado como um desconhecido do histórico Kotoko No Verão convenceu os suiços do Basel FC a contratarem-no. A partir daí o conto de fadas foi tomando proporções impensáveis até para o mais optimista.

Nascido em Agosto de 1989, Inkoom é o equivalente africano ao estilo de jogo popularizado por Daniel Alves. Rápido, perfeito nas transições ofensivas, tem como ponto fraco algum atraso na recuperação de posição. Mesmo assim a sua velocidade nata ajuda-o muitas vezes num um contra um, tanto no processo ofensivo como no posicionamento defensivo. Começou a dar nas vistas ainda muito novo e chegou a estar na órbita do Barcelona. Acabou por não viajar até à Catalunha. Preferiu as montanhas geladas dos Alpes. No passado Verão juntou-se ao Basel FC, um dos candidatos ao titulo da liga suiça. E desde então a sua fama não parou. Dono absoluto do lado direito da defesa, Inkoom deu-se a conhecer ao Mundo em Outubro ao serviço da sua selecção.

No Mundial de sub-20 poucos acreditariam numa vitória africana. O Gana fez história graças a uma notável geração de talentos onde se encontram Ayew, Osei, Adiyhi e claro, Inkoom. O lateral direito foi uma das figuras da prova, acabou o torneio no onze ideal e as suas letais investidas pela ala direita tornaram-no num dos mais populares jogadores da prova. De tal forma que se abriu a possibilidade de deixar a Suiça no mercado de Inverno. O negócio com o Arsenal gorou-se, mas Inkoom recebeu um outro prémio. Chamado pela primeira vez à selecção principal do Gana esteve no onze titular do conjunto africano na última CAN. O Gana caiu mais cedo do que era previsto, mas a boa sensação dos seus jovens talentos deixou água na boca para o próximo Mundial. Onde se espera ver mais deste notável talento.

Com toda a época à sua frente, Samuel Inkoom tem de trabalhar mais a concentração defensiva. Ainda longe da sua maturidade desportiva, o ganês tem apresentado dados estatisticos esmagadores e Pep Guardiola está muito interessado na sua evolução. Pelas suas caracteristicas seria o substituto ideal do genial Alves.

Depois de um 2009 inesquecível, Samuel Inkoom prepara-se para um 2010 memorável. A sua transferência para um grande é quase certa e a presença no primeiro Mundial em terras africanas é um aliciante único. Resta saber se a evolução táctica do jovem lateral o levará a um patamar onde poucos atletas realmente logram atingir. Porque a realidade é que a águia ganesa tem todas as condições para brilhar bem alto nos céus.



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Quinta-feira, 25 de Fevereiro de 2010

O Chelsea atacou mais. O Inter, atacou melhor. Houve polémica para todos os gostos e feitios. Erros imperdoáveis à frente das redes. E três golos que deixam tudo em aberto para um estádio onde o "Special One" nunca perdeu. Contra o clube que armou do nada, Mourinho deu uma verdadeira licção de eficácia ofensiva.

Nos habituais "mind games" prévios ao embate, Mourinho foi claro. Este Chelsea não tinha segredos para ele, mas ele também não tinha segredos para os seus antigos jogadores. Mas nem assim a armada azul conseguiu superar um exercício de pura confiança em si mesmo que deu o técnico português frente a um Ancelotti que tudo fez no papel para ganhar. Mas que em campo se viu sempre atado de pés e mãos. O Inter não foi melhor equipa. Mas foi mais eficaz. Controlou o ritmo de jogo, as pausas e mudanças de ritmo. Esticou o campo quando o Chelsea apertava e encolheu-o quando queria pressionar na zona de meio-campo. O trabalho titânico do meio-campo montado pelo técnico sadino controlou aquele que é provavelmente o mais eficaz miolo do futebol europeu. Ballack, Lampard e Obi Mikel estavam cercados por um quadrado hábil onde Cambiasso, Sneijder, Stankovic e, sobretudo, o incansável Motta, impunham a sua lei. O Chelsea procurou explorar os flancos com Anelka a cair sobre Maicon com o apoio de Malouda, improvisado de lateral-esquerdo e Kalou a descair pelo lado direito no apoio directo a um solitário Drogba. Ou seja, uma versão do primeiro 4-3-3 que Mourinho impôs com sucesso em Stanford Bridge. E que por isso sabia anular sem problemas. O Chelsea atacou mais, rematou mais do triplo que os italianos. Mas os lances acabavam sempre por ser inconsequentes. E com o golo inaugural de Diego Milito, num exercicio puro de eficácia "mourinhiana", as contas pareciam complicar-se.

 

O jogo não mudou com a segunda parte. O Inter controlava a seu belo prazer, com Etoo e Milito sós na frente a jogar no espaço, e os restantes elementos a sufocar a pressão do rival. As armas ofensivas dos britânicos pareciam esbarrar com um murro inquebrantável. E no regresso ao San Siro, onde passou a maior parte da vida como jogador e técnico, Ancelloti parecia não encontrar um só buraco. Até que Kalou desviou um passe certeiro de Ivanovic e Julio César, que dias antes tinha mostrado a sua total falta de profissionalismo num acidente evitável com o seu desportivo, não soube reagir. Balde de água fria. Um golo fora e um empate muito, mas muito comprometedor. Pensava-se já que os Blues iriam repetir o feito do Manchester United, na semana anterior, e dar a volta ao encontro. Mas não. Um remate de primeira de Cambiasso, repleto de raiva, destroçou as redes de Cech apenas um par de minutos depois do golo. Repunha-se a eficácia neroazurra. E Mourinho sem celebrar. Como prometera. Sem o guardião checo, retirado após uma lesão que pode comprometer as aspirações dos ingleses, o Inter continuou a ter opções de ampliar o marcador. Tal como o Chelsea, que até se pode queixar de um penalty por assinalar. Mas que nunca mostrou ser superior no último terço do terreno de jogo. À medida que o pulmão dos ingleses se esbatia no muro italiano, Mourinho ia estendendo a corda com Balotelli e Muntari, que foram asfixiando ainda mais um meio campo estourado. Mas sem dar o golpe de misericórdia.

Um 2-1 é um resultado mau numa prova como a Champions League. Os ingleses sabem disso e por isso a derrota com o seu mentor não doeu tanto como se podia prever. O técnico português também sabe que, apesar de ter demonstrado ter razão, também terá agora de fazer o que nunca ninguém lhe conseguiu fazer a ele. Vencer em Stanford Bridge é um feito ao alcance de muito poucos. O recorde estabelecido pelo Special One ainda vive nas bancadas azuis. Todos sabem que Mourinho será ovacionado quando entrar no relvado. Resta saber se terá a astúcia e audácia suficientes para apear o seu velho patrão e o seu querido público da única taça que continua a faltar nas vitrines que ele ajudou a encher.



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Terça-feira, 23 de Fevereiro de 2010

Guardiola deixou o aviso. Pode ser uma estratégia de motivação. Mas não deixa de ser verdade. Já não é apenas o facto do campeão europeu nunca renovar o ceptro. É que nos últimos anos os favoritos têm todos caídos sob a maldição dos Oitavos.

Só o Manchester United se salva nesta contagem decrescente.

Nos últimos anos o campeão europeu cai quando menos se espera. No primeiro jogo a eliminar. Ironias do destino provadas com factos inquestionáveis. Em Barcelona, onde a equipa de Pep Guardiola habituou todos aos recordes inigualáveis, há um certo receio. Apesar da natureza acessível do rival. O Stuttgart é uma equipa dificilmente do nivel desta fase da prova, benificiando de um grupo extremamente acessível. Na Bundesliga está na segunda metade da tabela. Mudou de treinador e filosofia. E perdeu o seu omnipresente capitão. Tudo isso deveria tranquilizar Guardiola. Mas não. O técnico catalão sabe que a tradição é algo muito sério no mundo do futebol. E que se vai alimentando dos mais optimistas. Que o digam os antecessores dos blaugranas. Se recuarmos no tempo até 2003 verificamos que só mesmo o Manchester United, que foi derrotado precisamente pelo Barça na final de Roma, salvou-se da temível eliminação precoce. Um clube de sobreviventes no historial de um grupo de equipas de elite.

 

Foi em 2004 precisamente. O FC Porto, acabava de se sagrar campeão da Europa. José Mourinho partia para Londres e consigo levava metade do eixo defensivo. Mas as saídas foram mais profundas, as entradas mais traumáticas e os portistas acabaram por falhar o Tricampeonato no ano seguinte. E caíram na Champions League logo aos Oitavos de Final. Depois de bater o Chelsea, de Mourinho, na última jornada, lograram a classificação frente ao Inter, actual equipa do técnico português. Num duelo a duas mãos bastante equilibrado, os italianos foram superiores nos momentos decisivos. E a Europa viu o seu campeão em titulo ajoelhar-se bem cedo. Os italianos seguiram em frente mas ficaram longe da final de Istambul onde o Liverpool bateu, de forma frenética, o AC Milan nos penaltys. Mal sabiam em Anfield que a tradição imposta pelos dragões seria aplicada com novo sabor português.

Na época seguinte os Reds qualificaram-se para os Oitavos de Final e tiveram diante de si o insuspeito Benfica, recém-sagrado campeão português pela primeira vez em 10 anos. Orientados por Ronald Koeman, os encarnados foram superiores e um golo de Simão foi suficiente para fazer a diferença. Os campeões voltavam a cair e o Benfica era eliminado, semanas depois, pelo Barcelona de Rikjaard. O mesmo que, em Maio, se sagraria campeão da Europa.

Seguindo o guião de um filme de suspense muitos achavam que esta curta maldição deixava de fazer sentido quando se pensava em Messi, Etoo e Ronaldinho. Mas não, a história voltou a cumprir-se de forma inapelável. Mourinho entrou na equação e o seu Chelsea também. Os Blues eliminaram o super-Barça quando ninguém o esperava e seguiram até às meias-finais, de onde Mourinho nunca conseguia passar. Superados pelo Liverpool. Os Reds voltaram a uma final mas desta feita não superaram o AC Milan de Kaká e Inzaghi. Os italianos voltavam a sagrar-se campeões da Europa. E continuariam, sem o saberem, a cumprir com o destino dos reis. Em 2008 os rossonero, numa fase critica do mandato de Carlo Ancelloti, disputaram os Oitavos de Final contra o Arsenal. Contra as expectativas, cairam diante dos gunners liderados por Cesc Fabregas. Foram os últimos de um historial que se ameaçava eternizar. Foi preciso chegar Cristiano Ronaldo para a história mudar. O extremo português foi o artifice da eliminação do Olympique de Lyon pelos Red Devils, sagrados meses antes campeões da Europa pela terceira vez em Moscovo. Os ingleses eliminaram posteriormente FC Porto e Arsenal e parecia que estavam preparados para quebrar outra malapata. Desde que começou a Champions League que nenhuma equipa repetiu triunfo. Não o lograram e deixaram o ceptro ao Barcelona. E a possibilidade de confirmar o fim da maldição dos Oitavos.

Guardiola é um mestre na estratégia mental e levantar um assunto que parecia enterrado no ano passado é uma jogada hábil. Sabe que a sua equipa é muito superior aos alemães mas também sabe que a equipa está cansada, está repleta de baixas e não exibe o mesmo nível do ano transacto. Espicaçar a equipa com uma lenda urbana pode ser o movimento chave para ganhar esta partida de xadrez. Ainda falta muito para Maio e para a final do Bernabeu. Mas Pep sabe, mais do que ninguém, que as probabilidades de repetir o feito do ano transacto é quase impossível. Mas se alguém percebe de impossíveis, é ele!



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Segunda-feira, 22 de Fevereiro de 2010

O futebol muitas vezes é um acto de raiva. A conferência de imprensa dos jogadores do Porto - relembrando a injustiça das suspensões aplicadas pelo Conselho Disciplinar da Liga a Hulk e Sapunaru - tiveram o condão de unir uma equipa desencontrada. A goleada imposta ao Braga foi apenas o espelho da raiva que carbura este update portista. Resta saber se a melhoria na versão 2010 será suficiente para tapar buracos antigos.

5-1.

Um resultado esmagador e que espelha, fielmente, o que se viveu no tapete verde do Dragão. Um Braga que nunca foi a equipa organizada e tacticamente exemplar de toda a época. O FC Porto que voltou a ser combustão pura - tal como no duelo contra o Sporting - e tapou as suas deficiências com a raiva de ultrapassar os sucessivos obstáculos extra-desportivos que o ano vai levantando na caminhada do campeão nacional para o seu segundo Pentacampeonato. Ao entrar em campo com camisolas de apoio aos dois colegas suspensos pela Liga, o já ausente Sapunaru e o brasileiro Hulk, a equipa portista provou que mantém o espirito de fazer das fraquezas, forças.

Este não é o melhor Porto. Nem é um grande Porto. Mas é um Porto repleto de raiva e isso, no futebol, é muitas vezes a fórmula necessária para ganhar. No duelo previsivelmente mais complicado dos portistas até ao final de ano, a diferença foi tal que durante segundos ninguém parecia entender bem o porquê destes oito pontos de diferença. Como se atrás não houvesse um Braga disciplinado e tacticamente perfeito e um Porto repleto de defeitos e buracos dificeis de esconder.

 

A história do jogo podia fazer-se com os golos. Os seis. Ou com o ritmo de jogo que foi demoniaco desde os primeiros instantes. Aos 37 minutos já o Braga estava vergado. Tudo o resto era um mero trâmite porque Domingos sabia que a noite não estava para reviravoltas. A atitude dos comandados de Jesualdo Ferreira, empolgados pela vitória sofrida ante o Arsenal, foi a melhor possível. Ruben Micael continua a mostrar que é a patch certa para este update informático que soltou a burocracia java da linguagem encriptada de Jesualdo. O médio soltou Raul Meireles - numa das melhores exibições da temporada - e mais do que isso, soltou Varela. O extremo tem estado endiabrado e provou-o com mais assistências e bons momentos. Os golos foram entrando sem que Eduardo pudesse fazer algo. Meireles oportuno no primeiro, Alvaro Pereira determinado no segundo e Falcao letal no terceiro.

A segunda parte era, para ambas as equipas, um curioso desafio. O FC Porto tinha a obrigação de controlar sem se desgastar demasiado. O Braga teria de articular uma reacção sabendo, de antemão, que era uma luta perdida. Nesses meios-termos o contra-golpe e a ratice azul e branca puderam com o espirito dos arsenalistas. Os golos de FalcaoBelluschi e os erros de Micael e Mariano deixaram a tónica. Podiam ter sido mais. E a diferença poderia ter sido igualmente menor, não tivesse o Braga apenas incomodado por uma vez pelo ar a defesa portista. Depois do golo do Arsenal, o tento de Alan volta a provar que nos céus este dragão voa baixinho.

O Braga continua a ser a melhor equipa da época mas ontem foi ultrapassado por um conjunto mecanizado e determinado. Ao longe o Benfica assistiu agradado ao duelo que o coloca agora lider solitário. A pressão verdadeira começará a sentir-se agora na Luz quando falta ainda ultrapassar os mais dificeis obstáculos do calendário. Já o Braga tem apenas o duelo da Luz entre os mais dificeis. O Porto sabe que a dificuldade não conta. Seis pontos de atraso não permitem veleidades. Mas a luta pelo título, apesar da decisão prévia nos corredores, continua no campo a três.

 



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Domingo, 21 de Fevereiro de 2010

Ainda não havia televisão mas uma imagem ultrapassa o tempo e mantém viva a memória daquele terceiro Mundial. Um brasileiro, inevitavelmente, caminha descalço pela lama dando vários toques habilidosos, antes de desferir um potente remate. O Brasil vence e reserva a sua estrela para a final. Nunca lá chegaria. Começava a “maldição do escrete”.

 
Hoje seria impensável que Portugal ou a Argentina fossem às meias-finais de um Mundial e deixassem a Cristiano Ronaldo ou Messi na bancada como reservas para a final. Mas os anos 30 estão mais distantes do que imaginamos. Mais em mentalidade do que no relógio de pulso que marca o tempo. E esse simples gesto ditou o final de uma prova disputada ao limite, sem ingerências politicas, e com o primeiro duelo real de continentes. No final a Europa saiu vencedora, a Itália bicampeã e o Brasil abriu o seu curto historial de prestações malditas.
Foi o onze brasileiro, ainda a equipar todo de branco como mandava as regras de um país que herdava muito da influência da comunidade britânica, quem trouxe o perfume ao Mundial de 1938. A prova disputou-se em França e limou asperezas que tinham ficado entre a FFF e Jules Rimet, quatro anos antes. A prova teve lugar durante o mês de Junho e foi um triunfo em toda a linha. A Europa não desconfiava de que estava a um ano do suicídio. Apesar da ausência da Áustria em favor de uma Alemanha rapidamente enviada a casa pela modesta Suiça, a questão politica passou ao lado da prova. Só os italianos, uma vez mais, sofreram na pele a vontade do seu ditador. Nas vésperas da final contra a Hungria receberam uma mensagem clara “Vincere o morire”. Eram outros tempos.
 
Se os italianos se mantinham como os grandes favoritos, a verdade é que havia grandes esperanças nos onzes de França, Hungria e Alemanha. Ninguém acreditava que uma equipa fora do Velho Continente entrasse na luta pelo ceptro, especialmente porque a decisão de Rimet, de repetir a prova na Europa, levou o Uruguai e a Argentina a recusarem a participar no troféu. Estava no ar a ideia de que tinha sido quebrado o princípio não escrito da rotação de continentes. Algo que não incomodou os brasileiros. O escrete foi o único representante sul-americano (só Cuba e as Índias Holandesas não eram europeias entre os 15 finalistas) e na primeira eliminatória, frente à Checoslováquia, os brasileiros mostravam que vinham dispostos a vencer. Num jogo louco contra a Polónia, o Brasil venceu por 6-5. Uma tarde chuvosa como poucas em Junho e um jogo louco foram deixando o marcador em constante sentido. No meio da confusão emergiu o génio de um homem. Leônidas, a quem erradamente se atribuiu durante muitos anos o invento do pontapé de bicicleta, destroçou a defesa polaca e foi fuzilando, vezes sem conta as redes rivais. Aos 104 minutos de jogo o avançado marcou um golo difícil de imaginar nos dias de hoje. Perdeu uma chuteira na imensa lama e continuou a jogar. Dando sucessivos toques, como se estivesse no areal de Copacabana, foi fintando os rivais até que se isolou diante do guarda-redes. Rematou e qualificou o Brasil para os Quartos de Final deixando bem a sua marca na prova. Na fase seguinte os brasileiros defrontaram a Checoslováquia. Num jogo extremamente violento o resultado não saiu do empate o que obrigou a uma repetição – como sucederia com outros quatro jogos do torneio. Aí a equipa venceu por 2-1, mais uma vez graças ao avançado. O sorteio ditava um encontro contra a Itália, que tinha eliminado a França dias antes. Mas o favoritismo era todo brasileiro.
 
No dia do jogo, no Stade Velodrome em Marselha, o publico que encheu as bancadas para ver o “Diamante Negro” levou um balde de água fria. O técnico brasileiro, Ademar Pimenta, deixou Leônidas da Silva na bancada. À época as substituições não eram permitidas e a jogada deixou incrédulo Vittorio Pozzo, seleccionador italiano. Não queria acreditar na sua sorte, ele que tinha dito, dias antes, que era preciso meia-equipa para travar o portento brasileiro. Sem o seu jogador mais brilhante o Brasil perdeu a magia do seu jogo. Os italianos adiantaram-se no marcador ao minuto 55 com um golo de Colaussi. Os brasileiros perderam o sentido de superioridade com que entraram em campo ao esbarrar com uma defesa azurra muito bem montada. Cinco minutos depois do golo inaugural um penalty deu a Giuseppe Meazza a oportunidade de marcar o seu único golo na prova. O Brasil tentou reagir mas era tarde. Romeu, parceiro de ataque de Leônidas, reduziu o marcador mas os italianos repetiram a final. O Brasil começaria a saber o que doía perder de forma inesperada.
Dias depois em Paris a final. O guardião húngaro reclamaria mais tarde que a equipa magiar tinha perdido de propósito por 4-1 para evitar que se cumprisse a fatal ameaça de Mussolini. É difícil de acreditar. A superioridade italiana era clara, o resultado foi demolidor. Na terceira edição estreou-se o primeiro bicampeão. Sob as lágrimas de um país que se desforraria, 32 anos mais tarde, numa quente tarde no México.


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Sábado, 20 de Fevereiro de 2010

Para lá das estrelas que Roman Abramovich foi juntando em Stanford Bridge os leões de Londres esforçaram-se nos últimos anos em conseguir juntar aos seus quadros jovens promessas do futebol europeu. Entre elas há um jovem eslovaco que tem feito a diferença do outro lado do mar do Norte. Miroslav Stoch é já um dos nomes próprios da Eredevise.

 

"É rápido com a bola nos pés e talvez mais rápido sem ela. Pensa o jogo tranquilamente e mostra uma maturidade fora do normal." Assim se rendeu Steve McClaren, o técnico do Twente, ao jovem eslovaco que se tornou num dos nomes mais sonantes do futebol europeu actual. Uma ascensão rápida de um jogador com 21 anos mas já com a presença garantida no próximo Mundial. E quem sabe, no onze do Chelsea da época que se segue.

Miroslav Stoch é o exemplo perfeito do falso extremo que abunda hoje no futebol europeu. Rápido pela ala, gosta de descair para zonas mais centrais e procurar o remate à entrada da área. Tem um bom registo goleador - 10 já apontados esta época - mas também sabe assistir os colegas com classe. McClaren usa-o como falso apoio a Bryan Ruiz, o dianteiro titular do Twente, e os dois jovens combinam perfeitamente. O último a provar o sabor do perfume eslovaco foi o Werder Bremen na passada noite europeia de Quinta-Feira. Mas a lista é longa.

 

Stoch faz parte de um quarteto de luxo que catapultou para a ribalta o futebol eslovaco. Eternamente na sombra dos vizinhos checos, os eslovacos sabem que no próximo Mundial são olhados com curiosidade e algum desdém. Mas querem fazer mossa. E para tal contam com Marek Hamsik, médio da Lazio pretendido por meia Europa, o jovem Vladimir Weiss que o Manchester City emprestou ao Bolton, o defesa do Chelsea Latkovic. E claro, o amigo Stoch.

Nascido em Nitra, uma pequena cidade eslovaca quando o país ainda se chamava Checoslováquia, Stoch cedo começou a despontar no modesto clube local. Aos 16 anos já era titular da equipa e começou a chamar a atenção de vários olheiros europeus. Depois de falhar uma prova no Nice, foi o Chelsea quem se fez com os seus serviços. Com 17 anos, sem saber inglês, mudou-se para a Academia dos Blues em Londres onde passou dois anos a aperfeiçoar o seu jogo, disputando vários jogos pela equipa de juvenis, tornando-se no seu mais eficaz goleador. Rapidamente passou ao conjunto de reservas mas Avram Grant não o fez estrear-se pela equipa principal. Teve de esperar por 2008, e pelo apoio de Scolari para ouvir pela primeira vez o speaker de Stanford Bridge dizer o seu nome. Substituiu Deco - de quem se diz que renderá este Verão - numa amarga derrota contra o Arsenal. Teriam de passar quatro meses até voltar a jogar, já com Guus Hiddink no leme. Fez o passe para o golo da vitória Blue frente ao Stoke City. Mas a conturbada situação do clube fechou-lhe as portas. 

 

Para continuar o seu desenvolvimento desportivo a direcção do Chelsea decidiu-se por um empréstimo. Steve McClaren, técnico do Twente holandês, segundo classificado na Eredevise, confessou-se fã do seu jogo e logrou uma cedência por um ano. Ancelloti, ainda à procura do seu melhor onze, não se opôs e Stoch atravessou o Mar do Norte. A sua estreia pelos holandeses ocorreu ante o Sporting num empate a 0 que acabaria por beneficiar o conjunto português. Dois dias depois estreou-se na Eredevise numa vitória frente ao Sparta de Roterdam. Com facilidade Stoch impôs o seu jogo e tornou-se em titular chave do Twente. A precoce eliminação europeia não desanimou o modesto conjunto holandês que arrancou para um final de ano espantoso. Em Dezembro lideravam a liga com uma vantagem invejável e já Stoch surgia na lista dos melhores marcadores da prova. A boa campanha desportiva abriu-lhe as portas da selecção. Habitual titular dos sub-21, Stoch conseguiu a sua primeira internacionalização na vitória por 7-0 contra San Marino, tendo marcado também o seu primeiro golo. Apurados para o Mundial, os eslovacos contam com o jovem para liderar o ataque de uma equipa bastante jovem.

 

O Twente continua na corrida a um titulo histórico muito graças ao talento de Stoch. O técnico do Chelsea já deixou antever que o eslovaco é o substituto natural de Deco, que deixará Londres no Verão com quase toda a certeza. O Mundial está à porta. Por isso é fácil concluir que a vida corre bem a Stoch, o amigo eslovaco. 

 



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Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2010

Não é o mais belo dos estádios apesar dessa escolha ser absolutamente pessoal. Mas depois do final do velho Wembley é o mais emblemático estádio do futebol britânico. Um santuário de ferro e aço que se transformou num palco único. Hoje o Old Trafford cumpre 100 anos. Um século de um sonho sem fim...

 

Um século de vida é muito para um estádio mas este Old Trafford já não tem qualquer traço de semelhança com o mitico recinto que se tornou num dos maiores de Inglaterra logo no seu primeiro ano de vida. A última remeniscência está no banco de suplentes. Na bancada, o lugar onde se senta Ferguson encontra-se encrustado na antiga porta para os balneários. Tudo o resto é novo. Como a vida do próprio clube. Um clube que é, hoje em dia, o maior do Mundo, mas que até 1952 não tinha ganho uma grande competição.

O estádio nasceu a 19 de Fevereiro de 1910. Tinha 8 mil lugares sentados e 80 mil lugares em total. Mais quatro mil que hoje em dia. Foi imediatamente catalogado como o mais imponente recinto britânico e resultou do trabalho incansável de Archibald Leitch, que anos antes tinha desenhado o Hampden Park, Ibrox Park, Stanford Bridge e o Anfield Road. O recinto custou ao clube 60 mil libras e rapidamente se tornou num ex-libris do clube e da cidade. Recebeu uma final da FA Cup anos antes de nascer o Wembley e tornou-se no estádio com maior assistência média durante os anos 20, época em que, curiosamente, o Manchester United não venceu um único titulo. O recinto continuou a sua história até chegar a II Guerra Mundial. Os bombardeios sucessivos de cidades industriais chave atingiram Manchester e toda a cintura à volta. O mitico Old Trafford não aguentou o peso das bombas nazis e foi desfeito em mil pedaços. Foram precisos cinco anos para se reconstruir todo o recinto que seria re-inaugurado em 1950.

 

O estádio foi reconstruido de forma a parecer-se o máximo possível com o seu antecessor mais os tempos mudavam e o futebol inglês crescia a olhos vistos com o pós-guerra. Em 1952 a chegada de Sir Matt Busby mudou a vida do clube e a base do próprio recinto que rapidamente ganhou o carinhoso titulo de Theater of Dreams, o Teatro dos Sonhos. Enquanto a equipa ia conquistando os seus primeiros grandes titulos o estádio ia ganhando nova vida. Várias obras foram adaptando o recinto aos tempos modernos o que provocou que se reduzisse a capacidade para 40 mil lugares. Era pouco, muito pouco para uma equipa que vivia a sua idade de ouro. A primeira. 

A crise desportiva do Manchester United dos anos 70 e 80 terminou com a chegada de outro escocês, Alex Ferguson. O técnico foi uma das figuras-chave na remodelação do Old Trafford até ganhar a forma que tem hoje. Desde 1986 até 2002 o estádio foi totalmente transformado. Ganhou novos aneis, uma cobertura de aço e ferro imponente e transformou-se no estádio mais cómodo e bem executado da Premier League. Com o novo rosto de um recinto que se tornava no icone do futebol britânico chegou uma nova vaga de sucessos desportivos dos Red Devils. Parecia que a cada etapa de melhoramente no seu estádio o Manchester United se fazia acompanhar com uma mão cheia de trofeus.

 

Hoje o estádio Old Trafford cumpre um século. Pode não ter nada a ver com o projecto original. É bom que assim seja. Que o seu crescimento e adaptação aos tempos modernos tenha sido bem sucedida. No entanto a atmosfera única de um recinto que fala quando o jogo está em silência continua a ser a mesma de há cinquenta ou cem anos. O Teatro dos Sonhos continua a sê-lo. Hoje, mais do que nunca. O estádio está acompanhado por um belo museu, as estátutas de Busby e do seu trio de ases e do mitico relógio a lembrar o desastre de Munique. Cercado pelo cinzentismo urbano da capital do norte de Inglaterra, o Old Trafford é a história viva de um jogo que ainda não encontrou melhor casa que o silencio ruidoso de um relvado britânico.  

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 16:18 | link do post | comentar

Quinta-feira, 18 de Fevereiro de 2010

O futebol não é um circo. Mas ás vezes consegue transformar-se numa boa anedocta. Ontem o estádio do Dragão transformou a sua habitual taciturnidade e riu-se. Como há muito não se via. Culpa dos anfitriões, dos visitados e de um senhor que deveria ser juiz e acaba por ser mestre de cerimónias. A vitória é importante, o espectáculo pouco edificante. No final ficamos com a sensação de assistir a uma edição daqueles livros de auto-ajuda de como não disputar um encontro oficial da Champions League.

Todos os guarda-redes cometem erros. Todos os defesas enganam-se em atrasos precipitados. Todos os árbitros têm falhas. E todos os avançados têm momentos de lucidez e ratice. Juntar tudo isso num só jogo é uma salada explosiva que não fará certamente bem às barrigas mais sensiveis. Ontem o Arsenal provou porque continua a ser uma equipa melhor no papel do que na prática. Fez talvez o seu pior jogo europeu em largas temporadas e comportou-se como uma equipa de juvenis. Sem ideias. Sem cabeça. E totalmente sem concentração. Erros atrás de erros, falta de atitude, e uma ingenuidade que face a outras equipas poderia ter tido outra transcendência. Wenger tem legitimidade para levantar-se do banco e perguntar ao árbitro porque perdeu o controlo da situação. Mas deverá primeiro pensar no onze que alinhou. Na falta de caracter competitivo dos seus jogadores. E na falta de destreza mental de uma equipa que é, no papel, candidata todos os anos a ganhar algo. Mas que desde que perdeu a nata da sua equipa deixou de ser mais do que um bom exemplo de formação de jovens futebolistas. E pouco mais. O Arsenal ontem foi medroso no inicio. Foi inconsequente quando esteve atrás no marcador e só apontou um golo porque a defesa azul e branca continua a ser muito ingenua para grandes provas. Porque o Leixões não marca golos de cantos ensaiados não justifique que a equipa não se saiba posicionar. E Campbell agradeceu. Era o 1-1. Mas a anedocta tinha começado antes.

 

Silvestre Varela. Foi o nome próprio de um FC Porto que continua a mostrar mais brechas que imaginação. Foi, pela primeira vez em muito tempo, uma equipa com sorte. E procurou-a. Foi também uma equipa esperta. Mas não uma equipa inteligente.

O primeiro erro de Jesualdo Ferreira foi alinhar Hulk. Já não é só pelo facto, de como defendemos há muito, o brasileiro ser um jogador sem nível para jogar uma Champions League. Cada lance de Hulk é um puzzle. O que irá naquela cabeça? Dribles contra os defesas, reclamações a cada queda e falta de destreza mental para procurar o jogo colectivo. Hulk emperrou a máquina ofensiva portista. Varela deu-lhe asas. O extremo mostrou estar em óptima forma e arrancou bem no jogo. À terceira tentou centrar mas a bola saiu-lhe desviada. Fabianski fez o que se espera dele, sendo um guarda-redes sem nível consumado que Wenger só tem porque prefere gastar o orçamento a contratar jovens de 16 anos. Já se sabia que, sem Almunia, o FC Porto partia em vantagem. E confirmou-se. Os azuis e brancos mereciam estar a ganhar. E logo provaram não ser inteligentes a gerir a vantagem. O Arsenal alinhou com um ataque mole. Fabregas demasiado só, Rosicky demasiado parado, Nasri demasiado incosequente e Bendtner sem encontrar o seu sitio. Só nas bolas paradas causaram perigo. E foi assim que Campbell, que não jogava numa Champions desde a final de 2006 em Paris, empatou. O posicionamento portista nesse canto foi uma licção de como não defender. Nada de novo portanto.

 

A segunda parte mexeu-se entre a esperteza portista e o desnorte do Arsenal. Se o árbitro Martin Hansson tinha há muito perdido o respeito dos jogadores, no minuto 51 pareceu totalmente fora de jogo. Não apitou um penalty claro a favor do Arsenal (ambas as equipas teriam razões de queixas nesse e noutro capitulo) e no seguimento do lance deixou que os jogadores do FC Porto beneficiassem da superioridade númerica e sacassem um livre indirecto dentro da área que o desastrado Fabianski concedeu sem pensar. O golo é legal, mas habitualmente os árbitros gostam de controlar estes lances. Como mais tarde o fez em dois contra-ataques azuis e brancos. Desta feita adormeceu em campo. E percebeu-o senão Wenger teria sido expulso. A licção do professor era merecida. Os dragões foram mais rápidos, mais espertos e mais letais. Campbell preferiu reclamar a defender. Fabianski deu logo a bola a Micael e virou-lhe as costas. Wenger reclamou sem razão. Não havia uma ilegalidade. Havia uma série de infantilidades. Os da casa agradeceram o vinho para a refeição e foram abrir a garrafa.

O FC Porto a partir daí foi mais Porto e o Arsenal menos Arsenal. A saída de Hulk e Raul Meireles ajudou. São o lastre da equipa. Tomas Costa e Mariano Gonzalez trouxeram mais dinâmica e espirito colectivo e em vários contra-golpes, com sucessivos erros de marcação do Arsenal que deixou imensos espaços abertos para os portistas explorarem à sua vontade, o campeão nacional poderia ter ampliado a vantagem. Do outro lado percebia-se as dificuldades defensivas de Fucile e Alvaro Pereira que beneficiavam que apesar de Walcott estar em campo, o Arsenal preferisse afunilar o jogo. Durante vinte minutos os gunners persistiram no erro. O FC Porto na ratice de controlar o jogo no coração do seu meio-campo. O apito final, num lance de claro contra-ataque do Arsenal já no meio-campo do Porto, foi mais uma prova do desastrado ajuizamento arbitral de Hanson. Foi um bom exemplo para os criticos da arbitragem nacional perceberem que a qualidade não conhece nações. A falta dela também não.

O FC Porto foi superior em campo e no jogo mental. Soube controlar o jogo mas nunca o dominou por completo. Preferiu o contra-golpe e a ratice. Saiu-lhe bem a jogada. Numa equipa como o Arsenal esse modelo de jogo funciona. Wenger continua a preferir o futebol champagne sem punch ofensivo e destreza defensiva. E isso justifica as sucessivas eliminações. No entanto a vantagem é reduzida e a eliminatória está longe de estar resolvida. Os azuis e brancos terão de ser mais maturos em Londres. O Arsenal terá de ser, pelo menos, uma equipa. Para eles a anedocta não teve tanta piada.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:15 | link do post | comentar | ver comentários (3)

Quarta-feira, 17 de Fevereiro de 2010

O futebol é, acima de tudo, um jogo de equilibrios. Pode decidir-se com um lance desiquilibrador mas a tónica está sempre na equipa que melhor sabe controlar o jogo. E ter um leque de estrelas que parecem mais um cast de luxo de um blockbuster de Hollywood não é, necessariamente, o caminho mais curto para o controlo de um jogo. O Real Madrid continua a viver na obsessão do nome. O Lyon na perfeição do colectivo. O resultado repetiu-se, as lições também.

É a terceira viagem do Real Madrid ao Stade Gerland. E a terceira derrota. Pela menor diferença. Mas com o mesmo principio de jogo. E a mesma lenga-lenga. Antes do apito inicial o resultado estava feito. A imprensa concedia uma vantagem sobre-humana aos Galácticos e o Lyon, num desanimador quarto posto na Ligue 1, apenas deveria aguentar até onde pudesse. As estrelas subiam ao relvado confiantes. Passou-lhes depressa.

O jogo de ontem em Lyon provou que a base do futebol continua a ser o colectivo. Dispor de individualidades é um luxo que nem todas as equipas têm. Mas cujo o uso deve significar a estocada final do trabalho colectivo. Não a essência do jogo. Guardiola entendeu-o e tornou Messi, Ibrahimovic e Iniesta em jogadores de grupo, utilizando as suas armas em último recurso. Mas trabalhando tanto como Xavi, Busquets ou Pique. A natureza do jogo acenta em onze elementos com funções e papeis establecidos. Ontem parecia que o Real Madrid, eleito o Melhor Clube do Século XX pela FIFA, tinha-se esquecido da regra básica do jogo que tanto gostam de presumir que dominam. Não foi a primeira vez. Não é pura curiosidade que os merengues caiam há cinco anos consecutivos na primeira série de jogos a eliminar. E que a sua última final da Champions League remonte a 2002. Com um treinador que preferia o trabalho colectivo às estrelas individuais. E que hoje é seleccionador da equipa que melhor futebol colectivo pratica no Mundo. O Real Madrid voltou a encomendar-se à sua constelação de estrelas, paga a peso de ouro. O Lyon à disciplina. O jogo estava decidido à partida.

 

Pellegrini, técnico misterioso pelas suas constantes mudanças de humor táctico, manteve-se desta vez fiel ao seu 4-2-2-2. Mesmo sabendo que dispunha de extremos desequilibrantes preferiu afunilar o jogo pelo coração do meio-campo. Precisamente onde os franceses eram mais sólidos. Colocou Mahamadou Diarra - totalmente fora de ritmo competitivo - e Xabi Alonso como duplo-pivot. À sua frente, a dividir funções criativas, o espanhol Granero e o brasileiro Kaká. E Higuain e Ronaldo soltos na frente, à espera da pressão dos seus colegas. Que nunca chegou. Ambos passaram incolumes pelo Gerland porque, pura e simplesmente, estavam sós. Ronaldo nunca procurou os extremos, onde melhor se dá, e no meio perdeu-se numa teia bem montada por Claude Puel. O argentino Higuain foi presa fácil da dupla defensiva do Lyon e só por uma vez teve direito a um duelo cara a cara com Hugo Lloris. O guardão francês foi superior. Como ao largo de toda a noite.

Puel, muito constestado pela fraca campanha doméstica, ganhou o jogo ao garantir um futebol afunilado com uma pressão alta. Makoun e Toulalan controlavam o meio-campo e Pjanic, Govou e Delgado não deixavam respirar os merengues. Marcelo perdeu cedo a cabeça e obrigou a novo ajuste táctico por Pellegrini. Outra falha do técnico e o dominio dos Gonnes aumentou com as constates subidas de Reveillere e Cissokho pelos flancos. Num lance de insistência, já no segundo tempo, Makoun fez um golo de belo efeito. O Lyon já merecia a vantagem e na meia-hora seguinte trucidou o Real Madrid.

 

No meio do desnorte nenhuma das figuras emergiu como salvadora da causa merengue. Se Ronaldo e Higuain - e logo Benzema - estavam atados, o mesmo não se podia dizer de Granero e Kaká. O médio espanhol, producto da cantera merengue, rapidamente foi engolido por Pjanic. Mas foi a estrela brasileira a decepção da noite. O Kaká de Madrid está a milhas do Kaká de Milão. E nota-se a cada jogo. Não está comodo no dispositivo táctico confuso de Pellegrini. Mas mesmo quando se solta das amarras tácticas não desiquilibra. Passado a falso extremo esquerdo, dispôs de três sprins que poderiam ter sido letais nos minutos finais. Em ambos perdeu infantilmente a bola. E limitou-se a por as mãos na cabeça, deixando os colegas desamparados para o contra-golpe. O Lyon poderia ter goleado e fechado a eliminatória. Os avançados estiveram infelizes frente a Casillas. Sete remates que poderiam ter entrado foram esbarrando com uma ineficácia que ditou o ritmo do jogo. No Santiago Bernabeu - o estádio da final - o clube da casa terá de marcar dois golos. Poderia ser pior. Não conta com Marcelo e Xabi Alonso mas terá Garay e Guti. O que não sabe ainda é se terá colectivo para superar a estratégia da aranha de Puel. Os franceses provaram saber defender-se muito bem. E que no contra-ataque são piores que uma cascavel. O acordeão lionês esticou-se bem no Gerland e previsivelmente fará o mesmo no Bernabeu.

O segredo da táctica não está em surpreender o adversário. Está em ser fiel a si mesmo. O Real Madrid nunca o é. A táctica é condicionada pelos elementos em vez de os ditar. Para encaixar todos os jogadores, Pellegrini não sabe como os ordenar em campo. Dispõe de um dos melhores falsos avançados da década (Kaká), o melhor extremo do Mundo (Cristiano Ronaldo) e um excelente central (Sergio Ramos). E no entanto sacrifica o seu talento à necessidade de alinhar cada uma das estrelas num onze desiquilibrado e sem consistência. O Real joga um futebol vertical, pelo coração do meio-campo. Não tem soluções que permitam aos jogadores desdobrar-se. A subida dos laterais é rara e sem o apoio necessário. Os avançados raramente funcionam como o primeiro tampão e a linha defensiva é demasiado baixa para garantir uma pressão eficaz. Face a esses problemas, mais do que uma simples eliminatória, o clube merengue continua a encontrar-se diariamente com um grave problema de personalidade.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 15:19 | link do post | comentar

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